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Direito do Consumidor

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ANOTAÇÕES ACADÊMICAS
DIREITO DO 
CONSUMIDOR
POR MARIA CAROLINA RIBEIRO
ANOTAÇÕES ACADÊMICAS 
DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
POR MARIA CAROLINA RIBEIRO 
PRÓLOGO 
Na época em que era estudante, tinha o costume de anotar 
todas as aulas da forma mais detalhada possível, o que 
possibilitou a elaboração de um material de estudo bastante 
didático e que serviu como uma excelente fonte de estudo 
para mim. 
Atualmente, na minha vida profissional, por vezes me pego 
utilizando o material que produzi durante o curso de Direito 
e, em uma das consultas às minhas anotações, percebi que 
elas poderiam ser úteis para mais estudantes. 
Assim, após repaginar as anotações, resolvi as compartilhar 
para auxiliar colegas do direito em seus estudos e 
necessidades cotidianas. 
1. 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
Antes do Código de Defesa do Consumidor, não havia direito 
do consumidor. O direito do consumidor é fruto do sistema 
de produção capitalista e, é um ramo do direito que se 
justifica por conta do sistema de produção e consumo em 
larga escala. 
Somente no início do século XX é que a preocupação em se 
criar um tratamento disciplinado para essa temática surgiu. 
Antes do Código de Defesa do Consumidor, haviam normas 
de proteção ao consumidor, mas não havia a preocupação 
em se estabelecer uma política pública de defesa do 
consumidor – o que haviam eram preocupações pontuais. 
Uma das primeiras preocupações com a defesa do 
consumidor era visualizada no Código de Hamurabi, onde 
haviam normas de proteção ao adquirente de embarcações: 
aquele que adquirisse embarcação com defeitos estruturais 
poderia exigir do fabricante que o refizesse às suas 
expensas. Haviam ainda outras preocupações do Código de 
Hamurabi: em relação à construção, tinha-se que se a 
construção ruísse sobre um servo do proprietário, um servo 
do construtor seria dado em substituição; se houvesse 
ferimento ou morte de um filho do proprietário, seria também 
ferido ou morto o filho do construtor e, havendo morte do 
proprietário, o próprio construtor morreria. 
O Código de Manu na Índia também traz proteção ao 
consumidor de gêneros alimentícios. Os romanos trouxeram 
a proteção redibitória, impuseram o congelamento de preços 
em áreas ocupadas. Na França da Idade Média, punia-se com 
banho escaldante aquele que adicionasse água ao leite ou 
pedra à manteiga. 
Nas Ordenações também se visualizava essa preocupação 
com o consumidor – se impunha o degredo ao advogado 
que por desídia ocasionasse a perda da causa. No Brasil, já 
no século XIX, havia uma preocupação em relação à indústria 
de medicamentos: os medicamentos eram de péssima 
qualidade e beiravam a fraude, mas eram os medicamentos 
que existiam à época. 
Havia muito anúncio indicando falsas propriedades desses 
medicamentos, logo, surgiu normatização proibindo a 
divulgações de propriedades não comprovadas dos 
medicamentos. No século XX a preocupação com a defesa 
do consumidor foi crescente, podendo-se indicar a Lei de 
Usura e a criação dos PROCON. 
Ainda assim, essas eram manifestações pontuais com a 
defesa do consumidor, não existindo ainda a preocupação 
em se estabelecer uma política pública de proteção ao 
consumidor. A doutrina indica que, o marco do surgimento 
dessa preocupação em termos planetários se deu na década 
de sessenta do século XX, nos Estados Unidos: John 
Kennedy encaminhou para o congresso americano uma série 
de medidas de proteção ao consumidor e, anuncia os 
princípios do direito do consumidor nesses projetos. 
Posteriormente a preocupação com o consumidor chega à 
Europa, onde é bastante desenvolvida. No Brasil, a proteção 
se solidifica a partir da Constituição Federal de 1988, que traz 
consigo três importantes artigos: art. 5º, XXXII; art. 170, V e 
art. 48 do ADCT. 
Em 1990, surge o Código de Defesa do Consumidor. 
Questiona-se porque a proteção ao direito do consumidor 
ocorreu de forma tão tardia no Brasil, e porque a 
preocupação com o direito do consumidor primeiro surgiu 
nos Estados Unidos, depois na Europa, e somente após a 
segunda metade do século XX no Brasil. 
A cronologia do surgimento da preocupação com o 
consumidor pelo mundo, reforça a ideal de que o direito do 
consumidor é fruto do sistema de produção capitalista. O 
direito do consumidor é um mecanismo para compatibilizar o 
sistema de produção capitalista com a proteção humana no 
âmbito das relações jurídicas de consumo. 
No passado, se alguém precisasse de medicamento, o 
sujeito se dirigia a farmácia e pedia para que o medicamento 
fosse formulado – se o remédio fosse mal formulado, haveria 
dano somente ao sujeito que solicitou a produção do 
medicamento. Atualmente, um único medicamento tem o 
potencial de causar dano a um número indeterminado de 
pessoas. Houve a democratização dos riscos, ou seja, os 
riscos foram pulverizados. 
A sociedade de consumo é uma sociedade de risco, pois, 
consumir envolve risco e, o sistema de produção capitalista, 
que traz a produção em massa, amplia o risco. É necessário 
proteger o consumidor em face do próprio sistema de 
produção. Por outro lado, os economistas indicam que foi o 
próprio sistema capitalista que permitiu que se alcançasse a 
chamada Era da Afluência. 
Nessa Era, as necessidades básicas das populações estão 
satisfeitas e, satisfeitas essas necessidades básicas, é 
possível o surgimento de preocupação com qualidade, 
segurança, informação, entre outros. 
No Brasil, nem todos atingiram esse estágio da afluência. A 
sociedade afluente, como dito, é fruto do sistema capitalista 
e, traz a possibilidade de que se demande algo além da 
satisfação de necessidades básicas – essa é a razão do 
surgimento tardio do direito do consumidor no Brasil. 
Antes, o sistema econômico vigente não demandava a 
proteção ao consumidor e, isso explica o surgimento do 
direito do consumidor de forma tardia no Brasil. Com essa 
perspectiva é que deve ser visto o direito do consumidor: 
como um direito que busca compatibilizar o sistema de 
produção capitalista com a proteção humana – por isso o 
direito do consumidor é um ramo do direito tão protetista. 
FONTES CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
O direito do consumidor é uma forma de compatibilizar o 
sistema capitalista e a produção em larga escala com o 
princípio da proteção à dignidade da pessoa humana. É 
possível inferir isso da própria ordem constitucional. 
Art. 170, V, Constituição Federal: O art. 170 da Constituição 
Federal dispõe que, “a ordem econômica, fundada na 
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: defesa 
do consumidor”. 
No Brasil, adotou-se o sistema capitalista e, isso não é 
somente uma realidade fática, mas uma opção do legislador 
constitucional – isso pode ser visto diante da proteção à 
propriedade privada, livre concorrência e livre iniciativa. 
O capitalismo adotado tem o fim de conferir a todos uma 
existência digna, conforme os ditames da justiça social: os 
valores da pessoa humana se sobrelevam em relação ao 
lucro. 
Acima do interesse legitimo do lucro, estão os valores 
essenciais da pessoa humana. Os valores que são 
intrinsecamente humanos estão acima da busca natural e 
legítima do lucro. Para que de fato a ordem econômica atinja 
o objetivo de assegurar a todos uma existência digna 
conforme os ditames da justiça social, o próprio art. 170 
dispõe a necessidade de observância de determinados 
princípios e, um desses princípios é a defesa do consumidor. 
Dentre os valores que devem pautar a ordem econômica 
entendida como o conjunto de agentes que atuam no 
mercado, está a defesa do consumidor. Impondo esse 
princípio como um princípio da ordem econômica, a 
Constituição Federal impõe à ordem econômica deveres 
positivos e negativos. 
Do ponto de vista negativo, a ordem econômica não pode 
atuar em prejuízo do consumidor. Do ponto de vista positivo, 
toda atuação da ordemeconômica deve ser no sentido de 
satisfazer o consumidor e suas necessidades. Nesse sentido, 
é o d i r e i t o d o c o n s u m i d o r u m m e c a n i s m o d e 
compatibilização do sistema de produção capitalista com a 
proteção da pessoa humana no âmbito das relações de 
consumo. 
Art. 5º, XXXII, Constituição Federal: O principal artigo que 
trata do direito do consumidor é o art. 5º, XXXII da 
Constituição, onde se indica que o direito do consumidor é 
um direito fundamental, reforçando a ligação entre proteção 
ao consumidor e proteção à dignidade da pessoa humana: “o 
Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. 
Esse dispositivo não está determinando a edição de uma lei 
de defesa do consumidor – na verdade a imposição é no 
sentido de que o Estado brasileiro mantenha uma política 
pública de proteção ao consumidor. 
No passado, haviam manifestações pontuais de preocupação 
com o consumidor, mas, a partir da Constituição Federal se 
determina que o Estado brasileiro mantenha uma política 
pública de defesa do direito do consumidor. 
Nesse sentido, contraria a ordem constitucional qualquer 
iniciativa do Estado brasileiro que implicar em desproteção 
ao consumidor, seja na seara legislativa, executiva ou em 
qualquer outra. Esse dispositivo constitucional reforça a 
proibição do retrocesso em âmbito de direito do consumidor. 
Esse princípio que se aplica a qualquer direito social é 
reforçado diante do direito do consumidor, na medida em 
que o Estado deve proteger o consumidor. 
Mitigar a proteção ao consumidor seria atuar contrariando o 
mandamento constitucional no sentido de promoção ao 
consumidor. Mais do que isso, esse dispositivo reconhece a 
vulnerabilidade do consumidor. 
O p r inc íp io da vu lnerab i l idade é um pr inc íp io 
infraconstitucional expresso (art. 4º, CDC) e um princípio 
constitucional implícito – isso porque, o art. 5º, XXXII 
determina a defesa do consumidor e, quem precisa de 
defesa é aquele que é frágil. Ao determinar a promoção da 
defesa do consumidor, a Constituição reconhece o estado de 
fragilidade do consumidor e, fragilidade é o mesmo que 
vulnerabilidade. 
Desse dispositivo, é possível perceber que o legislador 
constitucional quis assegurar ao consumidor o grau de 
proteção máxima do ordenamento jurídico, isso inclusive é 
uma consequência do reconhecimento da vulnerabilidade. 
Nenhum outro sujeito de direito estando na mesma situação 
que o consumidor ou em situação mais privilegiada que ele, 
deverá ser destinatário de grau de tutela maior – se o for, a 
tutela do consumidor deve ser estendida para alcança-lo. 
A vulnerabilidade é multifacetária – a vulnerabilidade do 
consumidor não deve ser vista somente do aspecto 
econômico. Os consumidores são vulneráveis, mas, em 
algumas situações há uma hipervulnerabilidade – um 
exemplo é o paciente em relação ao médico. 
Diálogo das fontes normativas: A ideia do diálogo das fontes 
normativas foi trazida ao Brasil pelo direito do consumidor – 
a tese foi introduzida por Cláudia Lima Marques. Percebeu-se 
que, as regras tradicionais para dirimir os conflitos de lei no 
tempo, atualmente, diante da nova realidade dos 
microssistemas jurídicas, essas regras são insuficientes. Não 
Exemplo: O art. 14, §4º do Código de Defesa do Consumidor dispõe 
que, o fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição 
e riscos. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será 
apurada mediante a verificação de culpa. Já o art. 927 do Código Civil 
de 2002, em seu parágrafo único, dispõe que aquele que, por ato 
ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Haverá 
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em li, ou quando a atividade normalmente desenvolvida 
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de 
outrem. Diante de atividade de risco exercida por profissional liberal, 
questiona-se se a sua responsabilidade será objetiva ou subjetiva, em 
caso de dano causado por este. Da análise dos dois dispositivos, 
percebe-se a existência de um conflito aparente de normas. O Código 
de Defesa de Consumidor, por ser norma especial, em regra deve 
predominar, no entanto, diante da necessidade de ampla proteção, 
quando uma norma inferior traz maior proteção, ela deve se estender 
ao consumidor. A responsabilização do profissional liberal em relação 
de consumo, em princípio seria subjetiva. O Código Civil, por outro 
lado, indica que diante do exercício de atividade de risco, a 
responsabilização terá caráter objetivo. A proteção trazida pelo Código 
Civil se estende ao direito do consumidor, visto que é mais ampla. 
Dessa forma, o profissional liberal que exerce atividade de risco dentro 
de relação de consumo, responde objetivamente pelos danos 
causados. O grau de proteção dado ao consumidor precisa ser 
ampliado para atingir a norma mais protetiva. É difícil para o 
consumidor fazer a prova de culpa.
é que as regras tenham perdido sua importância, mas elas 
são insuficientes. A regra hierárquica, temporal e da 
especialidade ainda são importantes e aplicáveis, mas não 
são suficientes para dirimir o conflito de leis, sobretudo 
diante da realidade dos microssistemas jurídicos. 
Os antigos critérios são chamados de monólogo das fontes 
normativas – monólogo porque utilizando esses critérios, 
incumbiria a uma única fonte normativa comunicar o direito 
no caso concreto, havendo a exclusão de outras fontes 
normativas. O direito do consumidor é um microssistema 
jurídico, ou seja, é um sistema menor inserido no sistema do 
direito privado. 
Quando se está diante desse tipo de realidade, é necessário 
permitir que as diversas fontes normativas dialoguem, 
devendo-se admitir a aplicação simultânea, coerente e 
coordenada de plúrimas fontes normativas. 
Simultânea porque é ao mesmo tempo, coerente porque as 
normas não podem se contradizer, e coordenada porque se 
deve ajustar no caso concreto em que medida cada norma 
incide. Uma aplicação bastante nítida ocorre quando se está 
diante do contrato de seguro – contrato de seguro 
normalmente é relação de consumo, no entanto, não existe 
no Código de Defesa de Consumidor normas específicas 
sobre o contrato de seguro. 
As normas sobre o contrato de seguro estão positivadas no 
Código Civil e, aplicação do Código de Defesa do 
Consumidor não exclui a aplicação do Código Civil – da 
mesma forma não ocorre o inverso. 
Há portanto, a aplicação simultânea de plúrimas fontes 
normativas, que ainda devem ser convergentes. No geral, as 
plúrimas fontes normativas são convergentes. Cláudia Lima 
Marques indica quais as fontes do direito civil em relação ao 
direito do consumidor. 
O Código Civil possuiria uma primeira função conceitual, pois 
os conceitos do direito privado de uma forma geral se 
encontram em seu bojo. 
O Código Civil funciona também como uma fonte de 
regulação subsidiária, pois preenche as lacunas. Para que 
haja aplicação subsidiária, além da lacuna é necessário que 
haja compatibilidade. O Código de Defesa do Consumidor é 
protetivo – para que se aplique uma norma do direito civil em 
uma relação de consumo, é necessário que essa norma não 
rompa o princípio da vulnerabilidade. 
A incidência principal benéfica ao consumidor também está 
inserida no âmbito do diálogo das fontes, porém, rompe com 
a ideia de que as plúrimas fontes devem ser convergentes – 
eventualmente, as fontes normativas podem ser divergentes 
e, ainda assim ocorrerá aplicação, desde que isso se dê de 
maneira benéfica ao consumidor. Isso porque, é necessário 
atender ao ditame constitucional de que o Estado deve 
promover a defesa do consumidor. 
Art. 49, Ato de Disposições Constitucionais Transitórias: 
Determina expressamente a edição do Código de Defesa do 
Consumidor.O Código de Defesa do Consumidor foi editado 
com uma discrepância em relação ao prazo determinado. O 
art. 48 do ADCT exauriu o seu mandamento constitucional 
com a edição do Código de Defesa do Consumidor. 
Alguns autores não entendem que tenha havido de fato o 
exaurimento, ou seja, o dispositivo permanece produzindo 
efeitos, na medida em que o Código de Defesa do 
Consumidor se trata de lei complementar. 
O art. 48 do ADCT não traz a expressão ‘lei complementar’ e, 
lei complementares são aqueles assim referidas pela 
Constituição Federal – se a Constituição reserva determinada 
matéria à disciplina de lei complementar, há a indicação. A 
doutrina não afirma que o Código de Defesa do Consumidor 
seja uma lei formalmente complementar. 
A doutrina não afirma que o Código de Defesa do 
Consumidor é uma lei formalmente complementar. Essa ideia 
surge de doutrina estrangeira que defende a existência de 
leis formalmente complementares e materialmente 
complementares. Nesse sentido, a doutrina defende que o 
Código de Defesa do Consumidor é materialmente 
complementar. 
Leis materialmente complementares seriam aquelas editadas 
por expressa determinação do legislador constitucional com 
o fim de dar efetividade a mandamentos constitucionais. A 
consequência disso é a inviabilidade da alteração do Código 
de Defesa do Consumidor por outra fonte normativa que não 
seja ao menos materialmente complementar. 
O Código Civil, por exemplo, não poderia revogar ou 
derrogar uma norma consumerista, visto que não se trata de 
norma complementar. Esse é um posicionamento adotado 
por parte da doutrina, mas que não possui oposição. Essa 
questão também não foi enfrentada pela jurisprudência. 
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
Em face de todos esses dispositivos constitucionais, foi 
editado o Código de Defesa do Consumidor. O artigo 1º do 
Código de Defesa do Consumidor invoca as suas raízes 
constitucionais, justamente como forma de reafirmar a sua 
importância, indicando ainda que as suas normas são de 
ordem pública e interesse social. 
Normas de ordem pública são aquelas que objetivam tutelar 
interesses gerais da sociedade – à sociedade interessa a 
proteção ao direito do consumidor. O fato das regras de 
direito do consumidor serem de ordem pública e interesse 
social faz com que haja a inderrogabilidade das normas de 
proteção ao consumidor. Inderrogabilidade não significa 
indisponibilidade: se o interesse é patrimonial, nada impede 
que o consumidor transija ou renuncie. 
A inderrogabilidade indica que não se pode contratar 
contrariando norma de direito de consumidor. Se no contrato 
houver contrariedade a uma norma de direito do consumidor, 
a cláusula será nula, inclusive por violar norma de ordem 
pública. Há uma decisão isolada do STJ indicando que o 
direito do consumidor é indisponível mas, isso não sedimenta 
o entendimento. 
As normas que são inderrogáveis são as normas de proteção 
ao consumidor, ou seja, pode haver derrogação de uma 
norma do Código de Defesa do Consumidor em benefício do 
consumidor – o que não pode haver é derrogação da 
proteção, mas concessão de proteção maior do que a 
prevista no Código de Defesa do Consumidor, ainda que 
violando dispositivo da norma é possível. 
A segunda consequência pelo fato de as normas do direito 
do consumidor serem de ordem pública é que elas serão 
pronunciáveis de ofício, sem necessidade de requerimento 
da parte. Paradoxalmente, o STJ não vem admitindo que haja 
a pronúncia de ofício da nulidade de cláusulas contratuais – 
Súmula 381, STJ. 
2. 
RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
O Código de Defesa do Consumidor não foi editado para 
regular uma relação jurídica qualquer, mas sim as relações de 
consumo. 
O Código de Defesa do Consumidor não apresenta o 
conceito de relação de consumo, mas apresenta conceitos 
dos elementos da relação de consumo. 
Haverá relação de consumo quando em uma determinada 
relação jurídica se encontrarem seus elementos próprios. 
Para a doutrina tradicional, qualquer relação jurídica possui 
sujeitos, objeto e fato propulsor. 
No Direito do Consumidor, tem-se como sujeitos o 
consumidor e o fornecedor, logo, há a necessidade da 
presença desses sujeitos para que se configure a relação de 
consumo. Os objetos da relação de consumo serão produtos 
e serviços. O fato propulsor, como regra, não é importante 
para a caracterização da relação de consumo. 
Essa é a relação de consumo padrão. Além dessa relação de 
consumo padrão, há ainda a chamada relação de consumo 
por equiparação. Para a caracterização da relação de 
consumo por equiparação é que será importante identificar o 
fato propulsor da relação jurídica. 
O Código de Defesa do Consumidor não conceituou a 
própria relação de consumo, mas sim seus elementos. 
Haverá portanto, relação de consumo padrão, quando em 
determinada relação jurídica estiverem presentes o 
consumidor, o fornecedor e o bem e/ou serviço. 
CONSUMIDOR: Art. 2º: Consumidor é toda pessoa física ou 
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como 
destinatário final. A doutrina costuma decompor esse 
conceito de consumidor em dois elementos: um elemento 
subjetivo e um elemento anímico. 
O elemento subjetivo consiste naqueles que podem ser 
consumidores. A doutrina majoritária entende que além de 
pessoas físicas e jurídicas, entes despersonalizados, por uma 
questão de equidade, também são tutelados pelo direito do 
consumidor. Toda pessoa, em tese, pode ser consumidora. 
Ocorre que, no passado, a doutrina minoritária que foi 
adotada pelo STJ, defendia que a pessoa jurídica só poderia 
ser consumidora se fosse vulnerável no caso concreto. 
Para essa doutrina, a vulnerabilidade da pessoa jurídica deve 
ser demonstrada e, é relacional, devendo-se levar em 
consideração os sujeitos envolvidos na relação jurídica, ou 
seja, quando a pessoa jurídica for colocada em confronto 
com a sua contraparte, ela deve se mostrar mais frágil. Se a 
pessoa jurídica não for vulnerável, ela não será considerada 
consumidora, independentemente de estarem presentes os 
outros requisitos. 
A vulnerabilidade precisa ser demonstrada no caso concreto, 
a partir do confronto das partes da relação jurídica. O 
elemento anímico consiste na destinação final e, se 
questiona o que é ser destinatário final. 
Não se exige contratação de consumo para a caracterização 
da relação de consumo – alguém pode travar relação de 
consumo mesmo sem ser contratante, visto que o mero 
usuário é consumidor (consumidor é quem adquire ou utiliza 
o produto ou serviço). Aquele que é intermediário não é 
destinatário final – aquele que adquire o bem com ânimo de 
intermediação, não o adquirindo para si, não é destinatário 
final, portanto não é consumidor. 
A intermediação que desqualifica a relação consumerista é 
aquela que possui interesse econômico. A intermediação 
sem nenhum interesse econômico não desconfigura a 
relação de consumo. 
Mesmo quando a intermediação ocorre mediante 
processamento, como ocorre com um restaurante que 
compra feijão para vender feijoada, há a descaracterização 
da relação de consumo. Em primeiro momento, o sentido de 
destinação final parece simples. Surgiram três teorias para 
explicar em que consiste a destinação final. A discussão paira 
em torna da expressão ‘destinação final’. 
Teoria maximalista: A teoria maximalista indica 
que a destinação final consiste na aquisição do 
bem para si, com ânimo definitivo e sem ânimo 
de intermediação. Essa teoria também é 
chamada de teoria objetiva ou objetivista. Aqui, 
basta o objetivo de adquirir o bem para si, ou 
que haja intermediação sem ânimo lucrativo. A 
destinação final exigida pelos maximalistas é a 
destinação fática. 
Teoria finalista: Essa teoria foi majoritária por 
um bom tempo. Entendeu-se que o Código de 
Defesa do Consumidor não foi criado para 
tutelar um adquirente qualquer de produtos e 
serviços. Haviam adquirentes que eram 
profissionais de uma área e, se houvesse a 
tutela de todos, haveria uma banalizaçãoda 
aplicação do direito do consumidor. 
Como o direito do consumidor se trata de um 
ramo protetivo do direito, a banalização poderia 
resultar na mitigação da proteção daqueles que 
realmente precisam dela. Em razão disso, os 
final istas passaram a entender que o 
profissional, ou seja, aquele que atua na sua 
atividade econômica, não precisaria da tutela 
do Código de Defesa do Consumidor. 
Os finalistas não se conformam somente com o 
que os maximalistas exigem, sendo necessário 
que, além da aquisição do bem com ânimo 
definitivo, houvesse a retirada do bem do ciclo 
econômico, da cadeia produtiva. 
Um bem é retirado do ciclo econômico quando 
ele não é utilizado como meio de produção. Se 
o bem for adquirido, ainda que com ânimo 
definitivo, com o objetivo de ser utilizado como 
meio de produção, não está caracterizada a 
relação de consumo. 
Meio de produção é o bem utilizado para 
produzir riqueza. Se a aquisição se dá com o 
objetivo da permanência do bem no ciclo 
econômico, gerando riquezas e sendo utilizado 
como meio de produção, os finalistas indicam 
que não há destinação final. 
A destinação final admitida pelos maximalistas 
é denominada destinação final fática ou 
meramente fática. A destinação final exigida 
pelos finalistas é a destinação econômica, que 
consiste na aquisição com ânimo definitivo e na 
retirada do bem do ciclo econômico. 
A teoria finalista é mais restritiva: todos que são 
d e s t i n a t á r i o s fi n a i s e c o n ô m i c o s s ã o 
destinatários finais fáticos, mas, nem todos que 
são destinatários finais fáticos são destinatários 
finais econômicos, já que a destinação final 
econômica exige um plus em relação à 
destinação final fática. 
A teoria finalista também é denominada de 
teoria finalista, pois exige a intenção de retirar o 
bem do ciclo econômico. Os principais autores 
de direito do consumidor optaram pela teoria 
finalista. A ideia era não vulgarizar a aplicação 
do direito do consumidor, pois, se isso 
ocorresse, o rigor da aplicação seria diminuído 
e, não haveria a finalidade protetiva que se 
busca. 
Teor ia final is ta mi t igada, evolu ída ou 
aprofundada: No momento em que prevalecia a 
teoria finalista, percebeu-se que ela era 
frequentemente capaz de causar injustiças e 
iniquidades. A teoria finalista mitigada não 
abandona a destinação final econômica. 
Há a exigência da destinação final econômica, 
no entanto, essa teoria se conforma com a 
destinação final fática desde que haja 
vulnerabilidade. O fundamento jurídico dessa 
corrente é o princípio da isonomia – busca-se 
tratar igualmente os demais. Essa é a teoria que 
p r e v a l e c e d e n t r o d a d o u t r i n a e d a 
jurisprudência do STJ. 
Consumidor padrão, consumidor tipo ou consumidor 
standard: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica 
que adquire ou utiliza produto ou serviço como 
destinatário final – o caput do art. 2º trata do 
consumidor padrão. 
Havendo consumidor padrão, a relação de consumo 
também será uma relação padrão. Esse conceito de 
consumidor não esgota as hipóteses de consumidor, 
pois ao lado do consumidor padrão, se vislumbra o 
consumidor por equiparação. 
Consumidor por equiparação: Há previsão do 
consumidor por equiparação no parágrafo único do 
art. 2º, no art. 17 e no art. 29 do Código de Defesa do 
Consumidor. O parágrafo único do art. 2º do Código 
de Defesa do Consumidor indica que, equipara-se aos 
consumidores a coletividade de pessoas, ainda que 
indeterminadas, que haja intervindo nas relações de 
consumo. 
Em verdade, a hipótese trazida pelo dispositivo não 
trata de consumidor por equiparação – isso porque, se 
a coletividade intervém em relação consumo, há 
consumidor padrão, há uma coletividade de 
consumidores padrão. 
Alguns autores aprofundam essa reflexão e, percebem 
que não faz sentido dizer que uma coletividade de 
consumidores que intervém nas relações de consumo 
consista em consumidores por equiparação. 
O que esse dispositivo quis, em verdade, foi fazer uma 
conexão entre o direito material do consumidor e o 
direito processual, viabilizando a utilização das normas 
de direito material na tutela coletiva do consumidor. 
Indica-se que, são tuteláveis pelas normas 
c o n s u m e r i s t a s n ã o a p e n a s o c o n s u m i d o r 
individual izado, mas também o consumidor 
coletivamente considerado. 
O que se quer é estabelecer um vínculo entre as 
normas materiais e a tutela coletiva. O que ocasiona a 
condição de consumidor no art. 2º, parágrafo único do 
Código de Defesa Consumidor é a mesma condição 
prevista no caput. O art. 17 do Código de Defesa do 
Consumidor d i spõe que , equ ipara -se aos 
consumidores todas as vítimas do evento. 
Esse evento é o denominado acidente de consumo. O 
acidente de consumo é todo o evento, que se inicia 
no ciclo de produção e se esgota com o consumo, 
que ocasiona dano ao consumidor. Basta que alguém 
seja vítima de um acidente de consumo para ser 
consumidor por equiparação. Para que haja acidente 
de consumo, é necessário que o fato seja decorrente 
de um defeito, ainda que esse defeito seja de 
informação. 
Quando o consumidor é por equiparação, a relação de 
consumo também é por equiparação, ou seja, a 
relação de consumo não precisa ter a mesma 
configuração visualizada na prestação de serviço 
padrão – basta a existência do consumidor por 
equiparação para que haja a relação de consumo. 
Quando a relação de consumo é o por equiparação, o 
que interessa é o fato propulsor e, o fato propulsor 
sozinho caracteriza a relação de consumo. O art. 29 
equipara aos consumidores todas as pessoas 
expostas às práticas comerciais previstas no Código 
de Defesa do Consumidor, então, basta que alguém 
esteja exposto a uma prática comercial prevista para 
ser considerado consumidor por equiparação. 
Essas práticas são oferta, publicidade, práticas 
abusivas, cobrança de dívidas, bancos de dados de 
consumo, cláusulas contratuais abusivas e contratos 
de adesão – só por estar exposto a qualquer uma 
dessas práticas o sujeito é considerado consumidor 
por equiparação. Aqui, não há a necessidade de que o 
sujeito tenha adquirido ou utilizado serviço algum. 
FORNECEDOR: Art. 3º, caput, Código de Defesa do 
Consumidor. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, 
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os 
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de 
produção, montagem, criação, construção, transformação, 
importação, exportação, distribuição ou comercialização de 
produtos ou prestação de serviços. 
A doutrina decompõe o elemento ‘fornecedor’ em dois 
elementos: um elemento subjetivo e um elemento anímico. O 
elemento subjetivo seria a indicação das pessoas que podem 
ser fornecedores. Pode ser fornecedor toda pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem 
como os entes despersonalizados. O legislador foi 
redundante para deixar claro que qualquer pessoa pode ser 
fornecedor. Isso quer dizer que a natureza jurídica da pessoa 
não o coloca ou exclui da condição de ser fornecedor. 
A natureza jurídica da pessoa não o coloca ou exclui da 
condição de fornecedor. Entidades filantrópicas podem ser 
fornecedoras. Pessoas jurídicas de direito público podem ser 
fornecedoras. A natureza do sujeito, por si só, não exclui a 
condição de fornecedor. Qualquer atividade econômica pode 
ser realizada pelo fornecedor. 
O caput do art. 3º não é exauriente, exatamente em razão de 
sua organização: a sua organização não permite o entender 
como um rol taxativo de atividades econômicas. Fala-se em 
atividade de produção: toda atividade primária, seja extrativa, 
seja pecuária, seja agrícola, é atividade de produção. A 
montagem é uma atividade industrial que recai sobre 
produtos pré industrializados, diferente da transformação. 
São duas as atividades industriais: transformação e 
montagem. Na indústria de transformação a atividade recai 
sobre a matéria prima, já a montagem pressupõe a atividade 
exercida sobrematerial já pré-industrializado. Quando o 
Código de Defesa do Consumidor fala em montagem e em 
transformação, há a abrangência de todas as atividades 
industriais. Até então, o conceito abrange toda a atividade 
primária e secundária. 
A criação é a atividade econômica que resulta no surgimento 
do bem intelectual. Os programas de computação, por 
exemplo, é uma atividade de criação. A própria organização 
do rol permite abranger qualquer atividade econômica, daí a 
conclusão de que não se trata de um rol taxativo (diante da 
amplitude que se pode dar às atividades mencionadas). 
Fornecedor é qualquer pessoa exercendo qualquer atividade 
econômica. 
Diante disso, questiona-se como identificar o fornecedor no 
caso concreto, já que ele pode ser qualquer pessoa 
desenvolvendo qualquer atividade econômica. A solução 
está na expressão ‘que desenvolvem’, pois, é onde encontra-
se a chave para a identificação do elemento anímico. 
Por desenvolver atividade, a doutrina infere habitualidade no 
exercício dessa atividade econômica. Então, fornecedor é 
alguém que desenvolve atividade econômica, ou seja, 
alguém que desempenha certa atividade econômica de 
maneira habitual, não eventual. 
Por exemplo, a Faculdade Baiana de Direito possui um 
automóvel e, o vende a um aluno. Neste caso, não há relação 
de consumo na condição de consumidor, porque a 
Faculdade Baiana de Direito não desenvolve essa atividade 
econômica de maneira habitual. 
Durante a prestação de serviços educacionais, no entanto, a 
Faculdade Baiana de Direito será considerada fornecedora, 
pois ela de fato desempenha a atividade econômica de 
maneira habitual. A habitualidade portanto, caracteriza a 
condição de fornecedor. 
O desenvolvimento de atividade econômica que caracteriza 
a condição de consumidor, entendendo-se essa expressão 
como habitualidade no exercício de certa atividade 
econômica. 
Há uma discussão doutrinária: alguns autores exigem mais 
que habitualidade – seria necessário a profissionalidade no 
exercício da atividade econômica e, essa profissionalidade 
consistiria em ser aquela atividade econômica a atividade 
econômica precípua do agente econômico – ainda que ele 
desempenhasse a atividade de forma habitual, mas como 
algo secundário e que fosse apenas uma contingência de 
sua atividade econômica principal, não estaria caracterizada 
a relação de consumo, pois o sujeito não seria fornecedor. 
O exemplo apresentado por Nilton de Lucca é o seguinte: um 
neurocirurgião quer investir o seu dinheiro em imóveis e, 
começa a comprar imóveis. Esses imóveis são alugados. 
Locação de imóveis não é a atividade principal do médico – a 
sua fonte de renda é a medicina. A locação de imóveis é algo 
secundário. 
Na medida em que o neurocirurgião loca imóveis, questiona-
se se o médico seria fornecedor. Nilton de Lucca entende 
que sim, mas muitos autores entendem que não, pois falta a 
profissionalidade. 
Outro exemplo ocorre diante de empresas que realizam 
locação de veículos: define-se um prazo durante o qual 
ocorrerão as locações e, após transcorrido o prazo, vende-se 
o veículo. Na medida em que ocorre a venda do veículo, 
questiona-se se a locadora de veículos é fornecedora. 
A atividade principal da locadora não é a venda de veículos, 
mas sim a locação. Nesse caso, há habitualidade porque 
existe uma reiteração de reações daquela natureza, mas não 
há profissionalidade porque esta não é a sua atividade 
principal. A maioria dos autores se inclina pela mera 
habitualidade, ou seja, reiterações de relações daquela 
natureza. Não há muita discussão na jurisprudência, pois a 
maioria dos fornecedores são pessoas jurídicas e, as pessoas 
jurídicas ao exercerem atividade econômica de maneira 
habitual precisam se profissionalizar (abrem outra empresa 
do mesmo grupo). 
PRODUTO: Segundo o art. 3º, §1º do Código de Defesa do 
Consumidor, produto é qualquer bem móvel ou imóvel, 
material ou imaterial. 
O conceito de produto é o mais amplo possível, já que se diz 
que produto é qualquer bem. Bem jurídico é tudo aquilo que 
representa uma utilidade e desperta interesse nas pessoas. 
O legislador aqui, foi mais amplo do que deveria. Embora se 
diga que produto é qualquer bem, questiona-se se qualquer 
bem pode ser um produto. A resposta é não: há bens que 
estão fora do comércio e há bens que são insuscetíveis de 
troca, a exemplo dos direitos da personalidade. 
Quando se diz que produto é qualquer bem, deve-se 
entender que há uma restrição: produto é qualquer bem, 
exceto aqueles insuscetíveis de relações de troca, aqueles 
bens que estão fora do comércio. Não integra o conceito de 
produto a onerosidade da relação jurídica e, com isso 
questiona-se se produto doado caracteriza relação de 
consumo. Na doação, a relação jurídica não é remunerada. 
O que a maioria dos autores tem dito é que, de fato não 
integra o conceito de produto a onerosidade da relação 
jurídica, ou seja, ainda que gratuita há a caracterização da 
relação de consumo. 
Os produtos fornecidos por filantropia causam dúvidas. Essa 
é uma discussão que ainda está em aberto. Alguns autores 
indicam que, a exemplo do que ocorre com os serviços, a 
filantropia excluiria a condição de produto de consumo. 
Quando o fornecimento é gratuito mas não há filantropia, 
entende-se que há relação de consumo. Quando o 
fornecimento é feito por filantropia há divergência e ainda 
não há posicionamento majoritário ou jurisprudencial. 
SERVIÇO: Segundo o art. 3º, §2º, do Código de Defesa do 
Consumidor. Serviço é qualquer atividade fornecida no 
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as 
de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, 
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 
Serviço é uma atividade fornecida através de remuneração. 
Discute-se o que é remuneração. Remuneração deve ser 
entendida como qualquer vantagem econômica auferida pelo 
fornecedor. 
Essa vantagem econômica pode ser direta ou indireta. A 
remuneração d i re ta é aque la que cor responde 
imediatamente à atividade prestada. A remuneração indireta 
consiste em uma outra vantagem econômica qualquer 
auferida pelo fornecedor, ou seja, aquela que não 
corresponde direta e imediatamente à atividade prestada. 
O pagamento de estacionamento de shopping, por exemplo, 
consiste em uma vantagem direta. Já quando alguém deixa o 
carro estacionado em um mercado, não há remuneração 
direta. As questões que chegaram ao STJ dizem respeito ao 
estacionamento. 
Se alguém tem seu carro roubado no supermercado, haverá 
responsabilização, pois há contrato de depósito – discute-se 
no entanto, se a responsabilização será de acordo com o 
Código de Defesa do Consumidor ou com o Código Civil. 
Nesse caso, não há remuneração direta, mas o 
supermercado aufere vantagem econômica ao oferecer essa 
vantagem – o estacionamento é um captador de clientela, 
pois é um atrativo. Nesse caso, há remuneração indireta, pois 
há vantagem econômica. No caso de transporte público 
gratuito de pessoas idosas, há vantagem econômica: quando 
o valor da tarifa é estabelecido, internaliza-se no valor a 
gratuidade, repassando isso no preço, ou seja, quando os 
pagantes pagam a suas passagens, o preço inclui o valor do 
seu transporte e o valor daquele que são isentos de 
pagamento de tarifa. 
A atividade prestada por mera filantropia não é considerada 
serviço: a atividade prestada por mera filantropia não 
caracter iza relação de consumo – não havendo 
remuneração, não há serviço de consumo. Pode haver 
responsabilização civil por conta de danos, mas a relação 
não será vista através do Código de Defesa do Consumidor. 
Quando se trata se serviço, exatamente diante do que diz 
expressamente o Código de Defesa do Consumidor, havendo 
o fornecimento a título filantrópico não há relação de 
consumo. A discussão ocorre em relação ao produto porque 
o legislador não disse que este era um bem fornecido 
mediante remuneração – diante disso, surge a dissensão. 
A atividadefornecida no mercado é aquela oferecida a um 
público indeterminado, ou seja, à uma generalidade de 
pessoas. A atividade prestada pelo condomínio em benefício 
do condômino não caracteriza relação de consumo, pois não 
há atividade de mercado, mas sim um rateio de custos. 
Planos de autogestão (Cassir e Asefaz) foram ao STJ 
alegando que seriam entidades filantrópicas, portanto, não 
deveriam ser consideradas fornecedoras. 
O STJ entendeu que não há como admitir a tese, pois 
entidade filantrópica pode ser fornecedora. Mudou-se a tese, 
indicando que as mesmas prestavam atividade para um 
público determinado de pessoas. Nesse caso, assim como 
ocorre no condomínio, há rateio de despesas. 
A partir de 2016, passou-se a entender que não há relação 
de consumo entre Cassir e Asefaz e os beneficiários, pois se 
trata de atividade fornecida independentemente de 
remuneração. Planos de autogestão não integram relação de 
consumo, pois a atividade não é prestada ao mercado. 
Integram o conceito de serviço as atividades de natureza 
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as 
decorrentes das relações de caráter trabalhista. 
A atividade bancária nunca deveria ter sido objeto de 
celeuma, mas atualmente, é pacífico o entendimento de que 
atividade bancária caracteriza relação de consumo. Antes, 
discutia-se se o mútuo bancário caracterizava relação de 
consumo, mas a discussão é pacificada. 
Não caracteriza relação de consumo, as de caráter 
trabalhista: os sistemas são excludentes: havendo incidência 
do direito do trabalho, não incide o direito do consumidor. 
Isso significa que a atividade prestada pelo empregado ao 
empregador não caracteriza relação de consumo – com isso 
se quer dizer que a própria incidência do direito do trabalho 
exclui a incidência do direito do consumidor. 
Algumas grandes empresas ofereciam produtos de plano de 
saúde diretamente aos seus empregados. Nesse caso, não 
seria aplicável o Código de Defesa do Consumidor, pois esse 
plano decorreria de relação trabalhista. 
Em relação ao serviço público, o entendimento que se 
consolidou na jurisprudência do STJ, foi no sentido de que 
somente serviços públicos remunerados por tarifa 
caracterizam relação de consumo (os demais, não). Serviços 
públicos podem ser próprios ou impróprios. 
Os serviços públicos próprios são aqueles prestados uti 
universi (generalidade das pessoas) e custeados pelos 
tributos desvinculados (impostos), a exemplo de segurança 
pública, saúde pública, educação. Os serviços públicos 
impróprios são aqueles prestados uti singuli e aos quais 
corresponde remuneração. Os serviços públicos impostos 
podem ser taxados ou tarifados. 
Já se disse que todos os serviços públicos caracterizariam 
relação de consumo, mas, logo se percebeu que os serviços 
públicos próprios não sofreriam a incidência do Código de 
Defesa do Consumidor porque a eles não corresponde 
remuneração. O imposto não é remuneração, mas um tributo 
desvinculado de qualquer contraprestação estatal específica. 
Depois passou-se a indicar que todos os serviços públicos 
impróprios caracterizariam relação de consumo, pois todos 
eles são prestados mediante remuneração – tanto as taxas 
quanto as tarifas se prestam a remunerar serviços. Ocorre 
que, quanto aos serviços públicos taxados, o STJ indicou não 
haver relação de consumo, porque no caso dessa relação 
jurídica, há uma verticalização: o Estado atua em relação ao 
contribuinte das taxas com supremacia de poder. 
Há uma relação que deve ser regulada por normas de direito 
público e não por normas de direito privado. Restringiu-se a 
incidência do Código de Defesa do Consumidor aos serviços 
públicos remunerados através de tarifas (água, energia 
elétrica, etc.). 
Uma outra discussão se relaciona ao profissional liberal. O 
profissional liberal sofre a incidência do direito do 
consumidor, aplicando-se o Código de Defesa do 
Consumidor, até porque o art. 14, §4º do CDC objetiva regular 
a responsabilidade civil do profissional liberal. 
A atividade do advogado, especificamente, não é regulada 
pelo Código de Defesa do Consumidor, de acordo com a 
jurisprudência firmada pelo STJ. 
A primeira fundamentação é que a atividade do advogado se 
trata de um múnus público: todos possuem direito de defesa, 
por imposição constitucional. O segundo fundamento é que o 
vínculo se estabelece intuito personae. Além disso, há 
legislação própria regulando a atividade (Estatuto da 
Advocacia). 
O quarto fundamento é que a atividade não é atividade 
fornecida no mercado. Esse último fundamento é questão de 
interpretação. O STJ entende que atividade fornecida no 
mercado é aquela para a qual se faz publicidade e, isso é 
proibido pelo Estatuto da OAB. A maioria dos autores não 
pensava assim e, o próprio STJ já chegou a pensar de 
maneira contrária. Esses requisitos sãos vislumbrados em 
outras atividades. 
A atividade cartorária também envolve um componente 
político corporativo. Segundo o STJ, a atividade cartorária 
não caracteriza relação de consumo. O fundamento jurídico é 
que trata-se de uma atividade que, embora delegada, é 
emanada da autoridade do Estado. 
É como se fosse uma atividade jurisdicional e, há 
remuneração. Aqui, haveria um poder do Estado se 
manifestando. Esse entendimento é válido para a atividade 
jurisdicional, mas o STJ o estendeu para a atividade 
cartorária. 
3. 
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
 
PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE 
O princípio da vulnerabilidade é um princípio constitucional 
implícito, pois sempre que há menção ao consumidor, há 
referência à sua defesa. Só precisa de proteção aquele que é 
vulnerável. Vulnerabilidade consiste em um estado de 
fraqueza e fragilidade do consumidor. O consumidor é 
vulnerável porque é frágil. 
A vulnerabilidade é multifacetária. Para pessoas naturais, a 
fragilidade é presumida, mas, no caso concreto é fácil 
observar o estado de fragilidade. É o reconhecimento do 
estado de fragilidade que está explícito no princípio da 
vulnerabilidade do consumidor. 
A vulnerabilidade da pessoa natural é presumida. Em ao 
menos dois casos se exige a demonstração de 
vulnerabilidade no caso concreto: pessoa jurídica e 
destinatário final meramente fático, que se quiser invocar a 
proteção do CDC, precisará demonstrar sua própria 
vulnerabilidade. 
O princípio da vulnerabilidade é um princípio constitucional 
implícito: sempre vincula-se o consumidor à defesa. Ocorre 
que, além de princípio constitucional implícito, trata-se de 
princípio infraconstitucional expresso no art. 4º do Código de 
Defesa do Consumidor: reconhece-se a vulnerabilidade do 
consumidor. 
A vulnerabilidade é multifacetária – não é como a 
hipossuficiência do empregado. O Código de Defesa do 
Consumidor menciona a hipossuficiência como um requisito 
para a inversão do ônus da prova (sentido probatório) – há 
relação com a vulnerabilidade, mas não se confunde com ela, 
visto que o sentido de vulnerabilidade é mais amplo que o da 
hipossuficiência. 
Se vulnerabilidade fosse sinônimo de hipossuficiência e, o 
consumidor fosse hipossuficiente, sempre ocorreria a 
inversão do ônus da prova. A doutrina costuma mencionar 
algumas manifestações da vulnerabilidade. Ainda que a 
vulnerabilidade não ocorra em um aspecto, ela poderá 
ocorrer em outro aspecto. 
VULNERABILIDADE TÉCNICA: A vulnerabilidade mais grave é 
a técnica, pois de fato fragiliza e põe em risco, 
eventualmente, a segurança a saúde e própria vida do 
consumidor. O consumidor é tecnicamente vulnerável porque 
não detém conhecimento técnico acerca dos produtos e 
serviços que utiliza. 
O consumidor não possui segurança quanto aos serviços e 
bens, mas o fornecedor, provavelmente possui estudos 
acerca disso. A falta de conhecimento técnico pode expor o 
consumidor e afetar sua saúde e segurança. 
VULNERABILIDADE ECONÔMICA: o consumidor é 
economicamente vulnerável porque, como regra, possui 
menos dinheiro que o fornecedor. 
VULNERABILIDADE FÁTICA: a vulnerabilidadefática decorre 
do fato de o consumidor travar relações de consumo a fim de 
satisfazer necessidades. Eventualmente essas necessidades 
podem biológicas ou meramente psicológica. Muitas vezes 
os próprios fornecedores criam as necessidades. Os 
produtos e serviços fornecidos satisfazem necessidades 
biológicas e, quando essa necessidade não existe, são 
criadas necessidades psicológicas. 
VULNERABILIDADE JURÍDICA: é capaz de causar uma série 
de prejuízos ao consumidor e, pode ser visualizada, por 
exemplo, nos contratos de adesão, ou no próprio preparo 
para litigar. O fornecedor está preparado para litigar, pois o 
litígio faz parte de seu cotidiano. 
Alguns autores falam a vulnerabilidade informacional, pois às 
vezes há conhecimento técnico mas não há informações 
especificas. Além de ser o próprio esteio do consumidor, o 
princípio da vulnerabilidade funciona potencializando certos 
princípios. 
Alguns pr incípios interagem com o pr incípio da 
vulnerabilidade e, dessa interação, ele é potencializado, ou 
seja, sua incidência é fortalecida. O princípio da boa-fé 
objetiva, atualmente é considerado princípio geral do direito. 
Ocorre que, no direito do consumidor, a boa-fé é 
potencializada quando interage com a vulnerabilidade. 
Todo consumidor pessoa física é vulnerável, porém, existem 
consumidores em situação de hipervulnerabilidade, ou seja, 
há maior fragilidade – diante disso, sua proteção deve ser 
exacerbada. Por exemplo, o consumidor idoso, o consumidor 
criança, o consumidor de serviços de saúde estariam 
hipervulneráveis. 
PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA 
Foi introduzido ao direito em geral pelo direito do 
consumidor. Antes do Código de Defesa do Consumidor não 
se falava em boa-fé. O sentido de boa-fé, seja no direito 
consumidor, seja de forma geral, é um padrão de conduta 
que induz as partes a atuar com elevado padrão de 
eticidade, não considerando somente seus interesses, mas 
também o da parte contrária. 
A boa-fé tem a função limitadora do exercício de direitos. A 
boa-fé tem a função interpretativa-integrativa, se prestando 
como um norte interpretativo e para a integração dos 
negócios jurídicos. Há ainda a função criadora de deveres, 
principalmente anexos. 
Essencialmente, a boa-fé do direito do consumidor não é 
diferente dos demais ramos, porém, é potencializada pela 
incidência da vulnerabilidade. A boa-fé objetiva incide de 
forma mais intensa. 
Um exemplo é o seguinte: O dever de informação é um dever 
anexo e, o art. 31 do CDC indica que “a oferta e 
apresentação de produtos ou serviços devem assegurar 
informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em 
língua portuguesa sobre suas características, qualidades, 
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de 
validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os 
riscos que apresentam à saúde e segurança dos 
consumidores.”. 
Essa intensidade do dever de informação não é encontrada 
em todos os ramos de direito. Com relação aos 
hipervulneráveis, há a incidência de uma boa-fé ainda mais 
potencializada. Às vezes, não basta ao fornecedor informar, 
mas aconselhar, a exemplo do médico no exercício de sua 
atividade. 
PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS CONTRATO 
É um princípio também visualizado do Direito do Consumidor 
e indica que todo esforço deve ser feito para que o contrato 
seja mantido. Esse princípio é potencializado no direito do 
consumidor. Esse instituto não é novidade no direito civil, a 
exemplo da nulidade parcial e da nulidade do negócio 
acessório (não contamina o principal). 
Ocorre que no Código de Defesa do Consumidor esse 
princípio é potencializado por conta da atuação conjunta com 
o princípio da vulnerabilidade. No direito do consumidor, 
pode o juiz intervir no contrato e o alterar, criando direitos e 
deveres que as partes não contrataram. 
O poder interventivo do juiz em um contrato de consumo é 
ampliado, podendo afastar a cláusula nula e reconstruir o 
contrato (o juiz pode declarar a nulidade, mas reconstituir o 
contrato, o mantendo). 
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA 
Alguns autores indicam não ser autônomo, sendo 
subprincípio decorrente da boa-fé. Outros autores indicam se 
tratar de princípio autônomo. Existem dois deveres que 
decorrem imediatamente do princípio da transparência, que 
é o dever da redação clara dos contratos e o dever de 
informação contratual. 
Segundo o art. 46 do CDC, “os contratos que regulam as 
relações de consumo não obrigarão os consumidores, se 
não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento 
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos 
forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu 
sentido e alcance”. 
Algumas vezes, consta um glossário junto ao contrato. Essas 
normas contratuais não vinculam o consumidor. Não vincular 
o consumidor, segundo a doutrina, significa a nulidade 
absoluta, ocorrendo por parte do juiz a reconstrução de 
contratos. 
Segundo esse princípio, o contrato de consumo não vincula o 
consumidor se o mesmo não teve acesso – diante da 
ausência de acesso prévio, o contrato não vincula (dever de 
informação contratual). Além disso, há o dever de redação 
clara – se o contrato for redigido de maneira incompreensível 
ao consumidor ou se não houve prévio acesso ao contrato, 
ele não obriga. 
PRINCÍPIO DA EFETIVA PREVENÇÃO 
DE DANOS - PRECAUÇÃO 
Existem duas hipóteses: certeza da insegurança e incerteza 
da segurança. Na primeira hipótese, é certa a insegurança e, 
diante disso, aplica-se a prevenção. Por exemplo, quando o 
fornecedor sabe que o serviço ou produto é inseguro, deverá 
atuar de forma a prevenir a ocorrência de danos ao 
consumidor. 
Na segunda hipótese é incerta a segurança, incidindo o 
princípio da precaução. Aqui, esse princípio é chamado de 
princípio da efetiva prevenção de danos, atuando em face da 
incerteza da segurança. 
O princípio da efetiva prevenção de danos diz respeito à 
precaução. Aqui atuam tanto o princípio da prevenção 
quanto o da efetiva prevenção, que equivale ao da 
precaução. 
PRINCÍPIO DA EQUIDADE 
Alguns dizem ser um reflexo da vulnerabilidade. Trata-se aqui 
da igualdade formal – tratar os desiguais de acordo com sua 
desigualdade. 
PRINCÍPIO DA EFETIVA REPARAÇÃO DE DANOS 
A reparação deve ser efetiva e, esse princípio funciona como 
um norte interpretativo. Todos os danos sofridos pelo 
consumidor devem ser reparados de maneira efetiva. Por 
exemplo: no direito do consumidor, o consumidor pode 
reclamar por vícios no produto e, está sujeito a um prazo 
decadencial, no entanto, existem hipóteses que obstam esse 
prazo. 
Em razão do princípio da reparação de danos é que ocorre a 
interrupção ao invés da suspensão, garantindo maior 
proteção ao consumidor. 
Outro exemplo da aplicação deste princípio está na limitação 
da indenização por extravio de bagagem: segundo o Código 
de Defesa do Consumidor, limitar indenização contraria o 
princípio da efetiva reparação de danos (posicionamento do 
STJ). 
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO EFICIENTE AOS 
ABUSOS E HARMONIZAÇÃO DO MERCADO DE 
CONSUMO 
Esses princípios devem ser aplicados harmoniosamente, pois 
tendem a colidir. Todos os abusos no mercado de consumo 
devem ser reprimidos de modo eficiente. Esse é um princípio 
que norteia a tutela coletiva. 
Junto ao princípio da repressão eficiente aos abusos deve 
estar o princípio da harmonização do mercado, que 
determina que a proteção do consumidor não pode 
inviabilizar a atividade econômica, devendo haver 
compatibilização dos interesses de fornecedores e 
consumidores. 
Não se deixa de proteger o consumidor, mas deve haver a 
compatibilidade de interesses (exemplo: variação cambial). 
4. 
DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 
 
ONEROSIDADE EXCESSIVA 
O art. 6º, V indica que é direito básico do consumidor a 
modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam 
prestações desproporcionais ou a sua revisão em razão de 
fatos supervenientes que as tornem excessivamente 
onerosas. 
Esse artigo disciplina duas hipóteses: a onerosidadeexcessiva concomitante à formação do contrato e a 
superveniente. Na primeira hipótese há um desequilíbrio 
congênito – no seu nascimento, o contrato atribui maior 
vantagem ao fornecedor. Há um desequilíbrio nas prestações 
e um vício que acomete o contrato. Isso é o que se denomina 
lesão. 
A lesão consiste na desproporção entre as prestações de um 
negócio jurídico. A segunda hipótese trata da revisão de 
cláusulas contratuais e, aqui, no nascimento do contrato há 
equil íbrio, ou seja, não há ruptura congênita na 
comutatividade, porém, um fato posterior rompe o equilíbrio, 
passando a impor ao consumidor uma desvantagem 
exagerada. 
ONEROSIDADE EXCESSIVA CONCOMITANTE À FORMAÇÃO 
DO CONTRATO - LESÃO: O contrato é viciado e é 
desproporcional em seu nascimento. O fenômeno da lesão 
também é disciplinado no Código Civil, no art. 157. 
No Código de Defesa do Consumidor a previsão se encontra 
no art. 6º, V; no art. 39, V e no art. 51, IV c/c §1º, III, do art. 51. 
No direito civil, a lesão é um vício de consentimento, que é 
um vício de vontade, ou seja, uma falha na formação da 
vontade. 
A vontade declarada não corresponde à vontade real. Uma 
circunstância qualquer interfere na declaração da vontade, 
fazendo com que aquilo que se expressa não corresponde à 
vontade geral. 
Segundo o art. 157 do Código Civil: ocorre a lesão quando 
uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente 
desproporcional ao valor da prestação oposta. 
No regime do Código Civil a premente necessidade ou 
inexperiência é que interfeririam na formação da declaração 
de vontade, fazendo com que essa declaração discrepasse 
da vontade real. No direito civil, a lesão é composta por dois 
elementos: o elemento objetivo é o desequilíbrio das 
prestações. 
O elemento subjetivo consiste na premente necessidade ou 
inexperiência. Outra característica da lesão é que ela 
ocasiona a anulabilidade do negócio jurídico. O princípio da 
conservação dos contatos, no caso da lesão, está vinculado à 
vontade daquele que é beneficiado pelo negócio. 
O juiz deve anular o contrato, mas, poderá o manter se a 
parte beneficiada pelo negócio oferecer suplemento ou 
concordar com a redução do proveito. No âmbito do direito 
do consumidor a lesão não se trata de vício de 
consentimento, por isso não se exige elemento subjetivo. 
A lesão de consumo é uma lesão objetivada, pois exige 
apenas o elemento objeto, que consiste na desproporção 
das prestações – isso ocorre como uma forma de proteger o 
consumidor, já que comprovar no caso concreto a premente 
necessidade ou inexperiência poderia ser difícil. Prova de 
elemento subjetivo, sobretudo para o consumidor, é muito 
difícil. 
No direito civil, a lesão é um vício de consentimento. No 
direito do consumidor, há vício de apuração objetiva. No 
direito civil, a desproporção entre as prestações pode 
beneficiar qualquer das partes, já no direito do consumidor, 
somente o consumidor pode invocar a lesão em seu 
benefício. 
No direito civil, a lesão ocasiona anulabilidade. No direito do 
consumidor o negócio é nulo, pois trata-se de norma de 
ordem pública. Além disso, o Código Civil diz que sempre 
que a lei proíbe um ato sem lhe imputar sanção, a sanção 
será a nulidade. 
O princípio da conservação dos contratos incide no Código 
de Defesa do Consumidor de forma intensificada, logo o juiz 
está autorizado a interferir na relação contratual – a primeira 
opção do juiz não é a declaração de nulidade, mas a 
modificação de contrato, o restabelecimento do equilíbrio e 
da comutatividade contratual. 
Somente se não for possível restabelecer a comutatividade 
sem excessivo prejuízo a qualquer das partes é que o juiz 
deve anular o contrato (inviabilidade da continuidade do 
negócio apesar dos esforços para a integração). 
ONEROSIDADE EXCESSIVA SUPERVENIENTE À FORMAÇÃO 
DO CONTRATO: O contrato nasce equilibrado, mas um fato 
posterior à sua formação rompe esse equilíbrio. Esse 
fenômeno está disciplinado n art. 6º, V, indicando que é 
direito básico do consumidor a revisão de cláusulas em razão 
de fatos supervenientes que as tornem excessivamente 
onerosas. 
Nesse caso, há um equilíbrio no momento da formação do 
contrato, mas um fato posterior a formação do contrato e 
estranho à vontade das partes rompe esse equilíbrio. No 
momento da formação do contrato, não há nenhum vício – o 
contrato é plenamente válido. 
Esse mesmo fenômeno está previsto no art. 478 do Código 
Civil. Para a incidência desse artigo, o contrato deve ser de 
execução cont inuada ou di fer ida. Deve haver a 
superveniência de um fato extraordinário e imprevisível. 
Deve surgir onerosidade para uma das partes e vantagem 
para outra. Presentes esses quatro elementos fáticos, incide 
o art. 478, CC. 
No direito do consumidor, também há a necessidade de que 
o contrato seja de execução continuada ou diferida, porque 
no contrato de execução instantânea não há como haver fato 
superveniente que acarrete em onerosidade. No direito do 
consumidor não se exigem a superveniência de fato 
extraordinário e imprevisível. 
O Código Civil adotou a denominada teoria da imprevisão. 
Ao se falar em imprevisibilidade, fala-se em imprevisibilidade 
absoluta, ou seja, não há como ninguém prever. O Código de 
Defesa do Consumidor adota a teoria da quebra da base 
objetiva do negócio jurídico, que se desenvolveu no pós 
primeira guerra mundial, na Alemanha. 
O fato deve ser não previsto e, isso é diferente de 
imprevisível. Não previsto é aquilo que não se previu, 
imprevisível é o que não se poderia prever. Isso é visto na 
ruptura do equilíbrio contratual – se as previssem o 
desequilíbrio, não contratariam naqueles termos. 
A onerosidade é o único elemento de convergência expressa 
entre o Código Civil e o CDC – no direito civil, a onerosidade 
pode recair sobre qualquer uma das partes. No direito do 
consumidor, somente o consumidor pode alegar a 
onerosidade. Em relação à onerosidade para o fornecedor, 
tem-se o risco da atividade, logo, ele deve suportar o 
prejuízo. 
O Código Civil exige vantagem excessiva para a parte 
contrária, no direito do consumidor, basta que haja 
onerosidade excessiva para ele, mesmo que isso não 
corresponda a uma vantagem para o fornecedor. 
A desvantagem deve se dar sobre o consumidor, pois o 
prejuízo ao fornecedor é um risco do negócio. No direito civil, 
a consequência da onerosidade excessiva é a resolução, mas 
se defende a possibilidade de revisão. No direito do 
consumidor não há dúvidas da possibilidade de revisão. 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 
Inverter o ônus da prova não equivale a inversão do custeio 
da prova. O custeio da prova deve ser feito por quem a 
requer. Quem requer a prova antecipa o seu custeio. Diante 
disso, não se deve confundir inversão com o ônus da prova 
com custeio da prova. 
Mesmo que ocorra a inversão do ônus da prova, quem 
realizará o custeio é quem a solicita. A inversão funciona 
como presunção de veracidade do fato controvertido que 
seja sido objeto da inversão. 
Trata-se de presunção juris tantum, admitindo a produção de 
prova em sentido contrário. Pela regra geral do direito 
probatório, quem alega algo, deve provar o que é alegado. O 
autor de uma demanda precisa provar o fato constitutivo do 
seu direito. 
Por outro lado, se sobre esse fato constitutivo, o juiz realizar 
a inversão do ônus da prova, surge uma presunção juris 
tantum de veracidade sobre esse fato, incumbindo à outra 
parte a contraprova e, se nada for provado, a ação será 
julgada procedente, visto que o fato sobre o qual recaiu a 
inversão é presumido como verdadeiro. 
No Código de Defesa do Consumidor, existem duas 
modalidades de inversão ope legis e ope judices. Na 
inversão ope legis, o legislador tomou para si a incumbência 
de determinar a inversão, não deixando margem decisória 
para o juiz. 
Já na inversão ope judices, o legislador previu requisitos e 
incumbiu o julgador de aferir a existência desses requisitosno caso concreto, a fim de que, presente ao menos um dos 
requisitos, determine a inversão do ônus da prova – não 
havendo nenhum dos requisitos, a inversão do ônus deverá 
ser negada. 
Atuação do julgador na inversão ope judices é mais ampla, 
pois ele exerce um juízo prévio à inversão. A inversão ope 
legis está prevista no art. 12, §3º, I e II, art. 14, §3º, I e art. 38 
do Código de Defesa do Consumidor. A inversão ope juris 
está prevista no art. 5º, VIII do Código de Defesa do 
Consumidor. 
INVERSÃO OPE LEGIS: 
Art. 38, Código de Defesa do Consumidor: O ônus da 
prova da veracidade e correção da informação ou 
comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. 
Quem faz publicidade é obrigado a provar a correção 
e a veracidade dessa publicidade e das propriedades 
daquilo que foi anunciado. Se o direito do consumidor 
em determinada demanda consistir em uma 
propriedade anunciada, o fornecedor é que terá que 
realizar a prova. 
Essa é uma inversão imposta pela lei. Muitos autores 
criticam a expressão ‘inversão ope legis’. Alguns 
autores indicam que, de fato, a inversão é 
exclusivamente ope judices – na inversão ope legis 
não haveria de fato uma inversão, mas uma atribuição 
do ônus da prova. 
A discussão é terminológica, pois as consequências 
são as mesmas. A maioria dos autores, no entanto, 
defende a utilização da expressão ‘inversão’, porque a 
regra geral do ônus probatória é subvertida. 
Art. 12, §3º, I e II, Código de Defesa de Consumidor: 
O fabricante, o produtor, o construtor, nacional 
ou estrangeiro, e o importador respondem, 
independentemente da existência de culpa, 
pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de 
projeto, fabricação, construção, montagem, 
fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem 
como por informações insuficientes ou 
inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou 
importador só não será responsabilizado 
quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no 
mercado, o defeito inexiste. 
O art. 12 é aplicável a hipóteses de danos decorrentes 
de fato do produto. O ônus de provar a inexistência de 
um defeito alegado pelo consumidor é do fornecedor. 
Se o ato controvertido em uma ação de consumo for 
defeito, o ônus da prova é do fornecedor, pois a lei 
indica que, ao colocar um produto no mercado, passa 
a ser do fornecedor o ônus de provar a inexistência de 
defeito. 
O inciso I do art. 12 trata da autoria do fato de haver 
colocado o produto no mercado de consumo. Ao 
fornecedor, incumbe provar, sendo o caso, que não 
colocou determinado produto no mercado de 
consumo. 
A responsabilidade civil tem como pressupostos a 
conduta, o nexo e o dano e, o ônus probatório no 
âmbito cível é da vítima (integram o seu defeito 
constitutivo). 
O defeito está vinculado ao nexo causal, porque é o 
que vincula a conduta de inserir um produto no 
mercado ao dano causado ao consumidor 
(responsabilidade civil por fato do produto). 
Já a colocação do produto no mercado de consumo é 
uma conduta e, essa conduta é imputável ao 
fornecedor. Em regra, a conduta seria ônus probatório 
do autor, porém, ocorreu a inversão ope legis, logo, o 
consumidor não precisa fazer prova de que o produto 
foi colocado no mercado pelo consumidor. 
O fornecedor, por outro lado, deverá provar que não 
realizou a colocação do produto no mercado. 
Art. 14, §3º, I, Código de Defesa do Consumidor: Aqui, 
tem-se a proteção dada ao consumidor por conta de 
danos decorrentes de fato do serviço. Aqui, há 
inversão do ônus da prova no tocante ao defeito do 
serviço. No fato do serviço, somente há inversão do 
ônus da prova no tocante ao defeito – não há inversão 
em relação à conduta. 
O fornecedor de serv iços responde, 
independentemente da existência de culpa, 
pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à 
prestação dos serviços, bem como por 
informações insuficientes ou inadequadas 
sobre sua fruição e riscos. O fornecedor de 
serviços só não será responsabilizado quando 
provar: que tendo prestado o serviço, o defeito 
inexiste. 
No tocante ao fornecimento de serviço, não se 
dispensa que o consumidor faça prova da conduta do 
fornecedor ou do serviço. O consumidor deve provar 
que a prestação do serviço se deu pelo fornecedor 
(fato constitutivo do direito do autor). 
O Código de Defesa do Consumidor dispensa, por 
outro lado, que o consumidor faça a prova do defeito 
do serviço. É o fornecedor que deve fazer prova da 
inexistência do defeito. Em suma, se a controvérsia for 
sobre a autoria, o consumidor precisará realizar a 
prova. Se por outro lado, a controvérsia recair sobre a 
existência de defeito na prestação de serviço, 
ocorrerá a inversão ope legis. 
INVERSÃO OPE JUDICES: 
O legislador estabelece requisitos e entrega ao julgador a 
incumbência de aferir se estes requisitos estão presentes no 
caso concreto. O art. 6º, VIII indica “a facilitação da defesa 
de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, 
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, 
segundo as regras ordinárias de experiências”. 
A inversão do ônus da prova não esgota a normatividade do 
dispositivo, que indica que devem ser facilitados os direitos 
do consumidor. A inversão do ônus da prova é uma das 
manifestações do legislador como uma das formas de 
proteção dos direitos do consumidor (facilitação da defesa 
dos direitos). 
O legislador não precisava ter indicado que a inversão do 
ônus da prova se restringe ao processo civil, pois isso 
decorre da Constituição Federal, já que inversão do ônus da 
prova equivale a presunção de veracidade do fato objeto da 
inversão. 
Se aplica-se a inversão no processo penal, haveria 
presunção de culpa e violação da presunção constitucional 
de inocência. O julgador irá aferir se há um dos requisitos 
necessários para que haja a inversão. O legislador indica 
quais os requisitos para que possa ocorrer a inversão: 
verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do 
consumidor. 
Literalmente, verossimilhante é aquilo que aparenta ser 
verdade, porém, deve-se entender a verossimilhança como 
algo maior. A verossimilhança consiste em um juízo de 
probabilidade. Sempre que em uma cognição sumária o juiz 
se convencer de que a alegação é provável, alcança-se o 
juízo de verossimilhança, devendo haver a inversão do ônus 
da prova. 
H ipossufic iênc ia não pode ser confund ida com 
vulnerabilidade: todas as pessoas naturais são consideradas 
vulneráveis e, se hipossuficiência fosse o mesmo que 
vulnerabilidade, haveria uma regra geral de inversão do ônus 
da prova: “sempre que o consumidor pessoa natural litigasse, 
ocorreria a inversão”. Diante disso, não há equivalência entre 
vulnerabilidade e hipossuficiência. 
Hipossuficiência tem sentido probatório – hipossuficiente é o 
consumidor que possuir dificuldade de produzir a prova que 
lhe incumbe no caso concreto. Sempre que o consumidor 
possuir dificuldade para produzir a prova que lhe incumbe no 
caso concreto, ele será considerado hipossuficiente. 
A hipossuficiência, embora não equivalha à vulnerabilidade, 
possui relação com ela: a hipossuficiência equivale a um 
reflexo processual da vulnerabilidade. Sempre que a 
vulnerabilidade refletir no processo, dificultando a produção 
da prova a que incumbe ao consumidor, ele será 
hipossuficiente. 
Sempre que a vulnerabilidade refletir no processo, 
dificultando a produção da prova pelo consumidor, o 
consumidor não é apenas vulnerável, mas também é 
hipossuficiente. Nem sempre a vulnerabilidade reflete no 
processo. 
Alguns autores chegam a afirmar que a hipossuficiência é 
reflexo processual da vulnerabilidade técnica, mas, essa não 
é uma regra geral. Os requisitos verossimilhança e 
hipossuficiência são alternativos, não havendo necessidade 
de cumulação.Há corrente minoritária indicando que os requisitos são 
cumulativos e, o fundamento é que não se pode falar em 
uma inversão com base em hipossuficiência se se estiver 
diante de uma alegação inverossímil. Essa corrente não 
percebe que não existem apenas dois extremos: a alegação 
provável e a alegação improvável. 
Entre esses extremos, existem as alegações meramente 
possíveis e, nada impede a inversão diante da 
hipossuficiência em face de uma alegação possível. 
MOMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: As regras 
de distribuição do ônus probatório vem sendo entendias pela 
doutrina como regras de julgamento, ou seja, são as regras 
aplicadas pelo juiz na hora de decidir. 
Diziam os autores que, essa mesma ideia deveria ser 
aplicada à inversão do ônus da prova no direito do 
consumidor – a inversão do ônus da prova também deveria 
ser uma regra de julgamento, ou seja, o juiz só precisaria 
aplicar essa regra no momento de julgar, não precisando em 
um momento anterior ao julgamento pronunciar-se 
expressamente sobre a inversão. 
Essa discussão se relaciona à inversão ope judices, pois na 
inversão ope legis as partes ingressam na lide sabendo qual 
o seu ônus probatório. Na inversão ope judices, o fornecedor 
entra orientado no processo pela regra do art. 373 do CPC, 
sabendo que a consumidor incumbe a prova do fato 
constitutivo do seu direito. 
A corrente que defende que a inversão deve ser vista como 
regra de julgamento indica que o juiz pode abster-se de se 
pronunciar sobre a inversão do ônus da prova antes do 
momento da sentença. 
Os detratores desse entendimento indicam que alterar o 
ônus da prova no momento da sentença seria modificar as 
regras para modificar o próprio resultado do julgamento. Essa 
discussão ficou aparentemente resolvida com a edição no 
Código de Processo Civil de 2015. 
O art. 357 do CPC indica que o juiz deve definir na fase de 
saneamento, o ônus da prova, observada a regra geral, ou 
seja, agora há determinação expressa de que o momento da 
definição da distribuição do ônus probatório é o saneamento 
do processo. 
A decisão que inverte o ônus da prova é suscetível de agravo 
de instrumento (art. 1.015, CPC). Alguns indicam que essa 
regra que é válida no processo civil como um todo, não se 
aplicaria ao direito do consumidor, permanecendo a inversão 
do ônus da prova como regra de julgamento. Essa discussão 
só tem sentido em relação à inversão ope judices. 
5. 
PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS 
 
PREVENÇÃO DE DANOS 
O Código de Defesa do Consumidor inova na legislação do 
direito privado – a legislação do direito privado normalmente 
só se ocupa com os aspectos reparatórios, já o Código de 
Defesa do Consumidor, antes de tratar da responsabilidade 
civil tratou de disciplinar a prevenção de danos ao 
consumidor. 
A questão é como prevenir danos, se consumir representa 
um risco. Esse risco pode ser maior ou menor a depender do 
que se consome, mas consumir sempre envolve certo grau 
de risco. 
O consumo que talvez seja mais evidente no tocante ao risco 
é o consumo de medicamentos, mas até alimentos podem 
oferecer riscos. Diante da realidade de que consumir 
representa riscos e de que existem bens e serviços 
necessários à vida, questiona-se como de fato proteger o 
consumidor sem inviabilizar o fornecimento. 
O legislador do Código de Defesa do Consumidor fez isso 
classificando os riscos em três diferentes espécies: são as 
periculosidades previstas no Código de Defesa do 
Consumidor. 
Existe a periculosidade inerente, a periculosidade exagerada 
e a periculosidade adquirida. Essa nomenclatura não é 
utilizada pelo Código de Defesa do Consumidor. O Código 
de Defesa do Consumidor permite que se extraia essa 
classificação, mas não utiliza essa terminologia. Quem 
primeiro realizou a sistematização dessas periculosidades foi 
Herman Benjamim. 
PERICULOSIDADE INERENTE: A periculosidade inerente é 
aquela considerada normal e previsível. A normalidade 
decorre exatamente da relação entre o benefício e o risco. 
Sempre que o benefício preponderar sobre o risco a 
periculosidade será normal. 
Não basta a normalidade, é necessário que a periculosidade 
seja previsível. A previsibilidade consiste na ciência do 
consumidor. Os produtos colocados no mercado de consumo 
podem causar risco à saúde e à segurança dos 
consumidores, desde de que o risco seja normal e 
conhecido. 
O art. 8º do Código de Defesa do Consumidor indica que os 
produtos e serviços colocados no mercado de consumo não 
acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, 
exceto os considerados normais e previsíveis em 
decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os 
fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações 
necessárias e adequadas a seu respeito. 
Se os riscos forem normais e previsíveis, eles podem 
acarretar risco à saúde e a segurança dos consumidores. 
A Lei de Consumidor Portuguesa indica que é proibido o 
fornecimento de bens ou a prestação de serviços que, em 
condições de uso normal e previsível, incluindo a duração, 
implique em riscos incompatíveis com a sua utilização. 
A normalidade deve levar em consideração aspectos 
técnicos e econômicos existentes no momento. Determinado 
risco admissível em um instante pode não ser admitido em 
outro momento: tudo é em razão do desenvolvimento 
econômico e tecnológico. É aceito certo grau de risco a fim 
de tornar viável o fornecimento do produto. Em determinado 
momento, um certo grau de risco é admissível porque não há 
tecnologia mais avançada. 
Quando a tecnologia avança o risco passa a ser inadmissível. 
Por exemplo, certo medicamente apresentava certo risco, 
porém foi criado um novo medicamento com o mesmo 
princípio ativo e que atinge a mesma finalidade utilizando 
tecnologia que minorou o risco. 
Diante disso, o risco apresentado pelo medicamento anterior 
passa a ser inadmissível. É necessário que se pondere a 
normalidade, mas também aspectos relacionados ao 
desenvolvimento econômico e tecnológico. 
Não basta a normalidade, é possível que ocorra a 
previsibilidade. Incumbe ao fornecedor prestar as 
informações, ou seja, tornar previsível o risco é uma 
obrigação do fornecedor. 
O fornecedor não é obrigado a indicar informações 
consabidas. Quando não existe a normalidade, a 
periculosidade se transmuda em periculosidade exagerada. 
Quando não existe a previsibilidade, a periculosidade se 
transmuda em adquirida por defeito de informação. 
O Código de Defesa do Consumidor disciplina a 
periculosidade inerente através da total ausência de 
responsabilidade do fornecedor. Havendo dano decorrente 
de periculosidade inerente é totalmente irresponsável o 
fornecedor, que não responderá em nenhuma esfera 
(presentes os requisitos da periculosidade inerente). 
PERICULOSIDADE EXAGERADA: O art. 10 do Código de 
Defesa do Consumidor indica que, o fornecedor não poderá 
colocar no mercado de consumo produto ou serviço que 
sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade 
ou periculosidade à saúde ou segurança. 
A periculosidade exagerada é a periculosidade de alto grau. 
O alto grau de periculosidade decorre exatamente da 
incompatibilidade da equação entre risco e benefício. Haverá 
alto grau de periculosidade sempre que o risco preponderar 
sobre o benefício, logo, é a incompatibilidade entre o risco e 
o benefício que caracteriza a periculosidade de alto grau. 
Nesse caso, o legislador foi mais rigoroso e, existe um dever 
negativo, ou seja, o fornecedor não deve colocar no mercado 
de consumo produtos com alto grau de periculosidade. 
Se o fornecedor colocar o produto no mercado e a ciência do 
alto grau de periculosidade for superveniente, ele tem o 
dever de retirar o produto do mercado e de comunicar as 
autoridades e aos consumidores 
 O dever de retirada é uma inferência do dever de proibição 
de colocação. Havendo dano ocorre a responsabilidade civil 
e havendo elemento subjetivo há o crime do art. 7º, IX da Lei 
8.137/90, que é admitido tanto na forma

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