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Psicoterapia Familiar de Jay Haley Cap 01

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CAPITULO 1
P R IM E IR A EN TREV ISTA
Se definirmos uma psicoterapia, bem sucedida, a partir da solução dos proble­
mas apresentados pelo cliente, o terapeuta deverá saber como formulá-los e solucio­
ná-los. E desde que se exige a solução de uma grande variedade deles, é necessário 
que ele não abrace uma abordagem rígida e estereotipada em relação à psicoterapia. 
Qualquer método padronizado, independente de quanto efetivo possa ser em rela­
ção a alguns problemas, não terá sucesso com uma ampla variedade de questões que, 
costumeiramente, se apresentam a um terapeuta. São necessárias flexibilidade e es­
pontaneidade, além de que qualquer terapeuta deverá aprender a partir da própria 
experiência e repetir o que foi bem sucedido nflfpassado. A combinação de procedi­
mentos conhecidos corno técnicas inovadoras aumenta a probabilidade do sucesso.
Para uma terapia terminar adequadamente é necessário que ela comece ade­
quadamente; ou seja. através da negociação de um problema solucionável e desco­
berta da situação social que o toma necessário. A terapia começa pela maneira co­
mo o problema é examinado; logo. a entrevista o traz à tona, bem como os padrões 
de relacionamento que deverão ser mudados.
Um terapeuta habilidoso atenderá cada novo cliente pressupondo um único 
prosseguimento que deverá ser necessário para estas situações, pessoal e social, par­
ticulares. As variáveis são muitas, mas deverão estar compreendidas em categorias 
le tempo, lugar, honorários, número de pessoas envolvidas è as diretivas especiais 
necessárias ao início. Um terapeuta que possua total liberdade poderá avaliar a me-
23
Iluii loIuçBoparu trabalhar, dependendo da situarão, no consultório, cm caia, no ov 
crltórlo do cliente, nu iuh o u . cm sc tratando de um problema escolar, nu escola. A 
primeira entrevista poderá durar uma hora, meia hora. ou várias horas, 0 terapeuta 
poderá tomai providências imediatas para mudança ou talvez, culmarncntc, náo oxi 
gtr nenhuma açáo logo de imediato. Sc, num caso, a cobrança dos honorários- 
padrão do terapeuta pode ser adequada, em outros ele pode solicitar no cliente que 
pague «'nulo que acreditar que merece; ou, ainda, pedir que o cliente pague, sc não 
melhorar A primeira entrevista poderá ser realizada com uma pessoa ou várias ao 
mesmo tempo, poderá incluir somente membros da família, amigos, e até mesmo 
outros profissionais. Se para um determinado grupo étnico a abordagem requer que 
a entrevista seja feita formalmente, para outro grupo uma atitude mais casual pode­
rá ser muito mais efetiva. Existem muitas maneiras diferentes, pelas quais um tera­
peuta habilidoso poderá começar, mas o que será apresentado neste contexto se re­
fere à atuaçáo de um terapeuta médio, no que diz respeito a como conduzir o pri­
meiro encontro.
Atualmente, parte-se do pressuposto de que iniciar uma psicoterapia entrevis- 
lanno-sc apenas uma pessoa e começar com uma desvantagem. Quando se pensava 
que um problema terapêutico era um fenômeno monádico, esta atitude parecería ra­
zoável Sintomas ou problemas eram considerados mal adaptativos e inadequados; 
desta lorrna náo havia nenhuma razào para trazer para o consultório mais de uma 
pciuo.i além daquela que estava mal adaptada. Se uma esposa tinha ataque de 
ansiedade, c náo era levada em consideração sua adaptação ao casamento, imagina- 
vu-se que sua ansiedade era irracional. Desta maneira a presença de seu marido não 
era considerada relevante, exceto como fator de tensão para a mulher que, por seu 
lado, apresentava um problema “ real” .
Naturalmente é possível mudar um casamento ou uma família entrevistan­
do-se apenas uma pessoa; mas, este procedimento pode ser não apenas lento como 
difícil e, frequentemente, falho, como os estudos sobre resultados de psicoterapia. 
têm demonstrado. Parece ser muito mais sensato entrevistar o grupo natural onde 
os problemas se expressam e, a partir daí, tomar providências imediatas em relação 
á solução.
Se num casamento é óbvio que ambos, o marido e a mulher, deverão ser en­
trevistados, é ainda mais evidente que, quando o problema é com um adolescente 
que deve ser ajudado a se tornar independente de sua família, a família como um 
todo deverá ser imedíatamente envolvida no processo terapêutico. O terapeuta de­
verá trabalhar com todas as pessoas juntas para ajudá-las a se individualizar; e é, ain­
da, mais sensato começar este processo de individualização de uma vez, logo na pri­
meira entrevista.
24
Sc encararmos os problemas levando em conta o seu contexto, a dicotomia do 
passado, entre terapia “individual" e terapia “familiar”, torna-se irrelevante. Entre­
vistar um indivíduo é uma forma de fazer intervenções junto a uma família. Se um 
terapeuta entrevista o pai, a m3e, o avô, ou a criança, e náo faz contato com outros 
membros da família, ele forma uma coalisão no escuro, sem saber a natureza da or­
ganização na qual está entrando. Após a terapia ter sido iniciada o terapeuta poderá 
sentir necessidade de entrevistar os membros da família isoladamente, tendo-se em 
consideração um objetivo particular; entretanto, no início, é melhor entrevistar to­
dos aqueles que vivem na casa, de tal forma que possa rapidamente captar o proble­
ma e a situação social que o mantém.
Acresce o fato de que, geralmente, sabemos que as pessoas não conseguem fa­
zer relatos apropriados sobre suas próprias situações sociais. Mesmo participantes 
treinados como observadores fazem relatos tendenciosos, devido à sua posição no 
seu sistema social. Um antropólogo, treinado, não consegue relatar adequadamente 
as sequências que tèm lugar dentro da sua própria família. Na década de 1950 as dú­
vidas a respeito de auto-avaliação conduziram os terapeutas familiares e seus super­
visores em psicoterapia a observarem um psicoterapcuta no trabalho, através de um 
espelho falso ou através de vídeo-teipe. Os supervisores compreenderam que as des­
crições de um terapeuta não eram adequadas, quando comparadas com uma grava­
ção. Quando os pacientes eram entrevistados privadamente sem gravações, e quando 
os terapeutas eram entrevistados pelos supervisores, ninguém acabava sabendo o 
que. realmente, havia ocorrido na terapia. Assim, uma esposa podería relatar que 
seu marido agiu de uma certa maneira, sem mencionar a sua participação na sequên­
cia que. por sua vez, conduziu ao ato seguinte. Por exemplo, a esposa pode relatar 
que seu marido "tirou-a da fossa" O terapeuta poderá relatar este evento ao super­
visor, sem descrever como encorajou a esposa a contar-lhe sobre o incidente; não 
mencionará que está. provavelmente. acumpjicianJo-se. sem consciência disso.com 
a esposa contra o marido e encorajando-a a criticá-lo. Neste caso, o supervisor terá 
que adivinhar o que aconteceu a partir dos relatos de uma esposa, enquanto relata­
do pelo terapeuta; ambos os relatos serão tendenciosos. É mais sensato entrevistar 
o marido e a esposa juntos, com um supervisor observando a ação quando isto for 
possível. Através desta espécie de observação, a situação terapêutica muda de “in-, 
dividual" para “ familiar” ; significa caminhar da escuridão para a luz.
Grande parte da dificuldade que costuma ocorrer no início de uma terapia de- 
ve-se à confusão entre diagnóstico atendendo razões institucionais e diagnóstico 
com objetivos terapêuticos. No primeiro caso, é necessário entrevistar uma pessoa 
sozinha, e classificá-la segundo uma categoria diagnóstica. Este procedimento é irre­
levante para a terapia e pode, até mesmo, se constituir numa desvantagem para o te­
rapeuta que tenha em vista o como resolver o problema. Sabemos, hoje, que o me-
25
Ihuf diagnóstico para uma terapia é aquele que permite ao grupo social respondei .1 
tentativas de mudança. Um terapeuta deverá fazer intervenções que tenham a fun 
çao terapêutica de prover informação diagnostica; desta maneira, é melhor começai 
com todas as pessoas envolvidas, desde que a mudança envolverá todas elas.
Ocorrem, evidentemente, situações em que somenteuma pessoa está dtsponí 
vel para ser entrevistada isoladamente; assim sendo, a sessão inicial deverá sei indivi 
dunl. Sc a pessoa está presa ou internada, o terapeuta naturalmente esperara que a 
lamilia esteja presente na primeira entrevista, visando pianejar a futura saída Sc .1 
pessoa que procura terapia é universitária, e vive milhares de quilômetros de casa. (■ 
necessário que seja entrevistada individualmente. Ainda que poste rio rmenie as car­
tas. telefonemas, visitas dos pais e outras formas de estarem juntos possam ter lugar 
110 início essa pessoa somente poderá ser atendida individualmente. Esta situação cs 
pedal, c pouco usual, requer que o terapeuta faça uma estimativa e fale com a pes­
soa a respeito de sua situação e das consequências da mudança sobre as pessoas que 
nflo csiáo presentes. É possível mudar uma pessoa entrevistando-a sozinha, mas a 
habilidade requerida é frequentemente muito grande, levando-se em consideração 
um terapeuta de habilidade mediana.
Na primeira entrevista, especialmente em se tratando de crianças, o terapeuta 
deverá esperar que todas as pessoas envolvidas estejam presentes. Se o problema en­
volve u escola, a melhor solução é ler presente o professor ou psicólogo, a criança e 
os pais Estas pessoas compoem o grupo social envolvido, e muito tempo poderá 
ser ganho se a terapia começar com todos os membros deste grupo presentes. (A 
maneira de conduzir a primeira entrevista, aqui descrita, se aplica a este grupo.) Pa­
ra a maioria dos problemas, todas as pessoas intimamente relacionadas deverão sei 
convidadas; as pessoas que vivem na casa são membros de uma unidade própria e, se 
o terapeuta toma conhecimento de que uma avo vive na próxima esquina, deverá so­
licitar que ela. também, esteja presente; quando o problema é uma criança, qualquci 
pessoa seriamente envolvida com a mãe também deverá estar envolvida.
A ênfase na participação de todos, na primeira entrevista, não significa que a 
terapia não poderá ser conduzida sem SU3 presença. Simplesmente significa que to­
dos presentes na primeira sessão toma o trabalho bastante mais fácil. O estilo de 
condução da primeira entrevista, aqui descrito, ajudará o terapeuta a iniciara tera­
pia inais adequadamente. O procedimento esboçado pode ser usado com a maioria 
dos problemas; naturalmente, sempre existirão situações particulares que exigirão 
soluções particulares
Por exemplo, quando a pessoa está internada num hospital, este tipo de entre­
vista exploratória não é adequado. Neste caso, o terapeuta já sabe, por antecipação.
20
i|Uo i> problema reside na hospitalização cm si. Problemas de pessoas senamente 
perturbadas geralrnenle náo serão enfatizados neste livro; outro livro, em prepara­
ção. lidará cspccificamentc com processo terapêutico para estes casos. A estratégia 
nestes casos exige uma atitude mais autoritária e menos exploratória, desde que es­
tamos trabalhando com uma crise familiar.
Às vezes este tipo de condução da primeira entrevista é um procedimento ina­
dequado; a família foi enviada para a terapia devido à incompreensão da fonte que a 
enviou, a entrevista é apenas um check-up ou uma consulta, e náo existe interesse 
em uma terapia. Algumas famílias desejam somente que a criança seja testada e não 
procuram o profissional tendo como objetivo a terapia. (Mesmo se o objetivo é ape­
nas teste, a família toda poderá ser envolvida. Algumas clínicas, atualmente, funcio­
nam de forma que a criança seja testada enquanto os pais a observam através de es­
pelhos falsos, para poderem ver as respostas Ja criança. Posteriormente, quando o 
aplicador dos testes e o pai discutem os resultados, estes, os pais. poderão ter me­
lhor base para julgar as conclusões do psicólogo e não somente receberem um rela­
tório sumário do que ocorreu.
Existem, ainda, aquelas indicações “compulsórias” que exigem uma especial 
habilidade do terapeuta na primeira entrevista. Quando a família é enviada por um 
juiz ou pela escola, a mãe ou o pai podem se apresentar agressivos e exigirem um 
tratamento bastante cortês por parte do terapeuta. Quando um terapeuta se defron­
ta com um cliente confuso, ou aparentemente se comportando de forma inadequa­
da, deverá presumir que o contexto da situação é que é confuso e não meramente a 
pessoa isolada.
Uma outra situação especial é a de uma entrevista de demonstração, na qual o 
terapeuta deverá entrevistar uma família^hante de um grupo. Se um terapeuta fami­
liar decide assim fazê-lo, deverá tomar cuidado para que a família não se exponha 
mais do que deveria diante de um grupo de estranhos. Um terapeuta nunca deverá 
entrevistar uma família diante de um grupo, se não for posteriormente entrevistar 
esta mesma família novamente. Uma entrevista de demonstração para um terapeuta 
visitante é uma exploração da família, e seus membros não receberam nenhuma 
compensação por sua exposição (a menos que recebam alguma forma de pagamen­
to). Esta espécie de demonstração nada tem a ver com terapia. É, simplesmente, 
uma demonstração de como conduzir uma família a se comunicar diante de uma au­
diência; e, um terapeuta-estudante nunca deverá partir do pressuposto de que deve­
rá conduzir uma entrevista desta maneira.
Um comentário adicional com relação à forma de condução da primeira entre­
vista. Geralmente, uma pessoa que esteja vivendo ou não com seus pais poderá pre-
27
ioiii nflu envolver sua famíliano processo terapêutico Outras vezes, csiti mesma pes
.... podcnl lei se submetido ,i terapia Individual «nlcriormentc por alguns .mim e
|nclern este método I lm terapeuta nlto deverá permitir que o cliente decida como a 
terapia deverá ser conduzida, espccialmente aquele cliente que já se submeteu pie 
viiimcnte a uma terapia que mk> foi bern sucedida e pretende continuar dentro do 
mesmo podrão. Outras vezes, pode acontecer que um adulto não queira que n espo- 
sa participe da própria lerapia Existe, ainda, o caso de uma pessoa que pode viver 
sozinha c a sua lumilia está vivendo na mesma região, mas ela não considera que a 
família tenha relevância em seus problemas. A terapia é mais eletiva c mais tápida 
quanto mais pessoas estiverem envolvidas nas entrevistas Às vezes podemos iniciar 
a terapia Individualmente, desde que a pessoa insista; mas continuá-la desta maneiru 
pode tornar o sucesso mais difícil. Geralmentc, entrevistar uma pessoa sozinha di­
minui a possibilidade de trazer as outras pessoas envolvidas mais tarde. Alguns tera­
peutas, como Carl Whitaker, argumentam que a questão sobre quem deverá ser en­
volvido na terapia pode determinar o seu resultado.
Fases da Primeira Entrevista
A entrevista tem início quando é feito o primeiro contato visando-se um dc- 
tcimimtdo problema. Geralmente alguém telefona pedindo alguma consulta e algu­
ma informação, a qual neste momento é fornecida através do telefonema. Nest3 
oportunidade o terapeuta deverá solicitar que todas as pessoas que vivem na casa de­
verão estar presentes para a primeira entrevista.
Após a chegada da família ao consultório, as seguintes fases têm lugar:
1 uma fase social, em que a família é cumprimentada e colocada à vontade,
2 a fase de discussão do problema, quando são feitas perguntas a respeito 
do problema apresentado;
3 aqui, temos a fase de interação, na qual a família e seus membros sc in­
teragem, falando uns com os outros;
4 a fase de explicitação de objetivos, onde o terapeuta solicita que a famí­
lia tome claros os objetivos que tem e especifique quais mudanças está 
buscando
l.sia entrevista termina com a decisão sobre uma próxima consulta com toda a la- 
mília ou com apenas parte dela.
Fase Social
Todos os membros da família deverão estar envolvidos na ação durante iodas, 
as lascs da entrevista e cspecialmentc durante a fase inicial de cumprimentose apre-
2H
scittaçóos Quando a família enlra no consultório, o terapeuta deverá permitir aos 
seus membros que se assentem segundo sua vontade. Imediatamente após, deverá se 
apresentar c talar com cada membro e procurarsaber seu nome." É importante ob­
ter uma resposta de cada pessoa a fim de se definir sobre quem é importante, quem 
está vencido, como está envolvido, bem como a importância do envolvimento de ca­
da um. Nesta fase o terapeuta terá oportunidade, ainda, de saber quais as pessoas 
que vivem na casa e que deveríam estar presentes. Se alguém começa a falar sobre o 
problema, o terapeuta deverá interrompê-lo até que alguma resposta social seja ob­
tida de cada pessoa. De certa forma, o modelo para esta fase é definido pela corte­
sia que caracteriza o nosso comportamento com hóspedes em casa, de modo que to­
das as pessoas se sintam à vontade.
•»
Enquanto a família está se assentando, o terapeuta tem uma ótima oportuni­
dade para observar e, ao mesmo tempo, se orientar sobre como começar a próxima
fase.
Na maioria, as famílias que vão com um problema ao terapeuta se apresentam 
defensivas com relação a este, independente de quão solícitos seus membros possam 
parecer. Convenhamos que pode ser embaraçoso falar sobre problemas pessoais para 
alguém. Geralmente, as famílias procuraram anteriormente todas as formas de solu­
ção que não funcionaram e, somente depois, procuram ajuda com o terapeuta; e is­
to pode significar para eles um fracasso. Pode acontecer que nem todos os membros 
estejam de acordo a respeito do problema ou sobre a consulta em si; e alguns deles 
podem ter sido, de alguma maneira, obrigados a comparecer, quando na verdade 
prefeririam estar em outro lugar. Podem achar que serão criticados.
É importante que o terapeuta esteja atento para a disponibilidade ou humor 
da família, desde que a partir desta observarão é que ele poderá obter sua coopera­
ção no processo da mudança. Assim, os familiares podem estar fingindo ser mais 
afetuosos do que realmcnte o são; podem estar infelizes ou agressivos. Os membros 
da família podem manifestar ainda a atitude de que trazer alguém para o consultó­
rio constitui-se numa forma de punição que se está impondo a essa pessoa, depois 
de tê-la ameaçado durante algum tempo. E podem estar desesperados. Pode, tam-
• Neste tipo de terapia espera-se que o terapeuta trabalhe so/.uiho. A utilização de um 
co-terapciita. geralmente, tem a ver com a segurança do clínico e não com o cliente. Estudos 
realizados sobre resultado não indicam que a co-lerapia funciona melhor, além de seu custo ser 
dobrado. No caso do treinamento, co-tcrapia com uma pessoa mais experiente ensina o estudan- 
le a licar dc fora e a não assumir responsabilidade pelo caso; isto, quando, em última instância, 
cie deverá aprender a fazê-lo. Um terapeuta, trabalhando sozinho, pode desenvolver e executar 
idéias sem a demora implicada em consultar um colega. Sc o terapeuta necessita de assistência, 
um supervisor (ou até mesmo um colega) atrás de um espelho falso pode provê-la
29
bóm. acontecer que estão vindo porque alguma autoridade ou dever os obrigou: co­
mo, por exemplo, a escola ou o juiz. Quando o terapeuta cumprimenta os membros 
d( uma família, a disponibilidade deles lhe será comunicada e ele deverá procurar 
trabalhar de acordo com ela.
0 terapeuta deverá observar as relações entre pais e filhos, na medida em que 
seus membros se organizam dentro do consultório. Assim, os pais podem ser muito 
severos com as crianças ou muito tolerantes; ou apenas aguardam que as crianças os 
acompanhem. Por outro lado, as crianças podem cooperar espontaneamente até à 
sala ou poderão ter sido instruídas pelos pais. A maneira pela qual eles disciplinam 
as crianças pode ser observada como parte do processo de conduzi-las à salae fazè- 
las assentar. O terapeuta não pode esquecer que os pais não estão meramente lidan­
do com as crianças, mas demonstrando como lidam com elas. Por exemplo, podem, 
gemlniente, chamar a atençao da criança se ela faz uma travessura; mas, se estão 
preocupados com o que vão mostrar ao terapeuta, comportar-se-ão de maneira bas- 
tante diferente. A criança, por seu turno, demonstrará como se comportam ela c 
seus pais. Neste caso, o terapeuta não estará necessariamente coletando fatos forne­
cidos por eles, mas observando-os.
O terapeuta deverá observar o relacionamento existente entre os pais ou ou- 
iros adultos que acompanham a criança (por exemplo: a mãe e a avó). Quando exis­
te uma criança problema, os adultos geralmente discordam a respeito de como lidar 
i om ela. Ás vezes esta discordância é colocada de imediato e, às vezes, os membros 
da família se apresentam unidos no início da primeira entrevista. Se eles aparentam 
estar de acordo entre si e muito amigáveis uns com os outros, esta situação é dife­
rente de uma situação em que tenham de demonstrar que possuem opiniões diferen- 
tes sobre o problema da criança. O terapeuta deverá, também, observar se alguém, 
entre os adultos, dá pistas de que está presente contra sua vontade.
Como os membros da família lidam com o terapeuta? O comportamento das 
ctianças fornecerá alguma indicação de que os pais lhes terá prevenido sobre o local, 
desde que a terapia será conduzida fora de casa e da escola. Se a criança aparenta es­
tar com medo do terapeuta, o medo pode indicar que ela pensa estar ali como uma 
lorma de punição ou que será abandonada. Às crianças que aparentam estar à von­
tade e curiosas, provavelmente deverá ter sido dito que o lugar era agradável. Parti- 
eulnmiente, o terapeuta deverá saber quem na família procura se acu.npliciar ao 
terapeuta ou colocá-lo do seu lado. Se um dos pais se aproxima dele ou dda muito 
rapidamente, deverá esperai que a pessoa está procurando alguma forma de coalisão 
duiantc a sessão. Por outro lado, se um dos pais está distante, pode ser necessário 
Itiibalhar no sentido de torná-lo mais envolvido com a situação. Sc os pais olham pa­
30
i.i ;i eriaiu/u e cm seguida para o lerapoultt com um olhar de “exasperação comparti­
lhada podem cslar procurando acumpliciar-se ao terapeuta contra a criança.
Quando uma Família se assenta, algumas vezes sua organização pode ser clari­
ficada. Assim, a mãe pode se assentar entre as crianças e o pai na ponta do grupo; 
ou ainda, os pais e as crianças podem se assentar em cantos opostos. A outra possi­
bilidade é a de que os pais e a criança mais velha se assentem juntos e isolen a 
criança problema. Pode acontecer que os homens se assentem juntos, o que po­
de informar a respeito da importância das diferenças sexuais na família. Onde 
quer que a criança problema se assente, isto poderá sugerir sua função dentro do 
casamento.
É fundamental obter informação, mas é também importante não tirar conclu­
sões apressadamente. O terapeuta poderá estar enganado e as idéias poderão não es- 
•ar muito firmes. A observação possibilita a informação que será, por sua vez, testa­
da na medida em que a sessão se desenvolve. Um terapeuta que se prende a uma 
idéia não está livre para considerar outras possibilidades.
£. ainda, importante que o terapeuta nao compartilhe suas ohsen’ações com a 
jamtiia. Se a criança problema está assentada entre a mãe e o pai, o terapeuta pode­
rá levantar a hipótese de que o problema da criança tem alguma função no casamen­
to. F.itretanto, esta hipótese não poderá ser considerada muito seriamente sem da-' 
dos posteriores c o terapeuta não deverá nunca discutir com a família sobre a posi­
ção da criança. Primeiro, porque poderá estar enganado; segundo, porque, se esti­
vei certo, estará assinalando para a família aquilo que os seus membros já sabent. 
Confrontar uma família sobre a maneira como os seus membros se assentam é exi- 
",u que ela admita algo que prefere não admitir; esta ação poderá dar lugar a defesa 
e produzir dificuldades desnecessárias na terapia
Fase do Problema
\te esta altura da entrevista o que houve foi um intercâmbio social com a fa­
mília. o qual pode ter sido breve ou demorado alguns minutos. A partir deste pon­
to. é necessário mudar o foco da terapia para uma fase onde a situação não maisé 
definida como uma situação de convivência social, mas caracterizada por um objeti­
vo.h pouco usual a situação em que uma família procura ajuda dc alguém que te- 
..I por função ta/er algo por ela. Não existem regras padronizadas para este tipo de 
situação; assim, o terapeuta e a família deverão trabalhar sobre ela, tal como se 
apresenta.
0 procedimento mais usual consiste em o terapeuta perguntar à família por 
<|uc veio ao consultório e qual o problema. Esta colocação muda a situação de so­
cial para terapêutica. É uma mensagem: “bom, então vamos trabalhar”. Existem 
muitas maneiras de conduzir esta fase. e cada uma delas apresenta suas vantagens 
e desvantagens. A fase do problema aborda dois aspectos: como o terapeuta a con­
duz c para quem, na família, o terapeuta se dirige.
Geralmente, os membros de uma família não sabem por que toda a família foi 
convidada a comparecer ao consultório. Na verdade, o que buscavam era ajuda espe­
cifica para uma criança ou adulto, e a presença de todos pode confundir, mesmo que 
ninguém faça perguntas neste sentido. Desta maneira, pode ser uma boa idéia o te­
rapeuta começar por elucidar sua posição na situação. Ele pode dizer o que já sabe e 
por que convidou todos a comparecer. Quando estiver esclarecida sua posição, será 
mais fácil para os membros da família, por seu lado, colocarem as suas respectivas 
posições também.
O terapeuta poderá, por exemplo, começar dizendo algo como “me disseram 
pelo telefone algumas coisas e. a partir daí, formulei algumas idéias sobre a natureza 
do problema. Pedi que toda a família comparecesse para poder ouvir cada um". Em 
seguida, poderá perguntar mais diretamente a respeito dos problemas familiares.
Uma maneira alternativa de começar a trabalhar consiste em dizer: “ insisti 
que todos viessem para que pudesse obter todas as suas opiniões sobre a situação". 
As possíveis variações em tomo desta colocação possibilitam uma explanação par- 
uil dos motivos pelos quais estão ali e criam uma disponibilidade da parte dos 
membros da família, no sentido de contribuir com as próprias opiniões.
A lorma como o terapeuta introduzir e definir sua posição vai depender do 
nível de instrução da família: ele deve fazê-lo de torma a ser compreendido por to­
dos. Se um terapeuta sente que se trata de uma família reservada, deverá particular- 
mcntc enfatizar que já possui alguma informação através do telefonema dado na 
marcação da consulta. A partir disto, ficará claro para todos que alguém (geralmen- 
le a mãe) já havia colocado o problema e que o terapeuta já possui uma versão.
Quando o terapeuta solicita opiniões mais específicas, a forma como ele pros­
segue sua investigação pode determinar o modo pelo qual a entrevista se desenvolve­
rá Algumas das várias maneiras comumente usadas são:
O terapeuta pode perguntar: “Qual é o seu problema?” . Esta maneira de colo­
cai define uma situação na qual serão tratados os problemas. Geralmente a autonda-
32
dr no problema. tipicamente a mãe du Iamília, já antecipou esta pergunta c está 
ITfonla com uma resposta sobre as dificuldades apresentadas pela criança. Frcqüen- 
lemcntc uma mile esia pronta para fornecer uma resenha histórica de quando o pro­
blema se desenvolveu. Colocar a pergunta desta forma preenche plenamcnte as ex­
pectativas da mãe.
() terapeuta pode se dirigir de uma maneira mais pessoal, perguntando: “O
que vocc espera de mim?” . Esta espécie de pergunta reduz as possibilidades de um
relatório. Esta colocação não apenas exige que as pessoa pensem sobre o problema,
mas pensem em termos do que o terapeuta poderá fazer a respeito dele. Esta forma
!e investigação torna a situaçao menos profissional e mais pessoal e pode em certa
medida, ser incômoda paia alguns terapeutas.
%
Em vez ue perguntar qual é o problema, o terapeuta poderá perguntar "quais 
mudanças você espera?" Colocar a questão desta maneira situa a terapia e a situa- 
.1 > terapêutica, dentro do contexto de mudança. Assim, o pai deverá colocar o pro- 
nlcma em termos de como a criança deverá mudar, em vez de Jiscutir o que está er­
rado com ela. Mesmo que a discussão posteriormente se centre no problema, este 
referencial possibilita o terapeuta voltar atrás e pedir a família para dizer o que ela 
gostaria de mudar.
Ema outra maneira de conduzir a investigação consiste em dizer “por que vo­
cês estão aqui?” . Esta maneira de colocar permite que a família tenha oportunidade 
de se centrar no problema ou na mudança. Alguns membros podem dizer “estamos
aqui por causa de Johnny ’ e outros poderão dizer “estamos aqui para fazer algo por
Johnny”
Como regra geral, quanto mais amljíguo e abstrato o tipo de investigação do 
terapeuta, mais espaço sobra para os membros da família apresentarem o próprio 
ponto de vista. Eles podem enfatizar o problema ou a mudança, ou mesmo descre­
vê-lo como um problema mais da família do que da criança. Quanto mais específi­
co o terapeuta for. mais a família estará presa a uma área exclusiva na discussão.
(Jnem deverá ser eonsultado sobre o problema. Quando o terapeuta muda sua 
atuação da fase social para a terapêutica, deverá falar para o grupo como um todo 
ou para uma pessoa. É exatamente neste ponto que o envolvimento pessoal ten- 
leucioso Jo terapeuta se constitui numa questão importante. Um terapeuta que 
acha que as crianças sao vtrimas dos pais pode se colocar do lado das crianças, na 
muiieira como conduz sua investigação em relação aos problemas apresentados. Es- 
le terapeuta pode perguntar à criança qual é o problema, deixando explicito que 
ela. .1 criança, é provavelmente incompreendida. Ou se ele, consistentemente, divide
33
«> mundo rm liomcin e mulheres, o (;itt> de perguntai sobre o problema, o a quem 
se toronrá uniu questão sexista. I nl.u com um homem cm primeiro lugui pode ui 
Implicai que a mulher em Incapaz Se o lerapeum for mais velho e avó, poderá, 
numa enlrcvlsm laimhui (|ue conta com a presença de avós, considcnl-los as pessoas 
que deverão lulai sobre os problemas, desde que poderá estítr admitindo que estes, 
sem d ti vida alguma, se apresentam com as majores condiçóes. Como podemos oh 
servur, uma entrevista familiar d bastante diferente de uma entrevista individual, 
pois força o terapeuta u selecionar lópicos no momento que começa a explorar 
um determinado problema.
Existem várias dimensões relevantes neste caso. Em primeiro lugar, costuma 
acontecer que exista uma única pessoa extremamente preocupada com o problema, 
e ela traz toda a família para a entrevista. Geralmente, neste caso, existe alguém que 
discorda que exista o problema ou que ele seja tão grave, e então comparece relutam 
temente. Este é o tipo de conflito típico de uma família que tem um problema.
Uma segunda dimensão é a hierarquia. Em qualquer organização, seus mem­
bros tiSo são iguais entre si. O terapeuta devera respeitar a hierarquia de uma famí­
lia. se espera ter cooperação. Infelizinente, os preconceitos de um terapeuta podem 
Inzer com que ele não deixe claro quem é a autoridade. Se os avós estão presentes, 
muitos terapeutas poderão considerá-los ocupando um ponto mais alto na hiciur 
quia lamiliar em relaçao aos pais, e, desta maneira, solicitar-lhes que talem sobre o 
problema Outros, não considerando os avós conto as autoridades, se dirigirão aos 
pais. polidamente ignorando os avós. Da mesma forma, alguns terapeutas poderão 
observar que o pai se apresenta afastado e marginal no grupo familiar; neste caso, 
dirigirá a primeira pergunta a ele e o tratará como se fora o líder da casa. Ao tomai 
esta atitude não estará acreditando que o pai ocupa esta posição, mas, se o solicita 
desta maneira, o pai deverá respondei, tomando-se mais envolvido e assumindo 
maior responsabilidade diante da situação. Nestes casos, os terapeutas estaião ulili 
/iindo o estereótipo de que os pais deverão ser os chefes-de-família, visando com is 
so resolver os problemas familiares. Da mesma maneira, se um terapeuta, com a li 
nalidade de resolver o problema apresentado, acredita que uma mãe deverá ser mau 
tida cm sua posição, deverá se dirigir a elaem primeiro lugar e tratá-la como se ela 
fosse o chefe da família. Entretanto, esta decisão deverá ser tomada cm relação u 
questóes apresentadas, e não em relação às idéias que o terapeuta tenha ou possa 
ter sobre a posição de cada um dos sexos, o que não é o problema relevante para a 
terapia.
Há uma outra dimensão muito mais importante numa situação terapêutica de 
que cm outra situação. O terapeuta tem uma tarefa a realizar c necessita manter a
34
iatniliii envolvida para que possa conseguido, Gerulmente cxisie num determinado 
grupo familiar uma pessoa que pode impedir a continuidade da terapia e. exatamen- 
te por esta razão. ela deverá ser tratada mais respeitosamente. Por exemplo, o tera­
peuta poderá ouvir com especial deferência um avô e constatar que. na realidade, 
ele não acredita na existência de qualquer problema que possa justificar uma tera­
pia, c entretanto, mesmo que tenha esta opinião, toda a família não deixaria de vir 
para atendê-lo. Assim, dando-lhe excessivo respeito, o terapeuta poderá estar lidan­
do com a pessoa menos influente do grupo familiar.
Como exemplo da habiiidade exigida de um terapeuta, podemos mencionar 
uma família em que a mãe é que tem o poder de manter a lamília na terapia e não 
o pai. O terapeuta deverá enfatizar o stacus do pai para aumentar seu envolvimento, 
quando este for necessário como parte do processo terapêutico. E ainda que o tera­
peuta trate o pai como uma autoridade em relaçáo ao problema da criança, devera 
comunicar a mãe que esta atitude faz parte do processo terapêutico, nada tendo a 
ver com o fato de que não reconheça o papel marginal do pai dentro do grupo fa­
miliar.
Se o terapeuta puder meramente tratar todos os membros do grupo familiar 
como iguais entre si, e comportar-se como se a escolha para falar sobre o problema 
tenha sido feita randomicamente, a solução será ntais simples. Esta seria a maneira 
de se comportar com um grupo artificial numa terapia de grupo. Entretanto, está na 
natureza de grupos naturais que o terapeuta deva lidar com a questão da hierarquia 
e não evitá-la.
É recomendável que o terapeuta se dirija à pessoa aparentemente menos en­
volvida com o probiema, e ao mesmo tempo deverá tratar com atenção e respeito a 
pessoa que detém o poder de manutençãff da família no processo terapêutico. Ge­
ralmente, a pessoa mais preocupada é a pessoa mais oprimida com os problemas que 
trouxeram a família para o consultório. A situação mais típica, que costuma ocorrer 
numa clínica onde aparece uma família com uma criança problema, é a de uma mãe 
bastante preocupada e um pai que se apresenta mais superficial. Nesta situação, é 
aconselhável solicitar que o pai fale sobre o problema em primeiro lugar, desde que, 
com isso, poderemos estar definindo simultaneamente seu envolvimento na terapia 
e também descobrindo qual é o grau de responsabilidade que ele está disposto a as­
sumir, quando alguma forma de ação for solicitada.
Uma certa percentagem das famílias possui um pai que é a pessoa que se preo­
cupa excessivamente com a criança, enquanto a mãe assume um papel mais perifé­
rico. Algumas vezes, o envolvimento parece ser determinado por aquela pessoa que 
assume mais as funções de cuidar da criança em casa e. desta forma, se toma mais
35
consciente dos problemas. Existe um outro aspecto da situação que é Irequcntr 
mente negligenciado pelo terapeuta que se deixa apanhar na questão dos papéis s, 
xuiiis, muito mais do que na questão da organização familiar. Geralmcnk i|iial 
dos pais está mais envolvido e preocupado com a criança é determinado pelo lipo 
de envolvimento que este pai tem com os seus próprios pais e respectivo* sogíos 
Isto é, uma mãe que compete com a própria mãe sobre educação de IHIios 
se preocupará-excessivamente com o comportamento da criança, porque se trata de 
um conflito de gerações. De forma similar, um pai que está provando para o próprio 
pai como um filho deve ser educado, pode ser aquele pai que o terapeuta observa es 
tat muito envolvido no problema da criança. Qualquer relacionamento faz parte de 
outro relacionamento, e é ingênuo pensar nesta questão como uma questão mera 
mente ligada aos papéis masculinos e femininos. O superenvolvimento ou superli 
eialidade no relacionamento com a criança estão presentes quando os adultos envol­
vidos são do mesmo sexo. A mãe e a avó podem expressar problemas, bem como o 
pai e o avó, e inclusive um parceiro homossexual pode estar em conflitos sobre se a 
c riança tem um problema ou quem é a autoridade.
Neste capftulo, um modelo estereotipado é apresentado através da descrição 
de uni arranjo típico, no qual os dois pais trazem a criança como um problema ao 
consultório. Entretanto, o mesmo tipo de abordagem através da entrevista pode sei 
lolto, caso seja o pai ou o avô, a irmã ou o irmão, ou qualquer outro tipo de relacio- 
iiumonto. O problema pode ser da filha ou do filho, do mais velho ou da criança. As 
diferentes lascs já discutidas para a entrevista inicial se aplicam em qualquer que se­
ga a composição do grupo.
A quem se dirigir a respeito dos problemas pode ser em parte determinado pe­
lo sexo do terapeuta, mas isto pode se constituir num problema de menor importân­
cia na primeira entrevista, exceto em algumas situações pouco usuais. A competên­
cia do terapeuta é muito mais importante do que o sexo. Se o pai se comporta co­
mo se estivesse sendo deixado de lado, quando a mãe e a terapeuta discutem um 
problema, a terapeuta deverá desenvolver esforços especiais no sentido de incluí-lo. 
I ntretanto, esta mesma coalizão pode surgir com um terapeuta, enquanto este con­
versa com o pai. A consciência destas coalizões, explícitas ou implícitas, que resi­
dem no sexo do terapeuta, deverá ser assumida por qualquer terapeuta competente
Não costuma ser uma boa idéia começar com a criança problemática e pergun­
tai lhe por que a família compareceu ão consultório. Esta pode se sentir 11a berlinda 
e achar que o terapeuta a está censurando por obrigar todas as pessoas a comparece­
rem. f melhor lidar com a enança posteriormente. Todo terapeuta deverá estar 
atento quanto a tendência a sei benevolente com a pessoa com problemas, quando 
ele (o terapeuta) está ansioso c tenso As pessoas problemáticas tendem a obter a
1(»
dioiiçdo dus seus íntimos, quando estilo nervosas e agressivas, c os terapeutas tipica­
mente seuucm o padrão de dar esta espécie de atenção, 1" geralmentc melhor, para o‘ 
teiapeutn nervoso, lidar diretamente com os pais nos momentos de tensão.
Uma outra consideração é de que a criança, às vezes, está intimidada e quieta 
porque não compreende o contexto e a razão para a entrevista. O terapeuta deverá 
seinprc definir sua própria posição e esclarecer a situação, todas as vezes que obser­
var que alguém está preocupado. Uma criança pode temer ficar trancada naquele lu­
gar ou acreditar que está ah porque as pessoas acreditam que ela está doida. Poderá 
ser de muita valia se o terapeuta falar tudo que sabe a respeito de por que cada um 
ali está. e. se puder, normalizar a situação enfatizando que aquele é o contexto 
usual para a resolução de problemas.
•v
Alguns terapeutas, às vezes, preferem começar com a criança menos envolvida 
e perguntar por que a família está no consultório.’ Por “menos envolvida” quere­
mos nos referir â criança que está assentada mais afastada do grupo e, aparentemen­
te, mais desligada. Frequentemente, trata-se da criança mais jovem, e, se ela fala 
com o terapeuta, isto possibilita deixar claro que todos deverão tomar parte na ses­
são. Com esta atitude, ele acaba por salientar que se trata de uma situação onde não 
apenas os adultos falam sobre as crianças e estas apenas os ouvem. As crianças mais 
jovens podem dizer coisas muito perspicazes, desde que não foram ainda ensinadas 
a discriminar claramente o que deve ser dito e o que não deve ser dito em público.
Quando perguntamos a uma criança a razão de sua presença, frequentemente 
descobrimos que nenhuma delas foi avisada pelospais sobre a vinda ao consultório. 
Esta descoberta provê ao terapeuta a informação a respeito de como os segredos fa­
miliares são tratados e quais os tipos de divisões podem existir entre adultos e crian­
ças, ou entre os adultos e a criança problema e o restante das crianças em casa.
Algumas vezes, o terapeuta poderá olhar para o chão ou para o teto e, não se 
dirigindo a nenhuma pessoa em particular, dizer: “Alguém poderia me falar sobre 
qual é o problema?” . Esta atitude, usualmente, possibilitará a emergência da pessoa 
que fala pela família. Fornecerá, ainda, a informação da posição do pai na família,, 
desde que. se ele responde pela colocação do problema, é mais provável que seja um 
participante mais disponível nas questões familiares. Entretanto, não se dirigir a nin­
guém tende a tornar a situação imprevisível; alguns terapeutas preferem se dirigir a 
uma pessoa em particular, de tal modo que aquilo que for dito o seja de forma or­
denada e segundo ele próprio o espera.
•Começar com a criança menos envolvida é um procedimento que observei sendo usado, 
pela primeira vez. por I rank Pittman.
0 tcropcutu pode “passar" da fase dc cumprimentos para a fnw tetapíuilca, 
sem nenhum comentário u propósito. A paitu do uma conversa com as crianças du 
nutte a primeira fase • sobre a escola ou qualquer outra atividade a conversa po­
de ser conduzida até ri discussão da família, sem qualquer investigação, sobre poi 
<iuc des uh estão, e c|ual o problema existente. Se isto ocorre desta forma, o tera 
peuta poderá dispensar ou antecipar a fala dos pais e impedir que a criança seja m 
miada como uma criança problemática; mesmo porque, ao longo da entrevista fi- 
..1,1 patente a existência de numerosos problemas, e que todas as crianças sáo tnui- 
Io similares entre si.
Existem dois erros básicos decorrentes da confusão da fase social com a fase 
dc discussão de problemas na primeira entrevista. O primeiro deles aplica-se a qual- 
quer abordagem terapêutica e o segundo é relevante para a abordagem apresentada 
neste livro. Primeiro, a família pode começar a ficar confusa se o terapeuta não lo­
caliza sua atenção no problema, porque os deixa em dúvida sobre se se trata de uma 
terapia ou de uma situação social. Ele perde oportunidade de esclarecer qual a dife­
rença entre urna situação terapêutica e uma conversa entre amigos. Às vezes, além 
disso, esta atitude amplia o problema, tornando-o não mencionável. Em algum mo­
mento o terapeuta deverá esclarecer a situação.
De acordo com a abordagem proposta neste livro, o que o terapeuta pretende 
ê localizar claramente o problema, de tal forma que o relacionamento familiar pos- 
v.» ser mudado usando-se o problema como uma alavanca. Não pretende que a crian­
ça problema seja colocada como igual às outras crianças ou que o problema seja mi­
nimizado. Não pretende, também, uma discussão dos relacionamentos antes que o 
paiblema seja colocado. Não se trata de unia terapia onde os relacionamentos são 
mudados falando-se sobre relacionamentos, mas exigindo-se novos comportamentos 
para solucionar o problema. Assim, por exemplo, uma menina de 13 anos foi levada 
uo consultório por seus pais porque estava furtando dinheiro do vizinho. A mãe, pe­
lo telefone, relatou ao terapeuta que havia se casado de novo, recentemente, e a me­
nina tinha agora um novo padrasto. No momento da entrevista familiar, todos se 
apresentaram relutantes para colocar o problema. O terapeuta bateu papo com a fa­
mília, e o pai falou da sua dificuldade em ser padrasto emâo saber como disciplinar 
as crianças de forma a agradar sua esposa. Finalmente, o supervisor do terapeuta lhe 
telefonou e pediu-lhe que perguntasse quál o problema que trazia a família para o 
consultório. Quando o terapeuta investigou desta maneira a questão, a criança co­
meçou a chorar e os pais falaram sobre a integração do padrasto na família de uma 
maneira bastante diferente. Não era mais uma conversa sobre o relacionamento, mas 
sobre por que a menina furtou, e o que deveria ser feito.
38
Ouvindo o firoblvnta A lamília poderá descrever o que a traz ao consultório 
lumio algo não usual ou cuino um (ato rotineiro. Na medida cm que o terapeuta ou­
ve. poderá tomur certas atitudes e não outras.
Primeiro, o terapeuta não deverá fazer qualquer interpretação ou comentário 
para ajudar a pessoa a encarai a situação de forma diferente. Deve, tão somente, 
aceitar o que c dito Se alguma coisa não ficou clara, deve perguntar a respeito. Se 
o terapeuta sente necessidade de reconstruir qualquer frase para verificar se compre­
endeu bem, deverá fazê-lo; mas não deverá fazê-lo no sentido de ajudar a outra pes­
soa a “descobrir" alguma coisa.
Em segundo lugar, o terapeuta não deverá dar conselho nesta fase, mesmo se 
isto lhe for solicitado. Deverá usar frases tais como: “Preciso saber mais a respeito 
da situação, antes de lhe dizer o que deverá ser feito” .
Terceiro, não deverá peiguntar como alguém se sente sobre alguma coisa,
mas somente coletar fatos c opiniões.
Quarto, a atitude do terapeuta deverá ser de interesse por ajudar. Não deverá 
se distanciar daquilo que está realmente trazendo a família ao seu consultório.
Enquanto ouve, deverá encorajar a pessoa a falar. Algumas pessoas o fazem 
com facilidade, outras sentem muita dificuldade em fazê-lo. Falar deverá ser facili­
tado o máximo possível.
Se alguém interrompe, o terapeuta deverá permitir a interrupção, observar 
brevemente e, em seguida-, intervir e voltar-se para a pessoa que estava falando. Po­
de-se dizer à pessoa que interrompeu que e\p terá a sua vez.
Todos deverão ter oportunidade. Após o problema ter sido colocado por al­
guém. todas as outras pessoas deverão ser solicitadas a dar sua opinião a respeito. 
O terapeuta não deverá dar a impressão de que está buscando desacordo entre duas, 
pessoas ou derrotar o argumento de alguém. Apenas ouve cada uma das opiniões. 
Quando ocorrem desacordos, não deverão ser feitas discussões em tomo deles, a não 
ser posteriormente. Além disso, uma pessoa não deverá, apenas ela, falar todo o 
tempo. O terapeuta deverá solicitar de todos que prestem atenção ao que está sendo 
dito, se não o estiverem fazendo.
Assegurar-se dc que cada pessoa tenha a sua vez, o mais naturalmente possí­
vel, é importante. Assim, o que alguém diz sobre alguém pode conduzir naturalmen­
te o terapeuta a se voltar para uma outra pessoa. Entretanto, nesta fase, o terapeuta
39
tlflu deverá retomar à pessoa que vinha falando em primeiro lugar;deveu patln |m 
ia uma terceira. Diálogo entre duas pessoas não é recomendável nesta fase
O terapeuta deseja se aproximar do universo familiar e compreendê-lo, m r 
.10 mesmo tempo, deseja produzir mudanças suficientes no seu comportamento . 
por causa disto, a entrevista deverá ter um curso ordenado. Se a família é Icnl.i ■ 
terapeuta deverá se mover leiuamente; se c rápida, ele deverá acompanhar o seu nt 
mu Se um dos pais insiste em interromper, o terapeuta deverá intervir de forma 1 
permitir que cada um expresse o seu ponto de vista. Não apenas todos dcvciáo um 
oportunidade de falar, como ele deverá dirigir o que está acontecendo be .1 lantflin 
dirige, tudo acontecerá como no passado, e não haverá nenhuma mudança.
Sc o terapeuta ouve apenas um dos pais e permite que este fale todas as vezes 
que outra pessoa fala. está dizendo por suas ações que somente as palavras daquele 
pat sao importantes. Deverá convencer as outras pessoas de que elas têm alguma em 
..1 a dizer, e então dar-lhes igual respeito. Impedindo que um dos pais fale u lempo 
todo e seja 0 único a falar, o terapeuta, na verdade, o está ajudando, desde que evt- 
ta que a família faça exatamente aquilo que foi feito antes e falhou.
Às vezes, a criança com o problema pode se apresentar relutante em lalar. pai 
llculamiente depois que seus pais descreveram sua dificuldade. Para mudat esia si­
tuação, o terapeuta deverá ser persuasivo e mudar sua cadeira para perto da criança 
(.íeralmente, é melhor conversar com acriança por último. Depois que seus irmãos e 
irmãs já tiverem dito algo, a criança poderá se tornar mais disponível e expor o seu 
ponto de vista.
Quando se trata de crianças muito pequepas, o melhor será ter no consultório 
brinquedos e bonecas, de forma a possibilitar à criança se comunicar através de uma 
‘brincadeira". Fazer uma estimativa da habilidade da criança para brincar pode sei 
importante, bem como da habilidade dos pais para brincar com a criança, quando is 
to lor solicitado pelo terapeuta. Brinquedos e brincadeiras permitem ação no cou 
sultório, mais do que mera conversa sobre ação; assim, o terapeuta poderá observar 
os membros da família lidando uns com os outros.
Observação do terapeuta. I nquanto o terapeuta está investigando o problema 
011 encorajando as pessoas a falar, deverá observar como cada um age. bom como o 
que cada um diz. Não deverá compartilhar suas observações com a família.
Na medida cm que alguém fala sobre o problema, o terapeuta deverá observar 
se u pessoa que está falando age polidamente quando na verdade sente raiva, obset 
var se ela fala da criança coma se esta fox.se ttm objeto e não uma pessoa, ou se se
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picocupíi com o que a criança ou as outras pessoas vão pensar daquilo que ela dis­
se. etc. O terapeuta deverá observar ainda, particuiarmente, a pessoa que está falan­
do sobre o problema, se o faz como já o tivesse feito muitas vezes anteriormente, ou 
se parece estar descrevendo-o pela primeira vez. (Algumas vezes, a família já se sub­
meteu a tratamento anteriormente; esta é uma informação importante.) Pela manei­
ra que os participantes falam, demonstrarão também se acreditam que o terapeuta 
poderá fazer algo, ou se acham que tudo aquilo é sem solução e ali estão, simples­
mente, participando como um dever.
Deve-se observar também quem é responsabilizado pelo problema da criança. 
Se a mãe a censura, estamos diante de uma situação diferente daquela quando cen­
sura a si mesma, ou daquela onde censura ou culpa pessoas, tais como parentes que 
não estão presentes, ou a escola. Se em última instância o terapeuta quiser que toda 
a família assuma a responsabilidade pela solução do problema, estará interessado em 
observar quão facilmente os seus membros aceitarão responsabilidade por ele.
Enquanto uma pessoa está falando, o terapeuta deverá observar as reações dos 
outros. Através do comportamento dos outros o terapeuta poderá saber se estão 
concordando ou discordando, se já ouviram antes o que está sendo relatado e estão 
entediados com o que está sendo dito, se estão satisfeitos em ver a criança ser cen­
surada ou culpada, etc. A observação destas reações ajuda-o a decidir como se di­
rigir a estas pessoas. Deverá particularmente observar como a criança, que é definida 
como problema, está respondendo: se está ansiosa, aborrecida ou entediada, etc. De­
verá. ainda, observar o pai quando a mãe está falando e a mãe quando está falando o 
pai, desde que irá trabalhar com as suas discordâncias.
Quanto mais responsivas e envolvidas se apresentam as pessoas que estão ou­
vindo, e quanto mais ansiosas e agressivas ení relação àquilo que está sendo dito, 
mais provável é que a família se encontre num estado de crise e, conseqüentemente, 
instável. Quanto mais calmas e desligadas as pessoas se apresentarem, mais provável 
que a situação esteja razoavelmente estável e., desta forma, a mudança será mais di­
fícil.
Enquanto ouve as pessoas falarem sobre o problema, o terapeuta não deverá 
esquecer que elas não estão apenas lhe contando fatos e opiniões, mas também di­
zendo indiretamente coisas que não poderiam ser ditas diretamente. Estas mensa­
gens indiretas são particularmente evidentes quando a mãe e o pai descrevem o com­
portamento da criança com o problema.
O terapeuta poderá ouvir a fala <'•> mãe sobre a criança, de duas formas: como 
colocações sobre a criança, mas também como colocações sobre o seu marido e so~
41
bic o casamento. Por exemplo, se a mãe diz que seu fillio é obstinado, devo ve ti> c < 
ccntar que provavelmente ela está dizendo que seu marido c obstinado Se >> pai ili 
que a criança ameaça fugir de casa todo o tempo, é possível que a mãe on!< |ii aiin a 
çando deixá-lo.
É útil partir do pressuposto de que o problema da criança reflete ou o .1 ima 
gem de um problema conjugal. É possível obter informação sobre a questão . ou 
jugal antecipadamente, ouvindo a maneira como os pais falam sobre u criança 1 > n 
rapeuta pode pensar sobre os dados, hipoteticamente, e confirmá-los poxlotiomteii 
tc; mas, é importante guardar esse tipo de informação para si mesmo. O terapeuta 
não deverá verbalizar quaisquer interpretações no sentido de relacionar m pmhlc 
mas da criança com uma situação conjugal. Deverá, simplesmente, cncorapu os p,u 
ticipantes a falar e a ouvir os diferentes significados daquilo que eles dizem Mun.i. 
coisas não podem ser ditas diretamente, do contrário elas provavelmente não ve 
constituiríam num problema.
Na verdade, existem três formas diferentes de receber o problema, e todas i> 
Ires deverão ser usadas em momentos diferentes da entrevista. Na primeira investi 
gação, o terapeuta deverá ser geral e permitir que o problema se expresse metafori 
eamente. Uma atenção excessiva a especificidades centra o problema na criança e li 
mita a metáfora. Mais tarde, após a fase de interação, deve-se buscar uma colocação 
mais específica e detalhada do problema bem como dos objetivos, de tal forma qm 
alguém possa eventualmente usar o que foi estabelecido para avaliar o desenvolvi­
mento da terapia e determinar se ela foi bem sucedida. A especificidade requerida 
neste caso é a do tipo “quantas vezes por dia" e "quanto tempo” , numa base de Ire- 
qiiéncia de informação. Finalmente, relacionado à solicitação que o terapeuta faz. de 
uma descrição específica do problema, no final da entrevista deve ser solicitado um 
sumário que defina as mudanças pretendidas pela família. Especificamente, quais 
são os objetivos da família, ou o que ela pretende atingir? Todas as 3 maneiras de li 
dar com o problema são necessárias e possibilitarão informação de natureza diferem 
tc.
Quando um terapeuta estiver na fase de encorajar uma discussão metafórica, 
não apenas deverá evitar ser muito específico e concreto, mas também tentará st co­
municar num nível mais geral. Assim, se o pai se queixa de que é muito difícil com­
preender sua filha, o terapeuta poderá responder que as mulheres são muito difíceis 
de serem compreendidas pelos homens. Este comentário relaciona mãe e filha num 
nível geral sem tomar o fato um problema a ser discutido. Sc a mãe diz que o meni­
no é muito agressivo c agride a ela ou às meninas, o terapeuta poderá dizer que é 
muito ruim quando os homens aprendem a tratar as mulheres desta maneira. A mãe 
reconhecerá que ele está ouvindo sua queixa sobre seu marido, mas não está forçan-
42
.In u explicitação de forma a tomar a coisa mais perturbadora. Quando o IcrnpeulN 
responde num nível metafórico, este receberá mais informação porque os membros 
da família saberáo que ele não será descortês o suficiente para ressaltar aquilo que 
“realmente” está sendo dito.
É particularmente importante não comentar diretamente informações indire­
tas. Assim, por exemplo, se a mãe diz que seu marido é muito solícito, e ao mesmo 
tempo cobre a própria boca com a mão, está dizendo que existe alguma coisa sobre 
ela que preferiría não falar agora. O terapeuta não deverá, jamais, salientar-lhe que 
existem algumas coisas que ela não está dizendo ou explicar-lhe seus movimentos. 
Ela já o sabe e considerará seu comentário rude. O terapeuta tão somente deverá 
ouvi-la e encorajá-la a falar mais. Se assim o fizer, a comunicação se tomará mais 
compreensível, em parte porque*ela sabe que está a salvo para falar e dar pistas, bem 
como opiniões diretas.
Conteúdo do problema apresentado. Quando os membros de uma família fa­
lam sobre um problema, gcralmente descrevem uma pessoa. Dirão o que está errado 
com ele ou ela.Esta é, entretanto, apenas uma das muitas maneiras de se pensar so­
bre a questão. Por exemplo, a mãe diz: “Ele nunca dá notícia de nada". Desta ma 
neira, está dizendo que o filho é o problema. Entretanto, a mãe podería dizer: “Eu 
não sei como fazer para que meu filho dè notícias das coisas". Assim, ela poderá es­
tar dizendo que alguém é o problema, que tanto poderá ser ela mesma quanto seu 
filho. É ainda possível pensar, não apenas em temios de uma pessoa, mas de duas 
ou mais pessoas. Por exemplo, a mãe poderá dizer: “Meu filho e eu lidamos um com 
o outro de uma forma que nos toma inseguros e nós não podemos fazer nada” . Nes­
te caso, o problema não é uma pessoa, mas duas. Uma outra maneira de conceber­
mos a mesma situação podería ser a mãe dizer: “Meu marido e eu não concordamos 
sobre como lidarmos com nosso filho, e então meu filho não dá notícia de nada” . 
Aqui, três pessoas estarão sendo definidas #Omo o problema.
A questão mais importante é de que qualquer colocação sobre o que está er- 
r. Jo r iderá ser interpretada em tennos de uma pessoa, duas pessoas, três pessoas 
ou até mais. 0 mesmo comportamento de» uma pessoa pode se apresentar diferente 
em temios do que está errado ou do que pode ser feito, se o pensamos segundo o 
número de pessoas envolvidas com o referido comportamento. Assim, geralmente 
os membros dc uma família dizem que uma pessoa é o problema. A tarefa do tera­
peuta é pensar em temios de mais de uma pessoa. Desta maneira terá mais condi­
ções de (.ioduzir mudanças. Consequentemente, estará pensando de uma maneira 
diferente da dos membros da família, mas não terá de convencê-los a pensar de 
acordo com a sua maneira. Deverá aceitar o que lhe é dito e caminhar com eles, 
mas, consigo mesmo, terá de estar pensando sobre a questão de um ponto de vista 
diferente.
43
Numa clínica inlimtil o pai dirá que u pessoa é um problema e que ela ontá cr 
rada. Geral mente, a família diz que a criança nílo se comporta bem ou nffo ila aton 
çflo aos seus pais, Outras vezes, os membros du lumília dirão que a crluuçu náo se 
comporta bem ou não dá atenção ao seu professor na escola. Existem pelo menos 
três maneiras pelas quais uma criança "não dá notícia das coisas’’: I ela pode es 
tai agindo abertamente dc forma rebelde c desafiadora; 2 - pode não lazer o que 
lhe d pedido, mas não desafia ninguém, simplesmenle "não liga"; 3 "não liga”, 
ma» pode demonstrai que não pode se ajudar por estar muito ansiosa ou com medo, 
muito nervosa, sentindo-se mal, tendo dores ou, gcralniente, sendo muito dependen­
te ou desamparada para fazer aquilo que lhe é solicitado. Na maioria dos casos, um 
ilos pais dirá que o menino não liga para as coisas e este permanecerá sentado timi­
damente Às vezes, um dos pais dirá que a criança é ansiosa e medrosa e, somente 
mais tardc, dirá que simplesmente náo faz nada que lhe é pedido, e que ninguém 
gosta dc forçá-la porque ela fica muito nervosa.
Quando um dos pais diz que o problema está na escola, e o professor se quei­
xa dc que o menino náo dá notícias das coisas e náo faz bem os seus deveres, exis­
tem três possibilidades. Primeiro, pode ser que o problema seja realmente a escola; 
depois, pode ser que o menino esteja respondendo na escola a problemas que estão 
em casa; e, em terceiro lugar, pode estar acontecendo um problema entre os pais e 
.1 escola, e o menino estar preso frente as duas situações e respondendo a ambas 
através do problema.
Quando um dos pais faz uma lista das coisas que a criança faz errado, pode 
ser que ela nunca faça aquilo que está sendo dito que faz, como mentir, enganar, 
furtar, urinar na cama. brigar com seus irmãos e irmãs, etc. Através desta lista o pai 
está também dizendo que ele, ou a mãe, não é competente para lidar com o proble­
ma. E é exatamente por isso que vieram pedir ajuda. O pai é incompetente para li­
dar com a criança e ninguém mais na família pode ajudar para que a família possa 
ela mesma, cuidar da questão. Geralmente, os pais preferem dizer que o problema 
náo é deles, mas sim da criança. Gostam de pensar que existe algo dentro da crian­
ça que faz com que ela se comporte da maneira como vem se comportando. Pensar 
sobre o problema da criança desta forma não ajuda os pais e, se o mesmo ocorre 
com o terapeuta, este não conseguirá nada mais, além do que os pais já consegui­
ram. Para que a criança possa se comportar de maneira mais normal, é necessário 
que a situação mude. Enquanto ouve o relatório dos problemas da criança, o tera­
peuta deverá pensar sobre o que está acontecendo na situação global da criança e 
que a esteja levando a se comportar da maneira como vem se comportando.
Por exemplo, a mãe pode dizer que seu filho de 9 anos tem medo de sair de 
casa e é dependente dela todo o tempo. O terapeuta poderá observar que no consul-
44
lório o menino se assenta ao lado da mãe c permanece abraçado a cia. A mãe pode­
rá, ainda, informar que ele mente c que fica o tempo todo à toa dentro de casa; 
mas, afirma que o problema consiste, principalmente, em que o medo do filho está 
no fato de ele nunca sair do seu lado. Inclusive, dorme com ela, a ponto de o pai 
ter que dormir no divã da sala. As outras crianças não se comportam desta maneira; 
pelo contrário, parecem normais.
Esta informação da mãe não diz ao terapeuta qual o problema ou qque fazer. 
Ele. apenas, tem a versão da mãe afirmando que o problema está na criança, e que 
ninguém mais tem nada a ver com isso. O objetivo de uma entrevista familiar bem 
conduzida é obter mais informações e começar a produzir uma mudança. Após a 
mãe ter se referido ao problema, o terapeuta deverá ouvir o pai sobre seus pontos de 
vista. Em seguida, deverá ouvir os irmãos e irmãs, e saber o que eles têm a dizer a 
respeito. Após ter ouvido cada um, começará a observar o surgimento de discordân- 
cias. Por exemplo, observará que o pai não concorda com a mãe prontamente e pen­
sa que ela está cuidando excessivamente da criança, não permitindo que esta cuide 
de si mesma. Além disso, ele não gosta de sair de sua própria cama e ficar à disposi­
ção da criança, mesmo se isto ajuda a eliminar o medo que ela está sentindo. Prova­
velmente, a mãe argumentará que o pai é negligente. Quando a mãe e o pai conver­
sam sobre suas discordâncias, pode surgir a informação de que a criança é um pro­
blema entre ambos.
Nesta fase da entrevista, provavelmente se tomará mais claro como pensar a 
respeito do problema em termos de mais pessoas envolvidas, além da criança. O te­
rapeuta poderá pensá-lo como uma forma de relacionamento peculiar entre a mãe 
e o filho; a mãe poderá ter tanta dificuldade em deixar o filho independente, assim 
como ele tem dificuldade em deixá-la. O terapeuta pode, ainda, pensar em termos 
de três pessoas envolvidas e considerar a^possibilidade de que a criança esteja aju­
dando a mãe e o pai. Se eles não podem conviver sem brigar, particularmente na ca­
ma, então a criança os ajuda tendo medo e os mantendo mais separados. Desta ma­
neira, poderão dizer que é a criança quem tem o problema e que não existem senti­
mentos hostis entre eles.
Quando da coleta de informações, o terapeuta deverá estar atento sobre uma 
parte da razão pela qual a criança fica em casa, bem como se isto se deve a uma vizi­
nhança difícil ou a perigo real nas ruas. Ela permanece em casa, e isto se deve a uma 
situação fora da família ou a uma situação familiar? Todos estes fatores deverão ser 
considerados, na medida em que o terapeuta formule idéias sobre o que fazer para 
promover a mudança. A entrevista em si, e a maneira pela qual ela é conduzida, po­
dem ser uma forma de promover mudança numa primeira fase. Assim, por exemplo, 
se o terapeuta pede que a criança se assente perto de seu pai, está começando a afas-
45
lai a criança duma excessiva proximidade de sua mãe. Está, também, aprendendo 
i|UAo maleáveis a criança e sua mãe são e quão receptivo o pai se apresenta.
Todas as famílias são diferentes entre si; por isso, o terapeuta deverá adaptai 
aquiloque faz, levando em consideração cada família em particular. Entretanto..> 
|iie acontece em cada família é semelhante às outras, desde que constatamos o mes 
mó padrão de problemas em todas elas. Com alguma experiência o terapeuta apren 
de a lidar com certos padrões de comportamento da família. Assim, um dos pais n 
picamente acusa o outro de ser muito duro com a criança, enquanto se diz que o 
primeiro 6 muito tolerante. A tarefa do terapeuta é pensar sobre aquilo que vê na 
liUilflia, de modo a divisar uma idéia que, consequentemente, possa produzir mu 
dança. Deverá, também, imaginar como fazer com que cada membro desta família 
particular poderá ser levado a cooperar para obter mudança.
Fase de Interação
Existem dois passos para serem dados ao longo da investigação de um proble­
ma. 0 primeiro deles consiste em obter o comentário de todos. E, neste caso, o te­
rapeuta precisa ter controle sobre a situação. O segundo passo consiste em fazer 
com que os membros da família conversem entre si sobre o problema. Neste ponto, 
o terapeuta terá que parar de ser o centro da conversação. Em vez de ser a pessoa 
a quem cada membro da família se dirige, cada vez mais fará com que eles falem uns 
com os outros. Esta mudança tem de ocorrer naturalmente ; quando já tiverem emi­
tido suas opiniões sobre o problema, as discordâncias tenderão a ocorrer. 0 terapeu­
ta deverá continuar com o controle do que está acontecendo, mas a partir de agora 
tem início a fase de interação, na qual ele se afasta e encoraja os membros a falarem 
uns com outros a respeito destas discordâncias. Se as pessoas insistem em se dirigir 
no terapeuta, este deverá devolver as colocações para as outras pessoas do grupo. Po­
de scr útil aproximar as pessoas umas das outras, fisicamente, para facilitar esta tro­
ca de idéias.
Pode ocorrer de o terapeuta constatar que começou a fase de interação entre 
os membros antes de ter sido encerrada a fase na qual cada um dos membros deverá 
ler oportunidade de expressar sua opinião. Por exemplo, a mãe pode dizer como o 
menino apresenta comportamentos indesejáveis e o menino pode come- ar a argu­
mentar com ola a esse respeito. Se o terapeuta os encoraja a falar, neste caso. um 
com outro, e newliitcnclli os outros membros da família, pode ocorrer que a mãe e o 
lillio se envolvam de forma a tornar u u m o difícil atuar qualquer coisa com eles. Se, 
por acaso, isl<> ocorrer, o terapeuta deverá parar o que está fazendo, voltar atrás e
tcrminiu o primeiro passo. Por exemplo, pode dizer: “Bem, antes de irmos para a 
ironte, vamos ouvir algumas idéias das outras pessoas sobre esta situação". Em se­
guida, deverá talar ao pai, irmãos e irmãs, e, posteriormente, passar para a fase de in­
teração, na qual os membros da família poderão se dirigir uns aos outros.
Nunca é desnecessário enfatizar a importância de fazer com que os membros 
da família interajam uns com os outros, em vez de fazê-lo com o terapeuta, nesta fa­
se de interação. Independente de quão insistentemente tentam envolvê-io, é neces­
sário fazer com que se voltem para um diálogo comum entre eles.
Sempre que duas pessoas estejam conversando, o terapeuta deverá estar per­
manentemente pronto para introduzir uma terceira pessoa nesta conversação. Em 
última instância, todos deverão conversar entre si. Por exemplo, se uma mãe e um 
filho estão conversando e se fechando num diálogo, é apropriado dizer ao pai algo 
como: "Parece que eles não estão conseguindo ir direto ao ponto; quem sabe você 
podería ajudá-los?” . Desta forma o pai é colocado no diálogo e o terapeuta poderá 
observar de que forma ele se oporá à mãe ou, ao filho, e em que medida o consegui­
rá. Este tipo de abordagem produz informação sobre qual é a melhor maneira de 
intervir posteriormente, quando a família estiver na fase de resolução dos proble­
mas.
Apesar de a ênfase estar sendo na verbalização, o terapeuta deverá preferir 
ação às palavras, como fonte de informação. A conversação é menos conseqiiente e 
produz menos resultado. Em lugar de apenas conversar sobre o problema, o terapeu­
ta deverá, nesta fase, produzir alguma ação no consultório com relação ao proble­
ma. Por exemplo, se uma criança, deliberadamente, bate em sua cabeça, pode-se pe­
dir a ela que o faça. E a família, conseqiieyemente, demonstrará de que maneira ela 
responde. Se a criança ateia fogo às coisas, pode fazê-lo (num cinzeiro de metal), de 
modo que a maneira como manipula fósforos, bem como a resposta de cada uma 
das pessoas, possa ser esclarecida. Através de brinquedos as situações podem ser de­
sempenhadas. Se uma esposa se queixa ê está deprimida, pode-se solicitar a ela que 
se comporte desta forma; assim, todos poderão ser observados como respondem. 
Entretanto, estes procedimentos mais ativos deverão ser utilizados somente quando 
o terapeuta aprendeu a usar as diretivas terapêuticas efetivamente (veja Capítulo 2).
Organização da família. Os membros de uma família não podem dizer ao te­
rapeuta quais são as sequências e padrões de comportamento que têm, porque não 
os conhecem. Somente pela observação de como se comportam entre si, pode-se 
obter esta informação. Possibilitando-se que os membros da família se relacionem, 
possibilita-se ao terapeuta observar qual tipo de scqüência existe nesta família.
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A família é uma organização muito complexa e cada uma delas apresenta > a 
i.u terísticas únicas. Visando-se objetivos práticos, é possível imaginar uma família 
de uma maneira supersimplificada. Esta forma de apresentar tipos de sequências d<' 
comportamento constitui-se numa orientação que não lida com todos os comporta 
mentos complexos que os adultos tipicamente empregam para “salvar” a criança 
uns dos outros, como costumam fazê-lo com as crianças com problema. Sc a fase de 
Iniciação da primeira entrevista for conduzida corretamente, a estrutura da família 
se tornará aparente. Quando um dos pais fica do lado de uma criança, contra o ou­
tro pai, esta situação se tomará óbvia na medida em que eles falam. Se a avó fica do 
lado da criança, contra a mãe, este comportamento será aparente durante a entrevis­
ta (se a avó está presente porque vive na mesma casa; por outro lado, o comporta­
mento deverá ser estimado a partir do que os outros membros da família dizem a 
respeito dela, e então ela deverá estar presente na próxima entrevista). Se a organi­
zação familiar apresenta uma criança atuando como pai em relação a outras crian- 
ças, esta situação também se tomará aparente. (Para descrição de uma sequência, ve­
ja o Capítulo 4.)
Para descrever a organização de uma outra família poderiamos dizer que, 
quando existe uma criança com problema, um adulto da família violou um limite 
tomando-se superenvolvido e preocupado com a criança. Este adulto é a autoridade 
sobre os problemas da criança e é, ao mesmo tempo, benevolentemente preocupado 
c exasperado com ela. Quando a criança fala com um outro adulto, a pessoa super- 
cnvolvida será um intruso e ficará do lado da criança. Assim, por exemplo, em uma 
lamília sem um dos pais, a mãe dirá que é um mistério para eia por que sua filha 
não lhe dá atenção ou por que lhe mente. O terapeuta poderá dizer: “Gostaria que 
você escolhesse uma das mentiras e falasse com sua filha sobre ela” . Na medida em 
que a mãe e a filha conversam, uma avó se introduzirá e questionará a filha ou fará 
objeçóes à maneira pela qual a mãe se dirige à filha. É muito difícil impedir a avó de 
•>e intrometer; fazer com que a mãe e a filha se falem entre si é, simultaneamente, 
fazer um diagnóstico e começar uma mudança, e é isto exatamente o que acontece 
quando a primeira entrevista é bem conduzida.
Às vezes o terapeuta pode querer submeter a criança a um leste de inteligên­
cia ou qualquer outro tipo de teste psicológico, mas muitas informações sobre ela 
podem ser obtidas através de uma entrevista familiar. Como parte da fase de intera­
ção, o terapeuta pode pedir que a criança faça algo no quadro-negro, desenhe uma 
l>cssoa numa folha dcpapel ou faça uma conta. Não apenas a habilidade da criança 
paia desempenhar, conto o tipo dc envolvimento familiar, tomam-se evidentes atra­
vés dc um procedimento desta natureza. Porexemplo.se um pai que parece não es­
tai envolvido na família é solicitado a dizer para o filho de 9 anos. aparentando ser
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retardado, que escreva o nome de seu professor ou algo mais complicado no quadro, 
uma grande quantidade de informação poderá ser obtida através deste processo. Co­
mo o pai pede ao menino que o faça. quer o mesmo obedeça ou não, como a mãe 
oferece ajuda, etc., são informações importantes, disponíveis a partir de uma si­
tuação bastante simples
Definição nas Mudanças Desejadas
Após os membros da família se terem interagido, muitas das questões familia­
res terão sido esclarecidas. Nesta altura, é importante obter uma colocação razoa­
velmente clara de quais mudanças cada um, inclusive a criança com problema, espe­
ra da terapia. Este processo ajuda todos eles a se centrarem em questões importan­
tes e possibilita o estabelecimento de objetivos para a terapia. Essencialmente, o te­
rapeuta está estabelecendo um contrato terapêutico. Quanto mais claro este contra­
to for. mais organizada será a terapia. Se os problemas e as mudanças desejadas são 
deixados confusos e obscuros, a participação da família e as chances de sucesso do 
terapeuta serão dificultadas. Assim, por exemplo, se os membros da família dizem 
clara e deflnitivamente que esperam que a criança deixe de urinar na cama, entre 
outros problemas, e então, quando o terapeuta dá aos membros da família, poste­
riormente, uma tarefa para ajudar na resolução do problema, eles se sentirão mais 
obrigados a atender a solicitação. Se não for estabelecido claramente um acordo so­
bre as mudanças desejadas desde o início, a família responderá de forma menos coo­
perativa.
Sempre é necessário enfatizar que o problema que o terapeuta define como 
tal deva ser o problema que a família deseja mudar, mas deve fazê-lo de forma a 
tomá-lo solucionável. A negociação que^tem lugar deverá envolver pessoas que o 
tornarão mais operacional. Por exemplo, se uma família diz que o problema é de- 
uma pessoa ansiosa, não temos pela frente um problema solucionável. As formas pe­
las quais esta ansiedade se manifesta, e a resposta a ela, são o problema. Nenhuma 
categoria diagnostica tradicional é um problema solucionável. Dizer que o problema 
é "‘esquizofrenia" ou “retardo mental ’ não significa absolutamente nada para a te­
rapia. “Identidade confusa” ou “baixa autoconfiança" ou “infelicidade” ou, ainda, 
a maioria da terminologia usada pela linguagem psicodinàmica, nada disso é útil na 
formulação de um problema. Uma “fobia por escola" não é um problema que possa 
ser resolvido; mas uma criança que não vai à escola é um problema operacional.
Problemas, chamemo-los sintomas ou queixas, deverão se constituir em algo 
que se possa contar, observar, medir ou, de alguma maneira, saber a respeito de sua
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a finalidade de esclarecer certas questões. Algumas famílias gostariam de uma esti­
mativa sobre duração da terapia; tf melhor responder que u terapia seril o mais bre­
ve possível. Se uma família se apresenta particularmente resistente, ou em dúvida 
sobre a volta ao consultório, às vezes é útil estabelecer um certo número de entrevis­
tas. Pode-se perguntar, por exemplo: "Que tal nos encontrarmos 6 vezes (ou .1 ve­
zes) e, em seguida, decidir se são necessárias mais vezes?”
Avaliação do Terapeuta
Através da observação do vídeo-teipe da primeira entrevista, é possível avaliar, 
se o terapeuta conduziu adequadamente ou não as várias fases de uma entrevista, 
tal como esboçada neste livro. Além destas fases, existem algumas questões que de­
verão ser formuladas sobre o desempenho de uma terapeuta e de sua abordagem. 
Mediante um treinamento adequado e experiência em entrevista, pode-se esperar 
que um estudante desenvolva confiança. Ele ou ela deverão ser capazes de conduzir 
uma entrevista sem hesitações, sentir-se razoavelmente confortáveis com a família, 
ser capazes de conversar com os professores da escola, com as autoridades ou até 
mesmo com quaisquer pessoas envolvidas no caso. É de se esperar, também, que o 
terapeuta apresente condições de entrevistar lamílias dos diferentes tipos de classes 
sociais, além de poder entrevistar no consultório ou em casa. É de se esperar, ain­
da, competência, seja durante uma entrevista de uma família grande, seja de uma fa­
mília nuclear, a mãe e uma enança, ou apenas uma pessoa.
A observação da primeira entrevista com a família pode possibilitar ao super­
visor fazer as seguintes perguntas:
1 — O terapeuta definiu a situação,de entrevista de forma a permitir á família 
saber quem ele é, qual é a situação, e por que diferentes espécies de perguntas 
estão sendo feitas?
2 0 terapeuta distribuiu a família na sala de forma a permitir que a entre­
vista seja conduzida, por exemplo, lidando-se com a criança temperamental 
ou com interações caóticas?
3 —0 terapeuta atuou de forma suficientemente não moralista, a fim de per­
mitir que os membros da fanulia fossem encorajados a falar de seus proble­
mas?
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4 — 0 terapeuta demonstrou flexibilidade e mudou sua abordagem quando 
uma maneira de se obter informação foi inadequada?
5 0 terapeuta apresentou uma amplitude du comportamento, desde reílcxl 
vo ntó conlrontallvo?
6 O terapeuta evitou cxununar foco* dc interesse cxclusivamcntc pcuoal e 
irrelevante para o problema familiar?
7 - 0 terapeuta demonstrou condição de assumir a postura de um especialis­
ta, ainda que tenha igualmente expressado ignorância quando apropriado?
8 - 0 terapeuta evílou apresentar soluções antes de o problema estar devida 
mente esclarecido?
9 - 0 terapeuta aparentou saber quando encorajar uma discordância entre os 
membros de uma família e quando amenizá-la?
1 0 - 0 terapeuta evitou colocar-se do lado de algum membro da família con­
tra outro ou contra uma facção (por exemplo uma criança contra os pais)?
1 1 0 terapeuta evitou envolver-se pessoalmente com a família?
12 O terapeuta evitou ser excessivamente profissional e desligado da famí­
lia?
13 O terapeuta procurou trazer todos os membros da família para partici­
parem da entrevista?
14 — 0 terapeuta demonstrou poder tolerar material desagradável ou senti 
mentos fortes expressos pelos membros da família?
1 5 — 0 terapeuta se preocupou enyobter informação a respeito de outras pes­
soas significativas, não presentes na entrevista?
1 6 — 0 terapeuta procurou saber se existiríam outras agências sociais envol­
vidas com a família?
»
1 7 — 0 terapeuta motivou os membros da família para a mudança? Ele des­
pertou esperança e vontade nos membros da família, a fim de que se esforças­
sem para a mudança?
18 — 0 terapeuta se apresentou mais positivo do que negativo na sua aborda­
gem da família, no sentido de não criticá-la negativamente?
19 — 0 terapeuta demonstrou à família que tem algo a oferecer-lhes e pode 
produzir mudança?
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Influencia. As espécies de informação que o terapeuta necessita ter a respeito de sin 
tomas, dependendo de seu tipo, são como: ele está presente todo o tempo ou c In 
tcnnitcnte? seu aparecimento é inesperado ou previsível? desaparece súbita ou Icn 
tamente? é mais intenso algumas vezes do que outras? sua ocorrência é mais lie 
quente durante o dia ou a noite? nos dias de semana ou nos fins de semana? quan­
tas vezes, por hora, ele aparece? em se tratando, por exemplo, de enurese, cia ocorre 
cedo ou mais tarde, ou imediatamente antes de se acordar? Todos os sintomas deve­
rão ser investigados à luz do que foi tentado anteriormente; isto esclarece a naturv 
/.a do problema, bem como prevê orientação sobre o que fazer.
Uma das razões mais importantes, pelas quais o terapeuta deve especificar cia 
lamente o problema, é que ele deverá saber quando foi bem sucedido. Presumc-sc 
que quando o tratamento terminar, e quando forem realizadas entrevistas de segui 
mento, o terapeuta

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