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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL JULIANA GONÇALVES O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR INFANTIL GUARANTÃ DO NORTE 2021.2 JULIANA GONÇALVES O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, como requisito para a obtenção de Título de Bacharel em Serviço social. Orientadora: GUARANTÃ DO NORTE 2021.2 O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR – Universidade Norte Pitágoras Unopar, no Centro de Ciências Sociais, como requisito parcial para a obtenção do título de Serviço Social, com nota final igual a _______, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores: ______________________________________ Prof. Orientador - Universidade Norte do Paraná ______________________________________ Prof. Universidade Norte do Paraná ______________________________________ Prof. Universidade Norte do Paraná DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família e amigos que contribuíram em minha formação acadêmica. AGRADECIMENTOS Após tantos obstáculos enfrentados ao longo desta caminhada, com força de vontade, perseverança e acima de tudo muito comprometimento finalmente consegui realizar este feito, no entanto nada teria conquistado se não fosse à presença de alguns envolvidos que me ajudaram durante esta minha trajetória. Agradeço a todos que contribuíram no decorrer desta jornada, em especialmente: A Deus, a quem devo minha vida. A minha família que sempre me apoiou nos estudos e nas escolhas tomadas. As chances de uma criança se tornar um adulto revoltado é proporcional a violência que ela é exposta ainda pequena. Felipe Guedes NOME. O Desafio do Serviço Social frente a Violência Intrafamiliar Infantil, 2021. 41 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). RESUMO Este trabalho tem o objetivo de discorrer sobre a violência sofrida pela criança dentro da família bem como as consequências que a violência acarreta em sua vida e desenvolvimento, ao mesmo tempo estudar qual o papel do assistente social em sua intervenção nesta demanda. Assim para este estudo iremos nortear como metodologia à pesquisa bibliográfica A família como instituto de maior importância e primeira provedora de conhecimento de cada ser merece realce no âmbito jurídico. Através de uma análise dos conceitos e métodos adotados pelo legislador numa abordagem da Constituição Federal 1988, Código Civil 2002 e o Estatuto da Criança e do Adolescente podem ver se a família e a sociedade cumprem seu fim social em relação à criança. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90, de 13 de julho de 1990), completará quatorze anos de promulgação, deixando bastante nítida a necessidade de estabelecimento de prioridades para as crianças e adolescentes sem grandes divagações político-científicas no tocante à questão. Como se pode ver, o Estatuto da Criança e do Adolescente constitui uma legislação de vanguarda no tocante à defesa dos direitos dos jovens, fornecendo diretrizes básicas para o exercício dessa tutela nos mais variados níveis, tanto pelo Poder Público como pela iniciativa privada, em especial pela comunidade em que vivem os jovens em situação de risco. Palavras-chaves: Criança. Violência Intrafamiliar. Negligência. Violência Sexual. Assistente Social NAME. The Challenge of Social Work against Child Violence, 2021. 41 sheets. Course Completion Work (Bachelor of Social Work). ABSTRACT This work aims to discuss the violence suffered by children within the family and the consequences that violence causes in your life and development at the same time studying the role of social worker in his speech this demand. So for this study we will guide how the methodology literature The family as most important institute and one provider of knowledge of each being worth highlighting the legal framework. Through an analysis of the concepts and methods adopted by the legislature in an approach of the Federal Constitution in 1988, Civil Code 2002 and the Statute of Children and Adolescents can see the family and society fulfill their social purpose for the child. The Statute of Children and Adolescents (Law No. 8069/90 of 13 July 1990), complete fourteen-year-enactment, leaving quite clear the need to establish priorities for children and adolescents without major political and scientific ramblings regarding the question. As you can see, the Statute of Children and Adolescents is a leading law regarding the protection of the rights of young people, providing basic guidelines for the exercise of that supervision at various levels, both by the Government and the private sector, especially the community of the young people at risk. Keywords: Child. Intra-family Violence. Negligence. Sexual Violence. Social worker SUMÁRIO 1-INTRODUÇÃO........................................................................................................09 CAPÍTULO I 2- A Família Base da Sociedade..............................................................................11 2.1 A Criança e o Adolescente no seio da Família....................................................13 2.2 A Criança e o Adolescente como Direito ao Convívio Familiar............................16 CAPITULO II 3- A Violência Intrafamiliar......................................................................................17 3.1 As Formas de Violência.......................................................................................18 3.2 Violência Física, Negligência, Abandono, Violência Psicológica e Violência Sexual: Distintas Faces............................................................................................. 23 3.3 Violência Infantil e Intrafamiliar e o ECA..............................................................25 CAPITULO III 4. A Violência Intrafamiliar e o Serviço Social.......................................................27 4.1 Determinações em torno da Violência Intrafamiliar .............................................27 4.2. Politica e Práticas de Proteção Social para o Enfretamento da Violência Intrafamiliar Contra a Criança e o Adolescente..........................................................29 4.3 O Fazer Profissional do Assistente Social Frente à Violência .............................31 4.4 O trabalho do assistente social no enfrentamento a violência sexual contra crianças e adolescentes.............................................................................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................36 REFERÊNCIAS..........................................................................................................39 9 INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso de bacharel em Serviço Social é apresentado a Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, que tem como tema: O Desafio do Serviço Social frente a Violência Intrafamiliar Infantil. E tem como objetivo de discorrer sobre a violência sofridapela criança dentro da família bem como as consequências que a violência acarreta em sua vida e desenvolvimento e o papel do Assistente Social e suas intervenções frente a violência. E para discorrer sobre o conteúdo apresentado é necessário traçar os objetivos específicos tais como: realizar um estudo sobre a violência sexual infantil, compreender o significado da violência às crianças, entender quais os aspectos psicológicos e sociais, descrever as ações de proteção a crianças vitimadas pela violência. Este trabalho tem ainda a finalidade de contribuir para a formação de profissionais compromissados com a sociedade na contemporaneidade e as questões que envolvem sua área de atuação; profissionais que contribua para a reformulação e reconstrução de valores sociais e culturais e assim eliminar todas as formas de exclusão, preconceito e violência colaborando na construção de novos tempos. Para o desenvolvimento deste trabalho foi necessário usar de metodologia de pesquisa bibliográficas, através de arquivos, apostilas, sites, artigos e estudos que abordassem o tema proposto. Tendo como embasamentos principais; o Estatuto da criança e do Adolescente – ECA, a Constituição federal de 1988. Embora existam relações violentas, o ser humano não foi criado para se relacionar vivendo, sofrendo ou suportando algum tipo de violência, mas sim para viver em paz, que é a consequência do amor. Pensando assim, o ideal seria que todas as crianças e adolescentes tivessem a oportunidade de crescer e se desenvolver dentro de uma família saudável. Entendendo por família saudável aquela que valoriza a interação entre seus membros e fomenta neles o enfrentamento das crises, através do diálogo, e a construção de um sentido de vida, o qual os impelirá nos momentos propícios e nos de pressão, solidão e sofrimento (GRÜDTNER, 1997). O Direito de Família alcança nova dimensão por intermédio da Constituição de 1988, dando origem ao surgimento de novos textos legais, que acompanham o processo de transformação da sociedade, ampliando as formas 10 de composição familiar, garantindo a todos os seus membros proteção, segurança e dignidade humana.bCom a ampliação dos direitos de cidadania promulgados pela Constituição (1988), o reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, expresso pelo Estatuto da Criança e Adolescente (1990) e, por último, o Código Civil (2002), promoveram-se alterações significativas na dimensão da legalidade do direito de famílias, pois é ampliada a concepção de família e, consequentemente, a proteção a ela destinada, de modo a contemplar os diferentes arranjos familiares. Ao referirmo-nos a estes arranjos, estamos assim compreendendo as diferentes configurações familiares que emergem na sociedade e que têm o vínculo afetivo como sua principal característica, visto que não podemos usar qualquer predefinição ou formatação para designar definitivamente o que é a família hoje. Podemos encontrá-la com variados matizes: pais e filhos, filhos com apenas um dos pais, casais heterossexuais sem filhos; casais em relação homoafetiva com ou sem filhos, etc. O Direito de Família alcança nova dimensão por intermédio da Constituição de 1988, dando origem ao surgimento de novos textos legais, que acompanham o processo de transformação da sociedade, ampliando as formas de composição familiar, garantindo a todos os seus membros proteção, segurança e dignidade humana. Com a ampliação dos direitos de cidadania promulgados pela Constituição (1988), o reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, expresso pelo Estatuto da Criança e Adolescente (1990) e, por último, o Código Civil (2002), promoveram-se alterações significativas na dimensão da legalidade do direito de famílias, pois é ampliada a concepção de família e, consequentemente, a proteção a ela destinada, de modo a contemplar os diferentes arranjos familiares. Ao referirmo-nos a estes arranjos, estamos assim compreendendo as diferentes configurações familiares que emergem na sociedade e que têm o vínculo afetivo como sua principal característica, visto que não podemos usar qualquer predefinição ou formatação para designar definitivamente o que é a família hoje. Podemos encontrá-la com variados matizes: pais e filhos, filhos com apenas um dos pais, casais heterossexuais sem filhos; casais em relação homoafetiva com ou sem filhos, etc. 11 CAPÍTULO I 2- A FAMÍLIA BASE DA SOCIEDADE Neste primeiro capitulo iremos conceituar e contextualizar sobre a família como base principal da sociedade e como um lugar de proteção e não de violência. A família é a instituição mais antiga da humanidade. Durante vários séculos a família patriarcal foi constituída como a organização familiar básica do povo brasileiro, no entanto, com o advier dos tempos à configuração de família vem sofrendo grandes modificações. Inúmeros fatores econômicos, sociais e culturais contribuíram para as alterações na dinâmica familiar, aqui consideradas como as relações que estabelecem as particularidades familiares. Apesar da resistência do patriarcalismo, pode-se afirmar que as famílias de hoje não mais possuem uma rigidez hierárquica, com controle exercido pelo homem. Devido às transformações ocorridas na sociedade contemporânea, às quais permitem que os papeis familiares não sejam mais pré-estabelecidos pela sociedade. Conceituando a palavra família, historicamente o termo família é derivado do latim famulus, originado na Roma Antiga, que quer dizer ―escravo doméstico‖, ou seja, era designado somente para o grupo de escravos pertencentes a um mesmo homem, onde esta relação estava imbricada com os trabalhos na agricultura. O patriarca desta composição familiar tinha grande poder sobre todos os membros e detinha os direitos de vida e morte sobre eles (ENGELS, 1984 p.95). Segundo Áries, a família era: [...] uma realidade moral e social, mais do que sentimental. [...] a família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e, quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem (ÁRIES, 1981, p.231). No Brasil, Bruschini (2000), aponta que os primeiros séculos de colonização foram marcados pelo modelo dominante de organização familiar tradicional, patriarcal, extensa, rural que resultou da adaptação do modelo de família trazido pelos portugueses ao modelo sócio-econômico em vigor no país. Este estilo de família impôs seu domínio na Colônia, reprimindo os indígenas e, mais tarde com a importação dos escravos negros, os portugueses foram devastando formas familiares próprias desses grupos que aqui chegavam. 12 Nesse contexto a família nuclear é onde ocorre o desenvolvimento das relações íntimas e afetuosas. O amor torna-se a base, que solidificará esta relação. A figura do pai é vista como autoridade responsável pelo sustento da família, a mãe é aquela que possui o amor incondicional, com ações voltadas à maternidade e domesticidade, e os filhos deveriam respeitar os pais para merecer seu amor. Em todos os conceitos apresentados é comum notar que a família se apresenta como uma estrutura social, uma construção humana que se consolida, transformando-se conforme a influência das relações sociais, sendo, portanto, historicamente construída. A família acometida enquanto unidade doméstica, ou seja, aquela que provê o sustento, no diz respeito à alimentação, vestuário, habitação, repouso. No passado, o grupo familiar, era uma unidade de produção, encarregando-se, ela própria, da produção dos meios de sobrevivência. A família proporciona o marco adequado para a definição e conservação das diferenças humanas, dando forma objetiva aos papéis distintos, mas mutuamente vinculados, do pai, da mãe e dos filhos, que constituem os papéis básicosem todas as culturas. Enquanto instituição, a família pode ser entendida como um conjunto de normas e regras, historicamente constituídas, que governam as relações de sangue, adoção, aliança, e determinam a filiação, os limites do parentesco, da herança e do casamento. O conjunto de regras e normas está contido nos costumes e na legislação, apresentadas no Código Civil. Conforme Osório (1996), a família também pode ser entendida como um conjunto de valores determinados como ideologia, estereótipos, preceitos, representações sobre o que ela deve ser. Ao longo da história no mundo ocidental, as teorias de como a família deve ser couberam inicialmente à igreja, em seguida ao Estado, e, finalmente, à própria ciência. Os referidos organizaram várias regras e recomendações de como deveria ser o comportamento das pessoas. Atualmente são os meios de comunicação que divulgam e ―ditam‖ novas ideias, orientações e estudos comportamentais relativos à família e seus membros. Desta forma, é importante observar que a configuração familiar modifica conforme o momento histórico, fatores sócio-políticos, econômicos, religiosos e culturais, estando o conceito de família associado ao contexto social no qual está inserido. 13 2.1 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO SEIO DA FAMÍLIA Tendo a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227, determina que os seus direitos sejam assegurados, tais como o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e social, que são inerentes à cidadania, e proporcionem condições de liberdade e dignidade. Segundo Genofre (1997) afirma que, Cabendo a família a responsabilidade pela criação, educação, desenvolvimento e formação da criança, este núcleo de adultos responsáveis representa a esperança no exercício de ações preventivas necessárias, a base do compromisso do país com seu futuro. Pena que as políticas sociais públicas não estejam implementadas, efetivamente em todas as áreas, para suprir as deficiências da família, principalmente na área de saúde, alimentação e educação...(GENOFRE, 1997, p. 103) Segundo o autor, o mesmo ressalta sobre a função que a família tem, e isso as legislações como: a Constituição federal de 88 e especificamente o ECA diz: que a família tem proteção do estado, e o ECA diz: que é dever da família assegurar os direitos da criança e do adolescente. A Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seu artigo 4º ―É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária‖ O capítulo III, da mesma lei, alega em seu artigo 19 ―Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência famílias e comunitária, e em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes‖ Este artigo retrata de forma incontestável o direito da criança e do adolescente em ter em seu convívio sua família e na falta desta, a substituta, garantido assim a interação comunitária, em ambiente profícuo a sua formação. Em seu artigo 22, enfatiza ainda que: ―Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir determinações 14 judiciais‖. A constituição Brasileira de 1988 cita em seu Capítulo VII, art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. A família é, pois, a base social do Estado Brasileiro, acarretando para este o compromisso de protegê-la, o que é feito por meio de uma ampla regulamentação legal, muitas delas cogentes e de caráter impositivo, devendo ser respeitadas independentemente da vontade das partes. Contudo, a despeito de ser visível a interferência estatal nos elos de afetividade que ligam as pessoas e que faz o Estado regular, através de leis, questões referentes à família, essa unidade social precede qualquer regulamentação legal. Isso porque é a partir das regras morais da sociedade que as famílias vão sendo constituídas, especialmente através de vínculos afetivos pelos quais as pessoas se unem a fim de ficar juntas e de formar, a partir de então, a sua unidade social. A formação dos pares seria um fato natural de união das pessoas e, a partir dessa formação, cada um tenderia a buscar a sua unidade no meio social em que vive, chamando-a de família. Uma abordagem do tema relacionado à família, contudo, precisa considerar o seu caráter supra individualista, em razão de os interesses por ela perseguidos transcenderem os interesses individuais de seus membros. A estrutura familiar, assim, traz em seu âmago não apenas a ideia de vínculos que unem as pessoas entre si mas, sobretudo, a da existência de uma estruturação psíquica em que cada pessoa deve ter o seu lugar e exercer uma função – de filho, de pai, de mãe, etc. – além de, como unidade, ter a função de referenciar determinada pessoa na sociedade. A relevância familiar partiria da ideia acima exposta, em especial dos papéis desempenhados por cada integrante da família e da existência de afeto e respeito entre eles, importando-se destacar que eventuais privações nessas relações familiares repercutem no desenvolvimento emocional e psíquico e na formação ético-moral dos seus integrantes — notadamente no desenvolvimento e na formação de crianças e adolescentes. É possível afirmar, então, sob a perspectiva da vertente psicológica, que as primeiras relações afetivas desenvolvidas no seio da família de uma criança poderão servir de base para toda a sua vida e para as suas relações futuras, tendendo a se repetir, sendo, pois, fundamental que o lar seja um lugar de afeto, de carinho, de pertencimento e de respeito. Tal fato evidencia a importância de se garantir à criança e ao 15 adolescente o direito à convivência familiar sadia e de se compreender que a entidade familiar precisa estar apta a entender e a respeitar a singularidade de cada filho, em cada fase da vida. É assim que a percepção de cada integrante da família e do seu papel na dinâmica familiar passa a ser fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças, dos adolescentes e, em última análise, da própria família. A família assim compreendida é capaz de intervir, decisivamente, na formação psicossocial de crianças e adolescentes, evitando ou pelo menos minimizando eventuais prejuízos que possam vir a aparecer em seu desenvolvimento. A família é considerada aquela que propicia o bem-estar de seus componentes, desempenhando um papel decisivo na educação, absorvendo valores éticos e humanitários se aprofundando os laços de solidariedade. É na família que encontramos as condições para o desenvolvimento de nossa identidade e para a construção de nossa história, o que nem sempre ocorrerá de forma pacífica, esse crescimento pode se dá em meio a tensões, conflitos e contradições, pois mesmo sendo de suma importância nenhuma família é constituída apenas por virtudes e consensos, e assim como qualquer instituição social, enxergá-la dessa forma é essencial para o desenvolvimento de políticas sociais que venham protegê-la. Então é fundamental que a família esteja preparada para entender que cada filho necessita ser visto como um ser único, com os seus defeitos e qualidades, já que esta deve representar o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Todavia, se este precioso lugar de cuidado e proteção se tornar sede de conflitos, que possam levar à violação de direitos da criança e do adolescente, medidas deapoio à família deverão ser tomadas com o objetivo de assegurar o direito da criança e do adolescente de se desenvolver no seio de uma família saudável. As famílias, portanto, seja qual for a sua constituição, nível cultural ou econômico é imprescindível para a formação do sujeito, ainda que muitas vezes não consiga atender de maneira satisfatória as necessidades de seus membros. 16 2.2 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COMO DIREITO AO CONVÍVIO FAMILIAR A palavra família possui inúmeros significados e conceitos e sua origem é comprovada através dos registros históricos acerca da família que possuía um caráter patriarcal onde a figura masculina era reconhecida chefe, juiz e detentor de poder. Impunha aos filhos seus deveres, vontades e princípios, bem como suas punições e até mesmo o domínio sobre o direito as suas vidas, como publicado por Tércio de Sousa Mota e Col., pontua: Registros históricos, monumentos literários, fragmentos jurídicos, comprovam acertadamente o fato de que a família ocidental viveu largo período sob a forma „patriarcal‟. Destarte as civilizações mediterrâneas a reconheceram. Dessa forma, anunciou a documentação bíblica (2011, online). A mulher por outro lado desempenhou um papel submisso onde não questionava nem contrariava as decisões do marido. Vivia em prol dos serviços domésticos e da criação dos filhos moldando assim a família e seguindo os princípios religiosos. A partir de então o império romano inseriu tais primícias religiosas dentro de seu ordenamento jurídico para obter domínio e um controle social, sendo assim, aquele que ousasse ir contra as regras ou ameaçasse tal ordem social sofreria sanções. No entendimento de Tércio de Sousa Mota e Col.: A mulher vivia in loco filiae, completamente dependente à autoridade marital, nunca contraindo autonomia. Somente o pater adquiria bens, exercendo o poder sobre o patrimônio familiar ao lado, e como consequência do poder sobre a pessoa dos filhos e do poder sobre a mulher. A família era estabelecida em desempenho do juízo religioso, 4 e o poder do império romano surgiu dessa organização (2011, online). São notórias as diversas mudanças no âmbito familiar. Houve no decorrer dos anos uma perda imensurável de valores e princípios, não só cristãos como éticos também, sem contar o poder patriarcal que antes era desempenhado somente pela figura masculina e com o advento dos vários tipos de família tal poder passou a ser exercido por ambos, pai e mãe. Segundo Carlos Roberto Gonçalves: Esse princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é substituída por um sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo entre conviventes ou entre marido e mulher, pois os tempos atuais requerem que a mulher e o marido tenham os mesmos direitos e deveres referentes à sociedade conjugal (2005,p.09). 17 A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) vigentes consagram o direito a convivência familiar e comunitária para crianças e adolescentes e em face disso, diversos tipos de família, a família natural, a família extensa e a família substituta, em todas um núcleo composto pelos filhos e os pais ou qualquer um deles, solteiros ou viúvos e a prole. Os filhos existentes fora do casamento devem ser reconhecidos pelos pais de forma conjunta ou separada, mediante documento público. Tal reconhecimento trata- se de um direito personalíssimo exercitado contra os pais assegurado pelo segredo de Justiça (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990). O direito á convivência familiar e comunitária previsto nos artigos 19 a 52, do ECA, determina que toda criança ou adolescente tem como direito nascer, crescer, ser educado e criado no convívio de sua família biológica, a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes (art. 25) e apenas excepcionalmente, em família substituta na forma de guarda, tutela e adoção. O ambiente familiar que deve ser garantido para crianças e adolescentes deve ser livre de drogas, violência e discriminação de qualquer natureza, os pais são obrigados ao reconhecimento da filiação natural (BRASIL,1990). Um ambiente familiar afetivo que atenda às necessidades da criança e do adolescente constitui a base para o desenvolvimento psicossocial saudável. A imposição de limite, o exercício da autoridade parental, o cuidado e a afetividade são fundamentais para a constituição da subjetividade e para o desenvolvimento das habilidades necessárias à vida em comunidade. Experiências vividas na família tornarão gradativamente a criança e o adolescente capazes de se sentirem amados e seguros para, no futuro, se responsabilizarem por suas próprias ações e sentimentos. Assim sendo, apenas excepcionalmente se admite o rompimento dos vínculos familiares, quando diante de situações de risco, hipóteses nas quais devem ser adotadas pelos agentes do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes estratégias de atendimento que permitam o fortalecimento e, sempre que possível, o restabelecimento desses vínculos. Todavia, se necessária a ruptura desses vínculos, caberá ao Estado a proteção dessas crianças e desses adolescentes, através do desenvolvimento de programas, projetos e estratégias que possam levar à constituição de novos vínculos familiares e comunitários. Desta forma, quando a família não assume efetivamente o seu papel, a 18 atuação dos órgãos integrantes do Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Adolescente, assim como do Ministério Público, como órgão agente, passa a ser fundamental, não apenas para buscar a responsabilização da família mas, sobretudo, para possibilitar a adoção das medidas cabíveis aptas a garantir o direito fundamental à convivência familiar, assegurando que crianças e adolescentes tenham o direito de viver em uma família, e não apenas de sobreviver em uma instituição de acolhimento. 19 CAPITULO II 3- A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR Neste capitulo iremos dar ênfase sobre a violência intrafamiliar, os tipos de violências, as consequências psicossociais da criança e do adolescente quando sofrida à violência, e o conceito de violência. A violência doméstica ou intrafamiliar caracteriza-se por toda a ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. Pode ser cometida dentro ou fora de casa por algum membro familiar, incluindo pessoas que passam a assumir função parental, ainda que sem laços consanguíneos. Estudos indicam que oitenta por cento dos casos de violência denunciados ocorreram dentro da casa da vítima, sendo que os perpetradores da agressão eram, principalmente, pais biológicos ou adotivos. A violência intrafamiliar está inserida, assim, na tipologia de violência interpessoal, que por sua vez está dividida em duas subcategorias: violência da família, aquela que ocorre em grande parte entre os membros da família. Ocorre normalmente, mas não exclusivamente, dentro de casa; e a violência comunitária, que ocorre entre pessoas sem laços de parentesco (consanguíneos ou não) e que podem conhecer-se (conhecidos ou não- estranhos), geralmente fora de casa (GOMES et al, 2007). A violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes é a violência que consiste (...) numa transgressão do poder disciplinador do adulto, convertendo a diferença de idade adulta versus criança/ adolescente, numa desigualdade de poder intergeracional; numa negação do valor da liberdade; num processo que aprisiona a vontade e o desejo da criança ou do adolescente, submetendo-os ao poder do adulto, coagindo-os a satisfazer os interesses, as expectativas e as paixões deste (AZEVEDO, 2003). A violênciaintrafamiliar constitui-se em um fenômeno democrático mundial que atinge diferentes classes sociais, religião, idade e grau de escolaridade. Segundo PHILIPPE (1981), a violência é um fenômeno complexo e existem inúmeros fatores que podem ser apontados como desencadeadores deste fenômeno como: fatores culturais, fatores sociais (educação, renda 20 familiar...), fatores familiares (promiscuidade, dinâmicas e normas familiares;), comunitários etc. Violência é um termo que deriva do latim violentia significando vis, força e vigor, e em sentido amplo, é qualquer comportamento ou conjunto de comportamentos que tendam causar dano à outra pessoa, ser vivo ou objeto. Nega-se autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida do outro. É o uso excessivo da força, além do necessário ou esperado. A violência doméstica não é marcada apenas pela violência física, mas também pela violência psicológica, sexual, patrimonial, moral dentre outras, atinge grande número de pessoas, as quais vivem estes tipos de agressões principalmente no âmbito familiar. PASTORAL DA CRIANÇA (1999), afirma que: ―A violência com maltrato físicos acontecem quando os pais ou responsáveis tentam educar e disciplinar seus filhos através da força. Eles acabam batendo, queimando, mordendo, empurrando, jogando ou até mesmo agredindo com objetos podendo causar danos físicos a criança ou adolescente‖ A violência psicológica é ocorrida quando os pais ou responsáveis recusam dar carinhos e calor humano á criança ou adolescente, desfazendo dela por meio de humilhação e agredindo-a verbalmente Segundo PHILIPPE (1981), a violência contra a criança e o adolescente é produto de múltiplos fatores: Dificuldades cotidianas; Pobreza; Separação do casal; Crises financeiras; Características individuais (temperamento difícil, retardo mental, hiperatividade, entre outros); Influências familiares; Aspectos sociais e culturais. Não há uma única causa, assim como não há solução única. 3.1 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA A violência doméstica contra crianças e adolescente podem se manifestar de diversas maneiras além da agressão física. Assim, a PASTORAL DA CRIANÇA (1999), coloca; é comum a violência através de ameaças, humilhações e outras formas que afetam psicologicamente as crianças e adolescentes. Outra forma constante de violência é a omissão: alguns pais deixam de fornecer os cuidados necessários ao crescimento de seus filhos, que passam a sofrer privações essenciais à sua formação, como falta de carinho, de limpeza e, até mesmo, de alimentação adequada. Vale ressaltar que nem sempre essa omissão é decorrente da situação de pobreza em que a família vive. Uma das maneiras mais perversas 21 de violência contra a criança e o adolescente é o abuso sexual. Mais comum do que se acredita, ele acarreta fortes traumas nessas pessoas. Com base em Guerra e Azevedo (2001), estudiosos do assunto, consideram-se aqui quatro tipos de violência: Violência Física – atos violentos com o uso da força física de forma intencional - não acidental; provocada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas; Negligência - omissão dos pais ou responsáveis quando deixam de prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico, emocional e social da criança e do adolescente. Psicológica - rejeição, privação, depreciação, discriminação, desrespeito, cobranças exageradas, punições humilhantes, utilização da criança e adolescentes para atender às necessidades dos adultos. Sexual - toda a ação que envolve ou não o contato físico, não apresentando necessariamente sinal corporal visível. Pode ocorrer a estimulação sexual sob a forma de práticas eróticas e sexuais (violência física, ameaças, indução, voyerismo, exibicionismo, produção de fotos e exploração sexual). Tendo alguns tipos de violência intrafamiliar ou doméstica, assim mais conhecidas, podemos nos perguntar: Quais os possíveis efeitos da violência contra crianças e adolescentes? Hiperatividade ou retraimento; Baixa autoestima, dificuldades de relacionamento; Agressividade (ciclo de violência); Fobia, reações de medo, vergonha, culpa; Depressão; Ansiedade; Transtornos afetivos; Distorção da imagem corporal; Amadurecimento sexual precoce, masturbação compulsiva; Tentativa de suicídio, e outros. Segundo o artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei Federal 8.069/90) que dispõe: ―Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais‖. Assim, no caso de violência contra criança e adolescente é necessário de primeiro notificar as redes de promoção de garantia de direitos como: Conselho Tutelar; Secretaria Municipal de Saúde; Promotoria Infância e Juventude; Delegacia da Infância e Juventude; Defensoria Pública. Segundo AZEVEDO E GUERRA (2001), crianças e adolescentes, vítimas de violência doméstica, costumam apresentar vários sintomas físicos e 22 psicológicos associados, o que pode ser observado através de seu comportamento. Assim, é interessante estar atento a marcas na pele e fraturas, lembrando que podem ser decorrentes de violência, especialmente quando reiteradas. As marcas podem ser deixadas por queimaduras ou por algum objeto doméstico como cinto, ferro de passar roupas e cabides. Além disso, a própria aparência da criança pode ser motivo para se suspeitar de violência doméstica, demonstrando falta de alimentação adequada (nem sempre decorrente da pobreza) e falta de asseio e higiene, por exemplo. Pais que maltratam seus filhos, às vezes, são também negligentes em outros aspectos: impedindo-os de freqüentar a escola ou deixando de dispensar cuidados com a saúde da criança, que apresenta diversas vezes alguma moléstia, por exemplo. Por fim, vale ressaltar, aspectos referentes à sexualidade que por vezes se manifesta visivelmente incompatível com a faixa etária da criança. Também são verificados, em alguns casos, sintomas de doenças sexualmente transmissíveis, certamente decorrentes de abuso sexual. Muitas outras características são verificadas nessas crianças e adolescentes. O educador certamente perceberá, com a necessária lucidez, outras que aqui não foram mencionadas. Várias dessas evidências em conjunto levam à suspeita de violência, demandando especial cuidado por parte da equipe da escola. Ainda segundo GUEIROS (2006), a criança ou o adolescente passa a apresentar várias características de maus tratos associadas, há que se levantar a hipótese de que esteja sofrendo agressões. Nesse caso, uma averiguação cuidadosa deve ser realizada. É conveniente que esse procedimento seja desenvolvido com a ajuda de outros profissionais, como psicólogos, médicos e advogados. É notável conhecer que quando falamos em violência, percebemos que em toda parte ela se encontra, a violência estrutural está presente em todas as sociedades e se expressa por meio das desigualdades sociais, ou seja, riqueza e pobreza, as quais caracterizam a sociedade atual, onde uns poucos têm demais e outros muitos têm de menos, a pobreza e a riqueza por si só já é uma relação violenta. A falta dos mínimos sociais (alimentação, vestimenta, habitação, educação, lazer, esporte) fere a dignidade humana, que por si só é um ato violente, pois danifica o ser humano. A desigualdade em relação a renda/poder aquisitivo leva algumas pessoas a atos desesperados de violência. Não pretendo justificar os atos 23 violentos, apenas procuro entendê-los na sua complexidade. É extremamente difícil imaginar para aqueles que dão conta de suas necessidades, o quão doloroso é viver à margem, lutando todos os dias pela sobrevivência humana. A desigualdade priva, deteriora o ser humano. O Brasil é a oitava economiado mundo, com excelente desenvolvimento econômico, porém ainda há situações de miséria, fome, pobreza, desemprego, trabalho infantil, é preciso pensar formas de justiça social, igualdade, acesso aos direitos de cidadania. É decepcionante saber que o sistema capitalista neoliberal vigente, não está preocupado em atender o social. A pobreza, a falta das necessidades sociais é a pior forma de violência, Odalia (2004, p. 30) enfatiza que o ato rotineiro e contumaz da desigualdade das diferenças entre os homens, permitindo que alguns usufruam à sociedade o que à grande maioria é negado, é uma violência. A desigualdade social, a pobreza e a riqueza não são fenômenos estanques, estáticos. É possível pensar meios de transformação, onde os sujeitos consigam viver num patamar mais igualitário, tendo acesso aos direitos de cidadania e qualidade de vida. Compreendendo a desigualdade como fruto de um sistema capitalista e excludente, podemos e devemos buscar alternativas voltadas à transformação das estruturas sociais, possibilitando o estabelecimento de bases de igualdade de condições de sobrevivência. Como salientamos, toda violência é social, porque é produzida socialmente e disseminada dentro de uma dada sociedade. Faz parte deste cenário a precariedade da saúde pública, marcada por uma política que não atende toda a demanda necessária, pela falta de infraestrutura adequada, pela escassez de recursos humanos e pelo atendimento que, em determinadas situações, é totalmente desumano e sem qualificação. A educação é outro fator que merece destaque, pois os níveis de qualidade da educação preocupam cada vez mais. A evasão escolar, a repetência, professores com formação deficitária e mal remunerados são fatores que denigrem a educação brasileira. Transformar esse panorama requer medidas coerentes, a partir do aperfeiçoamento da política educacional, em que o processo educativo conduza à aprendizagem efetiva dos conteúdos e à emancipação intelectual dos estudantes. A contemporaneidade requer outro modelo de educação, onde professores e alunos, aprendem, discutem juntos, produzam conhecimento de forma coletiva. O conteúdo programático precisa ser revisto, incluindo temas 24 como gênero, sexualidade, violência, necessitam ser explorados para a formação de sujeitos críticos e reflexivos. A política habitacional também possui deficiências, pois, há pessoas que ainda não possuem condições de habitabilidade razoável. A moradia é um direito do cidadão, faz parte da dignidade humana. Quando falamos em violência social, não podemos deixar de refletir acerca do desemprego estrutural, pois, sabemos que não há lugar para todos no mercado de trabalho, e quando há é precário, explorador. Os sujeitos que estão "fora" do mercado de trabalho, sofrem ainda mais para garantir a sobrevivência, muitos sujeitos recorrem ao uso de álcool e outras drogas, como forma de amenizar o sofrimento decorrente em que se encontra. O mundo do trabalho está cada vez mais exigente, só tem lugar para sujeitos qualificados e que saibam produzir, quem não se encaixa nos critérios é excluído, e tende a buscar a informalidade para garantir total ou parcialmente a subsistência. Odalia (2004) alerta sobre a questão do preconceito, posto que o preconceito social, de classes sociais, orientação sexual, cultura, etnia é uma das formas de violência social, pois, denigre, maltrata a pessoa humana na sua condição de sujeito de direito. Dessa maneira, verificamos que a violência social traz muitos impactos nos diferentes setores da vida, precisando ser combatida por intervenções interdisciplinares, envolvendo o aperfeiçoamento qualificação da educação, da saúde, da habitação e de todas as demais áreas, assegurando a qualidade de vida a todos. A violência política atinge todos os sujeitos sociais em suas relações políticas, concebendo-se a política como elemento que organiza e regula o convívio de indivíduos diferentes. Arendt (2004) relaciona política, liberdade e pluralidade, destacando que o livre agir é agir público, e público é o espaço original do político. A política surge não no homem, mas sim entre os homens, que a liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários à constituição de um espaço entre os homens, onde só então se torna possível a política, a verdadeira política. Desse modo, o sentido da política é a liberdade, posto que ―O milagre da liberdade está contido nesse poder começar que é, em si um novo começo, já que através do nascimento veio ao mundo que existia antes dele e continuará existindo depois dele‖ (ARENDT, 2004, p. 9). 25 A violência política vai além da corrupção. Esta possui mil faces, o assassinato político é uma faceta, utiliza-se para manter o poder de um determinado povo ou substituí-lo. As fraudes nos processos eleitorais é uma violência política, pois, mascara a realidade, frauda a opinião pública. Outra questão de fundamental importância é a violência política existente nos meios de comunicação de massa, como ressalta Odalia (2004). Nos dias atuais, as mídias, em geral, não contribuem para o esclarecimento e o desenvolvimento da capacidade de crítica, ao invés disso, reforçam a alienação e o consumismo. O sujeito acaba consumindo tudo o que é enfatizado na mídia, o melhor carro, a melhor roupa, o mais poderoso produto antienvelhecimento, o cidadão é "bombardeado" de tantas informações, que muitas vezes são enganosas. Dificilmente algum meio de comunicação, enfatiza as verdadeiras causas da violência, da fome, ou mostra para os sujeitos as formas de acesso aos seus direitos. A mídia transmite informações de modo superficial, e, por vezes, tendencioso, sem preocupações legítimas com a cidadania. O apelo ao consumo ganha uma amplitude impressionante, impondo aos sujeitos falsas necessidades, de forma a incentivar a aquisição de produtos sempre mais potentes, criativos e tecnológicos. Ou seja, a mídia faz o indivíduo desejar os produtos que a indústria produz, vendendo-lhe promessas de prazer, sucesso e poder. O consumismo agrava a diferença entre as camadas sociais, demarcando limites entre aqueles que têm e aqueles que não têm poder aquisitivo para ter acesso aos produtos propagandeados pela mídia. A erradicação da violência política está diretamente ligada à ética, à capacidade de priorizar valores humanísticos e princípios éticos. Isso supõe que somente poderemos superar os atos politicamente violentos agindo eticamente e assegurando que a convivência seja norteada pela cidadania e pela defesa da dignidade humana. 3.2 VIOLÊNCIA FÍSICA, NEGLIGÊNCIA, ABANDONO, VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA E VIOLÊNCIA SEXUAL: DISTINTAS FACES. Nilo Odalia (2004) contribui para a identificação de vários tipos de violência, destacando, além dos já mencionados, a violência física, a psicológica e a sexual. A violência física está presente nas relações familiares, 26 de trabalho, nas relações com os amigos, ou seja, está em todos os lugares, independente de classe social, idade, etnia, orientação sexual. Os atos fisicamente violentos se concretizam através de dano ao corpo, expressando-se através de surras, tapas, empurrões, socos, até lesões graves, como ossos fraturados, olho roxo, equimoses pelo corpo, braço quebrado, enfim de inúmeras formas de ataque ao corpo. A violência física é entendida também como ação ou omissão ação - bater, omissão - deixar de ministrar algum medicamento necessário, que venha a trazer malefícios à saúde física da pessoa. As causas de tais atos são inúmeras e demandam um olhar aguçado para seu reconhecimento e combate. Por sua vez, a violência psicológica é silenciosa, não deixando marcas visíveis. Porém, fere a alma da pessoa, denigre, machuca a dignidade da pessoa. Manifesta-se por meio de xingamentos, humilhações, ridicularizarão,inibição, gritos, ameaça, constrangimento, chantagem, que machuca muito mais do que a violência física, que deixa marcas visíveis. Segundo estudos e pesquisas realizados por psicólogos, a pessoa vítima de violência psicológica, se transforma em uma "morta-viva", pois, a autoestima fica fortemente fragilizada. Muitas vezes torna-se difícil, até mesmo para os profissionais, identificar a violência psicológica, exigindo sensibilidade e capacidade de escuta especializada para dar visibilidade à violência psicológica, e, consequentemente, para que se possa atender de forma eficiente às vítimas. Já a violência sexual acontece quando determinada pessoa é forçada a satisfazer os desejos sexuais de outrem. Como esclarece Odalia (2004), o abuso sexual acontece de duas formas: com contato sexual é quando a vítima é forçada a realizar sexo vaginal, oral ou anal; sem contato- são episódios de exibicionismo, exposição e carícias nas partes íntimas, Voyeurismo. A pessoa vítima de violência sexual necessita de acompanhamento psicológico, para conseguir amenizar o sofrimento, a vítima de abuso na maioria dos casos, possui tendência de isolamento, baixo conceito de si próprio, dificuldade em se relacionar com os demais. Pesquisas indicam que um dos fatores que pode levar uma pessoa a abusar de outra, é o fato de ter sido vítima de abuso na infância. Para que a violência sexual não gere um ciclo vicioso, passado de geração a geração, torna-se imprescindível o acompanhamento especializado. A violência sexual é um tema que desperta curiosidade, necessidade de 27 entendimento, no entanto é um assunto difícil de ser abordado principalmente para suas vítimas, pois, na maioria dos casos o abusador é alguém conhecido da vítima ou tem vínculos afetivos, o que gera um pacto do silêncio. Em se tratando da negligência, esta pode ser considerada uma das facetas da violência, porque traz inúmeros malefícios ao desenvolvimento do sujeito. Pode ser dividida em negligência física e afetiva. A negligência física consiste na não garantia das necessidades básicas (falta de alimentação, medicação, falta de moradia, saúde, educação). A negligência afetiva consiste na carência de amor, afeto, carinho, limite. Muitos pais alegam falta de tempo para com os filhos, no entanto não é motivo suficiente para não dar atenção, qualquer espaço de tempo é valioso para transmitir o afeto e limite. É importante destacar que a negligência como forma de violência, não é um fenômeno exclusivo da classe pauperizada, muito pelo contrário, a negligência está muito presente na classe média alta, quando, por exemplo, os pais não se preocupam com o conteúdo daquilo que os filhos acessam nas redes sociais, não se interessam pela vida social dos filhos. O Estado é um agente que frequentemente pratica a negligência, quando não se interessa com as necessidades da população tais como (saúde- educação-moradia). O abandono se constitui em violência, pois em determinados casos pode fragilizar gravemente uma pessoa, deixando sequelas psicológicas agudas. Essas distintas manifestações da violência precisam ser amplamente debatidas, a fim de que possamos esclarecer nossos posicionamentos a respeito do tema, e, a partir disso, podermos encontrar formas coerentes de agir e de combater toda forma de ação violenta. 3.3 VIOLÊNCIA INFANTIL E INTRAFAMILIAR E O ECA A violência sempre existiu. Com a educação, a cultura e a ética, esperava-se, naturalmente, uma diminuição dessa violência. Ela hoje existe em sua forma primária, que é a agressão física, o assassinato e outras formas, como a má distribuição de renda, a fome, as guerras, a espionagem, a perda absoluta do humanismo. Entretanto, em se tratando de violência contra a criança ou adolescente, há que se reconhecer que a estrutura psicológica do ser é extremamente afetada, acarretando consequências desastrosas para a vida da vítima, que geralmente a acompanha ao longo da vida. 28 Não há dúvida de que o Estado brasileiro reconhece a criança e adolescente como pessoas humanas especiais, afirmando assim, junto com a comunidade internacional a necessidade de se garantir a toda criança proteção integral para o seu pleno desenvolvimento. A Constituição Federal de 1988 expressa esse reconhecimento, ao consagrar a doutrina da proteção integral da criança e do adolescente, como prevê o seu artigo 227, caput, do seguinte teor: Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988). Para tanto, uma das inovações trazidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, consiste, justamente, na possibilidade de cobrar do Estado, por intermédio, por exemplo, da interposição de uma Ação Civil Pública, o cumprimento de determinados direitos como o acesso à escola, a um sistema de saúde, a um programa especial para pessoas com doenças físicas e mentais, entre tantos outros previstos na Constituição Federal e regulamentados pela Lei nº 8.069/1990. Segundo Santos, Do ponto de vista legal, percorremos longo caminho até a promulgação em 1988 da nova Constituição Federal, resumindo-se o período anterior como de tutela da criança e do adolescente em situação de risco, e não como de proteção da sua dignidade e direitos. Um breve olhar nas Constituições brasileiras que antecederam a atual revela que a Carta Política de 1934 é aquela que, por primeiro, traz disposições específicas sobre a idade limite para o trabalho e sobre o amparo à infância. É também a primeira que dedica uma sessão, o Título V, à família, à educação e à cultura. As posteriores Cartas Políticas seguem essa linha sem muitas inovações até a de 1988, que institui o novo paradigma da proteção integral. (SANTOS, 2007). Houve, portanto, valiosa mudança com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a expedição, em 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pode-se dizer que, para fazer valer o artigo 227, foi promulgada em 13 de julho de 1990, a Lei Federal nº 8.069 - ECA. A prioridade absoluta na proteção integral devida à criança e ao adolescente, expressa na Constituição, impõe a ação do Estado na sua efetivação, providenciando as políticas públicas necessárias para que o seu desenvolvimento se faça de forma plena. 29 A sociedade vem evoluindo com o tempo, o Estado de Direito se fortaleceu, a educação, os costumes, o direito a uma vida digna, o respeito à individualidade passou a ser mais observado. Contudo, mesmo nos países ocidentais, os abusos, a violência endêmica contra as crianças e adolescentes é um fato real que a sociedade teima em não reconhecer em toda a sua dimensão trágica. A violência dos familiares é considerada um fator que estimula crianças e adolescentes a passar a viver nas ruas. Em muitas pesquisas feitas, elas referem maus tratos corporais, castigos físicos, conflitos domésticos e outras agressões como motivo de sua decisão para sair de casa. Os espancamentos são as agressões mais comuns, sendo que alguns agressores chegam a amarrar meninos e meninas com cordas ou correntes e espanca-los com objetos como o velho cinto, vassouras e até mesmo antenas, panelas de pressão e martelos. Os espancamentos deixam marcas físicas como hematomas, cortes e ossos quebrados, além de lesões nos punhos e tornozelos quando a vítima é amarrada. Os espancamentos são muitas vezes acompanhados de outros atos de sadismo, como queimaduras com pontas de cigarro, água fervendo e outros objetos da casa. São comuns ainda casos de adultos que causam ferimentos com facase canivetes, batem com a cabeça ou atiram a criança contra a parede, o que em muitos casos pode levar à morte. Crianças e adolescentes vítimas de negligência dos adultos responsáveis por elas também apresentam marcas físicas deste tipo de agressão. A falta de comida pode acarretar anemia e outras doenças associadas à escassez de nutrientes. Sem água para beber a criança pode chegar à desidratação. 30 CAPITULO III 4. A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E O SERVIÇO SOCIAL O percurso da Assistência Social em construir-se como Política Pública, definida em um marco regulatório formal, passa pela ampliação do seu sentido enquanto ação interventiva e capacidade de articulação/inserção em outros campos de intervenção, estabelecendo um caráter de inter-relação e acessos de seus usuários a outras políticas e à reconstrução, no imaginário social, da percepção de direto de cidadania, da pobreza e das ações de Estado/governos. Nesse sentido a Política Nacional de Assistência Social de 2004, constitui-se um esforço e esboço de afirmação da assistência social como política pública, por definir de forma clara as bases operacionais para construção/consolidação do Sistema único de Assistência Social, com particular importância, para o presente texto, nas bases regulatória e condutores de ações de proteção social à crianças e adolescentes vitimadas pelo trabalho infantil, acolhendo em sua realização ações complementares de para a efetivação e efetividade. 4.1 DETERMINAÇÕES EM TORNO DA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR Podemos perceber que quando falamos de violência doméstica, significa dizer que estamos tratando de um tema que se refere ao sofrimento e à dor alheia, e que em função disso devemos nos preocupar em analisar de uma forma ampla e complexa. Não temos uma causa única para esta demanda, porque ela ocorre de várias maneiras e em vários níveis, e que às vezes surpreendem até aqueles que estão acostumados a lidar com esses casos. Mas existem determinações que são importantes para que ajudem a analisar a complexidade da violência intrafamiliar contra criança e adolescente. Um grande fator, que influencia a sociedade no geral sem que ela perceba, é a nossa cultura de violência que vem desde a antiguidade. São valores e normas pregados de uma maneira que parecem ser a coisa mais correta do mundo, um exemplo é aquele ditado popular muito conhecido ―os pais sabem o que é melhor para seus filhos‖, assim submetendo as crianças à vontade deles; outro também muito falado é ―que o lar é sempre um lugar 31 seguro e de responsabilidade‖, mas basta analisar as estatísticas da quantidade de negligência ocorrida com crianças e adolescentes para se provar o contrário; e por último o ditado que ―os filhos são propriedade exclusiva dos pais‖, que somente eles podem mandar e desmandar, fazer o que quiser, mas segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente o Estado e a sociedade também participam destas obrigações. Além dessa cultura de violência, temos também uma cultura social machista que passa por gerações e que abrange a todos, sem exceção de nenhuma pessoa, que diz que o homem é o poder da família, cabe a ele sustentar seus filhos e esposa, só que hoje é muito comum vermos mulheres trabalhando, e homens desempregados. Nota-se que diante desta situação, o homem sem emprego ou com um salário muito pequeno, não tendo condição de se impor de maneira natural, conforme fora traçado de forma abusiva e masculina pela sociedade, assim ele utiliza a vantagem de massa corporal para se impor diante dos seus familiares de forma violenta. Essa desproporção surge com base em dois motivos de grande atuação na economia nacional que são a pobreza e o desemprego. Porém, cabe-nos lembrar, como assegura o pediatra Lauro Monteiro (2001,84p), ―esse problema não é de exclusividade dos pobres, analfabetos, drogados ou doentes mentais, ainda que a maioria dos casos que chegam à justiça seja de pessoas menos favorecidas‖. Conforme fora dito, o homem para se manter na sua posição de chefe de família, utiliza-se da violência contra sua família, porém antes de utilizar desta violência para manter seu ―status‖ o agressor procura abrigo no álcool. E em muitos casos os agressores depois de se recuperarem do efeito do álcool, ficam totalmente pasmos com sua conduta. Um outro determinante é certamente o distúrbio psicológico, podendo agredir pessoas que convivem diretamente com ele e que ele ama, porém ele pode ser evitado desde que alguém descubra o diagnóstico antes. E por fim, o fator que mais ocorre dentre todos os casos, é o ciclo de violência que passa por gerações, crianças violentadas no passado no âmbito familiar, é normal que quando cresçam ocorra violência na sua família atual. Podemos dizer que não importa a causa da violência doméstica, esta barbaridade deve ser compelida, desde que haja por parte da sociedade e do Estado a vontade de pôr fim à violência intrafamiliar contra a criança e adolescente. 32 4.2 POLÍTICAS E PRÁTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE. As políticas e as práticas de proteção social da criança e do adolescente, no Brasil, são decorrentes de construções demarcadas por condições históricas, sociais e econômicas, e estão implicadas em contextos singulares, culturais e estruturalmente complexos. Constituem um processo entrelaçado às demais questões sociais. Neste capítulo procuraremos perceber como articulam-se historicamente estas práticas de proteção social e as políticas sociais em face da violência intrafamiliar contra a criança e o adolescente. Estes, em nossa sociedade, recebem tratamento relacionado à construção do espaço social que configura a política de proteção social, em função dos ―dois princípios de diferenciação do capital econômico e do capital cultural‖ (Bourdieu, 1996:19). A reflexão sobre esta trajetória histórica exige um amplo esforço de compreensão, pois a consolidação das políticas de proteção social, em sua complexidade, indica que ―a posição ocupada no espaço social, isto é, na estrutura de distribuição de diferentes tipos de capital, que também são armas, comanda as representações desse espaço e as tomadas de posição nas lutas para conservá-lo ou transformá-lo‖ (BOURDIEU, 1996: 27). É possível destacar a inter-relação entre as políticas de proteção social para a infância, em cada momento histórico, com o ordenamento social hegemônico no mesmo contexto. Contudo, não se pode absolutizar esta vinculação, nem descuidar-se, para que o olhar sobre estes fatos históricos não se torne simplista e determinista, mas, contrariamente, reconheça, além dos fatores objetivos, a produção da subjetividade inerente à construção dos sujeitos e desses próprios espaços sociais. A proteção social pode ser pontuada enquanto uma estruturação, processo em permanente construção, que engloba uma multiplicidade de proposições sociais, institucionalizadas ou não, visando o fomento de ações societárias imbricadas a diferentes contextos sociais. As práticas de proteção social podem configurar-se como de longa duração, consagradas à atenção com a vida humana, e serem exercidas em níveis de sociabilidade primário e secundário. 33 A proteção social primária, mais próxima, é exercida por familiares e vizinhos, e pode ser contextualizada pela esfera privada. Determinadas regulações da sociabilidade primária ―ligam diretamente os membros de um grupo a partir de seu pertencimento familiar, da vizinhança, do trabalho e tecem redes de interdependência sem a mediação de instituições específicas‖ (Castel, 2001: 48). Considera-se proteção social secundária aquela desempenhada por instituições públicas e ou privadas, ―(...) sistemas relacionais deslocados em relação aos gruposde pertencimento familiar, de vizinhança, de trabalho. A partir desse desatrelamento, vão se desenvolver montagens cada vez mais complexas que dão origem a estruturas de atendimento assistencial cada vez mais sofisticadas‖ (Castel, 2001: 57). O tratamento hegemônico dado à infância e juventude expressa-se, também, pelo rearranjo, pelo atravessamento e pelo intercâmbio das práticas de proteção social nesses níveis primário e secundário. ―As proteções sociais foram inseridas nas falhas da sociabilidade primária e nas lacunas da proteção próxima‖ (Castel, 2001: 507). Mais sofisticadas‖ (Castel, 2001: 57). O tratamento hegemônico dado à infância e juventude expressa-se, também, pelo rearranjo, pelo atravessamento e pelo intercâmbio das práticas de proteção social nesses níveis primário e secundário. ―As proteções sociais foram inseridas nas falhas da sociabilidade primária e nas lacunas da proteção próxima‖ (Castel, 2001: 507). As constantes violações dos direitos das crianças e adolescentes compõem o cenário de desigualdade socioeconômica que caracteriza as questões sociais e a proteção social no contexto societário. As leis, a elaboração de um Estatuto, por si só, não é suficientes para uma efetiva transformação societária. Podem, enquanto instrumento, contribuir para o ―empoderamento‖ dos sujeitos sociais que demandam por novas formas de enfrentamento e de regulação face situações conflituosas. Convive-se permanentemente com a tensão entre as conquistas empreendidas e as tentativas de conformidade às normas anteriormente aceitas como parâmetros de ações societárias e defendidas por grupos de interesses. Não raro, constata-se a ênfase dada aos antigos paradigmas de intervenção. A política de proteção social que se estabelece em torno da infância e adolescência ainda exige atenção, apesar das diversas ações empreendidas e 34 da conquista paradigmática da consolidação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Esta trajetória, por sua complexidade, apresenta uma tensão entre a confirmação e concretização das rupturas preconizadas. As questões basais que conformam as principais dificuldades para a efetiva aplicação do ECA encontram-se fundamentadas em processo histórico-sócio-econômico-cultural e também pelas sérias questões sociais que as atravessam. A incorporação da questão social da infância e juventude na agenda de proteção social é um processo recente, do qual, porém, se consubstancia o processo inverso, a vulnerabilidade social. Castel (2001) analisa esta questão tendo como foco inicial o enfraquecimento da condição salarial e a precarização do trabalho, que traçam o atual contexto histórico da dinâmica societária. ―A exclusão não é uma ausência de relação social, mas um conjunto de relações sociais particulares da sociedade tomada como um todo‖ (Castel, 2001: 569). 4.3 O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA O Assistente Social tem como objeto de trabalho a questão social, que se constitui nas expressões de desigualdade social, gestadas por uma sociedade capitalista neoliberal. Frente a essas expressões, o profissional utiliza do conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo para pensar formas eficazes de intervenção. O objetivo da prática profissional é viabilizar direitos e ampliar a cidadania, por meio de uma melhor qualidade de vida. O Assistente Social, no desempenho prático da profissão, trabalha com inúmeras manifestações da questão social, tais como: falta de acesso à saúde, educação, moradia, lazer, trabalho, alcoolismo, conflitos familiares, violência. Basicamente, o profissional trabalha com as pessoas que se encontram em vulnerabilidade social, por estarem fragilizadas em decorrência da violação de direitos. No entanto, seu fazer profissional não se restringe aos pauperizados, intervindo também na classe média alta. A violência, nas suas mais diversas facetas - violência estrutural, social, política, física, psicológica, sexual, negligência, abandono - se constitui como objeto de estudo e intervenção do profissional do Serviço Social. O Assistente Social é um profissional que possui 35 qualificação, conhecimento complexo, criticidade, para intervir nas diversas faces da violência. Diante de uma situação de violência, o profissional buscará primeiramente produzir um conhecimento da realidade, entendendo as causas/raízes do problema, em seguida utilizando seus instrumentais técnicos passará a adotar formas de intervenção, que possam amenizar ou solucionar a situação. Dentre os instrumentos de trabalho, o profissional poderá utilizar a escuta, visita, entrevista, estudo social, orientação, produzindo, através destes, o conhecimento necessário para dar conta de seus atendimentos, visando um processo interventivo eficaz. Os encaminhamentos devem primar pela garantia de acesso aos direitos sociais e pelo atendimento de forma integral, posto que o sujeito social é um todo e não fragmentado. Um dos mecanismos utilizados pelo Assistente Social é a implantação, formulação e execução de políticas públicas, pois, entende-se que é por meio destas que o sujeito tem acesso aos direitos de cidadania. O trabalho técnico do Assistente Social encontra certas limitações. Como foi mencionado acima, esta procura produzir um conhecimento profundo do problema social para então intervir. A dificuldade se encontra no momento, em que se percebe que a raiz do problema está no sistema econômico vigente. O Capitalismo Neoliberal tem como objetivo central, a acumulação de capital, este é concentrado nas mãos de poucos, o que gera uma desigualdade social alarmante. Há pessoas vivendo com muito e outras que não possuem nem o mínimo para garantir a sobrevivência. Portanto, frente à violência o Assistente Social tem o dever de pensar formas interventivas eficazes, buscar, cobrar do poder público políticas públicas, contribuindo para o bem-estar social, a cidadania e a dignidade humana, voltando suas práticas para a justiça social, igualdade, melhores oportunidades para todos os sujeitos. A legislação brasileira garante o respeito à condição peculiar de desenvolvimento integral da criança e do adolescente, mais na realidade não é compreendida e praticada como deveria pelos pais e responsáveis. É neste sentido que o assistente social vai atuar, a partir de seu projeto ético-político, do seu conhecimento teórico metodológico, lutar contra toda e qualquer forma de violação dos direitos sociais da criança e do adolescente, inclusive a violência doméstica. Um problema muito difícil, no caso de violência doméstica, é a denúncia. Muitas vezes a violência ocorrida não vem à tona, porque o indivíduo vitimizado 36 possui medo, desconhece seu direito de denunciar, conforma-se com a situação e se coloca como merecedor da violência, ou quando outros indivíduos que assistem a violência ficam com receio de denunciar por ser seu familiar/parente. Porém, existem várias fontes de notificação da violência, instituições privadas e públicas, que ao conhecerem a denúncia encaminham- na imediatamente ao Conselho Tutelar que trabalha em conjunto com outras instituições, onde avaliará o caso, sua gravidade, fazendo um diagnóstico multiprofissional, detectando se é uma situação de alto risco ou médio risco, para poder intervir. O foco principal do assistente social é a família e a prioridade maior é a proteção da criança ou adolescente, para que sua intervenção mantenha a integridade do menor. Sua intervenção ocorre em vários âmbitos, como jurídico, médico, social, psico-terapêutico, variando de acordo com a gravidade da demanda. Em primeiro lugar se busca a restauração dos vínculos familiares, mas em outros casos, isso não é possível devido a várias circunstâncias, então a criança é retirada da família e enviada para a adoção, programa defamília substituta, ou quando possível ela fica com algum familiar que não seja o agressor. É um trabalho muito delicado, pois envolve as emoções da criança, muitas vezes mesmo sendo agredida, ela se recusa a ser levada para outro lugar, e o profissional tem que ser muito cauteloso para não prejudicar essa criança ou adolescente. Muitos casos de acordo com sua complexidade necessitam do apoio policial para que o assistente social consiga intervir. Por esse motivo são muito importantes as campanhas de capacitação aos profissionais que iram atuar com a vítima, valorizando o posicionamento crítico, metodológico, a operacionalização, o incentivo dos projetos de família substituta, enfim uma prevenção para que estejam preparados para intervir de forma adequada. Além de atuar com a violência ocorrida, e seguir as medidas que ele produz como vimos acima, o assistente social também atua de forma preventiva; um trabalho muito importante, pois a sociedade não tem uma pré-compreensão dos direitos humanos em sua amplitude e complexidade, e há uma cultura de violência que se manifesta em formas multifacetadas que obscurecem o modo de viver na sociedade no que se refere ao tratamento adequado que é dispensado para as crianças e adolescente. 37 Ele atua na prevenção através de campanhas gerais, específicas, no esclarecimento dos pais de como educar, na valorização da denúncia, na informação dos direitos, para que se possa quebrar com essa cultura de violência, e submissão, que existe e é uma das principais causas de violência contra criança e adolescente. 4.4 O TRABALHO DO ASSISTENTE NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES A ação do Serviço Social se volta no enfrentamento das condições sociais, seja ela nos mais variados campos, visando intervir sobre as situações de vulnerabilidade e risco social, contribuindo para uma abordagem global que vai além da demanda apresentada. Dentro desta perspectiva é que cabe ao Assistente Social desenvolver um papel de protagonista nesse novo modelo societário, no sentido da promoção da cidadania, da construção e do fortalecimento de redes sociais e de integração entre as ações e serviços. No enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, são colocados grandes desafios aos assistentes sociais principalmente no que diz respeito à consolidação do ECA, pois ainda hoje existe com certa força a inversão de valores, que permite a visão destes como seres inferiores e passíveis de qualquer forma de violência. O novo olhar que o ECA proporciona acerca da criança e do adolescente, exige que aconteça um trabalho sócio- educativo à toda a sociedade de modo que entendam essas crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. Diante de tal demanda o Assistente Social deve ter claro a importância da família e de seu contexto histórico para se entender os elementos que contribuíram para que se chegasse a situação de violência. O profissional realiza um trabalho com essas famílias, a partir da acolhida, reuniões individuais e grupais, visitas domiciliares e um acompanhamento sistemático de modo a orientá-los e encaminhá-los aos serviços necessários, pois mesmo a violência não ocorrendo no âmbito familiar, é ali que crianças ou adolescentes vitimizados encontrarão proteção e vínculos de afetividade, daí a importância de se conhecer o meio social em que essas vítimas se encontram. O atendimento deve ter como princípios a ética e o respeito de ambas as partes, com uma postura do profissional de acolhimento, de modo a estabelecer vínculos de confiança. 38 Sendo assim, o papel do Assistente Social diante de tal demanda se mostra de suma importância no que diz respeito ao conhecimento da realidade desses sujeitos, os fatores sócio-econômicos, éticos e culturais, e na articulação necessária com o seu meio familiar e comunitário, assim como com os demais serviços de enfrentamento, observando os possíveis fatores que levaram a presente situação, para a partir daí buscar alternativas que tornem possível o rompimento com esse ciclo. A violência contra crianças e adolescentes é algo presente em nossa sociedade há muito tempo, diante da relação de inferioridade e de poder, que justificava tais ações realizadas pelos adultos. Somente a partir de conquistas como o ECA, em 1990, é que crianças e adolescentes passa a ter garantido seus direitos. Porém, mesmo diante de seus direitos garantidos por lei, crianças e adolescentes ainda sofrem com os mais diferentes tipos de violência, como a violência sexual, que na sua maioria das vezes ocorre no ambiente intrafamiliar, o que torna mais difícil o conhecimento dessa violência, a partir de ameaças feitas pelo agressor e por muitas vezes a família não acreditar que este fato esteja ocorrendo. Há também formas de violência sexual que podem ocorrer fora da família, ou seja, extrafamiliar, como a exploração sexual, que envolve a venda do corpo de crianças e adolescentes. Diante dessa realidade ainda vivenciada em nossa sociedade, é que se faz necessário a mobilização por parte do Estado, da sociedade e da família em garantir que os direitos estabelecidos sejam realmente efetivados, a partir de serviços que busquem o atendimento a essas vítimas de modo a superar a situação vivenciada e o rompimento com esse ciclo. Estabelecendo um trabalho articulado e multidisciplinar que garanta que essa criança ou adolescente seja atendido em todos os aspectos e meios que os envolvem, assim como a preocupação em restabelecer e fortalecer os vínculos familiares. Portanto, a violência contra crianças e adolescentes é algo que merece uma maior atenção por parte de toda a sociedade, por se tratar da violação de direitos de sujeitos que se encontram em situação de pleno desenvolvimento. 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreende-se que a conceituação dos vários autores sobre violência intrafamiliar contra criança e adolescente é de muita relevância, uma vez que os mesmos nos mostram que não existe apenas uma, mas distintas maneiras de pensar a violência no ambiente familiar e suas tipificações. A violência intrafamiliar para com acriança e o adolescente é um grave problema de saúde pública, que ainda não é enfrentado com a responsabilidade que merece e precisa para ser combatido. A partir do exposto neste trabalho têm-se como considerações finais que a violência doméstica contra crianças e adolescentes, apesar de ser reconhecida legalmente por segmentos sociais, ainda possui uma cultura ultrapassada, onde a maior vítima são os menores. Esse tipo de violência traz graves consequências à vítima, traz também às pessoas que estão ao seu redor, pois geralmente quando a criança é agredida pelo pai, a mulher também se torna vítima. Infelizmente esse tema é pouco explorado em termo de pesquisas, contribuindo assim para a impunidade dos agressores. Diante disso, aprofundamos nossos conhecimentos a respeito dos direitos da criança e do adolescente, mostrando porque a ação violenta é uma violação dos direitos sociais, e analisamos o trabalho do assistente social em cima disso, que por sinal é um trabalho muito delicado, e que não recebe o devido reconhecimento. A situação social atual necessita da intervenção do Estado na via privada, pois a família como instituição tornou-se ineficaz para atingir seu fim social e atender as próprias necessidades. A criança como ser mais frágil de toda relação tornou-se ainda mais indefesa, pois o seio que deveria prover segurança e estabilidade é o que vem provendo desestrutura. A violência sofrida pelas crianças seja física, sexual, psicológica ou negligência não pode ser classificada em graus, não podemos classificá-las como de maior ou menor importância. Todas são agravantes a vida e desenvolvimento da criança devendo ser tratadas.
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