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TCC O DESAFIO DO SERVfIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR INFANTIL

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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO 
SERVIÇO SOCIAL 
 
JULIANA GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
 
O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA 
INTRAFAMILIAR INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARANTÃ DO NORTE 
2021.2 
 
 
JULIANA GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA 
INTRAFAMILIAR INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, como 
requisito para a obtenção de Título de Bacharel em 
Serviço social. 
 
Orientadora: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARANTÃ DO NORTE 
2021.2 
 
 
 
 
 O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À VIOLÊNCIA 
INTRAFAMILIAR INFANTIL 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR – 
Universidade Norte Pitágoras Unopar, no Centro de Ciências Sociais, como 
requisito parcial para a obtenção do título de Serviço Social, com nota final igual 
a _______, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores: 
 
 
______________________________________ 
Prof. Orientador - 
Universidade Norte do Paraná 
 
______________________________________ 
Prof. Universidade Norte do Paraná 
 
______________________________________ 
Prof. Universidade Norte do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
Dedico este trabalho a minha família e amigos que contribuíram em minha formação 
acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Após tantos obstáculos enfrentados ao longo desta caminhada, com 
força de vontade, perseverança e acima de tudo muito comprometimento finalmente 
consegui realizar este feito, no entanto nada teria conquistado se não fosse à 
presença de alguns envolvidos que me ajudaram durante esta minha trajetória. 
Agradeço a todos que contribuíram no decorrer desta jornada, em especialmente: A 
Deus, a quem devo minha vida. A minha família que sempre me apoiou nos estudos 
e nas escolhas tomadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As chances de uma criança se tornar um adulto revoltado é proporcional a 
violência que ela é exposta ainda pequena. 
Felipe Guedes 
 
 
 
 
NOME. O Desafio do Serviço Social frente a Violência Intrafamiliar Infantil, 
2021. 41 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho tem o objetivo de discorrer sobre a violência sofrida pela criança dentro 
da família bem como as consequências que a violência acarreta em sua vida e 
desenvolvimento, ao mesmo tempo estudar qual o papel do assistente social em sua 
intervenção nesta demanda. Assim para este estudo iremos nortear como 
metodologia à pesquisa bibliográfica A família como instituto de maior importância e 
primeira provedora de conhecimento de cada ser merece realce no âmbito jurídico. 
Através de uma análise dos conceitos e métodos adotados pelo legislador numa 
abordagem da Constituição Federal 1988, Código Civil 2002 e o Estatuto da Criança 
e do Adolescente podem ver se a família e a sociedade cumprem seu fim social em 
relação à criança. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90, de 13 de 
julho de 1990), completará quatorze anos de promulgação, deixando bastante nítida 
a necessidade de estabelecimento de prioridades para as crianças e adolescentes 
sem grandes divagações político-científicas no tocante à questão. Como se pode 
ver, o Estatuto da Criança e do Adolescente constitui uma legislação de vanguarda 
no tocante à defesa dos direitos dos jovens, fornecendo diretrizes básicas para o 
exercício dessa tutela nos mais variados níveis, tanto pelo Poder Público como pela 
iniciativa privada, em especial pela comunidade em que vivem os jovens em 
situação de risco. 
 
 
Palavras-chaves: Criança. Violência Intrafamiliar. Negligência. Violência Sexual. 
Assistente Social 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NAME. The Challenge of Social Work against Child Violence, 2021. 41 sheets. 
Course Completion Work (Bachelor of Social Work). 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This work aims to discuss the violence suffered by children within the family and the 
consequences that violence causes in your life and development at the same time 
studying the role of social worker in his speech this demand. So for this study we will 
guide how the methodology literature The family as most important institute and one 
provider of knowledge of each being worth highlighting the legal framework. Through 
an analysis of the concepts and methods adopted by the legislature in an approach 
of the Federal Constitution in 1988, Civil Code 2002 and the Statute of Children and 
Adolescents can see the family and society fulfill their social purpose for the child. 
The Statute of Children and Adolescents (Law No. 8069/90 of 13 July 1990), 
complete fourteen-year-enactment, leaving quite clear the need to establish priorities 
for children and adolescents without major political and scientific ramblings regarding 
the question. As you can see, the Statute of Children and Adolescents is a leading 
law regarding the protection of the rights of young people, providing basic guidelines 
for the exercise of that supervision at various levels, both by the Government and the 
private sector, especially the community of the young people at risk. 
 
 
 
 
 
Keywords: Child. Intra-family Violence. Negligence. Sexual Violence. Social worker 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1-INTRODUÇÃO........................................................................................................09 
 
CAPÍTULO I 
2- A Família Base da Sociedade..............................................................................11 
2.1 A Criança e o Adolescente no seio da Família....................................................13 
2.2 A Criança e o Adolescente como Direito ao Convívio Familiar............................16 
 
CAPITULO II 
3- A Violência Intrafamiliar......................................................................................17 
3.1 As Formas de Violência.......................................................................................18 
3.2 Violência Física, Negligência, Abandono, Violência Psicológica e Violência 
Sexual: Distintas Faces............................................................................................. 23 
3.3 Violência Infantil e Intrafamiliar e o ECA..............................................................25 
 
CAPITULO III 
4. A Violência Intrafamiliar e o Serviço Social.......................................................27 
4.1 Determinações em torno da Violência Intrafamiliar .............................................27 
4.2. Politica e Práticas de Proteção Social para o Enfretamento da Violência 
Intrafamiliar Contra a Criança e o Adolescente..........................................................29 
4.3 O Fazer Profissional do Assistente Social Frente à Violência .............................31 
4.4 O trabalho do assistente social no enfrentamento a violência sexual contra 
crianças e adolescentes.............................................................................................34 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................36 
 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................39 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalho de conclusão de curso de bacharel em Serviço Social é 
apresentado a Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, que tem como tema: 
O Desafio do Serviço Social frente a Violência Intrafamiliar Infantil. E tem como 
objetivo de discorrer sobre a violência sofridapela criança dentro da família 
bem como as consequências que a violência acarreta em sua vida e 
desenvolvimento e o papel do Assistente Social e suas intervenções frente a 
violência. E para discorrer sobre o conteúdo apresentado é necessário traçar 
os objetivos específicos tais como: realizar um estudo sobre a violência sexual 
infantil, compreender o significado da violência às crianças, entender quais os 
aspectos psicológicos e sociais, descrever as ações de proteção a crianças 
vitimadas pela violência. Este trabalho tem ainda a finalidade de contribuir para 
a formação de profissionais compromissados com a sociedade na 
contemporaneidade e as questões que envolvem sua área de atuação; 
profissionais que contribua para a reformulação e reconstrução de valores 
sociais e culturais e assim eliminar todas as formas de exclusão, preconceito e 
violência colaborando na construção de novos tempos. 
Para o desenvolvimento deste trabalho foi necessário usar de 
metodologia de pesquisa bibliográficas, através de arquivos, apostilas, sites, 
artigos e estudos que abordassem o tema proposto. Tendo como 
embasamentos principais; o Estatuto da criança e do Adolescente – ECA, a 
Constituição federal de 1988. 
Embora existam relações violentas, o ser humano não foi criado para se 
relacionar vivendo, sofrendo ou suportando algum tipo de violência, mas sim 
para viver em paz, que é a consequência do amor. Pensando assim, o ideal 
seria que todas as crianças e adolescentes tivessem a oportunidade de crescer 
e se desenvolver dentro de uma família saudável. Entendendo por família 
saudável aquela que valoriza a interação entre seus membros e fomenta neles 
o enfrentamento das crises, através do diálogo, e a construção de um sentido 
de vida, o qual os impelirá nos momentos propícios e nos de pressão, solidão e 
sofrimento (GRÜDTNER, 1997). 
O Direito de Família alcança nova dimensão por intermédio da 
Constituição de 1988, dando origem ao surgimento de novos textos legais, que 
acompanham o processo de transformação da sociedade, ampliando as formas 
10 
 
de composição familiar, garantindo a todos os seus membros proteção, 
segurança e dignidade humana.bCom a ampliação dos direitos de cidadania 
promulgados pela Constituição (1988), o reconhecimento das crianças e 
adolescentes como sujeitos de direitos, expresso pelo Estatuto da Criança e 
Adolescente (1990) e, por último, o Código Civil (2002), promoveram-se 
alterações significativas na dimensão da legalidade do direito de famílias, pois 
é ampliada a concepção de família e, consequentemente, a proteção a ela 
destinada, de modo a contemplar os diferentes arranjos familiares. 
Ao referirmo-nos a estes arranjos, estamos assim compreendendo as 
diferentes configurações familiares que emergem na sociedade e que têm o 
vínculo afetivo como sua principal característica, visto que não podemos usar 
qualquer predefinição ou formatação para designar definitivamente o que é a 
família hoje. Podemos encontrá-la com variados matizes: pais e filhos, filhos 
com apenas um dos pais, casais heterossexuais sem filhos; casais em relação 
homoafetiva com ou sem filhos, etc. O Direito de Família alcança nova 
dimensão por intermédio da Constituição de 1988, dando origem ao surgimento 
de novos textos legais, que acompanham o processo de transformação da 
sociedade, ampliando as formas de composição familiar, garantindo a todos os 
seus membros proteção, segurança e dignidade humana. 
Com a ampliação dos direitos de cidadania promulgados pela 
Constituição (1988), o reconhecimento das crianças e adolescentes como 
sujeitos de direitos, expresso pelo Estatuto da Criança e Adolescente (1990) e, 
por último, o Código Civil (2002), promoveram-se alterações significativas na 
dimensão da legalidade do direito de famílias, pois é ampliada a concepção de 
família e, consequentemente, a proteção a ela destinada, de modo a 
contemplar os diferentes arranjos familiares. 
Ao referirmo-nos a estes arranjos, estamos assim compreendendo as 
diferentes configurações familiares que emergem na sociedade e que têm o 
vínculo afetivo como sua principal característica, visto que não podemos usar 
qualquer predefinição ou formatação para designar definitivamente o que é a 
família hoje. Podemos encontrá-la com variados matizes: pais e filhos, filhos 
com apenas um dos pais, casais heterossexuais sem filhos; casais em relação 
homoafetiva com ou sem filhos, etc. 
 
 
 
 
11 
 
CAPÍTULO I 
 
2- A FAMÍLIA BASE DA SOCIEDADE 
 
 
Neste primeiro capitulo iremos conceituar e contextualizar sobre a 
família como base principal da sociedade e como um lugar de proteção e não 
de violência. 
A família é a instituição mais antiga da humanidade. Durante vários 
séculos a família patriarcal foi constituída como a organização familiar básica 
do povo brasileiro, no entanto, com o advier dos tempos à configuração de 
família vem sofrendo grandes modificações. Inúmeros fatores econômicos, 
sociais e culturais contribuíram para as alterações na dinâmica familiar, aqui 
consideradas como as relações que estabelecem as particularidades 
familiares. Apesar da resistência do patriarcalismo, pode-se afirmar que as 
famílias de hoje não mais possuem uma rigidez hierárquica, com controle 
exercido pelo homem. Devido às transformações ocorridas na sociedade 
contemporânea, às quais permitem que os papeis familiares não sejam mais 
pré-estabelecidos pela sociedade. 
Conceituando a palavra família, historicamente o termo família é 
derivado do latim famulus, originado na Roma Antiga, que quer dizer ―escravo 
doméstico‖, ou seja, era designado somente para o grupo de escravos 
pertencentes a um mesmo homem, onde esta relação estava imbricada com os 
trabalhos na agricultura. O patriarca desta composição familiar tinha grande 
poder sobre todos os membros e detinha os direitos de vida e morte sobre eles 
(ENGELS, 1984 p.95). Segundo Áries, a família era: 
 
[...] uma realidade moral e social, mais do que sentimental. [...] 
a família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, 
e, quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava 
no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de 
linhagem (ÁRIES, 1981, p.231). 
 
No Brasil, Bruschini (2000), aponta que os primeiros séculos de 
colonização foram marcados pelo modelo dominante de organização familiar 
tradicional, patriarcal, extensa, rural que resultou da adaptação do modelo de 
família trazido pelos portugueses ao modelo sócio-econômico em vigor no país. 
Este estilo de família impôs seu domínio na Colônia, reprimindo os indígenas e, 
mais tarde com a importação dos escravos negros, os portugueses foram 
devastando formas familiares próprias desses grupos que aqui chegavam. 
12 
 
Nesse contexto a família nuclear é onde ocorre o desenvolvimento das 
relações íntimas e afetuosas. 
O amor torna-se a base, que solidificará esta relação. A figura do pai é 
vista como autoridade responsável pelo sustento da família, a mãe é aquela 
que possui o amor incondicional, com ações voltadas à maternidade e 
domesticidade, e os filhos deveriam respeitar os pais para merecer seu amor. 
Em todos os conceitos apresentados é comum notar que a família se apresenta 
como uma estrutura social, uma construção humana que se consolida, 
transformando-se conforme a influência das relações sociais, sendo, portanto, 
historicamente construída. 
A família acometida enquanto unidade doméstica, ou seja, aquela que 
provê o sustento, no diz respeito à alimentação, vestuário, habitação, repouso. 
No passado, o grupo familiar, era uma unidade de produção, encarregando-se, 
ela própria, da produção dos meios de sobrevivência. 
A família proporciona o marco adequado para a definição e conservação 
das diferenças humanas, dando forma objetiva aos papéis distintos, mas 
mutuamente vinculados, do pai, da mãe e dos filhos, que constituem os papéis 
básicosem todas as culturas. 
Enquanto instituição, a família pode ser entendida como um conjunto de 
normas e regras, historicamente constituídas, que governam as relações de 
sangue, adoção, aliança, e determinam a filiação, os limites do parentesco, da 
herança e do casamento. O conjunto de regras e normas está contido nos 
costumes e na legislação, apresentadas no Código Civil. 
Conforme Osório (1996), a família também pode ser entendida como um 
conjunto de valores determinados como ideologia, estereótipos, preceitos, 
representações sobre o que ela deve ser. Ao longo da história no mundo 
ocidental, as teorias de como a família deve ser couberam inicialmente à igreja, 
em seguida ao Estado, e, finalmente, à própria ciência. 
Os referidos organizaram várias regras e recomendações de como 
deveria ser o comportamento das pessoas. Atualmente são os meios de 
comunicação que divulgam e ―ditam‖ novas ideias, orientações e estudos 
comportamentais relativos à família e seus membros. 
Desta forma, é importante observar que a configuração familiar modifica 
conforme o momento histórico, fatores sócio-políticos, econômicos, religiosos e 
culturais, estando o conceito de família associado ao contexto social no qual 
está inserido. 
13 
 
 
2.1 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO SEIO DA FAMÍLIA 
 
Tendo a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227, determina que 
os seus direitos sejam assegurados, tais como o direito à vida, saúde, 
alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, 
liberdade e convivência familiar e social, que são inerentes à cidadania, e 
proporcionem condições de liberdade e dignidade. Segundo Genofre (1997) 
afirma que, 
 
Cabendo a família a responsabilidade pela criação, educação, 
desenvolvimento e formação da criança, este núcleo de adultos 
responsáveis representa a esperança no exercício de ações 
preventivas necessárias, a base do compromisso do país com 
seu futuro. Pena que as políticas sociais públicas não estejam 
implementadas, efetivamente em todas as áreas, para suprir as 
deficiências da família, principalmente na área de saúde, 
alimentação e educação...(GENOFRE, 1997, p. 103) 
 
Segundo o autor, o mesmo ressalta sobre a função que a família tem, e 
isso as legislações como: a Constituição federal de 88 e especificamente o 
ECA diz: que a família tem proteção do estado, e o ECA diz: que é dever da 
família assegurar os direitos da criança e do adolescente. 
 A Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seu 
artigo 4º ―É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos 
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à 
profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária‖ O capítulo III, da mesma lei, alega em seu artigo 19 ―Toda 
criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da família e, 
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência famílias e 
comunitária, e em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de 
substâncias entorpecentes‖ Este artigo retrata de forma incontestável o direito 
da criança e do adolescente em ter em seu convívio sua família e na falta 
desta, a substituta, garantido assim a interação comunitária, em ambiente 
profícuo a sua formação. 
Em seu artigo 22, enfatiza ainda que: ―Aos pais incumbe o dever de 
sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no 
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir determinações 
14 
 
judiciais‖. A constituição Brasileira de 1988 cita em seu Capítulo VII, art. 226 - A 
família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
A família é, pois, a base social do Estado Brasileiro, acarretando para 
este o compromisso de protegê-la, o que é feito por meio de uma ampla 
regulamentação legal, muitas delas cogentes e de caráter impositivo, devendo 
ser respeitadas independentemente da vontade das partes. Contudo, a 
despeito de ser visível a interferência estatal nos elos de afetividade que ligam 
as pessoas e que faz o Estado regular, através de leis, questões referentes à 
família, essa unidade social precede qualquer regulamentação legal. Isso 
porque é a partir das regras morais da sociedade que as famílias vão sendo 
constituídas, especialmente através de vínculos afetivos pelos quais as 
pessoas se unem a fim de ficar juntas e de formar, a partir de então, a sua 
unidade social. 
A formação dos pares seria um fato natural de união das pessoas e, a 
partir dessa formação, cada um tenderia a buscar a sua unidade no meio social 
em que vive, chamando-a de família. Uma abordagem do tema relacionado à 
família, contudo, precisa considerar o seu caráter supra individualista, em razão 
de os interesses por ela perseguidos transcenderem os interesses individuais 
de seus membros. 
A estrutura familiar, assim, traz em seu âmago não apenas a ideia de 
vínculos que unem as pessoas entre si mas, sobretudo, a da existência de uma 
estruturação psíquica em que cada pessoa deve ter o seu lugar e exercer uma 
função – de filho, de pai, de mãe, etc. – além de, como unidade, ter a função de 
referenciar determinada pessoa na sociedade. 
A relevância familiar partiria da ideia acima exposta, em especial dos 
papéis desempenhados por cada integrante da família e da existência de afeto 
e respeito entre eles, importando-se destacar que eventuais privações nessas 
relações familiares repercutem no desenvolvimento emocional e psíquico e na 
formação ético-moral dos seus integrantes — notadamente no 
desenvolvimento e na formação de crianças e adolescentes. 
É possível afirmar, então, sob a perspectiva da vertente psicológica, que 
as primeiras relações afetivas desenvolvidas no seio da família de uma criança 
poderão servir de base para toda a sua vida e para as suas relações futuras, 
tendendo a se repetir, sendo, pois, fundamental que o lar seja um lugar de 
afeto, de carinho, de pertencimento e de respeito. 
Tal fato evidencia a importância de se garantir à criança e ao 
15 
 
adolescente o direito à convivência familiar sadia e de se compreender que a 
entidade familiar precisa estar apta a entender e a respeitar a singularidade de 
cada filho, em cada fase da vida. É assim que a percepção de cada integrante 
da família e do seu papel na dinâmica familiar passa a ser fundamental para o 
desenvolvimento saudável das crianças, dos adolescentes e, em última 
análise, da própria família. 
A família assim compreendida é capaz de intervir, decisivamente, na 
formação psicossocial de crianças e adolescentes, evitando ou pelo menos 
minimizando eventuais prejuízos que possam vir a aparecer em seu 
desenvolvimento. 
A família é considerada aquela que propicia o bem-estar de seus 
componentes, desempenhando um papel decisivo na educação, absorvendo 
valores éticos e humanitários se aprofundando os laços de solidariedade. 
É na família que encontramos as condições para o desenvolvimento de 
nossa identidade e para a construção de nossa história, o que nem sempre 
ocorrerá de forma pacífica, esse crescimento pode se dá em meio a tensões, 
conflitos e contradições, pois mesmo sendo de suma importância nenhuma 
família é constituída apenas por virtudes e consensos, e assim como qualquer 
instituição social, enxergá-la dessa forma é essencial para o desenvolvimento 
de políticas sociais que venham protegê-la. 
Então é fundamental que a família esteja preparada para entender que 
cada filho necessita ser visto como um ser único, com os seus defeitos e 
qualidades, já que esta deve representar o melhor lugar para o 
desenvolvimento da criança e do adolescente. 
Todavia, se este precioso lugar de cuidado e proteção se tornar sede de 
conflitos, que possam levar à violação de direitos da criança e do adolescente, 
medidas deapoio à família deverão ser tomadas com o objetivo de assegurar o 
direito da criança e do adolescente de se desenvolver no seio de uma família 
saudável. 
As famílias, portanto, seja qual for a sua constituição, nível cultural ou 
econômico é imprescindível para a formação do sujeito, ainda que muitas 
vezes não consiga atender de maneira satisfatória as necessidades de seus 
membros. 
 
 
 
16 
 
2.2 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COMO DIREITO AO CONVÍVIO 
FAMILIAR 
 
A palavra família possui inúmeros significados e conceitos e sua origem 
é comprovada através dos registros históricos acerca da família que possuía 
um caráter patriarcal onde a figura masculina era reconhecida chefe, juiz e 
detentor de poder. Impunha aos filhos seus deveres, vontades e princípios, 
bem como suas punições e até mesmo o domínio sobre o direito as suas vidas, 
como publicado por Tércio de Sousa Mota e Col., pontua: 
Registros históricos, monumentos literários, fragmentos 
jurídicos, comprovam acertadamente o fato de que a família 
ocidental viveu largo período sob a forma „patriarcal‟. Destarte 
as civilizações mediterrâneas a reconheceram. Dessa forma, 
anunciou a documentação bíblica (2011, online). 
 
A mulher por outro lado desempenhou um papel submisso onde não 
questionava nem contrariava as decisões do marido. Vivia em prol dos serviços 
domésticos e da criação dos filhos moldando assim a família e seguindo os 
princípios religiosos. A partir de então o império romano inseriu tais primícias 
religiosas dentro de seu ordenamento jurídico para obter domínio e um controle 
social, sendo assim, aquele que ousasse ir contra as regras ou ameaçasse tal 
ordem social sofreria sanções. 
No entendimento de Tércio de Sousa Mota e Col.: 
A mulher vivia in loco filiae, completamente dependente à 
autoridade marital, nunca contraindo autonomia. Somente o 
pater adquiria bens, exercendo o poder sobre o patrimônio 
familiar ao lado, e como consequência do poder sobre a 
pessoa dos filhos e do poder sobre a mulher. A família era 
estabelecida em desempenho do juízo religioso, 4 e o poder do 
império romano surgiu dessa organização (2011, online). 
 
São notórias as diversas mudanças no âmbito familiar. Houve no 
decorrer dos anos uma perda imensurável de valores e princípios, não só 
cristãos como éticos também, sem contar o poder patriarcal que antes era 
desempenhado somente pela figura masculina e com o advento dos vários 
tipos de família tal poder passou a ser exercido por ambos, pai e mãe. 
Segundo Carlos Roberto Gonçalves: 
Esse princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do 
chefe de família é substituída por um sistema em que as 
decisões devem ser tomadas de comum acordo entre 
conviventes ou entre marido e mulher, pois os tempos atuais 
requerem que a mulher e o marido tenham os mesmos direitos 
e deveres referentes à sociedade conjugal (2005,p.09). 
 
17 
 
A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
vigentes consagram o direito a convivência familiar e comunitária para crianças 
e adolescentes e em face disso, diversos tipos de família, a família natural, a 
família extensa e a família substituta, em todas um núcleo composto pelos 
filhos e os pais ou qualquer um deles, solteiros ou viúvos e a prole. Os filhos 
existentes fora do casamento devem ser reconhecidos pelos pais de forma 
conjunta ou separada, mediante documento público. Tal reconhecimento trata-
se de um direito personalíssimo exercitado contra os pais assegurado pelo 
segredo de Justiça (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990). 
O direito á convivência familiar e comunitária previsto nos artigos 19 a 
52, do ECA, determina que toda criança ou adolescente tem como direito 
nascer, crescer, ser educado e criado no convívio de sua família biológica, a 
comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes (art. 
25) e apenas excepcionalmente, em família substituta na forma de guarda, 
tutela e adoção. O ambiente familiar que deve ser garantido para crianças e 
adolescentes deve ser livre de drogas, violência e discriminação de qualquer 
natureza, os pais são obrigados ao reconhecimento da filiação natural 
(BRASIL,1990). 
Um ambiente familiar afetivo que atenda às necessidades da criança e 
do adolescente constitui a base para o desenvolvimento psicossocial saudável. 
A imposição de limite, o exercício da autoridade parental, o cuidado e a 
afetividade são fundamentais para a constituição da subjetividade e para o 
desenvolvimento das habilidades necessárias à vida em comunidade. 
Experiências vividas na família tornarão gradativamente a criança e o 
adolescente capazes de se sentirem amados e seguros para, no futuro, se 
responsabilizarem por suas próprias ações e sentimentos. 
Assim sendo, apenas excepcionalmente se admite o rompimento dos 
vínculos familiares, quando diante de situações de risco, hipóteses nas quais 
devem ser adotadas pelos agentes do Sistema de Garantia dos Direitos de 
Crianças e Adolescentes estratégias de atendimento que permitam o 
fortalecimento e, sempre que possível, o restabelecimento desses vínculos. 
Todavia, se necessária a ruptura desses vínculos, caberá ao Estado a proteção 
dessas crianças e desses adolescentes, através do desenvolvimento de 
programas, projetos e estratégias que possam levar à constituição de novos 
vínculos familiares e comunitários. 
Desta forma, quando a família não assume efetivamente o seu papel, a 
18 
 
atuação dos órgãos integrantes do Sistema de Garantias dos Direitos da 
Criança e do Adolescente e do Adolescente, assim como do Ministério Público, 
como órgão agente, passa a ser fundamental, não apenas para buscar a 
responsabilização da família mas, sobretudo, para possibilitar a adoção das 
medidas cabíveis aptas a garantir o direito fundamental à convivência familiar, 
assegurando que crianças e adolescentes tenham o direito de viver em uma 
família, e não apenas de sobreviver em uma instituição de acolhimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
CAPITULO II 
 
 3- A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR 
 
Neste capitulo iremos dar ênfase sobre a violência intrafamiliar, os tipos 
de violências, as consequências psicossociais da criança e do adolescente 
quando sofrida à violência, e o conceito de violência. 
A violência doméstica ou intrafamiliar caracteriza-se por toda a ação ou 
omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a 
liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. 
Pode ser cometida dentro ou fora de casa por algum membro familiar, incluindo 
pessoas que passam a assumir função parental, ainda que sem laços 
consanguíneos. Estudos indicam que oitenta por cento dos casos de violência 
denunciados ocorreram dentro da casa da vítima, sendo que os perpetradores 
da agressão eram, principalmente, pais biológicos ou adotivos. 
A violência intrafamiliar está inserida, assim, na tipologia de violência 
interpessoal, que por sua vez está dividida em duas subcategorias: violência da 
família, aquela que ocorre em grande parte entre os membros da família. 
Ocorre normalmente, mas não exclusivamente, dentro de casa; e a violência 
comunitária, que ocorre entre pessoas sem laços de parentesco 
(consanguíneos ou não) e que podem conhecer-se (conhecidos ou não-
estranhos), geralmente fora de casa (GOMES et al, 2007). 
A violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes é a violência que 
consiste 
(...) numa transgressão do poder disciplinador do adulto, 
convertendo a diferença de idade adulta versus criança/ 
adolescente, numa desigualdade de poder intergeracional; 
numa negação do valor da liberdade; num processo que 
aprisiona a vontade e o desejo da criança ou do adolescente, 
submetendo-os ao poder do adulto, coagindo-os a satisfazer os 
interesses, as expectativas e as paixões deste (AZEVEDO, 
2003). 
A violênciaintrafamiliar constitui-se em um fenômeno democrático 
mundial que atinge diferentes classes sociais, religião, idade e grau de 
escolaridade. 
Segundo PHILIPPE (1981), a violência é um fenômeno complexo e 
existem inúmeros fatores que podem ser apontados como desencadeadores 
deste fenômeno como: fatores culturais, fatores sociais (educação, renda 
20 
 
familiar...), fatores familiares (promiscuidade, dinâmicas e normas familiares;), 
comunitários etc. 
Violência é um termo que deriva do latim violentia significando vis, força 
e vigor, e em sentido amplo, é qualquer comportamento ou conjunto de 
comportamentos que tendam causar dano à outra pessoa, ser vivo ou objeto. 
Nega-se autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida do outro. 
É o uso excessivo da força, além do necessário ou esperado. 
A violência doméstica não é marcada apenas pela violência física, mas 
também pela violência psicológica, sexual, patrimonial, moral dentre outras, 
atinge grande número de pessoas, as quais vivem estes tipos de agressões 
principalmente no âmbito familiar. PASTORAL DA CRIANÇA (1999), afirma 
que: ―A violência com maltrato físicos acontecem quando os pais ou 
responsáveis tentam educar e disciplinar seus filhos através da força. Eles 
acabam batendo, queimando, mordendo, empurrando, jogando ou até mesmo 
agredindo com objetos podendo causar danos físicos a criança ou adolescente‖ 
A violência psicológica é ocorrida quando os pais ou responsáveis 
recusam dar carinhos e calor humano á criança ou adolescente, desfazendo 
dela por meio de humilhação e agredindo-a verbalmente 
Segundo PHILIPPE (1981), a violência contra a criança e o adolescente 
é produto de múltiplos fatores: Dificuldades cotidianas; Pobreza; Separação do 
casal; Crises financeiras; Características individuais (temperamento difícil, 
retardo mental, hiperatividade, entre outros); Influências familiares; Aspectos 
sociais e culturais. Não há uma única causa, assim como não há solução única. 
 
3.1 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA 
 
A violência doméstica contra crianças e adolescente podem se 
manifestar de diversas maneiras além da agressão física. 
Assim, a PASTORAL DA CRIANÇA (1999), coloca; é comum a violência 
através de ameaças, humilhações e outras formas que afetam 
psicologicamente as crianças e adolescentes. Outra forma constante de 
violência é a omissão: alguns pais deixam de fornecer os cuidados necessários 
ao crescimento de seus filhos, que passam a sofrer privações essenciais à sua 
formação, como falta de carinho, de limpeza e, até mesmo, de alimentação 
adequada. Vale ressaltar que nem sempre essa omissão é decorrente da 
situação de pobreza em que a família vive. Uma das maneiras mais perversas 
21 
 
de violência contra a criança e o adolescente é o abuso sexual. Mais comum 
do que se acredita, ele acarreta fortes traumas nessas pessoas. 
Com base em Guerra e Azevedo (2001), estudiosos do assunto, 
consideram-se aqui quatro tipos de violência: 
Violência Física – atos violentos com o uso da força física de forma 
intencional - não acidental; provocada por pais, responsáveis, familiares ou 
pessoas próximas; 
Negligência - omissão dos pais ou responsáveis quando deixam de 
prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico, emocional e 
social da criança e do adolescente. 
Psicológica - rejeição, privação, depreciação, discriminação, desrespeito, 
cobranças exageradas, punições humilhantes, utilização da criança e 
adolescentes para atender às necessidades dos adultos. 
Sexual - toda a ação que envolve ou não o contato físico, não 
apresentando necessariamente sinal corporal visível. Pode ocorrer a 
estimulação sexual sob a forma de práticas eróticas e sexuais (violência física, 
ameaças, indução, voyerismo, exibicionismo, produção de fotos e exploração 
sexual). Tendo alguns tipos de violência intrafamiliar ou doméstica, assim mais 
conhecidas, podemos nos perguntar: Quais os possíveis efeitos da violência 
contra crianças e adolescentes? 
Hiperatividade ou retraimento; Baixa autoestima, dificuldades de 
relacionamento; Agressividade (ciclo de violência); Fobia, reações de medo, 
vergonha, culpa; Depressão; Ansiedade; Transtornos afetivos; Distorção da 
imagem corporal; Amadurecimento sexual precoce, masturbação compulsiva; 
Tentativa de suicídio, e outros. 
Segundo o artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 
Federal 8.069/90) que dispõe: ―Nenhuma criança ou adolescente será objeto 
de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado por ação ou 
omissão, aos seus direitos fundamentais‖. 
Assim, no caso de violência contra criança e adolescente é necessário 
de primeiro notificar as redes de promoção de garantia de direitos como: 
Conselho Tutelar; Secretaria Municipal de Saúde; Promotoria Infância e 
Juventude; Delegacia da Infância e Juventude; Defensoria Pública. 
Segundo AZEVEDO E GUERRA (2001), crianças e adolescentes, 
vítimas de violência doméstica, costumam apresentar vários sintomas físicos e 
22 
 
psicológicos associados, o que pode ser observado através de seu 
comportamento. Assim, é interessante estar atento a marcas na pele e fraturas, 
lembrando que podem ser decorrentes de violência, especialmente quando 
reiteradas. As marcas podem ser deixadas por queimaduras ou por algum 
objeto doméstico como cinto, ferro de passar roupas e cabides. 
Além disso, a própria aparência da criança pode ser motivo para se 
suspeitar de violência doméstica, demonstrando falta de alimentação adequada 
(nem sempre decorrente da pobreza) e falta de asseio e higiene, por exemplo. 
Pais que maltratam seus filhos, às vezes, são também negligentes em outros 
aspectos: impedindo-os de freqüentar a escola ou deixando de dispensar 
cuidados com a saúde da criança, que apresenta diversas vezes alguma 
moléstia, por exemplo. 
Por fim, vale ressaltar, aspectos referentes à sexualidade que por vezes 
se manifesta visivelmente incompatível com a faixa etária da criança. Também 
são verificados, em alguns casos, sintomas de doenças sexualmente 
transmissíveis, certamente decorrentes de abuso sexual. Muitas outras 
características são verificadas nessas crianças e adolescentes. O educador 
certamente perceberá, com a necessária lucidez, outras que aqui não foram 
mencionadas. Várias dessas evidências em conjunto levam à suspeita de 
violência, demandando especial cuidado por parte da equipe da escola. 
Ainda segundo GUEIROS (2006), a criança ou o adolescente passa a 
apresentar várias características de maus tratos associadas, há que se levantar 
a hipótese de que esteja sofrendo agressões. Nesse caso, uma averiguação 
cuidadosa deve ser realizada. É conveniente que esse procedimento seja 
desenvolvido com a ajuda de outros profissionais, como psicólogos, médicos e 
advogados. 
É notável conhecer que quando falamos em violência, percebemos que 
em toda parte ela se encontra, a violência estrutural está presente em todas as 
sociedades e se expressa por meio das desigualdades sociais, ou seja, riqueza 
e pobreza, as quais caracterizam a sociedade atual, onde uns poucos têm 
demais e outros muitos têm de menos, a pobreza e a riqueza por si só já é uma 
relação violenta. A falta dos mínimos sociais (alimentação, vestimenta, 
habitação, educação, lazer, esporte) fere a dignidade humana, que por si só é 
um ato violente, pois danifica o ser humano. 
A desigualdade em relação a renda/poder aquisitivo leva algumas 
pessoas a atos desesperados de violência. Não pretendo justificar os atos 
23 
 
violentos, apenas procuro entendê-los na sua complexidade. É extremamente 
difícil imaginar para aqueles que dão conta de suas necessidades, o quão 
doloroso é viver à margem, lutando todos os dias pela sobrevivência humana. 
A desigualdade priva, deteriora o ser humano. 
O Brasil é a oitava economiado mundo, com excelente desenvolvimento 
econômico, porém ainda há situações de miséria, fome, pobreza, desemprego, 
trabalho infantil, é preciso pensar formas de justiça social, igualdade, acesso 
aos direitos de cidadania. É decepcionante saber que o sistema capitalista 
neoliberal vigente, não está preocupado em atender o social. A pobreza, a falta 
das necessidades sociais é a pior forma de violência, Odalia (2004, p. 30) 
enfatiza que o ato rotineiro e contumaz da desigualdade das diferenças entre 
os homens, permitindo que alguns usufruam à sociedade o que à grande 
maioria é negado, é uma violência. A desigualdade social, a pobreza e a 
riqueza não são fenômenos estanques, estáticos. 
É possível pensar meios de transformação, onde os sujeitos consigam 
viver num patamar mais igualitário, tendo acesso aos direitos de cidadania e 
qualidade de vida. Compreendendo a desigualdade como fruto de um sistema 
capitalista e excludente, podemos e devemos buscar alternativas voltadas à 
transformação das estruturas sociais, possibilitando o estabelecimento de 
bases de igualdade de condições de sobrevivência. 
Como salientamos, toda violência é social, porque é produzida 
socialmente e disseminada dentro de uma dada sociedade. Faz parte deste 
cenário a precariedade da saúde pública, marcada por uma política que não 
atende toda a demanda necessária, pela falta de infraestrutura adequada, pela 
escassez de recursos humanos e pelo atendimento que, em determinadas 
situações, é totalmente desumano e sem qualificação. A educação é outro fator 
que merece destaque, pois os níveis de qualidade da educação preocupam 
cada vez mais. 
A evasão escolar, a repetência, professores com formação deficitária e 
mal remunerados são fatores que denigrem a educação brasileira. Transformar 
esse panorama requer medidas coerentes, a partir do aperfeiçoamento da 
política educacional, em que o processo educativo conduza à aprendizagem 
efetiva dos conteúdos e à emancipação intelectual dos estudantes. 
A contemporaneidade requer outro modelo de educação, onde 
professores e alunos, aprendem, discutem juntos, produzam conhecimento de 
forma coletiva. O conteúdo programático precisa ser revisto, incluindo temas 
24 
 
como gênero, sexualidade, violência, necessitam ser explorados para a 
formação de sujeitos críticos e reflexivos. A política habitacional também possui 
deficiências, pois, há pessoas que ainda não possuem condições de 
habitabilidade razoável. A moradia é um direito do cidadão, faz parte da 
dignidade humana. 
Quando falamos em violência social, não podemos deixar de refletir 
acerca do desemprego estrutural, pois, sabemos que não há lugar para todos 
no mercado de trabalho, e quando há é precário, explorador. Os sujeitos que 
estão "fora" do mercado de trabalho, sofrem ainda mais para garantir a 
sobrevivência, muitos sujeitos recorrem ao uso de álcool e outras drogas, como 
forma de amenizar o sofrimento decorrente em que se encontra. 
O mundo do trabalho está cada vez mais exigente, só tem lugar para 
sujeitos qualificados e que saibam produzir, quem não se encaixa nos critérios 
é excluído, e tende a buscar a informalidade para garantir total ou parcialmente 
a subsistência. Odalia (2004) alerta sobre a questão do preconceito, posto que 
o preconceito social, de classes sociais, orientação sexual, cultura, etnia é uma 
das formas de violência social, pois, denigre, maltrata a pessoa humana na sua 
condição de sujeito de direito. 
Dessa maneira, verificamos que a violência social traz muitos impactos 
nos diferentes setores da vida, precisando ser combatida por intervenções 
interdisciplinares, envolvendo o aperfeiçoamento qualificação da educação, da 
saúde, da habitação e de todas as demais áreas, assegurando a qualidade de 
vida a todos. 
A violência política atinge todos os sujeitos sociais em suas relações 
políticas, concebendo-se a política como elemento que organiza e regula o 
convívio de indivíduos diferentes. Arendt (2004) relaciona política, liberdade e 
pluralidade, destacando que o livre agir é agir público, e público é o espaço 
original do político. 
A política surge não no homem, mas sim entre os homens, que a 
liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos 
necessários à constituição de um espaço entre os homens, onde só então se 
torna possível a política, a verdadeira política. Desse modo, o sentido da 
política é a liberdade, posto que ―O milagre da liberdade está contido nesse 
poder começar que é, em si um novo começo, já que através do nascimento 
veio ao mundo que existia antes dele e continuará existindo depois dele‖ 
(ARENDT, 2004, p. 9). 
25 
 
A violência política vai além da corrupção. Esta possui mil faces, o 
assassinato político é uma faceta, utiliza-se para manter o poder de um 
determinado povo ou substituí-lo. As fraudes nos processos eleitorais é uma 
violência política, pois, mascara a realidade, frauda a opinião pública. 
Outra questão de fundamental importância é a violência política 
existente nos meios de comunicação de massa, como ressalta Odalia (2004). 
Nos dias atuais, as mídias, em geral, não contribuem para o esclarecimento e o 
desenvolvimento da capacidade de crítica, ao invés disso, reforçam a alienação 
e o consumismo. O sujeito acaba consumindo tudo o que é enfatizado na 
mídia, o melhor carro, a melhor roupa, o mais poderoso produto 
antienvelhecimento, o cidadão é "bombardeado" de tantas informações, que 
muitas vezes são enganosas. Dificilmente algum meio de comunicação, 
enfatiza as verdadeiras causas da violência, da fome, ou mostra para os 
sujeitos as formas de acesso aos seus direitos. 
 A mídia transmite informações de modo superficial, e, por vezes, 
tendencioso, sem preocupações legítimas com a cidadania. O apelo ao 
consumo ganha uma amplitude impressionante, impondo aos sujeitos falsas 
necessidades, de forma a incentivar a aquisição de produtos sempre mais 
potentes, criativos e tecnológicos. Ou seja, a mídia faz o indivíduo desejar os 
produtos que a indústria produz, vendendo-lhe promessas de prazer, sucesso e 
poder. O consumismo agrava a diferença entre as camadas sociais, 
demarcando limites entre aqueles que têm e aqueles que não têm poder 
aquisitivo para ter acesso aos produtos propagandeados pela mídia. 
A erradicação da violência política está diretamente ligada à ética, à 
capacidade de priorizar valores humanísticos e princípios éticos. Isso supõe 
que somente poderemos superar os atos politicamente violentos agindo 
eticamente e assegurando que a convivência seja norteada pela cidadania e 
pela defesa da dignidade humana. 
 
 
3.2 VIOLÊNCIA FÍSICA, NEGLIGÊNCIA, ABANDONO, VIOLÊNCIA 
PSICOLÓGICA E VIOLÊNCIA SEXUAL: DISTINTAS FACES. 
 
Nilo Odalia (2004) contribui para a identificação de vários tipos de 
violência, destacando, além dos já mencionados, a violência física, a 
psicológica e a sexual. A violência física está presente nas relações familiares, 
26 
 
de trabalho, nas relações com os amigos, ou seja, está em todos os lugares, 
independente de classe social, idade, etnia, orientação sexual. 
Os atos fisicamente violentos se concretizam através de dano ao corpo, 
expressando-se através de surras, tapas, empurrões, socos, até lesões graves, 
como ossos fraturados, olho roxo, equimoses pelo corpo, braço quebrado, 
enfim de inúmeras formas de ataque ao corpo. A violência física é entendida 
também como ação ou omissão ação - bater, omissão - deixar de ministrar 
algum medicamento necessário, que venha a trazer malefícios à saúde física 
da pessoa. As causas de tais atos são inúmeras e demandam um olhar 
aguçado para seu reconhecimento e combate. 
Por sua vez, a violência psicológica é silenciosa, não deixando marcas 
visíveis. Porém, fere a alma da pessoa, denigre, machuca a dignidade da 
pessoa. Manifesta-se por meio de xingamentos, humilhações, ridicularizarão,inibição, gritos, ameaça, constrangimento, chantagem, que machuca muito 
mais do que a violência física, que deixa marcas visíveis. Segundo estudos e 
pesquisas realizados por psicólogos, a pessoa vítima de violência psicológica, 
se transforma em uma "morta-viva", pois, a autoestima fica fortemente 
fragilizada. 
Muitas vezes torna-se difícil, até mesmo para os profissionais, identificar 
a violência psicológica, exigindo sensibilidade e capacidade de escuta 
especializada para dar visibilidade à violência psicológica, e, 
consequentemente, para que se possa atender de forma eficiente às vítimas. 
Já a violência sexual acontece quando determinada pessoa é forçada a 
satisfazer os desejos sexuais de outrem. 
Como esclarece Odalia (2004), o abuso sexual acontece de duas 
formas: com contato sexual é quando a vítima é forçada a realizar sexo vaginal, 
oral ou anal; sem contato- são episódios de exibicionismo, exposição e carícias 
nas partes íntimas, Voyeurismo. A pessoa vítima de violência sexual necessita 
de acompanhamento psicológico, para conseguir amenizar o sofrimento, a 
vítima de abuso na maioria dos casos, possui tendência de isolamento, baixo 
conceito de si próprio, dificuldade em se relacionar com os demais. Pesquisas 
indicam que um dos fatores que pode levar uma pessoa a abusar de outra, é o 
fato de ter sido vítima de abuso na infância. 
Para que a violência sexual não gere um ciclo vicioso, passado de 
geração a geração, torna-se imprescindível o acompanhamento especializado. 
A violência sexual é um tema que desperta curiosidade, necessidade de 
27 
 
entendimento, no entanto é um assunto difícil de ser abordado principalmente 
para suas vítimas, pois, na maioria dos casos o abusador é alguém conhecido 
da vítima ou tem vínculos afetivos, o que gera um pacto do silêncio. 
Em se tratando da negligência, esta pode ser considerada uma das 
facetas da violência, porque traz inúmeros malefícios ao desenvolvimento do 
sujeito. Pode ser dividida em negligência física e afetiva. A negligência física 
consiste na não garantia das necessidades básicas (falta de alimentação, 
medicação, falta de moradia, saúde, educação). A negligência afetiva consiste 
na carência de amor, afeto, carinho, limite. Muitos pais alegam falta de tempo 
para com os filhos, no entanto não é motivo suficiente para não dar atenção, 
qualquer espaço de tempo é valioso para transmitir o afeto e limite. 
É importante destacar que a negligência como forma de violência, não é 
um fenômeno exclusivo da classe pauperizada, muito pelo contrário, a 
negligência está muito presente na classe média alta, quando, por exemplo, os 
pais não se preocupam com o conteúdo daquilo que os filhos acessam nas 
redes sociais, não se interessam pela vida social dos filhos. 
O Estado é um agente que frequentemente pratica a negligência, 
quando não se interessa com as necessidades da população tais como (saúde-
educação-moradia). O abandono se constitui em violência, pois em 
determinados casos pode fragilizar gravemente uma pessoa, deixando 
sequelas psicológicas agudas. 
Essas distintas manifestações da violência precisam ser amplamente 
debatidas, a fim de que possamos esclarecer nossos posicionamentos a 
respeito do tema, e, a partir disso, podermos encontrar formas coerentes de 
agir e de combater toda forma de ação violenta. 
 
3.3 VIOLÊNCIA INFANTIL E INTRAFAMILIAR E O ECA 
 A violência sempre existiu. Com a educação, a cultura e a ética, 
esperava-se, naturalmente, uma diminuição dessa violência. 
Ela hoje existe em sua forma primária, que é a agressão física, o assassinato e 
outras formas, como a má distribuição de renda, a fome, as guerras, a 
espionagem, a perda absoluta do humanismo. 
 Entretanto, em se tratando de violência contra a criança ou adolescente, 
há que se reconhecer que a estrutura psicológica do ser é extremamente 
afetada, acarretando consequências desastrosas para a vida da vítima, que 
geralmente a acompanha ao longo da vida. 
28 
 
Não há dúvida de que o Estado brasileiro reconhece a criança e 
adolescente como pessoas humanas especiais, afirmando assim, junto com a 
comunidade internacional a necessidade de se garantir a toda criança proteção 
integral para o seu pleno desenvolvimento. A Constituição Federal de 1988 
expressa esse reconhecimento, ao consagrar a doutrina da proteção integral 
da criança e do adolescente, como prevê o seu artigo 227, caput, do seguinte 
teor: 
Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, 
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de 
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988). 
 
Para tanto, uma das inovações trazidas pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente, consiste, justamente, na possibilidade de cobrar do Estado, por 
intermédio, por exemplo, da interposição de uma Ação Civil Pública, o 
cumprimento de determinados direitos como o acesso à escola, a um sistema 
de saúde, a um programa especial para pessoas com doenças físicas e 
mentais, entre tantos outros previstos na Constituição Federal e 
regulamentados pela Lei nº 8.069/1990. Segundo Santos, 
 
Do ponto de vista legal, percorremos longo caminho até a 
promulgação em 1988 da nova Constituição Federal, 
resumindo-se o período anterior como de tutela da criança e do 
adolescente em situação de risco, e não como de proteção da 
sua dignidade e direitos. Um breve olhar nas Constituições 
brasileiras que antecederam a atual revela que a Carta Política 
de 1934 é aquela que, por primeiro, traz disposições 
específicas sobre a idade limite para o trabalho e sobre o 
amparo à infância. É também a primeira que dedica uma 
sessão, o Título V, à família, à educação e à cultura. As 
posteriores Cartas Políticas seguem essa linha sem muitas 
inovações até a de 1988, que institui o novo paradigma da 
proteção integral. (SANTOS, 2007). 
 
Houve, portanto, valiosa mudança com a promulgação da Constituição 
Federal de 1988 e a expedição, em 1990, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Pode-se dizer que, para fazer valer o artigo 227, foi promulgada 
em 13 de julho de 1990, a Lei Federal nº 8.069 - ECA. 
A prioridade absoluta na proteção integral devida à criança e ao 
adolescente, expressa na Constituição, impõe a ação do Estado na sua 
efetivação, providenciando as políticas públicas necessárias para que o seu 
desenvolvimento se faça de forma plena. 
29 
 
 A sociedade vem evoluindo com o tempo, o Estado de Direito se 
fortaleceu, a educação, os costumes, o direito a uma vida digna, o respeito à 
individualidade passou a ser mais observado. Contudo, mesmo nos países 
ocidentais, os abusos, a violência endêmica contra as crianças e adolescentes 
é um fato real que a sociedade teima em não reconhecer em toda a sua 
dimensão trágica. 
A violência dos familiares é considerada um fator que estimula crianças 
e adolescentes a passar a viver nas ruas. Em muitas pesquisas feitas, elas 
referem maus tratos corporais, castigos físicos, conflitos domésticos e outras 
agressões como motivo de sua decisão para sair de casa. 
Os espancamentos são as agressões mais comuns, sendo que alguns 
agressores chegam a amarrar meninos e meninas com cordas ou correntes e 
espanca-los com objetos como o velho cinto, vassouras e até mesmo antenas, 
panelas de pressão e martelos. Os espancamentos deixam marcas físicas 
como hematomas, cortes e ossos quebrados, além de lesões nos punhos e 
tornozelos quando a vítima é amarrada. Os espancamentos são muitas vezes 
acompanhados de outros atos de sadismo, como queimaduras com pontas de 
cigarro, água fervendo e outros objetos da casa. São comuns ainda casos de 
adultos que causam ferimentos com facase canivetes, batem com a cabeça ou 
atiram a criança contra a parede, o que em muitos casos pode levar à morte. 
Crianças e adolescentes vítimas de negligência dos adultos 
responsáveis por elas também apresentam marcas físicas deste tipo de 
agressão. A falta de comida pode acarretar anemia e outras doenças 
associadas à escassez de nutrientes. Sem água para beber a criança pode 
chegar à desidratação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
CAPITULO III 
 
4. A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E O SERVIÇO SOCIAL 
 
O percurso da Assistência Social em construir-se como Política Pública, 
definida em um marco regulatório formal, passa pela ampliação do seu sentido 
enquanto ação interventiva e capacidade de articulação/inserção em outros 
campos de intervenção, estabelecendo um caráter de inter-relação e acessos 
de seus usuários a outras políticas e à reconstrução, no imaginário social, da 
percepção de direto de cidadania, da pobreza e das ações de 
Estado/governos. Nesse sentido a Política Nacional de Assistência Social de 
2004, constitui-se um esforço e esboço de afirmação da assistência social 
como política pública, por definir de forma clara as bases operacionais para 
construção/consolidação do Sistema único de Assistência Social, com 
particular importância, para o presente texto, nas bases regulatória e 
condutores de ações de proteção social à crianças e adolescentes vitimadas 
pelo trabalho infantil, acolhendo em sua realização ações complementares de 
para a efetivação e efetividade. 
 
4.1 DETERMINAÇÕES EM TORNO DA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR 
 
Podemos perceber que quando falamos de violência doméstica, significa 
dizer que estamos tratando de um tema que se refere ao sofrimento e à dor 
alheia, e que em função disso devemos nos preocupar em analisar de uma 
forma ampla e complexa. Não temos uma causa única para esta demanda, 
porque ela ocorre de várias maneiras e em vários níveis, e que às vezes 
surpreendem até aqueles que estão acostumados a lidar com esses casos. 
Mas existem determinações que são importantes para que ajudem a analisar a 
complexidade da violência intrafamiliar contra criança e adolescente. 
Um grande fator, que influencia a sociedade no geral sem que ela 
perceba, é a nossa cultura de violência que vem desde a antiguidade. São 
valores e normas pregados de uma maneira que parecem ser a coisa mais 
correta do mundo, um exemplo é aquele ditado popular muito conhecido ―os 
pais sabem o que é melhor para seus filhos‖, assim submetendo as crianças à 
vontade deles; outro também muito falado é ―que o lar é sempre um lugar 
31 
 
seguro e de responsabilidade‖, mas basta analisar as estatísticas da 
quantidade de negligência ocorrida com crianças e adolescentes para se 
provar o contrário; e por último o ditado que ―os filhos são propriedade 
exclusiva dos pais‖, que somente eles podem mandar e desmandar, fazer o 
que quiser, mas segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente o Estado e a 
sociedade também participam destas obrigações. 
Além dessa cultura de violência, temos também uma cultura social 
machista que passa por gerações e que abrange a todos, sem exceção de 
nenhuma pessoa, que diz que o homem é o poder da família, cabe a ele 
sustentar seus filhos e esposa, só que hoje é muito comum vermos mulheres 
trabalhando, e homens desempregados. Nota-se que diante desta situação, o 
homem sem emprego ou com um salário muito pequeno, não tendo condição 
de se impor de maneira natural, conforme fora traçado de forma abusiva e 
masculina pela sociedade, assim ele utiliza a vantagem de massa corporal para 
se impor diante dos seus familiares de forma violenta. Essa desproporção 
surge com base em dois motivos de grande atuação na economia nacional que 
são a pobreza e o desemprego. 
Porém, cabe-nos lembrar, como assegura o pediatra Lauro Monteiro 
(2001,84p), ―esse problema não é de exclusividade dos pobres, analfabetos, 
drogados ou doentes mentais, ainda que a maioria dos casos que chegam à 
justiça seja de pessoas menos favorecidas‖. Conforme fora dito, o homem para 
se manter na sua posição de chefe de família, utiliza-se da violência contra sua 
família, porém antes de utilizar desta violência para manter seu ―status‖ o 
agressor procura abrigo no álcool. E em muitos casos os agressores depois de 
se recuperarem do efeito do álcool, ficam totalmente pasmos com sua conduta. 
Um outro determinante é certamente o distúrbio psicológico, podendo 
agredir pessoas que convivem diretamente com ele e que ele ama, porém ele 
pode ser evitado desde que alguém descubra o diagnóstico antes. 
E por fim, o fator que mais ocorre dentre todos os casos, é o ciclo de 
violência que passa por gerações, crianças violentadas no passado no âmbito 
familiar, é normal que quando cresçam ocorra violência na sua família atual. 
Podemos dizer que não importa a causa da violência doméstica, esta 
barbaridade deve ser compelida, desde que haja por parte da sociedade e do 
Estado a vontade de pôr fim à violência intrafamiliar contra a criança e 
adolescente. 
 
32 
 
 
4.2 POLÍTICAS E PRÁTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL PARA O 
ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA A CRIANÇA 
E O ADOLESCENTE. 
 
As políticas e as práticas de proteção social da criança e do 
adolescente, no Brasil, são decorrentes de construções demarcadas por 
condições históricas, sociais e econômicas, e estão implicadas em contextos 
singulares, culturais e estruturalmente complexos. Constituem um processo 
entrelaçado às demais questões sociais. Neste capítulo procuraremos perceber 
como articulam-se historicamente estas práticas de proteção social e as 
políticas sociais em face da violência intrafamiliar contra a criança e o 
adolescente. 
Estes, em nossa sociedade, recebem tratamento relacionado à 
construção do espaço social que configura a política de proteção social, em 
função dos ―dois princípios de diferenciação do capital econômico e do capital 
cultural‖ (Bourdieu, 1996:19). A reflexão sobre esta trajetória histórica exige um 
amplo esforço de compreensão, pois a consolidação das políticas de proteção 
social, em sua complexidade, indica que ―a posição ocupada no espaço social, 
isto é, na estrutura de distribuição de diferentes tipos de capital, que também 
são armas, comanda as representações desse espaço e as tomadas de 
posição nas lutas para conservá-lo ou transformá-lo‖ (BOURDIEU, 1996: 27). 
É possível destacar a inter-relação entre as políticas de proteção social 
para a infância, em cada momento histórico, com o ordenamento social 
hegemônico no mesmo contexto. Contudo, não se pode absolutizar esta 
vinculação, nem descuidar-se, para que o olhar sobre estes fatos históricos não 
se torne simplista e determinista, mas, contrariamente, reconheça, além dos 
fatores objetivos, a produção da subjetividade inerente à construção dos 
sujeitos e desses próprios espaços sociais. 
A proteção social pode ser pontuada enquanto uma estruturação, 
processo em permanente construção, que engloba uma multiplicidade de 
proposições sociais, institucionalizadas ou não, visando o fomento de ações 
societárias imbricadas a diferentes contextos sociais. As práticas de proteção 
social podem configurar-se como de longa duração, consagradas à atenção 
com a vida humana, e serem exercidas em níveis de sociabilidade primário e 
secundário. 
33 
 
A proteção social primária, mais próxima, é exercida por familiares e 
vizinhos, e pode ser contextualizada pela esfera privada. Determinadas 
regulações da sociabilidade primária ―ligam diretamente os membros de um 
grupo a partir de seu pertencimento familiar, da vizinhança, do trabalho e tecem 
redes de interdependência sem a mediação de instituições específicas‖ (Castel, 
2001: 48). 
Considera-se proteção social secundária aquela desempenhada por 
instituições públicas e ou privadas, ―(...) sistemas relacionais deslocados em 
relação aos gruposde pertencimento familiar, de vizinhança, de trabalho. A 
partir desse desatrelamento, vão se desenvolver montagens cada vez mais 
complexas que dão origem a estruturas de atendimento assistencial cada vez 
mais sofisticadas‖ (Castel, 2001: 57). 
O tratamento hegemônico dado à infância e juventude expressa-se, 
também, pelo rearranjo, pelo atravessamento e pelo intercâmbio das práticas 
de proteção social nesses níveis primário e secundário. ―As proteções sociais 
foram inseridas nas falhas da sociabilidade primária e nas lacunas da proteção 
próxima‖ (Castel, 2001: 507). Mais sofisticadas‖ (Castel, 2001: 57). O 
tratamento hegemônico dado à infância e juventude expressa-se, também, pelo 
rearranjo, pelo atravessamento e pelo intercâmbio das práticas de proteção 
social nesses níveis primário e secundário. ―As proteções sociais foram 
inseridas nas falhas da sociabilidade primária e nas lacunas da proteção 
próxima‖ (Castel, 2001: 507). 
As constantes violações dos direitos das crianças e adolescentes 
compõem o cenário de desigualdade socioeconômica que caracteriza as 
questões sociais e a proteção social no contexto societário. As leis, a 
elaboração de um Estatuto, por si só, não é suficientes para uma efetiva 
transformação societária. Podem, enquanto instrumento, contribuir para o 
―empoderamento‖ dos sujeitos sociais que demandam por novas formas de 
enfrentamento e de regulação face situações conflituosas. 
Convive-se permanentemente com a tensão entre as conquistas 
empreendidas e as tentativas de conformidade às normas anteriormente 
aceitas como parâmetros de ações societárias e defendidas por grupos de 
interesses. Não raro, constata-se a ênfase dada aos antigos paradigmas de 
intervenção. 
A política de proteção social que se estabelece em torno da infância e 
adolescência ainda exige atenção, apesar das diversas ações empreendidas e 
34 
 
da conquista paradigmática da consolidação do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
Esta trajetória, por sua complexidade, apresenta uma tensão entre a 
confirmação e concretização das rupturas preconizadas. As questões basais 
que conformam as principais dificuldades para a efetiva aplicação do ECA 
encontram-se fundamentadas em processo histórico-sócio-econômico-cultural 
e também pelas sérias questões sociais que as atravessam. 
A incorporação da questão social da infância e juventude na agenda de 
proteção social é um processo recente, do qual, porém, se consubstancia o 
processo inverso, a vulnerabilidade social. Castel (2001) analisa esta questão 
tendo como foco inicial o enfraquecimento da condição salarial e a 
precarização do trabalho, que traçam o atual contexto histórico da dinâmica 
societária. ―A exclusão não é uma ausência de relação social, mas um conjunto 
de relações sociais particulares da sociedade tomada como um todo‖ (Castel, 
2001: 569). 
 
4.3 O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À 
VIOLÊNCIA 
 
O Assistente Social tem como objeto de trabalho a questão social, que 
se constitui nas expressões de desigualdade social, gestadas por uma 
sociedade capitalista neoliberal. Frente a essas expressões, o profissional 
utiliza do conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo 
para pensar formas eficazes de intervenção. O objetivo da prática profissional é 
viabilizar direitos e ampliar a cidadania, por meio de uma melhor qualidade de 
vida. 
O Assistente Social, no desempenho prático da profissão, trabalha com 
inúmeras manifestações da questão social, tais como: falta de acesso à saúde, 
educação, moradia, lazer, trabalho, alcoolismo, conflitos familiares, violência. 
Basicamente, o profissional trabalha com as pessoas que se encontram em 
vulnerabilidade social, por estarem fragilizadas em decorrência da violação de 
direitos. No entanto, seu fazer profissional não se restringe aos pauperizados, 
intervindo também na classe média alta. A violência, nas suas mais diversas 
facetas - violência estrutural, social, política, física, psicológica, sexual, 
negligência, abandono - se constitui como objeto de estudo e intervenção do 
profissional do Serviço Social. O Assistente Social é um profissional que possui 
35 
 
qualificação, conhecimento complexo, criticidade, para intervir nas diversas 
faces da violência. 
 Diante de uma situação de violência, o profissional buscará 
primeiramente produzir um conhecimento da realidade, entendendo as 
causas/raízes do problema, em seguida utilizando seus instrumentais técnicos 
passará a adotar formas de intervenção, que possam amenizar ou solucionar a 
situação. Dentre os instrumentos de trabalho, o profissional poderá utilizar a 
escuta, visita, entrevista, estudo social, orientação, produzindo, através destes, 
o conhecimento necessário para dar conta de seus atendimentos, visando um 
processo interventivo eficaz. 
 Os encaminhamentos devem primar pela garantia de acesso aos 
direitos sociais e pelo atendimento de forma integral, posto que o sujeito social 
é um todo e não fragmentado. Um dos mecanismos utilizados pelo Assistente 
Social é a implantação, formulação e execução de políticas públicas, pois, 
entende-se que é por meio destas que o sujeito tem acesso aos direitos de 
cidadania. O trabalho técnico do Assistente Social encontra certas limitações. 
Como foi mencionado acima, esta procura produzir um conhecimento profundo 
do problema social para então intervir. A dificuldade se encontra no momento, 
em que se percebe que a raiz do problema está no sistema econômico vigente. 
O Capitalismo Neoliberal tem como objetivo central, a acumulação de 
capital, este é concentrado nas mãos de poucos, o que gera uma desigualdade 
social alarmante. Há pessoas vivendo com muito e outras que não possuem 
nem o mínimo para garantir a sobrevivência. Portanto, frente à violência o 
Assistente Social tem o dever de pensar formas interventivas eficazes, buscar, 
cobrar do poder público políticas públicas, contribuindo para o bem-estar social, 
a cidadania e a dignidade humana, voltando suas práticas para a justiça social, 
igualdade, melhores oportunidades para todos os sujeitos. 
A legislação brasileira garante o respeito à condição peculiar de 
desenvolvimento integral da criança e do adolescente, mais na realidade não é 
compreendida e praticada como deveria pelos pais e responsáveis. É neste 
sentido que o assistente social vai atuar, a partir de seu projeto ético-político, 
do seu conhecimento teórico metodológico, lutar contra toda e qualquer forma 
de violação dos direitos sociais da criança e do adolescente, inclusive a 
violência doméstica. 
Um problema muito difícil, no caso de violência doméstica, é a denúncia. 
Muitas vezes a violência ocorrida não vem à tona, porque o indivíduo vitimizado 
36 
 
possui medo, desconhece seu direito de denunciar, conforma-se com a 
situação e se coloca como merecedor da violência, ou quando outros 
indivíduos que assistem a violência ficam com receio de denunciar por ser seu 
familiar/parente. Porém, existem várias fontes de notificação da violência, 
instituições privadas e públicas, que ao conhecerem a denúncia encaminham-
na imediatamente ao Conselho Tutelar que trabalha em conjunto com outras 
instituições, onde avaliará o caso, sua gravidade, fazendo um diagnóstico 
multiprofissional, detectando se é uma situação de alto risco ou médio risco, 
para poder intervir. 
O foco principal do assistente social é a família e a prioridade maior é a 
proteção da criança ou adolescente, para que sua intervenção mantenha a 
integridade do menor. Sua intervenção ocorre em vários âmbitos, como 
jurídico, médico, social, psico-terapêutico, variando de acordo com a gravidade 
da demanda. 
Em primeiro lugar se busca a restauração dos vínculos familiares, mas 
em outros casos, isso não é possível devido a várias circunstâncias, então a 
criança é retirada da família e enviada para a adoção, programa defamília 
substituta, ou quando possível ela fica com algum familiar que não seja o 
agressor. É um trabalho muito delicado, pois envolve as emoções da criança, 
muitas vezes mesmo sendo agredida, ela se recusa a ser levada para outro 
lugar, e o profissional tem que ser muito cauteloso para não prejudicar essa 
criança ou adolescente. 
Muitos casos de acordo com sua complexidade necessitam do apoio 
policial para que o assistente social consiga intervir. Por esse motivo são muito 
importantes as campanhas de capacitação aos profissionais que iram atuar 
com a vítima, valorizando o posicionamento crítico, metodológico, a 
operacionalização, o incentivo dos projetos de família substituta, enfim uma 
prevenção para que estejam preparados para intervir de forma adequada. Além 
de atuar com a violência ocorrida, e seguir as medidas que ele produz como 
vimos acima, o assistente social também atua de forma preventiva; um trabalho 
muito importante, pois a sociedade não tem uma pré-compreensão dos direitos 
humanos em sua amplitude e complexidade, e há uma cultura de violência que 
se manifesta em formas multifacetadas que obscurecem o modo de viver na 
sociedade no que se refere ao tratamento adequado que é dispensado para as 
crianças e adolescente. 
37 
 
Ele atua na prevenção através de campanhas gerais, específicas, no 
esclarecimento dos pais de como educar, na valorização da denúncia, na 
informação dos direitos, para que se possa quebrar com essa cultura de 
violência, e submissão, que existe e é uma das principais causas de violência 
contra criança e adolescente. 
 
4.4 O TRABALHO DO ASSISTENTE NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA 
SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
 
A ação do Serviço Social se volta no enfrentamento das condições 
sociais, seja ela nos mais variados campos, visando intervir sobre as situações 
de vulnerabilidade e risco social, contribuindo para uma abordagem global que 
vai além da demanda apresentada. Dentro desta perspectiva é que cabe ao 
Assistente Social desenvolver um papel de protagonista nesse novo modelo 
societário, no sentido da promoção da cidadania, da construção e do 
fortalecimento de redes sociais e de integração entre as ações e serviços. 
No enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, 
são colocados grandes desafios aos assistentes sociais principalmente no que 
diz respeito à consolidação do ECA, pois ainda hoje existe com certa força a 
inversão de valores, que permite a visão destes como seres inferiores e 
passíveis de qualquer forma de violência. O novo olhar que o ECA proporciona 
acerca da criança e do adolescente, exige que aconteça um trabalho sócio-
educativo à toda a sociedade de modo que entendam essas crianças e 
adolescentes como sujeitos de direitos. Diante de tal demanda o Assistente 
Social deve ter claro a importância da família e de seu contexto histórico para 
se entender os elementos que contribuíram para que se chegasse a situação 
de violência. 
O profissional realiza um trabalho com essas famílias, a partir da 
acolhida, reuniões individuais e grupais, visitas domiciliares e um 
acompanhamento sistemático de modo a orientá-los e encaminhá-los aos 
serviços necessários, pois mesmo a violência não ocorrendo no âmbito familiar, 
é ali que crianças ou adolescentes vitimizados encontrarão proteção e vínculos 
de afetividade, daí a importância de se conhecer o meio social em que essas 
vítimas se encontram. O atendimento deve ter como princípios a ética e o 
respeito de ambas as partes, com uma postura do profissional de acolhimento, 
de modo a estabelecer vínculos de confiança. 
38 
 
Sendo assim, o papel do Assistente Social diante de tal demanda se 
mostra de suma importância no que diz respeito ao conhecimento da realidade 
desses sujeitos, os fatores sócio-econômicos, éticos e culturais, e na 
articulação necessária com o seu meio familiar e comunitário, assim como com 
os demais serviços de enfrentamento, observando os possíveis fatores que 
levaram a presente situação, para a partir daí buscar alternativas que tornem 
possível o rompimento com esse ciclo. 
A violência contra crianças e adolescentes é algo presente em nossa 
sociedade há muito tempo, diante da relação de inferioridade e de poder, que 
justificava tais ações realizadas pelos adultos. Somente a partir de conquistas 
como o ECA, em 1990, é que crianças e adolescentes passa a ter garantido 
seus direitos. Porém, mesmo diante de seus direitos garantidos por lei, 
crianças e adolescentes ainda sofrem com os mais diferentes tipos de 
violência, como a violência sexual, que na sua maioria das vezes ocorre no 
ambiente intrafamiliar, o que torna mais difícil o conhecimento dessa violência, 
a partir de ameaças feitas pelo agressor e por muitas vezes a família não 
acreditar que este fato esteja ocorrendo. 
Há também formas de violência sexual que podem ocorrer fora da 
família, ou seja, extrafamiliar, como a exploração sexual, que envolve a venda 
do corpo de crianças e adolescentes. Diante dessa realidade ainda vivenciada 
em nossa sociedade, é que se faz necessário a mobilização por parte do 
Estado, da sociedade e da família em garantir que os direitos estabelecidos 
sejam realmente efetivados, a partir de serviços que busquem o atendimento a 
essas vítimas de modo a superar a situação vivenciada e o rompimento com 
esse ciclo. 
Estabelecendo um trabalho articulado e multidisciplinar que garanta que 
essa criança ou adolescente seja atendido em todos os aspectos e meios que 
os envolvem, assim como a preocupação em restabelecer e fortalecer os 
vínculos familiares. Portanto, a violência contra crianças e adolescentes é algo 
que merece uma maior atenção por parte de toda a sociedade, por se tratar da 
violação de direitos de sujeitos que se encontram em situação de pleno 
desenvolvimento. 
 
 
 
 
39 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 Compreende-se que a conceituação dos vários autores sobre 
violência intrafamiliar contra criança e adolescente é de muita relevância, uma 
vez que os mesmos nos mostram que não existe apenas uma, mas distintas 
maneiras de pensar a violência no ambiente familiar e suas tipificações. A 
violência intrafamiliar para com acriança e o adolescente é um grave problema 
de saúde pública, que ainda não é enfrentado com a responsabilidade que 
merece e precisa para ser combatido. 
A partir do exposto neste trabalho têm-se como considerações finais que 
a violência doméstica contra crianças e adolescentes, apesar de ser 
reconhecida legalmente por segmentos sociais, ainda possui uma cultura 
ultrapassada, onde a maior vítima são os menores. 
 Esse tipo de violência traz graves consequências à vítima, traz também 
às pessoas que estão ao seu redor, pois geralmente quando a criança é 
agredida pelo pai, a mulher também se torna vítima. Infelizmente esse tema é 
pouco explorado em termo de pesquisas, contribuindo assim para a 
impunidade dos agressores. 
Diante disso, aprofundamos nossos conhecimentos a respeito dos 
direitos da criança e do adolescente, mostrando porque a ação violenta é uma 
violação dos direitos sociais, e analisamos o trabalho do assistente social em 
cima disso, que por sinal é um trabalho muito delicado, e que não recebe o 
devido reconhecimento. 
 A situação social atual necessita da intervenção do Estado na via 
privada, pois a família como instituição tornou-se ineficaz para atingir seu fim 
social e atender as próprias necessidades. A criança como ser mais frágil de 
toda relação tornou-se ainda mais indefesa, pois o seio que deveria prover 
segurança e estabilidade é o que vem provendo desestrutura. A violência 
sofrida pelas crianças seja física, sexual, psicológica ou negligência não pode 
ser classificada em graus, não podemos classificá-las como de maior ou menor 
importância. Todas são agravantes a vida e desenvolvimento da criança 
devendo ser tratadas.

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