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Centro Universitário Leonardo da Vinci 
Curso Bacharelado em Serviço Social 
 
MARLI RAIMONDI LORRENZZETTI 
 
0506 
 
 
 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS IMPACTOS NA VIDA DOS ADOLESCENTES 
DO NÚCLEO SOCIOTERAPÊUTICO JOINVILLE - NSJ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOINVILLE 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
MARLI RAIMONDI LORRENZZETTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS IMPACTOS NA VIDA DOS ADOLESCENTES DO 
NÚCLEO SOCIOTERAPÊUTICO JOINVILLE - NSJ 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
disciplina de TCC – do Curso de Serviço Social – 
do Centro Universitário Leonardo da Vinci – 
UNIASSELVI, como exigência parcial para a 
obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. 
 
Samara Leorato – Orientador Local 
 
 
 
JOINVILLE 
2021 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS IMPACTOS NA VIDA DOS ADOLESCENTES DO 
NÚCLEO SOCIOTERAPÊUTICO JOINVILLE - NSJ 
 
 
 
 
POR 
 
 
 
 
MARLI RAIMONDI LORRENZZETTI 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado do 
grau de Bacharel em Serviço Social, sendo-lhe 
atribuída à nota “______” 
(_____________________________), pela banca 
examinadora formada por: 
 
 
 
 
 
 _____________________________________________ 
Presidente: Prof. Samara Leorato - Orientador Local 
 
 
 
 
 ___________________________________________________ 
Membro: Regina Miranda da Silva - Profissional da Área 
 
 
 
 
 ___________________________________________________ 
Membro: Neide Mary Camacho Solon - Profissional da área 
 
 
 
 
 
 
 
JOINVILLE 
30/06/2021 
DEDICATÓRIA 
 
Dedico esse trabalho primeiramente a minha mãe. Assim como muitas mulheres, vivenciou a 
violência, fez parte de um sistema patriarcal e machista, mas que não a impediu de nos dar 
amor e nos ensinar a ter fé. Também dedico as minhas irmãs, cunhadas e a todas as mulheres 
que não desistiram de suas famílias e lutam por seus direitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Os filhos são como as águias, ensinarás a voar, mas não voarão o teu voo. 
Ensinarás a sonhar, mas não sonharão os teus sonhos. 
Ensinarás a viver, mas não viverão a tua vida. 
Mas, em cada voo, em cada sonho e em cada vida 
Permanecerá para sempre a 
 Marca dos ensinamentos recebidos”. 
 
 
Madre Teresa de Calcutá 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente agradeço a Deus por ter dado condições e força para a conclusão do 
curso. Foram muitas barreiras nesses quatro anos, mas Ele me sustentou e conduziu pelas 
mãos até o fim. 
Ao meu marido, meu maior incentivador, que nos momentos de angústia e desânimo 
não me deixou desistir e sempre acreditou no meu potencial. Obrigada por existir em minha 
vida. 
Aos meus filhos, que por vezes recorri a eles, meus tesouros mais preciosos. Agradeço 
por todo carinho, compreensão e paciência. 
Sou grata a minha supervisora de campo Rosangela, pelas valiosas contribuições dadas 
ao longo do estágio, por disponibilizar de seu tempo e conhecimento, contribuindo com 
minha formação. 
Também quero agradecer ao NSJ, por ter aberto as portas para a realização do estágio, 
a coordenadora Elaine e toda equipe que me recebeu com muito carinho e possibilitaram fazer 
minha pesquisa de conclusão de curso. 
Grata também aos adolescentes do NSJ que aceitaram participar da pesquisa, por 
compartilhar suas histórias de vida e significações acerca da dolorosa vivência da violência, 
contribuindo para a pesquisa e principalmente para o aprimoramento pessoal e profissional. 
A minha tutora Samara, que aceitou nos orientar e acompanhar em um momento 
difícil, não medindo esforços para nos ajudar e nos manter motivados nessa etapa final. 
Aos meus colegas de curso de Serviço Social, pelas trocas de ideias e ajuda mútua. 
Juntos conseguimos avançar e superar todos os entraves. 
A minha sobrinha Patricia, minha amiga, companheira e incentivadora em todos os 
momentos, que me impulsionou a fazer a graduação. 
Finalmente meus agradecimentos a minha mãe, sempre presente na minha vida e de 
minha família, fundamental para eu ser a pessoa que sou, referência de mãe para mim. 
Saudades eternas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Uma pessoa que seja capaz de amar é aquela que recusa aquilo que faz mal” 
 
(Mario Sergio Cortella) 
RESUMO 
 
O presente trabalho traz a discussão sobre a violência doméstica e o uso de substâncias 
psicoativas pelos adolescentes do NSJ na cidade de Joinville, compreendendo-a em sua 
perspectiva histórica e os reflexos que são evidenciados na contemporaneidade. Para isso foi 
utilizada uma pesquisa bibliográfica e descritiva por meio de pesquisa de campo utilizando o 
questionário como instrumento. A violência doméstica tem raízes desde a antiguidade, 
percebendo-se ligação com o uso de substâncias lícitas e ilícitas, ficando mais evidente com a 
realização do estágio em Serviço Social no Núcleo Socioterapêutico Joinville. Este fenômeno 
ocorre desde os tempos mais remotos, está enraizado na sociedade e é replicado 
cotidianamente através de práticas opressoras e hegemônicas. A violência doméstica e o uso 
de drogas mostram-se difícil, visto que esse fenômeno se inicia por vezes, no ambiente 
doméstico, local que seria sinônimo de segurança e acolhimento. Compreender a percepção 
da violência enraizada e praticada no âmbito privado e a relação com a drogadição que se 
evidencia nos adolescentes em tratamento no NSJ. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Violência doméstica; Adolescência; Substância Psicoativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
CAPS IJ – Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil 
CEDAW – Convenção de Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher 
CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher 
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social 
CSW – Comissão sobre o Status da Mulher 
DDM – Delegacia de Defesa da Mulher 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
NSJ – Núcleo Socioterapêutico Joinville 
OEA – Organização dos Estados Americanos 
OMS – Organização Mundial da Saúde 
ONU – Organização das Nações Unidas 
PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos 
PTS – Projeto Terapêutico Singular 
SPA – Substâncias Psicoativas 
TUS – Transtorno por Uso de Substâncias 
UNICEF – Fundo Internacional das Nações Unidas Para a Infância 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11 
2. APRESENTAÇÃO DO TEMA .............................................................................................. 13 
2.1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ........................................................................................ 14 
2.2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO ........................................................................................................ 16 
2.3 IDEOLOGIA PATRIARCAL ..................................................................................................... 19 
2.4 A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NA LUTA PELOS DIREITOS DAS 
MULHERES ..................................................................................................................................... 21 
2.4.1 Avanços das leis voltadas para a mulher .............................................................................. 23 
2.5 INTRODUÇÃO À LEI MARIA DA PENHA NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA CONTRA A MULHER ............................................................................................ 24 
2.6 VIOLÊNCIA NO ÂMBITO FAMILIAR ................................................................................... 26 
2.6.1 Violência Física ....................................................................................................................26 
2.6.2 Violência Psicológica ........................................................................................................... 27 
2.6.3 Violência Sexual .................................................................................................................. 27 
2.6.4 Negligência........................................................................................................................... 28 
2.7 RELAÇÕES FAMILIARES ....................................................................................................... 29 
2.7.1 Diversidades nas Configurações Familiares ......................................................................... 30 
2.7.2 Família e Responsabilidade Escolar ..................................................................................... 32 
2.7.3 A Família e a Dependência Química .................................................................................... 33 
2.8 ADOLESCÊNCIA E USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ............................................ 34 
2.8.1 Adolescência ........................................................................................................................ 35 
2.9 DESCRIÇÃO GERAL DO NÚCLEO SOCIOTERAPÊUTICO JOINVILLE ........................... 38 
2.9.1 Programa de Tratamento ...................................................................................................... 39 
2.9.2 Atividades que Promovem o Desenvolvimento Emocional ................................................. 40 
2.10 O SERVIÇO SOCIAL .............................................................................................................. 41 
3. PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA E A RELAÇÃO COM A QUESTÃO SOCIAL ............ 46 
4. JUSTIFICATIVA .................................................................................................................. 49 
5. OBJETIVOS.......................................................................................................................... 51 
5.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................... 51 
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 51 
6. METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................................ 52 
7 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ............................................................................... 53 
7.1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS .............................................................................................. 53 
7.2 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................................ 58 
7.3 RESULTADOS ........................................................................................................................... 61 
7.4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................................................... 64 
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 66 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 69 
APÊNDICE ............................................................................................................................... 75 
ANEXO ..................................................................................................................................... 76 
11 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
 O tema do Trabalho de Conclusão de Curso é oriundo da disciplina de Estágio 
Supervisionado em Serviço Social, realizado inicialmente no PAEFI – Serviço de Proteção e 
Atendimento Especializado às Famílias e Indivíduos, ofertado pelo CREAS II – Bucarein – 
Centro de Referência Especializado de Assistência Social. Posteriormente, deu-se 
continuidade no NSJ – Núcleo Socioterapêutico Joinville, onde ambos os campos pesquisados 
têm uma notória ligação com a Violência Doméstica que observou-se ser demandas urgentes 
instauradas no âmbito familiar e com reflexos que perpassa por gerações. 
 A prática da violência doméstica é um exemplo da aprendizagem passada por 
gerações, homens autores de violência tendem a reproduzir as atitudes vivenciadas ao longo 
da história, ou seja, a mulher era dominada pelo pai e posteriormente após o matrimônio pelo 
marido. Mas gradativamente começa a ter uma nuance diferente com a revolução industrial, 
com o adentramento da mulher no mercado de trabalho e na participação financeira nos 
provimentos do lar. 
Doravante ao processo de observação, vislumbrou-se a oportunidade de pesquisar 
sobre a relação que há entre a violência doméstica e a ligação com o uso de substâncias 
psicoativas dos adolescentes em tratamento no NSJ na cidade de Joinville – SC. A realização 
do estágio trouxe o interesse em buscar compreender as consequências que são retratadas na 
vida social, física e psicológica dos filhos. 
É fato que quando se traz o tema no qual se reporta a violência, logo se correlaciona 
com a questão da criminalidade, da marginalidade e dos estigmas classificados pela 
sociedade. Mas nem sempre se reporta nesse sentido, ela também tem suas raízes na área da 
família, da infância e da juventude, desmistificando a violência doméstica que assume sua 
forma de variáveis maneiras, inclusive quando se reporta a gênero, crianças e adolescentes. 
Dessa forma, procurou-se compreender, influências que os adolescentes possam ter 
herdado ou desenvolvido a partir do convívio familiar ou negligência que por ventura tenha 
sido submetido, até mesmo a falta de autonomia e autoestima da figura da mãe, regrando 
conformismo e não atitudes para se romper com o ciclo da violência. 
As mudanças ocorridas na sociedade contribuíram para que houvesse uma análise 
crítica dos impactos das políticas públicas no enfrentamento a violência doméstica. Na busca 
por reduzir os índices de ocorrência foi criado: o Conselho Nacional dos Direitos Da Mulher 
(CNDM) e da Delegacia da Mulher, Vara da Infância e da Juventude, a reformulação da 
12 
 
Constituição Federal com o reconhecimento à criança e o adolescente como sujeitos de 
direitos, sancionada a Lei Federal 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA). 
O ECA caracteriza os sujeitos que possuem entre 12 e 18 anos incompletos, são 
considerados adolescentes. Tampouco nesse período tem se desbravado como uma idade 
crítica, propensa a crises, no qual o sujeito se depara com novos grupos e novas descobertas, 
vivendo assim, conflitos que regem participação e ajuda da família. 
O presente trabalho possui como tema: Violência Doméstica e os Impactos na Vida 
dos Adolescentes do NSJ. Dispõe como objetivo geral: analisar a relação entre a violência 
doméstica no âmbito familiar e o uso de substâncias psicoativas por adolescentes. E como 
objetivos específicos; realizar estudo sobre a violência doméstica contra a mulher e aos filhos, 
com resgate da luta das mulheres contra o sistema patriarcal e machista; identificar, segundo a 
opinião dos adolescentes, se há relação entre a violência doméstica e o uso de substâncias 
psicoativas e qual o papel que as drogas exercem na situação da violência vivenciada; refletir 
sobre a perspectiva que os adolescentes participantes da pesquisa, que passaram por situações 
de violência e drogas na adolescência, tem em relação ao futuro e como enfrentam os 
problemas vivenciados. 
Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas pesquisas bibliográficas, 
exploratória, descritiva e pesquisa de campo. Além dessa metodologia, o instrumental 
técnico-operativo do Serviço Social será de grande importância, com o uso da entrevista, da 
observação e do diário de campo para tornar o artigo acadêmico mais completo. 
Acredita-se que o referido trabalho proporcioneuma reflexão sobre a necessidade de 
um olhar mais específico sobre a situação da violência doméstica e da atuação e intervenção 
do assistente social, uma vez que as expressões da questão social se modificam 
constantemente, urgindo que o profissional necessita estar em constante aprendizado e 
capacitação, na implementação das leis, como um viabilizador na promoção da garantia dos 
direitos. 
13 
 
2. APRESENTAÇÃO DO TEMA 
 
 
A violência doméstica ocorre desde os primórdios da humanidade como um fenômeno 
social. Ficavam evidenciados os papéis desempenhados do homem e da mulher, 
caracterizados como uma identidade cultural que era permeada ao longo do tempo por 
gerações, dando ao homem superioridade e apropriação sobre a mulher reduzindo ela a um ser 
inferior, impedindo que tivesse autoridade e autonomia na vida social. 
Segundo Fraga (2002, p.44): 
 
A violência acompanha o homem desde os primórdios da história, a essa violência, o 
autor chama de “original” que seria praticada como uma necessidade incontrolável 
pela sobrevivência diante de questões que não lhes ofereciam em absoluto qualquer 
que fosse a possibilidade de saída a não ser a violência em si. (FRAGA, 2002, p. 44). 
 
 
A violência é um fenômeno social, construído culturalmente ao longo da história da 
humanidade. Ela revela relações de desigualdades e de conflitos entre oprimidos e opressores. 
Neste contexto de desigualdades, as estruturas de poder e dominação, sejam elas de caráter 
individual ou de caráter grupal, se impõem sobre os dominados através da expropriação 
cultural, política, social e econômica e pela desvalorização da vida e violação de direitos 
humanos (Minayo, 1997). 
As relações entre os gêneros se estabelecem a partir da construção histórica dos 
poderes. Foi estabelecida, por muito tempo, a relação entre a condição feminina e suas 
características próprias. Criou-se, desta maneira, uma história de uma mulher submissa e 
anulada, frente ao domínio do homem. No entanto, as relações de poder inserem-se numa 
ótica fragmentária e transformável deste, onde o poder não é algo absoluto, mas estabelece-se 
nas nuances das realidades, nos microuniversos (FOUCAULT, 1979). 
Com isso, observou-se também a necessidade de sensibilização social em prol da 
prevenção de problemáticas emergentes no nosso meio social, oriundas das transformações 
históricas ocorridas em nossa sociedade e que refletem diretamente nas famílias, vindo a 
contribuir com um olhar para as crianças e adolescentes, que igualmente como a mulher tem 
uma figura despercebida dentro de casa e alheia a eventuais problemas que se negam a 
enxergar por decorrência de negligência familiar. 
A família precisa ter a sensibilidade de identificar atitudes e gestos que não são 
expressados por fala, mas estar atento ao olhar, ou não olhar, depende daquilo que o 
adolescente quer que saibamos, dialogar, saber onde vai e com quem. Muitos problemas 
14 
 
poderiam ser evitados, ou o porquê e quando o adolescente começou a fazer uso de algum tipo 
de substância psicoativa. Será que foi escondido ou com a permissão dos pais? Foi em 
decorrência de abusos, tanto físicos, como psicológicos ou sexual? Ninguém nasce sendo um 
alcoolista ou um drogado, tem uma história por trás de cada vida. Acontece com famílias de 
todas as posições sociais, a diferença é que geralmente o adolescente com uma condição 
melhor, não está em déficit com a saúde e escolaridade, quanto aquele adolescente que está 
em vulnerabilidade social. 
A abordagem deste conteúdo exprime as contrariedades da evolução histórica 
ocasionadas por situações adversas, tanto cultural, patriarcal, social, formadores das 
desigualdades sociais provenientes de nossa sociedade, culminando diretamente na essência 
familiar. 
 
 
2.1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 
 
 
A violência de um modo geral está presente na sociedade desde a antiguidade, 
manifestando-se em várias formas e aspectos. Está enraizada em diversos espaços, 
especialmente nos lares, onde deveria ser um lugar de aconchego, proteção, refúgio das 
famílias. No entanto se considerarmos que a violência está associada a contextos sociais e 
períodos históricos distintos, o que é considerado violência para uma sociedade, nem sempre 
o será para outro, dependendo do contexto histórico. 
As mulheres por serem consideradas mais vulneráveis, sucessivamente são o alvo de 
tais violência, ficando expostas a prática, intencionalmente subordinadas a maus tratos, 
xingamentos como um ser inferior e não digna de respeito. 
 
Constata-se que as mulheres foram perseguidas e maltratadas pelo fato de serem 
mulheres, diferentemente do que ocorreu com os homens, que também foram 
reprimidos e subordinados, mas por razões externas e não simplesmente porque 
eram homens. Os jovens, enquanto jovens, eram reprimidos e subordinados, mas ao 
se transformarem em velhos, adquiriam status e passavam a ocupar postos 
importantes. [...]. O mesmo não sucedia com as mulheres, que se perpetuavam como 
seres subordinados. (TELES; MELO, 2002, p.30) 
 
Justificada muitas vezes como forma de reivindicar respeito, a violência caracteriza-se 
como um fenômeno que surgiu, sendo propício ao desenvolvimento da sociedade. Só que em 
15 
 
pleno século XXI, a mulher sofre discriminação até mesmo da própria família quando é alvo 
de violência, ou seja, ela é culpada em qualquer situação. 
Segundo Rocha (2007, p. 91-92): 
Em virtude da denominada “sacralidade familiar”, é construído um “muro de 
silêncio” em torno dos fatos ocorridos no seio da família. [...] As mulheres se tornam 
“culpadas” e seus agressores, homens íntegros, que apenas desejavam defender a 
honra e o bom nome da família. Assim também acontece com mulheres estupradas, 
sobre as quais pesa sempre a suspeita de que foram sedutoras e, portanto, 
responsáveis pela violência sexual masculina. (ROCHA, 2007, p. 91-92). 
 
Azevedo e Guerra (2000) e Chauí (1984) afirmam que a violência é a imposição da 
força e a considera sob dois ângulos: a violência com a finalidade de dominação/exploração, 
superior/inferior, ou seja, como resultado de uma assimetria na relação hierárquica e o 
tratamento do ser humano não como sujeito, mas como coisa, caracterizado pela inércia, pela 
passividade e pelo silêncio, quando a fala e atividade de outrem são anuladas. “Assim, tanto 
num caso quanto no outro, estamos diante de uma relação de poder, caracterizada num polo 
pela dominação e no outro pela coisificação”. (AZEVEDO, GUERRA, 2000, p. 46). 
A cultura da violência doméstica decorre das desigualdades no exercício do poder, 
levando assim uma relação de “dominante e dominado”, que apesar de se obter avanços na 
equiparação entre homens e mulheres, a ideologia patriarcal ainda vigora, e a desigualdade 
sociocultural é uma das principais razões da discriminação feminina (DIAS,2007, P.15-16). 
As consequências deixadas por essa violência podem permanecer com a vítima ao 
longo de sua vida, com sequelas que podem ser irreversíveis, se não corporais, mas de âmbito 
psicológico e sentimental. 
O fenômeno da violência, portanto, é algo que está presente ao longo da história da 
humanidade e há muito vem sendo objeto de estudo. A representação que se tem sobre a 
violência é mutável e novos olhares devem ser lançados sobre o fenômeno para sua devida 
compreensão e possíveis intervenções, uma vez que “[...] ela traduz a existência de problemas 
sociais que não são transformados em debates e em conflitos da sociedade” (WIEVIORKA, 
2007, p. 1150). 
Comprovando com essa perspectiva relacionada ao contexto cultural, Minayo (2007) 
apresenta o fenômeno da violência considerando os aspectos histórico, humano e social. O 
aspecto histórico se caracteriza pelas expressões de violência ao longo da história da 
humanidade, ou seja, dentro das especificidades da sociedade e da época pertinente. A 
dimensão humana se dá porque é o indivíduo quem praticao ato violento. Entretanto, não se 
16 
 
deve confundir a violência propriamente dita com a agressividade, inerente a todo ser 
humano, enquanto um instinto necessário à sobrevivência, defesa e adaptação das pessoas em 
sua própria construção subjetiva (FREUD, 1920). Por fim, a violência se insere na construção 
social e cultural da sociedade e do tempo histórico em que está sendo vivenciada. 
 
 
2.2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
 
 
A violência de gênero consiste em qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que 
coloque a mulher em situação inferior, subjugando-a e causando sofrimento, tanto no âmbito 
público como no privado. É uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais 
entre homens e mulheres, em que a subordinação não implica na ausência absoluta de poder. 
Piovesan (2002, p. 214) conceitua a violência contra a mulher como: 
 
[...] qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção, 
ocasionado pelo simples fato de a vítima ser mulher, e que cause danos, morte, 
constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, 
político ou econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em 
espaços públicos como privados. (PIOVESAN, 2002, p. 214). 
 
A violência decorrente da diversidade de gênero encontra-se inserida em um contexto 
social marcado por um pensamento que enaltece as desigualdades entre os sexos. Nesse 
sentido, pode-se dizer que tal pensamento, fundado na desigualdade de gêneros e na 
inferioridade feminina, ensejou a inovação legislativa para proteger essa parte da população 
vítima da violência de gênero (OLIVEIRA, 2010). 
Essa desigualdade de gênero é salientada pela relação de poder entre o homem e a 
mulher, a julgar o mais forte e o mais fraco, predomínio do homem nos contextos sociais e 
pela submissão das mulheres, papéis impostos pela sociedade e consolidados desde os 
primórdios da humanidade. 
 
A violência de gênero tem sua origem na descriminação histórica contra as 
mulheres, ou seja, num longo processo de construção e consolidação de medidas e 
ações explícitas e implícitas que visam submissão da população feminina, que tem 
ocorrido durante o desenvolvimento da sociedade humana. (TELES; MELO, 2012, 
p. 27). 
 
17 
 
Cavalcanti (2006) ressalta que a violência de gênero é a mais perversa manifestação 
das relações de poder e de desigualdade entre os sexos. As diversas formas de agressão 
existentes também têm sua gênese no cenário cultural histórico de discriminação e 
subordinação das mulheres. A desigualdade criada em torno do masculino e do feminino abriu 
as portas para uma série de comportamentos relacionados ao domínio e ao poder de homens 
sobre mulheres, gerando o uso da violência. O homem historicamente recebeu da sociedade o 
aval para ser o chefe da casa, passando a crer que possui o direito de usar a força física sobre 
sua companheira ou ex‐companheira, como forma de impor e cobrar o comportamento que 
considera adequado para si e para ela. 
Percebe-se que existe uma relação histórica e cultural que perpassa várias gerações e 
define papéis sociais do homem e da mulher, a ideologia do patriarcado e machismo, a 
imposição daquele que se auto proclama chefe da casa e de tudo que está dentro dela, 
inclusive da mulher. Essa forma de violência vem sendo construída mediante o processo de 
socialização das pessoas, ocorrido durante a educação e costumes familiares, além do 
ambiente social (escolar/comunitário) em que os indivíduos irão conviver e se desenvolver. 
Em face ao contexto social e político, e devido a intensa luta do movimento feminista, 
especialmente entre as décadas de 60 e 70 do século XX, muitos documentos nacionais e 
internacionais foram redigidos, na tentativa de reverter essa situação, garantindo cada vez 
mais a igualdade e a dignidade a que a mulher tem direito. 
Dessa forma, a Organização das Nações Unidas (ONU) vem, há muito tempo, 
buscando formas de garantir a proteção das mulheres, instituindo em 1946 a Comissão sobre 
o Status da Mulher (CSW) que elaborou diversos estudos e análises sobre as condições das 
mulheres no mundo. Como resultado, foram elaborados diversos documentos internacionais, 
tais como: Convenção dos Direitos Políticos das Mulheres em 1952; Convenção sobre a 
Nacionalidade das Mulheres Casadas em 1957; Convenção sobre o Casamento por Consenso, 
Idade Mínima para Casamento e Registro de Casamento em 1962. (SOUZA, 2009). 
Em 1975 a ONU proclamou o Ano Internacional da Mulher e atestou o período de 
1976-1985 como a Década da Mulher. Todas essas ações impulsionaram ainda mais as 
atividades dos movimentos feministas que, a exemplo da I Conferência Mundial sobre a 
Mulher, formularam propostas que pudessem incluir aos documentos oficiais questões 
específicas para melhorar as condições de vida de mulheres do mundo todo. Em 1979, a ONU 
aprovou a Convenção de Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher 
(CEDAW), conhecida como a “Lei Internacional dos Direitos das Mulheres”, que entrou em 
18 
 
vigor somente em setembro de 1981. Tal documento considera que a discriminação contra a 
mulher: 
 
[...] viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da dignidade humana, 
dificulta a participação da mulher, nas mesmas condições que o homem, na vida 
política, social, econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao aumento 
do bem-estar da sociedade e da família e dificulta o pleno desenvolvimento das 
potencialidades da mulher para prestar serviço a seu país e à humanidade (CEDAW, 
1979, p. 19). 
 
 
Em pouco tempo, podemos observar um grande empenho por parte dos órgãos de 
proteção internacionais e da sociedade, para que as mulheres também possam ser tratadas 
igualitariamente em direitos, visando à não violação de sua integridade física, psicológica, 
emocional e social, ganhando cada vez mais força com cada acordo e tratado assinado 
internacionalmente. O Brasil ratificou a Convenção de Eliminação de todas as formas de 
discriminação contra a Mulher somente em 1984, fazendo reserva a alguns artigos que diziam 
respeito sobre a igualdade entre homens e mulheres na esfera familiar (SOUZA, 2009). 
E foi em 1985, após intensa pressão dos movimentos feministas nacionais para o 
reconhecimento da violência doméstica contra as mulheres dentro do âmbito doméstico 
enquanto crime, o então secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, Michel 
Temer, criou a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). No mesmo ano, outras seis 
capitais implantaram suas próprias delegacias especializadas para o atendimento às mulheres 
vítimas de violência: Belo Horizonte -MG, Cuiabá -MT, Curitiba -PR, Florianópolis -SC, 
Vitória -ES e Recife -PE. (SOUZA; CORTEZ, 2014). 
Já em 1993, a ONU aprovou a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as 
Mulheres, foi o primeiro documento internacional que apresenta especificamente sobre essa 
forma de violência, entendida como “[...] uma manifestação de relações de poder 
historicamente desiguais entre homens e mulheres que conduziram à dominação e à 
discriminação contra as mulheres pelos homens e impedem o pleno avanço das mulheres” 
(ONU, 1993). 
No ano seguinte, foi assinada a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e 
Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará), definindo-se que essa 
forma de violência se refere a “[...] qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause 
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública 
como na esfera privada” (ONU, 1994). Tal documento foi ratificado pelo Brasil em 1995, 
após eliminar, em 1994, as ressalvas feitas à ratificação da Convenção de Eliminação de todas 
19 
 
as formas de Discriminação contra a Mulher. Em 1995 também ocorreu a quarta Conferência 
Mundial da Mulher, que chamava a atenção dos governantes a condenarem a violênciacontra 
a mulher, eliminando quaisquer alegações baseadas em tradições, costumes ou religião como 
desculpas para a legitimação de tal violação. 
Cabe salientar que a violência de gênero é um fenômeno que não obedece a fronteiras, 
princípios ou leis e, consequentemente crianças e adolescentes, são tão vítimas por 
conviverem em lares e em uma sociedade que ainda nos dias de hoje fazem descriminação 
quanto ao gênero mais frágil. 
 
 
2.3 IDEOLOGIA PATRIARCAL 
 
 
Conforme Engels, a vida da mulher foi marcada por modelos diferentes, segundo o 
contexto histórico. No período pré-histórico, ficaram evidenciados os papéis desempenhados 
pelo homem e pela mulher, que chegou a alcançar posição proeminente na sociedade. Já na 
época civilizatória, com o advento da família patriarcal, a construção da identidade feminina 
se forma e se enraíza, na interiorização pelas mulheres, de normas enunciadas pelos discursos 
masculinos de conformidade com os estereótipos de cada povo e de cada território, com papel 
fundamental da religião na manutenção e reprodução desse sistema. Os papéis e estereótipos 
impostos à mulher diversificam-se de acordo com a expectativa de cada povo e em épocas 
distintas, ou por outras palavras, a mulher deveria realizar em sua vida aquilo que concernisse 
à cultura de determinado povo, em determinada época. 
 Ao longo da história no Brasil, as práticas patriarcais caracterizam autoridade e 
dominação do homem sobre a mulher. Está muito enraizado na cultura brasileira, 
configurando uma visão de poder sobre o sexo feminino aprendidos desde a infância, onde se 
instala na consciência de ambos os sexos, o papel secundário da mulher e estabelecendo lugar 
de destaque ao homem. 
Como ressalta Saffioti (2004, p. 34-35), os homens gostam de ideologias machistas, 
sem sequer ter noção do que seja uma ideologia. Mas eles não estão sozinhos. Entre as 
mulheres, socializadas todas na ordem patriarcal de gênero, que atribui qualidades positivas 
aos homens e negativas, embora nem sempre, às mulheres, é pequena a proporção destas que 
não portam ideologias dominantes de gênero, ou seja, poucas mulheres questionam sua 
inferioridade social. Desta sorte, também há um número incalculável de mulheres machistas. 
20 
 
E o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma estrutura de poder, cuja 
distribuição é muito desigual, em detrimento das mulheres. 
Minayo (2007, p. 11) compreende que: 
 
Na visão arraigada no patriarcalismo, o masculino é ritualizado como o lugar da 
ação, da decisão, da chefia da rede de relações familiares e da paternidade como 
sinônimo de provimento material. É assim, porque tal concepção configura uma 
representação social solidificada e naturalizada por meio dos valores tradicionais de 
gênero. (MINAYO, 2007, p. 11). 
 
 
Com a definição dos papéis impostos pela sociedade patriarcal a mulher tem seu 
espaço restrito e até mesmo de conformismo, aceitando a incumbência dada a ela de ser 
somente aquela que deveria ser responsável pelo funcionamento do lar e a manutenção da 
família. Já desde a infância, na casa dos pais sendo educada para atender o pai e os irmãos, 
reafirmando a prática após o casamento, aceitando tudo como natural. Scott (2013, p. 16) 
declara que através da ideologia patriarcal “[...] a mulher deveria obedecer ao pai e o marido, 
passando a autoridade de um para outro através de um casamento monogâmico e 
indissolúvel”. 
Vive-se, portanto, sob a lei do pai e, assim, do marido, a tradição patriarcal se 
reafirmando através do matrimônio, como única alternativa imposta a ela, a de cuidar da casa 
e procriar. Assim o regime patriarcal se sustenta em uma economia domesticamente 
organizada, assegurando ao homem que tivesse alguém para servir a ele quando voltasse do 
trabalho e satisfaze-lo sexualmente. 
A cultura da violência intrínseca no casamento permanece nos dias atuais (LAGE; 
NADER, p. 300), ressalta “[...] que essa visão nunca foi exclusiva dos homens, sendo 
compartilhada por muitas mulheres, que também consideram que a violência doméstica faz 
parte das relações conjugais”. Durante muito tempo a violência sofrida pelas mulheres não era 
considerado um problema social onde precisasse da intervenção do Estado, pelo fato de 
ocorrer no espaço doméstico, ficando à família o dever de resolver. 
É justamente no âmbito familiar, lugar que deveria ser de segurança, onde mais se 
propaga a violência contra a mulher, muito mais difícil de identificar, sendo que agressor e 
vítima estão sob o mesmo teto. E com a caracterização que já foi incumbida a mulher de que 
se “ela apanha é porque merece”, se calam e vivem um dia após o outro, conformando-se com 
a situação, devido a função de manter a família em seu funcionamento. 
21 
 
Dessa forma, os filhos crescem nesse ambiente, reportando o comportamento do pai 
sobre a irmã, ou até mesmo a própria mãe, com a ideia que essa é a função do homem, “tudo 
posso”, inclusive o uso de álcool e até mesmo a experimentação das drogas. 
Ao longo da história e insatisfeitas com a posição credenciada as mulheres, elas vêm 
clamando pela busca da igualdade de direitos e condições, principalmente, buscando ocupar 
seu lugar na sociedade, sendo reconhecidas como cidadãs dignas e não mais sob o jugo do 
patriarcado e recebendo opressão por conta do gênero. No entanto, a busca por esses direitos, 
não foram fáceis e ainda nos dias de hoje existe muito preconceito sobre a posição da mulher 
na sociedade. 
 
 
2.4 A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NA LUTA PELOS DIREITOS 
DAS MULHERES 
 
 
No decorrer da história a desigualdade de gênero, especialmente considerando as 
sociedades mais antigas onde a referência que se tinha era o modelo de família patriarcal, era 
aquela onde o homem era o provedor e a mulher servia apenas para constituir família, cuidar e 
educar os filhos e ser submissa aos caprichos do marido, realizando suas vontades e aquilo 
que lhe davam prazer, ou seja, a mulher era mantida no ambiente doméstico e submissa a 
figura masculina, resultando em uma pessoa anulada e desprovida de direitos. 
O movimento feminista surge para romper com essa tradição arcaica que tinham como 
base a subordinação da mulher, descaracterizando a visão hierárquica exercida pelo homem e 
oportunizando um novo olhar para o papel da mulher na sociedade. Segundo Alves e Pitanguy 
(1981), o movimento feminista contrariou as identidades femininas e masculinas socialmente 
estabelecidas e que se traduziam em relação de poder entre os sexos. E para Teles (1993), o 
feminismo, num formato universal, buscou como movimento de conotação política combater 
a opressão patriarcal configurada na sociedade, objetivando a melhoria da condição da mulher 
em vários setores, quais sejam, social, econômico, político e ideológico. 
No Brasil uma das primeiras lutas das mulheres foi o movimento sufragista. Essa 
conquista deve-se à pressão realizada pelo movimento feminista no Congresso Nacional. 
Após uma longa jornada de lutas e debates que vieram a acontecer no ano de 1932, as 
mulheres conquistaram o direito ao voto, porém de forma parcial. Somente dois anos depois, 
em 1934, quando da inauguração de um novo Estado Democrático de Direito e por meio da 
22 
 
Constituição da República, é que esses direitos políticos conferidos as mulheres foram 
assentadas em bases constitucionais. 
Nos primeiros anos da década de 60, lança-se a pílula anticoncepcional, num contexto 
em que o movimento feminista no mundo vai se configurando como uma luta não só por 
espaço político e social, mas como uma luta por uma nova forma de relacionamento entre 
homem e mulher. O surgimento da pílula anticoncepcional oportunizou à mulher a 
reintegração ao mercado de trabalho, além de proporcionar o planejamento familiar, ou seja, 
planejarem através do estilo de vida quantos filhos desejavam ter e em qual período, 
possibilitando que a mulher tivessemais autonomia, combatendo a opressão social enraizada 
na sociedade. 
O ingresso da mulher no ambiente de trabalho não era bem visto pela sociedade, os 
homens sempre dominaram os espaços onde nem se imaginava uma mulher ocupando, não 
condizendo com a ideologia patriarcal que atribuía a ela o lar, os cuidados com a família e os 
afazeres domésticos. Aquelas que ocupavam um espaço no mercado de trabalho eram 
consideradas mão de obra barata, desvalorizadas monetariamente e socialmente, ficavam com 
as tarefas rotineiras e repetitivas, chegando no final do dia em uma situação exaurida, num 
completo esgotamento físico e mental, sem contar que a lida não termina por aí, porque ao 
retornar para seu lar fica sentenciado a ela as tarefas da casa e os cuidados com a família. 
Marx e Engels (1998, p. 26) trazem uma visão capitalista acerca da diferença de 
gênero, sendo que, neste contexto apresentado pelos autores: 
 
O burguês vê na mulher um mero instrumento de produção. Ouve dizer que os 
instrumentos de produção devem ser explorados coletivamente e, naturalmente, não 
podem pensar senão que o destino de propriedade coletiva caberá igualmente às 
mulheres. Não pode conceber que se trata precisamente de suprimir a posição das 
mulheres como meros instrumentos de produção. 
 
 
Dentre os desafios, está o de superar a desigualdade salarial e a isonomia em todos os 
aspectos no âmbito laboral, tais como a discriminação que sofrem as mulheres, a dupla 
jornada de trabalho, as responsabilidades familiares, que ainda permanecem, em sua grande 
maioria, sob sua responsabilidade. 
A partir das práticas desiguais da sociedade, percebe-se que no ambiente doméstico 
também há a propagação da desigualdade de gênero, resultando em violência contra a mulher, 
tudo isso muitas vezes acontecendo de forma oculta, sem que os outros percebam o que se 
passa no âmbito familiar. 
23 
 
A constante luta pela igualdade social resultou na participação de movimentos 
feministas na criação ou modificação de legislações e de políticas públicas, promovendo o 
reconhecimento a pessoa da mulher como cidadã de direito, sem distinção de sexo. No 
decorrer dessas lutas por direitos iguais houve avanços relevantes na legislação, aspirando por 
uma sociedade mais justa e igualitária. 
No entanto, em virtude de muitas mulheres ainda viverem de forma anulada, sem que 
se trabalhe a autoestima e autonomia, a vida de muitos filhos resultam na reprodução do 
mesmo ciclo, da mesma forma como ela fica submetida a uma vida de tradição, ou seja, 
dependente do cônjuge, os filhos ficam sujeitos a dar continuidade no estilo de “família”, 
acontecendo dessa forma, a reprise da história. 
 
2.4.1 Avanços das leis voltadas para a mulher 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é considerada o marco da 
"transformação da universalidade abstrata dos direitos naturais (...) em particularidade 
concreta dos direitos positivos” (BOBBIO, 1992, p. 30). A Declaração também enfatiza os 
direitos humanos básicos, como o direito à vida, a liberdade de expressão de opinião e de 
religião, entre outros. Assim, são direitos inerentes a todos os seres humanos, independente de 
raça/etnia, sexo, nacionalidade, classe, religião ou qualquer outra condição. Os direitos 
humanos são resultado de lutas sociais concretas e estão sujeitos a avanços e retrocessos. Por 
serem garantias históricas, mudam com o tempo, adaptando-se às necessidades específicas de 
cada momento. Todo ser humano é portador de direitos e sua promoção é imprescindível para 
o pleno exercício da cidadania. 
 No caso especifico da violência doméstica, tem-se como marco a Lei no 11.343 de 7 
de agosto de 2006. De acordo com Barsted (1994), a inércia da sociedade diante de violência 
doméstica perdurou durante muito tempo até que, com a abertura e fortalecimento da 
democracia no Brasil, após a ditadura militar, em 1985, e, com o advento da Chamada 
Constituição Cidadã, em 1988, grupos de mulheres começaram a se mobilizar com o objetivo 
de alertar a sociedade para a questão da violência contra a mulher que até então era silenciada 
e negligenciada pelos setores públicos existentes. 
As propostas de igualdade social entre homens e mulheres são recentes na nossa 
sociedade: no Brasil, a partir de 1988 passa-se a tratar ambos igualmente perante a lei, através 
da Constituição Federal, que foi elaborada com ampla participação da sociedade, alcançando 
muitas das reivindicações da época. 
24 
 
A Constituição Federal de 1988 propiciou grandes inovações, principalmente nas 
questões direcionadas à família, urgindo que homens e mulheres tenham os mesmos direitos e 
deveres igualmente. Com a promulgação da Constituição, permitiu que o país inovasse nas 
questões de direitos e democracia, contudo ainda existe uma resistência muito grande devido 
a cultura que está enraizada na sociedade, nem mesmo todo o sistema de proteção legal criado 
até hoje foi suficiente para coibir condutas de violação aos direitos humanos das mulheres. 
 O modelo do homem que apresenta um comportamento violento, tão contrário ao 
pacto social da boa convivência, parece desafiar o que entendemos por justiça. Observamos, 
na prática, a sustentação diária do mito do cidadão de papel, apresentado por Gilberto 
Dimenstein (1998), quando ele analisa que a realidade brasileira está muito distante da 
imagem objetivo, na qual se pretende uma sociedade justa e igualitária, capaz de excluir todas 
as formas de opressão e violência contra a mulher. 
Considera-se importante discorrer sobre a elaboração da Lei 11.340 aprovada em 
2006, a lei apregoada a violência doméstica e que recebe a nomenclatura da vítima, Maria da 
Penha, que deu início ao enfrentamento nacional diante dos casos de abusos e opressão 
vivenciados pelas mulheres vítimas de violência doméstica. 
 
 
2.5 INTRODUÇÃO À LEI MARIA DA PENHA NO ENFRENTAMENTO DA 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER 
 
 
Inicialmente é importante destacar que a Lei 11.340/2006, particularmente conhecida 
como Lei Maria da Penha, tem como referência a mulher que inspirou essa lei. Farmacêutica 
bioquímica, natural do Ceará, mãe de três filhas, teve início as agressões praticadas pelo 
marido logo após o nascimento das meninas. A agressão era tanto física como psicológica, 
resultando com o passar do tempo em duas tentativas de homicídio. Uma das tentativas 
ocorreu enquanto ela dormia com um tiro nas costas que a deixou paraplégica, após alguns 
meses o agressor tentou eletrocutá-la enquanto a vítima estava no banho. Mesmo diante das 
denúncias, o agressor saiu impune. 
Devido a omissão do Estado, Maria da Penha juntamente com o apoio de organizações 
não governamentais, mobilizaram-se para que houvesse ações que coibissem a prática da 
violência de gênero. Com a impunidade e desleixo da justiça brasileira, foi encaminhado o 
caso para a Organização dos Estados Americanos (OEA), exigindo que o Brasil tivesse um 
25 
 
posicionamento diante do processo de Maria da Penha, além de notificar o país como um 
estado violador, negligência e omissão diante os casos de violência doméstica contra a 
mulher. 
 O governo brasileiro se viu obrigado a cumprir as recomendações da OEA, criando um 
novo dispositivo legal que trouxesse maior eficácia na prevenção e punição da violência 
doméstica contra a mulher. A partir de então o Brasil formula a Lei 11.340, aprovada em 2006 
por unanimidade, sendo inclusive, considerada pela ONU, como a terceira melhor lei contra 
violência doméstica do mundo. 
A elaboração dessa lei contou com a participação de movimentos feministas, em busca 
da erradicação, prevenção e punição da violência praticada contra a mulher, é um resultado de 
muitos anos de lutas para que as mulheres pudessem dispor de uma lei própria que 
assegurasse seus direitos e lhe oferecesse um mínimo de dignidade. 
Essa Lei tipifica a violência doméstica como uma das formas de violaçãodos direitos 
humanos. Altera o Código Penal e possibilita que agressores sejam presos em flagrante, ou 
tenham sua prisão preventiva decretada, quando ameaçarem a integridade física da mulher. A 
lei veio com o principal objetivo de garantir os direitos fundamentais a todas as mulheres, 
coibindo toda e qualquer forma de violência, além de incluir a punição dos agressores, 
proteção e assistência as mulheres em situação de violência doméstica. 
Por intermédio da Lei 11.340/2006, percebe-se que essa protege a mulher de vários 
casos de violência doméstica contra a mulher, prestando amparo e condições que resgatem 
sua identidade e cidadania. Através desse instrumento definem-se formas da violência, 
dividida em violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual, tornando-se 
imprescindível compreender as manifestações da violência praticada contra a mulher, 
possibilitando assim um maior entendimento da amplitude da Lei Maria da Penha. 
Segundo Dias (2007, p.26): 
 
Chegou o momento de resgatar a cidadania feminina. É urgente a adoção de 
mecanismos de proteção que coloquem a mulher a salvo do agressor, para que ela 
tenha coragem de denunciar sem temer que sua palavra não seja levada a sério. Só 
assim será possível dar efetividade à Lei Maria da Penha. (DIAS, 2007, p. 26). 
 
Vale ressaltar que a Lei Maria da Penha é a maior política pública de enfrentamento à 
violência doméstica e, também, de violência de gênero, mas não pode ser considerada como 
único mecanismo de defesa e proteção às mulheres. 
 
26 
 
2.6 VIOLÊNCIA NO ÂMBITO FAMILIAR 
 
 
Embora a violência está presente na sociedade desde os primórdios da história, no 
contexto do referido estudo, reporta-se à violência doméstica e uso de drogas na adolescência, 
dentro do âmbito familiar e a relevância em identificar a relação entre ambos. É entre o 
aconchego do lar que a família deveria oferecer proteção, segurança e condições dignas de 
crescimento. Mas também se sabe que no interior de muitos lares que crianças e adolescentes 
são vítimas de todo tipo de violência: física, psicológica, sexual e negligência. 
Saffioti (1999) compreende que nesse contexto existe uma sobreposição de violências 
de gênero e violência familiar e aponta que geralmente se estabelece um território em que 
todas as pessoas pertencentes a este são, simbolicamente, pertencentes ao chefe do território, 
muito frequentemente o homem. A violência praticada por pai e mãe também tem seu cunho 
na hierarquia e, muitas vezes, as mulheres que, “[...] tendo seus direitos humanos violados por 
seu companheiro, maltrata seus filhos” (SAFFIOTI, 1999, p. 83). É, portanto, desde a infância 
que o sujeito experimenta a exploração-dominação do patriarca, seja diretamente, seja através 
da mulher adulta. A violência doméstica é compreendida, pois, como formas de violações de 
direitos e de sujeito, porque o próprio indivíduo em sua singularidade e subjetividade está em 
sofrimento. 
A detecção desse tipo de violência, no entanto, se torna muitas vezes uma tarefa 
difícil, por se tratar do âmbito privado. Assim, apresenta-se velada num pacto de silêncio 
estabelecido implicitamente entre todos os membros da família, dificultando a resolução e 
vulnerabilizando ainda mais os infantes, que são sempre os mais frágeis nessa dinâmica 
(AMORIM, 2012). 
Dessa forma, a violência atravessa ciclos que veem a desencadear outros tipos de 
problemas, principalmente na vida das crianças e adolescentes que estão em processo de 
absorver, tantas as coisas boas como as ruins no convívio familiar. 
 
2.6.1 Violência Física 
 
Para Guerra (1998) a violência física possui uma definição complexa que vem 
sofrendo transformações ao longo do tempo. No entanto, pode ser conceituada como ação que 
causa dor física na criança ou no adolescente. 
Segundo Braun (2002, p.21): 
27 
 
Os sentimentos gerados pela dor decorrente da violência física de adultos contra 
crianças são na maioria das vezes reprimidos, esquecidos, negados, mas eles nunca 
desaparecem. Tudo permanece gravado no mais íntimo do ser e os efeitos da 
punição permeiam nossas vidas, nossos pensamentos, nossa cultura. 
 
 
Por estarem em crescimento e desenvolvimento de sua personalidade as consequências 
das múltiplas formas de violências podem trazer danos temporários e até irreversíveis. 
 Assim sendo, Assis e Ferreira (2012, p.53), as consequências dessa violência em 
ambiente doméstico se expressão de duas formas: 
 
A violência vivenciada no ambiente intrafamiliar pode se expressar de duas formas: 
a direta, quando a criança se encontra exposta à violência, ou seja, ela é o alvo da 
agressão, e a indireta, quando ela presencia episódios de violência entre seus pais. 
Ambas as formas de violência se tornam prejudiciais ao desenvolvimento físico, 
psíquico e social de uma criança. Os sintomas que surgem com maior probabilidade 
são falta de motivação, ansiedade, depressão, comportamento agressivo, isolamento 
e baixo desempenho escolar. 
 
2.6.2 Violência Psicológica 
 
A violência psicológica representa uma espécie de tortura que agride ao 
desenvolvimento sadio da criança e do adolescente, causando-lhe sofrimento mental. Nessa 
situação, a vítima de violência psicológica, é afetada no seu sentimento de auto aceitação, 
perda da autoestima e consequentemente, gerando diversos problemas afetivos para a sua 
vida. Ela (a criança ou adolescente), mostra mudanças em seu comportamento, sinais de 
ansiedade, apresentam tiques nervosos, causa danos na aprendizagem, começam a mentir e 
fugir de casa. 
Violência psicológica, segundo Minayo (2002, p.105), também pode ser denominada 
como tortura psicológica, e “ocorre quando os adultos sistematicamente depreciam as 
crianças, bloqueiam seus esforços de autoestima e realização, ou as ameaçam de abandono e 
crueldade”. 
 
2.6.3 Violência Sexual 
 
A violência sexual é uma das violências mais aterrorizantes que podem ocorrer na 
infância e adolescência, podendo causar prejuízos físicos e emocionais para o resto da vida. 
Segundo Azevedo e Guerra (2001, p.33) a violência sexual se configura como: 
 
28 
 
Todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e 
uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança 
ou adolescente ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou 
de outra pessoa. (AZEVEDO e GUERRA, 2001). 
 
O abuso sexual é uma das formas mais graves de maltrato infantil, consistindo na 
utilização de um menor, para satisfação dos desejos ou distúrbios sexuais de um adulto, 
muitas vezes encarregado dos cuidados da criança que é abusada. 
A OMS (1999), ao referir-se à violência sexual em que a vítima é uma criança ou um 
adolescente, adota o termo abuso sexual infantil. 
 
Abuso sexual infantil é o envolvimento de uma criança em atividade sexual que ele 
ou ela não compreende completamente, é incapaz de consentir, ou para a qual, em 
função de seu desenvolvimento, a criança não está preparada e não pode consentir, 
ou que viole as leis ou tabus da sociedade. O abuso sexual infantil é evidenciado por 
estas atividades entre uma criança e um adulto ou outra criança, que, em razão da 
idade ou do desenvolvimento, está em uma relação de responsabilidade, confiança 
ou poder (World Health Organization - WHO -, 1999, p. 7). 
 
 
Ocorre, que a violência sexual se torna um transtorno ainda maior quando se trata de 
vítimas como crianças e adolescentes. Pois, devido estarem em processo de desenvolvimento 
encontram-se em situações de maior vulnerabilidade, ocasionando sequelas que podem se 
reproduzir em algum escape, como por exemplo, ser um adolescente arredio, buscando 
refúgio no álcool e drogas. 
 
2.6.4 Negligência 
 
A negligência e o abandono envolvem o não atendimento às necessidades físicas e 
emocionais da criança e a omissão de cuidados básicos. A literatura descreveque geralmente 
famílias negligentes apresentam uso desregrado de bebida alcoólica, elevado consumo de 
drogas, maior número de filhos e desestruturação familiar. A negligência está entre as formas 
mais comuns de maus tratos e abrangem a negligência física, emocional e educacional 
(Azevedo, 2007). 
Ainda, Moreschi (2018), atribui que: 
 
A negligência é a ação e omissão de responsáveis quanto aos cuidados básicos na 
atenção, como a falta de alimentação, escola, cuidados médicos, roupas, recursos 
materiais e/ou estímulos emocionais, necessários à integridade física e psicossocial 
da criança e do adolescente, ocasionando prejuízos ao desenvolvimento. Isto 
caracteriza o abandono, que pode ser parcial ou total. No parcial coloca a criança e 
29 
 
adolescente em situação de risco; no total elas ficam desamparadas e ocorre o 
afastamento total da família. (MORESCHI, 2018, p. 15). 
 
As situações de negligência na infância são justificativas utilizadas para a destituição 
do poder familiar. Não são raros os casos em que crianças se encontram em instituições de 
acolhimento ou com outros cuidadores em função de negligências direcionadas aos seus 
responsáveis. Por outro lado, muitas vezes nem a própria família possui essa possibilidade de 
cuidado, também é ou foi negligenciada. 
Gomide et al. (2003) afirmam que: 
 
As famílias que abandonam seus filhos são certamente vítimas dos mesmos 
processos de abandono que agora perpetuam em sua prole. Foram também 
negligenciadas, abusadas física e psicologicamente, desassistidas pela família e pelo 
Estado. (GOMIDE et al., 2003, p.44). 
 
Embora muitos casos de negligência ocorram porque os pais enxergam os filhos como 
um fardo, é preciso destacar que nem toda negligência é intencional. Existem famílias em 
situação de tamanha vulnerabilidade que simplesmente não têm condições de manter a 
criança, ou apenas reproduz nos filhos experiências repassadas que tiveram. 
 
 
2.7 RELAÇÕES FAMILIARES 
 
 
Como explanado anteriormente, a família é referência quando se trata de proteção e 
segurança das crianças e adolescentes. No entanto, nem sempre é assim, é na família que se 
reproduz diversos tipos de violência, como os exemplos citados acima, sendo negligenciado a 
garantia de direitos que é conferido a eles. 
A família é um sistema formado pelo conjunto de relações estabelecidas entre seus 
membros, embora tenha sofrido mudanças quanto à sua estrutura e funcionamento nos 
últimos anos, ela continua sendo a principal base de segurança e bem-estar de seus membros, 
especialmente durante a infância e adolescência. Entretanto, como a família já vem de ciclo 
de violência intrínseca culturalmente, muitos adolescentes enfrentam diversos desafios e 
escolhas negativas que podem acabar prejudicando o desenvolvimento saudável, por isso é 
fundamental que a família esteja preparada para enfrentar estas situações (Senna & Dessen, 
2012). Neste processo, escolhas que envolvem a adoção de comportamentos de risco tornam-
30 
 
se uma preocupação importante, sendo especialmente relevante o problema do uso e abuso de 
drogas. 
 
2.7.1 Diversidades nas Configurações Familiares 
 
A família já passou e vem passando pelas mais amplas modificações, com relação aos 
seus valores pessoais e organizações próprias. Sua essência se mantém mesmo após tantas 
modificações, levando em consideração a essência das relações e a importância de seus 
vínculos e convivência entre os seus membros. 
Venosa (2011) destaca que no Brasil as famílias foram se constituindo no modelo 
patriarcal, que tem como base os efeitos da colonização feita pelos portugueses. Este modelo 
é caracterizado pelo homem como o centro do poder da família e da sociedade. Neste modelo 
familiar, a autoridade máxima é o marido, e a esposa ficava encarregada pelo cuidado das 
proles e organização da casa. 
A família, assim como as demais instituições, é um sistema bastante complexo, sendo 
ela de difícil definição conceitual e de intuito social responsável por propagar valores e 
normas sociais aos seus membros. Lévi-Strauss (1956) acreditava que existia um padrão ideal 
de configuração familiar, da qual a mesma devia seguir as características que seguem: 
 
[...] (1) tem sua origem no casamento; (2) é constituído pelo marido, pela esposa e 
pelos filhos provenientes de sua união; e (3) os membros da família estão unidos 
entre si por (a) laços legais, (b) direitos e obrigações econômicas e religiosas ou de 
outra espécie, (c) um entrelaçamento definido de direitos e proibições sexuais, e uma 
quantidade variada e diversificada de sentimentos psicológicos, tais como: amor, 
afeto, respeito, medo e outros (LÉVI-STRAUSS, 1956, p. 34). 
 
 
 
As famílias, a partir de todas as mudanças que ocorreram na história, passaram a não 
ser mais definidas pelos laços sanguíneos, mas sim, por um conjunto de interações, de afetos e 
relação (SEBEN, 2010). Giraldi e Waideman (2007), afirmam que “há, atualmente, diversas 
formas de organização familiar em nossa sociedade, abrindo um leque de possibilidades de 12 
constituições familiares, apesar de todas se sustentarem dentro de um regime patriarcal”. As 
diversas configurações familiares que podem ser encontradas em nossa sociedade, por 
exemplo: pai e filho (a); mãe e filho (a); filho (a) e madrasta; filho (a) e padrasto; filhos de 
pais diferentes; filhos vivendo com irmãos que não são de sangue; filhos (as) de pais 
homossexuais; filhos (as) que vivem com parentes, entre outras formas de família. 
 
31 
 
[...] casamentos sucessivos com parceiros distintos e filhos de diferentes uniões; 
casais homossexuais adotando filhos legalmente; casais com filhos ou parceiros 
isolados ou mesmo cada um vivendo com uma das famílias de origem; as chamadas 
“produções independentes” tornam-se mais frequentes; e mais ultimamente, duplas 
de mães solteiras ou já separadas compartilham a criação de seus filhos 
(SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 61). 
 
 
A família é considerada a base da constituição do indivíduo. É o primeiro grupo social 
em que se faz parte e, ainda, intitulamos como a instituição referência para o desenvolvimento 
do sujeito. Mesmo que, em muitas circunstâncias não seja o ideal almejado, todos nós temos 
vínculos e histórias envolvendo a família. 
Segundo Hurstel (2006), a família atual vem passando conflitos devido ao 
enfraquecimento do papel dos pais perante seus filhos, sendo que os pais perderam os pontos 
de referências habituais e estão sentindo, cada vez mais, dificuldades para assumir sua função 
e perceber qual é realmente o lugar e o papel que pais e filhos devem assumir dentro da 
família. 
Compreender não somente a família contemporânea, mas entendê-la em seu processo 
histórico de evolução de seus papéis, arranjos familiares, suas funções de criar vínculos 
sociais do indivíduo, contribui para uma nova forma de pensar sobre a atual condição das 
famílias. De acordo com Romanelli (2001), a família vem se destacando como uma instituição 
privada, sendo responsabilizada pela produção social, transmissora de padrões culturais e a 
coordenação à vida social. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) descreve família enquanto lugar que 
deve garantir a segurança e proteção de crianças e adolescentes, que começam a ser 
considerados enquanto sujeitos de direitos e em especial fase de desenvolvimento. Porém, o 
próprio documento aponta que no seio da família mesmo ocorrem violações diversas e legisla 
sobre esse aspecto em seus artigos 4º e 5º. (BRASIL, 1990). 
Também a Constituição Federal de 1988, menciona sobre a responsabilidade da 
família na garantia de assegurar que crianças e adolescentes tenham suas necessidades básicas 
atendidas. No Capítulo VII, Art. 227, estabelece: 
 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, 
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer, àprofissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). 
 
 
32 
 
 É possível observar a mudança no movimento dos cuidados e da atenção em relação 
às crianças e adolescentes no seio da família, em suas diversas constituições e formas de 
relações, que constituirão sua subjetividade e personalidade por meio da educação e 
orientação fornecida neste ambiente. Entretanto, as formas de cuidado parecem ainda não 
acompanhar e compreender tais mudanças. O que importa, no entanto, não é o número de 
pessoas, mas sim o movimento de cuidar e o tipo de cuidado dispensado. 
 
2.7.2 Família e Responsabilidade Escolar 
 
A família é o principal suporte referencial que os filhos têm nos primeiros anos de 
vida, é nela que se busca um modelo e consequentemente tende-se a reproduzir aquilo que 
vivencia, pois, cada elemento da família (seja ela grande ou pequena), é na família que está 
todo o equilíbrio que o ser humano necessita à boa integração na sociedade e 
fundamentalmente à sua sobrevivência. 
Nesse sentido, compreende-se que a família está presente principalmente na primeira 
educação da criança. De acordo com Lacan (1938/2002), é a família que irá atuar na repressão 
dos instintos e na aquisição da língua materna. Assim, o ambiente familiar é considerado 
como o primeiro ambiente de educação no qual o ser humano está inserido, sendo este 
considerado como o local em que o indivíduo será inscrito no mundo simbólico. É no 
ambiente familiar, pois, que a personalidade do sujeito começará a ser construída, ou seja, o 
processo educativo que os pais cumprem em relação aos filhos (sono, alimentação, banho, 
etc.) gera uma mensagem aos infantes para que se adaptem e correspondam aos ideais de filho 
demandado pelos pais. 
Para Borges (2009), a aprendizagem, a socialização, o conhecimento e outras 
atribuições dadas à infância são consequências dessa primeira educação oferecida no seio 
familiar, que constituirá a organização do aspecto psíquico do sujeito. Também Szymanski 
(2004) enfatiza que é na família que ocorre o processo de socialização por meio da 
transmissão de valores, crenças, hábitos e conhecimentos. 
Nesse processo de educação é relevante a participação integral da família, os filhos 
imitam os comportamentos daqueles com o qual convivem, sendo de responsabilidade dos 
responsáveis prezar pela educação, tendo o compromisso de ofertar os direitos inerentes a 
elas. Interessante destacar que o Estado e família é que devem se responsabilizar pelo 
processo educacional, contando com a colaboração da sociedade. E os objetivos da educação 
consistem em contribuir para que ocorra o pleno desenvolvimento dos indivíduos, a formação 
33 
 
para a cidadania e preparação para a atuação profissional. De forma semelhante, a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), ao se referir sobre os “Princípios e Fins da Educação 
Nacional” estabelece: 
 
Art. 2º A educação, é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de 
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno 
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996). 
 
 
Outra legislação que menciona primeiramente a família como responsável por garantir 
os direitos, incluindo à educação, é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que em 
seu Art. 4º estabelece: 
 
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária 
(BRASIL, 1990). 
 
 
É possível refletir sobre o papel da família no sentido de contribuir com o 
desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, quando não há muitas condições 
favoráveis ou diante da existência de violência doméstica. Como fica a dimensão emocional? 
E as relações sociais predominantes? Sendo a família responsável por promover o 
desenvolvimento pleno das pessoas, pressupõe-se que precisa ter condições para assumir essa 
função imprescindível para a vida em sociedade. 
 
2.7.3 A Família e a Dependência Química 
 
É compreendido que a família é a base que representa uma favorável interação no 
processo de educação e crescimento da criança. Diante do exposto, é fato relevante que é 
essencial acompanhar e direcionar a criança e o adolescente nas etapas da vida delas, visto 
que, o adulto tem o dever de educar, cuidar, zelar, garantir que sejam repassados todos os 
direitos inerentes que é descrito na Constituição Federal e devidamente defendido pelo ECA. 
É constatado que parte dos adolescentes que realizam o tratamento no NSJ, estão em 
déficit escolar, uma idade que necessita ser acompanhada. Os pais precisam estar em contato 
com escola, professores, atentos ao material escolar, saber se está em sala de aula. Como 
muitos pais trabalham o dia todo, acabam ficando relapsos e acreditam que seus filhos estão 
34 
 
na escola. Quando se dão conta, ou são comunicados pela escola, descobrem que precisam 
lidar com a situação do envolvimento (dos filhos) com álcool, drogas, subsequentemente já 
em dependência química. 
A importância desta pesquisa está relacionada à busca do meio familiar de usuários de 
substâncias psicoativas, que estão internados no NSJ. Por vezes as equipes de saúde 
encontram dificuldades em manejar estas relações, até mesmo no que diz respeito ao acesso a 
estes familiares. Aqui entra o caso das famílias referenciadas acima, são diversos arranjos 
familiares e nem sempre se consegue a colaboração de todos. Genitores que não se falam, que 
já adquiriram uma outra família, resultando (alguns casos) em adolescentes negligenciados. 
Portanto se faz necessário investigar a dinâmica familiar dos usuários de substâncias 
psicoativas, para uma melhor compreensão das relações, evitando assim, pressupostos 
errôneos como a responsabilização da dependência por parte da família ou usuário. 
Diante disso, é de grande relevância pensar sobre a importância da família do usuário 
dependente de substâncias psicoativas, bem como a influência que ela pode exercer no 
processo de tratamento e recuperação do membro dependente. O processo de adoecimento do 
usuário dependente tem íntima relação com a dificuldade da família em lidar com o 
comportamento do membro dependente, necessitando de suporte terapêutico e acolhimento. 
Esse processo pelo qual transita, a família necessita, então, de grande atenção e 
acolhimento dos profissionais durante o atendimento dos usuários para que haja benefícios 
não só para o usuário, mas também para aqueles que estão envolvidos na situação. 
Foi possível perceber ao realizar o estágio no NSJ, que as famílias precisam tanto do 
tratamento como os adolescentes, necessitam apreender a lidar com a situação, fortalecer os 
vínculos que estão fragilidades ou rompidos, assim como, identificar pontos determinantes 
que precisam ser trabalhados, a fim de ajudar o adolescente a romper com a dependência 
química. 
 
 
2.8 ADOLESCÊNCIA E USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 
 
 
Ao se fazer referência a temática que aborda a violência doméstica e o uso de drogas 
na adolescência, faz-se necessário discorrer a faceta dessa fase da vida, que corresponde ao 
período de transição da infância para a vida adulta. 
35 
 
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é definida como um 
período biopsicossocial e compreende o período entre 10 e 20 anos (SANTOS, PRATTA, 
2012), enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) entende a adolescência como 
fenômeno que ocorre entre 10 e 14 anos (UNICEF, 2011). Entretanto,para os efeitos deste 
estudo, utiliza-se a definição do ECA que compreende a adolescência do período entre 12 e 
18 anos incompletos. 
Normalmente, o adolescer é compreendido como um período de pura mudança e 
inquietude. Marcada pelos impulsos do crescimento corporal, pelas mudanças do 
desenvolvimento emocional, mental e social, além de ser um período no qual o indivíduo 
lança mão de intensos esforços para alcançar objetivos referentes à sociedade e de seu grupo 
familiar. 
 
2.8.1 Adolescência 
 
A adolescência é uma fase complexa e dinâmica do ponto de vista físico e emocional 
na vida do ser humano. É neste período em que ocorrem várias mudanças no corpo, que 
repercutem diretamente na evolução da personalidade e na atuação pessoal da sociedade. Os 
transtornos, os conflitos e outras manifestações que acometem os jovens nesta fase de 
transição para a vida adulta merecem ser compreendidas como ações preventivas, 
necessitando um olhar mais aprofundado em perceber mudanças de comportamento e intervir 
no início. 
Para Ferrari (1996), a adolescência é compreendida como sendo o momento de maior 
vulnerabilidade em que o ser humano pode se encontrar, período este em que o sujeito está 
passando por um evento de crise e ruptura com os modelos até então vigentes, sendo a 
expressão das contradições da ordem social estabelecida. Tal pensamento é corroborado por 
Calligaris (2000, p. 15) que define o adolescente como alguém que: 
 
[...] teve tempo de assimilar os valores mais banais e mais bem compartilhados na 
comunidade, cujo corpo chegou à maturação necessária para que ele possa efetiva e 
eficazmente se consagrar às tarefas que lhe são apontadas por esses valores e para 
quem, nesse exato momento, a sociedade impõe uma moratória. 
 
Desse modo, se percebe que, tanto a infância quanto a adolescência, são hoje 
compreendidas como categorias construídas historicamente, tendo, portanto, múltiplas 
36 
 
emergências. Essa ideia corrobora com os paradigmas da pós-modernidade, marcos da nossa 
contemporaneidade. 
De acordo com Aberastury e Knobel (1981), nesse período parece ocorrer um corte 
com tudo o que até antes foi vivido, sendo o adolescente um estranho em um corpo que não é 
dele, vivendo um papel que ele não conhece e convivendo com pais que também lhe são 
estranhos. Ele passa a se perceber como um estranho dentro de si, inserido em um local ao 
qual ainda não pertence. A adolescência, portanto, carrega consigo uma grande mudança não 
somente na estrutura biológica e psíquica do próprio adolescente, mas também na organização 
familiar. 
Cahn (1999) ainda afirma que na adolescência os processos de identificação são 
repetidos, porém, agora se amplia a área de atuação e de influência, corroborando com as 
observações de Erikson (1976), de que os adolescentes formam sua identidade modificando e 
sintetizando identificações pregressas em uma nova estrutura psicológica. 
O adolescente agrupa-se para tentar responder essa eterna dúvida do “Quem sou eu? ”, 
em busca de construir sua identidade e, nesse sentido, Freud (1920) enfatiza que, quando em 
grupo, o indivíduo sente-se mais protegido e mais homogêneo. O grupo passa então a se 
tornar uma parte da constituição de sua identidade e sua subjetividade. Apesar de em grupo, 
os adolescentes estão buscando sua unicidade. E, algumas das vezes para fazer parte de um 
grupo, o adolescente se submete a ceder a pedidos inusitados, que são prejudiciais para si 
mesmo e consequentemente, comprometendo toda sua família. 
 
2.8.2 Drogas: Comportamento de Risco na Adolescência 
 
O consumo de drogas vem se tornando cada vez mais um problema que assola o 
mundo todo, sendo atualmente considerado e tratado como problema de segurança e de saúde 
pública. Entretanto, o consumo de drogas caracterizado pelo consumo esporádico e sem 
complicações nas demais esferas da vida do sujeito, eventualmente pode evoluir para um uso 
abusivo da substância até chegar à dependência física e psicológica. De acordo com Santos e 
Pratta (2006), para a OMS, o termo droga é compreendido como qualquer entidade química 
ou mistura de entidades que podem alterar a função biológica e, possivelmente, sua estrutura. 
Sendo assim, a dependência requer cuidados específicos, pois corresponde a um estado 
mental e por vezes físico, resultante da interação dessa entidade química com um organismo 
vivo, tendo como comportamento característico a compulsão do uso da droga para 
experimentar seu efeito e “[...] evitar o desconforto provocado por sua ausência” (p. 316). 
37 
 
Embasando-se nos estudos de Santos e Pratta (2012), é possível perceber que o uso e 
abuso de substâncias estão relacionadas à maximização do prazer, inerente ao psiquismo 
humano e mais intenso na adolescência. A droga entra como um objeto que vem testar os 
limites do próprio corpo, tramitando no limiar do princípio de prazer e o princípio de 
realidade (FREUD, 1920) e que ainda é muito frágil durante a adolescência. 
Desse modo, ao se fazer o consumo de drogas, o sujeito sente a necessidade constante 
de reviver as fantasias de onipotência como forma de encontrar alívio para a angústia que lhe 
consome. Na adolescência observa-se que tal situação ocorre de maneira ainda mais intensa 
em razão da fragilidade egóica em que se encontra (KESSLER et al., 2003). 
Nesse contexto, deduz-se que a droga exerce a função de objeto-tampão que funciona 
como uma forma de “[...] dar conta da questão da organização pulsional e da fragilidade 
estrutural dos vínculos afetivos, além de traduzir, sintomaticamente, o mal-estar de um 
determinado contexto familiar que está estruturado e vem funcionando de maneira tóxica” 
(SANTOS; PRATTA, 2012, p. 177). Por tratar-se de um momento especial do 
desenvolvimento humano, quando a identidade está sendo ainda definida e os valores estão 
sendo revistos e reformulados, os modelos de comportamento apresentados no âmbito 
familiar influenciarão diretamente os padrões de conduta do sujeito em formação, o 
adolescente. 
Geralmente, o adolescente tem início ao uso de substâncias ainda dentro de casa. 
Naquelas festas de família, começam a experimentar o álcool, por conta do fácil acesso e 
também da cultura ao redor da bebida. As mudanças que seu corpo apresenta, juntando com o 
tédio e rebeldia são riscos suficientes para a iniciação ao consumo. Ao fazer a experimentação 
sentem momentos de euforia, o tédio vai embora, tem aquela sensação de falsa alegria, então 
para amenizar as “frustações” da vida, voltam a fazer uso, até que se percebem não conseguir 
ficar sem o uso. 
Para Schenker e Minayo (2003a), a família tem papel fundamental na criação de 
condições favoráveis ao uso de substâncias por adolescentes ou para a criação de fatores de 
proteção. Sendo a família um dos primeiros ambientes de educação e socialização do 
indivíduo, como mencionado anteriormente, seus membros acabam por passar modelos de 
comportamentos para o infante. Logo, famílias disfuncionais podem transmitir normas 
desviantes através desses modelos e, segundo Schenker e Minayo (2003a, p. 302), “[...] os 
problemas de vinculação familiar advêm, em sua maioria, daqueles lares onde faltam 
habilidades para a criação dos filhos, reduzindo as chances de transmissão efetiva de normas 
sociais saudáveis”. 
38 
 
A dependência química é classificada como um transtorno mental e têm repercussões 
físicas, psicológicas e emocionais e acabam interferindo de maneira significativa na qualidade 
de vida do adolescente. Percebe-se essa situação com os adolescentes que fazem tratamento 
no NSJ. Algumas das consequências identificadas incluem o comprometimento do convívio 
familiar e social, redução escolar, o cognitivo fica comprometido, com dificuldades e 
transtornos mentais, se tem a sensação de estar sendo vigiado ou perseguido, escutam vozes 
que falam ou lhes dão ordens, enfim, as drogas influenciam negativamente em muitas

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