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LITERATURA PRÉ-VESTIBULAR 15PROENEM.COM.BR BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO10 CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO No século XVII, o Brasil era um importante empreendimento comercial de Portugal, o grande celeiro de cana-de-açúcar. Com o declínio do comércio de especiarias, a colônia na América torna-se a maior fonte de riquezas de Portugal. Tudo aqui era organizado em torno dos engenhos de cana, concentrados na Zona da Mata nordestina. Os colonos portugueses que vinham ao Brasil, quando não eram degredados – desajustados na sociedade europeia –, estavam apenas interessados na exploração da cana e no enriquecimento rápido, que os permitisse um breve retorno a Portugal. Em momento algum se observou um movimento de enraizamento na Colônia, de construção de uma vida social na América portuguesa. A realidade brasileira era de violência, de escravização do negro e de perseguição aos índios. Aqui não havia a opulência da aristocracia europeia – o mercado consumidor do açúcar –, mas os incultos e, na maioria das vezes, analfabetos comerciantes interessados no lucro. Apesar disso, surgia na colônia um grupo de pessoas letradas: advogados, religiosos, homens de letras, cuja formação dava-se em Portugal por serem filhos desses ricos comerciantes ou fidalgos que se instalaram no Brasil. A cidade de Salvador, capital da Colônia, era, além de um centro político e econômico, um verdadeiro – e único – polo de produção cultural, reunindo as manifestações artísticas da época, ainda que não houvesse sentimento de conjunto, representando meramente esforços individuais. O estilo e as características eram simplesmente transplantadas da Europa para cá, através dos poucos que se aventuravam nessa área. Contudo, a política brasileira vivia um momento delicado: com a unificação da Península Ibérica e a passagem do trono português à coroa espanhola, o conflito já deflagrado entre os Países Baixos e a Espanha passara a ter reflexos em Portugal e em suas posses. Os holandeses perderiam sua participação nos lucros da produção e comércio do açúcar, assim partiram para a invasão da colônia portuguesa na América: o Brasil. Essas invasões começaram por Salvador, ocupada por mais de um ano. Apesar de terem demorado pouco mais de 24 horas para ocuparem a cidade, não conseguiram passar de seus limites, encontrando resistência nos colonos que, refugiados em fazendas próximas à capital, impediram a expansão dos invasores. Com a chegada de reforços, duras batalhas foram travadas até a expulsão dos holandeses. Contudo, as invasões continuaram: em 1635 a faixa litorânea que vai de Sergipe ao Maranhão estava sob domínio holandês, com destaque para a invasão de Pernambuco em 1630 e o governo de Maurício de Nassau que promoveu intensa urbanização, com inúmeras benfeitorias em Recife e Olinda. Somente com a Insurreição Pernambucana, que durou dez anos, houve a expulsão definitiva dos holandeses no ano de 1654. (Detalhe de O cristo do Carregamento da Cruz, madeira policromada, por Aleijadinho, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, MG) A arte barroca brasileira segue os mesmos preceitos estéticos do barroco europeu nas artes plásticas, com destaque para o escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho. Apesar de suas obras terem sido produzidas no século XVIII, elas retratam as características do barroco. Na figura em destaque, por exemplo, Aleijadinho mostra o imaginário da dor e do sofrimento relacionado ao imaginário religioso. Não há um Cristo glorioso e alegre, ou mesmo reflexivo, mas um Cristo de paixão e morte na cruz. GREGÓRIO DE MATOS GUERRA O maior poeta barroco brasileiro nasceu em Salvador, Bahia, provavelmente a 23 de dezembro de 1636 (apesar de alguns historiadores datarem seu nascimento em 1633 e outros em março de 1623). Filho de uma família abastada, teve acesso ao melhor da educação na época, iniciando seus estudos no Colégio dos Jesuítas e terminando-os em Coimbra, Portugal, onde formou- se em Direito. Tornou-se juiz, foi Procurador da Bahia em Lisboa, clérigo e ainda encontrou tempo para ensaiar alguns poemas satíricos. Por causa deles, viu-se obrigado a retornar ao Brasil onde foi convidado a trabalhar com os Jesuítas. Gregório foi tesoureiro-mor e vigário-geral (ainda que sempre tenha se recusado a vestir-se como clérigo), mas continuou exercendo sua veia satírica. Por seu comportamento, foi destituído de seus cargos eclesiásticos e partiu para uma vida mais boêmia, transformando-se em um verdadeiro cronista da época, castigando com suas críticas e sátiras a sociedade baiana, ridicularizando impiedosamente as autoridades civis e religiosas. Por isso, foi duramente perseguido pelo governador baiano Antônio de Souza Menezes, o Braço de Prata e denunciado à Inquisição por apresentar hábitos de “homem solto sem modo de cristão”. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR16 LITERATURA 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO Casou-se com Maria dos Povos, com quem teve um filho, mas não parou nem de advogar nem de escrever suas poesias satíricas e pornográficas. Seus poemas contra o Governador Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho fez com que seus filhos o jurassem de morte. Os amigos de Gregório – sim, ele tinha amigos! – armaram uma forma de prendê-lo e enviá-lo à força para Angola, de modo a preservar-lhe a vida. Profundamente desgostoso com a vida, envolveu-se em uma conspiração de militares portugueses que planejavam a independência de Angola. Gregório colaborou com a prisão dos líderes do movimento, mostrando sua fidelidade à corte portuguesa. Como prêmio, pôde voltar ao Brasil. A notícia de sua volta causou enorme repercussão em Salvador, onde foi proibido de entrar. Já doente, sua volta se deu em Recife, longe de seus desafetos. Morreu em 26 de novembro de 1695 (alguns autores apontam janeiro de 1696 como a data de sua morte) vítima de uma febre que contraíra ainda em Angola. Gregório desenvolveu sua obra em poesias sacras, lírica amorosa, poesias satíricas e escritos erótico-irônicos. Araripe Júnior, importante crítico literário, em 1894, definiu assim o poeta baiano: “um notabilíssimo canalha, eis o que ele era”. Essa fama sempre acompanhou Gregório de Matos devido a ter primado pela irreverência. Afrontou os valores e a falsa moral da sociedade baiana de seu tempo. Comportou-se de maneira a escandalizar todo o povo da colônia e da metrópole. Com ele, o sisudo barroco “se tropicaliza, come banana, grita palavrões e põe os pés no chão brasileiro”, segundo afirma José de Nicola. Rompeu com os modelos europeus do barroco, fez a denúncia das contradições da sociedade baiana e criticou implacavelmente todos os grupos sociais, fossem governantes, fidalgos, comerciantes, escravos, clérigos, prostitutas, mulatos etc. Gregório foi o primeiro poeta popular, conseguiu passear por todas as camadas sociais, incorporou em sua linguagem vocábulos indígenas e africanos, sem contar a linguagem baixa e chula, carregada de palavrões e obscenidades. Por sua produção e comportamento, ganhou o apelido de Boca do Inferno. Nenhum de seus poemas foi publicado em vida, todos foram transmitidos oralmente até meados do século XIX quando foram reunidos em um livro. Houve várias compilações que deixaram a desejar, criando controvérsia sobre a autoria de alguns poemas atribuídos a Gregório de Matos. Sua obra basicamente pode ser dividida em sacra, amorosa, satírica e erótica. Sua poesia sacra é bastante abrangente, desde poemas comemorativos por festas de santos até aqueles de contrição e reflexão moral. Nessa vertente, obedeceu aos preceitos do barroco europeu, com inúmeras referências bíblicas, apresentando temas como o amor a deus, a culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão. Outras vezes apontou o desconcerto do mundo, lembrando a transitoriedade da vida e do tempo, fazendo uso do carpe diem. Em sua linguagem encontram-se inúmeras inversões e figuras de linguagem, além da construção deimagens fortes e de um espírito extremamente contraditório, abusando de antíteses e paradoxos, bem ao estilo barroco. A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória A lírica amorosa de Gregório é marcada pelo contraste entre corpo/alma, levando ao inevitável sentimento de culpa no plano espiritual, por se deixar levar pelo pecado da carne. A própria figura feminina revela-se como a personificação do pecado, levando o poeta à perdição. Sonetos a D. Ângela de Sousa Paredes Anjo no nome, Angélica na cara Isso é ser flor, e Anjo juntamente Ser Angélica flor, e Anjo florente Em quem, se não em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares Fôreis o meu custódio, e minha guarda Livrara eu de diabólicos azares Mas vejo, que tão bela, e tão galharda Posto que os Anjos nunca dão pesares Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda Sua obra satírica é extensa, assim como seus desafetos: ricos, pobres, negros, brancos, mulatos, padres, freiras, autoridades, amigos, inimigos, toda a sociedade baiana foi vítima de sua “lira maldizente”. Esses poemas não se resumem à zombaria, mas revelam uma crítica aos vícios da sociedade. Sua produção satírica revela nosso poeta mais original, fugindo dos padrões europeus, estando completamente voltados à realidade baiana. Fica evidente um sentimento nativista, o início do processo de uma consciência crítica nacional, separando o que é brasileiro do que é exploração lusitana. O que falta nessa cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha. Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade, onde falta, Verdade, Honra, Vergonha. (...) E nos frades há manqueiras? Freiras Em que ocupam os serões? Sermões Não se ocupam em disputas? Putas. Com palavras dissolutas me concluís na verdade, que as lidas todas de um Frade são Freiras, Sermões, e Putas. O açúcar já se acabou? Baixou E o dinheiro se extinguiu? Subiu Logo já convalesceu? Morreu. À Bahia aconteceu o que a um doente acontece, cai na cama, o mal lhe cresce, Baixou, Subiu, e Morreu. A Câmara não acode? Não pode Pois não tem todo o poder? Não quer É que o governo a convence? Não vence. Que haverá que tal pense, que uma Câmara tão nobre por ver-se mísera, e pobre Não pode, não quer, não vence. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO 17 LITERATURA Sua poesia erótico-pornográfica exalta a sensualidade da mulher, normalmente as amantes que conquistou no Recôncavo Baiano. Expressava sua volúpia, seus desejos e seus desencontros. Cantava também os escândalos sexuais que ocorriam nos conventos, lugares que, segundo nosso “cronista” imperavam o pecado, a sodomia e a homossexualidade. A outra freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou “pica-flor” Se Pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser, mas resta agora saber, se no nome, que me dais, meteis a flor, que guardais no passarinho melhor! se me dais este favor, sendo só de mim o Pica, e o mais vosso, claro fica, que fico então Pica-flor. PADRE ANTÔNIO VIEIRA “Devemos dar muitas graças a deus por fazer este homem católico, porque se o não fosse poderia dar muito cuidado à Igreja de deus”. O homem a quem se referia o papa Clemente X era Antônio Vieira, o “monstro dos ingênuos e príncipe dos oradores”. Vieira nasceu em Lisboa, em 6 de fevereiro 1608 e aos sete anos veio para a Bahia, onde, aos 15 anos, entrou para a Companhia de Jesus. Seu retorno a Portugal deu-se somente em 1640, após a Restauração – movimento pelo qual Portugal libertou-se da Espanha – quando saúda o rei D. João IV, de quem se tornaria conselheiro e confessor e que o nomearia representante e mediador de Portugal nas relações econômicas e políticas internacionais. Sua atuação nunca foi meramente religiosa. Seus sermões defendiam suas posições políticas, voltando contra si a pequena burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os cristãos novos; os pequenos comerciantes, por defender um monopólio comercial; os administradores e colonos, por defender os índios. Teve problemas inclusive com a própria Inquisição que o condenou e o prendeu por dois anos, sob a acusação da defesa de cristãos-novos. Vieira pregou a todos, brancos, negros, índios, brasileiros e portugueses. Fez de seus sermões sua principal arma para veicular suas ideias, postas em prática na catequese, na defesa dos índios e da colônia, quando da invasão holandesa. Quando no púlpito, o padre tratava de todos os assuntos que envolviam e preocupavam o auditório; tais encontros eram praticamente o único espaço onde era possível informar-se e refletir sobre a conjuntura e os acontecimentos da vida e do mundo. Em 1697, no colégio da Bahia, Antônio Vieira faleceu, deixando mais de 500 cartas, 200 sermões e três obras proféticas. História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis Prophetarum constituem as profecias de Vieira. Nelas, notam-se o sentimento sebastianista e as esperanças de Portugal em tornar-se o Quinto Império do Mundo, uma “interpretação” alegórica de uma profecia bíblica. Esses textos demonstram o caráter nacionalista exagerado e a servidão incondicional, típica dos jesuítas. As cartas de Vieira dizem respeito ao relacionamento entre Portugal e Holanda, à Inquisição e os cristãos-novos e, finalmente, aos acontecimentos da colônia. Esses documentos possuem mais valor histórico que propriamente literário. A principal vertente da obra de Antônio Vieira, sem dúvida, encontra-se em seus sermões. Produzidos no estilo conceptista, são textos de brilhante retórica em que o pregador utiliza-se da lógica e de uma expressão clara e singela para convencer, apresentar e provar ideias e conceitos. Vieira pregou no Brasil, em Portugal e na Itália, sempre com grande repercussão. Foi, seguramente, um gênio da língua, obtendo efeitos extraordinários, sem utilizar-se de exageros ou metáforas: um discurso inventivo e original, de grande engenhosidade, com clara construção discursiva, seguindo uma estrutura clássica: • Introito, exórdio ou introdução – apresenta um tema (normalmente um texto bíblico) em que se fundamenta toda a argumentação, ligando-o à introdução do assunto principal do sermão. • Demonstração ou argumento – é o desenvolvimento do tema, respondendo à questão levantada procurando convencer o ouvinte. Apresenta argumentos e exemplos, muitas vezes tirados da história ou da Antiguidade, buscando ampliar os limites do texto. • Peroração ou conclusão – procura despertar no ouvinte sentimentos que decorram da argumentação. Entre seus principais sermões, destacam-se: • Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (Bahia, 1640) – coloca-se contrário à invasão holandesa. • Sermão do mandato (Capela Real de Lisboa, 1645) – desenvolve o tema do amor místico. • Sermão de Santo Antônio (aos peixes) (Maranhão, 1654) – posiciona-se contrariamente à escravização dos índios. • Sermão da Sexagésima (Capela Real de Lisboa, 1655) – apresenta como tema a própria arte de pregar. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Explique o contexto político do Barroco no Brasil. 02. Identifique quais são as divisões das obras de Gregório de Matos. 03. Aponte as características da lírica amorosa de Gregório de Matos. 04. Cite duas características da poesia erótica-pornográfica de Gregório deMatos. 05. Apresente traços marcantes das obras de Padre Antônio Vieira. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (FUVEST-SP) “Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair são os que se contentam com pregar na pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura, e hão-lhes de contar os passos. Ah! dia do juízo! Ah! pregadores! Os de cá, achar- vos-ei com mais paço; os de lá, com mais passos...” Essa passagem é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber: a) Sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D.Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de Alcácer-Quibir. b) a busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem. c) a exaltação do heroico e do épico, por meio das metáforas grandiloquentes da epopeia. d) lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas. e) Conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR18 LITERATURA 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO 02. (FEBASP-SP) “Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres... O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam, de que eu trato, são os outros - ladrões de maior calibre e de mais alta esfera... Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes, sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.” (Sermão do bom ladrão, Vieira) Em relação ao estilo empregado por Vieira neste trecho pode-se afirmar: a) autor recorre ao Cultismo da linguagem com o intuito de convencer o ouvinte e por isto cria um jogo de imagens. b) Vieira recorre ao preciosismo da linguagem, isto é, através de fatos corriqueiros, cotidianos, procura converter o ouvinte. c) Padre vieira emprega, principalmente, o Conceptismo, ou seja, o predomínio das ideias, da lógica, do raciocínio. d) pregador procura ensinar preceitos religiosos ao ouvinte, o que era prática comum entre os escritores gongóricos. 03. (IFB) Segundo Bosi (2013), “na esteira do Camões épico e das epopeias menores dos fins do século XVI, o poemeto em oitavas heroicas publicado em 1601 pode ser considerado um primeiro e canhestro exemplo de maneirismo nas letras da colônia”. Considerando a literatura barroca no Brasil, tal excerto se refere a: a) Prosopopeia, de Bento Teixeira. b) “Triste Bahia”, de Gregório de Matos. c) Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira. d) Música do Parnaso, de Botelho de Oliveira. e) Sermão XIV do Rosário, de Antônio Vieira. 04. (UNESP 2018) Leia o soneto “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”, do poeta Gregório de Matos (1636-1696), para responder à questão a seguir: Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Poemas escolhidos, 2010.) O soneto de Gregório de Matos aproxima-se tematicamente da citação: a) “Nada é duradouro como a mudança.” (Ludwig Börne, 1786-1837) b) “Não se deve indagar sobre tudo: é melhor que muitas coisas permaneçam ocultas.” (Sófocles, 496-406 a.C.) c) “Nada é mais forte que o hábito.” (Ovídio, 43 a.C.-17 d.C.) d) “A estrada do excesso conduz ao palácio da sabedoria.” (William Blake, 1757-1827) e) “Todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo a essência.” (Friedrich Schiller, 1759-1805) 05. (UFRS) Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que aparecem. Padre Antônio Vieira é um dos principais autores do _____, movimento em que o homem é conduzido pela _____ e que tem, entre suas características, o _____, com seus jogos de palavras, de imagens e de construção, e o _____, o uso de silogismo, processo racional de demonstrar uma asserção. a) Gongorismo - exaltação vital - Cultismo - preciosismo b) Conceptismo - fé - preciosismo - Gongorismo c) Barroco - depressão vital - Conceptismo - Cultismo d) Conceptismo - depressão vital - Gongorismo - preciosismo e) Barroco - fé - Cultismo – Conceptismo 06. (UFSM) Por isto são maus ouvintes os de entendimentos agudos. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras. (Sermão da Sexagésima, de Pe. Antônio Vieira.) Pelo trecho reproduzido, pode-se concluir que o Sermão da Sexagésima trata da a) problemática da pregação religiosa, considerando as figuras dos pregadores e dos fiéis. b) necessidade do engajamento dos fiéis nas batalhas contra os holandeses. c) perseguição sofrida pelo pregador em função do apoio que emprestava a índios e negros. d) exortação que o pregador fazia em favor de seu projeto de criar a Campanha das Índias Ocidentais. e) condenação aos governantes locais que desobedeciam aos princípios do mercantilismo seiscentista. 07. (UEL) Identifique a afirmação que se refere a GREGÓRIO DE MATOS. a) No seu esforço de criação da comédia brasileira, realiza um trabalho de crítica que encontra seguidores no Romantismo e mesmo no restante do século XIX. b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado e o presente: ainda tem os torneios verbais do quinhentismo português, mas combina-os com a paixão das imagens pré-românticas. c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais liberal, o que mais claramente manifestou as ideias da ilustração francesa. d) Teve grande capacidade em fixar num lampejo os vícios, os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que caracterizava o estilo da época. e) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa na Minas do chamado ciclo do ouro é prova de que seu talento não se restringia ao lirismo amoroso. 08. (UFSCAR) “O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. (...) Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte há-de estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há-de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão-de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão-de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras.” (Vieira, “Sermão da Sexagésima”.) PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO 19 LITERATURA No texto, Vieira critica um certo estilo de fazer sermão, que era comum na arte de pregar dos padres dominicanos da época. O uso da palavra xadrez tem o objetivo de a) defender a ordenação das ideias em um sermão. b) fazeralusão metafórica a um certo tipo de tecido. c) comparar o sermão de certos pregadores a uma verdadeira prisão. d) mostrar que o xadrez se assemelha ao semear. e) criticar a preocupação com a simetria do sermão. 09. (FATEC) As cousas do mundo Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; Com sua língua, ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa; Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa. Mais isento se mostra o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa. (Gregório de Matos Guerra, “Seleção de Obras Poéticas”) A alternativa que melhor exprime as características da poesia de Gregório de Matos, encontradas no poema transcrito, é a que destaca a presença de a) inversões da sintaxe corrente, como em “Com sua língua, ao nobre o vil decepa” e “Quem menos falar pode”. b) conflito entre os universos do profano e do sagrado, como se vê na oposição “Quem dinheiro tiver” e “pode ser Papa”. c) metáforas raras e desusadas, como no verso experimental “a Musa topa/Em apa, epa, ipa, opa, upa”. d) contraste entre os pólos de antíteses violentas, como “língua” X “decepa” e “menos falar” X “mais increpa”. e) imagens que exploram os elementos mais efêmeros e diáfanos da natureza, como “flor e “tulipa”. 10. (FATEC) Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. A palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? - Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar alantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar quem os não pica. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza, nasce nas pedras. (Padre Antônio Vieira, “Sermão da Sexagésima”. Texto editado.) Considere as afirmações seguintes sobre o texto de Vieira. I. Trata-se de texto predominantemente argumentativo, no qual Vieira emprega as metáforas do espinho e da pedra para referir-se àqueles em que a palavra de Deus não prospera. II. Nota-se no texto a metalinguagem, pois o sermão trata da própria arte da pregação religiosa. III. À vista da construção essencialmente fundada no jogo de ideias, fazendo progredir o tema pelo raciocínio, pela lógica, o texto caracteriza-se como conceptista. IV. Efeito da Revolução Industrial, que reforçou a perspectiva capitalista e o individualismo, esse texto traduz a busca da natureza (pedras, espinhos, .....) como refúgio para o eu lírico religioso. V. Vincula-se ao Barroco, movimento estético entre cujos traços destaca-se a oscilação entre o clássico (de matriz pagã) e o medieval (de matriz cristã), a qual se traduz em estados de conflito religioso. Estão corretas apenas as afirmações a) I, II e III. b) I, III e V. c) II, III e IV. d) II, III, IV e V. e) I, II, III e V. 11. (UFRS) Considere as afirmações abaixo: I. Barroco literário, no Brasil, correspondeu a um período em que o incremento da atividade mineradora proporcionou o desenvolvimento urbano e o surgimento de uma incipiente classe média formada por funcionários, comerciantes e profissionais liberais. II. Uma das feições da poesia barroca era o chamado conceptismo – exploração de conceitos e ideias abstratas através de evoluções engenhosas do pensamento. III. A ornamentação da linguagem, que caracterizou o Barroco brasileiro, pode ser identificada pelo uso repetido de jogos de palavras, pela construção frasal e pelo emprego da antítese. Quais estão corretas? a) Apenas I b) Apenas II c) Apenas III d) Apenas II e III e) I, II e III 12. (ENEM) Quantos há que os telhados têm vidrosos E deixam de atirar sua pedrada, De sua mesma telha receiosos. Adeus, praia, adeus, ribeira, De regatões tabaquista, Que vende gato por lebre Querendo enganar a vista. Nenhum modo de desculpa Tendes, que valer-vos possa: Que se o cão entra na igreja, É porque acha aberta a porta. GUERRA, G. M. In: LIMA, R. T. Abecê de folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (fragmento). PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR20 LITERATURA 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO Ao organizar as informações, no processo de construção do texto, o autor estabelece sua intenção comunicativa. Nesse poema, Gregório de Matos explora os ditados populares com o objetivo de a) enumerar atitudes. b) descrever costumes. c) demonstrar sabedoria. d) recomendar precaução. e) criticar comportamentos. 13. Sermão da Sexagésima Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir. VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965. No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão. b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações. c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas. d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações. e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões. 14. (FC. CHAGAS - BA) Assinale o texto que, pela linguagem e pelas idéias, pode ser considerado como representante da corrente barroca. a) "Brando e meigo sorriso se deslizava em seus lábios; os negros caracóis de suas belas madeixas brincavam, mercê do Zéfiro, sobre suas faces... e ela também suspirava." b) "Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a abóbada de garoa desabava os quarteirões." c) "Os sinos repicavam numa impaciência alegre. Padre Antônio continuou a caminhar lentamente, pensando que cem vezes estivera a cair, cedendo à fatalidade da herança e à influência do meio que o arrastavam para o pecado." d) "De súbito, porém, as lancinantes incertezas, as brumosas noites pesadas de tanta agonia, de tanto pavor de morte, desfaziam-se, desapareciam completamente como os tênues vapores de um letargo..." e) "Ah! Peixes, quantas invejas vos tenho a essanatural irregularidade! A vossa bruteza é melhor que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras: eu lembro- me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória: eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento: eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade." 15. (FUVEST-SP) A respeito do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar: a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana não se ocupou de problemas locais. b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava. c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos. d) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais. e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos. 16. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre o Barroco brasileiro: I. A arte barroca caracteriza-se por apresentar dualidades, conflitos, paradoxos e contrastes, que convivem tensamente na unidade da obra. II. O conceptismo e o cultismo, expressões da poesia barroca, apresentam um imaginário bucólico, sempre povoado de pastoras e ninfas. III. A oposição entre Reforma e Contra-Reforma expressa, no plano religioso, os mesmos dilemas de que o Barroco se ocupa. Quais estão corretas: a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 17. (UFRGS) Sobre a obra de Gregório de Matos é correto afirmar que a) os vícios da colônia são criticados e as autoridades públicas são ridicularizadas. b) sua infância e sua família são temas recorrentes em seus poemas. c) a escravidão é denunciada como instituição perversa e desnecessária. d) o elogio da mulher amada está inserido em um quadro bucólico e pastoril. e) o ideal de racionalidade resulta na sintaxe simples e na ordem direta das frases. 18. (MACK-SP) Assinale a alternativa incorreta. a) Julgada em bloco, a literatura brasileira do quinhentismo é uma típica manifestação barroca. b) Na poesia de Gregório de Matos, percebe-se o dualismo barroco: mistura de religiosidade e sensualismo, misticismo e erotismo, valores terrenos e aspirações espirituais. c) A literatura no Brasil colonial é clássica, tendo nascido pela mão dos jesuítas, com uma intenção doutrinária. d) Com Antônio Vieira, a estética barroca atinge o seu ponto alto em prosa no Brasil. e) Não se deve dizer que a literatura seiscentista brasileira seja inferior por ser barroca, mas sim que é uma literatura barroca de qualidade inferior, com exceções raras 19. (UEL) Incêndio em mares d'água disfarçado, Rio de neve em fogo convertido. Nesses versos de Gregório de Matos ocorre um procedimento comum ao estilo da poesia barroca, qual seja: PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO 21 LITERATURA a) a imitação direta dos elementos naturais. b) a submissão da sintaxe às regras da clareza. c) a interpenetração de elementos contrastantes. d) a ordem casual e descontrolada das palavras. e) a exaltação da paisagem nativa. 20. (FEI) "Em tristes sombras morre a formosura, em contínuas tristezas a alegria" Nos versos citados acima, Gregório de Matos empregou uma figura de linguagem que consiste em aproximar termos de significados opostos, como "tristezas" e "alegria". O nome desta figura de linguagem é: a) metáfora b) aliteração c) eufemismo d) antítese e) sinédoque 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UNESP) A questão a seguir toma(m) por base o “Soneto LXVII” (“Considera a vantagem que os brutos fazem aos homens em obedecer a Deus”), de Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666). Quando vejo, Senhor, que às alimárias1 Da terra, da água, do ar, – peixe, ave, bruto –, Não lhe esquece jamais o alto estatuto Das leis que lhes pusestes ordinárias; E logo vejo quantas artes2 várias O homem racional, próvido3 e astuto, Põe em obrar, ingrato e resoluto, Obras que a vossas leis são tão contrárias: Ou me esquece quem sois ou quem eu era; Pois do que me mandais tanto me esqueço, Como se a vós e a mi não conhecera. Com razão logo por favor vos peço Que, pois homem tal sou, me façais fera, A ver se assim melhor vos obedeço. (A tuba de Calíope, 1988.) 1alimária: animal irracional. 2arte: astúcia, ardil. 3próvido: providente, que se previne, previdente, precavido. Que contraste é explorado pelo poema como base da argumentação? Justifique sua resposta. Considerando também outros aspectos, em que movimento literário o poema se enquadra? 02. (UFJF-PISM) TEXTO I QUEIXA-SE O POETA EM QUE O MUNDO VAI ERRADO, E QUERENDO EMENDÁ-LO O TEM POR EMPRESA DIFICULTOSA Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ornadas, Do que anda só o engenho mais profundo Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir, que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo o mar de enganos, Ser louco c’os demais, que ser sisudo. (MATOS, Gregório de. Os homens bons: A musa praguejadora. In: Obras completas de Gregório de Matos (Crônica do viver baiano seiscentista). Salvador: Janaína, 1968. 7 vols. p. 442, v. II. Ortografia atualizada.) TEXTO II Renúncia Chora de manso e no íntimo... Procura Curtir sem queixa o mal que te crucia: O mundo é sem piedade e até riria Da tua inconsolável amargura. Só a dor enobrece e é grande e é pura. Aprende a amá-la que a amarás um dia. Então ela será tua alegria, E será, ela só, tua ventura... A vida é vã como a sombra que passa... Sofre sereno e d’alma sobranceira, Sem um grito sequer, tua desgraça. Encerra em ti tua tristeza inteira. E pede humildemente a Deus que a faça Tua doce e constante companheira... Teresópolis, 1906 (BANDEIRA, Manuel. A cinza das horas. In: _______. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. p. 151.) Em que aspecto se assemelham as conclusões dos poemas de Gregório de Matos (texto I) e Manuel Bandeira (texto II)? 03. (UFRJ) Soneto [Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundo] Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (MATOS, Gregório. Obras completas de Gregório de Matos. Salvador: Janaína, 1969, 7 volumes.) De forma recorrente, o Barroco lança mão de figuras de sintaxe como recurso expressivo. Considerando o terceiro e o quarto versos da primeira estrofe do soneto, explicite as duas figuras de sintaxe que, nesses versos, estão relacionadas aos termos oracionais classificados, tradicionalmente, como essenciais ou básicos, PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR22 LITERATURA 10 BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.” (UFRJ 2011) Todo soneto apresenta a estruturação: tese, antitese e síntese. Com base nessa informação, faça o seguinte: 04.Explique de que maneira a síntese do soneto de Gregório de Matosvincula-se ao projeto estético do Barroco. 05. Descreva como a relação entre os sentimentos de “alegria” e “tristeza” ganha novo sentido no desenrolar do soneto. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. E 02. B 03. A 04. A 05. E 06. A 07. D 08. E 09. A 10. E 11. D 12. E 13. A 14. E 15. B 16. D 17. A 18. A 19. C 20. D EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. O contraste explorado pelo poema como base da argumentação é entre o animal, que, por ser irracional, obedeceria a Deus sem questionamentos, e o homem, cuja racionalidade leva à prática de obras contrárias às leis divinas. O culto aos contrastes, que costuma culminar no uso de aliterações e paradoxos, é uma característica típica do barroco e vem acompanhado de outros aspectos comuns a esse movimento: como a temática religiosa, consequência do teocentrismo da Contrarreforma católica, o cultismo (exemplificado pelas inversões sintáticas) e o conceptismo (evidenciado pelo jogo lógico- argumentativo) 02. O eu lírico de ambos os poemas demonstra a resignação diante das dificuldades do mundo. No Texto 1, ao perceber o desconcerto do mundo, o eu lírico aceita que não há como lutar contra o que lhe é imposto e decide conduzir a própria vida como todos os outros seres humanos, por mais diferentes que estes lhe sejam; no Texto 2, o eu lírico percebe que a existência é feita de dores e, diante da impossibilidade de as superar, aconselha que se roguem forças a Deus para as suportar. 03. As duas figuras de construção sintática são as seguintes: hipérbato (inversão da ordem canônica dos termos sintáticos “em tristes sombras” e “a formosura”, no terceiro verso, e dos termos “em contínuas tristezas” e “a alegria”, no quarto verso); elipse/zeugma (omissão do verbo “morre” no quarto verso). 04. A síntese do soneto (“A firmeza somente na inconstância”) vincula-se ao projeto estético do Barroco pela problematização de uma questão central: conciliar o inconciliável, ou seja, aproximar concepções antagônicas como, por exemplo, “tristeza”/“alegria” e “Luz”/“sombra”. 05. A concepção mais comum de que a alegria é inviabilizada por contínuas tristezas é ressignificada, ou seja, alegria e tristeza podem coexistir (“E na alegria sinta-se tristeza”). ANOTAÇÕES
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