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(hipoteticamente razoável), nada está indo fora do normal. No entanto, se uma decisão política é teorizada de modo incompleto, existe um risco de todos que participaram na decisão política estarem equivocados, de modo que, portanto, o resultado seja equivocado. Existe, também, o risco de alguém razoável não ter participado; e, caso tal pessoa fosse incluída, o acordo poderia não ter ocorrido. Ao longo do tempo, decisões políticas teorizadas de modo incompleto deveriam estar sujeitas à análise e à crítica, pelo menos nas arenas democráticas; e, algumas vezes, em 315 I i ·1 316 Parte I Teoria e Filosofia do Direito cortes também. Aquele processo deveria resultar em um pensamento mais ambicioso do que o ordinariamente adotado pelo Direito constitucional. Nem é o próprio consenso social uma consideração que supera todo o resto. Normalmente, seria muito melhor ter um resultado justo, rejeitado por muitas pessoas, do que um resultado injusto com o qual todos, ou a maioria, concordam. Uma Constituição justa é mais importante do que um acordo com base na Constituição. Consenso, ou decisão política, é impor- tante em grande parte por causa de sua conexão com a estabilidade, esta, em si, preciosa, mas longe de ser um objetivo social que supere todos os outros. Bem como Thomas Iefferson escreveu, um certo grau de turbulência é produtivo em uma democracia." Pode ser correto fazer uma ordem cons- titucional injusta ser um pouco menos estável. Temos visto que decisões políticas teorizadas de modo incompleto, mesmo se estáveis e largamente sustentadas, podem ocultar ou refletir injustiças. Certamente, decisões po- líticas deveriam ser de forma mais ampla teorizadas quando uma teoria relevante é claramente certa e às pessoas pode ser mostrado que isso é certo, ou quando a invocação de uma teoria é necessária para decidir casos. Nada disso é inconsistente com o que tenho tentado sustentar até aqui. Seria tolo dizer que nenhuma teoria geral sobre Direito constitucional ou sobre Direito pode produzir uma decisão política; mais tolo seria negar que algumas teorias gerais merecem suporte, e a maior tolice de todas seria dizer que decisões políticas teorizadas de modo incompleto merecem ter ga- rantido respeito qualquer que seja seu conteúdo. O que parece ser plausível é algo não menos importante por sua modéstia: exceto em situações inco- muns, e por múltiplas razões, teorias gerais são uma improvável fundação para a criação constitucional (constitutional-making) e para o Direito cons- titucional; enquanto, para os falíveis seres humanos, cuidado e humildade sobre reivindicações teóricas são apropriadas, pelo menos quando múltiplas teorias podem levar a uma mesma direção. Esse mais modesto conjunto de reivindicações nos ajuda a compreender decisões políticas teorizadas de modo incompleto como um importante fenômeno com suas próprias vir- tudes especiais. Tais decisões políticas ajudam a fazer as Constituições e o Di- reito constitucional possíveis, mesmo dentro de nações nas quais os cidadãos divergem sobre muitas das mais fundamentais questões. 26 Deste modo, Iefferson afirmou que a turbulência é um "productive of good. It prevents the degeneracy o] government, and nourishes a general attention to [. ..} public affairs. I hold r ..} that a little rebel/ion now and then is a good thing". Letter to Madison (Ian. 30, 1798), reimpresso em PETERSON, Merrill D. (ed.). The portable Thomas lefferson. Capítulo 14 Decisões políticas teorizadas de modo incompleto 110 Direito constitucional 317 Decisões políticas teorizadas de modo incompleto, assim, auxiliam a iluminar um duradouro enigma constitutional e, de fato, social: como os membros de diversas sociedades podem trabalhar em conjunto com base em respeito mútuo em meio a discordâncias rígidas tanto sobre o Direito quanto sobre o bem. Se existe uma solução para esse enigma, decisões po- líticas teorizadas de modo incompleto são um bom lugar do qual se pode começar. r I 1I I I 1' I : I ! : I I • I