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36 Unidade II Unidade II Nesta unidade aprenderemos quais são as atribuições e responsabilidades do registrador imobiliário, qual a natureza jurídica das delegações notariais e de registro e qual é a relevância prática desta diferenciação. Conheceremos quem são os titulares dos serviços notariais e de registro, sua nomenclatura, suas atribuições e a forma de ingresso na atividade, além dos direitos e deveres decorrentes do seu trabalho. Conceitualmente, observaremos as atribuições e competências tanto dos notários quanto dos registradores e, consequentemente, suas responsabilidades e seus impedimentos, encerrando com as incompatibilidades e suas exceções. Por fim, estudaremos a respeito da fiscalização que é exercida pelo Poder Judiciário e a competência territorial dos registradores. 3 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DO REGISTRADOR IMOBILIÁRIO Como já visto, os serviços notariais bem como de registro atendem ao previsto no art. 1º da Lei 8.935/94. São eles de ordem técnico‑administrativa, para garantir a publicidade, a autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos. Pois bem, partindo desse patamar, buscaremos entender a função daquele que deve desempenhar determinadas atividades, com atribuições previstas em lei, e suas responsabilidades decorrentes, haja vista que trataremos da figura do registrador imobiliário. Nesta unidade, veremos a natureza jurídica da atribuição do registro de imóveis, quem são os titulares dos serviços notariais e de registro, como esses serventuários ingressam na atividade, quem fiscaliza as atividades e qual a competência territorial dos registradores. 3.1 Natureza jurídica Pelo mandamento constitucional do art. 236, os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, mas a Constituição não especifica a forma pela qual essa transmissão será exercida. É válido lembrar que a delegação de um serviço não significa a transferência de titularidade de uma determinada competência. O instituto jurídico da delegação de serviço público volta‑se ao exercício de uma atividade que compete ao Estado; entretanto, este, para descentralizar suas atividades, em vez de executá‑las diretamente, o faz por meio da delegação. Em outras palavras, na delegação de serviços, atribui‑se a execução de determinada atividade (ou serviço) a um terceiro, que não detém a titularidade e competência, mas recebe a investidura de um poder conferido pelo ente estatal para exercer um serviço de caráter privado e de interesse social. 37 REGISTRO DE IMÓVEIS Nota‑se claramente que o legislador constitucional determinou a independência e o caráter privado (e não público) da gerência da atividade notarial, o que pressupõe uma autonomia dos notários e oficiais de registro. Trata‑se, portanto, de gestão indireta dos serviços públicos, por imposição constitucional, na qual o objeto do serviço de registro, segundo Dip (2010, p. 1200), é uma “atividade jurídica”. Como é uma atividade delegada pelo Poder Público, esta deve ser, portanto, compatibilizada com o regime jurídico‑administrativo estatal, pois se trata de delegação de serviço público, o que significa dizer que deve observar os princípios administrativos de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (princípios da administração pública, previstos constitucionalmente pelo art. 37). Observação Natureza jurídica é a essência, a substância ou a compleição das coisas, ou seja, a razão de ser do ato, do contrato ou do negócio. Conforme observado, esses profissionais se encontram em uma posição intermediária, entre o agente público e o privado, o que causa grande polêmica com relação a sua finalidade dentro da organização jurídica brasileira. De todo modo, na delegação para o exercício da atividade notarial e de registro deve‑se observar requisitos objetivos e subjetivos impostos por lei. Saiba mais Para aprender mais sobre a natureza da atividade notarial e de registro, leia o excelente artigo referenciado a seguir: FERRAZ JUNIOR, T. S. Do concurso público para ingresso na atividade notarial e de registro. Revista de Direito Administrativo, v. 277, p. 281‑295, maio/ago. 2018. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index. php/rda/article/view/76712/73712>. Acesso em: 18 jul. 2019. A independência dos notários e oficiais de registro, por ser jurídica, deve observar os princípios do direito público, pois se trata de delegação de serviço público. Além do mais, os notários e registradores são agentes concursados, portanto agentes públicos investidos na função para exercerem um encargo de natureza pública. Neste sentido, a natureza da função é de direito público, entretanto a gestão da atividade notarial e de registro ocorre no âmbito privado. Assim, a natureza do ofício é de cunho privado, enquanto a essência da função é pública. Percebe‑se que com relação à independência no exercício da atividade, por ser de caráter privado, os notários e registradores agem por sua conta e risco e, portanto, assumem as consequências por seus atos. 38 Unidade II Observação Por independência jurídica, entende‑se que deva haver a necessária prudência no trato das questões que envolvem gestão de atividades de interesse público. De qualquer forma, embora não estejam condicionados por imposições de ordem política, econômica ou administrativa, no que tange ao exercício e à gestão das atividades notariais e de registro, estes profissionais, em suas atribuições jurídicas, possuem limites e deveres estipulados em lei. Lembrete Não é demais insistir no fato de que na delegação do serviço público opera‑se a transferência do exercício de uma atividade de competência do Estado para o particular. Para finalizar este tópico, é importante salientar que na atividade delegada permanecem os laços estreitos e normativos diretamente com o Poder Público, daí a decorrência da máxima obediência aos princípios de direito público. 3.2 Titulares de serviços notariais e de registro Agora que já vimos que toda a atividade notarial e de registro é determinada e orientada pela lei, a começar pela Lei Constitucional, a maior em hierarquia do ordenamento jurídico, analisaremos de que forma as referidas práticas ocorrem. As normas relativas às atividades notariais e de registro são impositivas e de observância obrigatória. Assim, o Estado, imbuído do poder jurídico, em sua função legislativa, pode trazer imposições aos indivíduos que exercem esta função consistente em um múnus público, de forma que, por esta razão, estes profissionais se obrigam a cumpri‑las. Para Brandelli (2007, p. 47), foi, enfim, com a Constituição Federal de 1988 que o notariado sofreu expressiva modificação. Tanto assim que, por força das diretrizes básicas traçadas pela Constituição, em 1994 o Poder Legislativo promulgou a Lei 8.935/94 (Lei Orgânica dos Notários e Registradores). Ceneviva (2014, p. 38) afirma que o vocábulo serviço, em sede de Lei de Registros Públicos, caracteriza, no título de abertura da Lei dos Notários e Registradores, o trabalho técnico desenvolvido sob as ordens de um delegado do Poder Público, para exclusivo cumprimento de funções ali indicadas, agente esse atuando com independência, mas sujeito à fiscalização do Poder Judiciário. Assim, o art. 3º da Lei 8.935, que regulamentou o art. 236 da Constituição Federal, definiu quem são os notários: “Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro” (BRASIL, 1994). 39 REGISTRO DE IMÓVEIS Acompanhe a seguir um esquema visual relativo ao art. 5° da Lei 8.935/94: Tabelião Ti tu la re s d e se rv iç os no ta ria is e de re gi st ro Oficial de registro De notas De títulos e documentos civis das pessoas jurídicas De protesto de títulos De distribuição De registro de contratos marítimos Civil das pessoas naturais e de interdiçõese tutelas De móveis Figura 7 – Titulares de serviços notariais e de registro A outorga recebida por esses “agentes” significa a concessão do Estado para a exploração da atividade notarial e de registro, e para Ceneviva (2014, p. 308) possui as seguintes características: • Permanente ou estável desde a outorga, não restringida pelo triênio do estágio probatório, ao qual é submetido o servidor público da administração direta e indireta. • Extensiva a todos os atos integrados à função e ao objeto dela. • Imposta ao próprio delegante, pois submete os atos notariais e registrários de seu interesse à aferição do oficial e suspende sua competência de outorgar outra delegação simultânea para o mesmo cargo. • Descontinuável, por suspensão do titular, nos casos disciplinares e na forma da lei. Estabelece o art. 48 das Disposições Transitórias da Lei 8.935/94 que os notários e oficiais de registro poderão contratar, segundo a legislação trabalhista, seus atuais escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial desde que aceitem a transformação de seu regime jurídico, em opção expressa no prazo improrrogável de trinta dias, contados da publicação da lei. Das modificações, que ainda perduram historicamente, vale ressaltar em síntese: a fixação do notário como agente delegado do Poder Público, não pertencendo notários e registradores ao quadro de funcionários públicos; a fixação de necessária capacitação jurídica para o ofício, exigindo‑se bacharelado em direito; e a aprovação em concurso público, como adiante se verá. 40 Unidade II 3.3 Do ingresso na atividade notarial e de registro Depois de ter estudado um pouco das atribuições do oficial de registro de imóveis, pode ser que você tenha se interessado por desenvolver essa carreira ou, ao menos, conhecer quais são os passos para ser um delegatário dessa importante função pública. Confira nos itens a seguir os requisitos necessários para ser um oficial ou tabelião, nos termos do art. 14 da Lei 8.935/94: • Habilitação em concurso público de provas e títulos. • Nacionalidade brasileira. • Capacidade civil. • Quitação com as obrigações eleitorais e militares. • Diploma de bacharel em direito. • Verificação de conduta condigna para o exercício da profissão. Os concursos de provas e títulos, segundo a legislação em vigor, serão realizados pelo Poder Judiciário, e do edital do concurso público constarão todas as regras e requisitos para prestar o concurso e os critérios de desempate. Saiba que não são apenas bacharéis em direito que podem prestar o concurso para notários e oficiais de registros. Segundo o § 2º do art. 15 da Lei 8.935/94, poderão concorrer candidatos não bacharéis em direito que tenham completado, até a data da primeira publicação do edital do concurso de provas e títulos, dez anos de exercício em serviço notarial ou de registro. Além dos requisitos legais para a habilitação em concurso público de provas e títulos, o candidato a tal função precisará passar por cinco etapas de concurso público: prova objetiva; prova escrita e prática; prova oral; comprovação dos requisitos para outorga de delegações; e exame de títulos. Ainda assim, mesmo que avance por todas as etapas e obtenha classificação suficiente, o futuro tabelião ou oficial de registro deverá ser aprovado por avaliação de conduta. Desta forma, apresentará documentos que comprovem que ele tem condições físicas, psicológicas e morais para receber a delegação/função. Para isso, ele será submetido a exames de personalidade, psicotécnico e neuropsiquiátrico. 41 REGISTRO DE IMÓVEIS Saiba mais A fim de conhecer um edital de concurso público, de provas e títulos, para a outorga de delegações de notas e de registro, acesse o site a seguir, que contém o edital do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: CONCURSO público, de provas e títulos, para a outorga de delegações de notas e de registro do Estado de Minas Gerais. 2019. Disponível em: <https://d3du0p87blxrg0.cloudfront.net/concursos/1504/6_2403095. pdf>. Acesso em: 18 jul. 2019. Todos esses requisitos servem para atender ao disposto no art. 236 da Constituição, que fala sobre o ingresso na atividade notarial e de registro, o qual depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. Aliás, o art. 16 da mesma lei repete o ditame constitucional, cuja redação foi dada pela Lei 10.506/2002. Observação Por serventia, entendem‑se as unidades que formam o sistema notarial e registral, isto é, os cartórios. Ainda com relação à dinâmica dos titulares de serviços notariais e de registro, é relevante para o nosso estudo conhecer o Provimento 79/2018 (CNJ, 2018) do Conselho Nacional de Justiça, que dispõe sobre a política nacional de metas do serviço extrajudicial. Ele, além de instituir uma política nacional, tem por finalidade propiciar eficiência e qualidade às atividades notarial e registral brasileira. As metas elencadas no referido provimento são anuais e serão definidas no ano anterior ao seu cumprimento, no Encontro Nacional de Corregedores do Serviço Extrajudicial, a ser realizado em local e data definidos pela Corregedoria Nacional de Justiça. Ademais, este provimento prevê que, em havendo o cumprimento integral das Metas Nacionais, a corregedoria local será agraciada com Certificado de Eficiência do Serviço Extrajudicial. Veja que a iniciativa estatal, no melhoramento dos serviços notariais e de registro, procura aprimorar a gestão destas atividades. Assim, percebe‑se que existe um fomento à atividade destinado a gerir processos de qualidade na definição de políticas organizacionais, que incluem comprometimento dos funcionários com prazos, prevenção de falhas, análise de riscos, respeito às regras de probidade e urbanidade, eficiência no trato de processos e com os públicos interno e externo. 42 Unidade II Saiba mais Entre no site do CNJ para obter mais informações a respeito da atividade notarial e de registro: <https://www.cnj.jus.br/>. Figura 8 3.4 Direitos e deveres dos notários e oficiais de registro Neste tópico, exibiremos as atribuições e a competência dos notários e dos oficiais de registro, as responsabilidades e impedimentos, a fiscalização e a competência territorial de cada um deles. Já sabemos que para ingressar na atividade notarial é importante conhecer quais são os direitos e deveres dos notários e registradores. O notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, é o profissional do direito, dotado de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro. Lembrete Notários são tabeliães de notas e protesto de títulos e oficiais de registro de contratos marítimos. Já os registradores são oficiais de registro de imóveis, títulos e documentos civis das pessoas jurídicas e das pessoas naturais e de registro de distribuição. Uma pergunta ainda está sem resposta: qual o significado da expressão “fé‑pública”? O termo, segundo Silvio Rodrigues (2003, p. 123), refere‑se a escritura pública e outros atos lavrados em cartório 43 REGISTRO DE IMÓVEIS e servidores da justiça: “Como goza ele [o servidor] de fé pública, presume‑se que o conteúdo do documento seja verdadeiro, até prova em contrário”. Todos os atos praticados por notários e registradores são realizados em língua portuguesa, pois se trata do idioma oficial da República Federativa do Brasil, especialmente as manifestações de vontade. E se, por exemplo, houver uma pessoa que precise registrar a sua manifestação de vontade perante um notário ou um tabelião que não saiba falar português? Ceneviva (2014, p. 68) afirma que, ocorrida a manifestação em língua estrangeira, o notário só́ a recolhe se declarada em presença de tradutor público juramentado, que também assina o ato depois de qualificado. Observação Tradução juramentada é a tradução pública, ou seja, traduçãode um documento público. Pode ser uma certidão, uma procuração, uma ata de reunião etc. Entende‑se por tradutor juramentado o profissional que prestou concurso público e está habilitado para traduzir documentos oficiais. Considerando‑se a parcela prática da atividade notarial e registral relativa ao registro de imóveis, apresentam‑se alguns direitos de gerenciamento administrativo e financeiro, além da liberdade para contratação de prepostos. O art. 20 da Lei 8.935/94 dispõe que os notários e os oficiais de registro poderão contratar escreventes, entre eles os substitutos e auxiliares, como empregados, segundo a remuneração ajustada e sob o regime da legislação trabalhista. O direito de gerenciamento administrativo e financeiro é uma atribuição que não depende de autorização, licitação ou orçamento público, uma vez que os serviços são delegados. Contudo, os serviços devem ser custeados integralmente pelo registrador. A liberdade para contratação de prepostos também se revela como um direito do registrador, visto que os prepostos são as pessoas que agem em nome de uma empresa ou organização – nesse caso, em nome do registrador. Assim, serão considerados prepostos, para fins de atividade notarial e de registro, os escreventes, substitutos e auxiliares. A Lei 8.935/94 estabelece que em cada serviço notarial haverá tantos substitutos, escreventes e auxiliares quantos forem necessários. Esta decisão caberá ao notário ou ao oficial de registro. Como vimos, o registrador ajusta a remuneração, a quantidade e as atribuições de cada um dos prepostos. É importante que seja comunicado ao corregedor permanente quem são os seus prepostos substitutos, que responderão pelo cartório no caso de ausência do registrador. Conforme determinado pela Lei dos Notários e Registradores, em seu art. 21, o gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal. 44 Unidade II Caberá também aos notários e registradores estabelecer normas, condições e obrigações relativas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor qualidade na prestação dos serviços. Note‑se que a independência não é apenas operacional e administrativa, por representar um direito, uma vez que o registrador pode emitir um juízo de valor relativo a uma situação que entender juridicamente ilegítima e se recusar a proceder o registro, como, por exemplo, em alguma condição em que suspeite de vício de vontade de um dos contratantes. Saiba mais Um exemplo prático da situação de recusa por parte do registrador pode ser visto na sentença publicada no Processo Digital nº 1018661‑27.2017.8.26.0224, no seguinte endereço: <www.tjsp.jus.br>. Esse processo decorre da recusa, por parte do registrador imobiliário, de efetuar o registro, diante da constatação de ausência de semelhança na assinatura dos referidos proprietários e da compromissária no cotejo com os documentos apresentados pelo interessado. O registrador decidiu requerer mais provas para afastar essa dúvida, e a discussão foi parar na justiça. O juiz decidiu em favor do registrador. A percepção dos emolumentos integrais se refere aos emolumentos, que são taxas remuneratórias de serviços públicos, tanto notariais quanto de registro, configurando uma obrigação pecuniária a ser paga pelo próprio requerente. Esses emolumentos fazem frente às despesas da manutenção do cartório, bem como representam a remuneração do registrador. Os cartórios são autorizados a cobrar pelos seus serviços, pois, como já estudamos, o serviço notarial e de registro consiste em uma atividade de gestão empresarial: organiza e administra processos, contrata funcionários, realiza procedimentos, entre outras funções. Os preços cobrados pelos cartórios são definidos em lei estadual. Não obstante, a Lei Federal 10.169/2000, que regulamenta o § 2º do art. 236 da Constituição Federal de 1988, dispõe sobre as normas gerais para fixação dos emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. Embora os notários e oficiais de registro tenham independência profissional, é fato que se sujeitam aos princípios constitucionais que orbitam em torno das funções e atividades delegadas pelo Poder Público, notadamente aqueles que regem a administração pública, cuja disposição encontra‑se no art. 37 da Constituição Federal de 1988. 45 REGISTRO DE IMÓVEIS Com relação à mencionada lei federal, Lei 10.169/2000, há previsão de que o valor fixado para os emolumentos deverá corresponder ao efetivo custo e à adequação bem como à suficiente remuneração dos serviços prestados. Vê‑se que entre as prerrogativas dos serviços notariais e de registro está a da cobrança, que se vincula à proporcional correspondência dos serviços prestados e ao valor de cada serviço – portanto, o custo do trabalho e das matérias‑primas utilizadas, o tempo utilizado, as despesas etc. Em outras palavras, a precificação na gestão de serviços notariais e registrais está atrelada à gestão orçamentária, como ocorre em qualquer empresa. No entanto, possui uma limitação legal de ordem subjetiva de valor: adequação e efetividade. Outra prerrogativa que a lei estabelece a tais profissionais refere‑se à escolha na hipótese frequente de desmembramento ou de desdobramento de serventias imobiliárias (art. 29, I, da Lei 8.935/94). Esse desmembramento pode ocorrer por alteração na lei de organização judiciária ou por ato administrativo, transferindo‑se a atribuição de um Cartório de Registro de Imóveis a uma outra serventia. O titular pode escolher com qual parte do desmembramento deseja ficar. Conforme estudamos, os notários e oficiais de registro gozam de independência no exercício de suas atribuições. Além do direito de dispor sobre a cobrança dos emolumentos e de exercer opção nos casos de desmembramento ou desdobramento de sua serventia, poderão participar e organizar‑se em associações ou sindicatos de classe. Saiba mais Fundada em 1928, a Associação dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo (Anoreg/SP) congrega 1.546 cartórios distribuídos em todos os Municípios do Estado, os quais empregam direta e indiretamente mais de 23 mil pessoas. A entidade reúne cartórios de cinco especialidades: Registro Civil das Pessoas Naturais, Registro de Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas, Tabelionato de Notas, Tabelionato de Protesto e Registro de Imóveis. As principais funções relacionadas aos cartórios extrajudiciais são: garantia de fé pública, autenticidade, publicidade, segurança e eficácia a todos os atos jurídicos pessoais, patrimoniais e negociais da população brasileira, contribuindo para a prevenção de litígios e para a desburocratização dos serviços ao cidadão. A fim de saber mais sobre a Anoreg, acesse: <https://www.anoregsp.org.br>. 46 Unidade II Existem ainda obrigações na atividade registral imobiliária. O art. 30 da Lei 8.935/94 dispõe sobre elas. Por razões de metodologia e didática, relacioná‑las e explicá‑las em rol exemplificativo facilita a compreensão. • Os notários e os oficiais de registro devem observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente. A atividade registral, em razão das características públicas que possui, tem de atentar‑se às normas, como, por exemplo, as súmulas vinculantes destinadas aos registradores publicadas pelo Poder Judiciário. • O registrador também precisa estabelecer o cartório em local de fácil acesso ao público, sem possibilidade de instalação de sucursal. • Os registradores devem fixar a tabela de emolumentos, que necessita estar afixada no interior do cartório, em local visível, de fácil leitura e acesso ao público; e, no lado externo, devem pôr a placa indicativa com informação precisa da delegação a que se refere. • Os notários e oficiais de registro têm de manter em ordem os livros, papéis e documentosdo cartório, bem como guardá‑los em locais seguros. Sobre essa segurança, releva destacar que se trata de uma responsabilidade do registrador e, portanto, este tem de assegurar a manutenção e a guarda de todas as formas, para minimizar, tanto quanto possível, extravios ou destruição de registros. • Os responsáveis precisam guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de natureza reservada de que tenham conhecimento em razão do exercício de sua profissão. • O registrador deve dar recibo dos emolumentos percebidos. • O encarregado tem de observar os prazos legais fixados para a prática dos atos de seu ofício. • Os executores necessitam fiscalizar o recolhimento de impostos incidentes sobre os atos que devem praticar. • Os agentes têm que facilitar, por todos os meios, o acesso à documentação existente às pessoas legalmente habilitadas. • As partes devem ser atendidas com eficiência, urbanidade e presteza. Como se pode observar, os direitos e deveres do registrador imobiliário são amplos e representam uma forma especial de conduzir a atividade cartorária. Especialmente por se tratar de uma delegação pública, existe pouca liberdade e muitas obrigações. Sobre o horário de funcionamento, o registro de imóveis deve obedecer à instância correcional, que estabelecerá os dias e horários de atendimento, respeitado um mínimo de seis horas diárias. O atendimento precisa ser por ordem de chegada, vedada qualquer discriminação. 47 REGISTRO DE IMÓVEIS 3.5 Das atribuições e competências dos notários Estabelece a Lei 8.935/94 que caberá aos oficiais de registro de imóveis a prática de atos relacionados à legislação pertinente aos registros públicos. A lei em comento refere‑se à competência destes profissionais. Ceneviva (2014, p. 62) distingue os vocábulos “atribuição” e “competência”. Para o autor, a atribuição indica genericamente o ato de conferir a alguém a prática, exclusiva ou não, de certa função. Para o direito, consiste na outorga de faculdades e poderes específicos, a profissionais certos e determinados, para a prática de atos indicados em lei. Já a competência caracteriza o poder de agir, sua extensão e seus limites, previstos por lei, para o exercente da delegação. O art. 6° da Lei 8.935/94 determina que aos notários competem três atribuições: I – formalizar juridicamente a vontade das partes; II – intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo. III – autenticar fatos. A formalização se refere ao ato do notário em validar a vontade das partes e, se houver algum requisito adicional além de capacidade para a prática do ato, ele deverá observar. A validade da declaração de vontade não depende de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir (art. 107 do Código Civil), como o caso da compra e venda de um imóvel, que deverá ser feita perante o órgão de registro, por escrito. Outro exemplo de forma especial de declaração de vontade pode ser observado na doação com encargo, na qual o doador pode fixar prazo ao donatário para que ele manifeste a aceitação ou recusa, interpretando‑se o seu silêncio como recusa. O art. 7º da Lei 8.935/94 estabelece que compete exclusivamente aos tabeliães de notas: • lavrar escrituras e procurações, públicas; • lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; • lavrar atas notariais; • reconhecer firmas; • autenticar cópias. 48 Unidade II Autenticar os fatos representa a confirmação, por parte da autoridade notarial, de que os casos levados a registro existem, bem como de que as circunstâncias que caracterizam tais eventos são reais enquanto acontecimento juridicamente relevante. Note‑se que ao tabelião de notas não cabe lavrar testamentos cerrados, conforme inteligência do art. 7º, II, da lei em comento. No entanto, formalizar juridicamente a vontade das partes e intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram conferir forma legal são competências exclusivas dos notários. Importante ressaltar que quando a lei designa a competência dos notários de formalizar juridicamente a vontade das partes deseja inferir que devem formalizar a vontade das partes conforme o direito. 3.6 Das atribuições e competências dos oficiais de registro Cabe aos oficiais de registro de imóveis, também conhecidos como registradores, entre as competências elencadas em lei, conferir publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos por eles realizados e expedir certidões. Acompanhe no quadro a seguir os tipos de certidões físicas, ou seja, certidões de papel não digitais, que podem ser requeridos: Quadro 4 – Tipos de certidão física Certidão física Inteiro teor Em resumo Em relatório Cópia ou transcrição verbo ad verbum. Contém apenas parte da matrícula, ou de um registro, mas não pode omitir dados essenciais, nem a existência de ônus não cancelados. Responde a certos quesitos específicos. Por exemplo, uma certidão que afirma quais são os bens registrados em nome de uma certa pessoa, ou uma certidão negativa de propriedade. É possível que haja o questionamento a respeito do que sejam dados essenciais em se tratando de certidões físicas. As informações fundamentais são aquelas sem as quais o resumo de certidão física não faria sentido – por exemplo, a data em que o imóvel passou a pertencer à circunscrição ou que deixou de pertencer, mencionando‑se a outra serventia, e quaisquer alterações posteriores, se de ato específico. Como já visto, os trabalhos realizados pelo registrador de imóveis também passam por evoluções decorrentes da informatização e da utilização de recursos tecnológicos. Assim, é possível requerer uma certidão digital. Contudo, ela deve ser assinada digitalmente pelo registrador e enviada por via segura previamente indicada pelo requerente. 49 REGISTRO DE IMÓVEIS Saiba mais É possível utilizar a Central de Serviços Eletrônicos Compartilhados dos Registradores de Imóveis para requerer uma certidão de um imóvel. Trata‑se de uma plataforma integradora de hardwares e softwares de suporte ao Serviço de Registro Eletrônico de Imóveis (SREI), na forma prevista na Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, e no Provimento CNJ nº 47, de 19 de junho de 2015, da Corregedoria Nacional de Justiça. A plataforma responde pelo funcionamento de quatro sites: <https://novo.oficioeletronico.com.br/>. <https://www.indisponibilidade.org.br>. <https://www.penhoraonline.org.br/>. <https://www.registradores.org.br/>. Caso queira obter mais informações ou utilizar esse serviço, acesse: ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES IMOBILIÁRIOS DE SÃO PAULO. Institucional. São Paulo, 2018. Disponível em: <https://www.registradores. org.br/ConhecaArisp/frmConhecaArisp.aspx>. Acesso em: 19 jul. 2019. A fim de agilizar o serviço notarial e de registro, a mesma plataforma tem um portal de registradores que integra os serviços prestados eletronicamente pelos Cartórios de Registro de Imóveis para empresas, tabeliães de notas e cidadãos, tudo concentrado em um único ambiente eletrônico. 3.7 Das responsabilidades e dos impedimentos dos notários e oficiais de registro Vimos que o trabalho do registrador imobiliário é uma delegação do Poder Público e, portanto, diversas discussões surgiam acerca da responsabilidade desse agente, se era de caráter público ou privado, pois as responsabilidades diferem‑se conforme os efeitos produzidos. O agente público responde de forma objetiva, o que é uma característica da sua atividade enquanto representante do Estado na vida social. Para ficar claro, ele segue a determinação constitucional decorrente do art. 37, § 6º, decidida em sede de Teses de Repercussão Geral do Supremo Tribunal Federal no RE 591.874 da seguinte forma: A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamentea terceiros usuários e não usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição Federal 50 Unidade II (REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe‑237 DIVULG 17‑12‑2009 PUBLIC 18‑12‑2009 EMENT VOL‑02387‑10 PP‑01820 RTJ VOL‑00222‑01 PP‑00500). Nos dizeres da Lei 8.935/94, os notários e oficiais de registro são civil e pessoalmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso. A Lei 13.286/2016 trouxe alteração ao art. 22 da Lei 6.015. Para fins de responsabilidade civil, a conduta do agente se divide em culposa ou dolosa. Acompanhe a diferença entre ambas a seguir: Dolo Ato voluntário e intencional de alguém em praticar ou deixar de praticar uma ação para atingir um resultado ilícito ou causar dano a outra pessoa. Culpa Há vontade de agir de acordo com as normas, mas deixa‑se de tomar cuidados considerados normais por imprudência, negligência ou imperícia, o que causa dano contrário ao seu desejo. Figura 9 – Diferença entre dolo e culpa Como podemos perceber, o registrador imobiliário responderá independentemente de desejar ou não o resultado de prejudicar alguém, ainda que não tenha sido ele que praticou o ato. Basta que tenha autorizado terceiros (por exemplo, os prepostos) a praticarem ações em seu nome para que incida a responsabilidade. Assim, mesmo que a ação ou omissão seja do preposto, do auxiliar ou do assistente do registrador, ele será responsabilizado, porque, conforme a legislação, os registradores são civilmente responsáveis pelo exercício de suas atribuições. O prazo para requerer a reparação civil em decorrência de dolo ou culpa do registrador é prescricional e se encerra em três anos, contado o prazo da data de lavratura do ato registral ou notarial. A prescrição aqui é entendida como sendo o prazo que uma pessoa tem para buscar os seus direitos por meio de um processo judicial. Observação A responsabilidade civil independe da criminal. Isso significa dizer que a absolvição criminal do notário e do oficial de registro não implica a absolvição cível. 51 REGISTRO DE IMÓVEIS Acompanhe a seguir os dispositivos legais que versam sobre a responsabilidade civil e no que se diferencia com relação à responsabilidade penal: Quadro 5 – Responsabilidade civil e responsabilidade penal Responsabilidade civil Responsabilidade penal Art. 186 ‑ Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. O agente infringe uma norma de direito público. Neste caso, o interesse lesado é da sociedade. No caso do registrador imobiliário, ela decorre da delegação de um serviço público. Art. 187 ‑ Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê‑lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa‑fé ou pelos bons costumes. Art. 927 ‑ Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem fica obrigado a repará‑lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Adaptado de: Brasil (2002). A legislação notarial e de registro preconiza que a responsabilidade criminal será individualizada, aplicando‑se, no que couber, a legislação relativa aos crimes contra a administração pública. Justifica‑se tal premissa pelo fato de o registrador de imóveis ser um delegatário de serviço público, e não um agente público, tampouco um agente privado. Veja um exemplo de julgamento relativo à responsabilidade civil decorrente de ato notarial e de registro: Tabelião. Titulares de Ofício de Justiça. Responsabilidade civil. Responsabilidade do Estado. CF, art. 37, § 6º. Natureza estatal das atividades exercidas pelos serventuários titulares de cartórios e registros extrajudiciais, exercidas em caráter privado, por delegação do Poder Público. Responsabilidade objetiva do Estado pelos danos praticados a terceiros por esses servidores no exercício de tais funções, assegurado o direito de regresso contra o notário, nos casos de dolo ou culpa (RE 209.354‑AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 2‑3‑1999, Segunda Turma, DJ de 16‑4‑1999). [No mesmo sentido: RE 551.156‑AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 10‑3‑2009, Segunda Turma, DJE de 3‑4‑2009.] Como se percebe, a mais alta corte de justiça do Brasil decidiu que cabe o direito de regresso e, ainda, que o agente público, no caso em comento um notário e não um registrador, responda independentemente de dolo ou de culpa. Veja que não importa a intenção do registrador, se foi por não negligência (culpa) ou se desejou o resultado (dolo). Na esfera criminal, é importante ressaltar que notários e oficiais de registro são equiparados ao servidor público. Portanto, aplica‑se a eles a legislação destinada aos crimes contra a administração pública. 52 Unidade II Uma indagação comum é o que acontece com a pessoa que intenciona reconhecer no cartório documentos com assinaturas falsas, tentando ludibriar o registrador. Saiba que ao tentar praticar tais atos, há a tipificação penal do crime de falsificação de documento, previsto no art. 297 do Código Penal. Conforme a norma legal, falsificar, no todo ou em parte, documento público ou alterar documento público verdadeiro é um crime passível de dois a seis anos de reclusão ou multa. Acontece que, ao praticar esse crime, se os agentes envolvidos forem funcionários públicos e cometerem o crime valendo‑se do cargo, a pena é aumentada de um sexto. Para entender o crime de falsificação de documento, cabe trazer à baila o conceito de documento para efeitos penais. A legislação esclarece que, para efeitos penais, equiparam‑se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. Além da responsabilidade civil e criminal, a Lei 8.935/94 dispõe sobre os impedimentos e as incompatibilidades no exercício da atividade notarial e de registro. Assim, a estes profissionais não é permitido exercer a advocacia, a intermediação de seus serviços ou qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda que seja em comissão. Acompanhe a seguir as incompatibilidades relativas ao referido profissional: Incompatibilidades dos registradores de imóveis Corretagem de imóveis Magistério Advocacia Vereança com compatibilidade de horários Intermediação de seus serviços notariais ou registrais Cargo, emprego ou função públicos, ainda que em comissão Exceções Figura 10 – Incompatibilidades profissionais Ainda no campo das incompatibilidades e impedimentos, estabelece o art. 27 da Lei 8.935/94 que, no serviço de que são titulares, o notário e o registrador não poderão praticar, pessoalmente, qualquer ato de seu interesse, ou de interesse de seu cônjuge ou de parentes, na linha reta ou na colateral, consanguíneos ou afins, até o terceiro grau. 53 REGISTRO DE IMÓVEIS 4 DA FISCALIZAÇÃO PELO PODER JUDICIÁRIO Os notários e oficiais de registro, embora desempenhem atividades privadas e tenham independência funcional, sofrerão fiscalização pelo Poder Judiciário por imposição constitucional. Vejamos novamente o que diz a Constituição Federal de 1988 a respeito da fiscalização desses profissionais: Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º ‑ Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização a ser exercida pelo Poder Judiciário. De acordo com o comando normativo constitucional, a Lei 8.935/94 tratou de regulamentar estaquestão no art. 37, dispondo sobre a fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro recepcionados nos arts. 6º ao 13, podendo ser requerida mediante representação de qualquer interessado quando houver inobservância de obrigação legal por parte dos profissionais. Todavia, em quais hipóteses serão fundamentais as atuações do Poder Judiciário para fiscalizar a atuação do notário e do registrador? Acompanhe na imagem a seguir algumas hipóteses de fiscalização pelo Poder Judiciário, cuja intervenção objetiva garantir a observância da legislação: Intervenção judicial Não formalizar a vontade das partes Não guardar os documentos originais Cobrar excessivamente os honorários Deixar, sem justificativa, de autenticar fatos Redigir instrumento inadequado do negócio jurídico Figura 11 – Causas que podem ensejar intervenção judicial 54 Unidade II Talvez passe pela cabeça das pessoas que na maioria dos casos não é o registrador de imóveis quem realiza pessoalmente todas as atividades do cartório – por exemplo, receber o pagamento relativo aos emolumentos. Quem em geral faz isso é alguém contratado para desempenhar essa tarefa. Assim, a responsabilidade recairia sobre quem? A resposta é simples: a responsabilidade é do notário ou do registrador. Já vimos que a legislação notarial, ou seja, a Lei 8.935/94, em seu art. 37, aponta que a inobservância de obrigação legal por parte de notário ou de oficial de registro, ou de seus prepostos, enseja fiscalização. Assim, também ficam abarcadas todas as atividades desempenhadas pelo cartório. Sobre a responsabilidade dos prepostos, aponta Ceneviva (2014, p. 298) que seus atos podem ser verificados pelo juiz. Entretanto, no tocante à responsabilidade disciplinar, ela recai sobre o oficial. É ele que exerce o poder de comando de empregador. Assim, o preposto não é punível disciplinarmente pelo juiz corregedor, visto que o posicionamento do STF é de que os notários, bem como os oficiais de registro, são considerados funcionários públicos, embora exerçam atividade privada. Interessante notar que, ao se posicionar sobre a responsabilidade do Estado por atos delegados, o STF entendeu que a responsabilidade do Estado é objetiva, ou seja, dispensa o elemento “culpa”, bastando apenas que se prove o dano e o nexo causal. Neste sentido, a Suprema Corte não só fixou o entendimento da responsabilidade objetiva do Estado como assentou o dever de regresso contra o responsável (tabeliães e oficiais de registro), nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa. Observação Em 27 de fevereiro de 2019, o Supremo Tribunal Federal reiterou jurisprudência sobre a responsabilidade civil do Estado pelas atividades de cartório. Vale insistir no fato de que, pelo teor desta decisão, o STF, além de responsabilizar objetivamente o Estado por danos causados a terceiros em relação às atividades notariais e de registro, impõe um ônus ao Estado, qual seja, o dever de regresso contra os particulares delegados, sob pena de incorrer em improbidade administrativa. Vimos, portanto, que o poder disciplinar e de correição pelo Poder Judiciário ocorre pela fiscalização, tanto por imposição constitucional como por força de lei infraconstitucional. Aliás, vale destacar que a Emenda Constitucional nº 45 de 2004, que criou o Conselho Nacional de Justiça, designou, dentro de suas competências, no inciso III, § 4º, art. 103‑B, que, entre outras atribuições, cabe ao CNJ: receber e conhecer as reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos 55 REGISTRO DE IMÓVEIS prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do Poder Público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar ou correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada a ampla defesa. Consequentemente, o poder fiscalizatório no âmbito do Judiciário tem tratativa constitucional, designando ao CNJ o controle das atividades notariais e de registro. Esta fiscalização pode se dar de duas formas: de ofício ou mediante requerimento de qualquer interessado. A fiscalização de ofício advém sem qualquer provocação e é definida pelo vocábulo legal “sempre que necessário”. Já a fiscalização por requerimento do interessado significa que este pode ser feito por qualquer pessoa que tenha presenciado ato ilegal praticado por notário ou registrador. Mas como definir representação? Para Ceneviva (2014, p. 298), a representação consiste em pedido escrito, formulado pela parte interessada e dirigido à autoridade local que esteja apta a apreciá‑lo, na forma da lei. O referido pedido deve conter a indicação com clareza do ato praticado, os indícios de autoria e, sempre que possível, o texto legal contrariado. A representação será feita de modo direto pela parte, independentemente de acompanhamento por advogado, pois se trata de pedido administrativo e não judicial. Saiba mais A fim de saber mais sobre ações indenizatórias decorrentes de danos imputados a notários e registradores, leia: KÜMPEL., V. F. A efetivação do direito por meio da atividade tabelioa e registral. Migalhas, 7 maio 2013. Disponível em: <https://www.migalhas.com. br/Registralhas/98,MI177770,91041‑A+efetivacao+do+Direito+por+meio+d a+atividade+tabelioa+e+registral>. Acesso em: 19 jun. 2019. A Lei 8.935/94 determina que quando, em autos ou papéis de que tomar conhecimento, o juiz verificar a existência de crime de ação pública, remeterá diretamente ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários para que o MP ofereça denúncia. Dessa determinação legal, cabe explicar que a ação penal pode ser pública ou privada. Ação penal pública é aquela que o Ministério Público promove, nos termos de sua competência constitucional (art. 129, I, da Constituição Federal/88), e inicia‑se com o oferecimento de um documento chamado tecnicamente de denúncia. A referida ação se subdivide em incondicionada e condicionada. A incondicionada é aquela em que o Ministério Público é o titular do direito de ação (art. 100 do Código de Processo Penal) por força de 56 Unidade II lei e, portanto, não está sujeita a qualquer tipo de condição – por isso, incondicionada. Este modelo de ação não depende de manifestação da vontade da vítima. Trata‑se do caso de registros públicos. Na condicionada, por outro lado, a propositura da ação penal depende da manifestação de vontade do ofendido, ou seja, de uma condição. A ação penal privada é a disponibilizada por particular e inicia‑se com o oferecimento da queixa‑crime, conforme os arts. 41 e 44 do Código de Processo Penal. Este modelo subdivide‑se em três: • ação exclusivamente privada, que pode ser intentada pela vítima ou seu representante legal e, em caso de morte, pelo cônjuge, companheiro, ascendentes, descendentes e irmãos (arts. 31 e 33 do Código de Processo Penal); • ação personalíssima, cuja queixa‑crime somente pode partir da vítima; • ação subsidiária da pública, que é aquela promovida via queixa‑crime quando o Ministério Público quedar‑se inerte. Observação Quedar‑se inerte é uma expressão jurídica que significa deixar de fazer algo que poderia ter feito. Assim, quando determinado ente permanece em inércia, “queda‑se inerte”, ou seja, sem nada fazer. Para completar nossos estudos sobre a fiscalização dos notários e oficiais de registro, é importante mencionar o art. 38 da Lei de Notários e Registradores (8.935/94), que determina que o juízo competente zelará para que os serviços notariais e de registro sejam prestados com rapidez, qualidade satisfatória e de modo eficiente. Ademais, a Lei 8.935, neste mesmo artigo, dispõe a possibilidade de o juízo fiscalizador sugerir à autoridade competente a elaboração de planos para adequadae melhor prestação desses serviços, observados, também, os critérios populacionais e socioeconômicos, publicados regularmente pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um mundo em constante transformação, é natural que os serviços notariais e de registro devam constantemente se adaptar às novas condições de vida, e por isso o dispositivo legal trata do IBGE. Ele, conforme declarações do site referência como provedor de dados e informações do País, atende às necessidades dos mais diversos segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos das esferas governamentais federal, estadual e municipal, prestando informações relevantes e dados estatísticos. Nesse sentido, consultar o endereço eletrônico do IBGE [s.d.] é de especial relevância, tendo em vista que oferece uma visão completa e atual do País, através do desempenho de suas principais funções: 57 REGISTRO DE IMÓVEIS Produção e análise de informações estatísticas; coordenação e consolidação das informações estatísticas; produção e análise de informações geográficas; coordenação e consolidação das informações geográficas; estruturação e implantação de um sistema das informações ambientais; documentação e disseminação de informações; coordenação dos sistemas estatístico e cartográfico nacionais. Sintetiza Ceneviva (2014, p. 305) que o planejamento de novos serviços deve ter o objetivo de satisfazer os acréscimos populacionais, com as necessidades dinâmicas por eles criadas. Consideradas as mudanças decorrentes do crescente emprego dos meios eletrônicos, o planejamento de uso e os respectivos custos acrescidos devem preocupar permanentemente o delegado do Poder Público em sua atividade na prestação de serviços notariais e de registro. 4.1 Da competência territorial dos registradores Sobre a competência territorial dos registradores, cabe relembrar que toda a atribuição registral é conferida por meio de delegação. Esta delegação é, a rigor, irrevogável, desde o ato perfeito e acabado da outorga do exercício de uma prestação de serviço, só podendo ser cassada nas hipóteses legais, obedecido o devido processo legal. Coêlho (2014) aponta que, quando a lei determina a necessidade de registro, isso implica que ele seja efetivado em serventia que corresponda ao domicílio das pessoas, naturais e/ou jurídicas, envolvidas na constituição dos atos jurídicos objetos de registro. Portanto, o ato administrativo de natureza registral está intimamente vinculado ao princípio da territorialidade. Em regra, o requerimento de registro deve ser endereçado no local da situação do imóvel. O presente princípio atrela‑se à competência registral, cuja racionalidade é efetivar o princípio constitucional da publicidade, uma vez que o objetivo maior do ato registral é possibilitar a produção de efeitos em relação a terceiros. A atuação funcional do titular é legitimada nos limites dos poderes outorgados pela delegação, subordinada ou não a zonas territoriais. Porém, atente‑se ao fato de que, para os registradores civis de pessoas naturais e os de imóveis, as atuações são exercíveis exclusivamente na área territorial criada pela divisão interna do Estado ou do Distrito Federal. Ceneviva (2014, p. 308) adverte que o delegante não é um dos Três Poderes, uma pessoa ou o ocupante de um certo cargo, embora o Poder Público seja representado, como evidente, pelo titular ao qual a lei atribui a função de delegar. Vista sob o prisma do delegado, a delegação é vinculada ao cargo e a seu exercente, no território de uma unidade da Federação ou no Distrito Federal. Lembrete Uma das funções do registro público é garantir a publicidade relativa à titularidade característica do imóvel. 58 Unidade II É evidente que ninguém quer perder dinheiro com a aquisição de imóveis, pois muitas vezes trata‑se de um sonho de vida a aquisição da casa própria e também de propriedades para investimentos. Assim, uma das principais informações que se devem buscar antes de investir recursos em um imóvel é justamente o dado sobre a titularidade do bem no registro de imóveis. Mas onde obtê‑lo? A fim de conferir segurança jurídica às relações jurídicas imobiliárias, o princípio da territorialidade destina‑se a resolver esta questão. O registro de imóveis mais próximo ao local do imóvel é o competente para registrá‑lo, ou seja, para verificar a matrícula do imóvel e averiguar o cadastro do bem na serventia registral imobiliária, basta procurar saber onde o imóvel está situado e o cartório imobiliário desta circunscrição. Entretanto, para a aquisição de um imóvel, não basta a informação sobre a matrícula. A fim de proceder à transferência, é preciso que se efetue o registro de aquisição, uma vez que sem ele não será possível dispor sobre o bem, ou seja, efetuar a sua transferência. Quando se fala em registro, quer se designar a transmissão de um direito real com o intuito de que tenha validade perante terceiros. Para isso, é importante ressaltar que a Lei 6.015/73 dispõe no art. 167 que no registro de imóveis, além da matrícula, serão feitos o registro e a averbação. Somente para exemplificar, sujeitam‑se a registro: • a instituição de bem de família; • as hipotecas legais, judiciais e convencionais; • as penhoras, os arrestos e os sequestros de imóveis; • as servidões em geral; • o usufruto; • a anticrese; • os loteamentos urbanos e rurais; • a doação entre vivos. Serão averbados: • cancelamento, da extinção de ônus e direitos reais; • cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis; • contratos de locação, para fins de exercício de direito de preferência; • reserva legal; • servidão ambiental. 59 REGISTRO DE IMÓVEIS Observação A matrícula refere‑se a um imóvel apenas, ou seja, cada um deles tem um número único de serventia. Da matrícula devem constar todos os atos que se relacionam com o imóvel. Vejamos o que diz o Código Civil de 2002 a respeito do registro de propriedade: Art. 1.245. Transfere‑se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. De acordo com a normativa citada, em não se efetuando o registro, não se opera a transferência do bem. Portanto, aquele que adquire imóvel sem registro somente será seu possuidor. Para operar a eficácia registrária, é preciso que o registro seja apresentado ao oficial de registro, que promoverá (ou não) o expediente registrário. No caso de irregularidades na documentação, o oficial de registro poderá suscitar a “dúvida”. Observação O pedido de suscitação da dúvida poderá ser motivado no caso de a parte não se conformar com as exigências do oficial de registro ou se não houver possibilidade de ser atendida a exigência. Veja que o art. 17 da Lei de Registros de Imóveis dispõe que qualquer pessoa poderá requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao funcionário do cartório o motivo ou interesse do pedido. Todavia, diante de tantas certidões, contratos, propostas, como descobrir o registro do imóvel? Isso depende da circunscrição imobiliária, ou seja, a área de abrangência que cada Cartório de Registro de Imóveis atua. Como cada imóvel tem sua área demarcada somente no correspondente ao arquivo da matrícula, será esta a serventia que responderá por ela. Já vimos que por circunscrição imobiliária entende‑se a delimitação territorial na qual o imóvel está situado. Quem define a circunscrição imobiliária é a Corregedoria Geral da Justiça dos Estados, que tem entre suas atribuições a fiscalização, em caráter geral e permanente, das atividades dos órgãos e serviços judiciários de primeira instância, assim como das práticas das delegações notariais e de registro. A corregedoria também realiza correições e estabelece normas de serviços das unidades judiciais e extrajudiciais, entre outras atividades. 60 Unidade II Saibamais A corregedoria do governo do Estado de São Paulo preparou uma cartilha com perguntas e respostas sobre serviços notariais e de registro. A fim de conhecê‑la, acesse: CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Serviços notariais e de registro: informações básicas para melhor utilização dos serviços dos cartórios extrajudiciais. São Paulo: TJ/SP, 2012. Disponível em: <https://www.tjsp.jus.br/download/corregedoria/pdf/CartilhaExtrajudicial. pdf>. Acesso em: 27 jun. 2019. A título de exemplo, os bairros da cidade de São Paulo estão agrupados por subdistrito. Cada um dos dezoito oficiais de registro de imóveis da capital é responsável por dois ou mais subdistritos. O bem é registrado sempre no cartório que atende ao subdistrito onde ele se localiza. Por fim, vale o destaque para a qualificação registral, que consiste na verificação e análise do título a fim de se certificar de que ele cumpre todos os requisitos impostos pela lei, além de estar afinado com os princípios do direito registral, notadamente os de legalidade, publicidade e segurança jurídica. Aliás, uma das principais funções do oficial de registro é a análise do título que lhe é encaminhado. Neste momento, o registrador verificará não só a legitimidade do documento, mas a sua legalidade e a sua validade, para, então, operacionalizar o procedimento registral que viabilizará o negócio jurídico. Assim, em um contrato de compra e venda, a fim de que seja realizada a transmissão do imóvel, será necessária a verificação de todos os documentos pelo registrador, quanto a legitimidade, legalidade e validade do título, antes de viabilizar o registro. A legitimidade de um documento vincula‑se à autenticidade e à juridicidade do título. O caminho natural para checar se o documento cumpre os requisitos citados seria responder ao seguinte questionamento: • O título cumpre e se adéqua às normas estabelecidas pelo ordenamento jurídico? Já a validade é critério de qualificação do documento, ligando‑se a sua regularidade jurídica. Assim: • O documento está de acordo com a lei vigente? • O título foi emitido por autoridade competente? • O título está apto a produzir efeitos jurídicos? Se todas as respostas a estas perguntas forem positivas, o registrador emitirá o registro, porque estará convencido de que tomou todas as providências necessárias, ou seja, de verificação e análise, para tornar o documento hábil a justificar a emissão de um registro. 61 REGISTRO DE IMÓVEIS Dada a independência funcional dos oficiais de registro, é possível a recusa de título que não cumpra a legislação vigente e os princípios do direito registral, bem como os critérios ora explanados. Entretanto, a recusa deve vir fundamentada com os motivos que ensejaram a decisão do oficial de registro a declinar o documento. Esta justificativa precisa ser acompanhada pelas informações exigidas para o recebimento regular deste. Lembre‑se: a qualificação é o procedimento regular de todo e qualquer título que ingresse no registro de imóveis, visto que o oficial de registro deve verificar a fiel regularidade legal do documento, sob pena de ser responsabilizado civil e penalmente, como já estudado. Entretanto, tendo em vista a função social da propriedade, como princípio constitucional fundamental que orbita em torno das relações jurídico‑imobiliárias, e uma vez que o direito registral, além de sua vocação formal, possui uma inclinação socioeconômica importante para impulsionar o mercado e as relações mercantis, é essencial considerar que a qualificação do título, como expediente registral, deve se ater à regularidade do documento, a fim de facilitar os negócios jurídicos e para não servir de ativo complicador das relações jurídicas, ou seja, despacho promotor de formalismos incipientes. Resumo A responsabilidade do registrador imobiliário, tal qual a dos servidores públicos, decorre da legislação. Assim, ele se submete ao princípio da legalidade estrita, segundo a qual o agente público deve fazer apenas e tão somente aquilo que a lei determinar. Essa responsabilidade procede do mandamento constitucional inscrito no art. 236, conforme o qual os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. Os notários e registradores são independentes e possuem autonomia e responsabilidades decorrentes de sua função extrajudicial, sendo que o notário, ou tabelião, e o oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro. A outorga para exploração dos serviços notariais e de registro é permanente, extensiva a todos os atos, imposta ao próprio delegante e descontinuável nos casos disciplinares. Para ingressar na atividade notarial e registral, importa ter nacionalidade brasileira, ser aprovado em concurso público de provas e títulos, ter capacidade civil, vida e conduta digna, estar quite com as obrigações eleitorais e possuir diploma de bacharel em direito. 62 Unidade II Fé pública é a presunção de veracidade documental, até prova em contrário. Essa presunção é gozada pelo registrador de imóveis. São direitos do notário e do tabelião o gerenciamento administrativo e financeiro, a liberdade para a contratação de prepostos e a independência de recusar a proceder um registro caso suspeite de vícios. Tem direito ainda o notário ou tabelião de perceber integralmente os emolumentos, além de perder a sua delegação apenas nas hipóteses legais. Em caso de desmembramento do seu cartório, o tabelião poderá escolher a serventia em que deseja trabalhar. O registrador deverá atender as normas e determinações da corregedoria do Poder Judiciário, não podendo abrir sucursal, bem como terá de expor a tabela de emolumentos em local visível de sua serventia. É importante que os registradores mantenham em ordem os livros e que o horário de funcionamento seja de, no mínimo, seis horas, além de dar recibo de todas as suas atividades. Compete ao notário e aos registradores formalizar juridicamente a vontade das partes, intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizar a redação ou redigir os instrumentos adequados, conservar os originais e expedir cópias fidedignas de seu conteúdo e autenticar fatos. O oficial do registro de imóveis deve entregar a qualquer pessoa que requeira certidões, não exigindo qualquer tipo de legitimidade ou interesse, e a certidão será lavrada independentemente de despacho judicial. A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não usuários da atividade, conforme o art. 37, § 6º, da Constituição Federal. A legislação notarial e de registro preconiza que a responsabilidade criminal será individualizada, aplicando‑se, no que couber, a legislação relativa aos crimes contra a administração pública. São casos que autorizam a intervenção do Poder Judiciário em relação ao notário e ao registrador: não formalizar a vontade das partes, não guardar os documentos originais ou extraviá‑los, deixar, sem justificativa, de autenticar fatos, redigir instrumento inadequado do negócio jurídico, cobrar excessivamente os honorários, entre outras que a corregedoria entender necessárias. 63 REGISTRO DE IMÓVEIS Quem define a circunscrição imobiliária é a Corregedoria Geral da Justiça dos Estados. Trata‑se da área de abrangência de cada Cartório de Registro de Imóveis. Exercícios Questão 1. A atividade notarial e de registro público é pública ou privada? Esta indagação é muito importante para que entendamos a natureza jurídica dos atos praticados por esses profissionais. Podemos compreender que tal atividade é: A) Pública, porque é delegação de serviço público do Estado. B) Privada, porque permite ao profissional auferir lucros e praticar livremente a gestão. C) Pública no tocanteà delegação de serviços e privada no que se refere à gestão. D) Administrativa e privada. E) Privada e provida de absoluta boa‑fé em decorrência do concurso público. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a atividade notarial e de registro não é apenas pública, mas possui, também, aspectos de atividade privada. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a atividade notarial e de registro não é apenas privada porque se trata de delegação de serviço público. C) Alternativa correta. Justificativa: os profissionais de serviços notariais e de registro têm autonomia no campo privado para planejar e executar a gestão de sua atividade, porém devem atuar em consonância com os pressupostos legais da delegação de serviço que receberam do Poder Público. Assim, possuem aspectos públicos e privados em sua atividade profissional. D) Alternativa incorreta. 64 Unidade II Justificativa: o correto é afirmar que essas atividades possuem aspectos públicos e privados e não administrativos, que estão contidos no caráter público. E) Alternativa incorreta. Justificativa: não há boa‑fé absoluta em nenhuma atividade do Poder Público. Toda boa‑fé pública ou privada é presumida e relativa, ou seja, pode ser modificada em razão de fatos concretos que comprovem que o agente público agiu de má‑fé, como ocorre, por exemplo, nos casos de corrupção ou de fraude. Questão 2. Pedro Petronizaldo adquiriu um terreno situado na área rural de sua cidade, por meio de escritura devidamente lavrada no registro imobiliário da sua circunscrição. Não fez nenhuma benfeitoria no imóvel e também não plantou nada, porque é uma área pequena, de 12 mil metros quadrados, destinada mais a lazer do que a atividade econômica. Recentemente, Pedro foi visitar o imóvel. Fazia cerca de oito anos que ele não ia até o local e teve uma surpresa muito negativa: o espaço estava ocupado por uma família que, inclusive, já havia construído uma casa de alvenaria com quatro dormitórios. Ele conversou com a pessoa que se apresentou como dono e exibiu para Pedro uma escritura fichada no mesmo cartório em que ele havia procedido ao registro de sua escritura. Pedro contratou um advogado para cuidar do assunto e ficou comprovado que um empregado do registro de imóveis havia errado na individualização do imóvel e, em consequência, o novo proprietário havia tomado posse e construído no local errado. Em razão da comprovação do erro, Pedro: A) Poderá requerer uma indenização contra o oficial de registro do registro de imóveis. B) Poderá requerer uma indenização contra o empregado do registro de imóveis que cometeu o erro. C) Poderá requerer uma indenização contra o novo proprietário porque, em razão do erro, o imóvel ainda pertence a Pedro. D) Poderá requerer uma indenização contra o empregado do registro de imóveis, preposto do oficial de registro, e contra o próprio oficial de registro. E) O novo registro anula o antigo porque não houve intenção da parte, e sim um ato equivocado, porém de boa‑fé. Resolução desta questão na plataforma.
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