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PROPRIEDADES FÍSICO- QUÍMICAS DA BIOMASSA Prof. Paulo Cesar C. Pinheiro Dept. Engenharia Mecânica da UFMG Março 2012 Introdução A caracterização de um combustível é dada por suas propriedades físico-químicas. Os valores das propriedades são obtidos através de ensaios técnicos realizados em laboratórios, segundo normas técnicas. Análise Imediata Determinação dos teores ponderais (%) de umidade, matérias voláteis, carbono fixo e de resíduo fixo (cinzas ou matéria inerte) (ABNT NBR 8112, MB 1857). A umidade é determinada através de normas, a partir da secagem uma estufa a 105°C de uma amostra tarada: W(%) é o teor de umidade do combustível como recebido (%), Múmido a massa da amostra de combustível como recebido (kg) e Mseco a massa da amostra após a secagem (kg). O teor de matérias voláteis MV (%) é determinado pirolizando em atmosfera sem oxigênio, uma amostra de 1 grama de carvão vegetal isenta de umidade, a 850±10°C durante 7 min. Mseco é a massa do combustível seco na estufa, e M850 a massa após tratado a 850°C. Análise Imediata O teor de cinzas A(%) é determinado queimado uma amostra de combustível seco (105°C) em uma mufla até a temperatura final de 750°C (ASTM), até obter massa constante. Mcinza é a massa do resíduo que ficou após combustão. O teor de Carbono Fixo CF(%) é determinado por diferença entre a massa do char (M850) e das cinzas (Mcinza). Obs: A análise Imediata é sempre realizada para um combustível sólido no estado bruto (como recebido) Análise Elementar Determina o teor ponderal (% mássica) de cada um dos elementos químicos, na massa total do combustível. C, H, S, O, N são teores ponderais (% massa) dos respectivos elementos químicos A é o teor ponderal (%) das cinzas, W o teor ponderal (%) da umidade (água). O subscrito "r" indica que a composição é expressa em termos da massa de "bruta”. Composição na Base Seca: Composição Seca sem Cinzas (Dry Ash Free = DAF): Obs: A análise Elementar é realizada para o Combustível Dry Ash Free Análise Imediata e Análise Elementar Propriedades básicas para comparação do comportamento térmico Teor de Potássio Influencia a formação de escórias, fuligem e as propriedades do óleo de pirólise (alcatrão vegetal) Teor de Nitrogênio Importante para determinar as estratégias de mitigação das emissões de NOx Umidade Água armazenada no interior e paredes das células, nos espaços capilares A madeira e o carvão vegetal são materiais higroscópicos e sempre possuem algum teor de umidade. Água livre ou de embebição: ocupa parcial ou completamente o lúmem das células e os interstícios celulares, e pode ser evaporada com facilidade. Água de adesão ou impregnação: está quimicamente ligada, por pontes de hidrogênio, às cadeias de celulose das paredes celulares, e é mais difícil de ser evaporada. Biomassa: Água Livre + Águia de Adesão Carvão Vegetal: Água Livre Umidade O teor de umidade pode ser apresentado em base úmida (bruto) ou base seca. Na silvicultura e na indústria da madeira é comum o uso da umidade base seca, e nos demais ramos da energética, umidade base úmida. Umidade Base Úmida: Umidade Base Seca: onde: Wbu é o teor de umidade da madeira base úmida ou como recebida (%), Wbs é o teor de umidade da madeira base seca (%), Múmido a massa da amostra de madeira como recebida (kg) e Mseco a massa da amostra após a secagem (kg). Umidade Ponto de saturação das fibras: água apenas na parede e não tem água nos espaços capilares. As fibras estão saturadas, mas não há água livre. 25-30% de umidade (BS) Acima do Ponto Saturação poucas mudanças nas propriedades mecânicas Abaixo: contrações e torções Umidade de Equilíbrio: Árvore cortada perde umidade até que a umidade armazenada na madeira equilibra-se com a umidade do ambiente, diminuindo para cerca de 16%. Figura. Teor de Umidade da Madeira em Função da Umidade Relativa do Ar. Umidade Determinação do Teor de Umidade: Retirada de amostras (discos de 2-5 cm de espessura) Pesar discos Colocar para Secar em estufa a 105ºC±3 (ABNT) ou 103ºC±1 (ASME), mínimo 12 horas Pesar novamente. Se o peso das amostras não mudar, considera-se umidade removida. Numa árvore viva o teor de umidade varia de 40% a 60% (BS). Umidade y = 2.779x + 10.538 R2 = 0.7655 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Diâmetro Ortogonal, cm U m i d a d e B a s e S e c a , % Poder Calorífico Quantidade de energia liberada na combustão completa de 1 kg de combustível sólidos e ou de 1 m3 (CNTP) de combustíveis gasosos, estando os reagentes e produtos a 25ºC e 1 Atm (Condições Standart), kJ/kg ou kJ/m3 (CNTP). Poder Calorífico Superior (PCS) é a energia liberada pela combustão da unidade de massa (ou volume) de combustível, a volume constante, considerando que os produtos da combustão estão a 25ºC, e que a água formada pela combustão está condensada (estado líquido). O PCS é medido diretamente pela bomba calorimétrica. Poder Calorífico Inferior (PCI) é a energia liberada pela combustão da unidade de massa (ou volume) de combustível, na pressão constante de 1 atm, considerando que os produtos da combustão estão a 25ºC, permanecendo a água formada na combustão no estado vapor. Diferença entre PCI e PCS: energia necessária para a vaporização da água dos produtos da combustão. PCI = PCS - 2441 ΓH2O Vgº = PCS - 2441 (9 H + W) kJ/kg onde ΓH2O = Teor de água nos produtos da combustão (kg/m3), Vgº = Volume dos produtos da combustão (m3/kg combustível, CNTP), H = Teor de Hidrogênio no combustível (kg/kg comb), W = Teor de umidade no combustível (kg/kg comb). Poder Calorífico Calorímetro de Parr Bomba de Mahler Poder Calorífico O poder calorífico varia com o teor de umidade, que varia bastante na madeira e no carvão vegetal. O poder calorífico da madeira seca PCIseco tipicamente encontra-se na faixa 20.000 a 22.000 kJ/kg. A fração da energia do combustível necessária para evaporar a umidade da madeira em combustão ou carbonização normalmente é obtida pela queima de uma fração da carga da lenha, é Wbs x hfg / PCIseco Obs. Alguns autores chamam o PCIúmido de Poder Calorífico Efetivo Poder Calorífico Poder Calorífico Fonte: Forsi Pty Ltd Influência da Umidade no Poder Calorífico Densidade Básica da Madeira A densidade é um dos melhores parâmetros para expressar a qualidade da madeira e do carvão vegetal. A densidade básica da madeira é a relação da massa seca em estufa (105±3)°C dividida pelo respectivo volume da madeira acima do ponto de saturação das fibras. O volume acima do ponto de saturação das fibras é comumente denominado volume verde ou volume saturado. Densidade Básica da Madeira Densidade a Granel A densidade a granel (kg/m3) é determinada medindo a total massa da biomassa colocada no interior de um recipiente de 0,60m x 0,60m x 0,60m. Na avaliação da densidade a granel são contabilizados os vazios entre os pedaços de biomassa. A densidade a granel varia com a granulometria. Quanto maiores os pedaços, maiores serão os valores vazios, e menor a densidade. Com a presença de finos, existe um aumento a densidade a granel devido ao fato dos finos preencherem os vazios entre os grãos maiores. Densidade Aparente A densidade aparente (kg/m3) é a relação entre a massa de uma peça de carvão e o seu volume, inclusive poros internos. Na densidade aparente não são considerados os vazios entre diversos pedaços de carvão, mas são considerados os vazios existentes dentro dos poros do carvão. Para determinar o volume da peça de carvão, ela é mergulhada em um recipiente de água, e medido o volume de água deslocado. O ensaio é realizado de forma rápida, não dando tempo para que a água penetrar nos poros do carvão. Densidade Verdadeira É a relação entre a massa e o volume efetivamente ocupado pelo sólido, eliminando-se todos os poros. Como o carvão vegetal é muito poroso, a densidade aparente dá valores muito inferiores à densidadeda água. Para a determinação da densidade verdadeira é necessário que a água preencha TODOS os poros. Para tanto, coloca-se o material finamente moído em um pictômetro, adiciona-se água destilada e coloca-se para ferver, de modo a expulsar todo o ar dos poros. Completa-se o nível do pictômetro com água e pesa-se. Porosidade A partir dos dados de densidade aparente e densidade verdadeira, pode-se calcular a porosidade: O carvão vegetal é um material essencialmente poroso. Tomando-se como exemplo a densidade aparente 430 kg/m3 e densidade verdadeira 1.500 kg/m3 tem-se uma porosidade de 71%. Resistência Mecânica A resistência mecânica é a capacidade da matéria suportar tensões. A resistência é determinada pela tensão máxima que pode ser aplicada a corpos de prova isentos de defeitos, até o aparecimento de ruptura ou de deformação excessiva. Os ensaios de compressão e tração podem ser aplicados à madeira. Entretanto, o carvão vegetal é um material frágil, e quando submetido ao ensaio de compressão não apresenta uma deformação significativa, mas ruptura súbita. Devido a estas características, a tensão de ruptura não pode ser determinada com exatidão. Não existe um método confiável e reprodutível para avaliar a resistência mecânica do carvão vegetal. Alguns testes empíricos e comparativos foram desenvolvidos para avaliar a resistência mecânica do carvão vegetal, mas estes testes não produzem valores absolutos, e portanto não podem ser utilizados universalmente. Resistência Mecânica Índice de quebra e abrasão (ensaio de tambor) Tumber Test Norma ABNT NBR 8740 / 1985) e Norma ISO R556/67 Consiste em colocar uma certa quantidade de carvão vegetal em um tambor, e submeter este tambor a um número determinado de rotações, a uma velocidade de rotação prefixada. Mede-se a friabilidade pelas análises granulométricas antes e depois do ensaio. Resistência Mecânica Índice de quebra e abrasão (ensaio de tambor) Tumber Test Norma ABNT NBR 8740 / 1985) e Norma ISO R556/67 Resistência Mecânica Índice de quebra (Ensaio de Queda) Shatter Test Norma ABNT NBR7416/1984 Mede a degradação material em quedas sucessivas. Utiliza-se um equipamento onde 10kg de carvão com distribuição granulométrica conhecida, é colocado em uma caixa e submetido a 4 quedas de 1,80 m de altura. Após o ensaio, mede-se a distribuição granulométrica do carvão resultante. Valores acima de 75, indicam boa resistência. Resistência Mecânica Índice de Moabilidade “Hardgrove Grindability Index (HGI)” Norma ASTM 409-71 O HGI determina a moabilidade relativa (facilidade de moer ou pulverizar) de um carvão mineral comparado com um carvão padrão (índice 100). O teste é realizado em um pequeno moinho padrão (máquina Hardgrove), que consiste de 2 componentes principais. A seção inferior estacionária consiste de um recipiente com 8 esferas de aço (d=25,40±0,13 mm) em uma trilha de moagem. O mecanismo de moagem é acionado pela parte superior rotativa do moinho. Critérios de Qualidade do Carvão Vegetal A qualidade do carvão vegetal é definida por: Os critérios que definem a qualidade do carvão vegetal dependem de seu uso final. Europa – Carvão para churrasco -> baixo teor de matérias voláteis Países Pobres – Cocção -> carvão alta densidade, pedaços de grandes e pesados, fácil ignição (alto teor de matérias voláteis) Alto-Forno Resistência à compressão, distribuição granulométrica e composição química. Carvão de alta resistência a compressão, de modo a evitar o esmagamento do carvão pela carga dentro do alto-forno, e a conseqüente geração de finos. A distribuição granulométrica influi diretamente na permeabilidade do leito do alto forno. O carvão de granulometria mais fina possui maior superfície específica por unidade de volume, aumentando a reatividade e diminuindo a permeabilidade) e podem ser arrastados pelos gases. Critérios de Qualidade do Carvão Vegetal Critérios de Qualidade do Carvão Vegetal As faixas granulométricas devem ser estreitas, limitadas preferencialmente em 10-20 mm e opcionalmente 5-20mm, aceitando-se "over-size" máximo de 5% e "under-size" 10%. Misturas de partículas de tamanhos diferentes possuem menor permeabilidade que misturas com tamanhos iguais. As condições de permeabilidade tornam-se críticas para relações entre diâmetros médios maiores que 2:1. O alto teor de matérias voláteis é inconveniente pois o alcatrão pode condensar no sistema de limpeza de gases. O teor de carbono fixo e matérias voláteis podem ser controlados durante o processo de carbonização. O teor de cinzas deve ser o mais baixo possível. Um valor de 0,24% é considerado excelente e um limite superior 1,5%. Além do teor de cinzas total, a quantidade de fósforo e enxofre são de grande importância. O teor de enxofre é geralmente baixo, de modo que o carvão vegetal é adequado para a produção de ferro-gusa de alta pureza. O teor de fósforo varia muito, não apenas entre as espécies, mas também no âmbito de uma árvore e com a composição do solo. Quanto mais velha for a madeira, menor o teor de cinzas e suas cinzas possuem menor teor de fósforo e potássio. O carvão vegetal, devido à sua higroscopicidade, absorve a umidade do ar, e no interior do alto forno a evaporação desta umidade diminui o poder calorífico do carvão, diminui a resistência mecânica, provoca a quebra do carvão, e influi nas reações de redução, influenciando a produtividade do alto-forno. Fim
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