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Ana Laura C. Kichel. DEGENERAÇÃO E MORTE CELULAR LESÃO CELULAR: A lesão celular ocorre quando a célula é estimulada de maneira tão intensa que não consegue mais se adaptar; quando são expostas a agentes nocivos; ou são prejudicadas por anomalias intrínsecas. Pode reduzir ou mesmo interromper a função celular. Causas: - Privação de O2 (hipóxia): interrompe/reduz a respiração aeróbia. As causas mais comuns são isquemia (redução fluxo sanguíneo); insuficiência cardio respiratória; anemia, envenenamento por CO ou grande perda sanguínea (reduz o transporte de O2); - Agentes Físicos: traumas mecânicos; extremos de temperatura; extremos de pressão atmosférica; radiação e choque elétrico; - Agentes Químicos e Drogas: poluentes do ar, inseticida, herbicida, CO, drogas (lícitas e ilícitas), etc. Até mesmo substâncias como glicose e sal (em concentrações hipertônicas) e O2 em altas concentrações podem lesar a célula; - Agentes Infeciosos: vírus, bactérias, helmintos, etc.; - Reações Imunológicas: reações autoimunes ou reações exacerbadas a microorganismos externos; - Defeitos Genéticos: podem causar a deficiência de proteínas funcionais, como defeitos enzimáticos ou acúmulo de DNA danificado ou proteínas anormalmente dobradas; - Desequilíbrios Nutricionais: deficiência ou excesso nutricional. ● DEGENERAÇÃO: Degenerações são lesões reversíveis que decorrem de alterações que causam o acúmulo de substâncias no interior das células. Se esse processo não cessar, entra-se em morte celular. Tipos: - Degeneração Hidrópica: acúmulo intracelular de água; - Degeneração Hialina: acúmulo de proteínas dentro da célula ou fora (no tecido conjuntivo fibroso e no interior de vasos). Aspecto homogêneo, com certa transparência e brilho (lembra vidro) e de cor rósea. Uma das suas características é o corpúsculo de Russel (acúmulo e cristalização de imunoglobulinas - material proteico no interior dos plasmócitos) - estruturas arredondadas, de aspecto fortemente róseo (ou eosinófilo) e homogêneo. - Degeneração Gordurosa: pode ocorrer por esteatose (acúmulo de lipídios em células que metabolizam gordura, mas não armazenam (ex: esteatose hepática) ou por lipidose (acúmulo de gordura em células que normalmente nem metabolizam nem armazenam gordura. Ex: cristais de colesterol). Diferença das duas = questão de prova! - Degeneração Cálcica: é um evento pós-morte celular, onde ocorre a calcificação pela deposição de sais de cálcio e outros sais minerais nas mitocôndrias de células necróticas. A calcificação distrófica pode ocorrer em tecidos vivos, e é o acúmulo de sais em tecidos previamente lesados. A aterosclerose, por exemplo, facilita a deposição de sais e a consequente formação de placas. No entanto, a calcificação distrófica não traz maiores consequências para o local. Não é considerada uma degeneração verdadeira, pois é um evento pós-morte celular. ● MORTE CELULAR: Processo de morte celular: ocorre se a degeneração não cessa, ou seja, a célula não consegue se recuperar e morre. Pode ocorrer por: - Dano mitocondrial: a baixa quantidade de ATP causa o aumento de espécies reativas de O2 que causam uma explosão respiratória que pode causar dano em proteína e DNA (essenciais para as funções básicas do organismo = célula deixa de ser funcional). - Entrada de cálcio: desregulação da membrana da célula permitindo entrada excessiva de Ca2+ que pode aumentar a permeabilidade mitocondrial, deixando sair moléculas que não poderiam sair e que induzem a apoptose. Há a ativação de várias enzimas apoptóticas. - Dano em membrana plasmática: perda de componentes da MP (dano direto) ou dano da membrana lisossomal (organela digestória) e a liberação dessas enzimas causa danos à célula. - Dano em proteína ou DNA: se o dano não for revertido pode ocorrer a liberação de proteínas pró-apoptóticas (caspases); - Isquemia: redução da disponibilidade de O2, que reduz a quantidade de ATP. Causa também uma desregulação osmótica que pode levar ao processo de morte e causar também a entrada excessiva de cálcio. Pode ocorrer também o aumento da glicólise anaeróbia que aumenta a quantidade de ácido lático, reduzindo o pH, podendo levar o organismo a processo de morte. Ainda pode haver alterações morfológicas em que a célula vai involuir (diminuir) de tamanho e se quebrar em diversas porções chamadas de corpos apoptóticos que serão fagocitados (gera toda uma cascata de eventos para que não gere inflamação). Morte Celular Programada X Morte Celular Não Programada Os dois tipos principais de morte celular são: necrose (não programada) e apoptose (programada). Morte celular programada: apoptose (morte programada) e autofagia (tentativa de conserto para que a célula não morra). Não gera inflamação (seu conteúdo não extravasa). Ocorre em situações fisiológicas (desenvolvimento embrionário, morte de células que já cumpriram seu papel, resposta imunológica a um agente agressor, involução de tecidos dependentes de hormônios, manutenção do número constante de células, etc.) e patológicas (lesão direta ao DNA, hipóxia ou isquemia). a) Apoptose: Na relação saúde doença, quando uma célula está infectada ela pode sinalizar para o sistema imune para que ela seja eliminada - receptor Fas = associado ao processo de apoptose. Também pode ocorrer apoptose pelo processo de envelhecimento celular (encurtamento dos telômeros). É um processo altamente organizado, silencioso e com funções variadas (fisiológicas) e algumas funções no reconhecimento específico (Fas e Fas-ligante). A célula murcha (involui) ➜ condensa ou quebra a cromatina ➜ processo de borbulhamento (bubbling) deixando a membrana mais maleável ➜ quebra ➜ formação de corpos apoptóticos que por conta da fosfatidilserina não geram inflamação. A fosfatidilserina sai de dentro e vai para a MP da célula. Basicamente, o passo a passo da apoptose é: 1) Se encolhem e colapsam; 2) Citoesqueleto colapsa; 3) Cromatina condensa e fragmenta; 4) Corpos apoptóticos; 5) São fagocitados. Fases: ● Ativação das caspases: intrínseca (mitocondrial) ou extrínseca; ● Execução das caspases: iniciadoras (caspases 2, 8, 9 e 10 - ativam as caspases executoras) e executoras (caspases 3, 6 e 7 - levam aos 5 passos anteriores). O rompimento das ligações desossômicas com as células adjacentes, fazem com que essas células próximas percebam que a célula que se desligou está morrendo e liberam suas caspases nela. Célula em sofrimento = dano membranar = entra cálcio = permeabilização da membrana = liberação do citocromo C que estava dentro Citocromo C briga com o CARD pelo sítio de ligação do APAF1 (APAF1 é a molécula inteira) = se liga, liberando os domínios CARD que se juntam (ficam dentro) deixando os citocromos C de fora formando uma estrutura chamada de apoptossomo que se liga com a pró-caspase, transformando em caspase ativa, iniciando o processo de apoptose. Via Intrínseca (dano celular): célula em sofrimento ➜ dano MP ➜ entra Ca2+ = permeabilidade ➜ sai citocromo C ➜ se liga ao sítio de ligação do APAF1 ➜ libera domínios CARD que se juntam➜ apoptossomo➜ apoptossomo + pró-caspase➜ caspase ativa ➜ processo de apoptose. Citocromo C: molécula pró-apoptótica; Via Extrínseca (célula infectada ou neoplásica): célula ➜ possui receptor FAS na sua membrana ➜ infecção da célula ➜ interação do receptor FAS com FAS LIGANTE ➜ interação FAS-FAS LIGANTE gera a ativação das caspases (enzimas - perforina que "perfura" a célula e granzima que entra para realizar a apoptose) pela célula NK ou TCD8+ ➜ as caspases degradam o DNA e proteínas ➜ processo de formação de corpos apoptóticos ➜ chama macrófago e neutrófilo para fagocitar. Família BCL (BCL-2 e BCL-X): molécula anti apoptótica. b) Autofagia: TAREFA: A autofagia é o processo pelo qual a célula digere seu próprio conteúdo: envolve e entrega seu material citoplasmático para os lisossomos. A forma como esse material é entregue, possibilita a classificação da autofagia em três tipos: a) Autofagia Mediada por Chaperonas: há a translocação direta do material através da membrana lisossomalvia proteína chaperonas; b) Microautofagia: o material é levado para dentro do lisossomo pela formação de uma invaginação; c) Macroautofagia: principal forma, pode ser denominada apenas de autofagia. Há o sequestro e transporte de porções do citoplasma para dentro de um vacúolo autofágico revestido por dupla membrana (autofagossomo). OBS: a autofagia pode funcionar também como um mecanismo de sobrevivência, pois em períodos de privação de nutrientes, a célula sobrevive canibalizando a si mesma. Antes da apoptose, que é a morte da célula, ela pode passar pela autofagia como tentativa de corrigir algum erro para continuar viva. É, por essência, um mecanismo de sobrevivência, ou seja, a autofagia é usado pela célula para tentar sobreviver. Morte celular não programada: necrose. Gera inflamação. Acontece devido à desnaturação proteica e digestão enzimática da célula. Ocorre liberação de enzimas lisossomais para o meio extracelular promovendo inflamação e destruição tecidual. Tipos: ● Coagulativa: conserva a arquitetura básica dos tecidos mortos, ao menos por alguns dias, já que não há proteólise. O tecido afetado exibe textura firme. ● Liquefação: não conserva arquitetura do tecido. Comum em infecções bacterianas. Presença de pus. Digestão do tecido gerando massa viscosa ou líquida. ● Gangrenosa: não tem um padrão específico de morte, ocorre pela não oxigenação celular (gangrena), ou seja, ocorre geralmente em membros que perderam suprimento sanguíneo. ● Caseosa: mais comum em focos de infecção tuberculosa. A área em microscopia exibe coloração de células rompidas ou fragmentadas e restos granulares amorfos encerrados dentro de uma borda inflamatória nítida. Parece leite coalhado. ● Gordurosa: gera "pontinhos" que são pontos de calcificação. Há a morte de células de gordura que libera a gordura retida dentro, que vai interagir com cálcio e outros materiais do meio extra formando esses "pontinhos". ● Fibrinóide: forma especial de necrose que é geralmente observada em reações imunes que envolvem os vasos sanguíneos. Ocorre tipicamente quando complexos antígeno-anticorpo são depositados em paredes de artérias ativando cascata inflamatória. Enquanto a necrose é sempre um processo patológico, a apoptose auxilia muitas funções normais, não estando necessariamente associada a lesões celulares. OBS: em alguns casos, a necrose, assim como a apoptose, também pode ser uma forma de morte celular programada (mas por vias distintas da apoptose). Pela semelhança, esse tipo de necrose é denominada de necroptose.
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