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| A dispepsia é definida como uma dor epigástrica predominante com duração de pelo menos 1 mês. Pode ou não estar associada a outro sintoma do TGI, como plenitude pós-prandial, náuseas, vômitos ou azia. Acomete cerca de 25-30% da população, tendo repercussões na qualidade de vida, na vida financeira e na produtividade. Fatores de risco: • Sexo feminino; • Idade crescente; • Diminuição do grau de urbanização; • Infecção por H. pylori; • Uso de AINES; • Baixo nível educacional; • Ser casado. Obs: álcool e café não estão associados. Tabagismo possui uma associação leve. Classifica-se segundo as principais etiologias. 1. Dispepsia orgânica Suas causas são divididas em quatro grandes grupos de doenças: • Pépticas: doença ulcerosa péptica; doença do refluxo gastroesofágico. • Não pépticas: intolerância alimentar; doenças inflamatórias ou infiltrativas; neoplasia; infecção; síndrome o intestino irritável; • Biliopancreáticas: pancreatite crônica; neoplasia pancreática; cólica biliar. • Sistêmicas: insuficiência coronariana; doenças endócrinas; colagenoses. 2. Dispepsia funcional Deve estar presente um ou mais dos seguintes sintomas nos últimos 3 meses, com inicio deles pelo menos 6 meses antes do diagnóstico: plenitude pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica e azia, que são inexplicáveis após avaliação clínica. Compreende pacientes de duas categorias diagnósticas síndrome do desconforto pós- prandial (PDS) e síndrome da dor epigástrica (EPS). | Esvaziamento gástrico: está atrasado em grande parte dos pacientes. Acomodação gástrica prejudicada: distribuição anormal dos alimentos no estômago, com acumulação antral de quimo e diminuição do conteúdo proximal do reservatório. Hipersensibilidade gástrica e duodenal à distensão, ácidos e outros estímulos intraluminais; Infecção por H. pylori: tanto a secreção ácida quanto o estado hormonal pode ser afetado até certo ponto com o H. pylori. Inflamação duodenal de baixo grau, permeabilidade mucosa e antígenos alimentares: a barreira mucosa serve como a primeira linha de defesa contra patógenos e substâncias nocivas no lúmen. Exposições ambientais: infecções agudas podem desencadear sintomas gastrointestinais superiores em 10% 20% dos indivíduos infectados. Fatores psicossociais: provavelmente existe uma relação bidirecional entre o intestino e a psique porque os pacientes com distúrbios gastrointestinais são mais propensos a desenvolver problemas psicológicos e vice-versa. Pesquisar se há presença de pirose (queimação em região retroesternal) e/ou regurgitação = características da DRGE. Se o paciente não apresentar esses dois sintomas, pesquisar os demais sintomas que podem estar associados à dispepsia: azia (dor em queimação na região epigástrica), náuseas e vômitos, disfagia (dificuldade de engolir), odinofagia (deglutição com dor), etc. O exame físico geralmente é normal. Investigação laboratorial: O objetivo é de investigar a presença de sinais de alarme como ferropenia, distúrbios metabólicos, diabetes, hipercalcemia. Além de possibilitar pesquisar doença celíaca associada. • Hemograma; bioquímica; função renal; perfil hepático; amilase e lipase. Dispepsia secundária: pacientes com uma causa orgânica, sistêmica ou metabólica, identificada por procedimento diagnósticos. Os sintomas se resolvem quando a causa base e tratada. Quando nenhuma explicação para os sintomas é identificada, o paciente pode ser classificado como dispepsia funcional. | Ultrassonografia de abdome: Pode ser solicitada para investigação em pacientes que apresentem icterícia – possibilita investigação de possíveis acometimentos em vias biliares – ou em quadros com dor abdominal atípica. Endoscopia digestiva alta: Paciente > 40 anos: • Todo paciente acima de 40 anos já tem indicação para realizar a EDA. • Define se o paciente tem ou não alguma doença orgânica. • Se tiver, vamos tratá-la. Se não tiver, aí nós devemos realizar testes para avaliar se ele tem H. pylori. o Se H. pylori positivo: tratar. o Se H. pylori negativo = dispepsia funcional: prescrever medicamentos que atuem reduzindo a acidez do estômago, como os inibidores de bomba de prótons (IBPs). Paciente < 40 anos: • A EDA deve ser realizada na presença de sinais de alarme. Se esses sinais estiverem ausentes, o caso pode se enquadrar como dispepsia não investigada. O tratamento segue duas opções principais: • Tratamento empírico com IBPs por 4 a 6 semanas (ou 4 a 8 semanas); • Testar e tratar H. pylori. Tratamento com antissecretores: reduzir a acidez gástrica. • IBPs (Omeprazol, Pantoprazol, Lansoprazol. etc): primeira escolha. o Atuam se ligando à bomba H+/K+ ATPase (bomba de prótons) da célula parietal e, daí, impedem o seu funcionamento. Interrompem a última etapa para produção de HCl, que é a liberação de íons H+ no lúmen da glândula. o Efeitos adversos: demência (por inibição da secreção de fator intrínseco com consequente queda de B12; preocupar se terapia > 2 anos); absorção incompleta do carbonato de cálcio; redução da eficácia do Clopidogrel. Dispepsia não investigada é diferente de funcional! Aqui o paciente não vai ser submetido a exames que comprovem alterações orgânicas. Já na funcional ele faz todos os exames, só que nada é encontrado. Em caso de impossibilidade de realização do teste para a presença de H. pylori, pode-se também optar por tratá-la empiricamente. Se dentro de 1 ano o paciente voltar com queixa de que os sintomas não melhoraram ou que retornaram, tentaremos aplicar a outra opção de tratamento (IBPs) e vice-versa. Contudo, se ele, mais uma vez, voltar para a gente, ainda dentro desse intervalo de 1 ano, dizendo que não melhorou ou que os sintomas voltaram, aí vamos indicar logo a realização de uma EDA. IBP, se falhar → dobra a dose, se falhar → tratamento de H.pylori, se falhar → antidepressivo, psicoterapia → medicamentos experimentais (triptanos, buspirona). | • Bloqueadores de H2 (Cimetidina, Nizatidina, Ranitidina, Famotidina): bloqueiamos receptores H2, de modo que eles não recebem o estímulo da histamina, que atua na promoção da secreção de ácido clorídrico. o Efeitos adversos: cefaleia, tonturas, diarreia, dores musculares, confusão e alucinação. • Antiácidos (Hidróxido de Alumínio, Hidróxido de Magnésio e Bicarbonato de Sódio): reagem com o ácido clorídrico do estômago e o neutralizam. o Efeitos adversos: constipação (principalmente h. de alumínio); diarreia (principalmente h. de magnésio); comprometimento renal. Antibióticos: Alternativas: Na falha dessa terapia inicial, segue-se para o retratamento, sendo duas opções: • Amoxicilina: age sobre bactérias, interferindo na última etapa do processo de síntese da sua parede. Age sobre gram positivo e negativo (espectro estendedido). o Efeitos adversos: hipersensibilidade, diarreia, nefrite, toxicidade neurológica e hematológica. • Claritromicina: atua se ligando ao ribossomo bacteriano e, com isso, inibindo algumas etapas da síntese proteica. o Efeitos adversos: desconforto epigástrico, icterícia colestática, ototoxicidade. • Metronidazol e Tinidazol: armazenamento de elétrons, de modo a formar compostos citotóxicos que se ligam às proteínas e ao DNA, levando à morte celular. o Efeitos adversos: náusea, desconforto epigástrico, cólica abdominal, propensão a infecção fúngica na boca. • Tetraciclina: penetram no citoplasma bacteriano e inibem a síntese proteica por impedir a conexão entre o RNAt e o RNAm, o que acaba levando à morte. o Efeitos adversos: desconforto gastrointestinal, deposição de cálcio, hepatotoxicidade,fototoxicidade, problemas vestibulares, • Levofloxacino: e atua entrando no citoplasma bacteriano e inibindo a replicação do DNA. o Efeitos adversos: náusea e diarreia, cefaleia, vertigem e tontura, fototoxicidade. Obs: caso o paciente seja alérgico à Amoxicilina, podemos substituí-la por Levofloxacina. H. pylori: IBP 4 semanas + amoxicilina 2cp 500mg 12h/12h por 14 dias + claritromicina 1cp de 500mg 12h/12h por 12 dias. |
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