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Direito desportivo
Aula 4: Os princípios e as garantias constitucionais
fundamentais e princípios infraconstitucionais do direito
desportivo
Apresentação
Nesta aula, estudaremos os princípios do Direito Desportivo e, principalmente, da Justiça Desportiva. Alguns princípios
são aqueles que, de certa forma, já pertencem a ordenamento jurídico de modo geral; outros, no entanto, são exclusivos
desta disciplina.
Objetivos
Analisar os princípios do Direito Desportivo e da Justiça Desportiva;
Identi�car os princípios constitucionais e infraconstitucionais que afetam o Direito e a Justiça Desportiva.
Premissa
Iremos trabalhar alguns princípios importantes para o
aprofundamento do estudo sobre o Direito Desportivo. Para
isso, a base completa desta aula será o livro Justiça
Desportiva e suas decisões: estudo de casos, de Marcelo
Jucá barros, ano 2017.
Importa dizer que toda a discussão principiológica é fundamental principalmente pelo fato do próprio estudo da Lex Sportiva e
de suas repercussões no Direito brasileiro.
 Fonte: Shutterstock.
Princípios Constitucionais do Direito Desportivo
O que são e quais são os princípios do Direito Desportivo?
Antes de respondermos a essa pergunta, devemos observar que os princípios constitucionais fundamentais são normas
elementares que emanam legitimidade para as outras regras do ordenamento jurídico.
São fundamentais em todo ordenamento jurídico estabelecido a partir de uma lei maior, instada em um patamar acima de
todas as outras. Esse fenômeno, incontestavelmente, ganha vida nas nações onde prevalece a constituição tida como
moderna.
Os princípios fundamentais constituem mandamentos nucleares de um sistema, do qual vertem os fundamentos de toda a
legislação infraconstitucional, que, por sua vez, deve ser interpretada de modo a garantir que tais princípios sejam sempre
prevalentes.
No Brasil, no texto constitucional, entre seus Arts. 1º e 4º, percebem-se diversos princípios que servem para determinar tanto
as relações internas como aquelas de caráter internacional. Dentre esses, destacam-se a Soberania, a Dignidade da Pessoa
Humana, a Divisão de Poderes (separação de funções), o Pluralismo Político, os Valores Sociais do Trabalho e a Iniciativa
Privada etc. Todos esses princípios garantidos na Constituição brasileira, presentes na República Federativa do Brasil, são
essenciais à con�guração do Estado Democrático de Direito, sendo a função precípua da condensação de todos os princípios
ora apresentados a superação das desigualdades sociais, instaurando um regime democrático que realize justiça social.
No Art. 1º da Constituição nacional, estão dispostos os fundamentos do Estado, sendo um deles a cidadania, para a qual o
esporte é fator determinante de seu desenvolvimento.
A prática esportiva inspira respeito ao próximo, construindo
conceitos bem-de�nidos de cidadania, com regras bem-
delimitadas, fatores esses que evidenciam no esporte um
instrumento de potencialização da construção interna de
parâmetros subjetivos dessa cidadania.
 Fonte: Shutterstock.
O Art. 3º da Carta Magna traz os objetivos fundamentais do Estado: 
• a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; 
• a garantia do desenvolvimento nacional; 
• a erradicação da pobreza, marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais; e 
• a promoção do bem de todos.
Assevera-se, pois, e de modo invariável, que o esporte é uma grande ferramenta para a consecução desses objetivos
fundamentais.
Deve-se fazer uma autêntica leitura do comando constitucional em
tela associada à premissa de que o esporte, de fato, é um meio de
transformação na vida das pessoas.
É certo que atividades esportivas estão no âmbito das questões apontadas pelos Arts. 1º e 3º da Constituição, na forma da
prática pelo indivíduo e, até mesmo, pelos espectadores de modalidades pro�ssionais, estando nisso mais uma justi�cativa
para a a�rmação inicial dessa investigação, sob a qual se argui que o desporto sem normas e sem regras não poderia existir.
A prática do desporto consiste em um direito fundamental de caráter social.
O direito de praticar o esporte versa na a�rmação da dignidade da pessoa, e
os direitos sociais impõem ao Estado a obrigação de condutas positivas,
sendo ele obrigado a fomentar as práticas desportivas.
O Título VIII da Constituição aborda a “Ordem Social”, de forma que o Capítulo III sopese “Da Educação, da Cultura e do
Desporto”.
Inserido nessa ordem, está o Art. 217, que, expressamente, obriga o poder público a incentivar o lazer como forma de
promoção social; “lazer” este, aliás, que já foi citado pelo Art. 6º da Carta, ao ponderar os direitos sociais, no Título II, o qual se
refere aos direitos e às garantias fundamentais.
 Fonte: Shutterstock.
O Estado, portanto, é o catalisador da igualdade e bem-estar, sendo o
esporte um desses instrumentos para se atingir tal objetivo, o que
também o obriga a regulamentar o modo pelo qual esse objetivo
deverá ser alcançado.
Os princípios do Direito Desportivo, que estão sob a égide de um regime jurídico autônomo, composto de um conjunto
sistematizado de princípios e normas, reunidos de maneira coordenada e lógica, formando o que se denomina de “regime
jurídico desportivo”.
Tal regime único e autônomo contém princípios estabelecidos pela Constituição e pela legislação infraconstitucional correlata,
restando con�rmado que o universo dos princípios aplicados ao desporto está cada vez maior, o que, ao revés da intenção do
legislador, pode ser a causa de grande insegurança na prolação das decisões da Justiça Desportiva.
 Princípios 
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Princípios
Princípio da Autonomia Desportiva
Prosseguindo na visão de Schmitt, o Art. 217 da Constituição de 1988 propõe princípios constitucionais aplicados ao
desporto, sendo o primeiro deles a Autonomia Desportiva.
Vale dizer que tal princípio é a base de todo regime jurídico desportivo, signi�cando dizer que a intervenção estatal no
esporte deve ser mínima e que a Carta Constitucional prestigiou esse princípio, pois ele já vinha sendo privilegiado pelo
regime jurídico desportivo internacional em países onde a democracia prevalecia.
Princípio da Destinação Prioritária de Recursos Públicos
Nesse princípio constitucional, o legislador constituinte optou por dar preferência ao desporto educacional no que se
refere a verbas públicas canalizadas para o esporte, sendo o desporto de alto rendimento também agraciado em
determinadas situações. O princípio em análise está estampado nas regras estabelecidas pela Lei Agnelo Piva (Lei nº
10.264/2001), que modi�cou o caput, acrescentando o inciso VI e parágrafos ao Art. 56 da Lei nº 9.615/1998. O inciso
VI dispõe que 2% (dois por cento) da arrecadação bruta das loterias federais constituem recursos necessários ao
fomento das práticas desportivas formais e não formais.
Do total desses recursos, 85% (oitenta e cinco por cento) devem ser destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e
15% (quinze por cento) ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), na forma do § 1º do Art. 56 em pauta.
O parágrafo segundo do mesmo dispositivo prevê que, dos valores totais destinados ao COB e à Confederação
Brasileira de Clubes (CBC), 10% (dez por cento) devem ser disponibilizados ao desporto escolar, pela Confederação
Brasileira do Desporto Escolar (CBDE), e 5% (cinco por cento) ao desporto universitário, em programação conjunta
com a Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU).
Princípio do Tratamento Diferenciado para o Desporto Pro�ssional e Não Pro�ssional
Trata-se de um princípio constitucional cujo objetivo é distinguir a normatização dessas duas espécies, uma vez que
suas realidades são absolutamente distintas. A legislação desportiva faz essa distinção, conforme Decreto nº
7.984/2013, que regulamentou a Lei nº 9.615/1998. Em seu Art. 4º, o desporto de rendimento é classi�cado em dois
tipos, a saber: 
• Pro�ssional – caracterizado pela remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo entre o atletae
a entidade de prática a que ele estiver vinculado; 
• Não pro�ssional – caracterizado de maneira precípua pela liberdade de prática e ausência de contrato especial de
trabalho desportivo.
O Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) – formado pela Resolução CNE nº 29/2009 – contém orientações
que prezam pelo Princípio do Tratamento Diferenciado, como, por exemplo, a inaplicabilidade de penas pecuniárias a
atletas não pro�ssionais (Art. 170, § 2º, do CBJD) e a redução da pena pela metade na hipótese de a infração ser
cometida por atleta não pro�ssional ou por entidade prática desportiva que tenha, exclusivamente, atletas não
pro�ssionais (Art. 182 do CBJD).
Princípio do Esgotamento das Instâncias da Justiça Desportiva
Importa dizer ao aluno que, em conformidade com as aulas anteriores, tal princípio é consoante com a regra
constitucional, sendo vedado o ingresso, no Poder Judiciário, antes do esgotamento das instâncias da Justiça
Desportiva, regulada em lei. A lei a que se refere o texto constitucional é a de nº 9.615/1998, que, em seu Art. 50 e
seguintes, expõe sobre a temática.
O Art. 2º da Lei Pelé elenca 12 princípios; enquanto seu parágrafo único aponta outros, os quais veremos a seguir:
CAPÍTULO II DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
Art. 2º O desporto, como direito individual, tem como base os princípios: 
I - da soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva; 
II - da autonomia, de�nido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática
desportiva; 
III - da democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou
formas de discriminação; 
IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um,
associando-se ou não a entidade do setor; 
V - do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas desportivas formais e não formais; 
VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamento especí�co dado ao desporto pro�ssional e não pro�ssional; 
VII - da identidade nacional, re�etido na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; 
VIII - da educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante, e
fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional; 
IX - da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e
ao desenvolvimento físico e moral; 
X - da descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos
diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual, distrital e municipal; 
XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental
ou sensorial; 
XII - da e�ciência, obtido por meio do estímulo à competência desportiva e administrativa. 
Parágrafo único. A exploração e a gestão do desporto pro�ssional constituem exercício de atividade econômica
sujeitando-se, especi�camente, à observância dos princípios: (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003) 
I - da transparência �nanceira e administrativa; (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003) 
II - da moralidade na gestão desportiva; (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003) 
III - da responsabilidade social de seus dirigentes; (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003) 
IV - do tratamento diferenciado em relação ao desporto não pro�ssional; e (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003) 
V - da participação na organização desportiva do País. (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003). (BRASIL, 1998.)
O CBJD envolve mais 18 princípios a serem observados pelo intérprete na aplicação do Código. São eles:
Art. 2º A interpretação e aplicação deste Código observará os seguintes princípios, sem prejuízo de outros: (Redação
dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). 
I - da ampla defesa; 
II - celeridade; 
III - contraditório; 
IV - economia processual; 
V - impessoalidade; 
VI - independência; 
VII - legalidade; 
VIII - moralidade; 
IX - motivação; 
X - o�cialidade; 
XI - oralidade; 
XII - proporcionalidade; 
XIII - publicidade; 
XIV - razoabilidade; 
XV - devido processo legal; (AC). 
XVI - tipicidade desportiva; (AC). 
XVII - prevalência, continuidade e estabilidade das competições (pro competitione); (AC). 
XVIII - espírito desportivo (fair play). (AC). (BRASIL, 2009)
A Justiça Desportiva não é algo à parte no Direito, estando, por conseguinte, no mesmo contexto jurídico de formação
da legislação nacional; ou seja, é possível notar grande in�uência principiológica em seus regramentos. Nesses
termos, o cuidado exagerado do legislador tem o objetivo de trazer segurança jurídica para as relações jusdesportivas.
Os princípios ora considerados, de modo geral, constituem aqueles já consagrados pelo Estado Democrático de
Direito, exceto o pro competetione e o fairplay, esses acrescentados pelas alterações originadas da Resolução nº
29/2009 do CNE.
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 Atividade
1) Escreva sobre o Princípio da Autonomia Desportiva.
2) Conforme estudado, escreva sobre os quatro princípios constitucionais do Direito Desportivo.
3) Cite e explicite 3 princípios do Art. 2º da Lei Pelé, os Princípios Fundamentais do Desporto.
4) Em relação ao que estudamos na Aula 3, sobre a Lex Sportiva, qual a razão de os princípios elencados ao Direito Desportivo
possuírem in�uência principiológica do regramento nacional?
5) Relacione a Lex Sportiva com o mundo globalizado e os princípios do Direito Desportivo.
6) Os princípios ora considerados, de modo geral, constituem aqueles já consagrados pelo Estado Democrático de Direito,
exceto dois princípios. Quais são eles?
Referências
BARROS, Marcelo Jucá. Justiça Desportiva e suas decisões: estudo de casos. São Paulo: QuartierLatin, 2017.
______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 4 jul. 2019.
______. Decreto nº 7.984, de BRASIL. Resolução CNE nº 29/2009. Altera os dispositivos do Código Brasileiro de Justiça
Desportiva (CBJD). Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=111797. Acesso em: 4 jul. 2019.
______. Lei nº 9.615, de 24 de março de 2008. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm. Acesso em: 4 jul. 2019.
______. Lei nº 10.264, de 16 de julho de 2001.
Acrescenta inciso e parágrafos ao art. 56 da Lei no 9.615, de 24 de março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10264.htm. Acesso em: 4 jul. 2019.
CALIXTO, Vinícius. Lex Sportiva e Direitos Humanos: entrelaçamentos transconstitucionais e aprendizados recíprocos. Belo
Horizonte: D Plácido, 2017, p. 53.
NAFZIGER, James. The future of International Sports Law. Willamette Law Review. V. 42, p. 861-876, 2006, p. 862.
NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 197.
Próxima aula
A Justiça Desportiva não pertencente ao poder judiciário e prevista no texto da Carta Constitucional de 1988;
As regras contidas na Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé) e no Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), juntamente com o
Art. 217 da Constituição Federal (CFRB/1988);
A repercussão dos princípios perante os destinatários da norma (a quem a norma desportiva é direcionada).
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Princípios de direito desportivo.
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