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DIREITO DESPORTIVO Ficha Catalográfica DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Direito Desportivo São Paulo 2021 FICHA TÉCNICA Titulação e Nome Completo do Professor@ Presidência da Mantenedora Titulação e Nome Completo do Professor@ Vice-presidência Executiva Titulação e Nome Completo do Professor@ Reitoria Titulação e Nome Completo do Professor@ CEO Titulação e Nome Completo do Professor@ Diretoria de EaD Titulação e Nome Completo do Professor@ Coordenador@ Pedagógico Titulação e Nome Completo do Professor@ Coordenador@ de Área Titulação e Nome Completo do Professor@ Revisor de Conteúdo Rogério Batista Furtado Supervisor de Conteúdo Giovanna Messias Aléo Web Designer Profa. Ma. Natália Bertolo Bonfim Autoria Todo material didático disponibilizado, por meio físico ou digital, ao longo e para consecução de seu Curso, não poderá ser reproduzido, parcial ou integralmente, sob pena de ser responsabilizado civil e criminalmente, nos termos da Lei 9.610/98, por violação de propriedade intelectual, pois que todo e qualquer material é de propriedade da UNIVERSIDADE BRASIL e deverá ser utilizado exclusivamente em âmbito privado pel@ ALUN@. APRESENTAÇÃO Car@ Alun@, Como você já sabe, o esporte é um negócio milionário, que atrai investimentos em nível nacional e internacional. Nesta unidade, estudaremos como o esporte começou a ser tratado como uma atividade econômica, dando origem ao Direito Desportivo Empresarial, ramo do Direito voltado a estudar as normas jurídicas que regem as entidades de prática desportiva, os empresários e os negócios relacionados ao desporto. Você também aprenderá como os clubes esportivos se estruturam e conhecerá a figura dos agentes desportivos, tão conhecida no mundo dos esportes. Bons estudos! NATÁLIA BERTOLO BONFIM DIREITO DESPORTIVO DIREITO DESPORTIVO EMPRESARIAL 1. MERCADO ESPORTIVO 7 2. PRINCÍPIOS DO DESPORTO COMO ATIVIDADE ECONÔMICA 8 TRANSPARÊNCIA FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA 9 MORALIDADE NA GESTÃO DESPORTIVA 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL DE SEUS DIRIGENTES 9 TRATAMENTO DIFERENCIADO EM RELAÇÃO AO DESPORTO NÃO PROFISSIONAL 9 PARTICIPAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO DESPORTIVA DO PAÍS 10 3. CLUBES ESPORTIVOS 10 O CLUBE-EMPRESA 11 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 14 RESPONSABILIZAÇÃO DOS DIRIGENTES DESPORTIVOS 15 PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DE GESTÃO E DE RESPONSABILIDADE FISCAL DO FUTEBOL BRASILEIRO (PROFUT) 20 4. AGENTES DESPORTIVOS 21 EFERÊNCIAS 24 7 6 AULA 7 DIREITO DESPORTIVO EMPRESARIAL Objetivo 1. Aprender os princípios do desporto como atividade econômica. Objetivo 2. Compreender a estrutura dos clubes esportivos. Objetivo 3. Conhecer a figura dos agentes desportivos. 7 1. MERCADO ESPORTIVO Com a globalização, o esporte passou a ser visto como uma atividade extremamente lucrativa, sendo objeto de grande interesse do capital nacional e internacional. Assim, os clubes esportivos perceberam que deveriam se modernizar, e sua primeira estratégia foi valorizar e efetivar o “marketing esportivo”, o que ressalta a tendência da “empresarialização” do esporte (ROSIGNOLI; RODRIGUES, 2017, p. 110). A modernização do desporto no Brasil teve início, primeiramente, com o futebol, e depois com as demais modalidades esportivas, com a edição da Lei Zico, em 1993 (Lei nº 8.672, de 6 de julho de 1993). Esta lei teve como objetivo democratizar as relações entre dirigentes e atletas, criando condições para a profissionalização das diversas modalidades esportivas e atribuindo aos clubes a oportunidade de se tornarem empresas (KRIEGER apud ROSIGNOLI; RODRIGUES, 2017, p. 110). Em 1998, a Lei Zico foi revogada pela Lei Pelé, que disciplinou amplamente o desporto, trazendo maior liberdade econômica aos negócios esportivos. Hoje, sabe-se que o mercado esportivo movimenta bilhões por ano ao redor do mundo. Em 2018, por exemplo, o mercado do futebol na Europa atingiu a marca de 25 bilhões de euros e, segundo o Banco Mundial, o PIB de muitos países, como Camarões e Paraguai, estaria abaixo deste valor (JORNAL DO COMÉRCIO). A liga profissional de basquete americano, a NBA, lucra R$ 8 bilhões por ano, o que equivale ao faturamento anual no Brasil 8 de uma gigante de telecomunicações como a Claro (ESTADO DE MINAS). Deste modo, é incontestável que o esporte é um negócio muito lucrativo e que atrai investimentos em nível nacional e internacional. 2. PRINCÍPIOS DO DESPORTO COMO ATIVIDADE ECONÔMICA Como já estudamos, o art. 2º da Lei Pelé trouxe os princípios fundamentais do direito desportivo. O parágrafo único deste artigo dispõe que “a exploração e a gestão do desporto profissional constituem exercício de atividade econômica sujeitando-se, especificamente, à observância dos princípios: I — da transparência financeira e administrativa; II — da moralidade na gestão desportiva; III — da responsabilidade social de seus dirigentes; IV — do tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional; e V — da participação na organização desportiva do País”. Tendo em vista que o desporto começou a ser tratado como uma atividade econômica, surgiu o Direito Desportivo Empresarial, ramo do Direito voltado a estudar as normas jurídicas que regem as entidades de prática desportiva, os empresários e os negócios relacionados ao desporto. 9 A seguir, iremos analisar os princípios próprios do desporto enquanto atividade econômica, previstos no artigo supracitado. TRANSPARÊNCIA FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA Este princípio visa assegurar a transparência financeira e administrativa das entidades de prática desportiva e das entidades de administração do desporto, tornando sua atividade e dados públicos e acessíveis à sociedade. MORALIDADE NA GESTÃO DESPORTIVA A moralidade implica que os gestores das entidades de prática desportiva e das entidades de administração do desporto devem atuar de acordo com princípios éticos. RESPONSABILIDADE SOCIAL DE SEUS DIRIGENTES A responsabilidade social significa que os dirigentes das entidades de prática desportiva e das entidades de administração do desporto devem contribuir voluntariamente para a sociedade à qual pertence. TRATAMENTO DIFERENCIADO EM RELAÇÃO AO DESPORTO NÃO PROFISSIONAL Em se tratando da exploração e gestão do desporto como atividade econômica, também deverá ser observado o tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional, principalmente quando se tem em vista que a Lei Pelé dedica grande parte de suas regras ao desporto profissional, que gera maiores rendimentos financeiros. 10 PARTICIPAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO DESPORTIVA DO PAÍS Este princípio impõe que as entidades de prática desportiva, as entidades de administração do desporto, seus dirigentes e atletas, dentre outros, participem ativamente da organização desportiva do país. De acordo com o art. 4º, §2º da Lei Pelé, “a organização desportiva do País, fundada na liberdade de associação, integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada de elevado interesse social, inclusive para os fins do disposto nos incisos I e III do art. 5º da Lei Complementar no 75, de 20 de maio de 1993”. 3. CLUBES ESPORTIVOS No Brasil, desde sua existência, os clubes esportivos adotaram o modelo associativo. Segundo o art. 53 e parágrafo único do Código Civil, constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos, não havendo, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Lembre-se que o art. 981 do Código Civil estabelece que “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ouserviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Assim, por congregar pessoas que buscavam apenas divulgar a prática desportiva, sem objetivos econômicos, os 11 clubes optaram pelo modelo associativo, em detrimento do modelo empresarial. O CLUBE-EMPRESA Com a evolução do desporto, adquirindo caráter econômico, houve a necessidade de alteração da legislação para acompanhar o desenvolvimento do esporte profissional. Em razão da importância econômica atribuída ao esporte e em atenção ao princípio da autonomia das entidades desportivas, dirigentes e associações, quanto à sua organização e funcionamento (art. 217, inc. I, CF), a Lei Zico previu a possibilidade dos clubes se organizarem como sociedades empresárias, com finalidade lucrativa, nos termos de seu art. 11: Art. 11. É facultado às entidades de prática e às entidades federais de administração de modalidade profissional, manter a gestão de suas atividades sob a responsabilidade de sociedade com fins lucrativos, desde que adotada uma das seguintes formas: I — transformar-se em sociedade comercial com finalidade desportiva; II — constituir sociedade comercial com finalidade desportiva, controlando a maioria de seu capital com direito a voto; III — contratar sociedade comercial para gerir suas atividades desportivas. Parágrafo único. As entidades a que se refere este artigo não poderão utilizar seus bens patrimoniais, desportivos ou sociais para integralizar sua parcela de capital ou oferecê-los como garantia, salvo com a concordância da maioria absoluta na 12 assembleia geral dos associados e na conformidade dos respectivos estatutos. A partir deste momento, surgia no Brasil o clube-empresa. Em 1998, a Lei Zico foi revogada pela Lei Pelé, que obrigou que as entidades desportivas tivessem fins econômicos, nos termos do art. 27 (redação original): Art. 27. As atividades relacionadas a competições de atletas profissionais são privativas de: I — sociedades civis de fins econômicos; II — sociedades comerciais admitidas na legislação em vigor; III — entidades de prática desportiva que constituírem sociedade comercial para administração das atividades de que trata este artigo. Parágrafo único. As entidades de que tratam os incisos I, II e III que infringirem qualquer dispositivo desta Lei terão suas atividades suspensas, enquanto perdurar a violação. Entretanto, este dispositivo previsto na Lei Pelé sofreu duras críticas, pois ao obrigar às entidades de prática desportiva que adotassem a forma empresarial, o Estado estaria intervindo em sua organização e funcionamento, o que seria inconstitucional. Em 2000, a Lei Pelé foi alterada pela Lei nº 9.981/2000, suprimindo a obrigação prevista no art. 27, para facultar às entidades de prática desportiva profissionais: I — transformar-se em sociedade civil de fins econômicos; II — transformar-se em sociedade comercial; III — constituir ou contratar sociedade comercial para administrar suas atividades profissionais. 13 Em 2003, novamente, a Lei Pelé foi alterada pela Lei nº 10.672/2003, passando o art. 27 a ter nova redação e contar com vários parágrafos, alguns ainda em vigor. O §9º do art. 27 estabelece que “é facultado às entidades desportivas profissionais constituírem-se regularmente em sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — Código Civil”. Todavia, esta faculdade era mitigada pelo §11, que dispunha que “apenas as entidades desportivas profissionais que se constituírem regularmente em sociedade empresária na forma do § 9º não ficam sujeitas ao regime da sociedade em comum e, em especial, ao disposto no art. 990 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — Código Civil”. Logo, esta era uma faculdade “disfarçada”, pois, quem não adotasse a forma empresarial, estaria sujeito às normas da sociedade em comum, ficando seus sócios responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, nos termos do art. 990 do CC. Em 2011, enfim, chegou-se ao consenso de que obrigar os clubes a adotarem a forma empresarial não era o melhor caminho, e a Lei nº12.395/2011 alterou a redação do §11 do art. 27, dispondo que: “os administradores de entidades desportivas profissionais respondem solidária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de gestão temerária ou contrários ao previsto no contrato social ou estatuto, nos termos da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — Código Civil”. O §13 do art. 27 também foi alterado, passando a dispor que “para os fins de fiscalização e controle do disposto nesta Lei, as atividades profissionais das entidades de que trata o caput deste 14 artigo, independentemente da forma jurídica sob a qual estejam constituídas, equiparam-se às das sociedades empresárias”. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS Após várias alterações legislativas, e como há pouco mencionamos, o §9 do art. 27 estabeleceu que “é facultado às entidades desportivas profissionais constituírem-se regularmente em sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — Código Civil”. Deste modo, a partir de 2003, as entidades desportivas profissionais (ou seja, as entidades de prática desportiva envolvidas em competições de atletas profissionais, as ligas em que se organizarem e as entidades de administração de desporto profissional, nos termos do §10 do art. 27) passaram a poder se organizar na forma de sociedade empresária, reunindo esforços para a geração de lucros. O Decreto nº 7.984/2013, que regulamentou a Lei Pelé, também estabelece, em seu art. 42, a mesma faculdade às entidades desportivas profissionais: “Art. 42. É facultado às entidades desportivas profissionais, inclusive às de prática de futebol profissional, constituírem-se como sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados pelos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — Código Civil”. Em suma, hoje, as entidades desportivas profissionais podem adotar um dos tipos empresariais previstos no Código Civil: sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044), sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051), sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087), sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089) e a sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092). 15 RESPONSABILIZAÇÃO DOS DIRIGENTES DESPORTIVOS Quando alterou a Lei Pelé, a Lei nº 10.672/2003 deu nova redação ao caput do art. 27, tratando sobre a responsabilidade dos dirigentes dos clubes e das entidades de administração do desporto: Art. 27. As entidades de prática desportiva participantes de competições profissionais e as entidades de administração de desporto ou ligas em que se organizarem, independentemente da forma jurídica adotada, sujeitam os bens particulares de seus dirigentes ao disposto no art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas no caput do art. 1.017 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade desportiva em proveito próprio ou de terceiros. Os arts. 50 e 1.017 do Código Civil assim dispõem: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. Art. 1.017. O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais emproveito próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá. 16 Parágrafo único. Fica sujeito às sanções o administrador que, tendo em qualquer operação interesse contrário ao da sociedade, tome parte na correspondente deliberação. Neste contexto, aplica-se o instituto da desconsideração da personalidade jurídica aos dirigentes quando se verificar o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial ou quando aplicarem créditos ou bens sociais das mesmas em proveito próprio ou de terceiros. Em 2011, a Lei nº 12.395 modernizou alguns dos dispositivos da Lei Pelé, notadamente, o §11 do art. 27, que passou a prever que “os administradores de entidades desportivas profissionais respondem solidária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de gestão temerária ou contrários ao previsto no contrato social ou estatuto, nos termos da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — Código Civil”. Este dispositivo legal passou a utilizar o termo “gestão temerária”, previsto no parágrafo único do art. 4º da Lei nº 7.492/86, que trata dos crimes contra o sistema financeiro nacional. O art. 25 da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte — LRFE (Lei n 13.155/2015) — estabelece quais são os atos de gestão temerária: Art. 25. Consideram-se atos de gestão irregular ou temerária praticados pelo dirigente aqueles que revelem desvio de finalidade na direção da entidade ou que gerem risco excessivo e irresponsável para seu patrimônio, tais como: I — aplicar créditos ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros; 17 II — obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte ou possa resultar prejuízo para a entidade desportiva profissional; III — celebrar contrato com empresa da qual o dirigente, seu cônjuge ou companheiro, ou parentes, em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, sejam sócios ou administradores, exceto no caso de contratos de patrocínio ou doação em benefício da entidade desportiva; IV — receber qualquer pagamento, doação ou outra forma de repasse de recursos oriundos de terceiros que, no prazo de até um ano, antes ou depois do repasse, tenham celebrado contrato com a entidade desportiva profissional; V — antecipar ou comprometer receitas referentes a períodos posteriores ao término da gestão ou do mandato, salvo: a) o percentual de até 30% (trinta por cento) das receitas referentes ao primeiro ano do mandato subsequente; ou b) em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível de endividamento; VI — formar défice ou prejuízo anual acima de 20% (vinte por cento) da receita bruta apurada no ano anterior; VII — atuar com inércia administrativa na tomada de providências que assegurem a diminuição dos défices fiscal e trabalhista determinados no art. 4º desta Lei; e VIII — não divulgar de forma transparente informações de gestão aos associados e torcedores. De acordo com o §2º, para os fins do disposto no inciso IV do caput deste artigo, também será considerado ato de gestão 18 irregular ou temerária o recebimento de qualquer pagamento, doação ou outra forma de repasse de recursos por: I — cônjuge ou companheiro do dirigente; II — parentes do dirigente, em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau; e III — empresa ou sociedade civil da qual o dirigente, seu cônjuge ou companheiro ou parentes, em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, sejam sócios ou administradores. E o §3º ressalva quais são os atos que não são considerados como de gestão temerária: § 3º Para os fins do disposto no inciso VI do caput deste artigo, não serão considerados atos de gestão irregular ou temerária o aumento de endividamento decorrente de despesas relativas ao planejamento e à execução de obras de infraestrutura, tais como estádios e centros de treinamento, bem como a aquisição de terceiros dos direitos que envolvam a propriedade plena de estádios e centros de treinamento: I — desde que haja previsão e comprovação de elevação de receitas capazes de arcar com o custo do investimento; e II — desde que estruturados na forma de financiamento- projeto, por meio de sociedade de propósito específico, constituindo um investimento de capital economicamente separável das contas da entidade. A teor do §1º deste dispositivo legal, o dirigente não será responsabilizado se (i) não tiver agido com culpa grave ou dolo; e (ii) comprovar que agiu de boa-fé e que as medidas realizadas visavam a evitar prejuízo maior à entidade. 19 O subsequente art. 26 estabelece que “os dirigentes que praticarem atos de gestão irregular ou temerária poderão ser responsabilizados por meio de mecanismos de controle social internos da entidade, sem prejuízo da adoção das providências necessárias à apuração das eventuais responsabilidades civil e penal”. Para tanto, na ausência de disposição específica, caberá à assembleia geral da entidade deliberar sobre a instauração de procedimentos de apuração de responsabilidade (art. 26, §1º). De acordo com o §2º do art. 26, a assembleia geral poderá ser convocada por 15% (quinze por cento) dos associados com direito a voto para deliberar sobre a instauração de procedimento de apuração de responsabilidade dos dirigentes, caso, após três meses da ciência do ato tido como de gestão irregular ou temerária: I — não tenha sido instaurado o referido procedimento; ou II — não tenha sido convocada assembleia geral para deliberar sobre os procedimentos internos de apuração da responsabilidade. Se constatada a responsabilidade, o dirigente será considerado inelegível por dez anos para cargos eletivos em qualquer entidade desportiva profissional (§3º). Por fim, o art. 27 dispõe que compete à entidade desportiva profissional, mediante prévia deliberação da assembleia geral, adotar medida judicial cabível contra os dirigentes para ressarcimento dos prejuízos causados ao seu patrimônio. Os dirigentes contra os quais deva ser proposta medida judicial ficarão impedidos e deverão ser substituídos na mesma assembleia (§1º). O impedimento será suspenso caso a medida 20 judicial não tenha sido proposta após três meses da deliberação da assembleia geral (§2º). PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DE GESTÃO E DE RESPONSABILIDADE FISCAL DO FUTEBOL BRASILEIRO (PROFUT) O PROFUT foi criado pela Lei nº 13.155/2015, com o objetivo de promover a gestão transparente e democrática e o equilíbrio financeiro das entidades desportivas profissionais de futebol (§2º). Na prática, o PROFUT visa melhorar a gestão financeira dos clubes brasileiros, auxiliando-os a quitar suas dívidas com a União. A adesão ao PROFUT se dá com o requerimento das entidades desportivas profissionais de futebol do parcelamento especial de débitos com a União (art. 3º). Segundo o parágrafo único do art. 3º, para aderir ao PROFUT, as entidades desportivas profissionais de futebol deverão apresentar os seguintes documentos: I — estatuto social ou contrato social e atos de designação e responsabilidade de seus gestores; II — demonstrações financeiras e contábeis, nos termos da legislação aplicável; e III — relação das operações de antecipação de receitas realizadas, assinada pelos dirigentes e pelo conselho fiscal. Aderindo ao programa, as entidades desportivas profissionais de futebol poderão parcelar os débitos na Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e no Banco Central 21 do Brasil, e os débitos previstos na Subseção II, no Ministério do Trabalho e Emprego (art. 6º). A dívida objeto do parcelamento deverá ser paga em até 240 parcelas, com redução de 70% das multas,40% dos juros e 100% dos encargos legais (art. 7º). As dívidas relativas ao FGTS e às contribuições instituídas pela Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001, poderão ser parceladas em até 180 prestações mensais, não se aplicando as reduções previstas no artigo anterior (art. 12). O descumprimento dos requisitos legais, a falta de pagamento de 3 parcelas ou a falta de pagamento de até duas prestações, se extintas todas as demais ou vencida a última prestação do parcelamento, causarão a rescisão do parcelamento. 4. AGENTES DESPORTIVOS Os agentes esportivos, chamados de “empresários” de atletas, são profissionais independentes que atuam intermediando as negociações entre clubes e atletas (ROSIGNOLI; RODRIGUES, 2017, p.129). O art. 27-C da Lei Pelé prevê a figura do “agente desportivo”, estabelecendo que são nulos de pleno direito os contratos firmados pelo atleta ou por seu representante legal com agente desportivo, pessoa física ou jurídica, bem como as cláusulas contratuais ou de instrumentos procuratórios que: I — resultem vínculo desportivo; II — impliquem vinculação ou exigência de receita total ou parcial exclusiva da entidade de prática desportiva, decorrente 22 de transferência nacional ou internacional de atleta, em vista da exclusividade de que trata o inciso I do art. 28; III — restrinjam a liberdade de trabalho desportivo; IV — estabeleçam obrigações consideradas abusivas ou desproporcionais; V — infrinjam os princípios da boa-fé objetiva ou do fim social do contrato; ou VI — versem sobre o gerenciamento de carreira de atleta em formação com idade inferior a 18 (dezoito) anos. No âmbito do futebol, os empresários eram chamados de “agentes FIFA”, mas esta figura deixou de existir em 2015, vindo aquela entidade a conferir às entidades nacionais o seu licenciamento. 23 SAIBA MAIS Leia a matéria Footurismo #11 — A indústria do esporte. Disponível em: https://footure.com.br/footurismo-11-a-industria-do-esporte/ Leia a reportagem Comum na Europa, modelo de clube-empresa pode ser espelho para o Brasil. Disponível em: https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/futebol- nacional/2021/01/14/noticia_futebol_nacional,3885726/comum-na- europa-modelo-de-clube-empresa-pode-ser-espelho-para-o- brasil.shtml Leia a matéria de Rodrigo Lois, Principais agentes de futebol ameaçam ir à Justiça contra a Fifa por limite em comissões. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol- internacional/noticia/principais-agentes-de-futebol-ameacam-ir-a- justica-contra-a-fifa-por-limite-em-comissoes.ghtml https://footure.com.br/footurismo-11-a-industria-do-esporte/ https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/futebol-nacional/2021/01/14/noticia_futebol_nacional,3885726/comum-na-europa-modelo-de-clube-empresa-pode-ser-espelho-para-o-brasil.shtml https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/futebol-nacional/2021/01/14/noticia_futebol_nacional,3885726/comum-na-europa-modelo-de-clube-empresa-pode-ser-espelho-para-o-brasil.shtml https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/futebol-nacional/2021/01/14/noticia_futebol_nacional,3885726/comum-na-europa-modelo-de-clube-empresa-pode-ser-espelho-para-o-brasil.shtml https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/futebol-nacional/2021/01/14/noticia_futebol_nacional,3885726/comum-na-europa-modelo-de-clube-empresa-pode-ser-espelho-para-o-brasil.shtml https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/principais-agentes-de-futebol-ameacam-ir-a-justica-contra-a-fifa-por-limite-em-comissoes.ghtml https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/principais-agentes-de-futebol-ameacam-ir-a-justica-contra-a-fifa-por-limite-em-comissoes.ghtml https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/principais-agentes-de-futebol-ameacam-ir-a-justica-contra-a-fifa-por-limite-em-comissoes.ghtml 24 EFERÊNCIAS BELMONTE, Alexandre Agra et al. 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Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/esportes/2018/06/631581-receita- do-futebol-supera-r-100-bilhoes-e-esporte-ja-e-maior-que-pib-de-90-paises.html Acesso em: 04/2021. MACHADO. Rubens Approbato et al. Curso de Direito Desportivo Sistêmico. v. 2. São Paulo: Quartier Latin, 2010. MARTINS, Sérgio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. São Paulo: Atlas, 2011. MELO FILHO, Álvaro et al. Direito do Trabalho Desportivo. Atualizado com a Nova Lei Pelé. São Paulo, Quartier Latin, 2012. MELO FILHO, Álvaro. Nova Lei Pelé – Avanços e Impactos. Rio de Janeiro: Ed. Maquinária, 2011. OLIVEIRA, Leonardo Andreotti P. de et al. Direito do Trabalho e Desporto. São Paulo: Quartier Latin, 2014. ROSIGNOLI, Mariana; RODRIGUES, Sérgio Santos. Manual de direito desportivo. São Paulo: LTr, 2017. SOUZA, Gustavo Lopes Pires de et al. Direito Desportivo. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2014. VEIGA, Maurício de Figueiredo Correa. 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