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TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS

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DESCRIÇÃO
A conceituação dos transtornos psicológicos mais comuns e suas implicações à saúde mental
na sociedade contemporânea.
PROPÓSITO
O entendimento dos transtornos psicológicos, a sua aplicação em estudos de casos, a
relevância da prevenção e a promoção do cuidado à saúde mental são conceitos básicos que
devem ser compreendidos pelos profissionais da área da saúde.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir o estresse e suas implicações na saúde
MÓDULO 2
Descrever as fobias e o transtorno de ansiedade generalizada
MÓDULO 3
Descrever a síndrome do pânico
MÓDULO 4
Identificar o transtorno obsessivo-compulsivo — TOC
INTRODUÇÃO
Neste material vamos abordar os transtornos psicológicos mais recorrentes e que representam
um impacto significativo na saúde mental. Em muitos casos, os efeitos da doença
comprometem a funcionalidade do indivíduo, impedindo-o de realizar as atividades diárias e
fazendo-o perder qualidade de vida.
Inicialmente, vamos definir estresse e suas implicações na saúde. Outros conteúdos
importantes como as fobias e o transtorno de ansiedade generalizada serão abordados
posteriormente. Em seguida, estudaremos a síndrome do pânico e, por fim, o transtorno
obsessivo-compulsivo que, dependendo da intensidade dos sintomas, pode paralisar a vida de
uma pessoa.
A apresentação dessas patologias tem como objetivo estimular reflexões relacionadas à
prevenção e à promoção da saúde mental, temas importantíssimos para a formação do
profissional da saúde.
MÓDULO 1
 Definir o estresse e suas implicações na saúde
O QUE É ESTRESSE?
A palavra “estresse” tem sido muito utilizada pelo senso comum como forma de encerrar uma
conversa desagradável ou mesmo para classificar uma pessoa. Seria mais ou menos assim:
“Você está muita estressada! Falamos depois!” ou “Nossa, você é muito estressado.”
Mas o que é estar estressado?
Vamos iniciar pela conceituação. Hoje existem muitas controvérsias relacionadas ao conceito
de estresse, mas para nossos estudos, seguimos com estes olhares.
Estresse é uma reação natural do corpo diante de situações de perigo ou uma reação que nos
tire de contextos a que inicialmente estávamos habituados (BRASIL, 2015). O corpo emite
sinais de alerta em caso de estresse: dores musculares, insônia, irritabilidade, entre outros
sintomas. Eles nos avisam da necessidade de buscar novas ferramentas que permitam ao
nosso corpo retornar ao seu estado de equilíbrio ou adaptar-se a novas situações.
O estresse pode ser:
Agudo
Quando vivenciado a partir de situações inesperadas.
Crônico
Relacionado ao cotidiano.
Neste último, muitas vezes a pessoa já incorporou esse estado como parte de sua
subjetividade, o que se torna ainda mais perigoso para a sua saúde.
O pesquisador Hans Selye, buscando compreender o estresse e suas ações em nosso corpo,
criou um Modelo Trifásico, que divide as respostas ao estresse em três fases, conhecidas
como:
ESTADO DE ALERTA
O corpo se prepara para lidar com os estímulos estressores, cujo objetivo é a autopreservação.
Os estímulos estressores não são necessariamente ruins e podem levar o sujeito à ação. O
resultado da situação depende de como o sujeito lida com esses estímulos. Porém, se os
gatilhos permanecem por muito mais tempo, avançamos para a fase seguinte.

RESISTÊNCIA
A energia gasta para manter a homeostase do corpo é sentida, chegando ao cansaço físico e
mental. Dessa forma, caso o indivíduo não escute os sinais de seu corpo, seguirá para a
próxima fase.

EXAUSTÃO
Nesta fase, o corpo tende a paralisar em razão de doenças mais sérias.
Diversos pesquisadores, incluindo o próprio Syele, ampliaram seu olhar sobre o tema estresse
— antes puramente biológico. Levando em consideração questões psicológicas e sociais,
compreenderam que também podemos reagir de forma estressada a situações e contextos
positivos e felizes e não somente àqueles que causam desprazer ou sofrimento.
A partir dos estudos de Hans Syele, a psicóloga Marilda Lipp acrescentou ao Modelo Trifásico
um quarto elemento, transformando o modelo em Quadrifásico.
FASE DA QUASE EXAUSTÃO
Localizada entre a fase da resistência e da exaustão, as doenças não chegam a ser
consideradas graves, dando ao corpo mais uma chance de recuperação e reavaliação das
estratégias. Caso não haja esta atenção, o curso do estresse seguirá para a exaustão, levando
o indivíduo a grave adoecimento.
O estresse prolongado, conhecido como estresse crônico, está relacionado à secreção de
altas quantidades de cortisol e de outros hormônios que elevam o nível de açúcar no sangue e
as taxas metabólicas do organismo. De certa forma, estas mudanças fisiológicas permitem que
o sujeito sustente atividade prolongada para se defender de qualquer ameaça. No entanto, esta
condição acarreta diminuição da atividade do sistema imunológico.
Na ocasional exposição ao estresse, o organismo não apresenta maiores prejuízos. Mas se os
períodos de estresse se prolongam por semanas ou meses, o organismo fica vulnerável a uma
ampla gama de doenças.
Dessa forma, o problema do estresse e dos transtornos de ansiedade que se relacionam a
taxas elevadas de estresse pode ser considerado não apenas como um problema de saúde
mental, mas também um problema de saúde geral e social.
POSSÍVEIS CAUSAS DO ESTRESSE
O estresse pode ter diversas causas, como a ansiedade, o desejo de aprovação social, as
dificuldades pessoais e sociais, entre outras tantas.
 
fizkes / Cat Box / Fit Ztudio / Shutterstock.com
Muitas vezes a pessoa desenvolve suas atividades buscando a validação externa. É claro que,
de certa forma, todos nós queremos reconhecimento, mas o estresse surge na medida em que
o olhar externo passa a ter mais importância do que o prazer que a atividade em si
proporciona.
Não saber administrar o tempo, ter sempre a sensação de estar atrasado, preocupação
excessiva com as contas a pagar, perder muito tempo em trânsito também são
considerados agentes estressores.
Podemos ainda mencionar outras causas para o estresse, como a situação de pessoas que
sofrem com doenças crônicas, vivendo seu dia a dia em meio a limitações e dores, como,
por exemplo, a fibromialgia.
Baixa autoestima é outro fator estressor importante, uma vez que as pessoas vivem seu
cotidiano com dúvidas relacionadas a si mesmas ou à sua capacidade intelectual, podendo
despertar afetos negativos. Além disso, viver intensa competição no trabalho ou na família
pode se tornar um gatilho estressor.
Estudos sobre o estresse têm despertado interesse dos profissionais de saúde, dado que as
pessoas estão em processo de adoecimento ao tentar dar conta das demandas advindas do
mundo contemporâneo, das mudanças sociais, especialmente as relacionadas ao mundo
digital, às redes sociais, aos games, levando muitas delas a confundirem o real com o
imaginário. Para finalizar, é claro que as questões relativas à segurança, à economia e à
política, ou seja, ligadas ao nosso habitat, são poderosos gatilhos para o estresse.
 
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TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-
TRAUMÁTICO
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é causado por um evento de grande impacto
psicológico e emocional na vida de uma pessoa. Os sintomas aparecem em até seis meses
após a ocorrência do fato. Neste caso, estamos nos referindo a situações extremas como:
experiências de guerra, violência ligada a tortura, estupro, desastres naturais ou
provocados pelo homem.
Mas é importante destacar que a forma como a vítima interpreta uma situação traumática
depende de condições individuais. Por isso, em termos gerais, a definição do TEPT não se
reduz à experiência traumática, mas à forma como a pessoa vivencia a situação e os sintomas
que ela apresenta depois da experiência.
 EXEMPLO
Um caso exemplar é o desastre na cidade de Brumadinho (2019), onde tantas vidas foram
afetadas de forma drástica. Muitas pessoas não tiveram a chance de enterrar seus parentes,
não podendo vivenciar o luto. Os referenciais de vidadesapareceram, perderam parentes,
casa, trabalho, documentos, fotos, sua história. Os sintomas, neste caso, incluem o reviver da
situação através de flashbacks ou de sonhos, levando à angústia, medo, culpa, podendo
provocar até o isolamento.
É preciso estar atento para buscar ajuda e evitar o agravamento do transtorno de estresse pós-
traumático. Os profissionais de saúde devem ser capacitados para lidar com situações como
essa, consideradas de extrema complexidade. Nelas, o nível de vulnerabilidade do paciente é
alto e as consequências podem surgir a partir de comportamentos extremos.
Temos muitos relatos de militares que, quando retornam da guerra, desenvolvem estresse pós-
traumático, mostrando muita dificuldade de readaptação à vida cotidiana. As imagens do que
viveu ficam registradas na memória, provocando um nível elevado de estresse. Por este
motivo, o tratamento precisa ser muito bem estruturado e seguido de forma responsável; caso
contrário, pode se tornar crônico e as mudanças passam a fazer parte da subjetividade da
pessoa.
CONSEQUÊNCIAS DO ESTRESSE
Como já faz parte do senso comum dizer-se estressado, muitas vezes não é dada a devida
importância a esse transtorno. Porém, sabe-se que suas consequências podem ser graves.
Não é raro pessoas com estresse escutarem coisas deste tipo:
“A vida é boa, todos com saúde, e você se estressando”, 
“Estresse é coisa de quem não tem o que fazer”.
 ATENÇÃO
Essas frases surgem da tentativa de minimizar o problema ou de ajudar a pessoa a melhorar o
estado geral, mas o efeito pode ser contrário, podendo provocar sentimento de culpa, raiva,
mais estresse no outro.
As alterações de comportamento causadas pelo estresse muitas vezes comprometem
relacionamentos pessoais e profissionais, uma vez que as pessoas podem se afastar para
evitar discussões como forma de preservar a relação.
O estresse também pode causar prejuízo nas funções mentais, alterar a capacidade produtiva
da pessoa, já que a atenção não está focada nos objetivos a serem cumpridos e sim nos
sintomas produzidos pela doença.
Daí a importância da compreensão do que se está sentindo e do motivo, pois é a partir dessa
consciência que surge a possibilidade do cuidado. Caso contrário, corre-se o risco de achar
outro tipo de solução que irá gerar novos problemas, como o uso abusivo de álcool, por
exemplo. Como a bebida é socialmente aceita, usada em muitos casos com a intenção de
“relaxar”, com o uso contínuo e com o passar do tempo pode se tornar um vício.
 
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 ATENÇÃO
Em outras situações, o medo da crítica expõe a pessoa ao isolamento, gerando o risco de o
estresse avançar para uma depressão. Dependendo dos recursos internos da pessoa, a
depressão pode evoluir chegando a extremos, como o suicídio. É preciso não banalizar o
estresse, entender que ele pode ser a porta de entrada para o agravamento da saúde mental
de uma pessoa.
FORMAS DE CUIDADO: PREVENÇÃO E
TRATAMENTO
Existem algumas formas de cuidado para o estresse, mas, antes de mencioná-las, é importante
ter em mente que somos seres biopsicossociais. Devemos dar atenção ao nosso corpo físico,
ao estado psicológico e emocional, mas também às nossas relações sociais.
Para o tratamento do estresse, temos ao nosso dispor médicos, psicólogos e profissionais da
área de saúde que atuam através das práticas integrativas e complementares. Atualmente
dispomos de um total de 29 práticas reconhecidas e utilizadas pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) na Atenção Básica, entre elas, a acupuntura, a meditação, a yoga, entre outras.
Além dessas práticas citadas, podemos trabalhar utilizando técnicas educativas, cujo objetivo é
auxiliar na compreensão do que é estresse. As pessoas precisam ser capazes de reconhecer
os sintomas no corpo, na mente e nas relações interpessoais; identificar as fontes externas de
estresse e os estressores internos, ou seja, nossa fábrica particular.
Outra forma de tratamento implica ensinar a lidar com os agentes estressores situacionais, na
busca de eliminar os que podem ser eliminados e fazer uma reinterpretação dos que são
considerados inevitáveis.
É preciso tentar ressignificar positivamente os agentes estressores essenciais à vida,
chegando ao processo de aceitação. Falar sobre o que sentimos também ajuda muito no
tratamento, reconhecer que se é humano e que existem pessoas que vivem dores parecidas
com as nossas. E mais: pedindo ajuda, o cuidado se torna possível.
Leia o estudo de caso a seguir e tire suas conclusões.
ESTUDO DE CASO
Seu Almir trabalhou durante 30 anos na mesma empresa, mantendo durante este período
sempre a mesma rotina. Por mais que a família insistisse para que ele mudasse alguns
hábitos, ele resistia! Até que chegou o momento da aposentadoria. Ainda que estivesse
cansado e quisesse se aposentar, deixar a rotina que manteve tantos anos não estava nada
fácil: dentro de casa durante o dia não havia espaço para ele, se sentia um inútil. Não demorou
e começaram os primeiros sintomas: irritabilidade, falta de sono e passou a não dar muita
atenção para as coisas ao seu redor.
Quando os familiares perceberam seu comportamento, começaram a falar: “Como assim, está
irritado por quê?”, “Está aposentado, pode curtir a vida, quantos gostariam de estar no seu
lugar”, “Tá aí cheio de saúde, com dinheiro no bolso, e irritado por quê?”. Essa situação
deixava Almir ainda mais irritado e, para evitar conflitos, então ele decidiu se isolar.
Até que sua filha mais velha, que morava em outra cidade, conversou com ele, procurou
entender o que estava acontecendo e, ao final da conversa, decidiram que ele procuraria a
clínica da família para uma consulta.
Assim seu Almir foi atendido por um médico que ouviu tudo o que estava acontecendo, todas
as mudanças drásticas que tinham ocorrido em sua vida, como ele se sentia. Após ouvi-lo, o
médico disse que seu Almir estava com estresse.
Recomendou um planejamento de vida, com novos propósitos. Ou seja, o médico utilizou a
técnica educativa, explicando o que é estresse, os sintomas, por que ficamos estressados e
como devemos nos cuidar. O médico também mostrou a importância de outros cuidados para o
fortalecimento de sua saúde física, psíquica e social e fez alguns encaminhamentos.
Ao encaminhar seu Almir para o atendimento por terapeutas de práticas integrativas e
complementares, o médico traçou uma linha de cuidado, na qual os sintomas seriam tratados
por acupuntura e yoga, buscando atuar na promoção da saúde integral — incluindo a
socialização, pois a yoga seria desenvolvida em grupo. Dessa forma, o atendimento realizado
pelo médico da Clínica da Família interrompeu o avanço das fases do estresse, evitando o
agravamento do estado do seu Almir, como visto no Modelo Quadrifásico proposto pela
psicóloga Marilda Lipp.
A linha de cuidado utilizou a técnica educativa para a conscientização do que o paciente
apresentava e ofereceu o cuidado através de práticas integradas e complementares para
introduzir qualidade de vida ao cotidiano do seu Almir.
No vídeo a seguir, a especialista irá explicar detalhadamente as principais formas de
prevenção e tratamento do estresse.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EXISTEM DIVERGÊNCIAS COM RELAÇÃO À BASE CONCEITUAL DO
ESTRESSE, MAS ESTA PERGUNTA DEVE SER RESPONDIDA
UTILIZANDO A PROPOSTA APRESENTADA PELO MODELO
QUADRIFÁSICO, NO QUAL O ESTRESSE PODE PROGREDIR E
PERCORRER AS QUATRO FASES DO MODELO. QUAIS SÃO ELAS:
A) Alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão.
B) Inicial, intermediário, pré-final e final
C) Aguda inicial, aguda, crônica inicial e crônica
D) Vazio, compulsão, desespero e medo
E) Expectativa, internalização, angústia e sintomas
2. ESTUDAMOS QUE AS PESSOAS ACOMETIDAS PELO ESTRESSE
PODEM SER CUIDADAS POR MÉDICOS, PSICÓLOGOS E/OU POR
PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM COM AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE MENCIONA DUAS
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES UTILIZADAS PELOSISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS):
A) Nutrição e fisioterapia
B) Terapia de grupo diário de vida
C) Acupuntura e meditação
D) Nutrólogo e educador físico
E) Endocrinologista e psicoterapia
GABARITO
1. Existem divergências com relação à base conceitual do estresse, mas esta pergunta
deve ser respondida utilizando a proposta apresentada pelo Modelo Quadrifásico, no
qual o estresse pode progredir e percorrer as quatro fases do modelo. Quais são elas:
A alternativa "A " está correta.
 
O Modelo Quadrifásico propõe que o estresse progride e percorre quatro fases, chamadas de
alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão.
2. Estudamos que as pessoas acometidas pelo estresse podem ser cuidadas por
médicos, psicólogos e/ou por profissionais que trabalham com as práticas integrativas e
complementares. Assinale a alternativa que menciona duas práticas integrativas e
complementares utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS):
A alternativa "C " está correta.
 
As práticas integrativas e complementares são recursos voltados à prevenção e promoção de
saúde. Hoje existem 29 práticas reconhecidas e adotadas pelo SUS, como acupuntura e
meditação.
MÓDULO 2
 Descrever as fobias e o transtorno de ansiedade generalizada
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), os
transtornos de ansiedade compartilham características como o medo e a ansiedade
excessivos, causando perturbações comportamentais (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014). Veremos a seguir, de forma sumária, alguns destes transtornos e como
eles podem prejudicar a qualidade de vida das pessoas.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE
SEPARAÇÃO
Durante o desenvolvimento, sabemos que o bebê estabelece vínculos e uma relação de apego
com a figura de cuidado. Isto é necessário para o bom desenvolvimento emocional e
psicológico da criança.
Porém, à medida que cresce, chega a hora de a criança experimentar a angústia da
separação, que ocorre quando a figura de apego deixa de estar o tempo todo ali do seu lado.
No início é difícil, mas de modo geral esta fase tende a ser superada. Quando essa superação
não ocorre, a criança experimenta um sofrimento excessivo, um medo desproporcional,
relutância em sair de casa para não se separar da figura de apego, pensamentos recorrentes
relacionados à perda da figura valorosa, entre outros.
 
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No caso do transtorno de ansiedade de separação, a ansiedade excede o esperado em relação
ao estágio de desenvolvimento da criança. Ao ser separada das figuras de apego, a criança
apresenta comportamento de retraimento social, apatia, tristeza, problemas de rendimento na
escola e dificuldade de concentração. Pode se recusar até a ir à escola, demonstrando raiva e
chegando a agredir aqueles que tentam forçar a separação. Em alguns casos, observa-se o
surgimento de medos que a criança não tinha, como medo de animais, do escuro e até medo
de situações em que percebe perigo para si ou para a família.
Essa criança pode se tornar um adulto dependente. A falta de segurança e confiança em si, no
outro e no mundo predispõe a que, nas demais fases do ciclo vital, essa pessoa vivencie a
ansiedade de separação.
MUTISMO SELETIVO
No mutismo seletivo, há predominância da ansiedade social. Na maioria das vezes, a pessoa
só fica à vontade para se relacionar com sua família nuclear. Nos demais contextos, tem
prejuízo nas interações, o que acarreta consequências no seu desenvolvimento social,
acadêmico e profissional. A pessoa sente enorme dificuldade para falar em público e participar
de trabalhos em grupo, embora mantenha o desejo de estar presente sem a obrigação de
participar ativamente.
 
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A tentativa de ajuda muitas vezes agrava a situação, especialmente quando terceiros insistem
para que o sujeito participe e interaja no grupo. Esses movimentos o deixam ainda mais
exposto, fato que o estimula a se manter em isolamento como forma de se autopreservar —
assim evita passar pela situação constrangedora novamente, por mais que goste de todos e
queira estar presente.
Pessoas com mutismo seletivo preferem optar pela posição de escuta e não de fala, podendo
participar em alguns momentos de interação através da comunicação não verbal.
Este transtorno é relativamente raro na infância, com uma prevalência entre 0,3 % e 1%,
dependendo do contexto e da idade. O início da perturbação tende a aparecer antes dos 5
anos, mas muitas vezes só é tratada quando a criança entra na escola. Seu curso é
desconhecido, mas, a partir dos casos observados, podemos afirmar que a maioria das
crianças supera o problema com o passar do tempo.
FOBIA ESPECÍFICA
Um conceito generalista de fobia refere-se a medo e ansiedade desproporcionais diante de um
determinado objeto ou situação. Aqui é importante distinguirmos os termos medo e ansiedade:
Medo
É uma reação natural do corpo em contato com uma ameaça real; neste caso o objeto está de
fato presente.

Ansiedade
Também existe uma resposta fisiológica a uma situação ou objeto, só que neste caso o gerador
de ansiedade não está presente, a ameaça é considerada como uma possibilidade futura.
A fobia está relacionada a um tipo de emoção, o medo, que é acompanhado por ansiedade.
Ambos se apresentam com intensidades variáveis dependendo do nível de exposição diante do
objeto ou situação.
Portanto, para entendemos a fobia, é necessário conhecer seus sintomas e suas
consequências.
Na literatura, existe uma distinção que nos permite identificar os objetos e as situações que
provocam a reação fóbica como estímulos fóbicos e os objetos/situações temidos como
especificadores.
 EXEMPLO
No caso de uma pessoa que sinta pavor diante de um inseto, uma mosca representaria o
estímulo fóbico e o especificador seria a classificação deste pavor como uma fobia animal.
Existem situações em que o sujeito se mantém próximo ao estímulo fóbico. Essa escolha pode
intensificar mais ainda o medo e a ansiedade, podendo evoluir para um quadro de pânico.
Dependendo da intensidade do medo fóbico, as consequências podem ser as mais diversas,
até comprometer a funcionalidade da pessoa. Em alguns casos, o sujeito pode utilizar a
esquiva como estratégia para evitar o estímulo fóbico e, nesses casos, o medo e a ansiedade
acabam trazendo prejuízos à sua vida.
 EXEMPLO
Em uma mudança de emprego (por medo, o sujeito perde a oportunidade de alcançar uma
realização pessoal) ou numa programação de férias (por medo de avião, o sujeito deixa
escapar a chance de conhecer lugares diferentes).
A pergunta inevitável: “Como identificamos se os sintomas estão relacionados a uma
fobia e não a outro tipo de transtorno?”.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) considera alguns critérios,
entre eles, o de que os sintomas de fobia devem estar presentes durante pelos menos 6 meses
e ter pelo menos três especificadores diferentes, sejam eles de:
 
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ORDEM SITUACIONAL
Fobia em elevadores e ambientes fechados.
 
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ORDEM ANIMAL
Fobia de animais, insetos etc.
 
Pixabay
ORDEM AMBIENTAL
Fobia de mar, ventania, altura etc.
 
Pixy
SANGUE-INJEÇÃO-FERIMENTOS
Fobia de procedimentos médicos invasivos.
No momento da avaliação clínica, é de extrema importância observar que a pessoa precisa
sentir-se ameaçada e ter reações de medo e ansiedade significativas diante do estímulo fóbico.
Sempre lembrando que a esquiva, ou seja, evitar o estímulo fóbico, dependendo da sua
intensidade, pode levar o sujeito à perda de funcionalidade.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL
(FOBIA SOCIAL)
No caso do transtorno de ansiedade social, conhecido também como fobia social, o medo
desproporcional, a ansiedade e a esquiva acontecem em função da crença do sujeito de que o
ambiente pode oferecer perigos, como, por exemplo, a avaliação negativa à sua conduta. Essa
percepção pode provocar sentimento de humilhaçãoe, desta forma, a pessoa pode se sentir
rejeitada ou, em resposta, pode ofender o outro como defesa.
 
Fonte: Wikimedia
Esta condição acarreta prejuízos na funcionalidade geral do sujeito, interferindo no seu
desempenho em situações públicas e sociais, especialmente afetando a capacidade de
comunicar-se e impedindo a construção de vínculos tanto na vida pessoal como na
profissional. Os ambientes e as pessoas passam a ser ameaçadores e, assim, a esquiva
(muitas vezes expressa pelo isolamento) acaba comprometendo a qualidade de vida da
pessoa.
As pessoas com este distúrbio podem se apresentar como muito submissos, com uma postura
corporal rígida, contato visual escasso e até falar num tom de voz quase inaudível. Muitos se
tornam tímidos e retraídos e buscam realizar tarefas e trabalhos que não exijam muito contato
social.
Atualmente, temos acompanhado uma parcela significativa de jovens e adolescentes vivendo
nesse isolamento, o que compromete a autoestima e as interações sociais. Para alguns, os
jogos representam a interface para interagir com o outro e o mundo; para outros, o uso dos
computadores e celulares aumentam o isolamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem apresentado dados alarmantes relacionados à
saúde mental de jovens, nos quais a ansiedade, em muitos casos, é o começo de um quadro
patológico que evolui passando para depressão e chegando, em situações extremas, ao
suicídio.
AGORAFOBIA
Neste tipo de transtorno psicológico, os gatilhos são disparados em várias situações:
permanecer em lugares abertos, permanecer em lugares fechados (onde não se tem a
certeza de poder sair com facilidade), transporte público, filas e multidões. Em alguns casos,
os sintomas de medo e ansiedade podem ser suportados com a presença de outra pessoa.
 
Fonte: Pixabay
 EXEMPLO
Podemos citar como exemplo uma pessoa que decide ir a um show, chega cedo e não percebe
que o ambiente está ficando cheio. De repente se dá conta da multidão ao seu redor e os
sintomas iniciam: o medo de não conseguir sair do local, a ansiedade de passar mal e que o
socorro não chegue até ela... Os diferentes medos levam a um estado de paralisia e terror.
Em alguns casos, a agorafobia tem relação com outros transtornos de ansiedade, como o
transtorno de pânico e o ataque de pânico. Na condição mais severa, os sujeitos acabam
restritos às suas casas e incapazes de sair — até mesmo dependentes de outras pessoas,
especialmente daquelas que os fazem sentir seguros ou as que reconhecidamente ajudarão no
caso de uma crise.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE
GENERALIZADA – TAG
O transtorno de ansiedade generalizada está associado a uma preocupação excessiva e não
específica. O sujeito experimenta uma apreensão de que, a qualquer momento, coisas ruins
possam acontecer, causando irritabilidade e cansaço mental.
O sono e outras funções do organismo ficam comprometidos, afetando a qualidade de vida
devido também à tensão e à inquietação vivenciadas durante todo o dia. O desempenho nas
atividades terá grande chance de ficar comprometido, tanto as de ordem pessoal quanto social
ou profissional.
Este transtorno apresenta maior prevalência em mulheres. Alguns autores explicam a
vulnerabilidade feminina pelo fato de que as mulheres têm uma preocupação excessiva em
diferentes responsabilidades. Colocam-se em múltiplas funções, querem dar conta de tudo,
costumam ter um nível alto de exigência consigo mesmas e, com isso, um nível igualmente alto
de tensão para dar conta de tudo. Por esses motivos, vivem padecendo pelas impossibilidades
e adversidades, contando com o pior.
 
Fonte: Pixabay
TAG é um dos transtornos psicológicos mais desgastantes e se associa a diversas
comorbidades como depressão e problemas de saúde física. A preocupação constante e
excessiva que o sujeito experimenta prejudica a sua capacidade para fazer as tarefas do dia de
forma rápida e eficiente, tanto em casa como no trabalho. Isto toma tempo e energia, causando
um importante desgaste físico e emocional associado a cansaço, tensão muscular,
irritabilidade, problemas na concentração e no desempenho em atividades corriqueiras.
Podemos afirmar que este é um dos mais incapacitantes dos transtornos de ansiedade.
Os pacientes experimentam sintomas somáticos como sudorese, náusea, diarreia, cefaleia,
entre outros. Já taquicardia, falta de ar e tonturas são menos frequentes do que em outros
transtornos de ansiedade, como no caso do transtorno do pânico. O TAG costuma aparecer por
volta dos 30 anos, e os sintomas, quando não tratados, tendem a se tornar crônicos,
apresentando remissões e recidivas ao longo da vida.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE INDUZIDO
POR SUBSTÂNCIA/MEDICAMENTO
Neste caso, os sintomas de ansiedade apresentados pelo sujeito encontram-se associados à
ingestão de uma droga lícita ou ilícita. Às vezes a pessoa está utilizando um remédio para uma
finalidade, porém, ela vai a outro especialista que lhe indica um segundo medicamento que terá
outra função.
 
Fonte: Pixabay
Ao iniciar a combinação dos dois medicamentos, o sujeito começa a ter sintomas relacionados
a ataques de pânico e ansiedade causados pela interação medicamentosa. Na medida em que
isso é revisto, os sintomas desaparecem. Por este motivo, é necessário informar aos médicos
todos os medicamentos que tomamos num momento determinado.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE EM RAZÃO
DE OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA
Neste transtorno, existem claras evidências obtidas pelo exame físico, pelo histórico do sujeito
ou por exames laboratoriais de que os sintomas de ansiedade apresentados são consequência
fisiopatológicas de alguma condição médica preexistente. Para o clínico ter certeza dessa
relação, é necessário que ele verifique criteriosamente a relação temporal entre a condição
física e os sintomas de ansiedade, entre outros aspectos.
Muitas condições médicas podem causar sintomas de ansiedade significativos, como
hipertireoidismo, hipoglicemia, distúrbios cardiovasculares, distúrbios metabólicos e doenças
respiratórias. Por isso precisamos diferenciar o transtorno de ansiedade causado por outra
condição médica dos casos em que a ansiedade surge na medida em que é comunicado ao
sujeito seu diagnóstico e prognóstico.
Acontece de a notícia mudar o curso da vida da pessoa, este instante é chamado de
“comunicação de más notícias”. Neste momento, pode ser disparado o gatilho para o início de
sintomas de ansiedade, entendendo que a pessoa ainda terá pela frente o tratamento da
doença.
 EXEMPLO
Um paciente é diagnosticado com a Covid-19. No seu caso, apesar dos sintomas de cansaço,
dores no corpo e febre, ele poderá realizar o tratamento em casa. O médico apenas
recomenda a compra do oxímetro e que “fique atento”, que voltasse ao hospital em caso de
qualquer alteração no quadro. A frase “fique atento” se torna um gatilho, provocando que a
todo instante o paciente fique de olho no oxímetro e sentindo os sintomas de falta de ar e
ansiedade.
Como lidar com ansiedade durante a Covid-19?
Conheça as principais formas de prevenção da ansiedade durante a pandemia. Assista ao
vídeo a seguir.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O MEDO DESPROPORCIONAL, A ANSIEDADE E A ESQUIVA
ACONTECEM EM FUNÇÃO DA CRENÇA DE QUE O AMBIENTE PODE
OFERECER PERIGOS, COMO POR EXEMPLO, A AVALIAÇÃO NEGATIVA
DA SUA CONDUTA. ESSA PERCEPÇÃO PODE PROVOCAR
SENTIMENTOS DE HUMILHAÇÃO E, DESTA FORMA, GERAR UM
COMPORTAMENTO NO QUAL SE SENTIRÁ REJEITADO OU IRÁ OFENDER
O OUTRO COMO DEFESA. ESTE CONCEITO ESTÁ RELACIONADO A
QUAL TRANSTORNO?
A) Mutismo seletivo
B) Agorafobia
C) Transtorno de ansiedade social (fobia social)
D) Ansiedade generalizada
E) Outro transtorno de ansiedade não especificado
2. QUANDO AS PESSOAS APRESENTAM MEDO DESPROPORCIONAL E
ANSIEDADE DISPARADOS POR GATILHOS COMO: ESTAR EM LUGARES
ABERTOS POR MUITO TEMPO; ESTAR EM LUGARES FECHADOS ONDE
NÃO TÊM A CERTEZA DE QUE PODEM SAIR COM FACILIDADE; USO DE
TRANSPORTE PÚBLICO, ESTAR EM GRANDES ESPAÇOS APERTADOS,
FILAS OU FICARNO MEIO DE MULTIDÃO, ESTAMOS NOS REFERINDO A
QUAL TRANSTORNO?
A) Mutismo seletivo
B) Transtorno de ansiedade social (fobia social)
C) Agorafobia
D) Ansiedade generalizada
E) Outro transtorno de ansiedade não especificado
GABARITO
1. O medo desproporcional, a ansiedade e a esquiva acontecem em função da crença de
que o ambiente pode oferecer perigos, como por exemplo, a avaliação negativa da sua
conduta. Essa percepção pode provocar sentimentos de humilhação e, desta forma,
gerar um comportamento no qual se sentirá rejeitado ou irá ofender o outro como
defesa. Este conceito está relacionado a qual transtorno?
A alternativa "C " está correta.
 
No transtorno de ansiedade social (fobia social), o medo desproporcional e a ansiedade na
crença de que o mundo oferece perigos comprometem o comportamento e a funcionalidade da
pessoa, na medida em que ela passa a responder através de ofensas como forma de defesa
ou passa a se sentir rejeitada pelas outras pessoas, buscando o isolamento.
2. Quando as pessoas apresentam medo desproporcional e ansiedade disparados por
gatilhos como: estar em lugares abertos por muito tempo; estar em lugares fechados
onde não têm a certeza de que podem sair com facilidade; uso de transporte público,
estar em grandes espaços apertados, filas ou ficar no meio de multidão, estamos nos
referindo a qual transtorno?
A alternativa "C " está correta.
 
Na agorafobia, o medo desproporcional e a ansiedade surgem em situações em que a pessoa
se percebe sem controle.
MÓDULO 3
 Descrever a síndrome do pânico
O QUE É SÍNDROME DO PÂNICO?
Vamos nos apropriar de alguns conceitos definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
como norte para a descrição da síndrome do pânico. Para a OMS:
Doença
Significa um desequilíbrio na condição física do sujeito com uma causa conhecida;
Síndrome
É utilizada para designar um conjunto de sintomas que não necessariamente têm uma causa
definida, mas múltiplos fatores.
Transtorno
É um termo muito utilizado na saúde mental, que indica alterações de ordem psíquica
associadas a diversos fatores, desde influências genéticas até socioculturais.
A primeira publicação que menciona oficialmente o termo transtorno do pânico é o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 3ª edição (DSM-3), que o definia como
desordens causadas pelos ataques recorrentes e intensos de ansiedade, os quais
provocam comprometimento severo na funcionalidade da pessoa, assim como sofrimento
psíquico profundo.

Posteriormente, um novo conceito sobre pânico foi introduzido na publicação da 4ª edição do
mesmo manual, ataque de pânico (AP), configurando outra condição: a de episódios
isolados que não manifestam a sintomatologia presente no transtorno do pânico.
 
Fonte: Freepik
Os sintomas, no caso do AP, duram em média de 5 a 30 minutos e são observados picos de
ansiedade com sentimentos e fantasias de catástrofes iminentes. Para os profissionais da área
de saúde, o conhecimento dessas diferenças é de extrema importância em razão da
necessidade de identificação para o diagnóstico e a condução do tratamento.
Em 2013, uma nova atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais é
publicada. Nesta 5ª edição (DSM-5), as desordens denominadas de transtorno do pânico
(TP) se localizam no capítulo designado aos “transtornos de ansiedade”. A descrição de sua
sintomatologia é mantida, considerando o TP como a desordem causada pelos ataques
recorrentes e intensos de ansiedade que atingem seu ápice em poucos minutos. Os
sintomas precisam estar presentes com início súbito.
Dessa forma, os termos transtorno do pânico e síndrome do pânico possuem o mesmo
significado, podendo levar a pessoa a ter um comportamento irracional, como abandonar seu
carro e correr no meio do trânsito pedindo ajuda, afirmando que está morrendo ou sofrendo um
infarto. Nesse caso, precisará de apoio medicamentoso, psicoterápico e de uma boa rede de
apoio para se reestabelecer.
PREVALÊNCIA E COMORBIDADES
A prevalência do transtorno do pânico é duas vezes maior em mulheres, fato que talvez
se explique pela diferença sociocultural: as mulheres tendem a assumir diferentes papéis e
responsabilidades desde cedo, contrariamente à maioria dos homens.
O transtorno do pânico normalmente surge no final da adolescência e início da vida adulta, um
momento de escolhas profissionais e ingresso no mercado de trabalho, ou seja, o
enfrentamento dos desafios que o mundo adulto exige de todos nós.
 
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 ATENÇÃO
Vale ressaltar que são raríssimos os casos infantis.
 VOCÊ SABIA
Chega a quase 100% a probabilidade de quem tem transtorno do pânico desenvolver uma
comorbidade psiquiátrica. Em sua maioria, terão o diagnóstico do transtorno do pânico e como
comorbidade a agorafobia. Os que não tiverem esta fobia, terão algum outro tipo de transtorno
de ansiedade, mais comumente fobia específica, ansiedade social, transtorno de ansiedade
generalizada (TAG) ou ansiedade de separação.
 
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DESAFIOS DO DIAGNÓSTICO
Quando falamos na etiologia do transtorno do pânico, ou seja, sua origem, estamos nos
referindo a fatores tanto de ordem genética quanto ambientais:
Fatores de risco relacionados à genética
Estariam presentes na família nuclear, considerados de primeiro grau.
Fatores ambientais
Incluem-se os traumas vivenciados na infância, como também o estresse na vida adulta.
 
Fonte: Freepik
O diagnóstico do transtorno do pânico é desafiador, na medida em que sua base é clínica e
depende de uma escuta empática. Neste caso, estamos chamando a atenção para a
disponibilidade genuína do profissional da saúde em ouvir a dor do outro, além de um olhar
atento aos detalhes por meio da observação, para que seja possível uma diferenciação precisa
do que é da ordem do transtorno ou do ataque de pânico.
 
Fonte: Wikimedia
Outra alternativa de diagnóstico advém das investigações realizadas através de recursos de
imagem e exames laboratoriais que descartam outras patologias, permitindo, dessa forma,
estabelecer um diagnóstico diferencial, processo no qual se chega a um diagnóstico eliminando
outras possíveis causas.
O tratamento do transtorno do pânico busca minimizar os prejuízos na funcionalidade da
pessoa que comprometam a sua integridade biopsicossocial e espiritual. Desta forma, a linha
de cuidado deve abranger as diversas dimensões que compõem o sujeito, o que nos aponta
para o modelo de trabalho interdisciplinar, no qual os profissionais envolvidos estabeleçam
trocas e dividam conquistas.
Como já foi mencionado, a linha de frente seria a Psiquiatria, a Psicologia e a rede de apoio
da pessoa em tratamento. Porém, pode-se ir além e envolver outros profissionais que
contribuam com o processo de tratamento e cuidado.
TRATAMENTO E INTERDISCIPLINARIDADE
Vamos imaginar uma pessoa com transtorno de pânico diagnosticada e iniciando seu
tratamento.
O ponto de partida será, sem dúvida, o acompanhamento medicamentoso, para que seu
corpo possa retornar ao estado de homeostase, permitindo que outros profissionais consigam
acessar a pessoa.
O psicólogo fará seu trabalho em conjunto com o paciente na análise das possíveis causas que
serviram de gatilho para os sintomas do seu transtorno; também deve-se buscar a rede de
apoio da pessoa em tratamento, na medida em que sabemos de fatores de risco que podem
complicar o quadro e a recuperação do indivíduo.
Outras formas de cuidado podem ser somadas ao tratamento, como a expertise do educador
físico, proporcionando através das práticas um melhor condicionamento do corpo e a liberação
de hormônios que contribuem para o cuidado físico e mental.
O profissional de nutrição também pode ajudar nas escolhas alimentares com o objetivo de
potencializar e ativar recursos internos que ajudam no processo de melhoria da qualidade de
vida.
Outra possibilidade seria o uso das práticas integrativas e complementares (acupuntura,yoga,
meditação) reconhecidas pelo Ministério da Saúde através da Política Nacional sancionada em
2006, que permitem criar condições para que as pessoas acometidas desse transtorno
possam, através de cuidado e estimulação eficientes, retornar ou desenvolver práticas que
proporcionem sentimentos de paz e harmonia.
O ATAQUE DE PÂNICO — AP
Convém ressaltar aqui que o ataque de pânico (AP) não é considerado um transtorno
mental, portanto, ele não aparece codificado no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5). Sua ocorrência se dá em diversos transtornos
(incluindo o transtorno de pânico) e, como vimos, sua manifestação é abrupta, porém de
curta duração, variando de 5 até 30 minutos.
 
Fonte: Freepik
Como no transtorno do pânico, a pessoa também vivencia uma série de sintomas. Mas, no
caso do ataque de pânico, não há comprometimento da sua funcionalidade. Isso não quer
dizer, no entanto, que não haverá prejuízos, visto que a pessoa sente que sua capacidade de
autocontrole fica comprometida. Viver esse sentimento de impotência pode acarretar
problemas na autoestima, dificultando as interações sociais e levando ao isolamento social.
PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO DO AP
Assim como no transtorno do pânico, as mulheres são as mais atingidas pelo AP. A
incidência dos casos é observada principalmente a partir da puberdade, raramente no início da
infância e menos frequente ainda na velhice.
Os fatores de risco, de acordo com o DSM-5, estão relacionados às questões ambientais e
temperamentais. Os ataques de pânico podem acontecer também com o uso de drogas
lícitas e ilícitas ou com experiências familiares inesperadas, como a morte de algum
parente ou o surgimento de uma doença grave.
Quando nos referimos ao AP, estamos considerando que sensações corporais de morte
eminente colocam a pessoa em uma condição de vulnerabilidade, podendo nesses casos ter
uma resposta comportamental que a coloca em uma situação de risco, como uma conduta de
autolesão ou até mesmo a tentativa de suicídio. Não que haja o desejo em si de pôr fim a
própria vida, mas a necessidade de se libertar dos sintomas pode levar a essa medida
desesperada.
 
Fonte: freepik
Pensando no momento em que vivemos hoje, em que há evidente fragilidade nas perspectivas
de oportunidades para a população de modo geral. É importante se pensar na prevenção e na
promoção da saúde mental em diferentes contextos — na família, no ambiente acadêmico
e profissional, no fortalecimento das redes de apoio —, enfatizando a importância da
qualidade dos vínculos afetivos como um fator de proteção no cuidado de nossa saúde física e
mental.
 ATENÇÃO
Os profissionais de saúde têm um papel bastante relevante nesse sentido, pois estão próximos
das pessoas em sofrimento psíquico. O trabalho junto a esta população pode ser desenvolvido
de diversas formas: através de grupos comunitários, treinamento em habilidades
socioemocionais, mas, acima de tudo, com práticas para o fortalecimento dos vínculos
familiares e sociais.
Dessa forma, a pessoa terá espaço e encorajamento para o cuidado da sua autoestima,
mantendo a crença na sua capacidade de resposta às demandas e exigências do meio no qual
está inserida.
Assim compreendemos a importância do papel dos profissionais de saúde no cuidado integral
da pessoa em sofrimento. As equipes interdisciplinares podem construir juntas um projeto
terapêutico singular que privilegie as individualidades e identifique sua rede de apoio, buscando
o envolvimento de todos.
Através desse olhar se torna possível avaliar o nível de saúde dessa rede, pois um sistema de
apoio empobrecido comprometeria o êxito de todo o projeto. Em algumas situações, caberá a
inclusão das pessoas envolvidas no cuidado em grupos de apoio. Um modelo de trabalho com
esta visão permite o protagonismo da pessoa e não o do transtorno/doença.
Assista ao vídeo a seguir sobre as principais formas de prevenção da síndrome do
pânico.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. DE ACORDO COM OS ESTUDOS SOBRE TRANSTORNO DO PÂNICO,
QUE CARATERÍSTICA MARCANTE DIFERENCIA O TRANSTORNO DO
PÂNICO DO ATAQUE DE PÂNICO , CONTRIBUINDO COM OS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA ESTRUTURAÇÃO DE SEU DIAGNÓSTICO
E INTERVENÇÃO?
A) O tempo de permanência dos sintomas.
B) Questões relacionadas ao gênero.
C) Questões socioculturais.
D) Uma acontece na fase da adolescência e a outra na velhice.
E) A qualidade do sono.
2. AS PATOLOGIAS, DE UM MODO GERAL, APRESENTAM SEUS
FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO. NO CASO DA SÍNDROME OU
TRANSTORNO DO PÂNICO, PODEMOS DIZER QUE EXISTEM TRÊS
FATORES QUE INTERFEREM NA SAÚDE MENTAL DOS INDIVÍDUOS,
QUAIS SÃO ELES?
A) Família, amigos e relacionamento íntimo
B) Genéticos, ambientais e temperamentais
C) Pessoal, trabalho e religião
D) Estado de alerta, sensação e percepção
E) Família de nuclear, família de origem e família estendida
GABARITO
1. De acordo com os estudos sobre transtorno do pânico, que caraterística marcante
diferencia o transtorno do pânico do ataque de pânico , contribuindo com os
profissionais de saúde na estruturação de seu diagnóstico e intervenção?
A alternativa "A " está correta.
 
O ataque de pânico acontece de forma isolada com duração de 5 a 30 minutos.
2. As patologias, de um modo geral, apresentam seus fatores de risco e proteção. No
caso da síndrome ou transtorno do pânico, podemos dizer que existem três fatores que
interferem na saúde mental dos indivíduos, quais são eles?
A alternativa "B " está correta.
 
Os fatores genéticos estão relacionados aos parentescos de primeiro grau, à fisiologia; os
ambientais estão ligados às experiências infantis; e, por fim, os temperamentais estão
relacionados a questões de afetividade negativa.
MÓDULO 4
 Identificar o transtorno obsessivo-compulsivo — TOC
TOC: DO CONCEITO AO DIAGNÓSTICO
De forma geral, podemos afirmar que o TOC é um transtorno caracterizado pela presença de
pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos que causam prejuízo ao
funcionamento global do indivíduo, provocando um grande sofrimento psíquico e o
comprometimento nas relações pessoais, acadêmicas e profissionais.
 
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 VOCÊ SABIA
Sua prevalência varia entre 1,1% a 1,8%, dependendo da população e contexto, com uma
incidência maior no público feminino.
Os sintomas aparecem de forma gradual em muitos dos casos — um início abrupto é pouco
observado. Normalmente, os primeiros sintomas do TOC aparecem no começo da fase
adulta, em média aos 20 anos, mas existe uma considerável proporção de casos que já
apresentam sintomas antes dos 14 anos de idade. O aparecimento dos primeiros sintomas
depois dos 35 anos é incomum.
É importante destacar que o curso deste transtorno é geralmente crônico e os sintomas podem
variar de intensidade ao longo da história do paciente. Alguns indivíduos apresentam um curso
episódico, em que os sintomas vão e voltam de forma recorrente — são poucos os casos
relatados com perda da função cognitiva e das habilidades mentais.
O diagnóstico costuma ser tardio, pela resistência dos sujeitos em aceitar a condição e
buscar ajuda. Dessa forma, o tratamento fica comprometido e o prognóstico ruim.
O transtorno obsessivo-compulsivo fazia parte da categoria dos transtornos de ansiedade no
DSM-4, mas no DSM-5 ganha uma categoria separada. Foi enquadrado com outros
transtornos que apresentam ou compulsões ou obsessões, como por exemplo o transtorno
dismórfico corporal, o transtorno de acumulação, tricotilomania, o transtorno de escoriação e
outros.
Em algumas ocasiões, durante o tratamento, o paciente pode passar a ideia de ter atingido a
estabilidade em seus pensamentos e comportamentos, porém, o sofrimento psíquico se
mantém, provocando desgastes no funcionamento global do indivíduo — em algumas
situações, o quadro pode se agravar por tentativas de suicídio em função dos sentimentos
incapacitantes que o transtorno produz.
As causas do TOC ainda são desconhecidas,mas a literatura apresenta uma complexa rede
de fatores envolvidos. Até o momento as informações confirmadas referem-se às questões de
ordem neurobiológica, genética e ambiental. Porém, pouco se sabe sobre como ocorrem essas
interações ao ponto de definir a condição para o surgimento do transtorno. É possível afirmar
que existe uma maior vulnerabilidade por parte de indivíduos que apresentem antecedentes
genéticos e biológicos e que, ao entrarem em contato com o meio ambiente, apresentam maior
predisposição para o surgimento de sintomas relativos ao transtorno.
 SAIBA MAIS
Os estudos apontam uma relação entre o TOC e o histórico de abuso físico ou sexual e outros
eventos estressantes e traumáticos. Por outro lado, no caso de adultos que apresentam
familiares de primeiro grau com o transtorno, a probabilidade de diagnóstico de TOC é duas
vezes maior em relação às pessoas com parentes de primeiro grau sem o transtorno.
OBSESSÕES E COMPULSÕES
Obsessões são pensamentos, ideias e imagens que invadem a mente do indivíduo de forma
constante, causando sofrimento intenso, na medida em que não consegue contê-los.
Em outras palavras, as obsessões se manifestam de forma intrusiva e geram angústia para o
sujeito.
Os comportamentos compulsivos são as ações repetitivas utilizadas como estratégia de
controle dos pensamentos. Importante mencionar que as ações de controle nem sempre são
visíveis.
 
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Lavar as mãos repetidas vezes para controlar os pensamentos relacionados à contaminação é
visível, sem dúvida nenhuma; mas em alguns casos o sujeito apresenta ações mentais
compulsivas, de forma que todas as vezes que pensar que pode se contaminar, ele reza
mentalmente. Uma compulsão muito frequente é o ato de contar.
As obsessões podem variar de tipologia. Podemos classificá-las em grupos:
Contaminações: aversões a sujeira, vírus, radioatividade.
 
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Simetrias: perfeição, alinhamento, excesso na organização.
 
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Evitação de danos: impulsos ou pensamentos de ferir alguém através de atos físicos ou
verbais ou mesmo ferir-se.
 
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Acumulações: necessidade de armazenar, poupar, guardar coisas que não têm utilidade,
dificuldade em desapegar-se.
Quando nos referimos às obsessões, consideramos também os pensamentos desagradáveis
que invadem a mente e ali persistem, causando angústia e ansiedade. Podem ser de conteúdo
diverso: sexual, dificuldade de escolhas, pensamentos mágicos e religiosos. Mas o que importa
é que, para manter o controle dos pensamentos, é necessária a elaboração de rituais,
identificados através dos comportamentos compulsivos que garantem esse controle, mas que
comprometem a funcionalidade da vida diária da pessoa.
Quanto mais grave e intensa forem as obsessões e comportamentos compulsivos, mais refém
de si mesmo a pessoa ficará. Uma boa ilustração dessa condição é o filme Melhor é
impossível, estrelado por Jack Nicholson e dirigido por James L. Brooks.
TOC: MANIFESTAÇÕES E
CONSEQUÊNCIAS
A manifestação do transtorno obsessivo-compulsivo pode ocorrer a partir de fatores
ambientais, como traumas vivenciados na infância ou agentes estressores que surgem na
fase adulta. Os sintomas na infância são raros, mas, quando acontecem, costumam surgir por
volta dos 10 anos de idade.
O transtorno ocorre a partir da invasão de pensamentos, ideias e imagens mentais, provocando
uma imensa ansiedade e sofrimento psíquico, simplesmente porque essas informações nunca
são de ordem positiva, e sim negativa, causando angústia e tornando a vida da pessoa
insuportável.
Em algumas situações, o paciente não consegue enxergar outra saída diferente do suicídio,
comportamento visto como a única forma de cessar seu sofrimento.
 
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As estratégias ou os comportamentos compulsivos são ações válidas que outras pessoas sem
o transtorno podem realizar ocasionalmente. Mas no caso do TOC, essas ações são
evidenciadas em quantidade e intensidade desproporcional. Muitas vezes os sujeitos
seguem rituais que incapacitam suas vidas e, em geral, enfrentam grandes desafios com a
empregabilidade e as relações interpessoais.
Há uma dúvida recorrente relacionada à capacidade da pessoa perceber sua condição.
Podemos dizer que uma parcela significativa das pessoas acometidas pelo TOC consegue
essa percepção, o que não significa a busca pela ajuda. É sempre bom lembrar que ainda
existe muito estigma relacionado aos transtornos mentais e ao tratamento psiquiátrico,
infelizmente.
TRATAMENTO
As indicações de tratamento do TOC consideradas de primeira linha seriam as
medicamentosas (inicialmente com o uso de antidepressivos), a psicoterapia com a
indicação da abordagem cognitivo-comportamental e a rede familiar. Este apoio precisa
ter uma atitude ativa para não reforçar o comportamento compulsivo, de forma que, ao ser
solicitado pelo paciente que valide o impulso compulsivo, é fundamental que o interlocutor
adote uma postura assertiva diante da solicitação, apontando a disfuncionalidade de forma
clara e precisa.
As diretrizes de tratamento estarão condicionadas à intensidade dos sintomas, ou seja, o quão
incapacitante o transtorno está sendo na vida do indivíduo.
 ATENÇÃO
Em casos mais graves, existe a necessidade de uma combinação maior de medicamentos,
como antidepressivos associados a ansiolíticos, ou a utilização de antipsicóticos. Todos esses
medicamentos ministrados em altas dosagens produzem efeitos colaterais severos. É preciso
tomar cuidado.
Através da observação clínica foi constatado que existem casos em que a pessoa prefere
conviver com os sintomas a se arriscar com os efeitos causados pelos remédios. Isso é
preocupante, na medida em que quanto mais tardiamente o tratamento tiver início pior será a
resposta às intervenções, ou seja, um prognóstico ruim para as expectativas de
reestabelecimento mínimo da qualidade de vida da pessoa com o transtorno obsessivo-
compulsivo.
 SAIBA MAIS
Atualmente, além das práticas até então utilizadas, muitos psiquiatras já usam uma
estimulação eletromagnética transcraniana para os casos graves. Mas ainda há muito a ser
pesquisado e difundido com relação a esta técnica. Por ser uma terapêutica de custo elevado,
não é acessível para uma grande parcela da população; portanto, o quanto antes as pesquisas
avançarem, mais pessoas poderão ser beneficiadas com sua utilização.
TOC E SEUS DESAFIOS
Existem vários filmes, séries e notícias do mundo real que mostram as angústias sofridas pelas
pessoas que têm TOC — aquelas que não conseguem se desapegar das coisas ou sentem a
necessidade de poupar, economizar e armazenar. São os chamados acumuladores. Em casos
graves, são estigmatizados e julgados pelo seu comportamento.
 
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Equipes multiprofissionais atuam em conjunto na tentativa de garantir o acompanhamento
médico e psicológico dos que sofrem do transtorno, já que o momento da intervenção é de
grande sofrimento e pode levar a pessoa a um estado psicótico, quando ela percebe a entrada
de estranhos em seu mundo — que, de acordo com sua percepção, está organizado e lhe
garante segurança e conforto. O prognóstico nesses casos é bastante ruim pela sua
cronicidade, limitação das terapêuticas e falta de rede de apoio.
A pandemia da Covid-19 nos leva a outra reflexão relacionada a esses sofrimentos provocados
pelos pensamentos obsessivos. A todo momento recebemos informações para o autocuidado
com relação a contaminação. Vamos pensar na situação vivenciada pelas pessoas que
vinham, ao longo do tempo, tratando de seu transtorno obsessivo-compulsivo, justamente
relacionado a pensamentos obsessivos voltados para as questões de contaminação, cujo
comportamento compulsivo a ser controlado é justamente o excesso de higienização das
mãos, a dificuldade de tocar em superfícies e corrimãos, por exemplo.
 
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Imaginem a ambivalência de sentimentos vivenciada por essas pessoas que, por um lado,
precisam se prevenircom relação a uma contaminação real e, por outro, combater
comportamentos que surgem como forma de defesa e controle diante da possibilidade de uma
contaminação provocada por pensamentos obsessivos — pensamentos que invadem sua
mente de forma recorrente provocando muito sofrimento psíquico e podendo incapacitá-
las para as suas atividades diárias.
Importante aqui diferenciar um comportamento compulsivo de uma mania:
Mania
Também ocorre a repetição de comportamentos, por exemplo “só consigo começar a estudar
depois que tomar banho”, porém este movimento não traz prejuízo à vida cotidiana da
pessoa.

Comportamento compulsivo
Enquanto a pessoa não cumpre todo o ritual não se autoriza a continuar suas tarefas.
 EXEMPLO
Se ela entende que para estudar precisa arrumar a mesa dez vezes e no meio perde a
contagem, ela retoma do início, porque a possibilidade de que algo ruim possa acontecer não a
libera para seguir adiante. Seria mais ou menos assim: “vou arrumar dez vezes a mesa e, ao
final, estarei pronta para absorver o conteúdo e me sair bem nas avaliações. Se não contar
direito e seguir adiante, meu resultado não será satisfatório”.
Para finalizar, é importante a compreensão de que os comportamentos compulsivos não devem
ser reforçados, mesmo que a intenção seja minimizar o sofrimento de quem queremos bem. Ao
contrário, a melhor forma de ajudar é ser solidário e acolher o outro, porém, sempre que nos
solicitar a validação do comportamento, devemos provocar a reflexão.
 EXEMPLO
Se a pessoa já verificou se a porta está fechada várias vezes e nos pede que o faça
novamente, devemos dizer a ela que temos certeza de que a porta está fechada e seguimos no
que estávamos fazendo.
Dessa forma, demonstramos que ela não precisa se preocupar, sua ação foi realizada com
êxito, ela pode confiar no que fez e se sentir segura. Esta é a forma que temos de
demonstrar nosso afeto e nossa confiança na sua capacidade, mostrar que nos sentimos
seguros através de suas ações. Se assumirmos um outro tipo de posicionamento,
contribuiremos para a vulnerabilidade da pessoa em sofrimento, reforçando seu
comportamento e prejudicando a construção de estratégias que permitam sua funcionalidade
nas tarefas cotidianas.
Assista ao vídeo a seguir com a explicação da especialista sobre as principais formas de
prevenção do TOC.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. DE ACORDO COM OS ESTUDOS SOBRE TRANSTORNO OBSESSIVO-
COMPULSIVO (TOC), QUAIS FATORES SÃO CONSIDERADOS PARA
EFEITO DIAGNÓSTICO — MESMO QUE AINDA HAJA MUITOS
ESCLARECIMENTOS A SEREM FEITOS ACERCA DESTE TRANSTORNO?
A) Neurobiológico, genético e ambiental
B) Físico, químico e biológico
C) Físico, cognitivo e psicológico
D) Social, cultural e ambiental
E) Psicológico, emocional e biológico
2. QUANDO MENCIONAMOS QUE UMA DAS CARACTERÍSTICAS DO
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO É A PRESENÇA DE RITUAIS
COMO FORMA DE CONTROLE, ESTAMOS NOS REFERINDO A
______________.
A) Pensamentos obsessivos
B) Comportamentos compulsivos
C) Aproximação da religiosidade
D) Conexão interpessoal
E) Conexão intrapessoal
GABARITO
1. De acordo com os estudos sobre transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), quais
fatores são considerados para efeito diagnóstico — mesmo que ainda haja muitos
esclarecimentos a serem feitos acerca deste transtorno?
A alternativa "A " está correta.
 
Há muito estudo pela frente, mas até o momento os estudos confirmados são de que o TOC
envolve questões de ordem neurobiológica, genética e ambiental. Porém, ainda é
desconhecido como ocorrem essas interações ao ponto de definir a condição para o
surgimento do transtorno.
2. Quando mencionamos que uma das características do transtorno obsessivo-
compulsivo é a presença de rituais como forma de controle, estamos nos referindo a
______________.
A alternativa "B " está correta.
 
Os comportamentos compulsivos são rituais que promovem a sensação de que, a partir dos
movimentos executados, a pessoa passa a controlar os pensamentos, as ideias e as imagens
ruins que invadem de forma inadequada e intrusiva sua mente.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como apresentamos aqui, mostram-se urgentes o aprimoramento e o aprofundamento dos
estudos relativos ao transtorno de ansiedade e ao transtorno obsessivo-compulsivo, em razão
do aumento significativo na busca por cuidados nesses casos. Todos que se dedicam ao
cuidado da saúde têm esse grande desafio.
Os dados apontam para a necessidade de se produzir mais conhecimentos no que se refere à
etiologia e prevalência, às características e aos fatores de risco dos transtornos psicológicos.
Ter uma melhor compreensão dos quadros patológicos contribuirá para diagnósticos mais
precisos e intervenções que devolvam a qualidade de vida às pessoas em sofrimento psíquico.
Outro fator importante, sem dúvida nenhuma, é o trabalho de prevenção e promoção da saúde
mental; a construção de ações que contribuam não só para conscientizar a população sobre a
importância do assunto, mas também dar apoio às pessoas em tratamento e à sua rede de
atenção. Essas ações desmitificariam as questões relacionadas aos transtornos psicológicos;
os mitos, em muitos casos, impedem as pessoas de buscar tratamento por medo de serem
estigmatizadas pelo jugo social.
A relevância do trabalho dos profissionais da saúde no que refere aos transtornos psicológicos
é evidente e vai muito além do cuidado propriamente dito. Tem a ver com o cuidado de uma
pessoa em sofrimento e toda a complexidade que a define, envolvendo sua subjetividade nos
diversos contextos: familiar, social, econômico, cultural e histórico.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estresse. Biblioteca virtual em saúde, set, 2015.
FILGUEIRAS, Julio Cesar; HIPPERT, Maria Isabel Steinherz. A polêmica em torno do
conceito de estresse. Psicol. Cienc. Prof., Brasília, v. 19, nº 3, p. 40-51, 1999.
LIPP, M.E.N. Stress e suas implicações. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 1, nº 3 e nº 4,
p. 5-19, ago./dez. 1984.
NOVAES MALAGRIS, Lucia Emmanoel et al. Níveis de estresse e características
sociobiográficas de alunos de pós-graduação. Psicol. Rev. Belo Horizonte, v. 15, nº 2, p.
184-203, ago. 2009.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). CID-10: Classificação Internacional de
Doenças. Genebra, Organização Mundial da Saúde, Porto Alegre: Artmed, 1992.
SALUM, Giovanni Abrahão; BLAYA, Carolina; MANFRO, Gisele Gus. Transtorno do pânico.
Rev. Psiquiatr. Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 31, nº 2, p. 86-94, 2009.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, leia: 
O artigo Conceitos e preconceitos sobre transtornos mentais: um debate, dos
pesquisadores Maria Rosilene Cândidoe colaboradores, no site da Pepsic — Periódicos
Eletrônicos em Psicologia.
 
Ouça o áudio: 
Em Dia Mundial da Saúde Mental, ONU pede mais investimento para combater os
efeitos da pandemia, de Alexandre Soares, no site da ONU News.
CONTEUDISTA
Adriana Bonneterre Pimentel de Oliveira
 CURRÍCULO LATTES
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