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DESCRIÇÃO A conceituação dos transtornos psicológicos mais comuns e suas implicações à saúde mental na sociedade contemporânea. PROPÓSITO O entendimento dos transtornos psicológicos, a sua aplicação em estudos de casos, a relevância da prevenção e a promoção do cuidado à saúde mental são conceitos básicos que devem ser compreendidos pelos profissionais da área da saúde. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir o estresse e suas implicações na saúde MÓDULO 2 Descrever as fobias e o transtorno de ansiedade generalizada MÓDULO 3 Descrever a síndrome do pânico MÓDULO 4 Identificar o transtorno obsessivo-compulsivo — TOC INTRODUÇÃO Neste material vamos abordar os transtornos psicológicos mais recorrentes e que representam um impacto significativo na saúde mental. Em muitos casos, os efeitos da doença comprometem a funcionalidade do indivíduo, impedindo-o de realizar as atividades diárias e fazendo-o perder qualidade de vida. Inicialmente, vamos definir estresse e suas implicações na saúde. Outros conteúdos importantes como as fobias e o transtorno de ansiedade generalizada serão abordados posteriormente. Em seguida, estudaremos a síndrome do pânico e, por fim, o transtorno obsessivo-compulsivo que, dependendo da intensidade dos sintomas, pode paralisar a vida de uma pessoa. A apresentação dessas patologias tem como objetivo estimular reflexões relacionadas à prevenção e à promoção da saúde mental, temas importantíssimos para a formação do profissional da saúde. MÓDULO 1 Definir o estresse e suas implicações na saúde O QUE É ESTRESSE? A palavra “estresse” tem sido muito utilizada pelo senso comum como forma de encerrar uma conversa desagradável ou mesmo para classificar uma pessoa. Seria mais ou menos assim: “Você está muita estressada! Falamos depois!” ou “Nossa, você é muito estressado.” Mas o que é estar estressado? Vamos iniciar pela conceituação. Hoje existem muitas controvérsias relacionadas ao conceito de estresse, mas para nossos estudos, seguimos com estes olhares. Estresse é uma reação natural do corpo diante de situações de perigo ou uma reação que nos tire de contextos a que inicialmente estávamos habituados (BRASIL, 2015). O corpo emite sinais de alerta em caso de estresse: dores musculares, insônia, irritabilidade, entre outros sintomas. Eles nos avisam da necessidade de buscar novas ferramentas que permitam ao nosso corpo retornar ao seu estado de equilíbrio ou adaptar-se a novas situações. O estresse pode ser: Agudo Quando vivenciado a partir de situações inesperadas. Crônico Relacionado ao cotidiano. Neste último, muitas vezes a pessoa já incorporou esse estado como parte de sua subjetividade, o que se torna ainda mais perigoso para a sua saúde. O pesquisador Hans Selye, buscando compreender o estresse e suas ações em nosso corpo, criou um Modelo Trifásico, que divide as respostas ao estresse em três fases, conhecidas como: ESTADO DE ALERTA O corpo se prepara para lidar com os estímulos estressores, cujo objetivo é a autopreservação. Os estímulos estressores não são necessariamente ruins e podem levar o sujeito à ação. O resultado da situação depende de como o sujeito lida com esses estímulos. Porém, se os gatilhos permanecem por muito mais tempo, avançamos para a fase seguinte. RESISTÊNCIA A energia gasta para manter a homeostase do corpo é sentida, chegando ao cansaço físico e mental. Dessa forma, caso o indivíduo não escute os sinais de seu corpo, seguirá para a próxima fase. EXAUSTÃO Nesta fase, o corpo tende a paralisar em razão de doenças mais sérias. Diversos pesquisadores, incluindo o próprio Syele, ampliaram seu olhar sobre o tema estresse — antes puramente biológico. Levando em consideração questões psicológicas e sociais, compreenderam que também podemos reagir de forma estressada a situações e contextos positivos e felizes e não somente àqueles que causam desprazer ou sofrimento. A partir dos estudos de Hans Syele, a psicóloga Marilda Lipp acrescentou ao Modelo Trifásico um quarto elemento, transformando o modelo em Quadrifásico. FASE DA QUASE EXAUSTÃO Localizada entre a fase da resistência e da exaustão, as doenças não chegam a ser consideradas graves, dando ao corpo mais uma chance de recuperação e reavaliação das estratégias. Caso não haja esta atenção, o curso do estresse seguirá para a exaustão, levando o indivíduo a grave adoecimento. O estresse prolongado, conhecido como estresse crônico, está relacionado à secreção de altas quantidades de cortisol e de outros hormônios que elevam o nível de açúcar no sangue e as taxas metabólicas do organismo. De certa forma, estas mudanças fisiológicas permitem que o sujeito sustente atividade prolongada para se defender de qualquer ameaça. No entanto, esta condição acarreta diminuição da atividade do sistema imunológico. Na ocasional exposição ao estresse, o organismo não apresenta maiores prejuízos. Mas se os períodos de estresse se prolongam por semanas ou meses, o organismo fica vulnerável a uma ampla gama de doenças. Dessa forma, o problema do estresse e dos transtornos de ansiedade que se relacionam a taxas elevadas de estresse pode ser considerado não apenas como um problema de saúde mental, mas também um problema de saúde geral e social. POSSÍVEIS CAUSAS DO ESTRESSE O estresse pode ter diversas causas, como a ansiedade, o desejo de aprovação social, as dificuldades pessoais e sociais, entre outras tantas. fizkes / Cat Box / Fit Ztudio / Shutterstock.com Muitas vezes a pessoa desenvolve suas atividades buscando a validação externa. É claro que, de certa forma, todos nós queremos reconhecimento, mas o estresse surge na medida em que o olhar externo passa a ter mais importância do que o prazer que a atividade em si proporciona. Não saber administrar o tempo, ter sempre a sensação de estar atrasado, preocupação excessiva com as contas a pagar, perder muito tempo em trânsito também são considerados agentes estressores. Podemos ainda mencionar outras causas para o estresse, como a situação de pessoas que sofrem com doenças crônicas, vivendo seu dia a dia em meio a limitações e dores, como, por exemplo, a fibromialgia. Baixa autoestima é outro fator estressor importante, uma vez que as pessoas vivem seu cotidiano com dúvidas relacionadas a si mesmas ou à sua capacidade intelectual, podendo despertar afetos negativos. Além disso, viver intensa competição no trabalho ou na família pode se tornar um gatilho estressor. Estudos sobre o estresse têm despertado interesse dos profissionais de saúde, dado que as pessoas estão em processo de adoecimento ao tentar dar conta das demandas advindas do mundo contemporâneo, das mudanças sociais, especialmente as relacionadas ao mundo digital, às redes sociais, aos games, levando muitas delas a confundirem o real com o imaginário. Para finalizar, é claro que as questões relativas à segurança, à economia e à política, ou seja, ligadas ao nosso habitat, são poderosos gatilhos para o estresse. Tero Vesalainen/ Shutterstock.com TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS- TRAUMÁTICO O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é causado por um evento de grande impacto psicológico e emocional na vida de uma pessoa. Os sintomas aparecem em até seis meses após a ocorrência do fato. Neste caso, estamos nos referindo a situações extremas como: experiências de guerra, violência ligada a tortura, estupro, desastres naturais ou provocados pelo homem. Mas é importante destacar que a forma como a vítima interpreta uma situação traumática depende de condições individuais. Por isso, em termos gerais, a definição do TEPT não se reduz à experiência traumática, mas à forma como a pessoa vivencia a situação e os sintomas que ela apresenta depois da experiência. EXEMPLO Um caso exemplar é o desastre na cidade de Brumadinho (2019), onde tantas vidas foram afetadas de forma drástica. Muitas pessoas não tiveram a chance de enterrar seus parentes, não podendo vivenciar o luto. Os referenciais de vidadesapareceram, perderam parentes, casa, trabalho, documentos, fotos, sua história. Os sintomas, neste caso, incluem o reviver da situação através de flashbacks ou de sonhos, levando à angústia, medo, culpa, podendo provocar até o isolamento. É preciso estar atento para buscar ajuda e evitar o agravamento do transtorno de estresse pós- traumático. Os profissionais de saúde devem ser capacitados para lidar com situações como essa, consideradas de extrema complexidade. Nelas, o nível de vulnerabilidade do paciente é alto e as consequências podem surgir a partir de comportamentos extremos. Temos muitos relatos de militares que, quando retornam da guerra, desenvolvem estresse pós- traumático, mostrando muita dificuldade de readaptação à vida cotidiana. As imagens do que viveu ficam registradas na memória, provocando um nível elevado de estresse. Por este motivo, o tratamento precisa ser muito bem estruturado e seguido de forma responsável; caso contrário, pode se tornar crônico e as mudanças passam a fazer parte da subjetividade da pessoa. CONSEQUÊNCIAS DO ESTRESSE Como já faz parte do senso comum dizer-se estressado, muitas vezes não é dada a devida importância a esse transtorno. Porém, sabe-se que suas consequências podem ser graves. Não é raro pessoas com estresse escutarem coisas deste tipo: “A vida é boa, todos com saúde, e você se estressando”, “Estresse é coisa de quem não tem o que fazer”. ATENÇÃO Essas frases surgem da tentativa de minimizar o problema ou de ajudar a pessoa a melhorar o estado geral, mas o efeito pode ser contrário, podendo provocar sentimento de culpa, raiva, mais estresse no outro. As alterações de comportamento causadas pelo estresse muitas vezes comprometem relacionamentos pessoais e profissionais, uma vez que as pessoas podem se afastar para evitar discussões como forma de preservar a relação. O estresse também pode causar prejuízo nas funções mentais, alterar a capacidade produtiva da pessoa, já que a atenção não está focada nos objetivos a serem cumpridos e sim nos sintomas produzidos pela doença. Daí a importância da compreensão do que se está sentindo e do motivo, pois é a partir dessa consciência que surge a possibilidade do cuidado. Caso contrário, corre-se o risco de achar outro tipo de solução que irá gerar novos problemas, como o uso abusivo de álcool, por exemplo. Como a bebida é socialmente aceita, usada em muitos casos com a intenção de “relaxar”, com o uso contínuo e com o passar do tempo pode se tornar um vício. TheVisualsYouNeed / Shutterstock.com ATENÇÃO Em outras situações, o medo da crítica expõe a pessoa ao isolamento, gerando o risco de o estresse avançar para uma depressão. Dependendo dos recursos internos da pessoa, a depressão pode evoluir chegando a extremos, como o suicídio. É preciso não banalizar o estresse, entender que ele pode ser a porta de entrada para o agravamento da saúde mental de uma pessoa. FORMAS DE CUIDADO: PREVENÇÃO E TRATAMENTO Existem algumas formas de cuidado para o estresse, mas, antes de mencioná-las, é importante ter em mente que somos seres biopsicossociais. Devemos dar atenção ao nosso corpo físico, ao estado psicológico e emocional, mas também às nossas relações sociais. Para o tratamento do estresse, temos ao nosso dispor médicos, psicólogos e profissionais da área de saúde que atuam através das práticas integrativas e complementares. Atualmente dispomos de um total de 29 práticas reconhecidas e utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Atenção Básica, entre elas, a acupuntura, a meditação, a yoga, entre outras. Além dessas práticas citadas, podemos trabalhar utilizando técnicas educativas, cujo objetivo é auxiliar na compreensão do que é estresse. As pessoas precisam ser capazes de reconhecer os sintomas no corpo, na mente e nas relações interpessoais; identificar as fontes externas de estresse e os estressores internos, ou seja, nossa fábrica particular. Outra forma de tratamento implica ensinar a lidar com os agentes estressores situacionais, na busca de eliminar os que podem ser eliminados e fazer uma reinterpretação dos que são considerados inevitáveis. É preciso tentar ressignificar positivamente os agentes estressores essenciais à vida, chegando ao processo de aceitação. Falar sobre o que sentimos também ajuda muito no tratamento, reconhecer que se é humano e que existem pessoas que vivem dores parecidas com as nossas. E mais: pedindo ajuda, o cuidado se torna possível. Leia o estudo de caso a seguir e tire suas conclusões. ESTUDO DE CASO Seu Almir trabalhou durante 30 anos na mesma empresa, mantendo durante este período sempre a mesma rotina. Por mais que a família insistisse para que ele mudasse alguns hábitos, ele resistia! Até que chegou o momento da aposentadoria. Ainda que estivesse cansado e quisesse se aposentar, deixar a rotina que manteve tantos anos não estava nada fácil: dentro de casa durante o dia não havia espaço para ele, se sentia um inútil. Não demorou e começaram os primeiros sintomas: irritabilidade, falta de sono e passou a não dar muita atenção para as coisas ao seu redor. Quando os familiares perceberam seu comportamento, começaram a falar: “Como assim, está irritado por quê?”, “Está aposentado, pode curtir a vida, quantos gostariam de estar no seu lugar”, “Tá aí cheio de saúde, com dinheiro no bolso, e irritado por quê?”. Essa situação deixava Almir ainda mais irritado e, para evitar conflitos, então ele decidiu se isolar. Até que sua filha mais velha, que morava em outra cidade, conversou com ele, procurou entender o que estava acontecendo e, ao final da conversa, decidiram que ele procuraria a clínica da família para uma consulta. Assim seu Almir foi atendido por um médico que ouviu tudo o que estava acontecendo, todas as mudanças drásticas que tinham ocorrido em sua vida, como ele se sentia. Após ouvi-lo, o médico disse que seu Almir estava com estresse. Recomendou um planejamento de vida, com novos propósitos. Ou seja, o médico utilizou a técnica educativa, explicando o que é estresse, os sintomas, por que ficamos estressados e como devemos nos cuidar. O médico também mostrou a importância de outros cuidados para o fortalecimento de sua saúde física, psíquica e social e fez alguns encaminhamentos. Ao encaminhar seu Almir para o atendimento por terapeutas de práticas integrativas e complementares, o médico traçou uma linha de cuidado, na qual os sintomas seriam tratados por acupuntura e yoga, buscando atuar na promoção da saúde integral — incluindo a socialização, pois a yoga seria desenvolvida em grupo. Dessa forma, o atendimento realizado pelo médico da Clínica da Família interrompeu o avanço das fases do estresse, evitando o agravamento do estado do seu Almir, como visto no Modelo Quadrifásico proposto pela psicóloga Marilda Lipp. A linha de cuidado utilizou a técnica educativa para a conscientização do que o paciente apresentava e ofereceu o cuidado através de práticas integradas e complementares para introduzir qualidade de vida ao cotidiano do seu Almir. No vídeo a seguir, a especialista irá explicar detalhadamente as principais formas de prevenção e tratamento do estresse. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EXISTEM DIVERGÊNCIAS COM RELAÇÃO À BASE CONCEITUAL DO ESTRESSE, MAS ESTA PERGUNTA DEVE SER RESPONDIDA UTILIZANDO A PROPOSTA APRESENTADA PELO MODELO QUADRIFÁSICO, NO QUAL O ESTRESSE PODE PROGREDIR E PERCORRER AS QUATRO FASES DO MODELO. QUAIS SÃO ELAS: A) Alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão. B) Inicial, intermediário, pré-final e final C) Aguda inicial, aguda, crônica inicial e crônica D) Vazio, compulsão, desespero e medo E) Expectativa, internalização, angústia e sintomas 2. ESTUDAMOS QUE AS PESSOAS ACOMETIDAS PELO ESTRESSE PODEM SER CUIDADAS POR MÉDICOS, PSICÓLOGOS E/OU POR PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM COM AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE MENCIONA DUAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES UTILIZADAS PELOSISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): A) Nutrição e fisioterapia B) Terapia de grupo diário de vida C) Acupuntura e meditação D) Nutrólogo e educador físico E) Endocrinologista e psicoterapia GABARITO 1. Existem divergências com relação à base conceitual do estresse, mas esta pergunta deve ser respondida utilizando a proposta apresentada pelo Modelo Quadrifásico, no qual o estresse pode progredir e percorrer as quatro fases do modelo. Quais são elas: A alternativa "A " está correta. O Modelo Quadrifásico propõe que o estresse progride e percorre quatro fases, chamadas de alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão. 2. Estudamos que as pessoas acometidas pelo estresse podem ser cuidadas por médicos, psicólogos e/ou por profissionais que trabalham com as práticas integrativas e complementares. Assinale a alternativa que menciona duas práticas integrativas e complementares utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS): A alternativa "C " está correta. As práticas integrativas e complementares são recursos voltados à prevenção e promoção de saúde. Hoje existem 29 práticas reconhecidas e adotadas pelo SUS, como acupuntura e meditação. MÓDULO 2 Descrever as fobias e o transtorno de ansiedade generalizada De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), os transtornos de ansiedade compartilham características como o medo e a ansiedade excessivos, causando perturbações comportamentais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Veremos a seguir, de forma sumária, alguns destes transtornos e como eles podem prejudicar a qualidade de vida das pessoas. TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO Durante o desenvolvimento, sabemos que o bebê estabelece vínculos e uma relação de apego com a figura de cuidado. Isto é necessário para o bom desenvolvimento emocional e psicológico da criança. Porém, à medida que cresce, chega a hora de a criança experimentar a angústia da separação, que ocorre quando a figura de apego deixa de estar o tempo todo ali do seu lado. No início é difícil, mas de modo geral esta fase tende a ser superada. Quando essa superação não ocorre, a criança experimenta um sofrimento excessivo, um medo desproporcional, relutância em sair de casa para não se separar da figura de apego, pensamentos recorrentes relacionados à perda da figura valorosa, entre outros. Mcimage / Shutterstock.com No caso do transtorno de ansiedade de separação, a ansiedade excede o esperado em relação ao estágio de desenvolvimento da criança. Ao ser separada das figuras de apego, a criança apresenta comportamento de retraimento social, apatia, tristeza, problemas de rendimento na escola e dificuldade de concentração. Pode se recusar até a ir à escola, demonstrando raiva e chegando a agredir aqueles que tentam forçar a separação. Em alguns casos, observa-se o surgimento de medos que a criança não tinha, como medo de animais, do escuro e até medo de situações em que percebe perigo para si ou para a família. Essa criança pode se tornar um adulto dependente. A falta de segurança e confiança em si, no outro e no mundo predispõe a que, nas demais fases do ciclo vital, essa pessoa vivencie a ansiedade de separação. MUTISMO SELETIVO No mutismo seletivo, há predominância da ansiedade social. Na maioria das vezes, a pessoa só fica à vontade para se relacionar com sua família nuclear. Nos demais contextos, tem prejuízo nas interações, o que acarreta consequências no seu desenvolvimento social, acadêmico e profissional. A pessoa sente enorme dificuldade para falar em público e participar de trabalhos em grupo, embora mantenha o desejo de estar presente sem a obrigação de participar ativamente. Monkey Business Images / Shutterstock.com A tentativa de ajuda muitas vezes agrava a situação, especialmente quando terceiros insistem para que o sujeito participe e interaja no grupo. Esses movimentos o deixam ainda mais exposto, fato que o estimula a se manter em isolamento como forma de se autopreservar — assim evita passar pela situação constrangedora novamente, por mais que goste de todos e queira estar presente. Pessoas com mutismo seletivo preferem optar pela posição de escuta e não de fala, podendo participar em alguns momentos de interação através da comunicação não verbal. Este transtorno é relativamente raro na infância, com uma prevalência entre 0,3 % e 1%, dependendo do contexto e da idade. O início da perturbação tende a aparecer antes dos 5 anos, mas muitas vezes só é tratada quando a criança entra na escola. Seu curso é desconhecido, mas, a partir dos casos observados, podemos afirmar que a maioria das crianças supera o problema com o passar do tempo. FOBIA ESPECÍFICA Um conceito generalista de fobia refere-se a medo e ansiedade desproporcionais diante de um determinado objeto ou situação. Aqui é importante distinguirmos os termos medo e ansiedade: Medo É uma reação natural do corpo em contato com uma ameaça real; neste caso o objeto está de fato presente. Ansiedade Também existe uma resposta fisiológica a uma situação ou objeto, só que neste caso o gerador de ansiedade não está presente, a ameaça é considerada como uma possibilidade futura. A fobia está relacionada a um tipo de emoção, o medo, que é acompanhado por ansiedade. Ambos se apresentam com intensidades variáveis dependendo do nível de exposição diante do objeto ou situação. Portanto, para entendemos a fobia, é necessário conhecer seus sintomas e suas consequências. Na literatura, existe uma distinção que nos permite identificar os objetos e as situações que provocam a reação fóbica como estímulos fóbicos e os objetos/situações temidos como especificadores. EXEMPLO No caso de uma pessoa que sinta pavor diante de um inseto, uma mosca representaria o estímulo fóbico e o especificador seria a classificação deste pavor como uma fobia animal. Existem situações em que o sujeito se mantém próximo ao estímulo fóbico. Essa escolha pode intensificar mais ainda o medo e a ansiedade, podendo evoluir para um quadro de pânico. Dependendo da intensidade do medo fóbico, as consequências podem ser as mais diversas, até comprometer a funcionalidade da pessoa. Em alguns casos, o sujeito pode utilizar a esquiva como estratégia para evitar o estímulo fóbico e, nesses casos, o medo e a ansiedade acabam trazendo prejuízos à sua vida. EXEMPLO Em uma mudança de emprego (por medo, o sujeito perde a oportunidade de alcançar uma realização pessoal) ou numa programação de férias (por medo de avião, o sujeito deixa escapar a chance de conhecer lugares diferentes). A pergunta inevitável: “Como identificamos se os sintomas estão relacionados a uma fobia e não a outro tipo de transtorno?”. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) considera alguns critérios, entre eles, o de que os sintomas de fobia devem estar presentes durante pelos menos 6 meses e ter pelo menos três especificadores diferentes, sejam eles de: andriano.cz / Shutterstock.com ORDEM SITUACIONAL Fobia em elevadores e ambientes fechados. Goncharov_Artem / Shutterstock.com ORDEM ANIMAL Fobia de animais, insetos etc. Pixabay ORDEM AMBIENTAL Fobia de mar, ventania, altura etc. Pixy SANGUE-INJEÇÃO-FERIMENTOS Fobia de procedimentos médicos invasivos. No momento da avaliação clínica, é de extrema importância observar que a pessoa precisa sentir-se ameaçada e ter reações de medo e ansiedade significativas diante do estímulo fóbico. Sempre lembrando que a esquiva, ou seja, evitar o estímulo fóbico, dependendo da sua intensidade, pode levar o sujeito à perda de funcionalidade. TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL) No caso do transtorno de ansiedade social, conhecido também como fobia social, o medo desproporcional, a ansiedade e a esquiva acontecem em função da crença do sujeito de que o ambiente pode oferecer perigos, como, por exemplo, a avaliação negativa à sua conduta. Essa percepção pode provocar sentimento de humilhaçãoe, desta forma, a pessoa pode se sentir rejeitada ou, em resposta, pode ofender o outro como defesa. Fonte: Wikimedia Esta condição acarreta prejuízos na funcionalidade geral do sujeito, interferindo no seu desempenho em situações públicas e sociais, especialmente afetando a capacidade de comunicar-se e impedindo a construção de vínculos tanto na vida pessoal como na profissional. Os ambientes e as pessoas passam a ser ameaçadores e, assim, a esquiva (muitas vezes expressa pelo isolamento) acaba comprometendo a qualidade de vida da pessoa. As pessoas com este distúrbio podem se apresentar como muito submissos, com uma postura corporal rígida, contato visual escasso e até falar num tom de voz quase inaudível. Muitos se tornam tímidos e retraídos e buscam realizar tarefas e trabalhos que não exijam muito contato social. Atualmente, temos acompanhado uma parcela significativa de jovens e adolescentes vivendo nesse isolamento, o que compromete a autoestima e as interações sociais. Para alguns, os jogos representam a interface para interagir com o outro e o mundo; para outros, o uso dos computadores e celulares aumentam o isolamento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem apresentado dados alarmantes relacionados à saúde mental de jovens, nos quais a ansiedade, em muitos casos, é o começo de um quadro patológico que evolui passando para depressão e chegando, em situações extremas, ao suicídio. AGORAFOBIA Neste tipo de transtorno psicológico, os gatilhos são disparados em várias situações: permanecer em lugares abertos, permanecer em lugares fechados (onde não se tem a certeza de poder sair com facilidade), transporte público, filas e multidões. Em alguns casos, os sintomas de medo e ansiedade podem ser suportados com a presença de outra pessoa. Fonte: Pixabay EXEMPLO Podemos citar como exemplo uma pessoa que decide ir a um show, chega cedo e não percebe que o ambiente está ficando cheio. De repente se dá conta da multidão ao seu redor e os sintomas iniciam: o medo de não conseguir sair do local, a ansiedade de passar mal e que o socorro não chegue até ela... Os diferentes medos levam a um estado de paralisia e terror. Em alguns casos, a agorafobia tem relação com outros transtornos de ansiedade, como o transtorno de pânico e o ataque de pânico. Na condição mais severa, os sujeitos acabam restritos às suas casas e incapazes de sair — até mesmo dependentes de outras pessoas, especialmente daquelas que os fazem sentir seguros ou as que reconhecidamente ajudarão no caso de uma crise. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA – TAG O transtorno de ansiedade generalizada está associado a uma preocupação excessiva e não específica. O sujeito experimenta uma apreensão de que, a qualquer momento, coisas ruins possam acontecer, causando irritabilidade e cansaço mental. O sono e outras funções do organismo ficam comprometidos, afetando a qualidade de vida devido também à tensão e à inquietação vivenciadas durante todo o dia. O desempenho nas atividades terá grande chance de ficar comprometido, tanto as de ordem pessoal quanto social ou profissional. Este transtorno apresenta maior prevalência em mulheres. Alguns autores explicam a vulnerabilidade feminina pelo fato de que as mulheres têm uma preocupação excessiva em diferentes responsabilidades. Colocam-se em múltiplas funções, querem dar conta de tudo, costumam ter um nível alto de exigência consigo mesmas e, com isso, um nível igualmente alto de tensão para dar conta de tudo. Por esses motivos, vivem padecendo pelas impossibilidades e adversidades, contando com o pior. Fonte: Pixabay TAG é um dos transtornos psicológicos mais desgastantes e se associa a diversas comorbidades como depressão e problemas de saúde física. A preocupação constante e excessiva que o sujeito experimenta prejudica a sua capacidade para fazer as tarefas do dia de forma rápida e eficiente, tanto em casa como no trabalho. Isto toma tempo e energia, causando um importante desgaste físico e emocional associado a cansaço, tensão muscular, irritabilidade, problemas na concentração e no desempenho em atividades corriqueiras. Podemos afirmar que este é um dos mais incapacitantes dos transtornos de ansiedade. Os pacientes experimentam sintomas somáticos como sudorese, náusea, diarreia, cefaleia, entre outros. Já taquicardia, falta de ar e tonturas são menos frequentes do que em outros transtornos de ansiedade, como no caso do transtorno do pânico. O TAG costuma aparecer por volta dos 30 anos, e os sintomas, quando não tratados, tendem a se tornar crônicos, apresentando remissões e recidivas ao longo da vida. TRANSTORNO DE ANSIEDADE INDUZIDO POR SUBSTÂNCIA/MEDICAMENTO Neste caso, os sintomas de ansiedade apresentados pelo sujeito encontram-se associados à ingestão de uma droga lícita ou ilícita. Às vezes a pessoa está utilizando um remédio para uma finalidade, porém, ela vai a outro especialista que lhe indica um segundo medicamento que terá outra função. Fonte: Pixabay Ao iniciar a combinação dos dois medicamentos, o sujeito começa a ter sintomas relacionados a ataques de pânico e ansiedade causados pela interação medicamentosa. Na medida em que isso é revisto, os sintomas desaparecem. Por este motivo, é necessário informar aos médicos todos os medicamentos que tomamos num momento determinado. TRANSTORNO DE ANSIEDADE EM RAZÃO DE OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA Neste transtorno, existem claras evidências obtidas pelo exame físico, pelo histórico do sujeito ou por exames laboratoriais de que os sintomas de ansiedade apresentados são consequência fisiopatológicas de alguma condição médica preexistente. Para o clínico ter certeza dessa relação, é necessário que ele verifique criteriosamente a relação temporal entre a condição física e os sintomas de ansiedade, entre outros aspectos. Muitas condições médicas podem causar sintomas de ansiedade significativos, como hipertireoidismo, hipoglicemia, distúrbios cardiovasculares, distúrbios metabólicos e doenças respiratórias. Por isso precisamos diferenciar o transtorno de ansiedade causado por outra condição médica dos casos em que a ansiedade surge na medida em que é comunicado ao sujeito seu diagnóstico e prognóstico. Acontece de a notícia mudar o curso da vida da pessoa, este instante é chamado de “comunicação de más notícias”. Neste momento, pode ser disparado o gatilho para o início de sintomas de ansiedade, entendendo que a pessoa ainda terá pela frente o tratamento da doença. EXEMPLO Um paciente é diagnosticado com a Covid-19. No seu caso, apesar dos sintomas de cansaço, dores no corpo e febre, ele poderá realizar o tratamento em casa. O médico apenas recomenda a compra do oxímetro e que “fique atento”, que voltasse ao hospital em caso de qualquer alteração no quadro. A frase “fique atento” se torna um gatilho, provocando que a todo instante o paciente fique de olho no oxímetro e sentindo os sintomas de falta de ar e ansiedade. Como lidar com ansiedade durante a Covid-19? Conheça as principais formas de prevenção da ansiedade durante a pandemia. Assista ao vídeo a seguir. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O MEDO DESPROPORCIONAL, A ANSIEDADE E A ESQUIVA ACONTECEM EM FUNÇÃO DA CRENÇA DE QUE O AMBIENTE PODE OFERECER PERIGOS, COMO POR EXEMPLO, A AVALIAÇÃO NEGATIVA DA SUA CONDUTA. ESSA PERCEPÇÃO PODE PROVOCAR SENTIMENTOS DE HUMILHAÇÃO E, DESTA FORMA, GERAR UM COMPORTAMENTO NO QUAL SE SENTIRÁ REJEITADO OU IRÁ OFENDER O OUTRO COMO DEFESA. ESTE CONCEITO ESTÁ RELACIONADO A QUAL TRANSTORNO? A) Mutismo seletivo B) Agorafobia C) Transtorno de ansiedade social (fobia social) D) Ansiedade generalizada E) Outro transtorno de ansiedade não especificado 2. QUANDO AS PESSOAS APRESENTAM MEDO DESPROPORCIONAL E ANSIEDADE DISPARADOS POR GATILHOS COMO: ESTAR EM LUGARES ABERTOS POR MUITO TEMPO; ESTAR EM LUGARES FECHADOS ONDE NÃO TÊM A CERTEZA DE QUE PODEM SAIR COM FACILIDADE; USO DE TRANSPORTE PÚBLICO, ESTAR EM GRANDES ESPAÇOS APERTADOS, FILAS OU FICARNO MEIO DE MULTIDÃO, ESTAMOS NOS REFERINDO A QUAL TRANSTORNO? A) Mutismo seletivo B) Transtorno de ansiedade social (fobia social) C) Agorafobia D) Ansiedade generalizada E) Outro transtorno de ansiedade não especificado GABARITO 1. O medo desproporcional, a ansiedade e a esquiva acontecem em função da crença de que o ambiente pode oferecer perigos, como por exemplo, a avaliação negativa da sua conduta. Essa percepção pode provocar sentimentos de humilhação e, desta forma, gerar um comportamento no qual se sentirá rejeitado ou irá ofender o outro como defesa. Este conceito está relacionado a qual transtorno? A alternativa "C " está correta. No transtorno de ansiedade social (fobia social), o medo desproporcional e a ansiedade na crença de que o mundo oferece perigos comprometem o comportamento e a funcionalidade da pessoa, na medida em que ela passa a responder através de ofensas como forma de defesa ou passa a se sentir rejeitada pelas outras pessoas, buscando o isolamento. 2. Quando as pessoas apresentam medo desproporcional e ansiedade disparados por gatilhos como: estar em lugares abertos por muito tempo; estar em lugares fechados onde não têm a certeza de que podem sair com facilidade; uso de transporte público, estar em grandes espaços apertados, filas ou ficar no meio de multidão, estamos nos referindo a qual transtorno? A alternativa "C " está correta. Na agorafobia, o medo desproporcional e a ansiedade surgem em situações em que a pessoa se percebe sem controle. MÓDULO 3 Descrever a síndrome do pânico O QUE É SÍNDROME DO PÂNICO? Vamos nos apropriar de alguns conceitos definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como norte para a descrição da síndrome do pânico. Para a OMS: Doença Significa um desequilíbrio na condição física do sujeito com uma causa conhecida; Síndrome É utilizada para designar um conjunto de sintomas que não necessariamente têm uma causa definida, mas múltiplos fatores. Transtorno É um termo muito utilizado na saúde mental, que indica alterações de ordem psíquica associadas a diversos fatores, desde influências genéticas até socioculturais. A primeira publicação que menciona oficialmente o termo transtorno do pânico é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 3ª edição (DSM-3), que o definia como desordens causadas pelos ataques recorrentes e intensos de ansiedade, os quais provocam comprometimento severo na funcionalidade da pessoa, assim como sofrimento psíquico profundo. Posteriormente, um novo conceito sobre pânico foi introduzido na publicação da 4ª edição do mesmo manual, ataque de pânico (AP), configurando outra condição: a de episódios isolados que não manifestam a sintomatologia presente no transtorno do pânico. Fonte: Freepik Os sintomas, no caso do AP, duram em média de 5 a 30 minutos e são observados picos de ansiedade com sentimentos e fantasias de catástrofes iminentes. Para os profissionais da área de saúde, o conhecimento dessas diferenças é de extrema importância em razão da necessidade de identificação para o diagnóstico e a condução do tratamento. Em 2013, uma nova atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais é publicada. Nesta 5ª edição (DSM-5), as desordens denominadas de transtorno do pânico (TP) se localizam no capítulo designado aos “transtornos de ansiedade”. A descrição de sua sintomatologia é mantida, considerando o TP como a desordem causada pelos ataques recorrentes e intensos de ansiedade que atingem seu ápice em poucos minutos. Os sintomas precisam estar presentes com início súbito. Dessa forma, os termos transtorno do pânico e síndrome do pânico possuem o mesmo significado, podendo levar a pessoa a ter um comportamento irracional, como abandonar seu carro e correr no meio do trânsito pedindo ajuda, afirmando que está morrendo ou sofrendo um infarto. Nesse caso, precisará de apoio medicamentoso, psicoterápico e de uma boa rede de apoio para se reestabelecer. PREVALÊNCIA E COMORBIDADES A prevalência do transtorno do pânico é duas vezes maior em mulheres, fato que talvez se explique pela diferença sociocultural: as mulheres tendem a assumir diferentes papéis e responsabilidades desde cedo, contrariamente à maioria dos homens. O transtorno do pânico normalmente surge no final da adolescência e início da vida adulta, um momento de escolhas profissionais e ingresso no mercado de trabalho, ou seja, o enfrentamento dos desafios que o mundo adulto exige de todos nós. Photographee.eu / Shutterstock.com ATENÇÃO Vale ressaltar que são raríssimos os casos infantis. VOCÊ SABIA Chega a quase 100% a probabilidade de quem tem transtorno do pânico desenvolver uma comorbidade psiquiátrica. Em sua maioria, terão o diagnóstico do transtorno do pânico e como comorbidade a agorafobia. Os que não tiverem esta fobia, terão algum outro tipo de transtorno de ansiedade, mais comumente fobia específica, ansiedade social, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ou ansiedade de separação. Photographee.eu / Shutterstock.com DESAFIOS DO DIAGNÓSTICO Quando falamos na etiologia do transtorno do pânico, ou seja, sua origem, estamos nos referindo a fatores tanto de ordem genética quanto ambientais: Fatores de risco relacionados à genética Estariam presentes na família nuclear, considerados de primeiro grau. Fatores ambientais Incluem-se os traumas vivenciados na infância, como também o estresse na vida adulta. Fonte: Freepik O diagnóstico do transtorno do pânico é desafiador, na medida em que sua base é clínica e depende de uma escuta empática. Neste caso, estamos chamando a atenção para a disponibilidade genuína do profissional da saúde em ouvir a dor do outro, além de um olhar atento aos detalhes por meio da observação, para que seja possível uma diferenciação precisa do que é da ordem do transtorno ou do ataque de pânico. Fonte: Wikimedia Outra alternativa de diagnóstico advém das investigações realizadas através de recursos de imagem e exames laboratoriais que descartam outras patologias, permitindo, dessa forma, estabelecer um diagnóstico diferencial, processo no qual se chega a um diagnóstico eliminando outras possíveis causas. O tratamento do transtorno do pânico busca minimizar os prejuízos na funcionalidade da pessoa que comprometam a sua integridade biopsicossocial e espiritual. Desta forma, a linha de cuidado deve abranger as diversas dimensões que compõem o sujeito, o que nos aponta para o modelo de trabalho interdisciplinar, no qual os profissionais envolvidos estabeleçam trocas e dividam conquistas. Como já foi mencionado, a linha de frente seria a Psiquiatria, a Psicologia e a rede de apoio da pessoa em tratamento. Porém, pode-se ir além e envolver outros profissionais que contribuam com o processo de tratamento e cuidado. TRATAMENTO E INTERDISCIPLINARIDADE Vamos imaginar uma pessoa com transtorno de pânico diagnosticada e iniciando seu tratamento. O ponto de partida será, sem dúvida, o acompanhamento medicamentoso, para que seu corpo possa retornar ao estado de homeostase, permitindo que outros profissionais consigam acessar a pessoa. O psicólogo fará seu trabalho em conjunto com o paciente na análise das possíveis causas que serviram de gatilho para os sintomas do seu transtorno; também deve-se buscar a rede de apoio da pessoa em tratamento, na medida em que sabemos de fatores de risco que podem complicar o quadro e a recuperação do indivíduo. Outras formas de cuidado podem ser somadas ao tratamento, como a expertise do educador físico, proporcionando através das práticas um melhor condicionamento do corpo e a liberação de hormônios que contribuem para o cuidado físico e mental. O profissional de nutrição também pode ajudar nas escolhas alimentares com o objetivo de potencializar e ativar recursos internos que ajudam no processo de melhoria da qualidade de vida. Outra possibilidade seria o uso das práticas integrativas e complementares (acupuntura,yoga, meditação) reconhecidas pelo Ministério da Saúde através da Política Nacional sancionada em 2006, que permitem criar condições para que as pessoas acometidas desse transtorno possam, através de cuidado e estimulação eficientes, retornar ou desenvolver práticas que proporcionem sentimentos de paz e harmonia. O ATAQUE DE PÂNICO — AP Convém ressaltar aqui que o ataque de pânico (AP) não é considerado um transtorno mental, portanto, ele não aparece codificado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5). Sua ocorrência se dá em diversos transtornos (incluindo o transtorno de pânico) e, como vimos, sua manifestação é abrupta, porém de curta duração, variando de 5 até 30 minutos. Fonte: Freepik Como no transtorno do pânico, a pessoa também vivencia uma série de sintomas. Mas, no caso do ataque de pânico, não há comprometimento da sua funcionalidade. Isso não quer dizer, no entanto, que não haverá prejuízos, visto que a pessoa sente que sua capacidade de autocontrole fica comprometida. Viver esse sentimento de impotência pode acarretar problemas na autoestima, dificultando as interações sociais e levando ao isolamento social. PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO DO AP Assim como no transtorno do pânico, as mulheres são as mais atingidas pelo AP. A incidência dos casos é observada principalmente a partir da puberdade, raramente no início da infância e menos frequente ainda na velhice. Os fatores de risco, de acordo com o DSM-5, estão relacionados às questões ambientais e temperamentais. Os ataques de pânico podem acontecer também com o uso de drogas lícitas e ilícitas ou com experiências familiares inesperadas, como a morte de algum parente ou o surgimento de uma doença grave. Quando nos referimos ao AP, estamos considerando que sensações corporais de morte eminente colocam a pessoa em uma condição de vulnerabilidade, podendo nesses casos ter uma resposta comportamental que a coloca em uma situação de risco, como uma conduta de autolesão ou até mesmo a tentativa de suicídio. Não que haja o desejo em si de pôr fim a própria vida, mas a necessidade de se libertar dos sintomas pode levar a essa medida desesperada. Fonte: freepik Pensando no momento em que vivemos hoje, em que há evidente fragilidade nas perspectivas de oportunidades para a população de modo geral. É importante se pensar na prevenção e na promoção da saúde mental em diferentes contextos — na família, no ambiente acadêmico e profissional, no fortalecimento das redes de apoio —, enfatizando a importância da qualidade dos vínculos afetivos como um fator de proteção no cuidado de nossa saúde física e mental. ATENÇÃO Os profissionais de saúde têm um papel bastante relevante nesse sentido, pois estão próximos das pessoas em sofrimento psíquico. O trabalho junto a esta população pode ser desenvolvido de diversas formas: através de grupos comunitários, treinamento em habilidades socioemocionais, mas, acima de tudo, com práticas para o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais. Dessa forma, a pessoa terá espaço e encorajamento para o cuidado da sua autoestima, mantendo a crença na sua capacidade de resposta às demandas e exigências do meio no qual está inserida. Assim compreendemos a importância do papel dos profissionais de saúde no cuidado integral da pessoa em sofrimento. As equipes interdisciplinares podem construir juntas um projeto terapêutico singular que privilegie as individualidades e identifique sua rede de apoio, buscando o envolvimento de todos. Através desse olhar se torna possível avaliar o nível de saúde dessa rede, pois um sistema de apoio empobrecido comprometeria o êxito de todo o projeto. Em algumas situações, caberá a inclusão das pessoas envolvidas no cuidado em grupos de apoio. Um modelo de trabalho com esta visão permite o protagonismo da pessoa e não o do transtorno/doença. Assista ao vídeo a seguir sobre as principais formas de prevenção da síndrome do pânico. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DE ACORDO COM OS ESTUDOS SOBRE TRANSTORNO DO PÂNICO, QUE CARATERÍSTICA MARCANTE DIFERENCIA O TRANSTORNO DO PÂNICO DO ATAQUE DE PÂNICO , CONTRIBUINDO COM OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA ESTRUTURAÇÃO DE SEU DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO? A) O tempo de permanência dos sintomas. B) Questões relacionadas ao gênero. C) Questões socioculturais. D) Uma acontece na fase da adolescência e a outra na velhice. E) A qualidade do sono. 2. AS PATOLOGIAS, DE UM MODO GERAL, APRESENTAM SEUS FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO. NO CASO DA SÍNDROME OU TRANSTORNO DO PÂNICO, PODEMOS DIZER QUE EXISTEM TRÊS FATORES QUE INTERFEREM NA SAÚDE MENTAL DOS INDIVÍDUOS, QUAIS SÃO ELES? A) Família, amigos e relacionamento íntimo B) Genéticos, ambientais e temperamentais C) Pessoal, trabalho e religião D) Estado de alerta, sensação e percepção E) Família de nuclear, família de origem e família estendida GABARITO 1. De acordo com os estudos sobre transtorno do pânico, que caraterística marcante diferencia o transtorno do pânico do ataque de pânico , contribuindo com os profissionais de saúde na estruturação de seu diagnóstico e intervenção? A alternativa "A " está correta. O ataque de pânico acontece de forma isolada com duração de 5 a 30 minutos. 2. As patologias, de um modo geral, apresentam seus fatores de risco e proteção. No caso da síndrome ou transtorno do pânico, podemos dizer que existem três fatores que interferem na saúde mental dos indivíduos, quais são eles? A alternativa "B " está correta. Os fatores genéticos estão relacionados aos parentescos de primeiro grau, à fisiologia; os ambientais estão ligados às experiências infantis; e, por fim, os temperamentais estão relacionados a questões de afetividade negativa. MÓDULO 4 Identificar o transtorno obsessivo-compulsivo — TOC TOC: DO CONCEITO AO DIAGNÓSTICO De forma geral, podemos afirmar que o TOC é um transtorno caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos que causam prejuízo ao funcionamento global do indivíduo, provocando um grande sofrimento psíquico e o comprometimento nas relações pessoais, acadêmicas e profissionais. Andrey_Popov / Shutterstock.com VOCÊ SABIA Sua prevalência varia entre 1,1% a 1,8%, dependendo da população e contexto, com uma incidência maior no público feminino. Os sintomas aparecem de forma gradual em muitos dos casos — um início abrupto é pouco observado. Normalmente, os primeiros sintomas do TOC aparecem no começo da fase adulta, em média aos 20 anos, mas existe uma considerável proporção de casos que já apresentam sintomas antes dos 14 anos de idade. O aparecimento dos primeiros sintomas depois dos 35 anos é incomum. É importante destacar que o curso deste transtorno é geralmente crônico e os sintomas podem variar de intensidade ao longo da história do paciente. Alguns indivíduos apresentam um curso episódico, em que os sintomas vão e voltam de forma recorrente — são poucos os casos relatados com perda da função cognitiva e das habilidades mentais. O diagnóstico costuma ser tardio, pela resistência dos sujeitos em aceitar a condição e buscar ajuda. Dessa forma, o tratamento fica comprometido e o prognóstico ruim. O transtorno obsessivo-compulsivo fazia parte da categoria dos transtornos de ansiedade no DSM-4, mas no DSM-5 ganha uma categoria separada. Foi enquadrado com outros transtornos que apresentam ou compulsões ou obsessões, como por exemplo o transtorno dismórfico corporal, o transtorno de acumulação, tricotilomania, o transtorno de escoriação e outros. Em algumas ocasiões, durante o tratamento, o paciente pode passar a ideia de ter atingido a estabilidade em seus pensamentos e comportamentos, porém, o sofrimento psíquico se mantém, provocando desgastes no funcionamento global do indivíduo — em algumas situações, o quadro pode se agravar por tentativas de suicídio em função dos sentimentos incapacitantes que o transtorno produz. As causas do TOC ainda são desconhecidas,mas a literatura apresenta uma complexa rede de fatores envolvidos. Até o momento as informações confirmadas referem-se às questões de ordem neurobiológica, genética e ambiental. Porém, pouco se sabe sobre como ocorrem essas interações ao ponto de definir a condição para o surgimento do transtorno. É possível afirmar que existe uma maior vulnerabilidade por parte de indivíduos que apresentem antecedentes genéticos e biológicos e que, ao entrarem em contato com o meio ambiente, apresentam maior predisposição para o surgimento de sintomas relativos ao transtorno. SAIBA MAIS Os estudos apontam uma relação entre o TOC e o histórico de abuso físico ou sexual e outros eventos estressantes e traumáticos. Por outro lado, no caso de adultos que apresentam familiares de primeiro grau com o transtorno, a probabilidade de diagnóstico de TOC é duas vezes maior em relação às pessoas com parentes de primeiro grau sem o transtorno. OBSESSÕES E COMPULSÕES Obsessões são pensamentos, ideias e imagens que invadem a mente do indivíduo de forma constante, causando sofrimento intenso, na medida em que não consegue contê-los. Em outras palavras, as obsessões se manifestam de forma intrusiva e geram angústia para o sujeito. Os comportamentos compulsivos são as ações repetitivas utilizadas como estratégia de controle dos pensamentos. Importante mencionar que as ações de controle nem sempre são visíveis. Fonte: Freepik Lavar as mãos repetidas vezes para controlar os pensamentos relacionados à contaminação é visível, sem dúvida nenhuma; mas em alguns casos o sujeito apresenta ações mentais compulsivas, de forma que todas as vezes que pensar que pode se contaminar, ele reza mentalmente. Uma compulsão muito frequente é o ato de contar. As obsessões podem variar de tipologia. Podemos classificá-las em grupos: Contaminações: aversões a sujeira, vírus, radioatividade. Fonte: pixnio.com Simetrias: perfeição, alinhamento, excesso na organização. Fonte: Freepik Evitação de danos: impulsos ou pensamentos de ferir alguém através de atos físicos ou verbais ou mesmo ferir-se. Fonte: Freepik Acumulações: necessidade de armazenar, poupar, guardar coisas que não têm utilidade, dificuldade em desapegar-se. Quando nos referimos às obsessões, consideramos também os pensamentos desagradáveis que invadem a mente e ali persistem, causando angústia e ansiedade. Podem ser de conteúdo diverso: sexual, dificuldade de escolhas, pensamentos mágicos e religiosos. Mas o que importa é que, para manter o controle dos pensamentos, é necessária a elaboração de rituais, identificados através dos comportamentos compulsivos que garantem esse controle, mas que comprometem a funcionalidade da vida diária da pessoa. Quanto mais grave e intensa forem as obsessões e comportamentos compulsivos, mais refém de si mesmo a pessoa ficará. Uma boa ilustração dessa condição é o filme Melhor é impossível, estrelado por Jack Nicholson e dirigido por James L. Brooks. TOC: MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS A manifestação do transtorno obsessivo-compulsivo pode ocorrer a partir de fatores ambientais, como traumas vivenciados na infância ou agentes estressores que surgem na fase adulta. Os sintomas na infância são raros, mas, quando acontecem, costumam surgir por volta dos 10 anos de idade. O transtorno ocorre a partir da invasão de pensamentos, ideias e imagens mentais, provocando uma imensa ansiedade e sofrimento psíquico, simplesmente porque essas informações nunca são de ordem positiva, e sim negativa, causando angústia e tornando a vida da pessoa insuportável. Em algumas situações, o paciente não consegue enxergar outra saída diferente do suicídio, comportamento visto como a única forma de cessar seu sofrimento. Fonte: freepik As estratégias ou os comportamentos compulsivos são ações válidas que outras pessoas sem o transtorno podem realizar ocasionalmente. Mas no caso do TOC, essas ações são evidenciadas em quantidade e intensidade desproporcional. Muitas vezes os sujeitos seguem rituais que incapacitam suas vidas e, em geral, enfrentam grandes desafios com a empregabilidade e as relações interpessoais. Há uma dúvida recorrente relacionada à capacidade da pessoa perceber sua condição. Podemos dizer que uma parcela significativa das pessoas acometidas pelo TOC consegue essa percepção, o que não significa a busca pela ajuda. É sempre bom lembrar que ainda existe muito estigma relacionado aos transtornos mentais e ao tratamento psiquiátrico, infelizmente. TRATAMENTO As indicações de tratamento do TOC consideradas de primeira linha seriam as medicamentosas (inicialmente com o uso de antidepressivos), a psicoterapia com a indicação da abordagem cognitivo-comportamental e a rede familiar. Este apoio precisa ter uma atitude ativa para não reforçar o comportamento compulsivo, de forma que, ao ser solicitado pelo paciente que valide o impulso compulsivo, é fundamental que o interlocutor adote uma postura assertiva diante da solicitação, apontando a disfuncionalidade de forma clara e precisa. As diretrizes de tratamento estarão condicionadas à intensidade dos sintomas, ou seja, o quão incapacitante o transtorno está sendo na vida do indivíduo. ATENÇÃO Em casos mais graves, existe a necessidade de uma combinação maior de medicamentos, como antidepressivos associados a ansiolíticos, ou a utilização de antipsicóticos. Todos esses medicamentos ministrados em altas dosagens produzem efeitos colaterais severos. É preciso tomar cuidado. Através da observação clínica foi constatado que existem casos em que a pessoa prefere conviver com os sintomas a se arriscar com os efeitos causados pelos remédios. Isso é preocupante, na medida em que quanto mais tardiamente o tratamento tiver início pior será a resposta às intervenções, ou seja, um prognóstico ruim para as expectativas de reestabelecimento mínimo da qualidade de vida da pessoa com o transtorno obsessivo- compulsivo. SAIBA MAIS Atualmente, além das práticas até então utilizadas, muitos psiquiatras já usam uma estimulação eletromagnética transcraniana para os casos graves. Mas ainda há muito a ser pesquisado e difundido com relação a esta técnica. Por ser uma terapêutica de custo elevado, não é acessível para uma grande parcela da população; portanto, o quanto antes as pesquisas avançarem, mais pessoas poderão ser beneficiadas com sua utilização. TOC E SEUS DESAFIOS Existem vários filmes, séries e notícias do mundo real que mostram as angústias sofridas pelas pessoas que têm TOC — aquelas que não conseguem se desapegar das coisas ou sentem a necessidade de poupar, economizar e armazenar. São os chamados acumuladores. Em casos graves, são estigmatizados e julgados pelo seu comportamento. Fonte: Freepik Equipes multiprofissionais atuam em conjunto na tentativa de garantir o acompanhamento médico e psicológico dos que sofrem do transtorno, já que o momento da intervenção é de grande sofrimento e pode levar a pessoa a um estado psicótico, quando ela percebe a entrada de estranhos em seu mundo — que, de acordo com sua percepção, está organizado e lhe garante segurança e conforto. O prognóstico nesses casos é bastante ruim pela sua cronicidade, limitação das terapêuticas e falta de rede de apoio. A pandemia da Covid-19 nos leva a outra reflexão relacionada a esses sofrimentos provocados pelos pensamentos obsessivos. A todo momento recebemos informações para o autocuidado com relação a contaminação. Vamos pensar na situação vivenciada pelas pessoas que vinham, ao longo do tempo, tratando de seu transtorno obsessivo-compulsivo, justamente relacionado a pensamentos obsessivos voltados para as questões de contaminação, cujo comportamento compulsivo a ser controlado é justamente o excesso de higienização das mãos, a dificuldade de tocar em superfícies e corrimãos, por exemplo. Fonte: Freepik Imaginem a ambivalência de sentimentos vivenciada por essas pessoas que, por um lado, precisam se prevenircom relação a uma contaminação real e, por outro, combater comportamentos que surgem como forma de defesa e controle diante da possibilidade de uma contaminação provocada por pensamentos obsessivos — pensamentos que invadem sua mente de forma recorrente provocando muito sofrimento psíquico e podendo incapacitá- las para as suas atividades diárias. Importante aqui diferenciar um comportamento compulsivo de uma mania: Mania Também ocorre a repetição de comportamentos, por exemplo “só consigo começar a estudar depois que tomar banho”, porém este movimento não traz prejuízo à vida cotidiana da pessoa. Comportamento compulsivo Enquanto a pessoa não cumpre todo o ritual não se autoriza a continuar suas tarefas. EXEMPLO Se ela entende que para estudar precisa arrumar a mesa dez vezes e no meio perde a contagem, ela retoma do início, porque a possibilidade de que algo ruim possa acontecer não a libera para seguir adiante. Seria mais ou menos assim: “vou arrumar dez vezes a mesa e, ao final, estarei pronta para absorver o conteúdo e me sair bem nas avaliações. Se não contar direito e seguir adiante, meu resultado não será satisfatório”. Para finalizar, é importante a compreensão de que os comportamentos compulsivos não devem ser reforçados, mesmo que a intenção seja minimizar o sofrimento de quem queremos bem. Ao contrário, a melhor forma de ajudar é ser solidário e acolher o outro, porém, sempre que nos solicitar a validação do comportamento, devemos provocar a reflexão. EXEMPLO Se a pessoa já verificou se a porta está fechada várias vezes e nos pede que o faça novamente, devemos dizer a ela que temos certeza de que a porta está fechada e seguimos no que estávamos fazendo. Dessa forma, demonstramos que ela não precisa se preocupar, sua ação foi realizada com êxito, ela pode confiar no que fez e se sentir segura. Esta é a forma que temos de demonstrar nosso afeto e nossa confiança na sua capacidade, mostrar que nos sentimos seguros através de suas ações. Se assumirmos um outro tipo de posicionamento, contribuiremos para a vulnerabilidade da pessoa em sofrimento, reforçando seu comportamento e prejudicando a construção de estratégias que permitam sua funcionalidade nas tarefas cotidianas. Assista ao vídeo a seguir com a explicação da especialista sobre as principais formas de prevenção do TOC. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DE ACORDO COM OS ESTUDOS SOBRE TRANSTORNO OBSESSIVO- COMPULSIVO (TOC), QUAIS FATORES SÃO CONSIDERADOS PARA EFEITO DIAGNÓSTICO — MESMO QUE AINDA HAJA MUITOS ESCLARECIMENTOS A SEREM FEITOS ACERCA DESTE TRANSTORNO? A) Neurobiológico, genético e ambiental B) Físico, químico e biológico C) Físico, cognitivo e psicológico D) Social, cultural e ambiental E) Psicológico, emocional e biológico 2. QUANDO MENCIONAMOS QUE UMA DAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO É A PRESENÇA DE RITUAIS COMO FORMA DE CONTROLE, ESTAMOS NOS REFERINDO A ______________. A) Pensamentos obsessivos B) Comportamentos compulsivos C) Aproximação da religiosidade D) Conexão interpessoal E) Conexão intrapessoal GABARITO 1. De acordo com os estudos sobre transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), quais fatores são considerados para efeito diagnóstico — mesmo que ainda haja muitos esclarecimentos a serem feitos acerca deste transtorno? A alternativa "A " está correta. Há muito estudo pela frente, mas até o momento os estudos confirmados são de que o TOC envolve questões de ordem neurobiológica, genética e ambiental. Porém, ainda é desconhecido como ocorrem essas interações ao ponto de definir a condição para o surgimento do transtorno. 2. Quando mencionamos que uma das características do transtorno obsessivo- compulsivo é a presença de rituais como forma de controle, estamos nos referindo a ______________. A alternativa "B " está correta. Os comportamentos compulsivos são rituais que promovem a sensação de que, a partir dos movimentos executados, a pessoa passa a controlar os pensamentos, as ideias e as imagens ruins que invadem de forma inadequada e intrusiva sua mente. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como apresentamos aqui, mostram-se urgentes o aprimoramento e o aprofundamento dos estudos relativos ao transtorno de ansiedade e ao transtorno obsessivo-compulsivo, em razão do aumento significativo na busca por cuidados nesses casos. Todos que se dedicam ao cuidado da saúde têm esse grande desafio. Os dados apontam para a necessidade de se produzir mais conhecimentos no que se refere à etiologia e prevalência, às características e aos fatores de risco dos transtornos psicológicos. Ter uma melhor compreensão dos quadros patológicos contribuirá para diagnósticos mais precisos e intervenções que devolvam a qualidade de vida às pessoas em sofrimento psíquico. Outro fator importante, sem dúvida nenhuma, é o trabalho de prevenção e promoção da saúde mental; a construção de ações que contribuam não só para conscientizar a população sobre a importância do assunto, mas também dar apoio às pessoas em tratamento e à sua rede de atenção. Essas ações desmitificariam as questões relacionadas aos transtornos psicológicos; os mitos, em muitos casos, impedem as pessoas de buscar tratamento por medo de serem estigmatizadas pelo jugo social. A relevância do trabalho dos profissionais da saúde no que refere aos transtornos psicológicos é evidente e vai muito além do cuidado propriamente dito. Tem a ver com o cuidado de uma pessoa em sofrimento e toda a complexidade que a define, envolvendo sua subjetividade nos diversos contextos: familiar, social, econômico, cultural e histórico. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V: manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Estresse. Biblioteca virtual em saúde, set, 2015. FILGUEIRAS, Julio Cesar; HIPPERT, Maria Isabel Steinherz. A polêmica em torno do conceito de estresse. Psicol. Cienc. Prof., Brasília, v. 19, nº 3, p. 40-51, 1999. LIPP, M.E.N. Stress e suas implicações. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 1, nº 3 e nº 4, p. 5-19, ago./dez. 1984. NOVAES MALAGRIS, Lucia Emmanoel et al. Níveis de estresse e características sociobiográficas de alunos de pós-graduação. Psicol. Rev. Belo Horizonte, v. 15, nº 2, p. 184-203, ago. 2009. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). CID-10: Classificação Internacional de Doenças. Genebra, Organização Mundial da Saúde, Porto Alegre: Artmed, 1992. SALUM, Giovanni Abrahão; BLAYA, Carolina; MANFRO, Gisele Gus. Transtorno do pânico. Rev. Psiquiatr. Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 31, nº 2, p. 86-94, 2009. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, leia: O artigo Conceitos e preconceitos sobre transtornos mentais: um debate, dos pesquisadores Maria Rosilene Cândidoe colaboradores, no site da Pepsic — Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Ouça o áudio: Em Dia Mundial da Saúde Mental, ONU pede mais investimento para combater os efeitos da pandemia, de Alexandre Soares, no site da ONU News. CONTEUDISTA Adriana Bonneterre Pimentel de Oliveira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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