Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO, ATIVIDADES E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ETAPA 3 Autor Liz Ehlke Cidreira Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS 1 MARCOS REGULATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Prezado aluno, nesta últ ima etapa do curso, conheceremos um pouco mais sobre gestão, atividades e implementação de políticas de responsabilidade socioambiental, conhecendo sobre os marcos regulatórios de sustentabilidade em instituições financeiras, risco ambiental para os bancos, gestão de risco socioambiental nas instituições financeiras e principais atividades desenvolvidas pelas instituições bancárias. As instituições bancárias e financeiras, aos poucos, foram obrigadas a internalizar os problemas ambientais, pois, inicialmente necessitavam evitar a responsabilização ambiental por danos causados por seus clientes, os quais recebiam fomento dos bancos para suas atividades. Algumas informações históricas remetem aos primeiros contatos das instituições financeiras com a responsabilidade civil ambiental. Segundo Chaves e Sumar (2015), o primeiro contato das instituições financeiras com a responsabilidade civil ambiental ocorreu em razão do derramamento de resíduos tóxicos em bens imóveis recebidos como garantia de empréstimos nos Estados Unidos. A criação da CERCLA (Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Act) em 1980, ou seja, Lei de Responsabilidade, Compensação e Resposta aos Impactos Ambientais Globais, uma Lei Federal dos EUA também conhecida como Superfundo, trouxe o conceito de partes potencialmente responsabilizáveis (PRPs), sendo ele: “proprietário e operador da área à época da contaminação, responsáveis pelo gerenciamento e para GESTÃO, ATIVIDADES E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ETAPA 3 CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS destinação dos resíduos perigosos e o transportador de resíduos, quando este tiver selecionado a área para a destinação de resíduos perigosos” (CHAVES; SUMAR, 2015, s.p.). No tocante aos proprietários e financiadores de projetos em de áreas com atividade de risco ambiental, a CERCLA define que não estariam englobados nessa classificação (e, portanto, não responsáveis) aqueles que, sem se envolver no dia a dia do gerenciamento da atividade, possuíssem interesse sobre a propriedade (indicia of ownership) apenas com o intuito de garantir seu investimento (security interest). Considerando que, como regra geral, os agentes financiadores não participavam do gerenciamento direto das atividades financiadas, aparentemente, estariam excluídos da responsabilização (CHAVES; SUMAR, 2015). Porém, Tosini (2005, p. 5) informa que “embora a CERCLA tenha criado exceções para proteger as instituições financeiras financiadoras, ocorreram nos EUA, algumas decisões judiciais que responsabilizaram os bancos pela reparação de danos ambientais causados pelos destinatários de créditos”. A mesma autora ainda informa que a Comissão Europeia, em 1989, também emitiu uma diretiva sobre responsabilidade civil para danos ambientais e, nesta diretiva, constava a responsabilização tanto do produtor quanto do atual controlador, havendo a possibilidade dos financiadores se enquadrarem na última condição. Na sequência, no ano de 1990, foi julgado o caso United States vs. Fleet Factors Corporation, o primeiro de uma série de processos judiciais em que a Corte Americana analisava a responsabilidade dos bancos pela reparação ambiental. A Corte decidiu interpretar extensivamente o disposto na CERCLA indicando que, para fins de responsabilização do financiador, não seria necessário que este tivesse envolvimento diário com a gerência da atividade em operação, mas apenas envolvimento suficiente para, em tese, ser capaz de influenciar as decisões sobre a disposição de resíduos perigosos, caso desejasse. O caso era pedido do governo para remediação de área contaminada por indústria têxtil (Swainsboro Print Works) e, por isso, a ação foi proposta tendo como réus a indústria e o banco, sendo que este mantinha, em seu favor, garantia real sobre a propriedade e os equipamentos (Fleet Factors Corporation) (CHAVES; SUMAR, 2015). Segundo Chaves e Sumar (2015), essa decisão derrubou a segurança jurídica que a CERCLA oferecia às instituições financeiras, tendo em vista que não trouxe critérios objetivos suficientes para uma interpretação razoável do grau de ingerência que permitiria a responsabilização da instituição financeira como responsável indireta nessa relação. Em razão disso, houve uma crise com retração na oferta de crédito, que culminou, em 1996, com mudança na redação da CERCLA, restringindo o alcance da responsabilidade do financiador, com o estabelecimento de critérios mais objetivos e obrigações CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS e atribuições rígidas a serem obedecidas pelas instituições financeiras (nos momentos de pré-contratação de financiamentos e pré e pós-aquisição de ativos), sob pena de sua corresponsabilização. Tosini (2005, p. 5-6) informa que: No ano de 1992, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) criou uma iniciativa para as instituições financeiras, que passou a ser conhecida por UNEP-FI, promovendo-se a integração de todas as recomendações sobre aspectos ambientais para operações e serviços do setor financeiro. A iniciativa teve também como objetivo promover investimentos do setor privado em tecnologia e serviços para melhoria do meio ambiente. A meta do UNEP-FI era atingir o mais amplo espectro de instituições financeiras, bancos comerciais e de investimentos, gerenciadores de ativos, bancos de desenvolvimento e agências multilaterais. Nesse mesmo ano, a UNEP e mais cinco bancos - NatWest Bank, Deutsche Bank, Royal Bank of Canada, Hong Kong & Shanghai Banking Corporation and Westpac Banking Corporation - prepararam um termo de compromisso, Declaração Internacional dos Bancos para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Até o final de 1992, 23 bancos comerciais já haviam assinado a declaração. Em dezembro de 2004, 163 instituições financeiras de todo o mundo já eram signatárias da Declaração do UNEP. Segundo a UNEP-FI, a Declaração de Compromisso do PNUMA por Instituições Financeiras sobre o Desenvolvimento Sustentável representa a espinha dorsal da Iniciativa. Ao assinar a Declaração, as instituições financeiras reconhecem abertamente o papel do setor de serviços financeiros em tornar nossa economia e estilos de vida sustentáveis e se comprometem com a integração de considerações ambientais e sociais em todos os aspectos de suas operações. Conheça a Declaração Internacional dos Bancos para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, traduzido para português, em: https://www.unepfi.org/fileadmin/statements/fi/fi_statement_pt.pdf. Desde os marcos históricos explanados anteriormente, diversos países começaram a aderir a questão ambiental do ponto de vista socioeconômico e, seguindo o ritmo dos demais, o Brasil não ficou atrás. No Brasil, a Lei Federal n° 6.938/81, conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), iniciou a proteção, do ponto de vista legal, ao meio ambiente e estabeleceu, em relação às instituições financeiras, a obrigatoriedade de exigência do licenciamento ambiental dos projetos financiados. Além disto, o referido diploma legal estabeleceu a responsabilidade civil objetiva do poluidor direto e indireto por danos ambientais. Nesta esteira, surgiram discussões sobre a possibilidade de responsabilização civil das instituições financeiras, na qualidade de poluidores indiretos, na hipótese de os projetos por elas financiados causarem danos ao meio ambiente (CHAVES; SUMAR, 2015). CURSO LIVRE – ANÁLISEDE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Dessa maneira, a Lei Federal n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Em seu artigo 12, a Lei faz menção à utilização do licenciamento ambiental, seguindo os padrões CONAMA, e informa que: Art. 12. As entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA. Parágrafo único. As entidades e órgãos referidos no caput deste artigo deverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos destinados ao controle de degradação ambiental e a melhoria da qualidade do meio ambiente. Já em seu artigo 14, a Lei faz menção às medidas às penalidades que podem ser sofridas em caso de não cumprimento das medidas de prevenção ou correção dos danos, redigindo o texto da seguinte maneira: Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...] III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; [...] § 3º Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprimento resolução do CONAMA. Cabe ressa l tar que um dos inst rumentos da PNMA remete ao licenciamento ambiental, o qual é definido e exigido pela Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997, conforme demonstram os trechos a seguir, respectivamente. Segundo a PNMA: Art. 9º - São Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: [...] IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; [...] Ar t . 10. A construção, insta lação, ampl iação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. Segundo a CONAMA nº 237: Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambienta is , consideradas efet iva ou potencia lmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. [...] Art. 2º - A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental , dependerão de prévio l icenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis. Retomando os fatos históricos, o Brasil, seguindo os passos dos eventos ocorridos no mundo, também partiu rumo à inserção da sustentabilidade corporativa do setor financeiro. Segundo Braga (2014, p. 18), a elaboração dos instrumentos sustentáveis no financiamento no Brasil tem início com o Protocolo Verde, cujo objetivo principal é o fomento de políticas e práticas socioambientais multiplicadoras que sirvam de exemplo de desenvolvimento sustentável para as instituições concedentes de crédito oficial. Dessa maneira, originou-se, em 1995, um grupo de trabalho do Governo Federal com o propósito de preparar uma proposta que contivesse diretrizes e estratégias para colaborar na gestão ambiental em instituições financeiras federais. Os bancos participantes foram: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil (BB), Banco do Estado da Amazônia (Basa), Caixa Econômica Federal (Caixa) e Banco do Nordeste do Brasil (BNB) (BRAGA, 2014). Da formação deste grupo foi originado o Protocolo Verde, anteriormente citado. Porém, no ano de 2008, o Protocolo Verde foi revisado e ratificado sob a denominação Protocolo de Intenções pela Responsabilidade Socioambiental, para atender às demandas sociais e ambientais que ocorreram desde 1995. Divulgado pelo Banco do Brasil ([2021c], p. 2), a cláusula primeira de uma das versões do protocolo, informa que: O presente PROTOCOLO tem por objeto estabelecer a convergência de esforços para o empreendimento de políticas e práticas bancárias que sejam precursoras, multiplicadoras, demonstrativas ou exemplares em termos de responsabilidade socioambiental e que estejam em harmonia com o objetivo de promover um desenvolvimento que não comprometa as necessidades das gerações futuras a partir da atualização dos compromissos previstos no Protocolo Verde, firmado em 1995. Adicionalmente, em 2009, a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), órgão de representação oficial dos bancos privados e de capital misto, firmou o protocolo de intenções com o Ministério do Meio Ambiente, do que derivaram adesões de bancos privados às premissas de desenvolvimento sustentável. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Analisando as iniciativas a nível mundial, cabe fazer um adendo sobre os Princípios do Equador. Guimarães (2015) informa que em junho de 2003, os dez maiores bancos, responsáveis por cerca de 30% do total de investimentos em financiamentos internacionais de projetos em todo o mundo (ABN Amro, Barclays, Citigroup, Crédit Lyonnais, Crédit Suisse, HypoVereinsbank, Rabobank, Royal Bank of Scoland, WestLB e Westpac), anunciam a adoção de um novo acordo de autorregulação bancária, denominado “Princípios do Equador”. O pacto estabeleceu padrões de gerenciamento de risco para as Instituições Financeiras, tendo como pilar a implementação de requisitos socioambientais nas políticas de concessão de crédito. Com a assinatura do acordo, os bancos assumiram voluntariamente o compromisso de avaliar os projetos de financiamento (Project Finance) de valores superiores a US$ 50 milhões, classificando cada um deles de acordo com o potencial de risco socioambiental e exigindo o atendimento a padrões de sustentabilidade como condições para o fornecimento de recursos. Tais padrões foram baseados em um processo de avaliação que categoriza os impactos socioambientais de acordo com três categorias (GUIMARÃES, 2015, p. 39): • Categoria A (alto risco): Projetos com significativo potencial adverso de impactos socioambientais, podendo ser amplos, imprevisíveis ou irreversíveis; • Categoria B (médio risco): Projetos com limitado potencial adverso de impactos socioambientais em pequena escala, geralmente em locais específicos, em grande parte reversíveis e prontamente tratados através da mitigação; e • Categoria C (baixo r isco): Projetos com mínimo/nenhum impacto socioambiental. Cabe relembrar que no ano de 2014, o Banco Central do Brasil incorporou à regulação do SFN o tema socioambiental, por meio da Resolução nº 4.327/2014, que dispõe sobre as diretrizes a serem observadas no estabelecimento e na implantação da Política de Responsabilidade Socioambiental pelas instituições financeiras e seus respectivos planos de ação, contemplando uma estrutura clara de governança, o fortalecimento da gestão de riscos e oportunidades, a expansão e a qualidade do crédito. Seguindo na mesma linha, em agosto de 2014, a entidade publicou o Normativo de nº14 no Sistema de Autorregulação Bancária (SARB) formalizando procedimentos mínimos para o cumprimento da Resolução nº 4.327/2014 e orientando as práticas socioambientais de seus signatários nos negócios e nas relações com as partes interessadas (FEBRABAN, 2017). Dessa maneira, desde então, a governança do tema socioambiental na FEBRABAN está concentrada na Comissão Setorial de Responsabilidade Social e Sustentabilidade (CRSS), da qual participam 30 instituições, representando CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS cerca de 80% do total dos ativos do setor bancário, com reporte à Diretoria Executiva da Federação. Além disso, com base nos protocolos firmados pelos bancos, as instituições possuem o dever de contribuir para o aperfeiçoamento e a construção de soluções para os desafios socioambientais do século XXI, com a participação e a integração de ações da sociedade, estado e empresas em prol do desenvolvimento sustentável (BANCO DO BRASIL, [2021c]). 2 RISCOS AMBIENTAIS E SOCIOAMBIENTAIS PARA OS BANCOS Conforme foi visto nas etapas anteriores, as instituições bancárias estão expostas a riscos que podem se traduzir em prejuízos relevantes, comprometer sua saúde financeira e, no limite, sua própria continuidade. Existem diversas classificações de risco na literatura. Porém, cada instituição financeira faz sua própria classificação de acordo com seu porte e nicho de mercado ou, ainda, em função da melhor forma de gerenciar os riscos. O risco está presente em qualquer operação do mercado financeiro. Risco é um conceito “multidimensional” que cobre quatro grandes grupos de risco: risco de mercado, risco legal, risco de crédito e risco operacional. Assim, os problemas ambientais são abordados como mais uma modalidade de risco presente nesses quatro grupos de risco (TOSINI, 2005). Segundo Tosini (2005, p. 13): Risco ambiental pode ser definido como a medida de possíveis danos que uma atividade econômica pode causar ao meio ambiente. A relação entre risco ambiental e os demais riscos enfrentados pelas empresas está fundamentada no ‘’Princípio do Poluidor Pagador”. Por esse princípio se busca internalizar os custos da degradação ambiental no processo produtivo de qualquer atividade econômica, a fim de evitar que apenas os lucros de uma atividade sejam privatizados e os custos do dano ambiental sejam socializados. Desta forma, risco ambiental passa a ser traduzido como custo financeiro. Retomando alguns fatos históricos do desenvolvimento do combate em prol da preservação ambiental, conforme elucidado na primeira apostila, a primeira conferência organizada e realizada pela ONU foi a chamada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, a qual foi realizada no ano de 1972, em Estolcomo, na Suécia, e que contou com a participação de 113 países e 250 organizações não governamentais. Como um dos resultados desta conferência da ONU, foi criada a Declaração de Estolcomo, a qual juntou diversos princípios que deveriam ser seguidos pelos países participantes da conferência. Destaca-se, neste ponto, o Princípio do Poluidor Pagador, que veio se tomar um dos pilares para o desenvolvimento de legislação interna e internacional sobre responsabilidade e compensação por danos ambientais. A Declaração do Rio, em seu Princípio n° 16, também adotou o Princípio CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS do Poluidor Pagador: “as autoridades nacionais devem procurar assegurar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em conta o critério de que quem contamina deve, em princípio, arcar com os custos da contaminação, levando-se em conta o interesse público e sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais” (TOSINI, 2005, p. 13-14). Através deste princípio, busca-se impedir que a sociedade arque com os custos da recuperação de um ato lesivo ao meio ambiente causado por um poluidor perfeitamente identificado, sendo que, dessa forma, este deverá arcar com os custos de recuperação do dano causado, além de responder pelos seus atos através de sanções penais e administrativas. Ainda, através do artigo nº 225, parágrafo 3°, da Constituição Federal de 1988, também é possível identificar o Princípio do Poluidor Pagador, como segue: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados (BRASIL, 1988). Dessa forma, de todo modo, ocorrerá dispêndio financeiro por parte do infrator. Tosini (2005) explica ainda que, por outro lado, os danos ambientais até então identificados evidenciam que o risco ambiental tem impacto sobre as três modalidades de risco enfrentadas pelas empresas, seja qual for sua atividade econômica - risco de negócio, risco financeiro e risco estratégico. Tendo em vista que o desempenho econômico das empresas depende direta ou indiretamente do gerenciamento desses riscos, depreende-se daí que, para obter um bom desempenho econômico, a empresa precisa, também, de um bom sistema de gerenciamento ambiental. Seguindo nessa linha, os bancos, ao serem parceiros financeiros das empresas, dependem do retorno financeiro destas. Assim, o risco ambiental das empresas afeta indiretamente o desempenho econômico das instituições financeiras, na medida em que esse risco pode vir a comprometer o valor dos ativos financeiros das empresas, sua capacidade de honrar seus empréstimos, bem como sua própria reputação junto à sociedade. Para Guimarães (2015), as Instituições Financeiras (IF) deveriam ser consideradas como qualquer outro agente econômico sujeito à legislação ambiental , de modo que o cumprimento regulamentar resultasse na incorporação de critérios socioambientais às práticas e operações bancárias. Em um cenário de maior sensibilidade do setor financeiro quanto aos objetivos das políticas ambientais, seria possível elencar três papéis principais de uma “IF com compromisso ambiental”. A primeira delas diz respeito ao controle de prejuízos ambientais e pressupõe a adoção de critérios e políticas institucionais para a avaliação de impactos ambientais em todas as operações de crédito da instituição. A CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS instituição não deve financiar projetos de atividades com impactos negativos sobre o meio ambiente ou precisa exigir medidas para minimizar os danos a níveis aceitáveis, como condições para o financiamento (GUIMARÃES, 2015). A segunda função está ligada às novas oportunidades de negócios para as IF e diz respeito à recuperação do meio ambiente. A IF deve priorizar o financiamento de projetos para recuperação de danos ao meio ambiente, o que significa o surgimento de novas linhas de crédito e produtos bancários para f inanciamento dos investimentos e operações correspondentes (GUIMARÃES, 2015). A terceira função seria a promoção de “projetos verdes”, caracterizados por não apenas evitar ou controlar os danos ambientais, mas também por contribuir de maneira positiva para o desenvolvimento sustentável. O desempenho dessa função pode se dar, por exemplo, por meio do fomento ao uso de tecnologias de produção limpa, de eficiência energética, de combate à desertificação, de captação de carbono, de produção orgânica, dentre outros (GUIMARÃES, 2015). Conscientes da ligação entre o setor financeiro e o meio ambiente, as instituições bancárias já entendem a questão ambiental como uma importante fonte de riscos financeiros. Isso se materializa, por exemplo, quando uma empresa descobre que é proprietária de um terreno contaminado ou quando sanções por impactos ambientais negativos comprometem a capacidade do credor de liquidar suas operações de crédito. Além dos riscos financeiros, os bancos já começaram a explorar as oportunidades de negócios na relação das empresascom o meio ambiente. Ao redor de todo o planeta, têm crescido os produtos financeiros sustentáveis, como fundos de investimentos responsáveis, linhas de crédito verdes e outras inovações financeiras demandadas por um setor produtivo que tem a sua relação com o meio ambiente questionada e avaliada com um rigor cada vez maior (GUIMARÃES, 2015). Analisando todo o contexto relatado acima, pode-se perceber que são várias as razões pelas quais a questão ambiental está sendo efetivamente incorporada à gestão bancária. Segundo Guimarães (2015), tem-se os seguintes exemplos: • Ecoeficiência: economia nas atividades internas, por meio da racionalidade no uso de papel, água, combustíveis etc. • Atendimento da demanda de clientes e consumidores: a sociedade passou a exigir que a RSA seja um valor incorporado a todas as áreas e setores da economia, inclusive nos empréstimos e investimentos do setor financeiro. • Redução dos riscos associados à concessão de créditos: impactos socioambientais negativos podem afetar a capacidade de pagamento dos beneficiários do crédito bancário. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS • Minimização de perdas ligadas à reputação: a ligação da imagem do banco com empreendimentos que promovem danos socioambientais pode resultar em boicotes, perda de clientes e degeneração do valor de mercado da instituição. • Gestão de riscos legais: a instituição bancária convive com a possibilidade de ser obrigada a assumir custos de reparação ambiental ou de indenizar danos a terceiros afetados, caso sejam apontados como corresponsáveis ou tenham negligenciado requisitos ambientais para o deferimento dos financiamentos. • Oportunidade de negócios: para a instituição financeira, os novos produtos verdes, como as linhas de financiamentos para empreendimentos sustentáveis, são oportunidades para impulsionar o seu resultado financeiro. A construção de uma identidade que se harmonize com o desenvolvimento sustentável pode promover vantagens competitivas e fortalecimento no mercado. O risco ambiental está presente, direta ou indiretamente, em todas as atividades econômicas relacionadas com o aproveitamento, produção, transformação industrial e comercialização de recursos naturais, especialmente naquelas onde se agrega valor aos produtos comercializados ou produzidos. Existem três principais dimensões do risco ambiental que podem se exprimir no âmbito dos processos de concessão de crédito pelas instituições bancárias. Os riscos, fazendo alusão à questão ambiental, são: • Risco de Crédito: o risco ambiental se expressa como risco de crédito nas instituições financeiras quando as operações de crédito estão sujeitas a perdas decorrentes de eventuais impactos ambientais produzidos por um cliente bancário. As perdas podem se materializar quando o evento ambiental atinge os lucros, a alavancagem, o fluxo de caixa, as garantias oferecidas ou simplesmente a imagem do cliente bancário tomador de crédito, interferindo em sua capacidade para liquidar integralmente os compromissos assumidos com o credor. • Risco Legal: de acordo com o Banco Central do Brasil, está relacionado à inadequação ou deficiência em contratos firmados pelas instituições financeiras, bem como pelas punições por descumprimentos das regras legais e pelas indenizações por danos a terceiros originados das atividades desenvolvidas pelas instituições. Os impactos ambientais podem ser fontes de obrigações legais causadoras de perdas financeiras para os fornecedores do crédito. • Risco Reputacional ou de Imagem: pode ser considerado como uma subclassificação do risco operacional e é representado por possíveis impactos decorrentes de um evento específico, que podem afetar negativamente a percepção acerca da confiabilidade da instituição, da qualidade de seus serviços, de suas práticas de gestão ou de sua credibilidade de uma maneira geral. Essa percepção negativa da corporação pode se disseminar pelos seus empregados e clientes, mercados financeiros, acionistas, investidores, governo ou reguladores. Por essa razão, o risco de imagem (ou reputacional) pode ser considerado o pior tipo de risco ao qual está exposta uma instituição financeira. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Segundo Guimarães (2015, p. 59), as consequências de impactos ambientais negativos produzidos pelas atividades beneficiárias do crédito podem ser ilustradas pela Figura 1, que aponta vias pelas quais as implicações financeiras podem surgir para os bancos credores. FIGURA 1 – EXPRESSÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA CONCESSÃO DE CRÉDITO FONTE: Guimarães (2015, p. 59) Descrição da imagem: a Figura aponta as vias pelas quais as implicações financeiras podem surgir para os bancos credores. 3 GESTÃO DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Conforme descrito pela Febraban (2015), a Resolução nº 4.327/14 do Banco Central, que dispõe sobre “as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central”, é o resultado da compreensão de novas variáveis de riscos discutidas nos últimos anos pelo setor financeiro e seu principal órgão regulador. Dessa maneira, cada instituição deverá previamente avaliar seu foco de atuação. A importância de seus variados negócios e respectivos riscos, seu planejamento estratégico, sistemas e processos de gestão, habilitando-se, assim, para desenvolver sua Política de Responsabilidade Socioambiental. Com o objetivo de criar um posicionamento setorial sobre o tema, e dar suporte aos bancos na integração das questões socioambientais, a FEBRABAN desenvolveu também um normativo específico para o tratamento do tema. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS O Normativo SARB n° 14 prevê diretrizes e procedimentos para as práticas socioambientais das instituições financeiras nos seus negócios e relações com partes interessadas, além de apresentar seis passos importantes para construção da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA). Porém, antes deste tema ser relatado, vale a pena analisar os gráficos a seguir, os quais foram retirados do site “Guia dos Bancos Responsáveis” (GBR). O GBR é uma iniciativa de uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira liderada pelo Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e possui o objetivo de avaliar o grau de comprometimento dos maiores bancos brasileiros com diversos temas de relevância social e ambiental. A iniciativa faz parte do Fair Finance International (FFI), uma rede internacional que visa o fortalecimento do compromisso das instituições financeiras com padrões sociais, ambientais e de governança. Segundo o site do GBR (2021), o projeto Guia dos Bancos Responsáveis tem como objetivo analisar a responsabilidade socioambiental dos bancos a partir da ótica de suas carteiras de crédito e investimentos – ou seja, para quais empresas eles destinam o seu próprio dinheiro e de seus clientes. Estes informam que entendem a responsabilidade socioambiental de uma organização como sua responsabilidade em relação aos impactos das decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Essa responsabilidade deve ser fomentada através de um comportamento transparente e ético, que contribua para o desenvolvimento sustentável. Conheça mais sobre o GBR e analise a pontuação geral e a pontuação dos bancos, acessando os dados de cada um dos bancos individualmente, classificados pelo GBR através do site: https://guiadosbancosresponsaveis. org.br/bancos/temas/meio-ambiente/. Portanto, ao analisar os dados disponibilizados pelo GBR em 2021, foram destacados dois gráficos principais. O primeiro, Figura 2, faz referência ao grau de responsabilidade social e ambiental dos bancos, e, com base nos resultados dos anos de2020 e 2021, trouxe dados, através de um ranking, mostrando qual dos principais brancos possui um comprometimento maior com a responsabilidade social e ambiental. Já o segundo gráfico, Figura 3, ilustra como é o ranking de pontuação dos bancos em consideração ao meio ambiente. Analise os gráficos a seguir. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS FIGURA 2 – GRAU DE RESPONSABILDIADE SOCIAL E AMBIENTAL DOS BANCOS FONTE: <https://guiadosbancosresponsaveis.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2021. Descrição da imagem: gráfi co que ilustra o ranking de responsabilidade social e ambiental dos bancos. FIGURA 3 – PONTUAÇÃO DOS BANCOS EM MEIO AMBIENTE FONTE: <https://guiadosbancosresponsaveis.org.br/>. Acesso em: 16 abr. 2021. Descrição da imagem: gráfi co que ilustra o ranking de pntuação ambiental dos bancos. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Ao retomar sobre a gestão do risco socioambiental pelas instituições, o Guia Prático da Febraban estabeleceu seis passos importantes para a construção das Políticas de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) por parte dos bancos. A Figura 4 ilustra esses passos. FIGURA 4 – 6 PASSOS PARA A PRSA FONTE: Febraban (2015, p. 5) Descrição da imagem: a imagem ilustra os 6 passos principais para a construção da PRSA por parte das instituições fi nanceiras. Segundo o Guia (FEBRABAN, 2015), tem-se os seguintes passos: • PASSO 1: GOVERNANÇA DAS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS A primeira exigência do Banco Central diz respeito à governança da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) nas instituições financeiras. Embora exija designação de um diretor responsável pela Política e seu cumprimento, é importante ressaltar que a Resolução é transversal e deve permear todas as áreas e níveis da organização. A governança deve ser compatível com o porte, estrutura e natureza dos negócios de cada instituição, podendo estar composta por comitês e/ou integrar os colegiados já existentes. É essencial, na definição da governança da PRSA, que se considere a transversalidade da Resolução. A diretoria responsável deve ter trânsito e influência sobre as áreas, especialmente por ter de tratar de operações que não necessariamente são sua responsabilidade. Para o adequado empoderamento da diretoria responsável e estrutura de governança da PRSA, o envolvimento da Alta Administração é fundamental, dando o peso institucional ao tema, atuando como mediador junto as várias áreas da instituição e acompanhando a implementação e os resultados da PRSA. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS • PASSO 2: PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RELEVÂNCIA Os temas e atividades relevantes variam para cada instituição. Por essa razão o BACEN, define a observância de dois princípios: Proporcionalidade e Relevância, os quais têm o objetivo de preservar as diferentes atuações de cada instituição sem comprometer a eficiência operacional. O Princípio da Proporcionalidade diz respeito à “compatibilidade da PRSA com a natureza da instituição e a complexidade de suas atividades e de seus serviços e produtos financeiros”. Dessa forma, as políticas, estruturas de governança e sistemas de gestão do risco socioambiental de cada instituição devem contar com capital humano, ferramentas e suporte tecnológico, códigos de procedimentos e práticas comerciais adequadas a complexidade de suas atividades e dos produtos e serviços oferecidos e às possíveis mudanças legais, regulamentares e de mercado. • PASSO 3: ENVOLVIMENTO DE PARTES INTERESSADAS O Banco Central inclui na Resolução o incentivo ao envolvimento de partes interessadas na construção da PRSA. Embora a definição de partes interessadas pelo regulador seja abrangente, entende-se que a consulta aos públicos de interesse indica maior transparência e observância dos riscos e oportunidades socioambientais pela organização. Existem diferentes formas de participação. Desde a comunicação de uma ação até o estabelecimento de parcerias e alianças, a instituição financeira pode realizar diferentes formas de engajamento com suas partes interessadas. A definição da forma vai depender essencialmente da cultura da organização, a maturidade para ouvir as demandas de agentes externos e a finalidade do engajamento. • PASSO 4: POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (PRSA) Ao abordar a Política de Responsabilidade Socioambiental, a Resolução deixa claro que o documento deve conter princípios e diretrizes que norteiam as ações socioambientais nos negócios e na relação com as partes interessadas. A transversalidade da PRSA em todas as áreas da instituição financeira fica evidente uma vez que deve estar presente nos negócios e nas relações com todos os públicos que possam ser afetados pela atuação da instituição (ex. clientes, usuários, colaboradores, fornecedores e comunidades). A PRSA deve ser um instrumento de gestão integrada tratando da estrutura de governança, da gestão do risco socioambiental, das atividades e operações que devem ser priorizadas de acordo com sua relevância, proporcionalidade e eficiência, integrando-se as demais estratégias, políticas e normativos da instituição financeira. • PASSO 5: SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO RISCO SOCIOAMBIENTAL A compreensão do impacto das questões socioambientais pode ocorrer de duas formas: CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS IMPACTOS INDIRETOS: impacto decorrente das operações de crédito, investimentos, seguros, e operações no mercado de capitais. Alguns dos temas normalmente observados pelo setor financeiro compreendem questões como: trabalho análogo ao escravo e mão de obra infantil; pessoas politicamente expostas; poluição e contaminação; licenciamento ambiental; áreas contaminadas ou embargadas; Estudo de Impactos Ambientais; e terras indígenas. IMPACTOS DIRETOS: sendo uma organização, os bancos têm impactos decorrentes de suas atividades, como o consumo de recursos naturais, as relações com colaboradores, fornecedores e outros públicos de interesse. Além dos impactos de suas operações, as instituições financeiras também têm uma conexão importante com as questões socioambientais nas suas atividades e operações internas, que vai variar em relevância de acordo com o porte e modelo de negócios de cada instituição. De forma geral, as empresas possuem impactos quanto a: uso e gestão dos recursos naturais; relacionamento com colaboradores; relacionamento com fornecedores; relacionamento com comunidade onde atua; geração e tratamento de resíduos; eficiência energética; e uso de água. • PASSO 6: PLANO DE AÇÃO A Resolução exige ainda que, além da PRSA, as instituições financeiras elaborem um Plano de Ação para o cumprimento da política e integração das questões socioambientais as suas atividades. Para a elaboração do Plano de Ação, deve-se mapear gaps e ações que podem ser desenvolvidos para cada item da Resolução. 4 PRINCIPAIS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Do mesmo modo que foi visto no decorrer dos estudos, as instituições financeiras possuem a incumbência de divulgar relatórios de sustentabilidade, no qual apontam as suas ações em prol da sustentabilidade e minimização dos riscos socioambientais. Dessa maneira, com a finalidade de explorar estes relatórios, foram escolhidos três bancos para verificar as atividades e ações mais aplicadas pelos bancos, sendo eles: Banco do Brasil, Bradesco e Caixa Econômica Federal. Os relatórios mais recentes divulgados remetem ao ano de 2019. • Banco do Brasil: Segundo o Banco do Brasil (2019), o Relatório Anual 2019 apresenta as principais iniciativas e resultados do período e o modo como geramos valor para a Empresa e para os nossos principais públicos de relacionamento: CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS acionistas, investidores, funcionários, clientes, fornecedores, parceiros, governoe sociedade. Informam também que para que as suas diretrizes estejam alinhadas com as demandas do mercado e dos públicos, procuram entender o contexto global e nacional e avaliar os impactos aos quais estamos expostos. Aprimorar o relacionamento com os clientes e sua experiência em negócios financeiros, construir uma rentabilidade sustentável aos acionistas remunerando o capital alocado, desenvolver soluções financeiras relacionadas à economia verde, aprimorar a gestão de riscos socioambientais e climáticos, fortalecer a governança corporativa e cultivar boas práticas em gestão de pessoas são objetivos presentes em nossa organização, tanto para assegurar a perpetuidade do negócio quanto para garantir um futuro sustentável da sociedade. Segundo o relatório (BANCO DO BRASIL, 2019, p. 68), no tocante mapeamento e identificação de riscos: O processo contínuo de identificação de riscos tem elevada importância para nossa organização, conta com análise de insumos internos e externos e aborda de forma prospectiva os riscos incorridos. O inventário de risco auxilia na definição do conjunto corporativo de riscos relevantes e tem papel importante na gestão de riscos e capital, bem como para a gestão dos negócios. A definição do inventário de riscos e de riscos relevantes baseia-se em: • Riscos que possam impactar o atingimento dos objetivos constantes na Estratégia Corporativa. • Riscos inerentes às atividades das Entidades Ligadas ao Banco do Brasil. • Fatores de risco considerados mais relevantes e que possam impactar os negócios e os resultados das operações do Banco. • Diretrizes regulatórias no Brasil e exterior. • Preocupações da indústria bancária. • Benchmark de instituições financeiras do Brasil e exterior. Com relação ao risco socioambiental, o mesmo relatório informa que “ao incorporar fatores socioambientais nas decisões de investimento e nas práticas de seleção de ativos, busca-se reduzir riscos, ampliar o retorno financeiro e atender às expectativas dos clientes. Acreditamos também que a responsabilidade socioambiental proporciona resultados positivos, recorrentes e sustentáveis ao longo do tempo. O uso mais eficiente de recursos pode impactar na redução de custos; a melhor governança interferir positivamente na produtividade; regras ambientais, de segurança e de saúde reduzir externalidades negativas; e inovação nos produtos sustentáveis pode atrair novos clientes”. • Caixa Econômica Federal (CEF): Para a Caixa Econômica Federa l , segundo o seu Relatór io de Sustentabilidade do ano de 2019, ao longo do relatório, fazem referência aos pilares da Política de Responsabilidade Socioambiental, tratando sobre: CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS relacionamento e engajamento com partes interessadas; gestão de riscos socioambientais; gestão de práticas administrativas e da cadeia de fornecimento socioambientais; governança; divulgação e reporte de informações; e promoção do desenvolvimento sustentável. Além disso, também fazem menção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no relato. No capítulo que trata sobre Sustentabilidade e RSA, a CEF informa que “a gestão de todos os nossos negócios e relacionamentos com nossos públicos de interesse se baseia em práticas que buscam a consolidação da CAIXA como empresa socialmente responsável, ambientalmente correta e economicamente viável”. Ainda, segundo o relatório, informa que a Política de Governança Corporativa estabelece como princípio a Responsabilidade Socioambiental e orienta que a gestão e as decisões de negócios contemplem aspectos socioambientais e observem a responsabilidade pelos impactos de nossas ações e atividades na sociedade e no meio ambiente. Reforçando essas premissas, a Política de Responsabilidade Socioambiental ainda destaca o comportamento transparente e ético, bem como a busca do desenvolvimento sustentável e a inclusão social, que são parte da essência. Segundo o relatório: Aprovada em 2015, a PRSA orienta nossa atuação na integração das dimensões social, ambiental e econômica na estratégia, nos negócios e em nossos relacionamentos. A PRSA está em consonância com as melhores práticas de mercado e padrões normativos nacionais e internacionais atinentes à responsabilidade socioambiental e sustentabilidade, e diferencia-se ao aderir- se ao nosso papel como banco público na busca de resultados sustentáveis para os negócios e para o desenvolvimento do país. No relatório são citados os seguintes itens, com relação à PRSA: política socioambiental de FGTS; risco climático; risco socioambiental; ativos; habitação; garantias imobiliárias; terrenos contaminados; operações de crédito e crédito rural; projetos; atendimento à regulação; salvaguardas socioambientais; capacitação; e fundo de compensação ambiental, dentre outros. Cabe destacar que o relatório indica que foi criado para aplicar recursos em projetos socioambientais em parceria com órgãos públicos e entidades privadas, o Fundo Socioambiental CAIXA (FSA CAIXA), que atua no desenvolvimento integrado e sustentável com foco na população de baixa renda. Os investimentos do FSA CAIXA contribuem para o fortalecimento da imagem do banco ao promover o desenvolvimento das comunidades, além de alavancar parcerias estratégicas que unem o poder público a entidades privadas sem fins lucrativos brasileiras e internacionais. • Banco Bradesco: Segundo o relatório do Banco Bradesco (2019), o Relatório Integrado 2019 reúne as principais ações e resultados do ano em torno dos quatro pilares que compõem o planejamento estratégico da Organização (crescimento sustentável com rentabilidade, relacionamento com clientes, eficiência e inovação e capital humano) e dos 12 tópicos atualmente considerados por CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS eles como os mais relevantes, apontados em nosso último processo de escuta a stakeholders, realizado em 2018. São eles: clientes; tecnologia e inovação; capital humano; mercado e concorrência; estratégia de negócios; eficiência; ambiente econômico; responsabilidade socioambiental; governança corporativa; gerenciamento de riscos; regulação e compliance; e gestão de capital. O relatório informa que no Bradesco, a sustentabilidade está entre os direcionadores estratégicos da Organização. A gestão de aspectos ambientais, sociais e de governança é fundamental para a perenidade e o crescimento do Bradesco em um contexto cada vez mais dinâmico e desafiador. “Ao buscarmos gerar valor compartilhado e de longo prazo para investidores, funcionários, fornecedores, clientes e a sociedade, também contribuímos para o desenvolvimento sustentável do País” (BRADESCO, 2019, s.p.). Ainda, com o objetivo de aprofundar a implementação da Resolução nº 4.327, “estruturamos um plano composto por iniciativas de curto, médio e longo prazos, nas seguintes frentes: capital humano; clientes; fornecedores; gestão ambiental; institucional/gestão; partes interessadas; produtos e serviços; e risco socioambiental. O relatório ainda cita os seguintes temas: mudanças climáticas; negócios sustentáveis; soluções personalizadas para o atacado; e Amazônia. Ao citar o gerenciamento de riscos socioambientais, informa que a Norma de Risco Socioambiental do Bradesco estabelece processos de gerenciamento de riscos, incorporando critérios ambientais, sociais e de governança no âmbito das atividades do Grupo, no desenvolvimento e oferta dos produtos e serviços e na gestão dos empreendimentos imobiliários por meio da identificação, avaliação, classificação, controle e mitigação desses riscos. A norma ainda prevê a avaliação da ética de responsabilidade socioambiental nas relações com fornecedores, clientes e parceiros de negócios, nas transações envolvendo doações e patrocínios, na gestão de contratos e de investimentos, além de repudiar toda e qualquer forma de atos discriminatórios, assédio de qualquer natureza, trabalhoinfantil e análogo ao escravo e exploração sexual (BRADESCO, 2019). Por fim, cabe destacar que a maioria dos bancos encontra-se atendendo as normas citadas durante todo o nosso estudo. É possível acessar no site de cada uma das instituições financeiras os resultados e os locais onde estes estão investindo nas questões socioambientais. REFERÊNCIAS BANCO DO BRASIL. Protocolo verde. [2021c]. Disponível em: https://www. bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/ProtocoloVerde.pdf. Acesso em: 17 abr. 2021. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS BANCO DO BRASIL. Relatório de Sustentabilidade. 2019. Disponível em: https://www.bb.com.br/pbb/pagina-inicial/sobre-nos/sustentabilidade#/. Acesso em: 17 abr. 2021. BRADESCO. Relatório de Sustentabilidade. 2019. Disponível em: https:// banco.bradesco/html/classic/sobre/sustentabilidade/index.shtm. Acesso em 16 abr. 2021. BRAGA, C. O. S. Protocolo verde: as instituições financeiras e a promoção da sustentabilidade ambiental no Brasil. Recife: 168 folhas, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 3 abr. 2021. BRASIL. Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Política Nacional do Meio Ambiente. 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L6938compilada.htm. Acesso em: 13 mar. 2021. BRASIL. Resolução CONAMA nº 237 de, 19 de dezembro de 1997. 1997. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797. html. Acesso em 12 mar. 2021. BRASIL. Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014. 2014. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/2014/pdf/res_4327_v1_O.pdf. Acesso em: 3 abr. 2021. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Relatório de Sustentabilidade. 2019. Disponível em: https://www.caixa.gov.br/sustentabilidade/Paginas/default. aspx. Acesso em: 16 abr. 2021. CHAVES, V. F.; SUMAR, C. C. A Responsabilidade Civil Ambiental das Instituições Financeiras. Revista Estação Científica – Centro Universitário Estácio de Juiz de Fora Edição Especial. In: VII Seminário de Pesquisa da Estácio e III Jornada de Científica da UNESA. 2° semestre – 2015. Disponível em: https://portal.estacio. br/media/4622/a_responsabilidade_civil_ambiental_das_instituico%C2%B5es_ financeiras.pdf. Acesso em: 30 maio 2021. FEBRABAN. Guia prático para elaboração e implementação de política de responsabilidade socioambiental. 2015. Disponível em: https://cmsportal. febraban.org.br/Arquivos/documentos/PDF/GUIA%20PRATICO%20PRSA.pdf. Acesso em: 2 abr. 2021. FEBRABAN. Normativo SARB 014/2014. 2014. Disponível em: http://cms. autorregulacaobancaria.com.br/Arquivos/documentos/PDF/Normativo%20 014%20SITE.pdf. Acesso em: 2 abr. 2021. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS FEBRABAN. O sistema financeiro nacional e a economia verde: mensurando recursos financeiros alocados na Economia Verde. 2. ed. 2017. Disponível em: https://cmsportal.febraban.org.br/Arquivos/documentos/ PDF/Mensurando_recursos%20FINAL%20PT.pdf. Acesso em: 13 abr. 2021. GBR. Guia dos bancos responsáveis. 2021. Disponível em: https:// guiadosbancosresponsaveis.org.br/. Acesso em: 15 abr. 2021. GUIMARÃES. G. L. E. Gerenciamento do risco socioambiental nas instituições financeiras bancárias no Brasil. 2015. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) - Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, Brasília - DF. TOSINI, M. F. C. Risco Ambiental para as Instituições financeiras. São Paulo: Annablume, 2006, p. 21-24. UNEP-FI. Declaração UNEP-FI. 1992. Disponível em: https://www.unepfi. org/about/unep-fi-statement/. Acesso em: 13 abr. 2021.
Compartilhar