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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE INTERDISCIPLINAR DE HUMANIDADES DANIELE MIRANDA DA SILVA ISADORA HONÓRIO ALMEIDA JÉSSICA FERNANDES MOURÃO O SENTIDO DA HISTÓRIA EM HEGEL DIAMANTINA 2021 O presente trabalho se dedica a falar sobre a obra “O Sentido da História”, mais especificamente o capítulo “O sentido da história em Hegel” de Karl Löwith. Löwith foi um filósofo alemão, aluno de Martin Heidegger. Nasceu na cidade de Munique em 9 de janeiro de 1897 e faleceu em Heidelberg em 26 de maio de 1973. Estudou filosofia primeiro com Husserl em Freiburg e, entre os anos de 1919 e 1928 com Heidegger. Em 1934 foi obrigado a abandonar a Alemanha em função às políticas antissemitas do governo nazista porque apesar de não professar a religião, vinha de família judia. Em 1952 ano regressou à Alemanha para dar aulas de filosofia em Heidelberg, onde acabou morrendo aos 75 anos. Karl Löwith menciona a introdução “As lições sobre a filosofia da história de Hegel” na qual descreve a história universal como uma grande imagem de mudanças e transações de pessoas, Estado e indivíduos. E afirma que em todas essas ocorrências de mudanças é perceptível que predomina a ação do sofrimento humano porque é possível perceber uma enorme massa com interesses em comum avançar e logo em seguida vê-la sendo eliminada, mas quando uma conjugação desaparece outra surge em seu lugar. Hegel entende que toda vez que um poder cai, outro se ergue para tomar seu lugar, porém a imagem de ruína de uma antiga soberania deixa subentendido que toda mudança é ruim, no entanto a mudança implica concomitantemente o surgimento de uma nova vida e por isso a história é formada por mudanças e transições. Hegel ainda aponta que os motivos ligados ao sofrimento histórico é o interesse e a paixão humana para que haja a satisfação de desejos egoístas, ou seja, que o sofrimento humano deriva diretamente da busca por aplacar nossos próprios desejos e paixões imediatas que muitas vezes interferem experiência coletiva de maneira negativa. Após descrever a história como uma constante em que a vida emana da morte e vice-versa, Hegel afirma que esta é uma concepção oriental de que a história seja um espírito que se autoconsome e retorna da mesma forma. Já a concepção ocidental da história não é exclusivamente ocidental, pois é um pressuposto hebraico-cristão de que a história caminha para um propósito final que, segundo Hegel, seria norteado por uma vontade suprema seja ela o espírito ou a razão. Ainda de acordo com Hegel, o único pensamento que a filosofia sujeitaria à contemplação da história seria o da razão como soberana do mundo. Hegel passou então a abordar a ideia da providência. Ele a usava para afirmar que a razão governa o mundo. Porém, a história do mundo, os indivíduos são povos e estados, sendo assim não pode simplesmente se basear apenas na ideia da providência. Para relacionar a imagem da história com o caminho de Deus, Hegel procurou introduzir a ideia da astucia da razão, que atua sobre as paixões dos homens como seus agentes, ou seja, defendendo e permitindo que as paixões dos homens atuem por si mesma, trazendo consigo a noção de que através de perdas e danos sempre se sobressaia algo positivo daquele momento. O cristianismo trouxe consigo a percepção de liberdade, estabeleceu- se então uma identidade ao absoluto. Então, nesse momento a história chegava nesse ponto cristão e partia-se dele, ou seja, para o Hegel a história do mundo é a história a.C. e d.C., desse modo, só através de um pensamento de que a religião seria a verdade absoluta que Hegel poderia então criar a história universal, Hegel buscava a tentativa de aplicar a teologia na filosofia e assim realizar o chamado reino de Deus nos moldes da história universal, a ideia de liberdade cuja o sentido da história com a vontade de Deus. O texto segue dizendo que é importante que tenhamos em mente que é fácil cem anos depois criticar a visão proposta por Hegel e que exatamente por este motivo é essencial que alemos sobre o contexto em que ele se encontrava, qual seja, um mundo ocidental e cristão além de europeu, inclusive este é o motivo de América e Rússia tem tão poucas páginas dedicadas a elas em seus trabalhos, no entanto é interessante que mesmo nestas parcas menções, segundo texto, ele conseguiu fazer algumas previsões que são consideradas importantes. Löwith também segue apontando que ainda que as mencionadas previsões tivessem sido feitas, Hegel não conseguiu prever os efeitos reais do que o autor chama de “ciências técnicas sobre a unidade do mundo histórico” (pp. 65) que interferiu diretamente na comunicação das formas mais diversas e que ocasionou o que Löwith de um espírito menos unido do que se viu durante o Império Romano ou mesmo a Idade Média. Em seguida o autor segue assinalando as limitações materiais do trabalho de Hegel que considera serem algo inerentes à própria natureza vista como frágil do espírito dele, o qual possuía a convicção de que a religião cristã e sua fé nas coisas invisíveis poderiam ser entendidas a partir de uma perspectiva racional, que levou mil e quinhentos anos de pensamento ocidental para que Hegel tentasse unir na teologia da história uma visão que levasse em consideração tanto a fé como a razão sem que fosse considerada algo profano e tão pouco vista como sagrada, mas uma mistura entre as duas coisas que fez com que esse conhecimento histórico deixar a esfera do conhecimento sagrado e se tornar secular. Löwith assegura que o princípio religioso sob a forma de razão humana e liberdade secular não é, no entanto, uma criação de Hegel, então ele questiona qual é a diferença entre os predecessores e sucessores do autor em questão? A resposta é que a diferença está no fato de Hegel se restringir a uma visão otimista que vem do Iluminismo e reinterpretar mais uma vez essa tradição teológica de acordo com a concepção do tempo que já se encontra preenchido. Ainda de acordo com o texto esta não é uma visão que possa ser considerada revolucionária, muito pelo contrário. Para Hegel o progresso se encaminha para o que pode se chamar a de uma “elaboração e uma consumação do princípio estabelecido de todo curso da história” (pp. 67). Outro ponto abordado por Löwith é de que os racionalistas do século XVII e XVIII tinham uma ideia de que no futuro, um tempo que ainda não foi preenchido, o progresso avançaria indefinidamente em direção a uma racionalidade cada vez maior porque quanto mais racional se tornar, mas feliz será o ser humano. Essa crença em um progresso imanente e de certa forma também indefinido, passa então a substituir a crença na providência divina, mas no fim o que se percebeu é que a doutrina do progresso passou a assumir a função da providência divina ao tentar prever o futuro da humanidade. Outro ponto que o texto discute e a questão da comparação entre modernos e antigos para expressar esse progresso porque não é possível dizer se a modernidade de fato progrediu para além do cristianismo. Esse tipo de discussão, segundo Löwith, pode parecer num primeiro momento um tanto inocente, mas na verdade carrega em sim um problema muito relevante: o antagonismo que existiu na Antiguidade em relação ao cristianismo. Neste ponto a Modernidade torna-se diferente tanto da Antiguidade Clássica quanto do Cristianismo uma vez que “o progresso da época revolucionária moderna não se limita a uma consequência dos seus conhecimentos de ciência natural e histórica, mas que se encontraainda condicionado por este avanço que o Cristianismo conseguiu em relação ao paganismo clássico.” (pp 68) Por este motivo existe uma ambiguidade tão grande em relação ao conceito de progresso: ela deriva do cristianismo por uma lado, mas no outro ela é anticristã por se manifestar de uma forma que seja colocada alheia ao pensamento dos antigos. O texto finaliza dizendo que a interpretação escatológica da história, que é o ramo da teologia e da filosofia que se ocupa dos últimos eventos da história mundial ou mesmo do destino da humanidade, trata do julgamento e salvação nunca chegou de fato a fazer parte do que Löwith chama de “espírito dos historiadores antigos” (pp. 69), ele ainda completa dizendo que este é o “resultado remoto, e no entanto, intenso, da esperança cristã e da expectativa judaica” (pp. 69) O que se entende a partir da leitura de “O sentido da história em Hegel” é que a compreensão que Hegel tem da história é uma constate de mudanças que ocorrem linearmente e que está caminhando para um fim. Este fim pode ser norteado, de acordo com a visão judaico-cristã, pela providência divina, ou pela razão que é visão pós- medieval. Esse pressuposto levou a construção da história universal para Hegel. De qualquer forma, a humanidade estaria caminhando para um aperfeiçoamento e um fim. É importante ressaltar que essa visão linear da história não é majoritária hoje em dia, a visão predominante hoje é que a história é formada de uma sucessão de acontecimentos, com recuos e avanços, quedas e ascensão de novos impérios e governos. Esta elaboração compõe o que conhecemos hoje como consciência histórica e surgiu aproximadamente século XVIII quando a perspectiva dos filósofos em relação a história começa a mudar em função das transformações vividas pela sociedade naquele período, como a revolução científica dos humanistas e dos renascentistas. Löwith critica em alguns pontos, a principal delas é o fato de Hegel ter limitações materiais em seu trabalho que são inerentes a própria natureza do mesmo já que para Löwith a convicção religiosa de Hegel interfere diretamente em tudo que ele produz uma vez que ele tenta juntar religião e filosofia para explicar a história e a motivação humana. Em outro momento Löwith ainda sublinha que essa crítica feita um século depois é muito fácil porque muito já foi produzido depois de Hegel e que por isso devemos entende-lo de forma contextualizada em seu espaço e tempo. Desta forma, o que se entende é que Hegel interpreta a religião cristã em termos de razão especulativa e este seria o sentido da história para ele. Bibliografia LÖWITH, Karl. Hegel. In: O sentido da história. Lisboa: Edições 70, 1991, p.59 a 69. Grupo Fondo de Cultura Económica. 2003. Disponível em: <https://www.fcede.es/site/es/autores/autor_detalle.aspx?idAutor=2003>. Acesso em: 09 de agosto de 2021 SCHAFF, Adam. Relação cognitiva, o processo de conhecimento, a verdade. In: História e verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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