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PEQUENA CARTILHA DO CAVALO I. OS EQUÍDEOS (cavalos, asnos, zebras, muares) = gênero 1. EQUINOS: apenas CAVALOS = espécie 2. Nome científico: a) Equus caballus - cavalo b) Equus asinus africanus - asno (jumento) c) Híbridos/ muares: • Jumento macho x égua = mula (fêmea) ou burro (macho) • Garanhão x jumenta fêmea = bardoto 3. Período de vida: a) Gestação da fêmea: 11 meses b) Aleitamento materno: em média, desmame aos seis a oito meses de idade (mais na natureza, menos na domesticação) c) Puberdade: por volta do primeiro aniversário; não devem ser utilizados na reprodução antes dos 24 meses d) Maturidade fisiológica: 5 anos completos (troca plena da dentição decídua pela permanente) e) Início da senilidade (velhice): variável, mas em geral por volta dos 18 a 20 anos f) Expectativa de vida: 23 a 30 anos, dependendo do manejo (dentição) 4. Algumas pelagens mais comuns: a) Alazão - "ruivo", marrom claro ou avermelhado, com extremidades (crina, cauda e pernas) da mesma cor do corpo. b) Castanho - marrom de várias tonalidades, mas sempre extremidades negras c) Tordilho - nasce escuro e vai embranquecendo ao longo dos anos. (Fator genético que determina o "grisalhamento precoce".) d) Pampa - alazão, castanho ou tordilho com grandes manchas brancas distribuídas por todo o corpo Observação: há dezenas ou até centenas de denominações de pelagens, cujo estudo escapa ao escopo deste trabalho. Geneticamente, todas estas pelagens derivam do castanho e do alazão, acrescidas do fenômeno de tordilhamento e das áreas de despigmentação (“pampas”), bem como dos genes diluidores. II. Alguns dados fisiológicos dos equídeos: 1. Altura: varia na maioria das raças entre 1,40 e 1,70 m medidos na cernelha ( = parte mais alta do dorso, logo depois da inserção do pescoço). Internacionalmente, todo cavalo abaixo de 1,47 é considerado um pônei. A maioria das raças de trabalho no campo e passeio oscila em torno de 1,50 a 1,55. 2. Peso: um cavalo de 1,50 saudável pesa em torno de 400 kg, um pouco mais nas raças muito musculosas (quarto-de-milha). Alguns cavalos de hipismo pesam 600 kg ou mais. Raças de tração pesadas podem ter indivíduos com 800 ou 900 kg de peso. 3. Parâmetros fisiológicos mais importantes: a) Frequência cardíaca / pulso: 28 a 40 BPM b) Temperatura retal: 37,5 oC (adultos) ou 38,5 oC (potros) c) Movimentos digestórios: sempre presentes (silêncio abdominal por mais de cinco segundos pode ser sinal de cólica) d) Mucosas: rosadas III. Necessidades nutricionais diárias dos equídeos: 1. Água fresca: à vontade, o que pode variar de 20 litros diários a até 80 (oitenta!) litros diários, no caso de trabalho forte em dias de calor intenso, bem como de éguas em lactação. 2. Volumoso: à vontade; a necessidade fisiológica mínima é de 2% do peso vivo em matéria seca. Podemos considerar que pasto verde = 80% de umidade, e feno = 20% de umidade, de modo que: a) Cavalo de 400 kg = necessidade diária 8 kg de volumoso em matéria seca = 10 kg de feno ou 40 kg de pasto verde (pode ser uma combinação de ambos, por exemplo, 5 kg de feno e 20 kg de pasto verde). b) Atenção: VOLUMOSO É GRAMÍNEA. Alfafa (leguminosa) pode servir como complemento parcial, mas jamais substituto total das gramíneas. 3. Concentrado: 1% do peso vivo, sempre distribuído num mínimo de duas a três refeições diárias. Assim, um cavalo de 400 kg pode ganhar 4 kg de ração, distribuídos em por exemplo três refeições de 1,5 kg / 1,0 kg / 1,5 kg. Observações: a) O excesso de concentrado (ração) é fatal para os cavalos (cólicas), também para aqueles que se encontram muito fracos e magros. b) A ração é apenas complemento nutricional para os cavalos, em especial aqueles reconvalescentes ou aqueles que trabalham. c) Cavalos em bom estado físico e que trabalham pouco ou nada podem viver apenas de volumoso de qualidade, desde que o mesmo seja dado em boa quantidade. A RECÍPROCA NÃO É VERDADEIRA (= falta de volumoso é fatal para cavalos). 4. Sal mineralizado: em torno de 50 gr diárias ou à vontade, misturado na ração ou em cocho próprio. a) Observação: sal mineral próprio para gado de corte / animais de engorda contém aditivos que podem causar intoxicação fatal nos cavalos. Devemos utilizar sal próprio para equinos. IV. Exemplo de manejo diário: • Considerando um cavalo saudável em regime de confinamento (hípica ou centro de treinamento), mencionando tanto o trabalho e rotinas com o animal quanto aqueles em instalações e equipamentos, derivados da presença e do uso do cavalo: 1. Fornecimento contínuo de água 2. Fornecimento contínuo, ou no mínimo 4 – 5 porções diárias, de volumoso (feno ou capim) 3. Três refeições diárias de concentrado (ração), acrescido de sal mineral e suplementos, quando indicados 4. Trabalho diário em torno de uma hora. Esta é a duração mínima para cavalos de lazer e esporte; há grande variação. Animais em trabalho “longo e lento” (= com pouco ou nenhum galope, nem períodos muito extensos de trote), tais como passeios, condução de gado, tração rural, etc podem trabalhar durante várias horas diárias, desde que saudáveis, bem manejados e respeitando-se os limites físicos do indivíduo. o Cumpre lembrar que as doenças equinas derivadas da domesticação vêm tanto do excesso de trabalho quanto do excesso de sedentarismo e confinamento. 5. Soltura diária em piquete, no mínimo duas horas. 6. Duas escovações diárias: manhã e tarde. Banho conforme a necessidade (transpiração), em geral depois do trabalho. 7. Duas limpezas diárias da cocheira (cama de serragem). 8. Limpeza diária do material (sela, cabeçada, etc) utilizado no trabalho. 9. Trabalhos genéricos de limpeza e organização necessários para o bom andamento do estabelecimento. V. Outros cuidados periódicos obrigatórios em condições de bom manejo: • Prazos e intervalos são aproximados, e devem ser adequados pelo profissional (veterinário) a cada situação individual. 1. Toalete (cuidados com crina, cauda, etc): mensal 2. Ferrageamento ou casqueamento: a cada 40 dias 3. Vermifugação: bimestral 4. Exame veterinário de rotina: depende do tipo de estabelecimento. Em geral mensal nas hípicas, mas no mínimo semestral, dependendo da intensidade de uso. 5. Vacinação: semestral ou anual, dependendo das vacinas indicadas 6. Revisão odontológica: anual INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DOS CAVALOS 1. Entendendo os Cavalos Para que o manejo de cavalos seja desenvolvido com segurança e eficiência é de fundamental importância que os profissionais que atuam nessa área possam compreender melhor esses animais. Se “gostar de cavalos” é um pré-requisito desejável, a motivação é indispensável, o que depende, entre outros fatores, de se desenvolver certa empatia com os cavalos. O trabalho com cavalos exige conhecimento, técnica e sensibilidade. Não é a toa que, no linguajar popular, “ignorância” seja sinônimo de “violência”, cujo antídoto está no conhecimento: “a violência começa onde o conhecimento termina”. Entender que os cavalos são criaturas delicadas, sensíveis e medrosas já é um progresso. Nem se trata de “sentir carinho” pelo cavalo; o manejo correto dos animais é mais do que justificado pelo fato de que um animal de quatrocentos quilos, quando sente pânico e dor, representa risco de vida para todos à sua volta. Mantê-lo calmo e confiante é vantagem para todos os envolvidos. Para isso o estudo e a compreensão da psique dos equídeos são instrumentos fundamentais. 2. O que um cavalo precisa? No Brasil vivem quase seis milhões de cavalos; à primeira vista, os “cavalos de luxo” das hípicas e dos jockeys clubes parecem os mais afortunados. No entanto, as suas condições de vida podem ser as mais afastadas das necessidades e do comportamento natural da espécie e algumas doenças destes equinos refletem isto. De cólicas fatais a claudicações incapacitantes, incluindoneuroses de toda espécie, as doenças típicas dos cavalos confinados demonstram que maus-tratos causados por seres humanos podem assumir formas bem mais sutis do que submeter os animais a surras e privações. Há que se evitar a visão antropocêntrica de que o luxo, porém com enclausuramento, confere bem-estar a esses animais. A evolução da espécie humana traz aos seres humanos o desejo de “cavernas aconchegantes”, alimento rico em refeições regulares e a possibilidade do ócio criativo. Já os equídeos evoluíram para perambular nos grandes espaços abertos, alimentando-se de gramíneas e ervas que mordiscam enquanto caminham, por até vinte horas diárias. Oito horas seguidas de sono são, para eles, uma impossibilidade fisiológica, e todo espaço fechado lhes é claustrofóbico, pois seus instintos dizem que sua sobrevivência está em proporção direta à rapidez de seus reflexos e a sua velocidade de fuga. Para um cavalo, também o isolamentos dos seus representa risco de vida, pois durante sessenta milhões de anos o equídeo solitário foi uma presa preferencial dos predadores. Espaços abertos, a busca por alimento, outros equinos por perto, é o que se deve oferecer aos cavalos para proporcionar-lhes saúde e bem-estar físico e psicológico. Explorar de maneira violenta a força de trabalho de um equídeo, principalmente quando magro e doente, é cruel, mas também confinar em uma cocheira um cavalo obeso e ao mesmo tempo fornecer-lhe quantidade excessiva de cubos de açúcar, colocar-lhe um cabresto importado e exclamar “eu amo meu cavalo!” pode até ser uma crueldade muito maior, por não ser percebida como tal pelos leigos da matéria. Ao profissional que atua no manejo de cavalos cumpre desenvolver empatia com a “forma equídea” de ver o mundo e atuar de acordo com ela, para conseguir mudanças na atitude das pessoas responsáveis por cavalos. 3. Características da mente dos equídeos a) Todo cavalo busca conforto e segurança. Além de movimento, pastejo, companhia, isto significa “alívio de pressão”. Por exemplo, quando se segura um cavalo no cabresto, deve-se parar de puxar o cabo assim que o cavalo se sujeitar e ficar imóvel, ensinando-lhe assim, que a obediência significa conforto (ausência de tração no cabo). Quando se continua a puxar o cabo depois que o cavalo está imóvel, a obediência provoca desconforto. Isto será o gatilho do mecanismo de “fuga ou luta”. b) Fuga ou luta – a primeira reação de um cavalo frente ao perigo é fugir. O instinto de luta é acionado apenas quando a fuga é impossível. O cavalo que vai para o confronto já está estressado. É por isso que segurança para os cavalos significa amplos espaços abertos, enquanto o confinamento de cocheiras, trailers ou cordas representam para eles um perigo de vida, a menos que este instinto seja descondicionado por meio de um trabalho calmo e progressivo. c) A resposta condicionada é muito forte nos cavalos e é ela quem possibilita a utilização dos cavalos para os fins que o ser humano determina. Os equídeos não questionam situações e a domesticação limitou seus instintos de preservação. Um exemplo fácil de entender é o “cabresto de barbante”. Um cavalo domesticado aprendeu que deve se sujeitar à contenção por cordas, cabrestos, etc: isto é uma resposta condicionada. O cavalo não raciocina que um cabresto feito de barbante fino não representaria nenhum empecilho físico para a sua liberdade, uma vez que poderia rompê-lo com pouquíssimo esforço. Um cavalo bem domado pode morrer de fome e sede se for abandonado à própria sorte contido por um “cabresto de barbante”, atado num palanque. Pelo condicionamento mental a que foi submetido, o cavalo entenderá que “esta corda significa que não posso me mexer”. O ser humano é responsável pelo bem-estar dos animais domesticados. d) Na sociedade equídea, existem apenas indivíduos superiores e inferiores do ponto de vista hierárquico. Quem não se afirma como superior está declarando sua condição de inferior. Numa manada, ter um líder fraco torna o grupo vulnerável ao ataque de predadores. Na domesticação, o cavalo aprende a aceitar o homem como hierarquicamente superior. Uma liderança humana fraca, seja por características pessoais do “líder humano” ou por desconhecimento que ele tenha destes fatos, causará estresse entre os cavalos. Os cavalos de personalidade mais dominante disputarão a liderança com a pessoa, às vezes sem que ela entenda o que está acontecendo. Um exemplo é a pessoa circulando em volta de um cavalo imóvel, tentando capturá-lo. Desta maneira, a pessoa está se declarando hierarquicamente inferior ao cavalo, que poderá disputar a liderança. e) Os cavalos têm memória associativa muito ativa, que é a base de seu mecanismo de aprendizado. A associação ação/reação precisa ser imediata. Se um cavalo tiver que ser repreendido por um erro, é necessário que se faça no instante em que o problema aconteceu. Também o elogio por bom comportamento tem que ser imediato - e o melhor “elogio” é o alívio de pressão mencionado anteriormente. Por exemplo, “acalmar” e agradar um cavalo que se recusa a subir no trailer pode ensinar ao animal que empacar na rampa é a atitude que dele se espera. Bater no cavalo que acabou de dar um passo rampa acima, “para que ele suba logo”, é entendido pelo cavalo como “apanhei porque dei um passo”. O correto é repreender o cavalo imóvel e elogiá-lo assim que ele der um mínimo que seja da resposta desejada. f) Um cavalo tem três razões básicas para não fazer aquilo que dele se espera: a. Não conseguir – quase sempre uma razão física. Por exemplo, estar fraco demais para escalar um barranco. b. Não entender – quase sempre relacionada a deficiências técnicas, ou seja, treinamento insuficiente. No exemplo anterior, um potro pode ter força física para escalar o barranco, mas não aprendeu ainda que a tração no cabresto (ou o comando de pernas, no caso de um animal montado) sinaliza a ordem para subir no barranco. c. Não querer – de origem emocional, é a mais complicada de corrigir. É o caso dos cavalos com neuroses, agressivos, em pânico, etc. O cavalo teria condições físicas de subir no barranco, entende o que se pede, mas não quer fazê-lo. A correção não passa por soluções físicas (ração, medicamentos), nem técnicas (doma e treinamento) e sim pelas emocionais (motivação). Estas soluções são aprendidas no convívio cotidiano com cavalos. ./././././.
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