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Psicologia do Esporte Antirracista

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INTERSECÇÕES E LIMITAÇÕES NA BUSCA DE UMA PSICOLOGIA DO ESPORTE ANTIRRACISTA
O esporte, assim como diversas outras atividades, passaram a ser associadas à prática colonial estabelecida ao longo dos anos de forma ferrenha, preconceituosa e dominadora. Dessa forma, até os dias atuais ainda podem ser identificadas evidências desse projeto colonizador, principalmente no que se refere as questões de supremacia branca, através da hierarquização pautada no corpo. Nesse cenário, o corpo negro encontra-se marginalizado, sendo, portanto, uma representação da suposta inferioridade desses indivíduos, uma demonstração visível e palpável de uma animalização a eles atrelada pelo homem branco. 
As questões referentes ao corpo negro apresentam-se como componentes muitas vezes presentes no que se refere a processualidade inerente aos processos de subjetivação desses indivíduos, sendo estabelecidas subjetividades e identidades ideais pautados no sujeito/mundo branco. Dessa forma, o negro, tido já como colonizado, pode passar a buscar alcançar esse ideal branco, buscando a sua aprovação, o que pode desencadear em sentimentos de inferioridade e incapacidade (FANON, 2008). Esse racismo ataca tanto a cidadania como a potencialidade criativa/produtiva desses sujeitos, direitos são negados e a própria existência é limitada. O ideal branco e tudo o que é associado a este suprime ao negro a possibilidade de viver em sua totalidade, de expressar-se através de diversos movimentos possíveis (SOUZA, 1983). Portanto, tendo em vista essas limitações constantemente impostas por essa conjuntura racista e discriminatória, presentes inclusive no contexto esportivo, a saúde mental desses sujeitos pode ser comprometida, influenciando nas suas atividades e no seu processo de encontrar-se no mundo.    
Os autores, Filho e Santos (2020), trazem uma comprovação dessa postura racista no esporte brasileiro ao citar situações ocorridas no século XX, além de apontar o papel que o psicólogo desempenhou nesse processo, ao utilizar ferramentas e conhecimentos dessa ciência na busca por confirmações de supostas inferioridades por parte de atletas negros. Os autores fazem um salto no tempo e passam, posteriormente, a buscar indicações atuais de como os psicólogos do esporte atuam frente ao racismo e ao sofrimento psíquico decorrente deste, buscando compreender as práticas desses profissionais e as possibilidades de melhoramento. 
As falas dos psicólogos entrevistas apontam uma concepção limitada do sujeito, que passa a ser encarado apenas através do seu rendimento esportivo, sendo desconsiderados outros aspectos da subjetividade desses indivíduos e dos sofrimentos que esses podem estar/ter encarado. São apontadas falas que indicam uma visão dualista daquilo que pode ser considerado no esporte, havendo tópicos a serem tratados pelo psicólogo do esporte, e outros a serem encaminhados para acompanhamento clínico fora desse contexto, sendo este último atrelado a questões de ordem social, como por exemplo, episódios de racismo (FILHO, SANTOS, 2020). 
É alarmante perceber as restrições que parecem ser definidas para a prática do psicólogo inserido no contexto esportivo, onde as questões sociais, mesmo que estas constituam a subjetividade dos atletas, não são levadas em consideração, sendo apenas encaminhadas e encaradas como demandas a serem resolvidas em outros espaços. O foco apenas no rendimento profissional e na performance esportiva limita a atuação do profissional de psicologia, indo contra a concepção integral que essa possui dos sujeitos, encarados como sendo compostos por diversas facetas (sociais, individuais, biológicas, psíquicas, espirituais).
Nesse contexto, algumas falas dos entrevistados nos mostram que muitas vezes a atuação do psicólogo se faz voltada para o rendimento do atleta e esquecendo do enfoque na saúde mental. Por isso, ressaltamos que há uma deficiência na formação do psicólogo que trabalha diretamente com os atletas. A Psicologia do esporte, se não orientada para uma ação antirracista, pode colaborar para o racismo institucional do esporte. Não podemos continuar a repetir os erros do passado, é necessário que o psicólogo acolha essas demandas e busque apresentar propostas para trabalhar com os efeitos psicossociais do racismo. Dessa forma, olhar para o indivíduo de uma forma integrada é essencial, entendendo que o sujeito pode apresentar outras questões que não estão ligadas ao que é esperado dentro do contexto esportivo, mas que também devem ser consideradas importantes.
Portanto, parte dos futuros profissionais psicólogos e atuantes na área estarem em constante atenção nas questões éticas e primordiais de sua profissão, para não cair na “armadilha” de se esquivar de assuntos sociais, que são de relevância para o ser em sua construção. A Psicologia, independente da área de atuação precisa, primeiramente, estar presente para o outro, esse que possui seus questionamentos, receios, modos de existir. É necessária uma prática pautada em um olhar integral sobre os indivíduos, levando em consideração não apenas, no meio esportivo, as questões relacionadas ao rendimento, mas também os aspectos referentes à sua humanidade (FILHO; SANTOS, 2020). Nesse sentido, busca-se perceber o outro antes mesmo do esporte, para que só assim, entender o contexto de sua atuação, ampliando e melhorando seu rendimento a partir do cuidado, estando incluso nessa conjuntura até mesmo fatores sociais e políticos, haja visto que esses também atuam sobre a constituição destes esportistas. 
REFERÊNCIAS
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
FILHO, M. A. T.; SANTOS, A. O. Esporte, Psicologia e Racismo: É possível ima Psicologia do Esporte Antirracista. Psicologia: Ciência e Profissão, v.40, n. spe, p.1-14, 2020. 
SOUZA, Neusa Santos. Tronar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.

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