Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Sistema Endócrino Explicar a morfofisiologia do pâncreas, considerando os hormônios envolvidos. Entender a integração do metabolismo celular. Anatomia do Pâncreas O pâncreas é uma glândula classicamente designada como mista por ser responsável tanto pela produção de enzimas digestivas (ou secreções exócrinas), secretadas na luz do duodeno (meio externo ao organismo), como pela produção de hormônios (ou secreções endócrinas), secretados no interstício, de onde alcançam a circulação sanguínea (ou meio interno). O pâncreas adulto é um órgão retroperitoneal transversalmente orientado, estendendo-se desde a concavidade em “C” do duodeno até o hilo esplênico. O pâncreas é uma glândula acessória da digestão, alongada, retroperitoneal, situada sobrejacente e transversalmente aos corpos das vértebras L1 e L2 na parede posterior do abdome. Situa-se atrás do estômago, entre o duodeno à direita e o baço à esquerda. Para fins descritivos, o pâncreas é dividido em quatro partes: cabeça, colo, corpo e cauda. → Cabeça Parte estendida em contato com o “C” do duodeno. O colédoco passa dentro dela, ou num sulco posterior a ela; Processo uncinado - projeção medial que passa por trás dos vasos mesentéricos (dobrinha: incisura pancreática) Local comum de tumor → Colo Transição entre cabeça e corpo, 1-2cm. Está sobre os vasos mesentéricos superiores. → Corpo Continuação do colo à esquerda dos vasos mesentéricos superiores; Contato com a parede posterior do estômago e o mesocólon transverso. → Cauda Parte final, anterior ao rim esquerdo e que se relaciona com o hilo esplênico. É relativamente móvel; → Ductos Pancreáticos Liberação de hormônios do trato digestivo; • Ducto pancreático principal (Wirsung) começa na cauda e percorre toda a glândula até a cabeça; Se une com o ducto colédoco para formar a ampola hepatopancreática (de Vater) - que se abre na parte descendente do duodeno, no cume da papila duodenal maior. • Ducto acessório (Santorini) - desemboca na papila duodenal menor. Em geral, o ducto pancreático acessório comunica-se com o ducto pancreático. Em alguns casos, o ducto pancreático é menor do que o ducto pancreático acessório e pode não haver conexão entre os dois. Nesses casos, o ducto pancreático acessório conduz a maior parte do suco pancreático. • Ductos secundários - traz secreções para o ducto principal. → Irrigação e drenagem do pâncreas ARTÉRIAS: Artéria esplênica (baço) Pancreáticas caudal, magna, dorsal e inferior Gastroduodenal (hepática) Pancreático-duodenal superior, anterior e posterior. Mesentérica superior Pancreático-duodenal inferior, anterior e posterior. VEIAS: correspondentes às artérias, drenam na maioria para a veia esplênica. LINFÁTICOS: acompanham os vasos sanguíneos. Histologia do Pâncreas Endócrino O pâncreas é formado por dois tipos principais de tecido: (1) os ácinos, que secretam o suco digestivo no duodeno; e (2) as ilhotas de Langerhans, que secretam insulina, glucagon e somatostatina diretamente no sangue. Os componentes endócrinos do pâncreas, as ilhotas de Langerhans, estão dispersos entre os ácinos secretores Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 exócrinos. Sua delicada cápsula de tecido conjuntivo forma septos, que subdividem a glândula em lóbulos. Cada ilhota se organiza em torno de pequenos capilares, nos quais suas células secretam seus hormônios. As ilhotas contêm três tipos celulares principais, as células alfa, beta e delta, distinguidas entre si, devido às suas características morfológicas e de coloração. → Célula Beta Correspondem a 65% da ilhota; Estão dispersas por toda a ilhota (mais concentradas no centro); Secretam Insulina e amilina, hormônio que é, com frequência, secretado em paralelo com a insulina, apesar de sua função ainda não estar bem esclarecida. Função: diminui os níveis de glicemia; → Célula Alfa Correspondem a 20% da ilhota; Estão na periferia da ilhota; Secretam Glucagon; Função: aumenta os níveis de glicemia; → Célula Delta Possui dois tipos: D e D1; Correspondem a 10% da ilhota; Estão dispersas por toda a ilhota; • Célula D: secreta somatostatina; Efeito parácrino - Inibe a liberação de hormônio pelo pâncreas endócrino e de enzimas pelo pâncreas exócrino. Efeito endócrino - reduz as contrações do trato alimentar e da musculatura lisa da vesícula biliar; • Célula D1: secreta Peptídeo intestinal vasoativo (VIP); Induz a glicogenólise; regula o tônus da musculatura lisa e a motilidade intestinais; controla a secreção de íon e água pelas células epiteliais intestinais; As célula remanescentes (não mostradas na figura) secretam polipeptídeo pancreático e Gastrina e estão dispersas por toda a ilhota. Tem como função inibir secreções exócrinas do pâncreas e estimular a produção de ácido clorídrico (HCl) pelas células parietais do estômago. As inter-relações estreitas entre esses tipos celulares nas ilhotas de Langerhans possibilitam a comunicação intercelular e o controle direto da secreção de alguns dos hormônios por outros hormônios. Por exemplo, a insulina inibe a secreção de glucagon, a amilina inibe a secreção de insulina, e a somatostatina inibe a secreção tanto de insulina como de glucagon. Há três maneiras pelas quais as células das ilhotas pancreáticas se comunicam umas com as outras e, assim, alteram a secreção umas das outras: 1. As junções comunicantes conectam células α umas às outras, células β umas às outras e células α a células β. Essas junções comunicantes possibilitam a rápida comunicação entre as células. 2. As ilhotas recebem cerca de 10% do fluxo sanguíneo pancreático total. O suprimento sanguíneo do pâncreas endócrino é organizado de modo que o sangue venoso de um tipo de célula banhe os outros tipos celulares. 3. As ilhotas são inervadas por neurônios adrenérgicos, colinérgicos e peptidérgicos. As células δ têm, até mesmo, aparência “neuronal” e enviam processos semelhantes a dendritos para as células β, sugerindo comunicação neural intrailhota. Insulina Historicamente, a insulina foi associada ao “açúcar no sangue”, mas, na verdade, ela apresenta efeitos profundos no metabolismo dos carboidratos. Quando existe grande abundância de alimentos muito energéticos na dieta, em especial quantidades excessivas de carboidratos, a sua secreção aumenta. Além disso, ela desempenha um papel importante no armazenamento do excesso de energia. No caso de excesso de carboidratos, a insulina faz com que sejam armazenados sob a forma de glicogênio no fígado, como gordura no tecido adiposo, e como proteína no músculo. Além disso, todo o excesso de carboidrato que não pode ser armazenado na forma de glicogênio é convertido sob o estímulo da insulina em gordura e armazenado no tecido adiposo. → Química e síntese A insulina é uma proteína pequena formada por 2 cadeias de aminoácidos, conectadas por meio de ligações dissulfeto. Quandi as duas cadeias de Aa se separam, a atividade funcional da molécula desaparece. Ela é sintetizada pelos ribossomos ligados ao RE na forma de uma pré-proinsulina que em seguida é clivada no RE para formar a proinsulina, que consiste em 3 cadeias de peptídeos: A, B e o peptídeo de conexão (peptídeo C). A pró-insulina é concentrada em grânulos secretores no complexo de Golgi. Durante esse processo de concentração, proteases clivam o peptídeo de conexão, produzindo a insulina, composta somente pelas cadeias A e B. Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 A insulina e o peptídeo de conexão clivado são acumulados em grânulos secretores e, quando a célula β é estimulada, eles são liberados em quantidades equimolares no sangue. OBS- A secreção do peptídeo de conexão (peptídeo C) é a base do teste para a função das células β em pessoas com diabetes mellitus tipo I para determinar quanto de sua insulina natural ainda está sendo produzida. Pacientes com diabetes do tipo 1, incapazes de produzir insulina, e que estão sob tratamento com injeções de insulina exógena, têm normalmente níveis substancialmente diminuídos de peptídeo C. Quando a insulina é secretada na corrente sanguínea,ela circula quase inteiramente em sua forma livre. Uma vez que a sua meia-vida plasmática é curta, ela é, na sua maior parte, eliminada da circulação dentro de 10-15 minutos. Com exceção da porção da insulina que se liga aos receptores nas células- alvo, o restante é degradado pela enzima insulinase que fica no fígado, rins e músculos. Ao romper as ligações dissulfeto, as cadeias A e B são liberadas, agora inativas, e são excretadas na urina. → Secreção pelas células beta 1. A membrana da célula β contém GLUT 2, transportador específico para a glicose, que move a glicose do sangue para a célula por difusão facilitada. 2. Uma vez na célula, ela é fosforilada e, posteriormente, oxidada. O ATP, um dos produtos dessa etapa de oxidação, parece ser o fator principal que regula a secreção de insulina. 3. ATP fecha os canais de K+, despolarizando a membrana da célula β. 4. Essa despolarização abre os canais de Ca2+ sensíveis à voltagem. 5. O Ca2+ flui para dentro da célula β, até seu gradiente eletroquímico e a concentração intracelular aumentarem. 6. O aumento do Ca2+ intracelular provoca a secreção de insulina. → Mecanismo de ação Para começar a exercer seus efeitos nas células-alvo, a insulina, em primeiro lugar, liga-se e ativa um receptor proteico de membrana. Esse receptor é um tetrâmero composto por duas subunidades α e duas subunidades β. As subunidades α ficam no domínio extracelular, e as subunidades β atravessam a membrana celular. A ligação dissulfeto liga as duas subunidades α, e cada subunidade α está ligada a uma subunidade β por ligação dissulfeto. 1. A insulina se acopla às subunidades α do lado externo da célula, mas, devido às ligações com as subunidades β, as porções das subunidades β que se projetam para o interior da célula são autofosforiladas. 2. A autofosforilação das subunidades β do receptor ativa uma tirosinocinase local que, por sua vez, fosforila diversas outras proteínas ou enzimas, envolvidas nas ações fisiológicas da insulina. 3. O complexo insulina-receptor é internalizado por sua célula-alvo por endocitose. O receptor de insulina é degradado pelas proteases intracelulares, armazenado ou reciclado, para que a membrana celular seja novamente usada. 4. A partir disso, a insulina dirige a maquinaria metabólica intracelular, de modo a produzir os efeitos desejados no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. → Ações da insulina • Ação hipoglicemiante no sangue A insulina aumenta o transporte da glicose para as células-alvo, diminuindo a concentração dela no sangue; Promove a formação de glicogênio, a partir da glicose no fígado e no músculo, e, ao mesmo tempo, inibe a glicogenólise (quebra do glicogênio); Inibe a gliconeogênese (síntese de glicose); Por exemplo, quando a glicose sanguínea sobe a uma concentração elevada depois de uma refeição, a secreção da insulina também aumenta, de modo que a glicose é quase Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 imediatamente armazenada no fígado, sob a forma de glicogênio. • Diminui concentrações de ácidos graxos (gordura) e cetoácidos (fígado) no sangue. Ao atuar no metabolismo de gordura, ela inibe a mobilização e a oxidação dos ácidos graxos e, simultaneamente, aumenta o seu armazenamento. Como resultado, a insulina diminui os níveis circulantes de ácidos graxos e cetoácidos. No tecido adiposo, ela estimula a deposição de gordura e inibe a lipólise; • Diminui a concentração de aminoácidos no sangue. A insulina estimula a captação de aminoácidos pelas células- alvo (por exemplo, no músculo), aumenta a síntese proteica e inibe a degradação proteica. • Aumenta a captação de K+ pelas células, reduzindo o K+ sanguíneo. → Regulação da secreção FATORES ESTIMULANTES: Aumento da concentração de glicose; Aumento de ácidos graxos livres no sangue; Aumento de aminoácidos no sangue; Hormônios gastrointestinais (gastrina, colecistocinina, secretina, peptídeo inibidor gástrico); Glucagon, hormônio do crescimento e cortisol; Estimulação parassimpática -> acetilcolina; Resistência insulínica -> obesidade; Fármacos sulfonilureia; FATORES INIBITÓRIOS: Diminuição da glicose sanguínea; Jejum; Exercícios; Somatostatina; Atividade alfa-adrenérgicos; Glucagon O glucagon é sintetizado e secretado pelas células α das ilhotas pancreáticas. Ao contrário da insulina, que promove o armazenamento de combustíveis metabólicos, o glucagon promove sua mobilização e utilização; É também chamado de hormônio hiperglicêmico, por aumentar os níveis de glicemia no sangue; Tanto a insulina como o glucagon funcionam como importantes sistemas de controle por feedback para o controle da glicose sanguínea. → Química e síntese O glucagon é um polipeptídeo de cadeia linear simples com 29 aminoácidos. Como acontece com outros hormônios peptídicos, o glucagon é sintetizado como pré-pró-glucagon. O peptídeo de sinalização e outras sequências peptídicas são removidos, para a produção do glucagon que depois é armazenado em grânulos densos, até ser secretado pelas células α. Tanto a glicose como a insulina inibem a síntese do glucagon; → Regulação da secreção Os fatores causadores da estimulação da secreção de glucagon são os que informam às células α que ocorreu diminuição da glicose no sangue. Assim, o principal fator estimulante da secreção de glucagon é a diminuição da concentração de glicose sanguínea. A presença de insulina diminui ou modula o efeito da baixa concentração de glicose no sangue, estimulando a secreção do glucagon. Na ausência da insulina (diabetes mellitus tipo I), contudo, a resposta do glucagon à hipoglicemia está reduzida e pode levar à perpetuação da hipoglicemia grave. A secreção de glucagon também é estimulada pela ingestão de proteínas, especificamente, dos aminoácidos arginina e alanina. Outros fatores estimulantes da secreção de glucagon são a colecistocinina (CCK), secretada pelo trato gastrointestinal, quando proteína ou gordura é ingerida, e jejum e esforço intenso. Alguns dos efeitos da estimulação sobre a secreção de glucagon são mediados pela ativação de receptores α- adrenérgicos simpáticos. → Ações do Glucagon Como “hormônio da fome”, o glucagon promove a mobilização e a utilização dos nutrientes armazenados, para manter a glicemia em jejum. As principais ações do glucagon são no fígado. • Ação hiperglicemiante no sangue: Estimula a glicogenólise (quebra do glicogênio hepático) e inibe a formação de mais glicogênio; Aumenta a gliconeogênese; Aumenta a captação de aminoácidos pelas células hepáticas para convertê-los em glicose por meio da gliconeogênese. Somatostatina A somatostatina é um polipeptídeo com 14 aminoácidos, secretado pelas células delta das ilhotas. Ela inibe a secreção de insulina e de glucagon por ações parácrinas, nas células α e β. Assim, a somatostatina é secretada pelas células δ em resposta à refeição, difunde para as células α e β próximas e inibe a secreção de seus respectivos hormônios. Aparentemente, a função da somatostatina é de modular, ou limitar, as respostas da insulina e do glucagon à ingestão de alimentos.
Compartilhar