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TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 1 D i p Prof. Diana Jussara Epidemiologia O que é a DIP? A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) consiste em uma síndrome clínica secundária à ascensão de microrganismos do trato genital inferior (vagina e colo uterino) para o trato genital superior, podendo acometer o útero (endometrite), tubas uterinas (salpingite), ovários (ooforite), superfície peritoneal e/ou estruturas adjacentes. Destes, os órgãos de maior importância são as tubas uterinas. A disseminação para o trato genital superior pode ser causada de forma espontânea ou devido a manipulação. A DIP é considerada a doença infecciosa mais comum em mulheres de países industrializados. É, também, uma das complicações mais importantes das ISTs, sendo uma das principais consequências das cervicites. Todavida, os dados de prevalência são subestimados por não ser uma doença de notificação compulsória e, portanto, o número de mulheres acometidas é desconhecido. Além disso, pode-se apresentar com sintomas leves ou assintomáticos, que passam despercebidos, levando ao subdiagnóstico em alguns casos. Qual o grupo de risco? A patologia é comum em mulheres no período reprodutivo, sendo, portanto, rara em mulheres que não menstruam, grávidas e que estão na menopausa. Costuma ser mais frequente em pacientes tabagistas, não brancas, jovens, nulíparas e com história de DIP prévia ou gonorreia e/ou clamídia não tratadas. Fatores de risco A identificação dos fatores de risco auxilia na prevenção e manejo da doença, contudo, mulheres sem fatores de risco poderão apresentar DIP e todas as suas complicações associadas. I. Faixa-etária: jovens (15-25 anos), pois apresentam múltiplos parceiros devido a fatores biológicos e comportamentais II.Múltiplos parceiros sexuais: a frequência está diretamente relacionada ao número de parceiros (3-4x maior com +4 parceiros em um período de 6 meses) III.Sexarca precoce IV.Status clínico do parceiro: principalmente quando tem quadro de uretrite, gonorreia e/ou não usa preservativo V. Histórico de DIP VI. Raça: comum em mulheres não brancas VII. Método contraceptivo utilizado a. Métodos de barreira: preservativos, diafragmas e espermicidas. Diminuem o risco da doença se utilizados corretamente, sendo o espermicida capaz de evitar contaminação cervical por patógenos sexualmente transmissíveis. b. ACOs: alteram o muco vaginal e dificultam a ascensão dos microrganismos. Por isso, mulheres que usam ACO possuem maior risco para infecção por clamídia, mas aparente proteção ao quadro de DIP aguda. dip Objetivos 1. Conhecer a abordagem clínica ginecológica. 2. Compreender a DIP, sua etiologia e fatores de risco. 3. Conhecer as características das principais vulvovaginites. 4. Conhecer as manifestações clínicas da DIP. 5. Entender o diagnóstico e tratamento da DIP. 6. Conhecer os métodos preventivos para as ISTs. Gonorreia e Clamídia Mulheres com infecções não tratadas por gonorreia e/ou clamídia apresentam até 40% de chances de desenvolver DIP e, destas, 1/4 pode se tornar infértil. Importante! Por ser difícil diagnosticar com precisão, muitas mulheres podem ser tratadas para DIP mesmo sem ter a doença e vice-versa. Contudo, recomenda-se o início do tratamento mesmo sem a conclusão dos exames laboratoriais e de imagem, pois estes podem ser inconclusivos e o tratamento tardio pode levar a complicações graves. TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 2 c. DIU: o risco ocorre somente em um período de 3 semanas após a colocação, independente do tipo de DIU inserido. O risco é maior em pacientes não tratadas para IST, sendo geralmente relacionado com a técnica adotada para colocar o DIU. Mulheres portadoras de cervicite possuem risco de 3-5x maior ao colocar o DIU, por isso não é recomendado. d. Ligadura tubária: possível efeito protetor (evita a disseminação para as demais estruturas). VIII. História de infecção endocervical: principalmente por clamídia ou gonorreia IX. ISTs prévias ou atuais X. Baixo nível socioeconômico XI. Menstruação retrógrada: pode facilitar a progressão das bactérias para as tubas e peritônio. XII. Vaginose bacteriana: pode aumentar 2x o risco de DIP. XIII. Uso de ducha vaginal: pode transmitir bactérias. XIV. Tabagismo XV. Nulíparas: menstruação como fator de risco. Etiopatologia Quais são os agentes etiológicos mais comuns? A DIP tem etiologia polimicrobiana, sendo os agentes mais comuns: I. Bactérias pertencentes às ISTs: a. Principalmente a Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis II.Bactérias não pertencentes às ISTs (presentes na microbiota vaginal endógena): a. Bacteroides, Peptoestreptococcus, Gardnerela vaginalis, Escherichia coli,, Micoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum III. Actinomices israeli: comum em mulheres que usam DIU. IV. Bactérias respiratórias: a. Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus e Streptococcus beta-hemolítico grupo A A maioria dos casos é decorrente de agentes patogênicos sexualmente transmissíveis, sendo os mais comuns a C. trahomatis e N. gonorrhoeae. A infecção por C. trahomatis pode levar ao desenvolvimento de infecção do trato genital superior a partir de cervicite em 30% dos casos. A minoria dos casos é decorrente de bactérias endógenas da microbiota do trato genital inferior ou entéricos e patógenos respiratórios. Os patógenos microbiológicos exatos nas tubas uterinas não podem ser identificados em nenhuma paciente. Além disso, é possível identificar patógenos diferentes para cada sítio em uma mesma paciente. Portanto, os protocolos de tratamento utilizam um esquema de antibioticoterapia capaz de cobrir todos os patógenos mais prováveis. Como ocorre a infecção bacteriana? O canal endocervical é considerado a barreira protetora do trato genital superior. A infecção endocervical com patógenos sexualmente transmissíveis rompe essa barreira e fornece às bactérias vaginais acesso aos órgãos genitais superiores, infectando o endométrio, endossalpinge, córtex ovariano, peritônio pélvico e estroma subjacente, respectivamente. Por que só algumas mulheres têm DIP? As razões pelas quais as bactérias do trato genital inferior causam DIP em algumas mulheres ainda não são totalmente esclarecidas, mas podem estar relacionadas às variações genéticas, menstruação retrógrada, resposta imune, carga bacteriana dos patógenos e às oscilações hormonais do ciclo menstrual, visto que o muco cervical menstrual tem menor efeito bacteriostático. Microbiota do trato reprodutivo inferior Na microbiota do trato reprodutivo inferior de uma mulher saudável predomina a presença de espécies de Lactobacillus que atuam na proteção do meio ambiente vaginal. Pacientes com DIP e/ou vaginose bacteriana (VB) apresentam desequilíbrio nessa microbiota, com redução ou ausência dos Lactobacillus e predominância das espécies anaeróbias. As alterações no microambiente produzidas pela VB (e por inflamações vaginais) podem auxiliar na disseminação ascendente dos microrganismos vaginais causadores de DIP. TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 3 A propagação ocorre predominantemente por via canalicular, segundo a definição clássica da DIP. Contudo, considera-se, também, procedimentos cirúrgicos, como inserção de DIU, biópsia de endométrio e curetagem como origem do desenvolvimento da síndrome. Como é a patogênese? Acredita-se que a infecção do trato reprodutivo superior e estruturas adjacentes seja decorrente de bactérias do trato reprodutivo inferior que se disseminam de maneira ascendente. Essa ascensão pode ser favorecida durante a menstruação, pois ocorre a perda das barreiras ectocervicais, podendo causar ou não resposta inflamatória a depender do microrganismo invasor. I.N. gonorrhoeae: pode causar uma resposta inflamatória na ectocérvice (pode ser ainda mais exacerbada em conjunto com a infecção por E. coli). II. C. trachomatis: Não causa resposta inflamatória aguda na ectocérvice, produzindo pouca ou nenhuma lesão direta permanente às tubas uterinas. Contudo, os mecanismos imunes mediados por células podem ser responsáveis por lesão tecidual, principalmente nos casos de persistência de antígenos de clamídia, os quais podem desencadear uma reação de hipersensibilidade retardada com fibrose e destruição tubárias contínuas. A DIP geralmente se inicia a partir de uma infecção cervical por clamídia ou gonococo e ascende ao trato superior, levando à infecção polimicrobiana. Vulvovaginites Vaginite x Vaginose A vaginite consiste na inflamação das paredes vaginais, resultando em dispareunia, corrimento (branco ou esverdeado), inchaço, irritação, prurido e vermelhidão na região íntima. Já a vaginose não inclui processo inflamatório na região íntima, sendo provocada pelo desequilíbrio da microbiota vaginal, resultando no corrimento anormal de aspecto leitoso, bolhoso, amarelo ou acinzentado e com forte odor de peixe. Quando a mulher se contamina com um agente etiológico (fungo, bactéria ou protozoário), independente de qual seja, ela apresenta um quadro de vaginose, pois essa infecção resulta no desequilíbrio do trato vaginal. A vaginite, por sua vez, seria a vaginose + inflamação. Portanto, seria considerado um estado mais avançado da vaginose. A vaginite pode, ainda, ser causada por um trauma local ou qualquer outra coisa que cause uma alteração na região. O que é uma vulvovaginite? A vulvovaginite consiste na inflamação da vulva, sendo uma das causas mais comuns de corrimento vaginal patológico. As causas mais frequentes são infecções por fungos, bactérias anaeróbicas, tricomonas (protozoário) ou o aumento exacerbado da microbiota normal de Lactobacillus. Costuma apresentar corrimento grumoso, branco/esverdeado. Diferenciam-se das cervicites, pois estas acometem a mucosa glandular, tendo como causas mais comuns as infecções por clamídia e gonococo. Quais são as principais? Candidíase vulvovaginal (CVV) É uma das formas mais comuns de vulvovaginite e atinge boa parte das mulheres ao menos uma vez durante a vida. Infecção polimicrobiana pela teoria de Monif A progressão da infecção por agentes aeróbios determina maior consumo de oxigênio e diminuição do potencial de oxirredução local que, aliados a desvitalização dos tecidos, proporcionam ambiente de microaerofilia ou anaerobiose. Nesse ambiente, os microrganismos que atingiram o trato genital superior passam por uma fase de crescimento lento, onde ocorre o desenvolvimento de agentes anaeróbios oportunistas. Como resultado, obtêm-se uma condição infecciosa polimicrobiana. Tuberculose x DIP Pacientes com tuberculose pulmonar podem evoluir com salpingite e endometrite. Considera-se que esse patógeno utilize a via hematogênica, mas a via ascendente também é possível. Microbiota normal Os lactobacilos mantêm o pH normal fisiológico através do metabolismo da glicose, utilizando-se do glicogênio no epitélio vaginal. A glicose é convertida em ácido lático, tornando o pH vaginal normal entre 3.5-4.5. Essa acidez também é parte dos mecanismos de defesa contra infecções, porém, alguns fatores podem desequilibrar esse sistema, como: muco cervical, sêmen, ATB, duchas vaginais, ISTs, menstruação, DM, gravidez e menopausa. TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 4 I. Etiologia: em 80% a 90% dos casos, o agente causador da CVV é a Candida albicans. O restante é causado por outras espécies específicas de Candida: Candida glabarata, tropicalis, krusei, etc. A Candida albicans faz parte da flora oral, retal e vaginal de forma comensal e, durante a vida reprodutiva, 10% a 20% das mulheres são colonizadas de forma assintomática. II. Classificação a. Não-complicada (maioria): se caracteriza por ser esporádica ou infrequente, leve a moderada, provável agente é a Candida albicans e em pacientes não-imunocomprometidas. b. Complicada: se caracteriza por infecção recorrente por cândida (4 ou mais surtos em um ano), infecção grave, candidíase não-albicans, diabetes não controlado, imunossupressão, debilidade ou gravidez. III. Quadro clínico a. Prurido b. Ardência c. Corrimento grumoso, inodoro, com aspecto de queijo cottage e aderente à parede vaginal d. Dispareunia e. Disúria externa Vaginose bacteriana (VB) É a desordem mais frequente do trato genital inferior em mulheres de idade reprodutiva, responsável por 45-50% dos casos de corrimento vaginal patológico. I. Etiologia: sua patogênese está relacionada ao desequilíbrio na microbiota vaginal, com perda de lactobacilos e aumento de bactérias (Gardenerella vaginalis = mais associado à VB). Outras bactérias podem também estar em supercrescimento, como a Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Mobiluncus spp. Sem lactobacilos, o pH normalmente ácido aumenta e a Gardnerella vaginalis produz aminoácidos, que são quebrados em aminas voláteis, aumentando mais o pH e causando o odor desagradável muito referido pelas pacientes. II. Fatores de risco: muitos estão relacionados à atividade sexual, mas não é considerada uma IST e não é indicado o tratamento do parceiro. a. Sexo oral b. Duchas vaginais c. Etnia negra d. Tabagismo e. Sexo no período menstrual f. Uso de DIU g. Relação sexual em idade precoce h. Múltiplos parceiros sexuais III.Quadro clínico a. Odor fétido (piora após o coito e durante a menstruação) b. Corrimento bolhoso e branco/acinzentado c. NÃO há irritação ou inflamação vulvar ou vaginal IV. Desfechos ginecológicos adversos a. Vaginite b. Endometrite c. DIP não associada à Neisseria ou Chlamydia d. Infecções pélvicas agudas pós-cirugias pélvicas Tricomoníase A tricomoníase é considerada a doença sexualmente transmissível não-viral mais comum no mundo. Constitui importante fonte de morbidade reprodutiva e facilitadora da infecção pelo HIV. É mais comumente diagnosticada em mulheres, pois a maioria das infecções em homem é assintomática. Por ser uma IST, deve ser realizado o tratamento do parceiro. I.Etiologia: infecção por Trichomonas vaginalis transmitido por relação sexual desprotegida (=IST). A coinfecção com Neisseria é muito comum, assim como outros patógenos. Pode ocorrer transmissão vertical. II.Quadro clínico a. Corrimento abundande, de fluido espresso, amarelo/esverdeado b. Odor fétido c. Disúria d. Dispareunia e. Prurido vulvar f. Dor g. Vulvite discreta h. Hiperemia difusa da vagina i. Colo com aspecto de framboesa ou morango j. Leucorreia, hemorragias subepiteliais ou manchas vermelhas na vagina e colo uterino TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 5 Diagnóstico O diagnóstico clínico continua sendo a abordagem mais importante na DIP, mesmo apresentando amplo espectro de manifestações clínicas. Quais são as manifestações clínicas? Os sintomas costumam se iniciar durante ou logo após a menstruação, sendo eles: I. Dor abdominal inferior ou pélvica (90% dos casos) a. Leve e unilateral: limitada à trompa b. Intensa e constante: comprometimento peritoneal (sinal de Blumberg positivo) II. Dor à palpação de anexos III. Dor à mobilização do colo do útero IV. Massa ou tumoração pélvica V. Hipertermia e calafrios VI. Secreção vaginal ou cervical purulenta VII. Sangramento uterino anormal: sangramento pós-coital, intermenstrual e menorragia (30% dos casos) VIII. Disúria ou polaciúria IX. Náuseas e vômitos X. Dor subcostal: devido a peri-hepatite (síndrome de Fitz-Hugh- Curtis) e/ou septicemia (raros) XI. Dispareunia O curso temporal é tipicamente agudo, desenvolvendo-se por vários dias. Contudo, pode ocorrer apresentação mais extensa por semanas ou meses. Quais são os tipos de DIP? Essadiversidade e variação na intensidade dos sinais e sintomas torna o diagnóstico da doença muito difícil, principalmente porque, em 65% dos casos, as mulheres apresentam sinais e sintomas leves e/ou assintomáticos. Com base nisso, pode-se subdividir a DIP em: DIP silenciosa, DIP aguda e DIP crônica. DIP silenciosa Não consiste em um diagnóstico clínico, mas sim um diagnóstico final. Neste, as mulheres possuem quadros clínicos assintomáticos, apresentando, posteriormente, infertilidade por fator tubário compatível com infecção do trato superior. Acredita-se que essa condição resulte em múltiplas ou contínuas infecções de baixo grau em mulheres assintomáticas, podendo ser confirmado pelo fato que muitas dessas pacientes apresentam anticorpos para C. trahomatis e N. gonorrhoeae. Apresenta: I. Laparoscopia: mostra tubas uterinas normais na maioria dos casos. Internamente, é possível observar a presença de pregas mucosas planas, deciliações extensas do epitélio e degeneração das células epiteliais secretoras. É possível encontrar hidrossalpinge. II. USG: hidrossalpinge tende a ser anecoica, tubular, serpentina e, frequentemente, com septos incompletos. III. Aderências finas entre a cápsula hepática e a parede anterior do abdome podem indicar doença silenciosa prévia. DIP aguda Apresentação do quadro clássico, sintomático, iniciando-se, geralmente, durante ou logo após a menstruação. DIP crônica O diagnóstico de DIP crônica é dado para mulheres com histórico de DIP aguda que subsequentemente apresentam dor pélvica. Em termos clínicos, a precisão do diagnóstico é muito menor do que para a DIP aguda. Como é feito o diagnóstico? O diagnóstico da maioria dos casos de DIP é feito pela história clínica e exame físico, não sendo necessários outros métodos diagnósticos para justificar o início do tratamento. Contudo, como muitos casos são subagudos ou silenciosos, pode-se utilizar métodos auxiliares. Exame físico I. Aferição dos sinais vitais II. Exame abdominal III. Exame especular vaginal, com inspeção do colo do útero para friabilidade e corrimento mucopurulento cervical TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 6 IV. Toque vaginal bimanual, com mobilização do colo V. Palpação dos anexos (ovários e trompas uterinas) Exames laboratoriais e de imagem I. Hemograma: apresenta leucocitose > 10.000-12.000, com aumento do número de bastonados. Exclui o diagnóstico de hemoperitônio. II. EAS/urina tipo 1: excluir infecção do trato urinário III. Velocidade de hemossedimentação (VHS): elevada IV. Proteína C reativa: aumentada V. Exame bacterioscópico para vaginose bacteriana VI.Cultura de material da cérvice uterina com antibiograma VII. Biologia molécular para N. gonorrhoeae e C. Trachomatis no mateiral da endocérvice e uretra VIII. Hemocultura IX. Sorologia para sífilis (VDRL) X. Imunofluorescência indireta para clamídia XI. Teste anti-HIV XII. Beta-hCG: descartar gravidez ectópica XIII. USG pélvica ou transvaginal: pode mostrar tubas uterinas cheias de material espesso, líquido livre na pelve e presença de abscesso tubo-ovariano. Sensibilidade de 85% e quase 100% de especificidade para diagnóstico. É recomentado nos casos em que as mulheres apresentam dor e sensibilidade abdominal acentuadas, limitando a avaliação dos órgãos do trato reprodutivo superior durante o exame bimanual. XIV. Culdocentese: punção de fundo-de-saco vaginal para Gram e culturais de microrganismos aeróbios e anaeróbios XV. Biópsia endometrial: evidência endometrite XVI. Laparoscopia: considerada padrão-ouro para o diagnóstico, permitindo o diagnóstico diferencial, coleta para material de cultura e, ainda, pode atuar na fase terapêutica. Possui sensibilidade de 50% e especificidade de 85%, sendo raramente necessária para o diagnóstico. Esse exame é recomendado apenas em pacientes com alta suspeita de outro diagnóstico de abdome agudo, falha no tratamento para DIP ou que não melhoram nas primeiras 72h. a. Se apresenta como recurso acurado no diagnóstico de salpingite, mas não é capaz de detectar endometrite e inflamação tubária menos intensa, o que justifica o seu uso desnecessário na fase inicial da doença (=baixa sensibilidade). b. Teve muito mérito na década de 1980 por conta da classificação de Gainesville. Na prática, ainda é bastante utilizada de acordo com os achados clínicos e ultrassonográficos, sendo importante para nortear o tratamento. Apesar de auxiliarem no diagnóstico e avaliação da gravidade, principalmente nos casos de oligossintomáticos, o tratamento não deve ser retardado pela necessidade de realização de exames nos casos de alta suspeita clínica. Quais são os diagnósticos diferenciais? Deve-se avaliar todas as possibilidades diagnósticas antes de iniciar o tratamento, descartando as causas que podem provocar sintomatologia semelhante a quadros de DIP. São elas: I. Gastrintestinais: apendicite, colecistite, constipação II. Renais: cistites, pielonefrites, litíase renal, uretrites III. Obstétricas e ginecológicas: dismenorreia, gravidez ectópica, complicações gestacionais, abortamento séptico, cisto de ovário, torção ovariana, torção de miomas, tumores de ovário, endometriose. Quais são os critérios diagnósticos? O diagnóstico clínico de DIP é realizado a partir da presença de: I. 03 critérios maiores + 01 critério menor ou II. 01 critério elaborado Classificação de Gainesville Grau I: salpingite sem peritonite. Grau II: salpingite com peritonite. Grau IIIa: hidrossalpinge. Grau IIIb: abscesso tubo-ovariano roto. Grau IV: qualquer dos graus acima, associados à tuberculose genital. TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 7 Como deve ser o manejo da DIP? Tratamento Quais são os tipos de tratamento? O tratamento da DIP pode ser ambulatorial ou hospitalar a depender das características do quadro clínico da paciente. Em ambos os casos, o tratamento deve ser iniciado imediatamente para evitar complicações. O tratamento consiste no uso de antibióticos associados a analgésicos e anti-inflamatórios para diminuir a sintomatologia. I.Tratamento ambulatorial: se aplica às mulheres com quadro clínico leve e sem sinais de pelviperitonite (grau I de Gainesville). II.Tratamento hospitalar: se aplica às mulheres com DIP grau II- IV e incluídas nos seguintes critérios: Como é o esquema terapêutico? A antibioticoterapia deve ser de amplo espectro, com eficácia para N. gonorrhoeae, C. tichomatis e bactérias anaeróbias, em especial o Bacterioides fragilis. Deve contemplar, ainda, vaginose bacteriana, bactérias Gram negativas, bactérias facultativas e estreptococos. I. Antibióticos de amplo espectro: betalactâmicos, aminoglicosídeos, tetraciclinas, lincosaminas e macrolídeos. Devem ser usados em associação e administrados via parenteral (pode ser suspenso 24h após cessarem os sintomas) ou oral (durante 14 dias). II. Doxiciclina: escolha ideal para tratar C. trachomatis Alguns procedimentos cirúrgicos podem ser indicados a depender do quadro clínico da paciente, sendo eles: I. Laparotomia: indicada nos casos de massas anexiais não responsivas ao tratamento ou que se rompem. II. Culdotomia: indicada caso o abscesso ocupe o fundo do saco de Douglas. III. Punção guiada por USG: esvaziamento de abscessos tubo- ovarianos. No mais, indica-se que a mulher siga as seguintes recomendações: I.Abstinência sexual por 30 dias ou até a cura clínica II. Uso de preservativo em todas as relações sexuais III. Remoção do DIU: recomendada apenas nos casos graves, para pacientes que desejam engravidar e caso não ocorra melhora TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 8 clínica após 72h da antibioticoterapia. Só deve ser removido após duas doses do esquema terapêutico. O que fazer se não houver melhora? A melhora clínica deverá acontecer em até 3 dias após o início do tratamento antimicrobiano.A segunda consulta de retorno deve ocorrer após 30 dias do início do tratamento e, se houver persistência ou piora do quadro, rever diagnóstico, utilizando-se da laparoscopia, RMN e TAC. A DIP tem cura? Sim. A cura é baseada no desaparecimento dos sinais e sintomas e a normalização dos exames laboratoriais de marcadores inflamatórios. Estudos demonstram que, se a avaliação for feita no período de 30 dias após o início do tratamento, 40% das mulheres ainda apresentam a presença de um ou mais agentes bacterianos. O parceiro deve ser tratado? Sim. Parceiros sexuais de até 2 meses antes do diagnóstico devem ser tratados empiricamente para N. gonorrhoeae e C. tichomatis com ceftriaxona 500mg intramuscular e azitromicina 1g via oral em dose única, mesmo nos casos assintomáticos. Quais são as complicações/sequelas da DIP? A DIP possui risco aumentado para algumas patologias. Vale salientar que essas proporções aumentam a medida em que aumentam os números de episódios da infecção. Complicações agudas I. Abscesso tubo-ovariano: coleção de pus nos anexos que se desenvolve a partir de uma tentativa do organismo de conter a salpingite. Pode surgir acompanhado de infecção aguda ou crônica, sendo a sua ocorrência maior caso o tratamento seja tardio ou incompleto. II. Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: peri-hepatite que causa dor no hipocôndrio direito e pode resultar de salpingites agudas pelo gonococo ou clamídia. Complicações tardias III. Gravidez ectópica (15-60%): geralmente são causadas por cicatrizes e aderências nas trompas de Falópio. IV. Infertilidade (10-50%) V. Dor pélvica crônica (25%) VI. AVE VII. CA de ovário VIII. Obstrução aguda do intestino delgado Métodos preventivos para ISTs A prevenção combinada das IST contempla diversas ações de prevenção e assistência, distribuídas em três áreas estratégicas com componentes específicos. A oferta de diagnóstico e tratamento para IST assintomáticas é a estratégia para triagem e tratamento das seguintes IST assintomáticas: sífilis latente recente e tardia, infecções por N. gonorrhoeae e C. trachomatis em mulheres, HIV e hepatites virais B e C. Transmissão vertical: HIV, sífilis e hepatite B Todas as gestantes e suas parcerias sexuais devem ser investigadas para IST e informadas sobre a possibilidade de prevenção da transmissão para a criança, especialmente de HIV/aids, sífilis e hepatite viral B. O diagnóstico precoce (com o uso de testes rápidos) e a atenção adequada no pré-natal reduzem a transmissão vertical. A presença de IST na gestação pode afetar a criança e causar complicações, como aborto, parto prematuro, doenças congênitas ou morte do recém-nascido. TUTORIA | CASO 07 Maria Eduarda Rocha Guedes 9 A atenção integral às pessoas com IST e às parcerias sexuais, no momento adequado e oportuno, interrompe a cadeia de transmissão dessas infecções e melhora a qualidade de vida das pessoas. É fundamental orientá-las sobre a prevenção da transmissão e de novas infecções, assim como sobre os sinais e sintomas, a necessidade de atendimento em uma unidade de saúde e a importância de evitar contato sexual até que a parceria seja tratada e orientada. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para a atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. 2015 FREITAS. Rotinas em ginecologia. 6ed. HOFFMAN, Barbara et al. Ginecologia de Williams. 2 ed. MENEZES, Maria Luiza B et al. Protocolo brasileiro para infecções sexualmente transmissíveis 2020: doença inflamatória pélvica. 2021.
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