Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Doença Inflamatória Pélvica 1 � Doença Inflamatória Pélvica Bárbara Carvalho | med fap 1- Compreender a DIP (epidemio, fisiopato, fatores de risco, tratamento, principais tipos, diagnóstico e prevenção) A doença inflamatória pélvica (DIP) é considerada como sendo um conjunto de processos inflamatórios da região pélvica devido à propagação de microrganismos a partir do colo do útero e da vagina para o endométrio, tubas, peritônio e estruturas adjacentes. Essa propagação ocorre de forma direta do colo para os órgãos superiores, denominada de via canalicular: Epidemiologia: A doença inflamatória pélvica é uma das mais importantes afecções sexualmente transmissíveis, sendo na grande maioria das vezes uma das principais consequências das cervicites. Estima-se um caso de doença inflamatória pélvica para cada oito a dez casos de mulheres com cervicites por Chlamydia trachomatis (estima- Doença Inflamatória Pélvica 2 se que esta infecta cerca de 10,7% das mulheres entre 15 e 25 anos, embora alguns estudos apontem taxas de 2% até 18%). Essa bactéria também tem prevalência elevada em gestantes. Os dados de prevalência existentes são subestimados, já que a doença inflamatória pélvica não é de notificação compulsória e, portanto, o número de mulheres acometidas é desconhecido. Além disso, muitos casos apresentam-se com sintomas clínicos leves ou escassos e passam despercebidos. Estudos indicam que 10% a 40% das mulheres com cervicite por N. gonorrhoeae ou C. trachomatis desenvolvem doença inflamatória pélvica. Fatores de Risco: adolescência (1 em cada 5 casos de DIP ocorre em menores de 19 anos); (jovens de 17 a 21 anos tem mais chance de serem diagnosticadas com DIP). Isso se dá por que essa população se submete mais a fatores comportamentais, como múltiplos parceiros e sexo desprotegido - parceiro(a) com uretrite também é importante; e fatores biológicos, como maior superfície passível de ser infectada. comportamento sexual história passada ou atual de IST (clamídia, micoplasmas e gonococo) uso de DIUs (aumenta o risco de 3 a 5x) se a paciente for portadora de cervicite na época de inserção. sexarca menor que 25 anos; baixo nível socioeconômico solteira nuliparidade tabagismo/alcoolismo/drogas ilícitas Etiologia: POLIMICROBIANA. A Chlamydia trachomatis é atualmente o patógeno mais comumente detectado em até 60% das mulheres confirmadas com salpingite ou endometrite, embora o gonococo Doença Inflamatória Pélvica 3 continue sendo considerado um agente primário. Bactérias da classe das Molicutes (Mycoplasma hominis, Mycoplasma genitalium, Ureaplasma urealyticum) também podem estar envolvidas. Entre elas, o Mycoplasma genitalium tem se mostrado de grande importância em termos de crescente frequência e resistência bacteriana aos antibióticos usuais. Além desses microrganismos, um pool de bactérias incluídas no meio ambiente vaginal, como Gardnerella vaginalis, Bacteroides spp. e outros germes responsáveis por vaginoses, pode contribuir para o quadro. Em 9% a 23% dos casos em mulheres com salpingite e endometrite confirmada, a etiologia é não gonocócica e não clamidial. À medida que o processo evolui, ocorre gradativamente diminuição da concentração de oxigênio localmente, aumentando a presença dos anaeróbios, entre eles Bacteroides fragilis, Peptostreptococcus spp. e Prevotella spp. Fisiopatologia: 1º: agentes implicados nas cervicites instalados no colo uterino, caracterizando o ´´estádio 0: pré-dip´´ - importância de ser identificado nessa fase pois após esse estádio, principalmente na época menstrual ou pós-menstrual imediata (pela abertura do colo uterino) há ascensão desses agentes pelo endométrio. 2º ascende para o endométrio: endometrite - habitualmente fugaz, e possibilidade de sangramento discreto além da menstruação ou mesmo o prolongamento desta. Na ocasião da menstruação ou após, ocorre modificação do muco cervical facilitando esse processo. Alguns justificam essa situação pelo fato de o sangue menstrual ser alcalino e também propiciar um meio de cultura. 3º ascendem pos via canalicular, instalando-se na tuba uterina - inicia a formação de conteúdo purulento, que pode se desprender, passar pelas fímbrias e derramar no peritônio pélvico, ocasionando pelviperitonite. (maior acúmulo no fundo de saco de Douglas, esse local se apresenta com maior sensibilidade, desencadeando dispareunia e dor ao toque vaginal e, sobretudo, no fundo de saco de Douglas). Nesse tempo, alças intestinais e epíplon tendem a bloquear o processo purulento, formando o denominado “complexo tubo-ovariano”. Doença Inflamatória Pélvica 4 À medida que aumenta a viscosidade desse conteúdo, pode ocorrer a fusão das fimbrias tubárias, provocando aprisionamento de pus dentro das tubas, denominado de piossalpinge. Com esse conteúdo aprisionado, ocorrem diminuição dos níveis de oxigênio e aumento gradativo na proliferação dos anaeróbios em detrimento dos aeróbios. 4º Esse conteúdo purulento pode se propagar para os ovários, constituindo abscesso tubo-ovariano (ATO). Esse pode posteriormente ser esterilizado e formar uma massa multicística com conteúdo citrino estéril, denominado de hidrossalpinge, como forma de sequela do processo infeccioso e inflamatório. Embora menos frequente, o conteúdo do ATO pode aumentar a tensão intra-abscesso e se romper, podendo ocasionar um quadro grave com grande derramamento de pus no peritônio, choque séptico e até levar a óbito. Felizmente, casos letais associados diretamente com a DIP são infrequentes. Em relação à dor, ela é desencadeada a partir da entrada dos agentes na cavidade uterina, tornando-se maior quando o conteúdo purulento contamina a cavidade pélvica. Quando há fusão das fímbrias, poderá ocorrer relativa diminuição da sensação dolorosa e se tornar máxima quando há ruptura do ATO. Doença Inflamatória Pélvica 5 Diagnóstico: É difícil devido a grande variedade de sintomas, pode incluir de sinais leves a dor abdominal intensa. Diagnóstico baseado primeiro na evolução clínica, devendo-se iniciar o tratamento ANTES da confirmação laboratorial ou de imagem. A DIP deve ser suspeitada, como diagnóstico diferencial, principalmente em mulheres com idade entre 15 e 44 anos com dor abdominal baixa ou dor pélvica à mobilização da cérvice, mesmo se os sintomas forem leves. Nem a história clínica, nem exame físico ou testes laboratoriais são sensíveis ou específicos o suficiente para definir o diagnóstico com certeza. Os exames laboratoriais podem ser normais em pacientes com DIP, e para o diagnóstico definitivo em alguns casos, pode ser necessário exame laparoscópico. O diagnóstico clínico isolado tem sensibilidade de 87% e especificidade de 50%. Quando comparados os dados clínicos com o diagnóstico laparoscópico, tem valor preditivo positivo de 65% a 90%. A paciente pode apresentar-se assintomática ou ter sintomas que incluem (lembrando que tratamos a PACIENTE): dor pélvica (evento principal); febre; calafrios corrimento vaginal ou cervical; coceira ou odor. Doença Inflamatória Pélvica 6 sangramento vaginal: aumento ou prolongamento da menstruação (devido a endometrite rápida). Sangramrnto vaginal anormal de pouca quantidade após a menstruação. dispareunia: devido à inflamação de ligamentos pélvicos ou peritonite; disúria: principalmente na presença de uretrite; dor lombar; náusea e vômito. 60% dos casos se apresentam na forma silenciosa e subclínica. Dos casos sintomáticos, 36% são leves a moderados, enquanto 4% são mais graves. Prevenção: O rastreio e o tratamento de mulheres sexualmente ativas reduzem o risco para DIP. O CDC recomenda rastreio de infecção por clamídia nos seguintes casos Mulheres com idade menor ou igual a 25 anos e sexualmente ativas; Mulheres com múltiplos parceiros (dois ou mais parceiros por ano); Mulheres cujo parceiro tem múltiplas parceiras; Mulheres com novo parceiro sexual (início há menos de 90 dias); Mulheres com parceiro com secreçãouretral; Mulheres que apresentarem sinais e sintomas de cervicite. Sabe-se que, em termos de custo-efetividade, é mais econômico realizar exames de rastreio de DIP, desde que bem indicados, do que tratar as consequências de longo prazo. Embora no Brasil não existam normativas para rastreio populacional da clamídia, nem mesmo entre as adolescentes, para esse fato merece análise cuidadosa dos serviços de saúde, pois os gastos de um programa de rastreamento de cervicites seria muito mais custo-efetivo que o tratamento de casos de infertilidade e gravidez ectópica com complicações futuras dos casos de DIP. Doença Inflamatória Pélvica 7 2- Compreender o quadro clínico, principais diagnósticos diferenciais e principais complicações da DIP Quadro clínico: A DIP manifesta-se, habitualmente, com um padrão clínico subagudo e oligossintomático, e dor abdominal em intensidade variável é sintoma obrigatório. É mais comum em mulheres jovens, que, pelo fato de com maior frequência não incorporarem o hábito de sexo seguro, têm maior chance de contrair agentes causais das cervicites, sendo esses os mais importantes para desencadeamento da DIP. Um dos principais problemas é que, muitas vezes, esse processo passa despercebido, pois os sintomas clínicos como a dor se apresentam de forma discreta, não suscitando a suspeita diagnóstica. Doença Inflamatória Pélvica 8 É uma das mais importantes complicações das infecções sexualmente transmissíveis (IST) e um sério problema de saúde pública. Apresenta relevância devido às suas complicações, tanto do ponto de vista de emergência no caso da pelviperitonite ou ruptura de abscesso tubo-ovariano (ATO), como em longo prazo, podendo provocar infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica. artigo: O curso temporal é tipicamente agudo, desenvolvendo-se por vários dias; no entanto, pode ocorrer apresentação mais extensa por semanas ou meses. Os sintomas, quando presentes, podem incluir febre, dor abdominal, dor pélvica, dispareunia, corrimento vaginal e disúria ou polaciúria. Observa-se sangramento uterino anormal (sangramento pós-coital, sangramento intermenstrual e menorragia) em um terço ou mais dos casos. Apenas uma minoria desenvolve peritonite ou abscesso pélvico, que geralmente se manifestam por dor mais intensa, maior sensibilidade ao exame e características sistêmicas, como febre. Mais raramente, ocorre extensão até a cápsula hepática, causando peri-hepatite (síndrome de Fitz-Hugh Curtis) ou septicemia, ou ambas. O exame clínico deve incluir aferição de sinais vitais; exame abdominal; exame especular vaginal, com inspeção do colo de útero para friabilidade (sangramento fácil) e corrimento mucopurulento cervical; toque vaginal bimanual, com mobilização do colo; e palpação dos anexos (ovários e trompas uterinas). Principais diagnósticos diferenciais O diagnóstico diferencial deverá ser feito com manifestações uroginecológicas, gastrointestinais e musculoesqueléticas. Portanto, o ginecologista deve estar atento com elevado nível de suspeição na presença de um ou mais dos critérios mínimos diagnósticos, dessa forma implantando terapêutica antibiótica precoce e diminuindo a chance de sequelas. Os principais diagnósticos diferenciais devem incluir: Gravidez ectópica; Tumor, torsão ou cisto ovariano; Doença Inflamatória Pélvica 9 Aborto séptico incompleto; Endometriose, adenomiose, leiomioma uterino, endometrioma roto; Nefrolitíase, pielonefrite, cistite; Litíase urinária; Apendicite, síndrome do intestino irritável e outras doenças gastrointestinais Principais complicações: As complicações agudas da DIP incluem peritonite e bacteremia, que podem resultar em endocardite, meningite e artrite supurativa. As sequelas crônicas da DIP incluem infertilidade e obstrução tubária, gravidez ectópica, dor pélvica crônica e obstrução intestinal devido a aderências entre o intestino e os órgãos pélvicos. 3- Relacionar a DIP com as bactérias presentes na vagina, vulvovaginites e ISTs ROBBINS: A Neisseria gonorrhoeae continua a ser uma causa comum da DIP, a complicação mais séria da gonorreia em mulheres. Com o gonococo, as alterações inflamatórias começam a aparecer aproximadamente 2 a 7 dias após a inoculação. Ainfecção inicial envolve mais comumente a mucosa endocervical, mas ela também pode começar na glândula de Bartholin e em outras glândulas vestibulares ou periuretrais. Apartir de qualquer um desses lugares, os organismos podem se disseminar para cima e envolver as tubas uterinas e a região tubo-ovariana. A infecção por Clamydia é outra causa bem reconhecida de DIP. As infecções após abortos espontâneos ou induzidos e partos normais ou anormais (chamadas infecções puerperais) também são causas importantes de DIP. Nessas situações, as infecções são tipicamente polimicrobianas e podem ser causadas por estafilococos, estreptococos, coliformes e pelo Clostridium perfringens. Doença Inflamatória Pélvica 10 ARTIGO: A maioria dos casos é decorrente de agentes patogênicos sexualmente transmitidos, como N. gonorrhoeae e C. trachomatis. Uma minoria de casos agudos não são transmitidos sexualmente, mas associados a germes que colonizam o trato genital inferior ou entéricos, como Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum, Peptococcus spp., Peptoestreptococcus spp., Bacteroides spp., Escherichia coli, Streptococcus agalactiae e Campylobacter spp., além de patógenos respiratórios (por exemplo, Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, estreptococos do grupo A e Staphylococcus aureus). Os aeróbios facultativos da microbiota são considerados agentes causadores potenciais. 4- Conhecer os principais exames complementares para investigação da DIP Na suspeita de DIP, a paciente deve ser avaliada por meio dos seguintes exames: Hemograma completo que possa sugerir presença de processo inflamatório (leucocitose e/ou bastonetose); Doença Inflamatória Pélvica 11 Exames de urina tipo I e urocultura, para afastar infecção do trato urinário; Provas bioquímicas inflamatórias (velocidade de hemossedimentação – VHS – e proteína C reativa). Embora inespecíficas, auxiliam no raciocínio diagnóstico, somadas às outras alterações; Exame bacterioscópico para avaliar vaginose bacteriana; Identificação do agente preferencialmente por provas de biologia molecular para diagnóstico de clamídia e gonococo, bem como por cultura para gonococo e, se possível, com antibiograma e determinação de resistência; Teste de gravidez, se essa não pode ser excluída com certeza, principalmente para afastar gravidez ectópica; Ultrassonografia transvaginal (USTV): método de escolha para a avaliação inicial de dor pélvica, pode mostrar imagem de 1. espessamento da parede tubária menor que 5mm (100% de sensibilidade) 2. septos incompletos intratubários 3. sinal de roda dentada (corte transversal) - 95% a 99% de especificidade 4. espessamento e líquido tubário 5. ATO A USTV tem habilidade limitada para o diagnóstico de DIP aguda, mas em alguns casos de mulheres com sintomas de DIP, ela pode ser útil quando se identificam imagens típicas. Doença Inflamatória Pélvica 12 Se a USTV for inconclusiva, considerar outros métodos de imagem: Tomografia computadorizada da pelve, que pode evidenciar alterações nos planos fasciais do assoalho pélvico, espessamento dos ligamentos uterossacrais, inflamação tubária ou ovariana, coleção líquida anormal; Ressonância magnética (RM) pode mostrar: ATO, piossalpinge, líquido intratubário, aparência de policistose ovariana com líquido livre na pelve. A RM tem maior acurácia quando comparada com a USTV para o diagnóstico de DIP e pode, portanto, substituir a laparoscopia; Laparoscopia pode ser usada para confirmar o diagnóstico. Todas as mulheres que têm DIP aguda devem ser rastreadas para clamídia e gonococo e devem ser testadas para a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV); Outros exames bioquímicos na dependência de cada caso e desua gravidade: provas de função hepática e renal, avaliação hidroeletrolítica, entre outros. Doença Inflamatória Pélvica 13 Concluindo, em relação ao diagnóstico da DIP, é eminentemente clínico, e deve basear-se nos seguintes critérios, segundo o CDC Existem também os CRITÉRIOS ESPECÍFICOS, que por si só definem a presença de DIP, sendo eles: USG endovaginal ou RM ou outro método de imagem sugerindo a presença de ATO ou complexo tubo-ovariano (coleção diversa podendo conter alças intestinais, epíplon e/ou conteúdo líquido em forma associada); Biópsia endometrial demonstrando a presença de endometrite; Laparoscopia demonstrando sinais sugestivos de infecção tubária ou tuboperitonial. 5- Entender as vulvovaginites (conceito, quadro clínico, agentes etiológicos, principíos terapêuticos) Vulvovaginites e vaginoses são as causas mais comuns de corrimento vaginal patológico e acometem o epitélio estratificado da vulva e/ou vagina. Os agentes etiológicos mais frequentes são fungos, bactérias anaeróbicas em número aumentado, tricomonas (protozoário) e até mesmo um aumento exacerbado dos lactobacilos. Doença Inflamatória Pélvica 14 Vaginite por Trichomonas A vaginite por Trichomonas é causada pelo parasito flagelado, sexualmente transmitido, Trichomonas vaginalis. Tem alta taxa de transmissão; Os fatores imunes locais e a quantidade de protozoários inoculados influenciam o surgimento dos sintomas, os quais – assim como os sinais – podem ser muito mais leves em pacientes com um pequeno inóculo de tricomonas, assim como a vaginite por Trichomonas é frequentemente assintomática. Principais sintomas: corrimento vaginal fétido, purulento e abundante, que pode ser acompanhado de prurido vulvar; em pacientes com altas concentrações dos microorganismos, podem ser observados eritema vaginal focal e colpite macular (colo em framboesa); A morbidade associada à vaginite por Trichomonas pode estar relacionada com a VB. Pacientes comvaginite por Trichomonas estão sob maior risco de celulite da cúpula da vagina após histerectomia. Gestantes com vaginite por Trichomonas estão sob maior risco de ruptura prematura das membranas e de parto pré-termo. Como a vaginite por Trichomonas é transmitida sexualmente, as mulheres com essa infecção devem ser submetidas a exames para detecção de outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), em particular Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. Também se deve considerar o teste sorológico para sífilis e infecção pelo HIV. O tratamento da vaginite por Trichomonas pode ser resumido da seguinte maneira: 1. O metronidazol é o fármaco de escolha para tratamento da tricomoníase vaginal. Os esquemas, tanto em dose única (2 g VO) quanto em múltiplas doses (500 mg 2 vezes/dia durante 7 dias), são muito eficazes e apresentam taxas de cura aproximadas de 95% 2. O parceiro sexual deve ser tratado 3. O gel de metronidazol, embora seja muito eficaz no tratamento da VB, não deve ser usado no tratamento da tricomoníase vaginal Doença Inflamatória Pélvica 15 4. Mulheres que não respondem ao tratamento inicial devem ser tratadas novamente com 500 mg de metronidazol 2 vezes/dia durante 7 dias. Se a repetição do tratamento não for eficaz, a paciente deve ser tratada com uma dose de 2 g de metronidazol 1 vez/dia durante 5 dias ou tinidazol, em tomada diária única de 2 g durante 5 dias 5. Pacientes que não respondem à repetição do tratamento com metronidazol ou tinidazol e nas quais foi excluída a possibilidade de reinfecção devem ser encaminhadas a um especialista. Nesses casos refratários incomuns, uma parte importante do tratamento é obter culturas do parasito a fim de que se verifique sua sensibilidade ao metronidazol e ao tinidazol. Candidíase Vulvovaginal No trato genital feminino, a Candida sp. pode ser encontrada em aproximadamente 20% das mulheres saudáveis assintomáticas. Entretanto, estima-se que 75% das mulheres em idade reprodutiva apresentarão pelo menos um episódio de vulvovaginite por Candida sp. durante suas vidas; 50% apresentarão dois ou mais episódios e 5% terão episódios recorrentes, ou seja, quatro ou mais episódios por ano, confirmados clínica e laboratorialmente. A Candida albicans é responsável por 85 a 90% das infecções vaginais por leveduras. Outras espécies de Candida, como C. glabrata e C. tropicalis, causam sintomas vulvovaginais e tendem a ser resistentes ao tratamento. Candida é um gênero de fungos dimórficos que existem na forma de blastosporos, responsáveis pela transmissão e colonização assintomática, e de micélios, que são produzidos pela germinação dos blastosporos e estimulam a colonização, além de facilitarem a invasão tecidual. As extensas áreas de prurido e inflamação frequentemente associadas à invasão mínima das células epiteliais do sistema genital inferior sugerem a participação de uma toxina ou enzima extracelular na patogenia dessa doença. Fenômeno de hipersensibilidade pode ser responsável pelos sintomas irritativos associados à CVV, sobretudo nas pacientes com doença recorrente. Em geral, as pacientes com doença sintomática apresentam maior concentração desses microrganismos (> 104/ml) que as assintomáticas (< 103/ml). Principais sintomas: Doença Inflamatória Pélvica 16 prurido vulvar associado a corrimento vaginal semelhante a queijo coalhado; corrimento varia de aquoso a espesso homogêneo. Pode haver úlceras vaginais, dispareunia, queimação vulvar e irritação. A disúria pode ocorrer quando a micção expõe à urina o epitélio vulvar e vestibular inflamado. O exame mostra eritema e edema da pele da vulva. É possível que haja lesões periféricas pustulopapulares bem-delimitadas. A vagina pode apresentar eritema com corrimento esbranquiçado e aderente. O colo tem aparência normal. Pode-se fazer um diagnóstico presuntivo quando não há comprovação da presença de elementos fúngicos ao exame microscópico, se o pH e os resultados do exame da preparação com solução salina forem normais e se a paciente apresentar aumento do eritema ao exame da vagina ou da vulva. É recomendável fazer cultura para fungos a fim de confirmar o diagnóstico. Por outro lado, é improvável que mulheres com achados normais ao exame físico e sem evidência de elementos fúngicos ao exame microscópico tenham CVV, e não se deve administrar tratamento empírico, exceto se a cultura vaginal para leveduras for positiva. O tratamento da CVV é resumido adiante: 1. A aplicação tópica de fármacos do grupo dos azóis é o tratamento mais frequente da CVV, além de ser mais eficaz que a nistatina. O tratamento com azóis causa alívio dos sintomas e culturas negativas em 80 a 90% das pacientes que concluíram o tratamento. Em geral, os sintomas desaparecem em 2 a 3 dias. Recomendam-se os esquemas de curta duração de até 3 dias. Embora o menor período de terapia implique menor duração do tratamento, as formulações para administração por curto período têm maiores concentrações do antifúngico, causando uma concentração inibitória na vagina que persiste por vários dias 2. Um antifúngico oral, o fluconazol, usado em dose única de 150 mg, é recomendado para tratamento da CVV. Parece ter eficácia igual à dos azóis tópicos no tratamento da CVV leve a moderada. As pacientes devem ser advertidas de que os sintomas persistirão por 2 a 3 dias após ominício do tratamento para não haver expectativa da necessidade de tratamento adicional Doença Inflamatória Pélvica 17 3. Mulheres com CVV complicada são beneficiadas por uma dose complementar de 150 mg de fluconazol administrada 72 h após a primeira dose. Pacientes com complicações podem ser tratadas com um esquema tópico mais prolongado, com duração de 10 a 14 dias. A terapia auxiliar com um esteroide tópico fraco, como o creme de hidrocortisona a 1%, pode ajudar a aliviar alguns dos sintomas irritativos externos. Um pequeno número de mulheres tem CVV recorrente (CVVR), definida como quatro ou mais episódios em 1 ano. Essas mulheres apresentamsintomas irritativos persistentes no vestíbulo e na vulva. A queimação substitui o prurido como principal sintoma em pacientes com CVVR. O diagnóstico deve ser confirmado por microscopia direta das secreções vaginais e por cultura para fungos. Muitas mulheres com CVVR presumem, de maneira errada, que têm uma micose crônica. Muitas delas apresentam dermatite atópica crônica ou vulvovaginite atrófica. O tratamento de pacientes com CVVR é a indução de remissão dos sintomas crônicos comfluconazol (150 mg a cada 3 dias por 3 doses). As pacientes devem ser mantidas com uma dose supressora desse fármaco (fluconazol, 150 mg/semana) durante 6 meses. Nesse esquema, 90% das mulheres com CVVR permanecerão em remissão. Após terapia supressora, cerca de metade continuará assintomática; a outra metade apresentará recorrência, que deve levar à reinstituição da terapia supressora; Vaginite inflamatória descamativa A vaginite inflamatória descamativa é uma síndrome clínica caracterizada por vaginite exsudativa difusa, esfoliação de células epiteliais e corrimento vaginal purulento abundante. Mulheres com esse distúrbio apresentam corrimento vaginal purulento, queimação ou irritação vulvovaginal e dispareunia. Um sintoma menos frequente é o prurido vulvar. Há eritema vaginal e pode haver eritema vulvar associado, bem como manchas equimóticas vulvovaginais e colpite macular. Doença Inflamatória Pélvica 18 O tratamento inicial é o uso de creme de clindamicina a 2%, um aplicador cheio (5 g) por via intravaginal, 1 vez/dia, por 7 dias. Há recidiva em cerca de 30% das pacientes, que devem ser tratadas novamente com creme de clindamicina a 2% intravaginal por 2 semanas. Quando há recidiva empacientes na pós-menopausa, deve-se cogitar a terapia de reposição hormonal suplementar. Vaginite atrófica O estrogênio desempenha papel importante na manutenção do microambiente vaginal. Mulheres após a menopausa – seja natural, seja secundária à remoção cirúrgica dos ovários – podem desenvolver vaginite atrófica, a qual, em determinados casos, é acompanhada de corrimento vaginal purulento intenso. Além disso, pode haver dispareunia e sangramento pós-coito em razão da atrofia do epitélio vaginal e vulvar. O exame mostra atrofia genital externa, assim como perda das pregas vaginais. A mucosa vaginal pode ser um pouco friável em algumas áreas. O exame microscópico das secreções vaginais revela predomínio de células epiteliais parabasais e aumento do número de leucócitos. O tratamento em pacientes com vaginite atrófica se dá por meio de creme vaginal de estrogênio tópico. Na maioria dos casos, o uso diário de 1 g de creme de estrogênios conjugados por via intravaginal, durante 1 a 2 semanas, proporciona alívio. Deve-se considerar a terapia de manutenção com estrogênio, tópico ou sistêmico, a fim de que se evite a recorrência do distúrbio.
Compartilhar