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1 NEFROLITÍASE Gizelle Felinto EPIDEMIOLOGIA Incidência alta 1 a cada 1.000 pessoas Pico de incidência na 3ª e 4ª década de vida Fatores de risco: Obesidade Resistência a insulina Diabetes Mellitus tipo 2 Homem (2 - 4 : 1) Brancos A prevalência aumenta com a idade até: 70 anos em homens 60 anos em mulheres Recorrência 50% em 7 anos TIPOS DE CÁLCULOS Oxalato e fosfato de cálcio (cálculo misto) 37% Oxalato de cálcio 26% Estruvita 22% (cálculos associados à infecção urinária) Fosfato de cálcio 7% Ácido úrico 5% Cistina 2% Assim, os cálculos mais frequentes são os de cálcio PATOGÊNESE 4 alterações principais que favorecem a supersaturação da urina com a nucleação e formação dos cálculos: Hiperexcreção de solutos oxalato, cálcio, ácido úrico... Volume urinário reduzido urina mais concentrada Diminuição de inibidores da cristalização Alterações do pH há cálculo mais frequentes para urina básica e outros mais frequentes para urinas ácidas Todos esses fatores fazem com que se ultrapasse o produto de solubilidade, formando o cristal Inibidores fisiológicos para a não formação do cálculo: Água quanto mais diluída a urina, menos cálculos Inibem crescimento e agregação dos cálculos/cristais: Citrato citrato de cálcio Magnésio oxalato de magnésio Pirofosfato Glicoproteínas inibem a cristalização Tamm-Horsfall Nefrocalcina Uropontina COMO OCORRE A CRISTALIZAÇÃO: Primeiramente têm-se a nucleação (ocorre quando se ultrapassa o produto de formação de cristais), que pode ser homogênea (formada por cristais iguais. Ex: oxalato de cálcio) ou heterogênea (cálculo misto). Essa nucleação faz com que se juntem várias moléculas, formando-se os cristais, que crescerão e se agregarão (será maior quanto menor for fluxo urinário e a ingesta hídrica), formando o cálculo QUADRO CLÍNICO LEMBRETE o paciente só sentirá dor se tiver litíase obstrutiva. Assim, se o cálculo não estiver obstruindo a passagem de urina o paciente não sentirá nada DOR (se cálculo obstrutivo) dor ureteral, em flanco Disúria Dor em cólica associada a sudorese e náusea Não passa com praticamente nada, apenas com medicação (geralmente opióide) A dor migra, descendo até a saída do cálculo (acompanha o caminho do cálculo) HEMATÚRIA INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO recorrente, infecção crônica Pielonefrite As ITUs tem muita relação com a formação de cálculos ANORMALIDADES URINÁRIAS: Hematúria Proteinúria Piúria INTERRUPÇÃO DO FLUXO URINÁRIO (Calculus anuria) cálculo entra na uretra e bloqueia a passagem da urina O QUE AVALIAR NA HISTÓRIA CLÍNICA HISTÓRIA PRÉVIA DE CÁLCULOS DESSE PACIENTE: Quantas vezes ele já teve Com que frequência isso ocorre (todo ano/mês ele tem episódio sintomático de litíase?) Com que idade teve início Qual o tamanho dos cálculos Se ainda há presença de cálculos Qual rim foi acometido (um lado só ou os dois) se tem cálculo de um lado só e são grandes, relacionados a alguma infecção urinária, pode-se ter alguma alteração no trato urinário desse lado acometido, como uma estenose de junção ureteropiélica ou ureterovesical unilateral Qual o tipo de pedra são poucos os laboratórios que fazem Se houve necessidade de intervenção cirúrgica para remoção do cálculo é importante, pois para ter indicação de cirurgia significa que era um cálculo grande, e cálculo grandes não se formam em qualquer pessoa (tem que haver alguma condição que favoreça essa formação de cálculo) Se são associadas a infecção urinária História médica Medicações que o paciente faz uso Histórico familiar há doenças genéticas que causam litíase Qual a ocupação do paciente Qual a dieta e quantidade de líquido que ingere por dia se come muito sal, muita comida industrializada Exame físico: Presença de tofo, obesidade, síndrome metabólica pensa-se em cálculo de ácido úrico 2 NEFROLITÍASE Gizelle Felinto Dados laboratoriais: Análise urinária Cultura de urina Análise da pedra Análise sanguínea: Ionograma (eletrólitos) sódio, potássio, cloreto, bicarbonato... Bicarbonato acidose tubular renal tem relação com calciúria Creatinina se há alteração da função renal Hormônio da paratireóide avaliar hipercalciúria Ácido úrico Avaliação radiológica: Raio x de abdômen simples Tomogramia Ultrassonografia ETIOLOGIA – MEDICAMENTOS FORMAÇÃO DE CÁLCULOS DE CÁLCIO: Diuréticos de alça (Furosemida) Vitamina D Corticoides Suplementos de cálcio Antiácido Teofilina Acetazolamida Anfotericina B FORMAÇÃO DE CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO: Salicilatos Probenicida Aloputinol (Xantina) Losartana aumenta a excreção de ácido úrico MEDICAÇÕES QUE PODEM SE PRECIPITAR E FORMAR CÁLCULOS: Triantereno Aciclovir (infusão rápida) Indinavir Nelfinavir HISTÓRIA – PODEM GUIAR PARA O DIAGNÓSTICO Neoplasia, Hiperparatireoidismo e Sarcoidose podem causar hipercalcemia, consequentemente hipercalciúria e cálculos de cálcio Doença de Chron e Doença Celíaca: Depleção de volume e hiperoxalúria (cálculo de oxalate de cálcio) Ácido úrico: Gota ou hiperuricemia, não necessariamente com gota Idade: Pedras em uma idade jovem pode ser causada por uma doença genética relacionada à litíase, como: Cistinúria Hiperoxalúria primária doença genética em que há uma mutação hepática, assim o paciente não metaboliza de maneira adequada a arginina, o que acaba causando uma hiperoxalúria e, consequentemente, uma evolução para nefrocalcinose e insuficiência renal em uma idade jovem História familiar: Hipercalciúria idiopática desordem poligênica (é a principal causa de hipercalciúria) Cistinúria doença autossômica recessiva ACHADOS LABORATORIAIS SUMÁRIO DE URINA: pH: Elevado Estruvita e fosfato de cálcio Diminuído Ácido úrico e cistina Densidade relação com a ingesta de água (quanto mais densa a urina, menos água o paciente está ingerindo) Hematúria passagem de cálculos Bacteriúria + pH aumentado podem falar a favor de cálculos de Estruvita AVALIAÇÃO OTIMIZADA Faz-se uma análise metabólica da urina de 24h Na urina de 24h deve-se descartar a primeira urina do dia Em pacientes que se suspeita de alguma alteração na urina que favoreça a formação de cálculos Indicações: Pessoas com formação de cálculos em uma idade jovem Crianças Pessoas com cálculos que vem crescendo em tamanho e em número a cada ano Formadores de cálculos que não sejam de cálcio Grupos em que não se vê tipicamente a formação de cálculos Paciente com um episódio, mas que precisou de cirurgia porque o cálculo era grande Se uma pessoa vem ao consultório com o primeiro episódio de litíase, não é preciso fazer a análise metabólica, pois a grande maioria se deve à uma dieta hipersódica e com pouca ingestão de líquidos e frutas. Assim, orienta-se o paciente a mudar esses hábitos e, a cada ano, faz-se um ultrassom. Se estão aparecendo novos cálculos, o cálculo está crescendo ou o paciente continua tendo novos episódios apesar das mudanças no estilo de vida, faz- se necessária uma avaliação otimizada O QUE SE AVALIA NA URINA DE 24h: Volume tem total relação com a quantidade de água ingerida Cálcio Oxalato Ácido úrico Citrato tem que estar alto, pois ele é protetor contra a formação de cálculos. Quando se tem uma deficiência de citrato (hipocitratúria) o paciente pode formar cálculo 3 NEFROLITÍASE Gizelle Felinto Sódio não há cálculo de sódio, mas o sódio tem total relação com o cálcio. Quanto mais sódio de ingere, mais cálcio se excreta (se há umsódio urinário muito alto significa que o paciente está fazendo uma dieta inadequada e pode justificar uma hipercalciúria) Fosforo Creatinina serve para saber se o paciente coletou a urina de 24h de maneira adequada Espera-se que seja um valor de 10mg/Kg em mulheres e 15mg/Kg em homens. Se estiver abaixo disso, provavelmente, essa pessoa coletou errado, tendo-se que repetir o exame DIAGNÓSTICO DE IMAGEM TOMOGRAFIA HELICOIDAL SEM CONTRASTE (Padrão ouro): A tomografia é de abdômen total (superior e inferior) pois deve-se olhar tanto o rim quanto os ureteres e a bexiga Sensibilidade (98%) e Especificidade (100%) Vantagens: Não utiliza contraste iodado Evidencia os cálculos de ácido úrico Possível diagnóstico de outras causas de dor abdominal RADIOGRAFIA SIMPLES DE ABDOMEN: Sensibilidade (62%) e Especificidade (67%) É capaz de identificar a posição anatômica dos cálculos radiopacos (cálculo de cálcio que seja grande) ULTRASSONOGRAFIA: Sensibilidade total (85%) Método examinador dependente Maior facilidade para cálculos localizados na pelve (hidronefrose – dilatação da pelve causada pela obstrução do cálculo) e cálices renais Não é tão bom para cálculo ureteral, pois nem sempre dá para ver TRATAMENTO GERAL – para todos os pacientes Aumento da ingesta hídrica (2 – 2,5 Litros): Reduz a hipersaturação do oxalato de cálcio, ácido úrico e cistina Baixa ingesta de sal (2g/dia): Pois quanto mais sal maior a excreção de cálcio Ingesta proteica (0,8 a 1g/Kg/dia) dieta normoproteica Por que não se orienta dieta hiperproteica? porque quanto mais proteína se ingere, mais ácida a urina fica e, consequentemente, maior o risco para a precipitação de cálculos de ácido úrico, que são cálculos precipitados por um pH mais baixo Ingesta de cálcio apropriada para o gênero não precisa fazer redução da ingesta de cálcio, mesmo que o paciente tenha hipercalciúria A baixa ingesta de cálcio não reduz calciúria, pois a absorção intestinal de cálcio é constante e quando se diminui a ingesta de cálcio aumenta-se a absorção intestinal de oxalato, formando cálculos CÁLCULOS DE CÁLCIO ETIOLOGIA Podem ser de fosfato de cálcio ou de oxalato de cálcio (mais comum) Podem ocorrer por 3 motivos: Hipercalciúria: Pacientes que tem cálcio normal por hipercalciúria idiopática Pacientes que tem hipercalcemia (cálcio sérico elevado) e, consequentemente, hipercalciúria: Câncer Hiperparatireoidismo primário Doença granulomatosa (Ex: Sarcoidose, Tuberculose...) Imobilização prolongada Hipertireoidismo Hiperoxalúria: Tem principal relação com a dieta Alta ingestão de vitamina C Hiperoxalúria entérica acontece principalmente nas desordens disabsortivas: Diarreias Doença celíaca Doença de Crohn 4 NEFROLITÍASE Gizelle Felinto Pancreatite crônica Bypass jejunoileal Gastropatia fobi capella Onstrução biliar Hiperoxalúria primária (doença genética) Hipocitratúria: Acidose metabólica Hipocalemia Hipomagnesemia Jejum prolongado Infecções Uso de androgênios Exercício prolongado A acidose tubular renal tipo I pode fazer hipercalciúria TRATAMENTO DA HIPERCALCIÚRIA Diurético Tiazídico: Pois atuam no túbulo distal e impedem a excreção de cálcio HIDROCLOROTIAZIDA CLORTALIDONA (25 a 50mh/dia) Reposição de potássio pois repor K aumenta o citrato, inibindo a cristalização Dieta aumentar a ingesta de fruta Citrato de K (Litocit®) Diuréticos poupadores de potássio HIPEROXALÚRIA PRIMÁRIA Doença genética em que há uma produção de grande quantidade de oxalato com aumento da excreção urinária Tipos: Hiperoxalúria tipo I gene AGXT no cromossomo 2 Hiperoxalúria tipo II mutações no gene GRHPR no cromossomo 9 TRATAMENTO: Transplante hepático Enquanto não se consegue o transplante: Doses altas de Vitamina B6 (Piridoxina) para tentar reduzir a produção de oxalato 2,5 a 15mg/Kg por 24h Citrato de potássio e suplementação de magnésio também inibem a cristalização HIPEROXALÚRIA SECUNDÁRIA – INTESTINAL Pelas síndromes desabsortivas Paciente tem esteatorréia, pois não se consegue absorver as gorduras Ácidos graxos de cadeia longa se ligam ao cálcio do lúmen intestinal, fazendo com que o oxalato fique livre para ser absorvido Os sais biliares aumentam a permeabilidade da mucosa intestinal ao oxalato, sendo mais absorvido TRATAMENTO: Restrição de oxalato na dieta Carbonato de cálcio (1 a 1,5g) em cada refeição pois o cálcio irá se juntar ao oxalato, evitando que ele seja absorvido no intestino Dieta sem glúten para minimizar a inflamação, principalmente na doença celíaca Na esteatorréia: Dieta com baixo teor de gordura Colestiramina é um quelante Administração de triglicerídeos de cadeia média para reduzir a má absorção de gordura Carbonato de cálcio Comidas que têm muito oxalato (devem ser evitados por quem tem hiperoxalúria): Vagem Beterraba Salsão Cebola Folhas verdes Cacau Chocolate Chá preto Algumas frutas vermelhas Casca de laranja Casca de limão Figos Alho poró Abobrinha Manteiga de amendoim Tofu HIPOCITRATÚRIA Primária (idiopática) Secundária à hipocalemia, Acidose tubular renal... TRATAMENTO: Reposição de Citrato: Citrato de Na Citrato de K (Litocit®) é o que se utiliza mais frequentemente CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO ETIOLOGIA pH urinário muito baixo/ácido (≤ 5,5): Dieta com alta ingesta de proteína animal Diarreia Resistência à insulina síndrome metabólica Baixo volume urinário: Inadequada ingesta de água Perda extrarrenal de líquidos Diarreia Perda insensível (Ex: transpiração) Hiperuricosúria: Dieta excessiva rica em purinas Hiperuricemia: 5 NEFROLITÍASE Gizelle Felinto Gota Distúrbios mieloproliferativos Síndrome de lise tumoral Erros inatos do metabolismo Síndrome de Lesch-Nyhan Deficiência de glicose-6-fosfatase Medicamentos TRATAMENTO Aumento do volume urinário Alcalinização da urina: Citrato de potássio (40 a 50 mmol/dia) aumenta o pH da urina, pois o citrato é uma base Bicarbonato de sódio Alcançar urina com pH de 6,5 a 7 Não exceder um pH > 7 pois pode precipitar fosfato de cálcio Dieta pobre em purinas e proteínas Se não tiver resposta pode-se utilizar: ALOPURINOL CÁLCULOS DE ESTRUVITA GENERALIDADES Trifosfato de magnésio amônio Pode reduzir a função renal no rim afetado pois são cálculos grandes, coraliformes, que podem causar obstrução dos cálices renais São difíceis de erradicar são difíceis de sair, por isso que deve-se fazer cirurgia São secundários à presença de bactérias produtoras de uréase na urina elas formam íons de amônio e deixam a urina alcalina Fatores de risco (são os fatores de risco para infecção urinária): Mulheres Pacientes com sonda vesical de demora Bexiga neurogênica Anomalias do trato geniturinário Lesão medular CAUSAS BACTÉRIA PRODUTORA DE UREASE: Proteus Haemophilus Yersinia species Staphylococcus epidemidis Pseudomonas Klebsiella Serratia Citrobacter Ureaplasma pH urinário elevado TRATAMENTO ANTIBIOTICOTERAPIA: Não indicar apenas como terapia isolada deve-se fazer a antibioticoterapia + intervenção urológica Após 2 semanas de início, se a cultura for negativa dar somente metade da dose Cultura negativa depois de 3 meses pode-se suspender antibiótico INTERVENÇÃO UROLÓGICA: Cálculo < 2 cm Litotripsia extracorpórea (LECO) Paciente tem que estar fazendo uso de antibiótico a certo tempo Esses cálculos coraliformes podem terbactérias, então, às vezes, quando se faz a LECO o paciente pode ter sepse, pois no momento em que se quebra o cálculo são liberadas muitas bactérias e, se o paciente tiver muitas lesões no epitélio, a bactéria pode invadir esses tecidos e o paciente fazer uma bacteremia podendo evoluir para uma sepse Cálculo > 2 cm Nefrolitotomia percutânea (cirurgia aberta) Inibidor da uréase Ácido acetohidroxâmico Retardam o crescimento de pedra e previnem a formação de novas pedras Contraindicação se o clearance < 60 CÁLCULOS DE CISTINA CISTINÚRIA Herança autossômica recessiva ou autossômica dominante com penetrância incompleta Defeito tubular no transporte de aminoácidos dibásicos cistina, ornitina, lisina e arginina Formação de cristais hexagonais São comuns na idade mais jovem 2ª e 3ª décadas de vida TRATAMENTO Dieta pobre em sódio pois reduz a cistinúria Citrato de Potássio (10 – 20mEq 3x ao dia) ou Bicarbonato de sódio alcalinizar a urina D-penicilamina (250mg/dia) e Tiopronina se ligam à cistina, diminuindo a cistinúria Captopril forma um dissulfeto de cisteínatiol, que é mais solúvel que a cistina, evitando a formação de cálculo
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