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L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 i Os autores Profa. Fernanda D’Olivo Bacharel em Linguística (Unicamp, 2007) e mestre em Linguística (Unicamp, 2010) e Doutora em Linguística (Análise do Discurso – Unicamp e Universidade de Paris, 2015). Especialista de visibilidade nacional, tem atuado como corretora de redação e língua portuguesa de vestibulares de universidades públicas e é coordenadora pedagógida do Instituto de Tecnologia Educacional do Brasil. Prof. Alexandre Pioli Bacharel em Linguística (Unicamp, 2007) e mestre em Linguística (Fonologia/Sintaxe - Unicamp, 2010), com formação complementar na Universidade de Lyon (França). Coordena o desenvolvimento das plataformas online do Instituto de Tecnologia Educacional do Brasil (INTEB), mantenedor da EscreverOnline. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 ii Apresentação A redação está presente na grande maioria dos exames de acesso às universidades públicas e privadas do Brasil. Com vagas cada vez mais disputadas, por concorrentes cada vez mais preparados, a redação tem se tornado uma espécie de “critério de desempate”. Isso quer dizer que em cursos de alta demanda, como medicina, direito e engenharia, por exemplo, “ir bem” na redação significa conseguir uma vaga na universidade dos seus sonhos. Este caráter de “critério de desempate” que tem a redação se justifica pelo fato de que esta se diferencia das outras matérias escolares, pois exige habilidades diferentes. Responder a uma questão de física ou de biologia, por exemplo, requer um tipo de raciocínio e conhecimentos técnicos específicos que são exaustivamente treinados nas escolas e nos cursinhos. Escrever um bom texto, em contrapartida, envolve outros aspectos, como a sua capacidade de interpretação e argumentação, seu conhecimento de mundo e sua posição crítica perante os problemas da sociedade. Por isso, a redação é o meio utilizado pelas universidades para escolherem aqueles candidatos que mais se encaixam no perfil de aluno que elas desejam ter, ou seja, um aluno que tenha as capacidades acima listadas, sendo estas expressas na prova de redação. A redação também é importante pelo fato de que ela pode diferenciar um candidato dos demais, no caso em que boa parte dos candidatos são muito bons em todas as matérias. Isso pode L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 iii ser observado na disputa de vagas que se tem geralmente para cursos concorridos, como os cursos de medicina. Para passar para a segunda fase de Medicina no vestibular da Fuvest em 2011, por exemplo, o candidato precisou acertar mais de 80% da prova objetiva. Ou seja, para conseguir uma vaga neste curso era preciso mais do que acertar a maior parte das questões da prova e, dessa forma, escrever uma boa redação poderia ajudar o candidato a sair à frente dos demais. O que isso significa? “Ir bem na redação” pode diferenciar você dos outros candidatos, aumentando suas chances de conseguir a vaga tão sonhada na universidade. Porém, muitos cursinhos e escolas que preparam para o vestibular acabam deixando a redação em segundo plano, priorizando outras matérias, e isso pode determinar o seu insucesso no vestibular. Pensando nisso, nós, professores da EscreverOnline, criamos este livro eletrônico completo e extensivo sobre redação no vestibular & ENEM para suprir essa demanda. Nos capítulos a seguir, você conhecerá o que há de mais atualizado sobre redação no vestibular. Obrigado por adquirir este livro e bons estudos! - Profa. Fernanda, prof. Alexandre e toda a equipe de professores da EscreverOnline L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 iv Nota à edição de 2021 É um grande prazer para nós, professores, podermos lançar a edição 2021 do livro "Redação DEFINITIVA - Vestibulares & ENEM". Esta edição traz modificações menores, mas certamente valeu o esforço empreendido. Graças aos alunos que aproveitaram este livro nos últimos anos, pudemos lançar a presente edição com grande confiança de estarmos ajudando milhares de estudantes a alcançarem o sonho da vaga em uma universidade. ENEM 2014: lições aprendidas A repercussão do ENEM 2014 foi incomparável e vale a pena revisitar isso. A sociedade brasileira acompanhou em choque o cenário em que mais de 500 mil alunos tiraram nota zero na prova de redação - o pior desempenho da história da prova! Do restante, 55% tiraram menos de 500 pontos (metade do total), e apenas 250 atingiram a nota máxima de 1000. Diante de tal cenário, caro estudante, não se assuste: como diria o grande químico francês Louis Pasteur, "a sorte favorece a mente bem preparada". Sua postura diante disso deve ser de ação. Para não fazer parte da estatística ruim no ENEM deste ano, leia e releia este livro e, se fizer parte do nosso treinamento online com correções, treine com afinco e siga cuidadosamente as orientações dos nossos professores. Você consegue! Nós estamos aqui para ajudar. - Os autores L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 Sumário Começando do começo: o Projeto de Texto ...................................................................1 Capítulo 1 ................................................................................................................................6 Afinal... o que é cobrado em uma redação? ......................................................................... 6 1) Tema .............................................................................................................................................................................. 6 2) Gênero textual .......................................................................................................................................................... 7 3) Coletânea ..................................................................................................................................................................... 7 4) Coesão ........................................................................................................................................................................... 8 5) Coerência..................................................................................................................................................................... 8 6) Modalidade ................................................................................................................................................................. 9 Aspectos formais do texto: coesão e modalidade .............................................................. 9 a) Coesão ................................................................................................................................................................. 10 b) Modalidade............................................................................................................................................................. 13 Olhando para o conteúdo do texto: coerência, conhecimento de mundo e coletânea ....................................................................................................................................... 15 a) Coerência ...........................................................................................................................................................15 b) Conhecimento de Mundo ................................................................................................................................ 20 c) Coletânea: como utilizá-la? .............................................................................................................................. 22 Capítulo 2 ............................................................................................................................. 26 Sobre os gêneros textuais ....................................................................................................... 26 1. Imagem do Interlocutor .............................................................................................................................. 27 2. Características dos Gêneros Textuais ......................................................................................................... 32 3. Alguns exemplos de gêneros textuais ......................................................................................................... 35 A Redação no ENEM ................................................................................................................... 60 Capítulo 3 ............................................................................................................................. 66 Vícios de Redação: siga estes quatro conselhos simples para não cometer os erros mais comuns .................................................................................................................... 66 1) Como não começar uma redação .................................................................................................................. 67 2) Expressões coloquiais ........................................................................................................................................ 68 3) O falso intelectual ................................................................................................................................................. 68 4) Generalizações e afins ........................................................................................................................................ 69 Capítulo 4 ............................................................................................................................. 71 Alguns erros gramaticais comuns no português ............................................................ 71 Capítulo 5 ............................................................................................................................. 80 Acentuação ................................................................................................................................... 80 Regras de acentuação ............................................................................................................... 82 Mais algumas regras! ................................................................................................................ 83 Capítulo 6 ............................................................................................................................. 86 Articulação textual .................................................................................................................... 86 1. Coesão intra e interparágrafos ................................................................................................................ 86 2. Conjunções ............................................................................................................................................................... 92 Capítulo 7 ...........................................................................................................................103 L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 1 Dissertação Aprofundada .....................................................................................................103 Como iniciar um texto dissertativo? ...............................................................................................................103 Como desenvolver as ideias em uma dissertação? ..................................................................................110 Capítulo 8 ...........................................................................................................................123 Notas finais e próximos passos ...........................................................................................123 L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 1 Começando do começo: o Projeto de Texto Escrever um texto requer organização e planejamento. Se você começar a escrever sem saber aonde quer chegar ou que ideias quer defender, seu texto poderá ficar vago, confuso e incoerente. A organização e o planejamento são importantes, pois eles facilitam a leitura e, consequentemente, a adesão do leitor àquilo que você defende em seu texto. Afinal, um leitor atento consegue, muitas vezes, perceber se um texto foi planejado com antecedência ou se o autor foi escrevendo e pensando na continuidade dos fatos ou dos argumentos apenas depois de já ter começado a escrever. Algo similar ocorre quando assistimos a um filme. Em alguns casos, notamos no final do filme que os elementos que surgiram ao longo da narrativa eram essenciais para entender toda a história. Isso mostra que houve um planejamento por parte do autor, definindo quem são os personagens, que relação eles têm, por que certo objeto aparece em uma cena ou por que a câmera foca em uma parte determinada do cenário, etc. E de que modo organizamos um texto para que ele fique claro e coerente? Em primeiro lugar, é muito importante que você saiba qual é o tema principal do seu texto, definindo que ideias quer apresentar ou defender. Para isso, é importante também que você conheça os objetivos e as principais características do gênero que vai usar. Por exemplo, para escrever uma narrativa, você tem que planejar, como dissemos a respeito dos filmes, quem são os personagens, onde e quando a história se passa, quais são as principais ações dos personagens, qual o clímax e como é o fechamento dos acontecimentos. Sabendo como a história vai terminar, fica mais fácil conduzir o leitor ao longo do texto. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 2 O leitor também é um elemento importante que deve ser considerado neste planejamento, pois é muito importante que você tenha bem definido quem é o seu interlocutor, ou seja, a pessoa que vai ler seu texto. Toda produção escrita tem um interlocutor e aquilo que escrevemos deve estar direcionado especificamente a ele. No caso de uma carta, por exemplo, você tem que criar a imagem tanto de quem está escrevendo quanto de quem vai recebê-la. Para construir essa imagem, você pode pensar nas seguintes questões: • Por que essa carta está sendo enviada por essa pessoa? • Por que o destinatário específico foi escolhido? • Qual a relação entre ambos? Assim, considerando essas questões no planejamento do texto, é possível selecionar melhor o que deve ser escrito e, inclusive, qual a linguagem mais apropriada para aquele determinado momento. Na dissertação, um dos gêneros mais pedidos nos vestibulares e concursos ainda hoje, o planejamento também é essencial. É preciso ter bem definido qual o tema da proposta, qual será a tese defendida e quais argumentos são importantes para provar essa tese. Depois disso, fica mais simples organizar as ideias e relacionar os argumentos entre si. O projeto de texto, portanto, não é apenas um rascunho.Você até pode já começar a escrever seus parágrafos, mas também é possível apenas listar as principais ideias que estarão presentes em seu texto, como uma lista de modo mais esquemático, por exemplo, para que você possa ter uma visão do seu texto como um todo. Ele deve ser organizado de uma forma que seja entendido por você e facilite sua escrita. Não há um jeito único de se fazer um L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 3 projeto, mas fazê-lo é imprescindível para um bom resultado em sua redação. Para você ter uma ideia de como pode ser feito um projeto de texto, veja o exemplo dado a seguir, em relação à proposta de redação do ENEM 2006: REDAÇÃO ENEM – 2006 Uma vez que nos tornamos leitores da palavra, invariavelmente estaremos lendo o mundo sob a influência dela, tenhamos consciência disso ou não. A partir de então, mundo e palavra permearão constantemente nossa leitura e inevitáveis serão as correlações, de modo intertextual, simbiótico, entre realidade e ficção. Lemos porque a necessidade de desvendar caracteres, letreiros, números faz com que passemos a olhar, a questionar, a buscar decifrar o desconhecido. Antes mesmo de ler a palavra, já lemos o universo que nos permeia: um cartaz, uma imagem, um som, um olhar, um gesto. São muitas as razões para a leitura. Cada leitor tem a sua maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê. Inajá Martins de Almeida. O ato de ler. Internet: www.amigosdolivro.com.br (com adaptações). Minha mãe muito cedo me introduziu aos livros. Embora nos faltassem móveis e roupas, livros não poderiam faltar. E estava absolutamente certa. Entrei na universidade e tornei- me escritor. Posso garantir: todo escritor é, antes de tudo, um leitor. Moacyr Scliar. O poder das letras. In: TAM Magazine, jul./2006, p. 70 (com adaptações). Existem inúmeros universos coexistindo com o nosso, neste exato instante, e todos bem perto de nós. Eles são bidimensionais e, em geral, neles imperam o branco e o negro. Estes universos bidimensionais que nos rodeiam guardam surpresas incríveis e inimagináveis! Viajamos instantaneamente aos mais remotos pontos da Terra ou do Universo; ficamos sabendo os segredos mais ocultos de vidas humanas e da natureza; atravessamos eras num piscar de L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 4 olhos; conhecemos civilizações desaparecidas e outras que nunca foram vistas por olhos humanos. Estou falando dos universos a que chamamos de livros. Por uns poucos reais podemos nos transportar a esses universos e sair deles muito mais ricos do que quando entramos. Internet: www.amigosdolivro.com.br (com adaptações). Considerando que os textos acima têm caráter apenas motivador, redija um texto dissertativo a respeito do seguinte tema: O PODER DE TRANSFORMAÇÃO DA LEITURA Nessa proposta do Enem, o tema mais amplo é LEITURA. No entanto, não é possível escrever uma redação de 30 linhas falando sobre tudo que possa estar relacionado a esse tema. Por isso, é necessário fazer um recorte, ou seja, decidir sobre o que, especificamente, se falará a respeito do tema geral. Alguns vestibulares esperam que o candidato estabeleça sozinho a relação entre os textos de apoio (chamados também de coletânea) e defina um recorte temático. Outros, já apresentam este recorte explicitamente na proposta, como ocorre nas propostas do ENEM. No segundo caso, é bastante importante que você fique atento ao recorte temático para não fugir do tema, pois isso pode fazer com que sua redação seja anulada. Definido o recorte temático, é preciso decidir qual a tese a ser defendida. Nessa proposta fica bastante claro que a leitura é vista de forma positiva, pois tem um poder transformador, que parece trazer grandes benefícios aos leitores. A partir dessa observação, podemos definir uma tese a ser defendida como, por exemplo, a seguinte: a leitura tem o poder de transformar as pessoas de forma positiva, trazendo prazer e melhorias para a vida dos indivíduos. Lembre-se de deixar bem claro, em sua introdução, qual a tese defendida. Assim, seu interlocutor já sabe quais os objetivos do texto que está lendo e fica mais fácil estabelecer relações com os L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 5 argumentos. Para definir quais serão os argumentos apresentados em seu texto, há dois caminhos: • Selecionar o que há de mais importante nos textos de apoio apresentados pela proposta. • Selecionar outros argumentos a partir do seu conhecimento de mundo sobre o assunto. Ou ainda você pode “cruzar” os dois caminhos, trabalhando com um dos argumentos da coletânea e acrescentando outro argumento a partir de seu conhecimento sobre o tema. É importante ressaltar aqui o uso da palavra “selecionar”, pois é inevitável que você escolha alguns argumentos que podem ser úteis para defender sua tese. Afinal, como se trata de um texto de aproximadamente 30 linhas, você não poderá falar sobre absolutamente tudo em relação ao tema. Por isso, é preciso escolher quais são os argumentos que sustentarão suas ideias e que podem ser melhor relacionados no texto. Geralmente, quem opta por apresentar muitos argumentos, acaba não se aprofundando em nenhum deles, o que resulta em um texto superficial e, muitas vezes, bastante confuso. Tendo tudo isso em mente e organizado no papel, você já pode estabelecer quais argumentos serão apresentados em cada parágrafo e de que forma eles serão relacionados, conduzindo o leitor à sua conclusão. Esta deve apresentar um apanhado geral de tudo que foi escrito, retomando a tese apresentada no início do texto, reforçando, assim, o seu ponto de vista sobre o tema. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 6 Capítulo 1 Afinal... o que é cobrado em uma redação? Ainda que as grades de correção dos vestibulares apresentem algumas pequenas diferenças em relação ao modo como são atribuídas as notas aos candidatos, os critérios avaliados são sempre os mesmos. Por isso, é muito importante saber quais aspectos exatamente são levados em consideração quando os corretores avaliam seu texto. Pois, conhecendo o que é esperado de nós, fica mais fácil saber o que é preciso ser feito para conseguir uma boa nota. Vejamos, então, quais são os principais quesitos observados em uma redação. 1) Tema Toda redação deve cumprir aquilo que a proposta pede. Isso é muito importante, pois redações que fogem do tema acabam sendo anuladas. Como dissemos na seção sobre Projeto de Texto, em alguns vestibulares é mais fácil saber qual o recorte temático da proposta e o que deve ser feito. Por exemplo, a proposta da Fuvest, em 2011, pedia para que fosse redigida uma redação sobre o seguinte tema: “O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”. Aqui, observamos claramente que o recorte temático já está definido pela pergunta e, para desenvolvê- lo de modo adequado, era preciso aparecer uma discussão que respondesse à questão colocada. Outros vestibulares, no entanto, pedem para que seus candidatos depreendam o tema que deve ser discutido a partir da leitura dos textos presentes em uma coletânea apresentada na proposta. Nesse caso, então, cabe ao candidato definir o recorte temático. Por exemplo, se a proposta apresentou textos sobre educação, L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 9879 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 7 tocando no assunto do salário dos professores, sabemos que o tema geral é educação, mas devemos fazer um recorte nesse tema, falando especificamente da questão salarial dos professores. Se o candidato não entrar nessa discussão e falar apenas sobre como os alunos não respeitam mais os professores, por exemplo, sua redação pode ser desconsiderada. Isso nos deixa claro que os vestibulares buscam avaliar também se seus candidatos são bons leitores. 2) Gênero textual Além de escrever sobre o tema ou recorte temático solicitado pela proposta, é imprescindível que seu texto seja adequado ao gênero que está sendo pedido. Por exemplo, se a proposta pede para que o candidato escreva uma dissertação e ele escreve uma carta, não adequou seu texto ao gênero em questão. Logo, sua redação também poderá ser anulada. Para que isso não ocorra, é muito importante conhecer os gêneros pedidos nos vestibulares, para que você possa escrever seu texto de acordo com as características de cada um deles. Isso ainda serve para saber adequar a linguagem ao gênero em questão, o que também será avaliado em sua redação. No capítulo 2 nós apresentamos alguns gêneros que são mais pedidos nos vestibulares para que você possa conhecê-los melhor. 3) Coletânea Alguns vestibulares apresentam na proposta da redação uma seleção de textos que podemos chamar de textos-base. Ou seja, são textos que apresentam algumas ideias e opiniões acerca do tema que deve ser discutido e que podem ajudá-lo a definir o que será escrito em sua redação. Esse critério avalia se o candidato, L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 8 além de ser um bom escritor, é também um bom leitor. Portanto, é importante saber usar os textos presentes na coletânea de forma que eles acrescentem algo à sua redação. Por isso, procure não copiar apenas o que está na coletânea em seu texto, pois seu leitor perceberá se a inclusão de um determinado trecho estiver deslocada ou artificial. Para que isso não ocorra, mostre que as ideias retiradas da coletânea estão totalmente relacionadas às suas próprias ideias. Mais uma vez destacamos a importância do projeto de texto para que se faça um bom uso da coletânea. 4) Coesão A coesão está relacionada à estrutura de um texto e à organização das ideias. Nesse quesito, os corretores buscam avaliar se as ideias estão bem relacionadas por meio de conectivos, se a passagem de um parágrafo para o outro mostra relação entre eles e se a pontuação do texto está adequada. É importante ficar atento à coesão da redação, pois a falta de conexão entre as ideias pode fazer com que um texto apresente também problemas de coerência, que é outro quesito importante na avaliação. 5) Coerência Enquanto a coesão refere-se à organização e à estrutura do texto, a coerência está relacionada ao conteúdo daquilo que se escreve. Um texto coerente deve sempre mostrar uma relação lógica entre as ideias e não pode apresentar contradições. Por isso, é importante organizar sua redação antes de escrevê-la, como você viu na seção sobre projeto de texto. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 9 Na maioria dos textos, sobretudo em gêneros mais objetivos, como é o caso da dissertação, é necessário também haver uma coerência externa, ou seja, as informações trazidas para o texto devem ser verdadeiras em um contexto real. Neste momento, percebemos a importância de se ter um bom conhecimento de mundo. 6) Modalidade Outro quesito levado em consideração na correção de redações é a modalidade, ou seja, a adequação da linguagem utilizada ao gênero em que se está escrevendo e a adequação à norma culta do português brasileiro. Para ter uma boa nota de modalidade, portanto, é preciso saber escrever corretamente, evitando erros de ortografia, de concordância, de regência ou de acentuação, por exemplo. Além disso, é preciso fazer escolhas lexicais adequadas, não apenas em relação ao caráter formal do texto, mas também considerando o sentido das palavras no contexto em que são empregadas. É importante ressaltar que, ainda que alguns vestibulares possam pedir gêneros menos formais (como é o caso da Unicamp, em que são pedidos inclusive gêneros orais), continua sendo necessário escrever de acordo com as regras gramaticais. Até este momento demos um panorama geral sobre os principais critérios considerados nas provas de redação dos vestibulares. Apresentaremos, nas seções a seguir, alguns destes critérios de modo mais detalhado, além de falarmos um pouco sobre a importância do conhecimento de mundo e do uso da coletânea para a redação. Aspectos formais do texto: coesão e modalidade Nesta seção, falaremos um pouco sobre dois aspectos que dizem L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 10 respeito à estrutura formal do texto: a coesão e a modalidade. a) Coesão Observe o trecho abaixo: “A menina estava brincando no balanço. A menina caiu. A menina era delicada. A menina chorou. A menina decidiu que nunca mais iria brincar no balanço. A menina achava que o balanço era perigoso”. Ao ler esse pequeno texto, percebemos que a leitura não ocorre de forma fluida, pois, além de uma grande repetição de palavras (no caso “a menina”), as frases não mostram relação umas com as outras e há muitos pontos finais, o que deixa o texto com uma impressão de texto “cortado”. No entanto, este não é um problema difícil de resolver, pois, em nossa língua, há diversos recursos que nos permitem organizar o texto, estabelecendo relação entre as ideias. A esse processo damos o nome de coesão, quesito muito cobrado nos vestibulares e que é imprescindível na escrita de qualquer texto. Para que um texto tenha uma boa coesão, então, é preciso ficar atento à pontuação (uso de vírgulas e pontos finais), para que a leitura do seu texto seja fluida, e usar os recursos coesivos de que dispomos na língua. Além disso, é necessário estabelecer relações entre as ideias tanto dentro do parágrafo (intraparágrafo) quanto entre um parágrafo e outro (interparágrafos), conforme mostraremos no capítulo 6. Fique atento a períodos muito longos ou parágrafos sem pontuação, pois isso pode prejudicar o entendimento de seu texto! Veja a seguir alguns recursos coesivos importantes: L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 11 1) Uso de termos que se refiram a algo que já foi dito ou a algo que esteja relacionado ao contexto daquilo que se fala (algo que está externo ao texto). Exemplos: I) Espero que veja este filme. Nesse caso, o pronome este não retoma algo que já foi mencionado no texto, mas faz referência a um filme que tanto quem escreve e como quem lê o texto sabe qual é. II) Ontem assistimos “O Discurso do Rei”. Este filme foi o campeão do Oscar de 2011. Aqui, o pronome este faz referência ao nome do filme, que já havia aparecido no texto (“O Discurso do Rei”). 2) Substituir uma palavra ou oração inteira por algum outro termo. Exemplo: I) Maria quer passar no vestibular e eu também. O uso de também nesta frase substitui toda a oração “quer passar no vestibular”, evitando assim uma repetição desnecessária: “Maria quer passar no vestibular e eu quero passar no vestibular”. 3) Omitir uma palavra, expressão ou oração.Exemplo: I) Júlio foi mal na prova e eu não. Aqui, foi omitido o trecho “foi mal na prova”, evitando a repetição mais uma vez. Se não houvesse a omissão, a frase ficaria: “Júlio foi mal na prova e eu não fui mal na prova”. 4) Trocar uma palavra por um sinônimo, por uma palavra mais ou menos ampla ou ainda por um pronome que o substitua. Exemplos: I) A prova de ontem foi adiada. Ela será realizada na próxima semana. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 12 Aqui, o pronome ela substitui o termo a prova. II) Os nutricionistas falam da importância da maçã em qualquer dieta. A fruta ajuda a controlar o colesterol e diminui o risco de algumas doenças. Nesse caso, a palavra maçã foi substituída por uma palavra mais ampla (fruta), na qual está inserida. 5) Uso de conjunções para estabelecer relações entre palavras, orações e parágrafos. Existem diferentes conjunções para expressar as mais variadas relações entre o que se quer dizer. Muitas vezes o simples uso de uma conjunção entre um parágrafo e outro já faz com que a coesão do texto fique melhor. Para isso é importante saber qual é a função de cada conjunção, evitando relações sem sentido e com problemas de coerência: Exemplos: I) Estudei muito, no entanto, fui mal na prova. II) Estudei muito, portanto, fui mal na prova. (?) Nestes exemplos, observamos que não basta apenas utilizar a conjunção, é precisa utilizá-la corretamente. A oração “estudei muito” nos leva para a conclusão de “sucesso na prova”, porém temos aqui uma conclusão contrária, a do insucesso, expressa por “fui mal na prova”. Assim, para que possamos estabelecer uma relação entre as duas orações é preciso utilizar uma conjunção que expresse uma relação de oposição, tal como é feito em (I) através da conjunção “no entanto”. A mesma relação não pode ser estabelecida pela conjunção “portanto”, já que esta é uma conjunção conclusiva e não opositiva. Assim, o enunciado em (II) nos parece estranho, pois “ir mal na prova” não é uma conclusão natural para “estudar muito”, mostrando assim um uso inadequado da conjunção, ao gerar uma incoerência. Estes são alguns dos recursos que podemos usar para a boa coesão de um texto. Observamos que enquanto alguns deles são usados quase que de modo automático, como a troca de um termo pelo pronome, outros precisam ser planejados de forma estratégica, L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 13 como o uso de conjunções. Mas, independentemente do recurso utilizado, o mais importante é lembrar que ideias bem articuladas são um grande diferencial para textos bem escritos. b) Modalidade Modalidade é um dos termos usados quando se avalia a adequação de um texto à norma culta. Por isso é importante conhecer as regras gramaticais da nossa língua e, mais do que isso, ter um vocabulário adequado ao gênero discursivo que está sendo escrito. Mas o que seria um vocabulário adequado ao gênero discursivo? Para compreendermos esta questão podemos pensar, em primeiro lugar que, mesmo quando estamos conversando, a maneira como nos comunicamos com as pessoas pode variar. Se você está conversando em um grupo de amigos certamente usa um vocabulário diferente daquele que usa ao conversar com o diretor de sua escola ou com o chefe de uma grande empresa. O mesmo ocorre quando estamos escrevendo. Sabemos, por exemplo, que ao escrever uma dissertação, não podemos usar linguagem informal ou coloquialismos. Por outro lado, isso é permitido quando você escreve um e-mail para um amigo ou um comentário em um blog. E para saber qual é a linguagem mais adequada a um determinado gênero textual, é preciso conhecer suas características. Para isso, mais uma vez é importante ser um bom leitor e estar atento aos textos presentes em nosso dia a dia. Como dissemos, além da escolha lexical, a adequação à norma culta também é avaliada nos vestibulares. E escrever corretamente independe do gênero textual. A menos que você esteja representando a fala de um personagem por meio do discurso direto em uma narrativa, não é permitido escrever com erros gramaticais ou com abreviações do internetês, por exemplo. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 14 Assim, mesmo que seja pedido no vestibular a redação de um e- mail ou de um comentário em blog, o melhor é mostrar para seu corretor que você domina a norma culta, redigindo seu texto nessa modalidade. Quando falamos em adequação à norma culta, estamos nos referindo às regras que são ensinadas na aula de gramática, que envolvem a acentuação, a ortografia, a concordância e a regência (verbal e nominal). É importante estar atento a essas regras e aplicá-las corretamente, pois quanto maior a quantidade dos erros presentes em seu texto e a sua variedade, mais prejudicada estará sua nota. Além disso, lembre-se de que a forma como você escreve e o vocabulário que seleciona para um texto é uma espécie de cartão de visita para seu leitor. Às vezes, um candidato tem boas ideias, mas estas não são compreendidas, pois sua escrita é precária ou confusa. Um texto bem escrito e sem erros faz com que o leitor veja seu texto com outros olhos e, inclusive, entenda melhor o que você quer lhe dizer. Para perceber a importância de se escrever corretamente, veja abaixo, dois trechos de redações publicadas no site da Fuvest, onde você encontra alguns exemplos das melhores redações deste vestibular. Nesses trechos, podemos observar o cuidado dos candidatos tanto com a escolha do vocabulário mais apropriado a uma dissertação, quanto com a adequação às regras gramaticais: L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 http://www.fuvest.br/vest2010/bestred/bestred.html 15 Em ambos os textos, notamos que os candidatos têm um conjunto lexical bastante amplo, usando palavras como “efêmeras”, “cerne”, “perpetuavam”, “legado”, entre outras. No entanto, isso não significa que para ter uma boa nota no quesito modalidade seja necessário usar palavras difíceis. Aliás, evite usar palavras cujo significado você não conhece ou sobre o qual você tem dúvidas, pois usar uma palavra com seu significado errado pode trazer problemas de coerência para seu texto. Olhando para o conteúdo do texto: coerência, conhecimento de mundo e coletânea Como mostramos na seção anterior, para conseguir uma boa nota na redação é importante dominar os aspectos formais do texto, que envolvem a coesão e as regras gramaticais (modalidade). No entanto, dominar os aspectos formais não será suficiente se você não tiver um bom repertório (conhecimento de mundo) para discutir o tema proposto e se não for capaz de estabelecer relações coerentes entre as ideias que apresenta no texto. Além disso, não basta demonstrar suas habilidades de escrita, é preciso também demonstrar suas habilidades de leitura, sabendo, por exemplo, como utilizar a coletânea oferecida pela proposta de vestibular. Vejamos a seguir cada um desses aspectos, começando pela coerência. a) Coerência L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 16 Como já dissemos anteriormente, a coesão e a coerência são dois quesitos muito importantes na construção de um texto, pois ambos estão associados ao bom entendimento daquilo que se escreve. No entanto, enquanto a coesão estáno plano das palavras, ou seja, é definida, por exemplo, pelo uso de conjunções que estabelecem relações entre o que se diz em um texto (trata-se da parte estrutural de um texto), a coerência encontra-se no plano das ideias, portanto, está relacionada ao conteúdo do texto. Um texto pode ser incoerente ao apresentar ideias que não têm uma relação de sentido bem estabelecida e também ao apresentar ideias falsas ou mal organizadas. Além disso, as incoerências produzidas no texto podem prejudicar a sua compreensão, pois é exigido do leitor um esforço maior para tentar compreender as ideias que você discute. Mais uma vez, a organização das ideias depende de um planejamento prévio, por isso sempre destacamos a importância do projeto de texto antes de iniciar suas redações. Observe as frases abaixo, que nos mostram diferentes exemplos de incoerência: 1) Hoje está chovendo… Vou para o Japão. Uma frase como essa, apesar de não apresentar problemas em sua estrutura, provavelmente causa estranhamento ao leitor. Afinal, qual é a relação entre estar chovendo e alguém decidir ir para o Japão? Nesse caso, temos uma frase cujas ideias não têm relação de sentido; logo, trata-se de uma frase incoerente. 2) 60% da turma não passou no vestibular… Ainda bem que faço parte dos outros 70%. Neste segundo exemplo, a estrutura da frase também não apresenta problemas. No entanto, ela traz uma informação que não tem sentido, uma vez que não pode ser real. A informação em L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 17 questão é o fato de que não é possível que o total de uma porcentagem seja de 130% ao invés de 100%, como já é estabelecido. Neste caso, dizemos que há um problema de coerência externa, o que pode prejudicar seu texto por trazer informações que não são verdadeiras. 3) Estudei muito, portanto, fui mal na prova. Aqui, retomamos o exemplo da seção anterior em que tratamos da coesão para mostrar novamente que o uso de uma conjunção que não seja adequada também faz com que o texto não fique coerente. Afinal, é quase impossível alguém ir mal em uma prova por ter estudado muito. 4) A empresa resolveu extorquir seus clientes pelos danos causados. Esta última frase nos mostra um exemplo em que o que está escrito provavelmente não é exatamente o que se queria dizer. Neste caso, o problema de coerência se deve ao uso inadequado de uma determinada palavra, o que mostra um desconhecimento do vocabulário por parte de quem escreve. Ou seja, a palavra “extorquir” significa “adquirir algo com ameaça ou violência”, o que faz com que a frase fique sem sentido ou, no mínimo, estranha. E o que provavelmente quem escreveu essa frase queria dizer era que “A empresa resolveu ressarcir seus clientes pelos danos causados”, ou seja, que a empresa irá “indenizar” seus clientes. Esses exemplos nos mostram que a coerência é imprescindível para que as ideias de um texto sejam bem compreendidas pelos seus leitores. Eles nos mostram também que para um texto ser coerente é preciso demonstrar conhecimento de mundo (sobre o qual falaremos na próxima seção), além de estar atento a diversos detalhes, inclusive à escolha de vocabulário e conjunções adequadas. Como já dissemos, uma outra forma de avaliar a coerência está relacionada à organização das ideias dentro de um texto. Se você L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 18 tiver um projeto de texto bastante sólido e mostrar ao seu leitor que suas ideias estão bem relacionadas, certamente terá uma nota boa de coerência. É importante deixar evidente que seu texto tem uma espécie de fio condutor ao qual todas as ideias estão relacionadas. Sem um projeto e o fio condutor, é provável que a organização de suas ideias fique prejudicada. Pense sempre que é preciso haver uma progressão das ideias que você apresenta no texto. Precisamos nos manter atentos para que a ordem em que as ideias aparecem no texto seja planejada e estratégica. Para isso é importante que, a cada parágrafo, você aprofunde mais a ideia que está sendo apresentada e/ou discutida, acrescentando novas informações ou pontos de vista, por exemplo. Dessa forma, é possível evitar textos caóticos (em que os parágrafos estão desarticulados e tratam de temas diferentes, apenas comentando- os) ou textos circulares (em que cada parágrafo parece repetir sempre as mesmas ideias, ou seja, o texto não progride). Para compreender a necessidade de estar atento à coerência ao escrever um texto, observe a redação abaixo, publicada pela Comvest como uma redação abaixo da média: Ao longo da história, a saúde pública sempre foi um desafio, de um modo geral, para a política e nossos governantes bem como para a ciência. Ambos procuram trabalhar juntos visando uma população saudável através das polêmicas medidas preventivas. De acordo com a Constituição Federal de 1988, a saúde é direito de todos e dever do Estado, sendo assim, grande parte dos problemas da saúde pública exige a atuação deste que emprega tanto os mecanismos de persuação, como a informação, quanto os meios materiais, como a execução de serviços e as tradicionais medidas de polícia administrativa condicionando e limitando a liberdade individual. Porém, tal promoção da saúde pública encontra muitas dificuldades na L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2009/download/comentadas/fase1.pdf 19 história de nosso país quando consideramos o papel da sociedade e de cada indivíduo. Quando o Rio de Janeiro possuía 800 mil habitantes era uma cidade perigosa devido a diversos tipos de doenças. Naquela época as políticas de saneamento de Oswaldo Cruz cuja lei tornou obrigatória a vacinação, mexeu com muita gente gerando a famosa reação popular conhecida como Revolta da Vacina. Tal revolta se distinguiu pelo trágico desencontro de boas intenções: as de Oswaldo Cruz e as da população. E, após 103 anos deste marco histórico, algumas tensões geradas por ações preventivas ainda persistem como no caso da dengue na qual o combate tem sido dificultado devido aos profissionais dos serviços de controle encontrarem imóveis fechados ou serem impedidos pelos proprietários de penetrarem nos recintos. Porém, atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem é procedimento tradicional na história da humanidade, cabendo a ciência demonstrar que agentes causadores de muitas doenças são vírus e bactérias alheios às virtudes e fraquezas humanas. Em tais fraquezas, também podemos citar o controle de peso, tabagismo, ingestão de álcool, sedentarismo e hábitos alimentares terem um papel importante no bem-estar do indivíduo. Portanto, para que possamos ter um desenvolvimento cada vez mais crescente de nosso país visando a proteção da saúde da população, devemos estar conscientes e informados às promoções e prevenções do Estado através da medicina preventiva evitando assim que muitas pessoas venham a adoecer. Nessa redação, ainda que todos os parágrafos falem de saúde, eles não têm relação um com o outro, tanto que se alterarmos a ordem em que aparecem os três parágrafos do desenvolvimento, não haverá prejuízos no texto como um todo, pois uma ideia não está relacionada à outra. Esta é uma boa maneira de avaliar se seu texto está organizado de um modo em que as ideias progridem em direção à conclusão ou não. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 0820 Logo, não se trata de um texto cujas ideias são progressivas, pois elas não seguem uma ordem pré-estabelecida e estratégica. Pelo contrário, em cada parágrafo há apenas um comentário sobre o que se dizia nos textos-base presentes na coletânea apresentada pela proposta. No segundo parágrafo, por exemplo, fala-se da Constituição de 1988 e da importância da saúde pública; já no terceiro, o candidato começa a falar sobre o Rio de Janeiro, sem mostrar relação entre essas duas ideias; o quarto parágrafo está ainda mais desarticulado, pois começa a dizer que os doentes não têm culpa das doenças que os afligem. Este texto é um bom exemplo de redação sem coerência, pois, mesmo não havendo ideias contraditórias, problemas de coesão ou de veracidade das informações apresentadas, suas ideias não progridem ao longo do texto, fazendo com que o leitor não consiga compreender a relação entre elas. Pelo contrário, o texto se parece mais com uma lista de vários comentários aleatórios e desarticulados. Para que isso não aconteça, lembre-se sempre de planejar quais ideias estarão no seu texto e de que forma elas serão associadas. Verifique se todas elas seguem uma mesma linha de raciocínio e se progridem ao longo do texto. Um texto coerente garante que seu leitor entenda corretamente o que você quer dizer. Como dissemos anteriormente, a coerência do texto deve estar bem desenvolvida não apenas entre os seus elementos internos, mas também na sua relação com o mundo ou com seus fatos e acontecimentos. Dessa forma, ter conhecimento de mundo contribui para o estabelecimento de uma boa coerência externa do texto com os fatos/temas que ele discute. É isso que procuramos mostrar a seguir. b) Conhecimento de Mundo Você certamente já ouviu algum professor de português falar L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 21 sobre conhecimento de mundo. A princípio, pode parecer algo bastante óbvio e que se resume a ler jornal e ficar atualizado sobre os acontecimentos do nosso dia a dia. Isso é muito importante de fato, mas, na prática, o que é conhecimento de mundo e por que ele é tão importante na redação? Sabemos que as propostas de redação sempre trazem uma questão central a ser debatida. Pode ser desde um tema filosófico, como a amizade ou o amor, até um tema político, como a corrupção ou os impostos. A verdade é que, por mais que se tente adivinhar, qualquer assunto pode ser tema de vestibular. E como você se prepara para isso? Muitos alunos ficam enlouquecidos com essa ideia, pois não tem como saber tudo sobre tudo. No entanto, há formas práticas de ampliar seu conhecimento de mundo para que você não seja “pego de surpresa” e esteja preparado para discutir os mais variados temas no vestibular. Primeiramente, temos que salientar a importância das aulas de História e Geografia. Conhecer o passado histórico do mundo e suas nuances políticas e sociais é tão importante quanto ler jornal. Sem essa base histórica e geográfica não dá nem para começar a entender as manchetes estampadas nos jornais, quanto mais compreender as informações que suas notícias e reportagens discutem ou apresentam. Assim, estude essas matérias de forma inteligente, ligando pontos em comum e tentando relacionar os tópicos estudados com fatos atuais. Esse é um conhecimento de mundo com base sólida. Tendo essa base, você terá muito mais facilidade em entender o que dizem os jornais e outros meios de acesso à informação. E quanto maior o seu conhecimento de mundo, mais argumentos você terá para debater sobre qualquer que for o assunto abordado no tema da redação. Um conhecimento de mundo ampliado garante a você uma redação consistente, que não precisa recorrer a lugares comuns ou a clichês, pois permite que você tenha autonomia para L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 22 pensar, interpretar e argumentar, não importando o assunto. Como posso ampliar, então, o meu conhecimento de mundo? Infelizmente, nossa geração tem sérios problemas para produzir reflexões mais profundas. Isso se explica pelo fato de que, atualmente, as informações são difundidas de modo cada vez mais rápido, gerando um volume grande de informações a ser apreendido. Além disso, essa rapidez faz com que as informações sejam também cada vez mais “mastigadas”, ou seja, mais superficiais, impedindo assim que possamos compreendê-las em sua complexidade. Você precisa fugir disso! Portanto, se você é um vestibulando e está se esforçando para entrar em uma boa universidade, comece o quanto antes a estudar o mundo em que vive de forma profunda. Isso certamente o diferenciará dos outros concorrentes e lhe dará uma vantagem na hora de escrever sua redação. Para isso, leia jornal, procure livros, conheça as guerras, as ações e correntes políticas, os conflitos, os assuntos polêmicos e as filosofias que há no mundo. Há algum tempo atrás, os estudantes não podiam contar com a internet para isso, mas hoje em dia a realidade é outra. Temos acesso a todo tipo de informação e, portanto, não há desculpas para não se informar. Assim, para ampliar este conhecimento, por mais óbvio que pareça este conselho, entre em contato com o mundo em que você vive! Procure refletir e se questionar sobre aquilo que você lê e ouve nas diferentes mídias. É impossível escrever uma boa redação sem esse conhecimento, portanto, use todas as ferramentas de que dispõe para que você possa ampliá-lo e garantir um melhor preparo para o vestibular. c) Coletânea: como utilizá-la? Como afirmamos acima, o uso da coletânea é um dos critérios avaliados na correção da redação de alguns vestibulares. Com L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 23 esse critério, pode-se avaliar não apenas se o candidato escreve bem, mas também se ele é um bom leitor. E o que é, afinal, a coletânea? A coletânea é o conjunto de textos apresentados na proposta de redação, que chamamos de textos- base. Ou seja, são textos que têm alguma relação com o tema que deve ser discutido e que podem servir como ponto de partida para a reflexão do aluno e para a produção de seu texto. Alguns vestibulares apresentam uma coletânea bastante vasta, com textos de diversos gêneros discursivos e que defendem diferentes pontos de vista sobre o tema em questão. Um bom exemplo desse tipo de coletânea pode ser observado nas provas da Unicamp realizadas antes da mudança no seu processo seletivo, realizada no vestibular de 2011. Veja, no site da Comvest, a prova do vestibular de 2008, em que a coletânea era composta de uma imagem e mais oito trechos de textos retirados de jornais, revistas e sites. Neste caso, o uso da coletânea apresentada pela Unicamp era imprescindível, e as ideias contidas no texto do candidato deviam ser totalmente sustentadas pelos textos-base. Outros vestibulares, por sua vez, podem apresentar um único texto na coletânea (como é o caso de algumas propostas do vestibular da PUC-Campinas), ou imagens e textos curtos, como é comum nos vestibulares da Fuvest. Veja como exemplo a prova do vestibular de 2009 da Fuvest, em que a coletânea era composta por uma imagem, uma definição retirada do dicionário e uma pequena reflexão sobre o sentido do termo “fronteira”. Nestes vestibulares, a coletânea também serve como ponto de partida, mas se valoriza bastante aquilo que o aluno traz de contribuição pessoal, que chamamos de coletânea externa. Por isso a importância de demonstrar conhecimento de mundoao L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 http://www.comvest.unicamp.br/vest2008/F1/provafase1.pdf http://www.fuvest.br/vest2009/provas/2fase/por/por2f2009.pdf 24 escrever uma redação. Conhecendo a importância da coletânea em seu texto, é preciso saber também qual a maneira correta de usá-la, de forma que a utilização de ideias que não são suas não fique artificial ou prejudique sua redação. Em primeiro lugar, então, é preciso ter em mente que, ao corrigir seu texto, o professor ou corretor vai lê-lo “a partir do zero”. Ou seja, ele vai se colocar no lugar de alguém que não sabe nada sobre o assunto, não sabe o que a proposta pedia e não conhece os textos-base apresentados pela coletânea. Assim, começar a falar de algo específico do tema antes de apresentá-lo ou simplesmente dizer que no texto da coletânea havia tal ideia são atitudes que devem ser evitadas, pois podem prejudicar muito sua redação. Portanto, nunca se refira aos textos-base da seguinte forma: “como disse o autor do texto 1 da coletânea...”. Seu leitor não voltará à coletânea para ter certeza do que esse autor falou ou para verificar se as ideias dele realmente cabem em seu texto. Além disso, neste caso, você está fazendo uma referência direta à situação de prova, o que prejudica a autonomia do seu texto. Lembre-se, por mais que a redação no vestibular seja uma avaliação, ela é uma simulação de um contexto real de produção de um texto e, por isso, ele deve ser autônomo. Você pode sim usar a citação de um autor da coletânea, a não ser que a proposta deixe explícito que essa prática é proibida, mas essa referência deve ser feita de modo correto. Você deve dizer o nome do autor e de onde o trecho foi retirado, citando o nome da revista, jornal, livro ou site. Dessa forma, você utiliza a coletânea, mas sem fazer referência direta à situação de prova, preservando assim a autonomia do seu texto. No entanto, isso não significa que apenas “cortar e colar” um trecho da coletânea demonstra um bom uso deste recurso. A L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 25 coletânea não pode aparecer em seu texto de forma artificial, ela deve ser usada de forma estratégica. Seu leitor precisa perceber que aquela ideia é essencial para seu texto e que ela contribui totalmente para a sustentação dos seus argumentos. Atenção! Nunca faça de sua redação uma sequência de comentários sobre os textos da coletânea! Outro ponto importante é que na coletânea não há argumentos prontos para seu texto. O que existem são ideias que podem servir de base para sua reflexão e de exemplos para os argumentos que quer defender. Por isso é importante articular o que é apresentado pela coletânea com seu conhecimento de mundo, sua experiência de vida e sua própria reflexão/senso crítico sobre o assunto. Além disso, não é preciso usar todos os excertos que a proposta apresentar na coletânea. Procure selecionar apenas aqueles que podem servir para sua argumentação. Isso deve ser feito no momento em que você for elaborar seu projeto de texto. E, por fim, o mais importante: procure sempre mostrar que você se apropriou das ideias da coletânea e que há integração e significação dos textos-base com o restante das suas ideias, demonstrando dinamismo entre elas. Dessa forma, ainda que você não domine totalmente o assunto abordado pela proposta, os textos-base contribuirão para uma redação completa, cujas ideias são bem sustentadas. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 26 Capítulo 2 Sobre os gêneros textuais A nota de gênero textual em um vestibular está relacionada à adequação ao gênero solicitado pela proposta. Isso quer dizer que se a proposta pedir que se escreva uma dissertação, você deve escrever um texto com as características próprias desse gênero. Para isso, é importante que você conheça as principais características de cada gênero. É claro que dificilmente uma pessoa escreve bem em todos os gêneros textuais, tanto que mesmo os grandes escritores acabam se atendo mais a um determinado gênero. No entanto, é importante que saibamos marcar nossa redação com características fixas de cada gênero. Por exemplo, se for pedido para que você escreva um artigo de opinião que será publicado em uma seção de “Opinião do leitor”, é preciso destacar características desse gênero que o diferenciem de uma dissertação ou de uma crônica. Uma forma de diferenciar o artigo destes gêneros seria fazer alguma referência ao jornal, a alguma notícia publicada anteriormente ou à imagem de quem está escrevendo o artigo. Caso contrário, seu leitor e/ou corretor não saberão se você realmente conhece e domina aquele gênero. Mais uma vez, percebemos que os vestibulares esperam que seus candidatos sejam também bons leitores, pois somente quem lê bastante conhece as características dos gêneros pedidos e sabe reproduzi-los. Portanto, esteja sempre atento aos textos que estão presentes em nosso cotidiano, observando o que eles têm em comum e quais suas características específicas. Muitos vestibulares não pedem mais apenas a dissertação em sua prova e é bastante provável que isso se torne cada vez mais comum. Nas seções a seguir, trabalharemos os principais gêneros discursivos para que você possa compreender cada um deles e perceber as características que os diferenciam. Mas antes trataremos um pouco da interlocução, um aspecto fundamental na construção de L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 27 qualquer texto. 1. Imagem do Interlocutor Todo texto, independentemente do gênero a que pertence, tem um interlocutor, ou seja, alguém a quem o texto é dirigido. Em alguns casos, o interlocutor é mais geral, como, por exemplo, os leitores de uma revista ou de um jornal, ou ainda os alunos de uma escola em que um cartaz é publicado. Em outros momentos, há uma pessoa específica para quem se escreve, como quando estamos enviando uma carta pessoal, um convite ou um e-mail. Por esse motivo, sempre que vamos escrever um texto, precisamos saber a quem ele deve ser dirigido, adequando, assim, a linguagem com a qual escrevemos, assim como as informações que pretendemos comunicar ou discutir. Se você comparar duas revistas diferentes, perceberá que a linguagem de cada uma é distinta, pois os leitores não são os mesmos. Observe os exemplos: GRANDALHÃO DO BEM O leão marinho tem aparência de mau, mas é dócil e só fica bravo ao se sentir ameaçado Morador de áreas frias e rochosas, este mamífero parece estar sempre mal-humorado. Mas é só a cara feia mesmo! Os leões-marinhos não costumam atacar, a não ser quando notam algum perigo. Por isso, é melhor nunca mexer com eles! E se você acha que leão-marinho e foca são o mesmo bicho, está enganado! O jeito mais fácil de diferenciá-los é pelas orelhas: o leão-marinho tem orelhinhas, enquanto sua prima possui apenas um buraquinho para escutar. (Trecho extraído da Revista Recreio nº613, 08/12/11) LAGOAS CHEIAS DE VIDA Milhares de criaturas se apegam à rocha de uma tira fina de litoral chamada zona de entremarés A estrela-do-mar se coloca ao lado das criaturas mais L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 28 espetaculares da variedade de formas de vida que habita as praias próximas à baía Bodega Bay. Grandes (àsvezes com 30 centímetros de diâmetro) e de cores obstinadas (algumas são cor de laranja, outras, roxas; ninguém sabe por que), as estrelas-do-mar geralmente se encontram em fissuras de rochas, largadas como um brinquedo deixado de lado. Mas, apesar de sua aparente letargia, a Pisaster ochraceus funciona como um dos principais predadores da zona de entremarés – o tigre da lagoa de maré – apesar de nem ter algo parecido com um cérebro. (Trecho extraído da Revista National Geographic, nº135 junho/11) Esses dois trechos foram retirados de revistas bem diferentes: o primeiro, da Recreio, voltada ao público infantil, e o segundo, da National Geographic, voltada ao público adulto. Apesar de o interlocutor não ficar explícito ao longo do texto, podemos perceber diferenças na forma como as reportagens são escritas: enquanto a primeira é mais informal, parecendo que o autor conversa com a criança que lê a revista; a segunda traz informações mais objetivas, com uma linguagem mais formal. Nesses casos, o público leitor está bem marcado, uma vez que eles foram previamente determinados, de acordo com os objetivos de cada revista e podemos identificá-lo através da linguagem que as revistas empregam. Porém, quando você for escrever seus textos, nem sempre o interlocutor está estabelecido dessa forma, por isso, cabe a você deixar bem claro qual é o seu interlocutor, ou seja, a quem seu texto é dirigido. É evidente que você sabe que quem vai ler seu texto é seu professor ou o corretor do vestibular, mas na redação há uma simulação da realidade e você está sendo avaliado por isso. Portanto, dependendo do gênero pedido, é preciso dizer quem é seu interlocutor para mostrar domínio sobre o gênero em questão. Na dissertação, por exemplo, você tem um interlocutor mais geral e, como você não deve falar diretamente com o leitor, ele não L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 29 precisa ser marcado. Porém, há diversos outros gêneros em que o interlocutor deve aparecer e, inclusive, deve ser marcado em seu texto. Nesses casos, dizemos que é preciso criar uma imagem do interlocutor. Para entender melhor este conceito, pensemos nas cartas, sejam elas pessoais ou argumentativas. Toda carta tem um emissor e um remetente, e estes devem estar claros quando você a escreve Ou seja, em toda carta deve estar explícito: • Quem está enviando aquela carta e por que ele é o emissor; • Quem está recebendo a carta e por que ele é o receptor; • Por que aquela carta está sendo escrita. Para criar essas imagens, seja de quem escreve ou de quem recebe a carta, você pode inventar características, como se estivesse mesmo criando um personagem. O mais importante é deixar claro que só aquela pessoa poderia escrever a carta, e só a outra poderia receber. Para exemplificar como as imagens devem ser criadas, observe a redação abaixo, publicada pela Comvest (Unicamp) como uma redação acima da média. Nesta proposta, era preciso escrever uma carta ao Ministro da Saúde, justificando a manutenção de uma campanha promovida pelo Ministério da Saúde. Campinas, 18 de novembro de 2007 Prezado senhor Ministro da Saúde Escrevo-lhe com o objetivo de parabenizá-lo por sua estratégia no controle da proliferação do vírus causador da AIDS, a partir do programa de redução de danos. Sou uma jovem estudante do Ensino Médio e, como tal, convivo diariamente com pessoas de minha faixa etária. Por estudar em um colégio particular, tanto eu quanto meus colegas dispomos de recursos financeiros suficientes para freqüentar as festas rotineiras, ocasionalmente comprando substâncias ilegais. Apesar de eu me posicionar contra esse tipo de atitude, preocupo-me com meus amigos L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2009/download/comentadas/fase1.pdf 30 que, ao priorizarem o “barato” e a diversão, esquecem-se das conseqüências letais que seus atos podem trazer para suas saúdes; principalmente ao lidarem com agulhas e substâncias injetáveis, propícios vetores de doenças como a AIDS. Exatamente por isso, concordo com a medida, autorizada pelo senhor, de distribuir seringas descartáveis ou mesmo drogas, de forma a controlar a proliferação do HIV. Além dos resultados bem-sucedidos, comprovados cientificamente, e de contar com países de primeiro mundo como aliados nesta causa, o Ministério da Saúde mostrou estar adequado ao princípio, ditado pela Constituição brasileira, de que o Estado deve ser o responsável por promover a Saúde. Ao adotar esta postura pragmática, o senhor mostrou não só estar ciente do problema que a saúde pública enfrenta, mas também mostrou estar aberto a discussões que preservem a saúde da população e, ao mesmo tempo, respeitem suas liberdades individuais. Além disso, ao adotar uma medida certamente “polêmica”, o Ministério está conseguindo atingir a meta de conscientizar e persuadir a sociedade, que se mostrasse interessada pela inovação da técnica utilizada. A discussão gerada é muito mais saudável que a negação da mesma, como noto entre meus colegas, que adotaram a política do governo, ao mesmo tempo que rejeitaram a postura puritana dos americanos. Ao aproximar-se da população, o senhor fez com que todos meditassem sobre o assunto, a fim de que possam chegar a um consenso para a solução do problema. Por isso, senhor Ministro, parabenizo-o por uma política que está dando bons resultados. Se meus colegas ainda não se desvincularam das drogas, ao menos têm a consciência do desafio que é o combate à AIDS, graças ao canal de comunicação aberto pelo governo. Isso demonstra um amadurecimento da sociedade diante da responsabilidade da mesma quanto à manutenção da saúde. Assim como a campanha de Oswaldo Cruz para a erradicação da varíola, no séc. XIX, o senhor mostra que sua campanha de erradicação da AIDS é vanguardista e eficaz. Em meu meio ela já foi aceita, portanto espero que seu sucesso atinja a todos e perdure. Atenciosamente, F.T.S. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 31 Nesta carta, a candidata deixou bastante explícito quem está escrevendo (nos três primeiros trechos destacados em negrito) e para quem está escrevendo (nos três últimos trechos destacados em negrito). Vale ressaltar aqui que, ainda que o interlocutor seja alguém conhecido, um ministro, é preciso descrever algumas de suas características ou ações, deixando claro por que a carta foi direcionada especificamente para ele e não para qualquer outra pessoa. Saber criar a imagem do interlocutor faz com que você tenha uma boa nota de gênero textual, pois mostra a quem lê sua redação que você domina o gênero solicitado. Por isso, destacamos, mais uma vez, a importância de conhecer os diferentes gêneros. Considerando a importância deste conhecimento, falamos a seguir sobre algumas noções gerais acerca dos gêneros textuais, apresentando posteriormente alguns dos principais gêneros pedidos no vestibular. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 32 2. Características dos Gêneros Textuais Bakhtin, um teórico da linguagem, em seu livro Estética da Criação verbal: os gêneros dos discursos, define os gêneros discursivos como: Tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados pelas diferentes esferas de utilização da língua (p.290). Apesar de essa definição sobre os gêneros parecer um tanto quanto complicada, estes são bem simples de serem compreendidos,pelo fato de constituírem textos que já fazem parte do nosso cotidiano. Vemos em jornais impressos, por exemplo, textos como editoriais, artigos de opinião, reportagens, etc. Já nos blogs, há posts com crônicas, relatos de experiências de vida, além de comentários que os internautas escrevem sobre algum post que os interessam. Receita de bolo, currículo, carta de apresentação e carta de amor também são exemplos de gêneros textuais. Além dos gêneros escritos, elencados acima, temos também os gêneros orais, tais como a palestra, o discurso político, a apresentação das notícias em um telejornal, a entrevista, etc. Assim, observamos que os gêneros podem ser expressos tanto na forma oral quanto na forma escrita. Ainda que os diferentes gêneros tenham suas especificidades, eles têm uma característica comum: eles desempenham determinadas funções sociais, ou seja, têm propósitos específicos em nossa organização social. Além disso, há sempre uma regularidade em relação à estrutura e à linguagem que os caracterizam. Parece um pouco confuso, mas, para ficar mais claro, vamos analisar o texto abaixo: Bolo sem Farinha Ingredientes 7 ovos, 7 colheres (sopa) de açúcar, 7 colheres (sopa) de chocolate em pó, 4 colheres (sopa) de óleo, 2 colheres (sopa) de manteiga, 100 g de coco ralado seco e 1 colher (sopa) de fermento em pó. L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 33 Para a cobertura 1 copo de leite de coco ou água, 3 colheres (sopa) de açúcar, 3 colheres (sopa) de chocolate em pó e 1 colher de sopa de amido de milho. Modo de preparo Bata no liquidificador os ovos, 7 colheres (sopa) de açúcar, 7 colheres (sopa) de chocolate em pó, 4 colheres (sopa) de óleo e 2 colheres (sopa) de manteiga. Retire do liquidificador e misture 100 g de coco ralado seco e 1 colher (sopa) de fermento em pó. Numa forma redonda (25 cm x 4 cm) untada e forrada com papel-manteiga, despeje a mistura do bolo e leve ao forno a 180ºC por 40 min. Para a cobertura Leve ao fogo o leite de coco com o açúcar, o chocolate e o amido de milho, mexendo sempre até engrossar. Cubra o bolo com a calda. Como você já deve ter constatado, o texto acima é um exemplo do gênero texto instrucional, mais especificamente, receita culinária. Ele está estruturado da seguinte forma: • A primeira parte do texto é organizada em tópicos, nos quais há a exposição dos ingredientes e as quantidades exatas destes para que o prato possa ser feito. • A segunda parte é composta pelo modo de fazer, no qual há instruções que informam o modo de preparo dos ingredientes. • Os verbos estão no imperativo. • O propósito desse texto é ensinar a preparar um prato específico. Neste caso, o bolo de chocolate sem farinha. • Geralmente, esse tipo de texto circula em livros e revistas de culinária ou em sites especializados. Há também algumas revistas e jornais que reservam um espaço para colocarem algumas receitas culinárias. As características apontadas acima também são encontradas em outras receitas culinárias. Desse modo, podemos dizer que textos que apresentam características semelhantes quanto à estrutura, ao propósito e ao contexto de circulação fazem parte do L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 34 mesmo gênero. É importante, portanto, que você fique atento aos diversos gêneros que circulam no seu cotidiano. Preste atenção na estrutura, na linguagem utilizada, para que servem e onde são veiculados, pois você só poderá reproduzir um gênero se conhecer o seu modelo. Por exemplo: você não será capaz de escrever um ofício se não conhecer o modelo de um. Além disso, você sempre deve estar atento ao propósito do texto para saber de qual gênero este texto realmente faz parte. Há alguns autores que utilizam a estrutura de um gênero, mas escrevem um texto cujo propósito corresponde a outro. Por exemplo, o texto Conveniência, escrito pelo autor Antônio Prata, segue a estrutura de uma oração, porém o texto é uma crônica, pois apresenta a função social deste gênero ao trazer a reflexão do autor sobre uma questão. O que define um gênero textual, portanto, é o seu propósito social, por assim dizer, e não a sua forma estrutural. Fique atento também ao fato de que os gêneros textuais não são estáveis, pois eles podem mudar conforme a necessidade da sociedade (pode haver mudança na estrutura e/ou no contexto de circulação). Um exemplo interessante dessas mudanças é o e-mail que circula na internet e é considerado o substituto eletrônico da carta. Nas seções seguintes, vamos analisar alguns gêneros para que você possa conhecê-los melhor e, consequentemente, se sentir seguro na hora de escrevê-los! Para resumir o que falamos até aqui sobre os gêneros, apresentamos o seguinte quadro: L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 http://blogdoantonioprata.blogspot.com/2008/01/convenincia.html 35 3. Alguns exemplos de gêneros textuais Apresentaremos nesta seção alguns dos gêneros textuais que aparecem com frequência no vestibular, seja como um texto de apoio ou como o texto a ser desenvolvido. São eles: o relato, a notícia, o editorial, o artigo de opinião e a dissertação. Procuramos mostrar a especificidade de cada um deles, a partir de exemplos de textos, começando pelo relato. a) Relato O relato é um gênero discursivo muito comum em nosso cotidiano. Provavelmente, você já deve ter relatado para seus amigos, conhecidos e parentes, como foi a sua viagem de férias ou como foi a festa de casamento do seu primo, por exemplo. Por ser um gênero muito comum em nosso dia-a-dia, dificilmente pensamos na sua estrutura formal e em sua função social na nossa sociedade. Assim, para conhecer melhor esse gênero, leia um relato localizado no site www.museudapessoa.com.br, que reproduzimos abaixo e a análise que fazemos dele em seguida: L ic en se d t o E m ill y V ic tó ri a d o s S an to s L im a - ev 98 79 7@ g m ai l.c o m - H P 19 51 63 11 53 26 08 http://www.museudapessoa.com.br/ 36 Mundo dividido Tivemos um período bastante difícil durante a Segunda Guerra Mundial. Os familiares do meu pai, por serem italianos do norte, eram muito alegres e gostavam de festas. Tudo era motivo para ser comemorado: um batizado, um aniversário… Com a 2ª Guerra, o Brasil era um dos países inimigos do Eixo. Os países que representavam o eixo: Itália, Alemanha e Japão. (...) Os imigrantes italianos perderam muito de sua identidade com isso e suas famílias se afastaram não havendo mais aquela comunicação através do dialeto. Éramos mal vistos, porque havia suspeita que, se continuássemos com aquelas festividades, não era apenas para divertimento, mas para passar informações e isso era praticamente impossível. Não havia como comunicar com quem? Para quem? Por quê? (...) Houve fatos que marcaram muito essa época, porque as famílias italianas eram numerosas e muitas delas tiveram filhos convocados para a guerra. Alegavam que eles foram escolhidos porque eles tinham noção da língua italiana e eram preferidos, além dos alemães. Os noticiários sobre a guerra eram acompanhados pelo rádio, jornais ou revistas, sendo os únicos meios de comunicação disponíveis, mas não se sabia a data em que ocorriam os fatos porque até chegar ali através da imprensa demorava muito, 15 dias, um mês. A rádio local era a PRG4 e me lembro muito bem dos jornalistas, sendo um deles o professor Solon Borges dos Reis. Eu estava com 9 anos e tenho viva na memória a Segunda Guerra Mundial.
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