Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
lA 1. Explicar a fisiopatologia da dependência química e compreender sua relação com a perda de peso (como a pessoa dependente química perde peso). 2. Descrever a fisiopatologia dos efeitos agudos e da dependência em substâncias químicas 3. Entender os aspectos sociais envolvidos no caso na dependência de substâncias químicas 4. Destacar as doenças mais prevalentes nos usuários de drogas. 5. Conceituar abuso químico, dependência química, tolerância, resistência e abstinência de drogas. 6. Definir tuberculose pulmonar, sua epidemiologia, quadro clínico e tratamento. • Estratégias para o controle da adesão do tratamento. 7. Entender sobre a importância da equipe multiprofissional para situações de vulnerabilidade como a representada no caso (CAPS). 1. Os hábitos deletérios da paciente contribuíram para uma vulnerabilidade e uma associação com a infecção pelo HIV, isso corroborou para o quadro de tuberculose apresentado por ela, visto que houve uma debilitação do seu sistema imunológico. 2. A perda de peso apresentada pela paciente pode ser justificada pelo HIV e pela sua dependência química, já que as drogas injetáveis são as principais via de transmissão do vírus. 3. Os achados diagnósticos na radiografia de tórax, atrelado as manifestações clínicas (perda de peso e tosse persistente) e exame físico da paciente sugerem um quadro de tuberculose. A dependência química (DQ) é uma doença crônica e recidivante cuja etiologia tem natureza multifatorial complexa. → Muitas pessoas não entendem porque ou como alguém se torna dependente de drogas, muitas vezes com a percepção errônea de que a manutenção do consumo da droga, apesar dos problemas relacionados, é fruto de questões morais ou falta de força de vontade. → Na realidade, a dependência é reconhecida exatamente na incapacidade do indivíduo para controlar seu comportamento, e embora a iniciativa de consumir drogas tenha forte componente voluntário, as alterações cerebrais decorrentes desafiam o autocontrole e capacidade de resistir a impulsos muito intensos. Larissa Barreto Dourado Moitinho – 6ª ETAPA B FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA Objetivos de Aprendizagem - SP 1.4 OBJETIVOS DA SP HIPÓTESES DA SP NOVA SÍNTESE Objetivo 1 - Explicar a fisiopatologia da dependência química e compreender sua relação com a perda de peso (como a pessoa dependente química perde peso). A partir de décadas de avanços científicos sobre o tema, hoje é possível uma melhor compreensão dos mecanismos biológicos e cerebrais envolvidos no surgimento e cronificação da doença, apesar de ainda existirem muitas lacunas a serem descobertas. → Em linhas gerais, se considerarmos o grande contingente de indivíduos que experimentam alguma droga, é relativamente pequena a parcela dos que se tornam dependentes, uma vez que certas substâncias não têm elevado potencial inerente de levar à dependência, ao contrário de outras, como cocaína, seus derivados (crack) e heroína. → Estas últimas levam ao quadro de DQ com poucas ocasiões de consumo e de forma mais independente da interação com outros fatores de vulnerabilidade. → Entretanto, mesmo com níveis reduzidos de consumo de substâncias, a pessoa já pode apresentar impacto significativo na qualidade de vida, e, apesar de conhecermos alguns preditores de piores desfechos, uma vez iniciado o uso de qualquer droga, não é possível assegurar se haverá ou não a trajetória para dependência, marcada por mudanças cerebrais químicas e funcionais significativas e persistentes. Por esse motivo, cada vez mais estudos demontram a importância de serem enfatizadas estratégias de prevenção. → Além disso, ainda não são tão expressivas as opções comprovadamente efetivas de tratamento, e são observadas pequenas taxas de procura. → A presença de baixo nível socioeconômico, falta de suporte familiar e comorbidades psiquiátricas graves são fatores que contribuem para menor chance de obter tratamento e sucesso. Estudos com gêmeos elucidaram definitivamente o importante papel da herdabilidade genética, que se manifesta por diversos mediadores, como o funcionamento de enzimas metabolizadoras das drogas, nível de resposta subjetiva individual que pode ocorrer, além de fatores emocionais, cognitivos e de personalidade. → O conceito atual aponta que genes interagem com fatores ambientais para determinar o comportamento, com a existência de vulnerabilidade preexistente ao consumo de drogas de maneira geral, e também para cada tipo de substância psicoativa e momento ao longo da vida, em que os fatores genéticos e ambientais passam a ter pesos diferentes. A compreensão da DQ como doença crônica tem implicações para modelos de etiologia, tratamento, prognóstico e políticas na área de saúde, podendo ser comparada a diabetes melitus, hipertersão e asma, uma vez que existe tratamento disponível, com taxas de sucesso e melhora na qualidade de vida consistentes, mas que ainda é não curável. → As recidivas de sintomas, ou recaídas, são muitos frequentes, fazem parte do quadro clínico, e representam um desafio para o tratamento. → Ainda, a partir dos perfis de herdabilidade destas doenças, entende-se que a vulnerabilidade para adoecer é proveniente, em parte, da carga genética, que irá interagir com outros fatores, de forma semelhante ao que ocorre na fisiopatologia das dependências. Embora a DQ seja uma doença tratada na maioria das vezes por psiquiatras, considerando ser uma patologia do comportamento e cujas alterações de humor, sono, concentração e outras funções psíquicas acabam comprometidas, especialistas de outras áreas comumente fornecem contribuições relevantes. Fisiopatologia Os mecanismos capazes de produzir e manter a DQ funcionam como um ciclo e são afetados pelo que chamamos de efeitos de reforço positivo e reforço negativo. → O reforço positivo pode ser definido como o processo pelo qual um estímulo (no caso, as próprias drogas), quando presente, aumenta a probabilidade de respostas prazerosas. → O reforço negativo equivale ao processo pelo qual a retirada de um estímulo negativo (no caso, os estados emocionais negativos ligados à abstinência, em que novo uso da droga propicia alívio), aumenta a probabilidade de respostas prazerosas. Enquanto o reforço positivo associa-se ao conceito de impulsividade, caracterizada por crescente excitação antes de cometer o ato, o reforço negativo se associa ao conceito de compulsão, caracterizada por ansiedade e estresse antes e alívio de tal estado negativo ao performar o ato, isto é, o uso da substância. → Enquanto a impulsividade é predominante em estágios iniciais da dependência, a combinação desta com a compulsão exerce importante papel em estágios mais avançados, em que o comportamento de consumo passa a ser automatizado e dirigido pelo estado emocional negativo. → Uma vez coexistentes, impulsividade e compulsão irão compor o ciclo da DQ, que pode ser entendido em 3 fases: intoxicação, abstinência ou estado emocional negativo e preocupação ou antecipação. Conforme a gravidade da DQ aumenta, estes momentos interagem entre si com intensidade cada vez mais fortes, levando ao estado patológico que desafia as estratégias disponíveis para tratamento. Nos últimos anos, descobertas nos campos da neurobiologia,neurociência cognitiva e ciências básicas levaram a reavaliações no entendimento da DQ. Apesar de não haver unanimidade nas teorias, alguns aspectos lhes são comuns: déficits em um ou mais processos cognitivos como aprendizagem, motivação, memória, atenção e tomada de decisão; presença de deficiências em processos cognitivos, relacionados ao sistema neural e de neurotransmissão; e dificuldades nos processos de autocontrole, caracterizado pelo desequilíbrio entre a sobrevalorização da recompensa pelo uso da droga e enfraquecimento dos sistemas de controle. Durante a evolução da DQ, observa-se a persistência de memórias mal-adaptativas associadas, que podem manter a busca pelo uso de drogas e promover as recaídas por hábitos inconscientes. → Acontece um distúrbio de aprendizagem com a formação de fortes memórias instrumentais que relacionam ações e se expressam com respostas difíceis de serem controladas frente a certos elementos do ambiente. → Estímulos que previamente à DQ eram considerados neutros, como por exemplo o hábito de tomar café antes do surgimento da dependência de nicotina, se tornam associados, através de processos cerebrais de condicionamento, e passam a influenciar o comportamento de recaída. Dessa forma, respostas condicionadas podem ser entendidas como comportamentos involuntários, induzíveis por “dicas” ambientais, e que acompanham a cronicidade da doença. Neurobiologia Nossa compreensão sobre os substratos neurobiológicos para os efeitos de reforços positivo e negativo das drogas de abuso foi iniciada desde a primeira identificação do sistema de recompensa cerebral (SRC) ou auto-estimulação intracraniana. • O SRC é uma estrutura cerebral responsável pelas sensações prazerosas e, portanto, pelo aprendizado que pode dar origem à repetição de um comportamento, sendo ativado “naturalmente” por atividade sexual e alimentação, por exemplo (ações ligadas à sobrevivência), e de forma “artifical” mais intensa, como quando são consumidas drogas de abuso. • O principal neurotransmissor que atua neste processo é a dopamina (DA) e o trato que essencialmente compõe esse sistema é o mesolímbico-mesocortical, em que neurônios são projetados da área tegmentar ventral para o córtex pré-frontal e hipocampo (funções psíquicas superiores) e para o núcleo accumbens, que por sua vez também está conectado à amígdala e participam da composição do sistema límbico (emoções). • O SRC funciona a partir do nível de sensibilidade para todas as drogas de abuso, cujo limiar pode ser modulado através da plasticidade sináptica, ou seja, conforme ocorrem os episódios de intoxicação e uso compulsivo, a sensibilidade aos efeitos tende a diminuir, provocando progressão na intensidade (quantidade e frequência) do uso e contribuindo para o desenvolvimento da DQ. Por várias décadas, o comportamento causador das dependências foi visto como consequência de alterações do sistema de neurotransmissão dopaminérgica, ligado à capacidade das substâncias psicoativas de abuso em interferirem na liberação e recaptação de DA no complexo circuito neural ligado ao SRC, especificamente do corpo estriado. • Entretanto, esta visão pouco contribuiu para a descoberta de novos tratamentos e futuras pesquisas são necessárias para melhor compreender a maneira como cada substância causa essas alterações dopaminérgicas – que podem estar implicadas com a maior liberação, direta ou indireta, de DA, modulação da sua recaptação nas fendas sinápticas, disponibilidade de seus receptores ou uma combinação destas variáveis em diferentes níveis. Comorbidades O termo “co-morbidade” descreve duas ou mais doenças que ocorrem na mesma pessoa. • Elas podem ocorrer ao mesmo tempo ou em sequência. • O conceito de comorbidade também abrange interações entre doenças que podem piorar seu curso mutuamente. • A comorbidade entre transtornos psiquiátricos e uso de substâncias é um fenômeno comum e importante para ser entendido - alvo de investigações científicas atuais. Em comparação com a população geral, dependentes químicos têm cerca de duas vezes mais risco para sofrer de transtornos de humor e ansiedade, com o inverso também sendo verdadeiro. • Entretanto, isso não significa que uma doença cause a outra, mesmo quando uma surge anteriormente. • Na verdade, estabelecer o que veio primeiro ou se existe relação causal é um desafio que vem motivando estudos de aspectos genéticos, idade de início, personalidade e temperamento. • A hipótese de que o abuso de drogas pode levar a sintomas de outra doença mental é sugerida, por exemplo, ao observarmos o aumento do risco de psicose em usuários de maconha, especialmente alguns mais propensos. • Enquanto isso, a hipótese de que outros transtornos mentais podem levar ao abuso de drogas, como “auto-medicação”, é exemplificada por indivíduos que sofrem de ansiedade ou depressão e consomem comparativamente mais álcool, tabaco e outras drogas como formas de lidar com os sintomas. Um modelo que foi repetidamente publicado e vêm sendo aprimorado divide os grupos de comorbidades pelas dimensões psicopatológicas internalizante (como o caso de transtornos ansiosos e depressivos) e externalizante (como transtornos de personalidade antissocial e borderline). • Ainda, de forma interessante, a presença do transtorno por uso de substâncias concomitante a outro diagnóstico psiquiátrico, em geral aumenta a chance de ocorrer tratamento para o segundo; recomenda-se, portanto, que qualquer usuário de substâncias psicoativas que busque tratamento seja rastreado para outros transtornos mentais. • Assim sendo, podem existir fatores de risco comuns implicados, tais como a sobreposição de vulnerabilidades genéticas, criando predisposição tanto à DQ como a outros transtornos mentais, além de fatores ambientais, como traumas e exposição precoce a drogas, que também parecem exercer influência comum. Aspectos genéticos Transtornos por uso álcool e outras drogas são individualmente considerados hereditários (em aproximadamente 50%), mas estudos de gêmeos indicam a existência de influências genéticas comuns. • A sobreposição genética encontrada foi forte para algumas substâncias – por exemplo, 55% e 24% da carga genética na dependência do álcool se deve aos fatores compartilhados com outras drogas lícitas e ilícitas, respectivamente, com a porcentagem remanescente sendo específica do álcool. • Em contraste, para a dependência de nicotina, 63% da carga genética encontrada foi específica. • Estudos recentes buscam marcadores provavelmente implicados em risco geral para DQ, como alguns recém encontrados polimorfismos de nucleotídeo único. Dessa forma, a investigação sobre história familiar de problemas relacionados ao consumo de substâncias é um fator crucial para a anamnese psiquiátrica. O cérebro é, sem dúvida, um dos tecidos biológicos mais complexos e permite que o organismo perceba e responda ao meio. Ele se adapta constantemente aos estímulos ambientais por mudanças na expressão dos genes regulados – fenômeno conhecido como epigenética. • A exposição continuada às drogas provoca mudanças generalizadas na expressão dos genes no cérebro de humanos e modelosanimais e há evidências de que muitas dessas mudanças levam aos processos moleculares de adaptação celular causadores da dependência. Apesar do álcool ser a substância cujos mecanismos fisiopatológicos de dependência foram mais estudados até hoje, informações sobre o papel dos processos de epigenética consequentes do álcool sobre o sistema nervoso central ainda são escassas. • A melhor compreensão dos processos moleculares ligados à epigenética poderá elucidar como algumas influências genéticas atuam na vulnerabilidade anterior ao consumo de drogas, como aspectos herdados de personalidade, déficits de atenção e controle de impulsos, transtornos depressivos ou ansiosos, e outras na manutenção da DQ posteriormente, uma vez já iniciada a exposição do cérebro às drogas e seus respectivos metabólitos. Aspectos de personalidade e temperamento A DQ tem sido associada a diversos distúrbios psicopatológicos e considera-se que sejam resultado do uso crônico de drogas e também um fator de risco preexistente. Um estudo que discute dois traços de personalidade significativamente prevalentes entre dependentes químicos – impulsividade e busca de sensações – comparou 30 pares de irmãos, nos quais um deles apresentava diagnóstico de dependência e o outro não apresentava histórico significativo de uso de drogas, e outros 30 indivíduos voluntários para o grupo controle. • Apresenta-se a hipótese de que se impulsividade e busca de sensações são marcadores de vulnerabilidade para DQ influenciados geneticamente, pois níveis elevados de ambos os traços seriam observados não somente nos indivíduos dependentes, mas também em seus irmãos. • Os resultados indicaram que a impulsividade pode ser considerada um marcador biológico geneticamente influenciado para a DQ, por terem sido encontradas diferenças signiticativas entre os irmãos (dependentes e saudáveis) e o grupo controle, enquanto ambos os traços foram marcadores do uso prolongado da droga, por terem sido encontradas diferenças significativas entre o grupo de dependentes e os demais. • Contudo, ressalta-se que tal achado não descarta a possibilidade do traço busca de sensações ser um fator de risco anterior ao abuso de substâncias. Ainda, é discutível se apresentar fraco componente de busca de sensações seria considerado um fator protetor. • A avaliação de temperamento propõe um diagnóstico dimensional, ou seja, embora não reconhecidas categorias diagnósticas, ou comorbidades “verdadeiras”, produz-se uma avaliação sobre quais dimensões psicopatológicas estão mais ou menos presentes em cada indivíduo, o que poderia compor um substrato comum para o humor, comportamento (como o uso de drogas), personalidade e parte da cognição. Sendo assim, o temperamento pode ser concebido como um sistema auto-regulado com seis dimensões emocionais: vontade, raiva, inibição, sensibilidade, enfrentamento e controle. • Diferentes combinações destas dimensões emocionais resultariam em temperamentos afetivos distintos: depressivo, ansioso, apático, obsessivo, ciclotímico, disfórico, irritável, volátil, desinibido, hipertímico, eutímico e eufórico. • A importância deste modelo consiste na possibilidade de ser traçada conduta medicamentosa direcionada, com o objetivo de modular as emoções que geram predisposição a recaídas, a partir do reconhecimento do temperamento, considerando o tipo eutímico como o referencial mais estável. CHAIM, C. H.; BANDEIRA, K. B. P.; ANDRADE, A. G. de. Fisiopatologia da dependência química. Revista de Medicina, [S. l.], v. 94, n. 4, p. 256-262, 2015. DOI: 10.11606/issn.1679-9836.v94i4p256-262. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/108771. Acesso em: 12 set. 2021. Perda de peso A dependência de álcool e outras drogas influencia marcadamente a situação alimentar e nutricional dos indivíduos, seja pelo aspecto biológico, por afetar o apetite, a ingestão adequada de nutrientes e o estado nutricional, seja pelo componente social, interferindo nos hábitos alimentares, no autocuidado e na escolha adequada de alimentos. • Tanto a desnutrição quanto a obesidade e episódios de compulsão alimentar têm sido relatados entre pacientes usuários de drogas ou em processo de tratamento de sua dependência. • Pesquisas têm demonstrado que os alimentos escolhidos pelos usuários de drogas são normalmente aqueles de baixa qualidade nutricional, de baixo custo, de fácil preparo e rápidos de serem consumidos. • Apesar da grande relevância do aspecto nutricional na saúde dos indivíduos usuários de drogas, no Brasil, ainda são raros os estudos envolvendo essa temática. Estudos internacionais com usuários de drogas têm demonstrado alta prevalência de baixo peso nessa população, com níveis ainda mais elevados em indivíduos também infectados pelo HIV. Entretanto, são poucos os estudos com indivíduos usuários de drogas em nível ambulatorial. Outros estudos têm demonstrado que as mulheres dependentes de drogas apresentam quadros de desnutrição mais graves do que os homens. Estudos também têm evidenciado que as mulheres usuárias de drogas buscam o tratamento mais tardiamente que os homens. • Essa demora está ligada principalmente a aspectos sociais, relacionados ao preconceito e estigmatização que sofrem. • Além disso, aspectos fisiológicos próprios da mulher permitem que os agravos à saúde causados pelas drogas ocorram primeiro nelas e posteriormente nos homens. • Assim, as mulheres tendem a chegar aos serviços de saúde mais debilitadas, especialmente, em relação a estado nutricional, como evidenciou o estudo. O uso recente do crack também foi associado ao baixo peso na população estudada. São diversos os fatores que fazem com que o crack esteja relacionado ao baixo peso. Larissa Sticky Note • O crack, que é um derivado da cocaína, tem um forte poder anorexígeno. • Pessoas dependentes dessa droga, em padrão de consumo intenso, contínuo e repetitivo, conhecido como “binge”, relatam que conseguem passar dias sem se alimentar usando apenas a droga. • Além disso, a urgência de obtenção da substância faz com que o indivíduo remaneje o dinheiro que iria ser gasto com alimentação para esse fim. • Somado a isso, está também o impacto nas redes sociais e familiares que, muitas vezes, ocorre na vida dos dependentes de crack, fator que também pode interferir na sua rotina e consequentemente na alimentação, tornando as refeições inconstantes e diminuindo a ingestão de alimentos. • A alimentação ainda pode ser prejudicada pelas lesões na região orofaríngea causadas pelo uso de cachimbos produzidos com latas de alumínio. O contato repetido com alumínio aquecido provoca aparecimento de bolhas e feridas na língua, nos lábios, rosto e também nos dedos. Apesar do baixo peso ser relevante, o excesso de peso (Sobrepeso e obesidade) foi a alteração do estado nutricional mais prevalente na amostra estudada. Essa realidade, no entanto, não está presente apenas entre os dependentes de drogas, mas entre a população brasileira de forma geral. • O excesso de peso foi associado ao uso, com uma frequência superior a três vezes por semana, de maconha. • Estudos evidenciaram a ação da maconha sobre o apetite humano, que ocorre por meio do componente ativo THC (Tetrahidrocanabinol), sendo esse princípio ativo estudado atualmente para fins terapêuticos para estimulação do apetite em pacientes com câncer e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). • A observação mais frequente é o aumento do apetite após três horas do uso da maconha. Quandoavaliado o efeito do uso da maconha sobre o peso dos indivíduos, os dados da literatura ainda são conflitantes. RIBEIRO, Daniele do Rocio; CARVALHO, Denise Siqueira de. Associação entre o estado nutricional e padrões de uso de drogas em pacientes atendidos em Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.), Ribeirão Preto , v. 12, n. 2, p. 92-100, jun. 2016 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806- 69762016000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 set. 2021. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v12i2p92-100. Causar euforia ou aliviar a dor Todas as drogas capazes de causar euforia ou aliviar a dor têm uma característica em comum: atuam de maneira diferenciada no circuito do prazer ou de recompensa, o que resulta na liberação de dopamina. • Muitos outros neurotransmissores e moduladores o influenciam: opioide, noradrenérgico, serotonérgico, endocanabinoide, glutamato e gaba estão entre os principais. Farmacocinética: rápido início de ação O início da ação tem relação direta com a via pela qual a droga entrou no organismo. Embora haja relatos de uso de drogas por todas as vias possíveis, algumas formas são mais frequentes: oral, endovenosa, inalação, e aspiração. Os mecanismos de entrada no organismo envolvem a passagem da droga através de membranas de característica lipoproteica até atingir o sangue. Início do efeito Quanto menos barreiras a droga tenha que atravessar para atingir o cérebro, mais rápido seu efeito. Objetivo 2 - Descrever a fisiopatologia dos efeitos agudos e da dependência em substâncias químicas. • Comparando, como exemplo, as vias clássicas pelas quais a cocaína pode ser utilizada, tem -se uma graduação muito típica da interferência da via sobre o potencial aditivo da substância. o Quando a folha da coca é mascada (hábito milenar nos países andinos), a cocaína é lentamente absorvida. Mesmo assim, exerce sua ação farmacológica de diminuir a fadiga e a fome, efeitos que foram considerados positivos pelos espanhóis na invasão da América, quando escravizaram o povo nativo. o A cocaína também pode ser cheirada. Nesse caso, o tempo de início do efeito é bastante reduzido, e a diferença de estado droga/não droga é perceptível, levando uma porcentagem considerável de usuários à dependência. Contudo, é a mesma droga. o Já ingerida, a droga passa obrigatoriamente pelo fígado, onde tem metabolização parcial, para depois ser lançada na circulação sanguínea. Muitas vezes, drogas ativas geram metabólitos também ativos, mas podem ser também inativadas com metabólitos não ativos. o Nesse último caso, chegará ao cérebro apenas a quantidade que escapou do fígado e que atravessou membranas da mucosa gástrica, dos vários capilares, da célula hepática e, então, da barreira hematencefálica. Por isso a via oral é demorada. No extremo da velocidade de início da ação estão as vias endovenosa e fumada. • A via endovenosa é a que produz o efeito mais rápido. • Já quando é fumada, a droga enfrenta as paredes dos alvéolos, que são muito permissivas e irrigadas, verdadeiros saquinhos mergulhados em sangue. A droga entra fácil e vai direto ao cérebro. o Quando fumada, a ação da droga é quase tão rápida quanto a endovenosa, o que leva à enorme capacidade da cocaína na forma de crack de causar dependência. o A cocaína tem efeitos euforizantes extremamente potentes, podendo levar a dependência após o uso por períodos muito curtos. Duração do efeito A duração do efeito depende da eliminação: fases alfa e beta, ou seja, distribuição e excreção. A questão da distribuição é mais importante para benzodiazepínicos, Cannabis e álcool. • Uma vez atingido o cérebro, ocorre o efeito. O cérebro é muito irrigado e, portanto, recebe logo a droga consumida. Em seguida, a droga, obedecendo aos gradientes de concentração, sai do cérebro e é distribuída para outros tecidos, dependendo de fatores como, por exemplo, sua lipossolubilidade. • A Cannabis pode ser detectada em tecidos periféricos 24 horas após seu consumo; já na urina, até 28 dias. • Essa característica invalidou muitos estudos, pois pensavam estar abordando sequelas da droga, no entanto, estudavam pessoas ainda intoxicadas. No caso do álcool, visto ele ser hidrossolúvel e a mulher ter mais gordura do que o homem, a distribuição na mulher será menor e, portanto, os níveis séricos maiores. Já com o diazepam, ocorre distribuição para gorduras, fazendo parecer que seu efeito sedativo termina rapidamente após uma única administração. Essa fase de distribuição é a alfa, da eliminação das drogas. Na fase beta, a droga deixa o organismo, é metabolizada e excretada. Isso pode demorar quando os metabólitos também são ativos, como no caso do diazepam e do delta -9 -tetraidrocanabinol (THC), princípio ativo da Cannabis. Adaptações a longo prazo A maioria das drogas psicoativas atua de acordo com os sistemas de neurotransmissores clássicos, portanto, nas sinapses dos neurotransmissores ou em seus receptores. • Por exemplo, a cocaína inibe a recaptação de dopamina e serotonina e noradrenalina. Os benzodiazepínicos facilitam a ação do GABA, neurotransmissor inibitório, e o etanol atua sobre sistema opioide, sobre receptores de GABA e também de glutamato. • A Cannabis desafiava os pesquisadores na década de 1980, pois não se comporta da mesma maneira que as drogas clássicas. Não atua em qualquer dos sistemas de neurotransmissores. Então, descobriu - se que havia inúmeros receptores para endocanabinoides, CB1, CB2, e talvez outros, espalhados por todo o cérebro, sendo mais numerosos do que aqueles dos neurotransmissores tradicionais. Abriu -se uma nova perspectiva para a compreensão do cérebro e para possibilidades terapêuticas. De fato, estudos também mostraram que o sistema endocanabinoide está envolvido na fissura por drogas como a cocaína. Do ponto de vista neuroquímico, o desenvolvimento da dependência e a vulnerabilidade à recaída após a abstinência parecem ser o resultado de processos neuroadaptativos no sistema nervoso central que se opõem às ações agudas reforçadoras das drogas de abuso. • Essas alterações levam ao prejuízo dos mecanismos que medeiam o reforço positivo e à emergência de estados afetivos diferentes e opostos ao reforço positivo, como ansiedade, disforia e depressão na abstinência. • Há evidências consideráveis implicando perturbações na transmissão dopaminérgica e serotonérgica no nucleus accumbens, como substratos potenciais para essas mudanças afetivas. o Esses sistemas neuroquímicos que são ativados pela cocaína e pela autoadministração de etanol estão deficientes na abstinência. Além disso, evidências sugerem que o aumento do fator liberador de corticotrofina (CRF) no núcleo central da amígdala é um mecanismo subjacente dos sintomas ansiogênicos, semelhantes ao estresse, que ocorrem na abstinência e que são comuns a todas as drogas de abuso. o Pode existir, também, uma ligação entre anormalidades duradouras da função do eixo hipotálamo -hipófise -adrenal e vulnerabilidade à recaída durante a síndrome de abstinência protraída. DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Artmed Editora, 2018. OLSON, Kent R. Manual de toxicologia clínica. AMGH Editora, 2014. Agressão por Agentes não Terapêuticos (Drogas de Abuso) De acordo com o United Nations Office on Drugs and Crime (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), foi estimado que, no ano de 2010, 153 a 300 milhões de pessoas entre as idades de 15 a 64 anos teriam utilizado uma substância ilícita pelo menos uma vez. Na maioria das vezes, usuários ocasionais de drogas ilícitas “recreacionais” não sofrem nenhum efeito aparente na saúde em longo prazo, mas (dependendo da droga), efeitosagudos podem cobrar um preço significativo em forma de acidentes, violência ou até mesmo complicações fatais relacionados à droga. • O abuso de drogas geralmente envolve o uso repetitivo ou crônico de substâncias psicoativas, além dos limites terapêuticos e sociais, e que pode levar ao vício ou superdosagem (overdose), ambos problemas sérios de saúde pública. As drogas de abuso mais comuns estão listadas na Tabela 9-6. Aqui consideraremos a cocaína, heroína, anfetaminas e maconha, entre outras. Cocaína A cocaína é extraída das folhas da planta de coca, e geralmente é preparada como um pó hidrossolúvel, o hidrocloreto de cocaína. Vendida nas ruas, ela é livremente diluída com pó de talco, lactose ou outras substâncias de aspecto similar. • A cocaína pode ser aspirada ou dissolvida em água e injetada subcutânea ou intravenosamente. • A cristalização do alcaloide puro produz as pedras de crack, assim chamado em função do barulho (estalidos) que faz quando a cocaína é aquecida para produzir os vapores que são inalados. As ações farmacológicas da cocaína e do crack são idênticas, mas o crack é bem mais potente. • A cocaína produz euforia e estimulação intensas, tornando-se uma das drogas que mais causam vício. • Animais de experimentação pressionam uma alavanca mais de mil vezes e abstêm-se de alimentos e água para obter a cocaína. No usuário de cocaína, embora a dependência física geralmente não ocorra, a abstinência psicológica é profunda e pode ser extremamente difícil de tratar. Desejos intensos são especialmente graves nos primeiros meses após a abstinência e podem recorrer por anos. Os efeitos agudos e crônicos da cocaína em vários sistemas e órgãos são os seguintes: • Efeitos cardiovasculares: os efeitos físicos mais sérios da cocaína estão relacionados à sua ação aguda no sistema cardiovascular, onde se comporta como um agente simpatomimético. • Facilita a neurotransmissão tanto no SNC, onde bloqueia a recaptação de dopamina, quanto nas terminações nervosas adrenérgicas, onde bloqueia a recaptação tanto da adrenalina quanto da noradrenalina, enquanto estimula a liberação pré-sináptica da noradrenalina. • O efeito final é o acúmulo desses dois neurotransmissores nas sinapses, resultando em estimulação excessiva, manifestada por taquicardia, hipertensão e vasoconstrição periférica. A cocaína também pode provocar isquemia miocárdica, por causar vasoconstrição arterial coronária e aumento da agregação plaquetária com formação de trombos. O tabagismo potencializa o vasos pasmo coronariano induzido pela cocaína. Dessa forma, o duplo efeito da cocaína, causando um aumento na demanda de oxigênio para o miocárdio através da sua ação simpatomimética, e ao mesmo tempo reduzindo o fluxo sanguíneo coronariano, monta o cenário para uma isquemia miocárdica, podendo levar ao infarto do miocárdio. A cocaína também pode precipitar arritmias letais pelo aumento da atividade simpática, bem como por interromper o transporte normal de íons (K+, Ca2+, Na+) no miocárdio. Esses efeitos tóxicos não estão necessariamente dose-dependentes, e um evento fatal pode ocorrer em um indivíduo que usa cocaína pela primeira vez, com o que é tipicamente uma dose que altera o humor. • SNC. Os efeitos agudos mais comuns no SNC são hiperpirexia (provavelmente causada por alteração das vias dopaminérgicas que controlam a temperatura corporal) e convulsões. • Efeitos na gestação. Em gestantes, a cocaína pode causar reduções agudas no fluxo sanguíneo para a placenta, resultando em hipoxia fetal e aborto espontâneo. O desenvolvimento neurológico está prejudicado no feto de uma gestante usuária crônica da droga. • Outros efeitos. O uso crônico da cocaína pode causar: (1) perfuração do septo nasal em usuários que cheiram; (2) redução na capacidade de difusão pulmonar em usuários que inalam a fumaça; e (3) o desenvolvimento de cardiomiopatia dilatada. Opiáceos Opiáceos de abuso incluem os opiáceos sintéticos de uso terapêutico (chamados também de opioides), como o oxicodona (OxyContin®) e “drogas de rua”, mais notavelmente a heroína. A heroína é um opioide (semissintético) que causa dependência, derivado da planta papoula, bastante relacionada à morfina. Seu uso é ainda mais nocivo do que o da cocaína. • Quando vendida nas ruas, ela é misturada (diluída) com um agente (geralmente talco ou quinino); assim, a concentração da dose não é somente variável, como também desconhecida para o comprador. • A heroína, junto com quaisquer substâncias contaminantes, é geralmente autoadministrada intravenosa ou subcutaneamente. Os efeitos no SNC são variados e incluem euforia, alucinações, sonolência e sedação. A heroína possui ainda uma ampla gama de efeitos físicos adversos relacionados: (1) à ação farmacológica do agente; (2) às reações aos agentes ou contaminantes misturados; (3) às reações de hipersensibilidade a droga ou aos seus adulterantes (o quinino, por exemplo, possui toxicidade neurológica, renal e auditiva); e (4) às doenças contraídas incidentalmente através do uso de agulhas contaminadas. Alguns dos efeitos adversos mais importantes da heroína são os seguintes: • Morte súbita. A morte súbita, geralmente relacionada à superdosagem, é um risco sempre presente, porque a pureza da droga geralmente é desconhecida (pode variar de 2% a 90%). A morte súbita também pode ocorrer se a heroína for administrada após tolerância à droga, construída com o tempo, ser perdida (como durante um período na prisão). o Os mecanismos da morte incluem depressão respiratória profunda, arritmia e parada cardíaca e intenso edema pulmonar. • Lesão pulmonar. As complicações pulmonares incluem edema moderado a intenso, embolia séptica por endocardite infecciosa, abscesso pulmonar, infecções oportunistas e granulomas de corpo estranho por talco ou outros adulterantes. Embora os granulomas ocorram principalmente nos pulmões, às vezes são encontrados nos órgãos do sistema mononuclear fagocitário, especialmente baço, fígado e linfonodos que drenam as extremidades superiores. o O exame desses tecidos com luz polarizada geralmente destaca os cristais de talco, ocasionalmente capturados dentro de células gigantes de corpo estranho. • Infecções. Complicações infecciosas são comuns. Os quatro locais mais comumente afetados são a pele e o tecido subcutâneo, valvas cardíacas, fígado e pulmões. A maior parte dos casos é causada por S. aureus, mas fungos e uma infinidade de outros microrganismos também está implicada. o A hepatite viral é a infecção mais comum dentre os indivíduos dependentes e é adquirida através do uso compartilhado de agulhas contaminadas. o Nos Estados Unidos, essa prática também levou a uma grande incidência de infecção por HIV nos usuários de drogas intravenosas. • Pele. As lesões cutâneas são provavelmente o sinal denunciador mais frequente da dependência de heroína. Alterações agudas incluem abscessos, celulite e ulcerações decorrentes das injeções subcutâneas. Cicatrizes nos locais de injeção, hiperpigmentação sobre veias comumente usadas, e veias trombosadas são as sequelas usuais das inoculações intravenosas repetidas. • Rins. A doença renal é um risco relativamente comum. As duas formas encontradas com mais frequência são amiloidose (geralmente secundária a infecções na pele) e glomerulosclerose segmentar e focal; ambas induzem proteinúria e a síndrome nefrótica. Anfetaminas e Drogas Relacionadas Metanfetamina Essa droga que causa dependência, conhecida como speed ou meth (também conhecida como cristal e ice), está bastante relacionada à anfetamina, mas tem efeitos mais fortes no SNC. • A metanfetamina atua pela liberação da dopamina no cérebro, que inibe a neurotransmissão pré- sináptica nas vias sinápticas corticoestriatais, retardando a liberação de glutamato. A metanfetamina produz uma sensação de euforia, que éseguida de um “choque.” O uso prolongado leva a comportamentos violentos, confusão e características psicóticas, que incluem paranoia e alucinações. MDMA MDMA (3,4 metilenodioximetanfetamina) é popularmente conhecida como ecstasy. Ela em geral é administrada oralmente. Seus efeitos, que incluem euforia e sensações alucinógenas, que duram de 4 a 6 horas, são parcialmente atribuídos ao aumento da liberação de serotonina no SNC. Como o efeito da droga passa e a liberação aumentada está associada à interferência na síntese da serotonina, há uma depleção de serotonina após uso da droga, que só é reabastecida lentamente. O uso da MDMA também reduz o número de terminais axonais serotoninérgicos no estriado e no córtex e aumenta os efeitos periféricos da dopamina e dos agentes adrenérgicos. • Os tabletes de MDMA podem ser adulterados com outras drogas, incluindo metanfetamina e cocaína, o que aumenta consideravelmente os efeitos no SNC. Maconha (Marijuana) A maconha é feita a partir das folhas da planta Cannabis sativa, que contém a substância psicoativa Δ9- tetraidrocanabinol (THC). Aproximadamente 5% a 10% do THC é absorvido quando é fumado em um cigarro enrolado manualmente (“baseado”). • Apesar dos inúmeros estudos, a questão central de se a droga possui efeitos adversos físicos e funcionais persistentes permanece não resolvida. • Alguns dos efeitos inconvenientes anedóticos podem ser reações alérgicas ou idiossincrásicas, ou ainda possivelmente relacionadas aos contaminantes dos preparos, mais do que os efeitos farmacológicos da maconha. Entre os efeitos benéficos da maconha estão o uso potencial para tratar náusea secundária à quimioterapia para câncer e como um agente capaz de reduzir a dor em algumas condições crônicas difíceis de tratar de outra maneira. As consequências funcionais e orgânicas no SNC do hábito de fumar maconha têm sido alvo de pesquisa minuciosa. • O seu uso distorce a percepção sensorial e prejudica a coordenação motora, mas esses efeitos agudos geralmente desaparecem em 4 a 5 horas. Com uso contínuo, essas alterações podem progredir para debilidades cognitivas e psicomotoras, como a incapacidade de julgar tempo, velocidade e distância, uma potencial causa de acidentes de carro. • A maconha aumenta a frequência cardíaca e, ocasionalmente, a pressão sanguínea, e pode causar angina em indivíduos com doença arterial coronariana. • O sistema respiratório também é afetado pelo uso crônico da maconha; laringite, faringite, bronquite, tosse e rouquidão e sintomas semelhantes à asma já foram descritos, em associação com uma obstrução leve porém significativa das vias aéreas. Os cigarros de maconha contêm um grande número de carcinógenos que também estão presentes no tabaco. Fumar um cigarro de maconha, comparado com um cigarro de tabaco, está associado a um aumento de três vezes na quantidade de alcatrão inalado e retido nos pulmões, provavelmente em função do maior volume na tragada, inalação mais profunda, e mais tempo segurando a respiração. Além do uso do THC como uma droga recreativa, um grande número de estudos caracterizou o sistema canabinoide endógeno, que consiste em receptores canabinoides CB1 e CB2, e lipídios endógenos ligantes conhecidos por endocanabinoides. • Esse sistema participa na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, e modula o controle do apetite, ingestão alimentar e balanço energético, assim como a fertilidade e o comportamento sexual. Outras Drogas A variedade de drogas já experimentadas por indivíduos que procuram “novas experiências” (p. ex., “altos”, “baixos”, “experiências fora do corpo”) é inacreditável. Essas drogas incluem diversos estimulantes, depressivos, analgésicos e alucinógenos. Dentre esses estão PCP (fenilciclidina, um agente anestésico), analgésicos como Vicodin®, e cetamina, um agente anestésico utilizado em cirurgias veterinárias. • A maioria das drogas de abuso é usada mais por homens do que por mulheres. • A exceção são os tranquilizantes receitados, que são usados duas vezes mais por mulheres do que por homens, de forma abusiva, e que podem provocar dependência crônica. A inalação crônica de vapores de tinta sem spray, solventes para tintas e algumas colas que contêm tolueno (“cheirar cola”) pode causar anormalidades cognitivas e danos cerebrais, detectáveis em exames de imagem de ressonância magnética, que variam de demência leve a intensa. Como os inalantes são usados de forma perigosa em diversas combinações, não se sabe muito a respeito dos efeitos prejudiciais em longo prazo da maioria desses agentes. • No entanto, seus efeitos agudos são claros: causam comportamento bizarro e frequentemente agressivo que leva à violência ou depressão de humor e pensamentos suicidas. Novas drogas de abuso surgem todo ano. Um exemplo são os chamados sais de banho, substâncias cujo nome foi propositalmente mal atribuído e que apareceram em 2010 — sem nenhuma relação com tomar banho de verdade. Os sais de banho contêm 4- metilmetcatinona e metilendioxipirovalerona, substâncias químicas que possuem efeitos análogos aos da anfetamina quando aspiradas ou ingeridas. Eles estão associados a agitação, psicose, infarto do miocárdio e suicídio. Sem dúvida eles serão declarados ilegais, apenas para serem substituídos pela próxima geração de drogas “projetadas” e ilícitas. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010; Estudiosos dos diversos campos das ciências naturais e humanas reconhecem que o efeito das substâncias químicas sobre a fisiologia e seu estado emocional não é unicamente resultado das propriedades farmacológicas das substâncias. Objetivo 3 - Entender os aspectos sociais envolvidos no caso na dependência de substâncias químicas. • Concordam que a compreensão de como elas afetam seus consumidores depende da consideração conjunta de pelo menos três fatores determinantes entre si: das características da(s) substância(s), do estado psicológico do consumidor e do universo sociocultural que compartilha. Mas, para além da situação na qual a droga ocorre e é consumida – um microcontexto onde se realizam o trânsito, as práticas e as trocas de agrupamentos distintos –, há variáveis de um cenário compartilhado mais geral, que define a dinâmica das toxicomanias de uma sociedade. Nessa dimensão de análise, pode -se considerar: • Os valores morais gerais associados às substâncias psicoativas, que encorajam ou proíbem seu uso; • a situação socioeconômica prevalecente, como os níveis de pobreza, desemprego e distância entre as classes socioculturais; • O papel de interesses econômicos na produção, na publicidade e na venda da droga; • A legalidade ou ilegalidade da droga, e as redes formais e/ou informais de fornecimento; • • A diversidade dos agrupamentos sociais em que o uso da droga ocorre: como a família, o círculo de amigos, grupos religiosos, etc. Esses valores e realidades influenciam a validação de determinado tipo ou aparência de droga, modos específicos de usá -la, os atributos do indivíduo que a fornece e o significado do contexto de uso. A dependência química não trata simplesmente de um dado fisiológico, já que é preciso reconhecer um conjunto de interações sociais e agenciamentos complexos que facilitam e estimulam o abuso, a recorrência e a continuidade da relação de um indivíduo com uma substância. • A disponibilidade e os usos de substâncias que carregam riscos de dependência química são sempre parte de contextos geográficos, econômicos, sociais, culturais e históricos. • As pesquisas das ciências sociais destacam que os efeitos dos psicoativos dependem não apenas de sua ação farmacológica (considerando a dosagem e a maneira pela qual é consumida) e do estado do indivíduo no momento de uso (sua estrutura de personalidade,suas condições psicológicas e físicas, suas expectativas), mas também das representações sociais que se desenvolveram em torno dos produtos. DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel; LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Artmed Editora, 2018. OS PROBLEMAS CLÍNICOS MAIS COMUNS JUNTO A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA Problema nos pés Problemas nos pés são comuns nessa população por passarem muitas horas por dia em pé nas ruas ou andando. Além disso, os sapatos que recebem de doação, meias ou chinelos que costumam usar podem causar calos e abrasões, além de infecções fúngicas, que são muito comuns. O local em que as pessoas em situação de rua encontram para se deitar, assim como a posição como deitam, costuma provocar edemas e estase venosa, que, combinados com picadas de insetos e machucados, podem levar a ulcerações e celulite. Calos e clavus plantares são bastante frequentes na população em situação de rua e, pelo impacto na sua mobilidade, é algo que ganha grande importância no que se refere à saúde. Saber dos fluxos de encaminhamento para cirurgia ambulatorial e rede de abrigamento é importante, pois, após a retirada dos clavus, estarão impossibilitados de andar por alguns dias. Objetivo 4 - Destacar as doenças mais prevalentes nos usuários de drogas. INFESTAÇÕES A dificuldade de acesso a locais para higiene pessoal, principalmente no que se refere a banho e lavagem de roupas, propicia que infestações como piolhos de corpo, de cabeça e escabiose sejam agravos frequentes no que se refere à saúde da população em situação de rua. TUBERCULOSE Existem poucos dados disponíveis sobre a tuberculose (TB) na população em situação de rua que nos permitam traçar com clareza o seu perfil de adoecimento e/ou de suas representações sobre os processos de saúde e doença. Mas, por meio dos estudos já realizados, bem como de depoimentos desse grupo social e de técnicos que trabalham junto a ele, estima-se que se trate de um grave problema de saúde, sempre com elevada taxa de incidência e de abandono do tratamento. Essa população é considerada pelo Ministério da Saúde como um grupo de elevada vulnerabilidade. • O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) considera a prevalência 67x maior de TB que na população geral, de acordo com estudo realizado em 2004 (ADORNO, 2004). Fatores dificultadores: São vários os obstáculos ao tratamento continuado: • Baixa autoestima; • Alimentação inadequada; • Sintomas imperceptíveis; • Uso de álcool e outras drogas; • Transtornos mentais; • Dinâmica da rua, que não contribui para que os remédios sejam tomados com regularidade; • Roubo dos pertences individuais e/ou seu recolhimento pelos órgãos públicos – entre eles, os medicamentos sobre o cuidado do doente; • Regras rígidas estabelecidas pelos serviços de saúde; • Fixação de horários e dias de atendimento; • Não disponibilidade de atendimento no momento em que apresentam efeitos colaterais. DST, HIV E AIDS GRAVIDEZ DE ALTO RISCO O fato de pessoas usarem a rua como local de moradia e permanência já se configura em caso de alta vulnerabilidade social. Apesar de a maioria da população em situação de rua (PSR), nas diversas cidades brasileiras, ser composta pelo sexo masculino, esse fato é mais agravante para as mulheres, que, ao se encontrarem nessa situação extrema, se tornam também vulneráveis às circunstâncias concernentes à sua condição de gênero, como violências físicas, psicológicas, abuso sexual, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não planejada e/ou indesejada. DOENÇAS CRÔNICAS Hipertensão, Diabetes mellitus e doença pulmonar obstrutiva crônica, entre outras, são agravos comuns de ocorrerem na população de rua. Em virtude dos hábitos de vida, com elevada prevalência de tabagismo, alimentação inadequada etc., tais doenças podem se apresentar em idade mais precoce que na população em geral. O ótimo controle desses problemas pode ser bem difícil, pela ausência de abrigamento estável, impossibilidade de selecionar própria dieta e dificuldades para armazenarem e tomarem medicamentos em horários certos. ÁLCOOL E DROGAS O consumo de drogas está inserido no cotidiano de grande parte das pessoas que estão em situação de rua. Essa condição está associada a uma série de outras vulnerabilidades que as expõem a diversos riscos. Trata- se de um problema de grande importância e que vem desafiando as equipes de cuidado a desenvolverem abordagem mais adequada junto a essas pessoas, de modo a diminuir danos e promover saúde. BRASIL. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. 2012. EM USUÁRIOS DE DROGAS A Portaria nº 1.028/2005 indica, em seu art.4º, o estabelecimento de conteúdos necessários para as ações de informação, educação e aconselhamento: I. Informações sobre os possíveis riscos e danos relacionados ao consumo de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência; II. Desestímulo ao compartilhamento de instrumentos utilizados para consumo de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência; III. Orientação sobre prevenção e conduta em caso de intoxicação aguda (“overdose”); IV. prevenção das infecções pelo HIV, hepatites, endocardites e outras patologias de padrão de transmissão similar; V. Orientação para prática do sexo seguro; VI. Divulgação dos serviços públicos e de interesse público, nas áreas de assistência social e de saúde; e VII. Divulgação dos princípios e garantias fundamentais assegurados na Constituição Federal e nas declarações universais de direitos. DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia estratégico para o cuidado de pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas: guia AD. 2015. Abuso químico: Abuso de substância é quando consumimos alguma droga em excesso. Dependência química: relação disfuncional entre um indivíduo e seu modo de consumir uma determinada substância psicoativa. Objetivo 5 - Conceituar abuso químico, dependência química, tolerância, resistência e abstinência de drogas. • Consiste nas consequências físicas e mentais trazidas pelo abuso de substâncias nocivas ao organismo. Tolerância: É a necessidade de doses cada vez maiores da droga para alcançar os efeitos originalmente obtidos com doses mais baixas. Isso ocorre porque o organismo se habitua e se adapta à presença da droga no corpo. Resistência: Abstinência de drogas: desenvolvimento de uma síndrome específica devido à interrupção ou redução do uso pesado e prolongado de determinada droga. • Esta síndrome causa sofrimento ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. MALBEGIER, André et al. Álcool e outras drogas: conceitos básicos. 2013 TUBERCULOSE PULMONAR A tuberculose (TB) pode acometer uma série de órgãos e/ou sistemas. A apresentação da TB na forma pulmonar, além de ser mais frequente, é também a mais relevante para a saúde pública, pois é essa forma, especialmente a bacilífera, a responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da doença. A busca ativa de sintomático respiratório (SR) (ver capítulo Detecção de Casos de Tuberculose) é uma importante estratégia para o controle da TB, uma vez que permite a detecção precoce das formas pulmonares. No entanto o diagnóstico de TB é mais amplo do que a busca ativa e deve considerar os vários aspectos descritos neste capítulo. Epidemiologia O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV considerados prioritários pela OMS para o controle da doença no mundo. • Em 2015, o percentual de detecção da tuberculose no país, segundo a OMS, foi de 87,0% (WHO, 2017). • Nos últimos 10 anos, foram diagnosticados, em média, 71 mil casos novos da doença. Em 2017, o número decasos notificados foi de 72.770 e os coeficientes de incidência variaram de 10,0 a 74,7 casos por 100 mil habitantes entre as Unidades Federadas (UF). • No ano de 2016, foram notificados 4.483 óbitos por TB, o que corresponde ao coeficiente de mortalidade de 2,2 óbitos por 100.000 habitantes. • O percentual de sucesso de tratamento reportado para os casos novos com confirmação laboratorial foi de 74,6%, em 2016, com 10,8% de abandono de tratamento, e 4,1% dos registros com informação ignorada quanto ao desfecho. Dos casos de TB notificados em 2017, 77,8% foram testados para HIV, apresentando 9,5% de coinfecção. A TB persiste como importante e desafiador problema no âmbito da saúde da população, contribuindo para manutenção do quadro de desigualdade e exclusão social em diversos países. • É uma das enfermidades mais prevalentes entre as pessoas em situação de pobreza no mundo com elevada carga em termos de mortalidade, juntamente com o HIV/aids e a malária (WHO, 2014b). Objetivo 6 - Definir tuberculose pulmonar, sua epidemiologia, quadro clínico e tratamento. • Estratégias para o controle da adesão do tratamento. • A distribuição do número de casos ocorre de forma desigual no mundo, concentrando-se nos grupos sociais desfavorecidos tais como pessoas em situação de pobreza e fome; pessoas privadas de liberdade; minorias étnicas (como os indígenas no Brasil) e aquelas vivendo com HIV/aids. • A TB, além de decorrente, é também perpetuadora da pobreza, pois compromete a saúde dos indivíduos e suas famílias causando impactos econômicos e sociais (BRASIL, 2014b; HARGREAVES et al., 2011; WHO, 2014b). Estudos sugerem que o adoecimento por TB resulta da relação entre determinantes provenientes de três diferentes níveis: a comunidade, o ambiente domiciliar e características individuais (BOCCIA et al., 2011). Deste modo, os padrões de vida em uma comunidade conformam a posição socioeconômica domiciliar, que, por sua vez, influencia nas oportunidades individuais em termos de educação, ocupação, qualidade da habitação e interações sociais. Quadro clínico Os sinais, sintomas e as manifestações radiológicas dependem do tipo de apresentação da TB. Classicamente, as principais formas de apresentação são a forma primária, a pós-primária (ou secundária) e a miliar. • Os sintomas clássicos, como tosse persistente seca ou produtiva, febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento, podem ocorrer em qualquer das três apresentações. A TB pulmonar primária normalmente ocorre em seguida ao primeiro contato do indivíduo com o bacilo e, por isso, é mais comum em crianças. • As manifestações clínicas podem ser insidiosas, com o paciente apresentando-se irritadiço, com febre baixa, sudorese noturna e inapetência. Nem sempre a tosse está presente. O exame físico pode ser inexpressivo. A TB pulmonar pós-primária ou secundária pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum no adolescente e no adulto jovem. • Tem como característica principal a tosse seca ou produtiva. Em locais com elevadas taxas de incidência de TB, toda pessoa que procura a unidade de saúde devido à tosse prolongada (busca passiva) deve ter a TB incluída na sua investigação diagnóstica. Nos casos em que a tosse é produtiva, a expectoração pode ser purulenta ou mucoide, com ou sem sangue. A febre vespertina, sem calafrios, não costuma ultrapassar os 38,5 ºC. A sudorese noturna e a anorexia são comuns. • O exame físico geralmente mostra fácies de doença crônica e emagrecimento, embora indivíduos com bom estado geral e sem perda do apetite também possam ter TB pulmonar. A ausculta pulmonar pode apresentar diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou mesmo ser normal. A TB miliar refere-se a um aspecto radiológico pulmonar específico, que pode ocorrer tanto na forma primária quanto na forma secundária da TB. • É uma forma grave da doença, que é mais comum em pacientes imunocomprometidos, como pessoas infectadas com HIV em fase avançada de imunossupressão. • A apresentação clínica pode ser aguda ou subaguda, com maior frequência em crianças e em adultos jovens. De uma forma mais incomum, a TB miliar apresenta-se como doença crônica (idosos) ou mesmo febre de origem obscura. Os sintomas como febre, astenia, emagrecimento e tosse ocorrem em 80% dos casos. Tratamento A tuberculose é uma doença curável em praticamente todos os casos, em pessoas com bacilos sensíveis aos medicamentos antituberculose (antiTB), desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e que haja a adequada operacionalização do tratamento. • Para o sucesso do tratamento da tuberculose, é fundamental que o profissional de saúde acolha o usuário no serviço de saúde, desde o diagnóstico até a alta. • A abordagem humanizada e o estabelecimento de vínculo entre profissional de saúde e usuário, com escuta de saberes, dúvidas, angústias e a identificação de vulnerabilidades, auxiliam tanto no diagnóstico como na adesão ao tratamento. • O paciente deve ser orientado, de forma clara, quanto às características clínicas da TB e do tratamento ao qual será submetido. Informações referentes aos medicamentos, consequências do uso irregular, eventos adversos, controle de contatos e duração do tratamento devem ser fornecidas desde o primeiro contato com o paciente. Os medicamentos antiTB, em geral, interferem no sistema enzimático do bacilo ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial para o seu crescimento. Os fármacos só atuam quando há atividade metabólica, ou seja, bacilos em estado de latência não são atingidos pelos medicamentos, mas são destruídos pelo sistema imunológico (FISHMAN, 1998; TARANTINO, 2008). PENNA, Gerson. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. 2011. Objetivo 7 - Entender sobre a importância da equipe multiprofissional para situações de vulnerabilidade como a representada no caso (CAPS). As equipes experientes no tratamento de dependentes de drogas devem saber que a plena implicação do sujeito com o seu tratamento, em geral, não é a regra que ocorre com os que iniciam tratamento, nem se produz de forma imediata. • A motivação para interromper o uso varia de uma pessoa para outra e, com frequência, ela se apresenta de forma flutuante, oscilando em diferentes momentos de sua trajetória. • Esse é um dos motivos pelos quais aprendemos que não devemos ter atitude passiva e ficar esperando que a pessoa decida se tratar. • Também não podemos deixar por conta da pessoa a tomada de decisões sobre os procedimentos indicados no tratamento, pois, sendo a motivação instável, ela pode colocar obstáculos ao tratamento, mantendo a situação inalterada. Assim, as posturas extremas, como impor o tratamento e exigir abstinência, e todas as mudanças de conduta ou, simplesmente, aguardar que cada pessoa tome todas as decisões são igualmente equivocadas e improdutivas. • Entre os aspectos mais relevantes sobre a motivação (ou implicação) de usuários de drogas realizarem tratamento, é importante destacar algumas características desse processo, como a ambiguidade, o controle da vontade e o vínculo terapêutico. Ambiguidade é uma disposição contraditória diante de uma escolha. É uma dificuldade que podemos observar em situações do nosso cotidiano, por exemplo, quando decidimos comprar algo que queremos muito, mas, ao chegar à loja, desistimos porque nos damos conta de que aquele produto irá pesar no orçamento do mês. Então, retornamos para casa e, após algumas horas, voltamos a pensar sobre o produto e do quanto gostaríamos de adquiri-lo. • Essa situação ocorre com frequência entre as pessoas com problemas com drogas, no que se refere à sua motivação para interromper o uso. • Muitas vezes, querem intensamente parar o uso da substância e, no momento seguinte, decidem reiniciá-lo. • Em alguns casos, elas nos descrevem que, em ummesmo momento, querem e não querem usar drogas. Ou seja, percebem seus danos e prejuízos e se preocupam com isso; querem evitá-los e sabem que só conseguirão caso interrompam o uso, no entanto, permanecem com o desejo de usar a substância. É preciso compreender essa dinâmica para não cairmos no erro de pensar que um indivíduo, necessariamente, estava mentindo quando em uma ocasião disse que queria parar de usar drogas e minutos depois voltou a usar. Outra questão importante para o tratamento de quem usa drogas é o vínculo terapêutico, que é aquele que se constrói entre a pessoa e o profissional ou a equipe que a atende. • Esse laço se desenvolve lentamente e não tem um padrão linear, sofrendo altos e baixos de acordo com o surgimento dos sentimentos e acontecimentos que envolvem o tratamento. Mas, pouco a pouco, esse vínculo acontece, propiciando o surgimento de confiança e facilitando o engajamento da pessoa ao tratamento. Os serviços substitutivos de saúde mental, como os CAPS AD, e serviços de urgência e emergência que acolhem usuários de álcool e outras drogas devem se organizar para acolher essas pessoas e articular seus projetos terapêuticos singulares (PTS) com outros pontos da rede setorial e intersetorial. • As equipes do Consultório na Rua devem contar com o apoio matricial das equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e dos CAPS e compartilhar a criação de uma linha de cuidado no município. • A intersetorialidade é um aspecto-chave do PTS, e deve haver interlocução frequente entre a equipe de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas de referência, de forma regular, com os dispositivos da assistência social, do esporte, da cultura e organizações não governamentais. BRASIL. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. 2012. A Raps é a concretude dos princípios e diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas. • Ela insere-se como uma das redes indispensáveis do cuidado nas Redes de Atenção à Saúde (RAS), com a finalidade de criar, ampliar e articular os pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. • O funcionamento desta rede dependerá da capacidade dos trabalhadores de se conectarem aos outros que estão inseridos nos diversos espaços e na comunidade. • Nessa perspectiva, a Raps é a estratégia adotada pelo SUS para operacionalizar as mudanças no modelo de atenção psicossocial, com estratégia construída a partir de múltiplas referências mundiais e amplamente debatida nas conferências de saúde mental (FRANCO; ZURBA, 2014). No cuidado em saúde mental, álcool e outras drogas, faz-se necessário construir, no território, o compartilhamento do cuidado com as equipes da Atenção Básica, por meio de discussão de casos em conjunto e responsabilidade compartilhada e planejada entre os envolvidos no Projeto Terapêutico Singular, ou seja, apoio matricial. DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia estratégico para o cuidado de pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas: guia AD. 2015.
Compartilhar