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Dependência química

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DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
INTRODUÇÃO 
- A dependência química (DQ) é uma doença crônica e recidivante cuja etiologia tem natureza multifatorial complexa. 
Muitas pessoas não entendem porque ou como alguém se torna dependente de drogas, muitas vezes com a percepção 
errônea de que a manutenção do consumo da droga, apesar dos problemas relacionados, é fruto de questões morais 
ou falta de força de vontade. Na realidade, a dependência é reconhecida exatamente na incapacidade do indivíduo para 
controlar seu comportamento, e embora a iniciativa de consumir drogas tenha forte componente voluntário, as 
alterações cerebrais decorrentes desafiam o autocontrole e capacidade de resistir a impulsos muito intensos. 
- Conceitos relacionados aos transtornos aditivos: 
 Impulsividade – incapacidade de interromper a iniciação de uma ação; ausência de reflexão sobre as 
consequências de determinado comportamento; incapacidade de adiar recompensa 
 Compulsividade – incapacidade de interromper ações em andamento; ações inapropriadas a situação, mas que 
persistem e podem levar a consequências indesejáveis. 
o Hábito (resposta condicionada) – tipo de compulsão, refere-se a uma resposta desencadeada por 
estímulos ambientais, independente da vontade atual. Exemplo: busca de uma substância em 
resposta a estar em um local associado ao uso da mesma. 
- Quanto aos neurocircuitos envolvidos, normalmente o controle volitivo inibitório seria de “cima para baixo” (vindo de 
diferentes áreas do córtex pré-frontal), mas na impulsividade/compulsividade, o controle vem de “baixo para cima” 
(vindo do estriado ventral e dorsal, respectivamente. A impulsividade e a compulsividade acontecem por falha de 
resposta dos sistemas de inibição ou resposta excessiva do estriado → Nos transtornos aditivos, acredita-se que, 
inicialmente, o uso das substâncias seja ligado a um traço de impulsividade e que, com o tempo, há perda de controle 
sobre o comportamento, tornando-se algo compulsivo. Ocorrem neuroadaptações e neuroplasticidade por uso abusivo 
e repetido da substância. 
Fisiopatologia: 
- Os mecanismos capazes de produzir e manter a DQ funcionam como um ciclo e são afetados pelo que chamamos de 
efeitos de reforço positivo e reforço negativo. O reforço positivo pode ser definido como o processo pelo qual um 
estímulo (no caso, as próprias drogas), quando presente, aumenta a probabilidade de respostas prazerosas. O reforço 
negativo equivale ao processo pelo qual a retirada de um estímulo negativo (no caso, os estados emocionais negativos 
ligados à abstinência, em que novo uso da droga propicia alívio), aumenta a probabilidade de respostas prazerosas. 
- Enquanto o reforço positivo associa-se ao conceito de impulsividade, caracterizada por crescente excitação antes de 
cometer o ato, o reforço negativo se associa ao conceito de compulsão, caracterizada por ansiedade e estresse antes e 
alívio de tal estado negativo ao performar o ato, isto é, o uso da substância. 
- Enquanto a impulsividade é predominante em estágios iniciais da dependência, a combinação desta com a compulsão 
exerce importante papel em estágios mais avançados, em que o comportamento de consumo passa a ser automatizado 
e dirigido pelo estado emocional negativo. Uma vez coexistentes, impulsividade e compulsão irão compor o ciclo da DQ, 
que pode ser entendido em 3 fases: intoxicação, abstinência ou estado emocional negativo e preocupação ou 
antecipação. Conforme a gravidade da DQ aumenta, estes momentos interagem entre si com intensidade cada vez mais 
fortes, levando ao estado patológico que desafia as estratégias disponíveis para tratamento. 
- Nos últimos anos, descobertas nos campos da neurobiologia, neurociência cognitiva e ciências básicas levaram a 
reavaliações no entendimento da DQ. Apesar de não haver unanimidade nas teorias, alguns aspectos lhes são comuns: 
déficits em um ou mais processos cognitivos como aprendizagem, motivação, memória, atenção e tomada de decisão; 
presença de deficiências em processos cognitivos, relacionados ao sistema neural e de neurotransmissão; e dificuldades 
nos processos de autocontrole, caracterizado pelo desequilíbrio entre a sobrevalorização da recompensa pelo uso da 
dependencia quimica 
droga e enfraquecimento dos sistemas de controle. Durante a evolução da DQ, observa-se a persistência de memórias 
mal-adaptativas associadas, que podem manter a busca pelo uso de drogas e promover as recaídas por hábitos 
inconscientes. Acontece um distúrbio de aprendizagem com a formação de fortes memórias instrumentais que 
relacionam ações e se expressam com respostas difíceis de serem controladas frente a certos elementos do ambiente. 
Estímulos que previamente à DQ eram considerados neutros, como por exemplo o hábito de tomar café antes do 
surgimento da dependência de nicotina, se tornam associados, através de processos cerebrais de condicionamento, e 
passam a influenciar o comportamento de recaída. Dessa forma, respostas condicionadas podem ser entendidas como 
comportamentos involuntários, induzíveis por “dicas” ambientais, e que acompanham a cronicidade da doença. 
Neurobiologia: 
- Nossa compreensão sobre os substratos neurobiológicos para os efeitos de reforços positivo e negativo das drogas de 
abuso foi iniciada desde a primeira identificação do sistema de recompensa cerebral (SRC) ou auto-estimulação 
intracraniana. O SRC é uma estrutura cerebral responsável pelas sensações prazerosas e, portanto, pelo aprendizado 
que pode dar origem à repetição de um comportamento, sendo ativado “naturalmente” por atividade sexual e 
alimentação, por exemplo (ações ligadas à sobrevivência), e de forma “artificial” mais intensa, como quando são 
consumidas drogas de abuso. O principal neurotransmissor que atua neste processo é a dopamina (DA) e o trato que 
essencialmente compõe esse sistema é o mesolímbico-mesocortical, em que neurônios são projetados da área 
tegmentar ventral para o córtex pré-frontal e hipocampo (funções psíquicas superiores) e para o núcleo accumbens, 
que por sua vez também está conectado à amígdala e participam da composição do sistema límbico (emoções). 
- O SRC funciona a partir do nível de sensibilidade para todas as drogas de abuso, cujo limiar pode ser modulado através 
da plasticidade sináptica, ou seja, conforme ocorrem os episódios de intoxicação e uso compulsivo, a sensibilidade aos 
efeitos tende a diminuir, provocando progressão na intensidade (quantidade e frequência) do uso e contribuindo para 
o desenvolvimento da DQ. 
- Por várias décadas, o comportamento causador das dependências foi visto como consequência de alterações do 
sistema de neurotransmissão dopaminérgica, ligado à capacidade das substâncias psicoativas de abuso em interferirem 
na liberação e recaptação de DA no complexo circuito neural ligado ao SRC, especificamente do corpo estriado. 
Entretanto, esta visão pouco contribuiu para a descoberta de novos tratamentos e futuras pesquisas são necessárias 
para melhor compreender a maneira como cada substância causa essas alterações dopaminérgicas – que podem estar 
implicadas com a maior liberação, direta ou indireta, de DA, modulação da sua recaptação nas fendas sinápticas, 
disponibilidade de seus receptores ou uma combinação destas variáveis em diferentes níveis. 
 
Fatores neuroquímicos: 
- Com exceção do álcool, pesquisadores identificaram neurotransmissores específicos ou receptores de 
neurotransmissores envolvidos com a maioria das substâncias de abuso. Alguns pesquisadores baseiam seus estudos 
nessas hipóteses. Os opioides, por exemplo, atuam sobre receptores opioides. Um indivíduo com atividade opioide 
endógena muito baixa (p. ex., baixas concentrações de endorfinas) ou com atividade excessiva de um antagonista de 
opioides endógeno pode correr risco de desenvolver dependência de opioide. Mesmo em um indivíduo com 
funcionamento normal de receptores endógenos e concentração de neurotransmissores,o uso prolongado de uma 
substância de abuso específica pode, por fim, modular sistemas de receptores no cérebro de forma que a presença da 
Circuito dopaminérgico mesolímbico – via final de recompensa: 
- Toda substância que pode levar à adição aumenta a dopamina no estriado ventral (também conhecido como 
nucleus accumbens). Desde realizações intelectuais até o orgasmo, muitas situações liberam dopamina na via 
mesolímbica (“barato natural”), mas as substâncias de abuso (e comportamentos, tais como jogos patológicos, uso 
da internet, compras e glutonaria) causam essa liberação de dopamina de uma maneira mais explosiva e prazerosa 
que aquela ocorrida naturalmente. O problema é que essas substâncias podem dar início a uma cascata de 
neuroadaptação na alça do estriado ventral, que migra para o estriado dorsal. Deste modo, o “barato” inicial 
produzido pelo primeiro uso impulsivo de uma substância leva a abstinência, fissura e preocupação em obter a 
substância e, então, um ciclo vicioso se instala com uso abusivo, adição, dependência e abstinência. 
substância exógena é necessária para manter a homeostase. Um processo de nível de receptor dessa natureza pode ser 
o mecanismo para o desenvolvimento de tolerância no SNC. Contudo, tem sido difícil demonstrar modulação de 
liberação de neurotransmissor e funcionamento de receptores de neurotransmissores, e pesquisas recentes se 
concentram nos efeitos das substâncias sobre o sistema de segundo mensageiro e sobre a regulação de genes. 
Vias e neurotransmissores: 
- Os principais neurotransmissores possivelmente envolvidos no desenvolvimento de abuso e dependência de 
substância são os sistemas opioides, de catecolamina (particularmente dopamina) e de ácido γ-aminobutírico (GABA). 
Os neurônios dopaminérgicos na área tegmentar ventral são particularmente importantes. Esses neurônios se projetam 
para as regiões cortical e límbica, especialmente para o nucleus accumbens. Essa via provavelmente está envolvida com 
a sensação de recompensa e pode ser o mediador principal dos efeitos de substâncias como anfetamina e cocaína. O 
locus ceruleus, o maior grupo de neurônios adrenérgicos, provavelmente medeia os efeitos dos opiatos e dos opioides. 
Essas vias foram chamadas coletivamente de circuito de recompensa do cérebro. 
QUADRO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
Etiologia: 
- O modelo dos transtornos por uso de substâncias é o resultado de um processo no qual múltiplos fatores interagem e 
influenciam o comportamento do uso de drogas e a perda de discernimento com relação a decisões sobre a utilização 
de uma determinada substância. Embora as ações de uma droga específica sejam fundamentais no processo, não se 
presume que todos os indivíduos que se tornam dependentes de determinada droga experimentem seus efeitos de 
maneira similar ou que sejam motivados pelo mesmo conjunto de fatores. Ademais, presume-se que diferentes fatores 
possam ser mais ou menos importantes em estágios diferentes do processo. Dessa forma, a disponibilidade da droga, 
sua aceitação social e a pressão dos pares podem ser os determinantes principais da experimentação inicial, mas outros 
fatores, como personalidade e biologia individual, provavelmente sejam mais importantes para o modo pelo qual os 
efeitos de determinada droga são percebidos e o grau em que o seu uso repetido produz alterações no sistema nervoso 
central (SNC). Ainda outros fatores, incluindo as ações específicas da droga, podem ser determinantes primários da 
progressão do uso para dependência, enquanto outros podem influenciar a probabilidade de que o uso de drogas (1) 
conduza a efeitos adversos ou (2) ao sucesso da recuperação de dependência. 
- Afirmou-se que a adição é uma “doença cerebral”, em que os processos cruciais que transformam o comportamento 
de uso voluntário de drogas em uso compulsivo são alterações na estrutura e neuroquímica no cérebro do usuário de 
droga. Atualmente, há evidências suficientes que indicam que essas alterações realmente ocorrem em regiões 
relevantes do cérebro. A pergunta que não foi respondida e que causa perplexidade é se tais alterações são tanto 
necessárias quanto suficientes para explicar o comportamento de uso de drogas. Há quem alegue que esse não é o caso, 
que a capacidade de indivíduos dependentes de drogas de modificar seu comportamento de uso em reação a reforços 
positivos ou contingências aversivas indica que a natureza da adição 
é mais complexa e exige a interação de múltiplos fatores. 
- A Figura 20.1-3 ilustra como diversos fatores podem interagir no 
desenvolvimento da dependência de drogas. O elemento central é o 
próprio comportamento de uso. A decisão de usar uma droga é 
influenciada por situações sociais e psicológicas imediatas, bem 
como pela história mais remota do indivíduo. O uso da droga dá 
início a uma série de consequências que podem ser 
recompensadoras ou aversivas e que, por meio de um processo de 
aprendizado, podem resultar em uma probabilidade maior ou menor 
de que o comportamento seja repetido. No caso de algumas drogas, 
o uso também dá início a processos biológicos associados a 
tolerância, dependência física e (ausente na figura) sensibilização. 
Por sua vez, a tolerância pode reduzir alguns dos efeitos adversos da 
droga, permitindo ou requerendo o uso de doses maiores, o que 
pode, então, acelerar ou intensificar o desenvolvimento de 
dependência física. Além de determinado limiar, as qualidades 
Por que nem todas as pessoas que fazem uso de 
SPA se tornam adictas a elas? 
 Fatores genéticos estão envolvidos; 
 Algumas substâncias parecem ser 
intrinsicamente mais causadoras de adição 
que outras; 
 Alguns indivíduos tem um temperamento 
mais impulsivo que outros; 
 Sistema de recompensa geneticamente 
disfuncional (processos que transformam o 
comportamento de uso voluntário em uso 
compulsivo são alterações na estrutura e 
bioquímica do cérebro do usuário); 
 Experimentação inicial – disponibilidade da 
droga, aceitação social e pressão dos pares. 
aversivas de uma síndrome de abstinência proporcionam um motivo recorrente distinto para novo uso da droga. A 
sensibilização dos sistemas motivacionais pode aumentar a saliência de estímulos relacionados à droga. 
 
Diagnóstico: 
Critérios para transtornos relacionados ao uso de substâncias segundo o DSM-V: 
- Um padrão mal-adaptativo de uso da substância, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, 
manifestado por 2 (ou mais) dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: 
1) A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o 
pretendido. 
2) Existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância. 
3) Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância, na utilização ou na recuperação 
de seus efeitos. 
4) Fissura, desejo intenso ou urgência em consumir a substância (craving). 
5) Uso recorrente da substância resultando em fracasso para cumprir obrigações importantes relativas a seu 
papel no trabalho, na escola ou em casa. 
6) O uso da substância continua, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes 
causados ou exacerbados pelos seus efeitos. 
7) Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso 
da substância. 
8) Uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo físico. 
9) O uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou 
recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo uso. 
10) Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: 
a) necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a intoxicação ou 
efeito desejado; 
b) acentuada redução do efeito com uso continuado da mesmaquantidade da substância. 
11) Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: 
a) síndrome de abstinência característica para a substância; 
b) a substância é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência. 
- A classificação da gravidade do transtorno baseia-se na quantidade de critérios acima preenchidos pelo indivíduo, 
sendo: (1) leve, na presença de 2-3 sintomas, (2) moderada, na presença de 4-5 sintomas e (3) grave, na presença de 6 
ou mais sintomas. 
 
Avaliação inicial para uso/abuso de SPA: 
- Pontos importantes: 
 Não existe uso seguro de substâncias 
 O uso e a dependência de álcool e outras drogas são pouco diagnosticados 
 O que ocorre com mais frequência é a abordagem das complicações clínicas 
 A demora em fazer o diagnóstico piora o prognóstico 
 Existe uma deficiência no conhecimento e na formação dos profissionais sobre o assunto 
- A abordagem nos serviços básicos de saúde: deve ser clara, simples, breve, flexível e ampla; e apenas ao final focar 
nos hábitos do indivíduo em relação ao uso das SPA. A minoria dos indivíduos com problemas relacionados ao uso de 
drogas busca ajuda, por isso o momento da avaliação inicial é muito especial. 
RED FLAGS PARA USO PROBLEMÁTICO DE SPA 
Sintomas Sinais físicos 
Distúrbio do sono Tremor leve (sugestivo de uso de diferentes substâncias) 
Depressão Pressão arterial lábil (sugestiva de síndrome de abstinência de álcool, 
nicotina e cocaína) 
Ansiedade Hipertensão arterial 
Humor instável Taquicardia e/ou arritmia (uso de estimulantes ou sd de abstinência) 
Irritabilidade exagerada Aumento do fígado 
Alteração de memória e da percepção de 
realidade 
Irritação nasal (sugestiva de inalação de cocaína ou de uso de droga 
fumada) 
Faltas frequentes ao trabalho ou 
compromissos sociais 
Irritação nas conjuntivas (sugestiva de uso de maconha, álcool, 
nicotina, crack) 
Problemas gastrintestinais Odor de álcool, maconha ou nicotina 
História de trauma e acidentes frequentes Síndrome da higiene bucal (disfarce do odor de álcool ou tabaco) 
Disfunção sexual Uso frequente de colírio ocular 
 
- Comportamentos frequentemente encontrados em familiares: 
 Codependência – familiares afetados pelo uso das substancias de outro membro da família. As expressões 
coadição e, mais comumente, codependência são usadas para designar os padrões comportamentais de 
membros da família que foram afetados significativamente pelo uso ou adição a substância de outro membro 
da família. As expressões têm sido utilizadas de diversas formas, e não há critérios estabelecidos para 
codependência. 
 Facilitação – a facilitação foi uma das primeiras características identificadas (e de maior consenso) da 
codependência ou coadição. Por vezes, familiares acham que têm pouco ou nenhum controle sobre os atos 
facilitadores. Seja devido a pressões sociais para proteger e dar apoio aos familiares, seja devido a 
interdependências patológicas, ou a ambos, o comportamento facilitador costuma resistir à modificação. 
Outras características da codependência incluem a falta de vontade de aceitar a noção de adição como doença. 
Os familiares continuam a agir como se o comportamento de uso de substância fosse voluntário e intencional 
(ou até mesmo por birra), e o usuário se preocupa mais com álcool e drogas do que com os membros da família, 
o que resulta em sentimentos de raiva, rejeição e fracasso. Além desses sentimentos, os familiares podem se 
sentir culpados e deprimidos porque o adito, na tentativa de negar a perda de controle sobre as drogas e para 
Transtorno por uso de substâncias = 
 Dependência comportamental – padrões de uso patológico 
 Dependência física – efeitos físicos de múltiplos usos; tolerância 
 Dependência psicológica – desenvolvimento do hábito (presença de um desejo intenso/fissura contínuo ou 
intermitente pela substância para evitar um estado disfórico). 
desviar o foco de preocupação de seu uso, frequentemente tenta colocar a responsabilidade pelo uso em 
outros membros da família, os quais costumam parecer dispostos a aceitar toda a culpa ou parte dela. 
 Negação – familiares, assim como os próprios usuários de substâncias, costumam agir como se o uso de 
substância que causa problemas evidentes não constituisse um problema real, ou seja, sucumbem à negação. 
Os motivos para a relutância em aceitar o óbvio variam. Às vezes, a negação serve à autopreservação, no 
sentido de que, se os familiares acreditarem na existência de um problema com álcool ou drogas, eles passam 
a ser responsáveis. 
- Objetivos da avaliação inicial – obtenção de informações básicas como o padrão de consumo e a presença de critérios 
de dependência: frequência de uso, quantidade, via de administração, último uso, sinais e sintomas de intoxicação ou 
síndrome de abstinência, gravidade do padrão de consumo (se impacta outras áreas da vida) e motivação para a 
mudança. Realizar o diagnóstico ou encaminhamento para aprofundamento do diagnóstico em centro especializado, 
evitar técnicas de confronto e definir seguimento (intervenção mínima no serviço básico de saúde ou encaminhar para 
serviço especializado). 
Tratamento: 
- Alguns indivíduos que desenvolvem problemas relacionados a substâncias se recuperam sem tratamento formal, 
especialmente quando vão ficando mais velhos. No caso de pacientes com transtornos menos graves, como adição de 
nicotina, intervenções relativamente breves costumam ser tão eficazes quanto tratamentos mais intensivos. Como 
essas intervenções breves não mudam o ambiente, não alteram mudanças cerebrais induzidas por drogas nem 
fornecem novas habilidades, uma mudança na motivação do paciente (alteração cognitiva) provavelmente tem o 
melhor impacto sobre o comportamento de uso de drogas. No caso de indivíduos que não têm essa reação ou cuja 
dependência é mais grave, várias intervenções descritas a seguir parecem ser eficazes. Vale distinguir entre 
procedimentos ou técnicas específicas (p. ex., terapia individual, terapia familiar, terapia em grupo, prevenção de 
recaída e farmacoterapia) e programas de tratamento. 
- A maioria dos programas utiliza uma quantidade específica de procedimentos e envolve várias especialidades 
profissionais, bem como indivíduos não profissionais que têm habilidades especiais ou experiência pessoal com o 
problema com substância que está sendo tratado. Os melhores programas de tratamento combinam procedimentos e 
disciplinas específicos que satisfazem as necessidades de cada paciente após uma avaliação criteriosa. 
- Nenhum sistema de classificação é geralmente aceito, seja para os procedimentos específicos usados em tratamento, 
seja para programas que usam uma variedade de combinações de procedimentos. Essa falta de terminologia 
padronizada para categorizar procedimentos e programas constitui um problema, mesmo quando o campo de interesse 
é delimitado do âmbito de problemas com substâncias em geral para o tratamento relacionado a uma única substância, 
como álcool, tabaco ou cocaína. Exceto em projetos de pesquisa atentamente monitorados, mesmo as definições de 
procedimentos específicos (p. ex., aconselhamento individual, terapia em grupo e manutenção com metadona) tendem 
a ser tão imprecisas que normalmente não se pode inferir nem sequer que tipos de intervenções são aplicados. Ainda 
assim, com finalidade descritiva, afirma-se que programas costumam ser agrupados de forma ampla com base em uma 
ou mais de suas características mais evidentes: se o programa se destina apenas a controlar abstinência aguda e as 
consequências de uso recente de drogas (desintoxicação) ou se está voltado para uma alteração comportamental de 
longo prazo; se o programa faz amplo uso de intervenções farmacológicas ou não; e se o programa se baseia em 
psicoterapia individual, Alcoólicos Anônimos (AA) ou outros programas de 12 passos, ou princípios de comunidade 
terapêutica. Por exemplo, órgãos governamentaisde financiamento público recentemente categorizaram programas 
de tratamento para dependência de drogas como (1) manutenção com metadona (principalmente ambulatorial); (2) 
programas ambulatoriais sem fármacos; (3) comunidades terapêuticas; ou (4) programas de internação de curta 
duração. 
- Nos casos de dependência moderada a severa, encaminhar o paciente ao serviço especializado. 
 Intervenção breve – intervenções psicossociais que apresentam eficácia baseada em evidências. Técnicas 
usadas na entrevista motivacional e terapia cognitivo-comportamental. 
 5 sessões com duração entre 5-45 minutos 
 Destinada a indivíduos com problemas relacionados a substâncias, principalmente álcool, mas que não tem 
critérios diagnósticos de dependência. 
 Objetivos: facilitar o diagnóstico precoce, diminuir o consumo de risco, prevenir problemas ligados ao 
consumo, prevenir o desenvolvimento de quadros mais severos e encaminhar pacientes com quadros mais 
graves para serviços especializados. 
 
- Intervenção breve: 
 Individuo precisa reconhecer os problemas associados ao uso da SPA 
 Consultas mensais de curta duração 
 Metas: uso de baixo risco = redução do consumo; uso de alto risco ou dependência = abstinência total 
 Feedback – comunicação do resultado da avaliação 
 Responsabilidade – ênfase na autonomia do paciente e sua responsabilidade nas decisões tomadas e 
compromisso com a mudança 
 Orientações – informações técnicas oferecidas ao paciente 
 Alternativas – opções de tratamento disponíveis 
 Empatia – postura empática, solidária e compreensiva 
 Autoeficácia – facilitar a confiança de seu paciente em seus recursos e em seu sucesso 
- Política Nacional de Redução de Danos 005 (RAPS – Rede de Atenção Psicossocial): 
 Conjunto de serviços de saúde direcionados ao atendimento de pessoas com sofrimento ou transtorno mental 
e com necessidades decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas 
 Objetiva a redução dos danos provocados pelo consumo de álcool e outras drogas e a promoção de cuidado e 
de qualidade de vida aos usuários e seus familiares 
 Liberdade do usuário de manter o uso das SPA e garantia de assistências pelos serviços sociais e de saúde 
 A abstinência não é o único objetivo, é necessário lidar com as diferentes possibilidades e escolhas do individuo 
 Inicialmente o foco era a prevenção de ISTs 
ÁLCOOL 
- O alcoolismo está entre os transtornos psiquiátricos mais comuns observados no mundo ocidental. Problemas 
relacionados ao álcool nos Estados Unidos contribuem para 2 milhões de ferimentos a cada ano, incluindo 22 mil mortes. 
Nos últimos anos, tem-se observado aumento de pesquisas clinicamente relevantes sobre abuso e dependência de 
álcool, incluindo informações sobre influências genéticas específicas, curso clínico dessas condições e o 
desenvolvimento de tratamentos novos e proveitosos. 
- O álcool é uma droga potente que causa alterações tanto agudas quanto crônicas em quase todos os sistemas 
neuroquímicos. Dessa forma, o abuso de álcool pode produzir sintomas psicológicos temporários graves, incluindo 
depressão, ansiedade e psicoses. Em longo prazo, níveis cada vez maiores de consumo de álcool podem produzir 
tolerância, bem como adaptação do corpo tão intensa que a interrupção do uso pode precipitar uma síndrome de 
abstinência normalmente caracterizada por insônia, evidência da hiperatividade do sistema nervoso autônomo e 
ansiedade. Portanto, em uma avaliação adequada dos problemas de vida e sintomas psiquiátricos em um paciente, o 
profissional deve considerar a possibilidade de que a situação clínica reflete os efeitos do álcool. 
- Os diagnósticos psiquiátricos mais comumente associados aos transtornos relacionados ao álcool são transtornos 
relacionados a outra substância, transtorno da personalidade antissocial, transtornos do ao álcool apresentam um 
índice de suicídio acentuadamente mais elevado do que a população em geral. 
 Transtorno da personalidade antissocial: Relata-se com frequência uma associação entre transtorno da 
personalidade antissocial e transtornos relacionados ao álcool. Alguns estudos sugerem que o transtorno da 
personalidade antissocial é particularmente comum em homens com transtorno relacionado ao álcool e que 
pode antecedê-lo. Outros estudos, no entanto, sugerem que o transtorno da personalidade antissocial e 
transtornos relacionados ao álcool são entidades completamente distintas, não havendo uma relação causal. 
 Transtornos do humor: Aproximadamente 30 a 40% dos indivíduos com um transtorno relacionado ao álcool 
satisfazem os critérios diagnósticos para transtorno depressivo maior em algum momento da vida. Depressão 
é mais comum em mulheres do que em homens com esses transtornos. Vários estudos relataram que ela 
provavelmente ocorre em pacientes com transtornos relacionados ao álcool que apresentam um consumo 
diário elevado e história familiar de abuso de álcool. Indivíduos com transtornos relacionados ao álcool e 
transtorno depressivo maior correm grande risco de tentativa de suicídio e provavelmente apresentam outros 
diagnósticos de transtornos relacionados a substâncias. Alguns profissionais recomendam terapia com 
fármacos antidepressivos para sintomas depressivos que persistem após 2 a 3 semanas de sobriedade. 
Acredita-se que pacientes com transtorno bipolar tipo I corram risco de desenvolver um transtorno relacionado 
ao álcool; eles podem usar a substância como automedicação para seus episódios maníacos. Alguns estudos 
demonstraram que pessoas com ambos os diagnósticos, de transtorno relacionado ao álcool e transtorno 
depressivo, apresentam concentrações de metabólitos de dopamina (ácido homovanílico) e de ácido γ-
aminobutírico (GABA) no líquido cerebrospinal (LCS). 
 Transtornos de ansiedade: Muitos indivíduos usam álcool devido a sua eficácia para aliviar a ansiedade. Embora 
a comorbidade entre transtornos relacionados ao álcool e transtornos do humor seja amplamente identificada, 
um fato menos conhecido é que 25 a 50% de todos os indivíduos com transtornos relacionados ao álcool 
também satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno de ansiedade. Fobias e transtorno de pânico 
são diagnósticos comórbidos particularmente frequentes nesses pacientes. Há dados que indicam que o álcool 
pode ser usado como tentativa de automedicar sintomas de agorafobia ou fobia social, mas um transtorno 
relacionado ao álcool provavelmente antecede o desenvolvimento de transtorno de pânico ou transtorno de 
ansiedade generalizada. 
 Suicídio: A maioria das estimativas da prevalência de suicídio entre indivíduos com transtornos relacionados 
ao álcool varia de 10 a 15%, embora o uso de álcool em si possa estar envolvido em um percentual muito mais 
elevado de suicídios. Alguns pesquisadores questionam se o índice de suicídio entre indivíduos com transtornos 
relacionados ao álcool é tão elevado quanto os números sugerem. Fatores que foram associados a suicídio 
entre indivíduos com transtornos relacionados ao álcool incluem a presença de um episódio depressivo maior, 
sistemas deficientes de apoio psicossocial, uma condição médica grave coexistente, desemprego e morar 
sozinho. 
Tratamento: 
 Abordar emergências clínicas e psiquiátricas sempre 
 O alcoolismo costuma assumir “vida própria” – as possíveis causas para o problema são diluídas nos efeitos de 
álcool sobre o SNC e pelos anos em um estilo de vida alterado 
 Abordagens psicoterápicas baseadas no aqui e agora 
- Intervenção: (1) aumentar a motivação para o tratamento, (2) explanar sobre os efeitos do álcool e seus prejuízos e 
(3) envolver a família no tratamento. 
- Desintoxicação ambulatorial ou hospitalar, a depender das condições físicas do paciente, comorbidades e padrão de 
consumo. 
- Reabilitação: (1) fazer esforços contínuos para aumentar e manter níveis de motivação para abstinência, (2) ajudar o 
paciente a se readaptar a umestilo de vida sem o álcool e (3) prevenir recaídas. 
- Medicamentos: 
 Tratamento da síndrome de abstinência com benzodiazepínicos, se necessário 
 Tratamento da comorbidade psiquiátrica 
 Não há recomendação formal para o uso de psicotrópicos no tratamento do alcoolismo 
 Dissulfiram (anti-etanol): 
o Apresentação: 250 mg 
o Mecanismo de ação: inativa a enzima acetaldeido-desidrogenase, responsável pela conversão do 
acetaldeido em ácido acético, levando ao acúmulo do acetaldeído no organismo 
o Aversivo; reação de sensibilização ao álcool → efeitos quando associado ao álcool: náuseas, vômitos, 
cefaleia, taquipneia, precordialgia, queimação na face e epigastralgia 
 Naltrexona: 
o Apresentação: 50 mg 
o Mecanismo de ação: antagonista opioide puro, tornando o hábito de beber menos prazeroso

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