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Gestão do Planejamento Educacional: Organização do Trabalho Pedagógico Enfoques na administração e gestão educacional Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Wagner Impellizzieri Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli 5 • O Conhecimento na Administração e Gestão Pública da Educação • Enfoque Jurídico • Enfoque Tecnocrático Para trabalharmos essas e outras questões estudaremos juntos textos e leituras acerca de quais influências externas nossos conceitos de administração pública e de gestão da educação sofreram no Brasil e na América Latina, desde a segunda metade do Século XIX até a primeira metade do Século XX. Período em que as políticas externas de países economicamente mais desenvolvidos, como a França, a Alemanha e os Estados Unidos, forjaram em nossa formação conceitos de gestão e administração nos padrões e modelos de suas escolas clássicas: da administração empresarial. Isso porque construímos nossos conceitos e nossas práticas dentro do contexto internacional da reestruturação do sistema capitalista no qual se estabeleceram novas bases materiais de produção, assim como também foram estabelecidas novas formas de relações sociais, com intensificação de práticas transnacionais na economia, alterando e definindo comportamentos políticos da gestão pública, que se voltou para os interesses dos países dominantes numa relação de intensa dependência. Ao final da Unidade I, espera-se que você seja capaz de compreender que os modelos de gestão e administração da Educação pautam-se em ideais e formulações do próprio desenvolvimento econômico internacionalizado pelo sistema capitalista. • Como se deram os atuais conhecimentos sobre gestão e administração educacional no Brasil e na América Latina? • Quais os conceitos que podemos aprender sobre gestão e administração escolar? • De que forma esses conceitos interferem na gestão pública da educação? Enfoques na administração e gestão educacional • Enfoque Comportamental • Enfoque Desenvolvimentista • Enfoque Sociológico 6 Unidade: Enfoques na administração e gestão educacional Contextualização A administração da Educação e a gestão da escola têm sido muito questionadas face às inúmeras denúncias veiculadas pelas mídias, pelos políticos em campanhas eleitorais, governantes e pela própria sociedade civil que utilizam os serviços educacionais. É comum e, não sem razão, que a culpa pelos péssimos serviços oferecidos à população recaia sobre os gestores das escolas públicas, o que, também, acontece com os serviços nas áreas da Saúde, Segurança, Lazer e Transporte, no Brasil. Para se ter ideia de como a gestão em uma escola infere, também, sobre o conteúdo a ser adotado, por exemplo, no Planejamento do Projeto Pedagógico e no comportamento dos profissionais da educação, assista ao filme de Pink Floyd, sugerido. Nossa missão, aqui, por estes estudos, na disciplina de Gestão e Planejamento Educacional, apoia-se em conhecimentos que nos levarão ao entendimento sobre a estrutura global que gera esses comportamentos inadequados em cada setor importante da sociedade. Se há “culpados”, não nos interessa neste momento, mas encontrar as causas, sim! Explore Another Brick In The Wall” Columbia/CBS Records Pink Floyd http://www.vagalu- me.com.br/pink-floyd/another-brick-in-the-wall-pt-1.html http://www.vagalume.com.br/pink-floyd/another-brick-in-the-wall-pt-1.html http://www.vagalume.com.br/pink-floyd/another-brick-in-the-wall-pt-1.html 7 O Conhecimento na Administração e Gestão Pública da Educação Sempre que discutimos questões relativas às escolas públicas perguntamo-nos o “por que” dos baixos níveis de qualidade educacional e prestação de serviços prestados às comunidades. A isso se somam a baixa produtividade intelectual e níveis de aprendizado dos alunos, igualmente baixos. Verdade ou mito há razões para que se apresentem, normalmente, de forma insatisfatória ao público que a ela recorre para a educação de seus filhos e que, nem sempre conhecem. Fazendo, assim, ideias e críticas muitas vezes inapropriadas para questões tão importantes para a sociedade, como, por exemplo, sobre as posturas e os atendimentos feitos pelos gestores educacionais e administradores das escolas, que atendem às políticas públicas da Educação. Quanto aos conceitos adotados, Benno Sander (1995) discorre sobre a construção do conhecimento na administração da educação, utilizando-se de um esquema analítico com cinco enfoques principais; Jurídico, tecnocrático, comportamental, desenvolvimentista e sociológico que, segundo o autor, sugere que o conhecimento da gestão da educação latino- americana é o resultado de um processo de construção, desconstrução e reconstrução permanente ao longo da história de suas instituições políticas e sociais (SANDER, 1995, p.6). Esquema esse que permite identificar as relações que existem entre as etapas da história e os respectivos modelos adotados na América Latina, relacionando-as às diferentes fases do seu desenvolvimento. “Mesmo que seja possível identificar distintas fases ou modelos de administração da educação na evolução do pensamento pedagógico latino-americano, na prática, muitas vezes, os modelos se superpõe.” (SANDER, 1995, p.6). Mesmo considerando a dificuldade em analisar o assunto, tratado pela imensa bibliografia existente sobre a “evolução do conhecimento no campo da administração da educação, que vem desde o Século XVI até a consolidação do processo de industrialização” (SANDER, 1995, p.7), é importante examinar a contribuição que os estudiosos nos legam sobre a orientação intelectual dominante em cada época, para entendermos os conceitos de gestão da educação. Vamos, primeiramente, estudar o Enfoque Jurídico. Enfoque Jurídico Os estudos sobre a administração da educação na América-Latina remontam o período colonial e vão até as primeiras décadas do Século XX, esquematizados por diferentes enfoques. O primeiro que utilizaremos é o enfoque jurídico. “Um enfoque normativo, vinculado à tradição do direito administrativo romano e interpretado de acordo com o código napoleônico” (Sander, 1995, p.7). Foram adotadas nesse período teorias nascidas na Europa, principalmente França, Portugal e Espanha, uma vez que a América Latina importava muito da cultura europeia, além da influência exercida pelos imigrantes, que podemos observar, também, na Educação. 8 Unidade: Enfoques na administração e gestão educacional Decorreu disso a construção de uma infraestrutura legalista propícia para a incorporação da cultura e dos princípios da administração pública e de gestão educacional com as características europeias, dentro do direito romano, com ênfase na ordem, na regulamentação e na codificação, implicando um sistema fechado de conhecimento mais integral de administração. Contrário ao experimentalismo do direito anglo-americano onde se tem a lei como parâmetro a ser aplicado em circunstâncias concretas, o legalismo fechado latino (europeu) predica a lei antecipatória, ou seja, “a lei se converte num ideal a ser alcançado” (SANDER, 1995, p.8). Isso implica em que o pensamento circulante nos meios acadêmicos, e adotado pelos gestores públicos, é o dedutivo, segundo o qual, o pensador parte de princípios gerais para aplicá-los em fatos concretos, mesmo que em diferentes situações. Contrariamente, no caso anglo-americano, adotam o pensamento indutivo que partem das experiências e dos fatos observados numa série de casos para, depois, formular os princípios gerais. Ao enfoque jurídico herdado da Europa, somam-se os valores próprios do cristianismo da Igreja Católica, trazido, por exemplo, pelas escolas dos padres jesuítas (Companhia de Jesus), fortemente enraizados no pensamento dedutivo e no caráter normativo da Ratio Studiorum de Inácio de Loyola. Outro elemento, constitutivo da formação do pensamento administrativo na América Latina, é o positivismo (desenvolvido na França na primeira metade do Século XIX), protagonizadopor August Comte, cuja ênfase se dá aos conceitos de ordem, equilíbrio, harmonia e progresso, na organização e no funcionamento das instituições políticas e sociais. Esses fatores e essas influências sobre a Educação manifestam-se nas formas de desenvolvimento do currículo enciclopédico, na sua metodologia científica de natureza descritiva e empírica e nas práticas prescritivas de organização e gestão. Para Pensar “Dona Aparecida, mãe do aluno Gustavo, estudante da 1ª Série do Ensino Médio da Escola Estadual Zica e Zica, na cidade de Longelópolis, dirigiu-se à secretaria da escola solicitando um Histórico Escolar do Ensino Fundamental, cursado pelo seu filho, para preencher, urgentemente, um cadastro de emprego almejado pelo jovem. A funcionária, antes mesmo de saber os motivos da pressa de D. Aparecida, informa-lhe que sua solicitação pode demorar, visto o volume de serviços acumulados, por falta de funcionários e, por lei, tem prazo de 60 dias para entregar-lhe.” Exercício: Inicialmente, relacione o episódio simulado acima, com o enforque jurídico e análise se o comportamento, nessa história fictícia, assemelha-se ao cotidiano na esfera da instituição pública e teça seus comentários no forum. 9 Enfoque Tecnocrático Seguindo o desenvolvimento das teorias de gestão empresarial, “instalou-se na administração pública o reinado da tecnocracia como sistema de organização” (SANDER, 1995, p. 11). Nesse sentido os administradores estarão preocupados em adotar soluções racionais para resolver problemas organizacionais para um funcionamento eficiente sobre análises e prescrições pautadas no enfoque tecnocrático, deixando para segundo plano, os aspectos humanos, as considerações políticas e valores éticos. Os princípios e elementos da construção das teorias tecnocráticas têm suas bases na administração clássica das primeiras décadas do Século XX, com Henri Fayol na França e com Frederick W. Taylor nos Estados Unidos, bem como a teoria da burocracia de Max Weber. Explore Sugestão de leituras complementares sobre a influência do positivismo na formação das instituições políticas e culturais no Brasil: ler – ROMERO, Silvio. O Evolucionismo e o Positivismo no Bra- sil, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1895; AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira. Servi- ços Gráficos do IBGE, R. Janeiro, 1943. Esse enfoque tecnocrático assume um modelo de gestão preocupado com a economia, a produtividade e a eficiência, do ponto de vista empresarial, adotando-se um modelo- máquina. Com isso, buscam-se soluções técnicas, pragmáticas e racionais, perfeitamente aceitas no campo da produção industrial e empresarial, mas que são, equivocadamente, adaptadas às metas e objetivos políticos no campo da Educação, para resolver problemas da administração escolar. Enfoque Comportamental A partir dos anos de 1940 vimos na América Latina, uma crescente manifestação contra o enfoque tecnocrático dado à gestão educacional. Voltam-se as atenções para um enfoque de dimensão mais humanizada dentro das fábricas, das organizações governamentais e escolas. Acentua-se a necessidade de elaborar um enfoque comportamental, mais compreensivo e contextual. 10 Unidade: Enfoques na administração e gestão educacional O enfoque comportamental surge e se identifica com os movimentos psicossociológicos das relações humanas nascidos, também nos Estados Unidos nos anos de 1930, conceituando “as organizações como sistemas cooperativos sustentados pela eficiência e eficácia no desempenho das funções administrativas” (SANDER, 1995, p.15). Para tanto, a Psicologia e a Sociologia são fundamentais para se desenvolverem conceitos e práticas que levem em consideração os elementos psicológicos das pessoas, em relação ao grupo em que atua e sua personalidade individual, com sua capacidade de autocontrole e autoavaliação, bem como, considerando esses comportamentos nas organizações política, econômica e cultural da sociedade, incorporando a teoria dos sistemas. Nesse sentido, consideram-se a dimensão humana, suas potencialidades e necessidades, a dimensão institucional que envolve as estruturas internas da escola e a dimensão societária que compreende a comunidade externa à escola. Enfoque Desenvolvimentista O enfoque desenvolvimentista da administração surge nos Estados Unidos, no período do pós-guerra, na fase de reconstrução econômica e, é o resultado de vários fatores, dentre os quais se destacam a necessidade de organizar e administrar os serviços de assistência técnica e ajuda financeira para os países latinos americanos, o que foi feito a partir de programas como o Plano Marshall na Europa e a Aliança para o Progresso na América. “Os protagonistas da construção desenvolvimentista de administração concentram sua atenção nos requerimentos organizacionais e administrativos para atingir os objetivos do desenvolvimento nacional, implicando em grandes transformações econômicas e sociais, argumentando que os métodos tradicionais são limitados e inadequados para estudo e práticas da gestão pública nos países pobres (...), quando propõem a adoção de uma perspectiva de administração dedicada à gestão dos programas de desenvolvimento e aos métodos a serem utilizados pelos governos para atender interesses econômicos e sociais (SANDER 1995, p.21). Esse enfoque coincide com o paradigma economicista e com a fase da educação para o crescimento econômico, inserido no movimento da economia da educação que versa sobre a formação de recursos humanos, a teoria do capital humano e o investimento no ser humano como potencial trabalhador produtivo. Tudo isso, com vistas à taxa de retorno que essa sociedade oferecerá aos seus financiadores, dentro de uma lógica econômica. Em 1958, em Washington, funda-se o planejamento integrar da educação, que em 1962, na cidade de Santiago, a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e a OEA - Organização dos Estados Americanos e CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe, consagram o papel da educação como fator de desenvolvimento econômico, como instrumento de progresso técnico e ascensão social. 11 Contudo, na década de sessenta, o pessimismo toma conta dos agentes internacionais que não viam, na proporção de seus investimentos, melhoria na qualidade de vida, desenvolvimento humano e equidade social. Percebendo que outros fatores deveriam ser levados em consideração para reavivar o papel importante da educação no desenvolvimento econômico, social e cultural, como outras disciplinas das Ciências sociais, incluindo, política, sociologia e antropologia. Enfoque Sociológico Com o objetivo de adequar conhecimentos científicos às questões políticas e culturais, adaptam-se metodologias e conceitos mais próximos à realidade latino-americana, num enfoque sociológico mais crítico, portanto. Na Educação, teremos, como protagonista mais influente do pensamento crítico latino, o educador Paulo Freire, “que constrói na teoria pedagógica as relações de dominação e os ideais de libertação que a teoria da dependência postula nas relações econômicas e políticas internacionais” (SANDER, 1995, p.26). A intensão do enfoque sociológico é considerar a realidade cultural, social e econômica da América Latina, em oposição ao forte conhecimento herdado das outras culturas externas, como a europeia e norte-americana, como vimos anteriormente. “Esgotando o enfoque desenvolvimentista de administração pública e gestão da educação dos autores estrangeiros, afirmam-se os estudiosos latino-americanos que ensaiam um enfoque sociológico, concebido a partir da intersecção de conceitos e análises das Ciências sociais aplicadas.” (SANDER, 1995, p.23). Considerados inadequados, os enfoques importados do exterior para nossa realidade latino americana, provavelmente tenha causado o fracasso das reformas que os teóricos, adeptos de conceitos europeus, impuseram sobre o conhecimento e aformação dos administradores e gestores educacionais no Brasil. Isso não quer dizer que os enfoques economicistas do desenvolvimento não tenham logrado êxito, pelo contrário, constatam-se, ainda hoje, perfis e posturas de administradores absolutamente ligadas à eles. No entanto, é significativo que o enfoque sociológico tenha se destacado, pelo menos nos debates profissionais, nos sindicatos dos profissionais da educação e nos meios mais politizados da sociedade, de forma que venha a fazer diferença na formação de professores e gestores atualmente. Postula-se hoje, por teóricos mais críticos, que não basta a simples rejeição dos enfoques anteriores, mas sim da conscientização dos problemas que a sociedade e a gestão enfrentam na atualidade. A ênfase é dada na concepção de perspectivas administrativas voltadas às realidades latino-americanas, respeitando mais seus valores culturais e político. 12 Unidade: Enfoques na administração e gestão educacional “O desafio não reside na rejeição simples dos valores jurídicos, da racionalidade técnica, do humanismo psicológico e do valor econômico dos enfoques anteriores, mas sim na superação dos problemas existentes no contexto sócio-político mais amplo.” (SANDER, 1995, p.25). Concluindo Para atingir os objetivos de uma melhor qualidade na administração da Educação, os tecnocratas economicistas adotaram conceitos de eficiência e eficácia originários da administração empresarial. Assim, com vistas à redução de custos, baixos gastos e racionalidade na produção, o que prevalece são os interesses econômicos, não só na rede pública de educação como, também, em muitas escolas da rede privada. Em decorrência dessa visão economicista, os serviços prestados por elas limitam-se às despesas e valores previstos em seus orçamentos e planejamentos financeiros. A lógica do mercado justifica o compromisso da gestão e administração educacionais, com a consequente mercantilização da Educação. A luta pela educação de qualidade, universalizada, para todos, dentro de conceitos e práticas mais adequadas à realidade latino-americana, teve suas consequências positivas, fazendo frente aos movimentos puramente econocráticos (sistema voltado para a lógica econômica) inseridos no contexto educacional. Os teóricos da tecnocracia, mais interessados na racionalidade das soluções para os problemas educacionais, por negligenciarem a cultura, os hábitos de vida, os costumes da sociedade latino-americana, especialmente no Brasil, um país miscigenado e com fortes influências dos imigrantes de todos os matizes, provocaram, nos meios acadêmicos, nas associações de profissionais da educação e outros setores da sociedade organizada, produções intelectuais e conceituais acerca de valores que são mais próprios e relevantes para o desenvolvimento humano sustentável e para uma melhoria de vida do povo latino-americano. Conceitos que suplantam a eficiência e eficácia do sistema capitalista, na versão de administração empresarial, como os conceitos de relevância provido de valores éticos e culturais e o conceito de efetividade, provido de valores políticos e sociais que, quando vêm a fazer parte do processo de construção do Projeto Pedagógico da escola, torna extremamente significativo para todos da comunidade educacional. É isso que está posto como novo desafio, desde o final do Século XX, para este novo milênio. Vimos, com isso, que é necessário um compromisso maior com teorias de administração pública e gestão da educação, voltado a melhores definições de metodologias mais relevantes, que suscitem novas perspectivas de “gerência social à luz de conceito do desenvolvimento humano e para formular propostas de formação e aperfeiçoamento de gestores escolares e universitários à luz de uma perspectiva multidimensional e multicultural de gestão” (SANDER, 1995). Urge que se caminhe para estudos e aprofundamentos de um modelo de gestão democrática da educação, conforme nos convida a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei Nº 9.394, de 1996, que estudaremos mais adiante, em outras aulas. 13 Material Complementar Para seu descanso e reflexão, vai aqui a letra da música que se relaciona a um momento histórico em que a escola reproduzia um conceito de educação para formação de capital humano, envolvida num paradigma economicista. O papai voou pelo oceano Deixando apenas uma memória; Foto instantânea no álbum de família. Papai, o que mais você deixou para mim? Papai, o que você deixou para mim? Tudo era apenas um tijolo no muro. “Você! Sim, você atrás das bicicletas, parada aí, garota!”. Quando crescemos e fomos à escola, havia certos professores que machucariam as crianças da forma que eles pudessem, despejando escárnio sobre tudo o que fazíamos, expondo todas as nossas fraquezas, mesmo que escondidas pelas crianças. Mas na cidade, era bem sabido, Que quando eles chegavam em casa, Suas esposas, gordas psicopatas, batiam neles Quase até a morte. Não precisamos de nenhuma educação. Não precisamos de controle mental. Chega de humor negro na sala de aula. Professores deixem as crianças em paz! Ei! Professores! Deixem essas crianças em paz! Tudo era apenas um tijolo no muro. Todos são somente tijolos na parede. “Errado, faça de novo! “. “Se não comer sua carne, você não ganha pudim, Como você pode ganhar pudim se não comer sua carne? “. “Você! Sim, você atrás das bicicletas, parada aí, garota! “ Eu não preciso de braços ao meu redor E eu não preciso de drogas para me acalmar Eu vi os escritos no muro Não pense que preciso de algo, absolutamente, Não! Não pense que eu preciso de alguma coisa afinal Tudo era apenas um tijolo no muro Todos são somente tijolos na parede Link: http://www.vagalume.com.br/pink-floyd/another-brick-in-the-wall-traducao.html#ixzz2PykEkztt http://www.vagalume.com.br/pink-floyd/another-brick-in-the-wall-traducao.html%23ixzz2PykEkztt 16 Unidade: Enfoques na administração e gestão educacional Anotações A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Wagner Impellizzieri Revisão Textual: Profa. Ms . Luciene Oliveira da Costa Santos 5 • Introdução • A administração eficiente • A administração eficaz Como já dissemos, esta é uma importante experiência no mundo do conhecimento, da formação intelectual, moral e ética que vivemos, por meio da utilização das novas tecnologias de comunicação, no contexto da formação humana e na construção de uma sociedade democrática. Para tanto, convido-@ a interagir, utilizando os materiais disponíveis na unidade de conhecimento, conversando com os autores, visitando as páginas de aprofundamento e participando das atividades propostas. Você deverá ler os textos, estudá-los para fazer as atividades de sistematização, de autocorreção, participar dos fóruns de discussão com outros colegas estudantes, e colocar-se à vontade com suas opiniões e interpretações pertinentes aos assuntos propostos e discutidos. · Quais os conceitos que definem a natureza da atuação dos administradores educacionais na América Latina e no Brasil? · Qual a natureza da atuação e dos critérios de desempenho administrativo na gestão da educação? A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância • A administração efetiva • A administração relevante • Paradigma Multidimensional 6 Unidade: A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância Contextualização A gestão escolar, em suas facetadas formas de agir e organizar suas tarefas e funções no cotidiano, tem procurado elementos conceituais e praxiológicos (teorias e práticas) que lhe permitam cumprir seu papel primordial na educação, qual seja: o de alcançar um melhor desempenho nas questões do ensino. Isso implica controle e organização dos aspectos tanto materiaise financeiros, quanto dos pedagógicos. É o que torna sua ação, dentro da organização, extremamente complexa e abrangente. Todos os fatores constitutivos da execução de tarefas e funções administrativas e pedagógicas deverão estar imbricadas, entrelaçadas e dinamicamente alternadas. Os conceitos de administração e gestão escolares são controversos no que se refere aos temas oferecidos por diferentes autores e pesquisadores, considerando suas ideologias implícitas no contexto dos estudos e conforme suas metodologias de enfoques e análises. Assim, procuramos enfatizar alguns aspectos teóricos e conceituais da prática de gestão, partindo do lugar latino-americano e da realidade em que fundaram as teorias na América Latina e, especificamente, no Brasil. Como nosso objetivo é desenvolver estudos que nos levem a entender e adotar critérios administrativos de gestão escolar adequados e socialmente relevantes à realidade no Brasil, apresentamos as variadas formas do pensamento administrativo enraizadas na cultura e na política educacional. 7 Introdução Como estudamos na Unidade I, o estudo dos conceitos sobre administração da educação, no Brasil e na América Latina, “segue os passos das teorias pedagógicas e administrativas da Europa e dos Estados Unidos” (SANDER, 1995), cujas análises remetem aos enfoques:Jurídico – do início da colonização, dentro de uma orientação essencialmente normativa do direito romano; Tecnocrático – no início do Século XX, voltado aos critérios de eficiência no campo da produtividade econômica e material e reduzida atenção à dimensão humana, culturais e políticas da educação; Comportamental– de base psicossociológica, na qual o conceito de eficiência econômica é substituído pelo de eficácia institucional e maximização de desempenho administrativo na educação a partir do comportamento pessoal e do grupo; Desenvolvimentista – “propõem a adoção de uma perspectiva de administração dedicada à gestão dos programas de desenvolvimento e aos métodos a serem utilizados pelos governos para atender interesses econômicos e sociais” (SANDER, 1995, p.21). Tais critérios,gerados de uma evolução conceitual acerca dos parâmetros, delinearam o desenvolvimento das teorias administrativas e da gestão da educação, sobretudo, a partir das ações implementadas pelas políticas públicas da educação. Também estudamos que os conceitos de administração da educação estão ligados à evolução desses critérios nascidos e trazidos da Europa e dos Estados Unidos pelos governos latino-americanos. [...] construímos nossos conceitos e nossas práticas dentro do contexto internacional da reestruturação do sistema capitalista onde se estabeleceram novas bases materiais de produção, assim como, também foram estabelecidas novas formas de relações sociais, com intensificação de práticas transnacionais na economia, alterando e definindo comportamentos políticos da gestão pública, que se voltou para os interesses dos países dominantes numa relação de intensa dependência.(IMPELLIZZIERI, 2013) Assim, nesta Unidade II, estudaremos como esses conceitos geraram critérios de ação e de desempenho na prática administrativa e gerencial dos profissionais da educação, principalmente dos gestores escolares no Brasil. Sãoquatro os critérios para avaliar o desempenho na administração e gestão da educação: Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância. Há, ainda, três maneiras de solucionar a diversidade de orientações conceituais no campo da administração da educação: Pluralismo teórico, Enfoque Multiparadigmático, Paradigma Multidimensional. Embora não haja consenso entre os teóricos da administração quanto aos conceitos de eficiência e eficácia, assim como os conceitos de efetividade e relevância, tentaremos analisar, à luz do que indica o texto de BennoSander (1995), as aproximadas definições de cada critério. Tal análise deve sugerir uma releitura ou redefinição “dos critérios administrativos adotados na educação, para possibilitar sua utilização adequada como instrumentos analíticos e praxiológicos. Essa definição é necessária para caracterizar a natureza da atuação dos administradores na sua prática cotidiana” (SANDER, 1995, p.43). 8 Unidade: A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância Importante ressaltarmos mais uma vez que os conceitos de administração da educação,dentro dos critérios avaliativos de eficiência, eficácia, efetividade e relevância, importados da administração empresarial europeia e estadunidense, exercem pressão histórica. Issodificulta as tentativas de uma nova versão, ou uma nova escrita, dentro de pressupostos mais adequados à realidade latino-americana. A administração eficiente Considera homem em seu aspecto econômico, “revela a capacidade administrativa de produzir o máximo de resultados com o mínimo de recursos, energia e tempo” (SANDER, 1995, p.43). No contexto da racionalidade econômica e produtividade material da Revolução Industrial do início do Século XX, não leva em consideração o conteúdo humano, político ou a natureza ética do homem. O administrador que pretende ser eficiente deve procurar estar dentro do que a eficiência exige: preparo técnico e domínio de teorias e práticas que lhe assegurem resultados racionais dentro dos objetivos almejados, num período curto de tempo, com pequeno investimento, ou mínimo de custos, sem desperdícios, mas poucos esforços. Ele deve buscar a racionalidade econômica como base para a obtenção de resultados, ou de produtos finais mais baratos, dentro de um padrão de qualidade traçado, ou mesmo de um padrão imposto externamente, por outros agentes do sistema educacional como, por exemplo, os governos. Segundo Coraggio (2000), “a análise econômica da educação em geral, e a análise das taxas de retorno, é um instrumento de diagnóstico para começar o processo de estabelecer prioridades e para considerar formas alternativas de atingir objetivos [...]” (BANCO MUNDIAL, 1995. Apud CORAGGIO, 2000, p.95). A educação voltou-se, a partir da Reforma do Estado e das políticas de governo para Educação, na década de 1990, aos investimentos externos oriundos do Banco Mundial, agente do Fundo Monetário Internacional, cujos projetos de liberação de verbas para os países latino-americanos, vinculam-se diretamente ao cumprimento de metas estabelecidas por esse Banco. Daí o Banco Mundial oferecer técnicos e especialistas no mundo dos negócios para analisar metas e objetivos educacionais que deveriam ser alcançados pelos governos locais. Deslocam-se as atenções às questões da qualidade e eficiência educacionais para as da racionalidade econômica, conforme as metas de contenção de despesas impostas pelo Banco Mundial. Vejamos o que diz um dos documentos do Banco Mundial: A relação professor-aluno é uma medida global de eficiência pessoal [...]. As escolas dos países de baixa renda poderiam diminuir custos e melhorar a aprendizagem aumentando o coeficiente professor-aluno. Utilizariam menos mestres e poderiam transferir recursos para outros insumos que melhoram o rendimento, como livros didáticos e formação de professores em serviço. [...] porque os gastos com pessoal docente normalmente representam cerca de dois terços do gasto em educação. (BANCO MUNDIAL, 1996a, p.64. Apud SOUZA, 2005, p.110) 9 Para Pensar [...] cujo pensamento central pode ser resumido na afirmação de que alguém será um bom administrador à medida que planejar cuidadosamente seus passos, que organizar e coordenar racionalmente as atividades de seus subordinados e que souber comandar e controlar tais atividades. (MOTTA, 1997, p.4) [...] as preocupações relacionadas com a produtividade e a racionalidade na utilização de instrumentos e procedimentos operacionais constituem elementos básicos para definir a eficiência como critério de desempenho econômico da administração da educação.(SANDER,1995, p.45). [...] Os conceitos mecanomórficos(forma de máquinas) de FredirickW.Taylor foram aperfeiçoados por Harrington Emerson, cujo enfoque é claramente econômico, pregando que a produtividade e a prosperidade não são função de abundância, mas que resultam da ‘ambição e do desejo de sucesso e riqueza’ (Emerson, 1911). Estudo de Caso A escola estadual Profª Mama Mia, de Educação Infantil e Ensino Fundamental, situada próxima às margens do Rio Roxo, na cidade de Longelândia, reuniu seus alunos, pais e professores. O objetivo da reunião era decidirem sobre algumas propostas incluídas no Projeto Pedagógico que, desde o início do ano letivo, estavam previstas, mas não foram implementadas por problemas de ordem material. Não há verbas para execução das metas. Em comum acordo, decidiram pela arrecadação de verbas junto aos comerciantes e empresários da região e, com base nas legislações que regem as parcerias entre Escola/Empresa, saíram a campo no intuito de angariar adeptos interessados em prover suplemento financeiro. Com isso, conseguiriam auxílio da sociedade civil para suprir os gastos com material pedagógico. Como a escola está situada em uma região periférica e tem dificuldades para gerenciar seus projetos e fazer frente à concorrência – cujo objetivo é elevar os níveis das notas das avaliações de desempenho criadas pelo Estado –, os gestores não tiveram dúvidasem relação às parcerias junto aos empresários. Exercício: Diante da situação-problema, simulada ficticiamente, faça seus comentários quanto ao que considera uma gestão eficiente, à luz do que nos diz Melo(2001, p.244): Fazem da escola um lugar de aparente autonomia, ao incentivar a solução dos ‘pequenos problemas cotidianos’, pelo exercício da criatividade e da busca de parceiros para superação imediata, mesmo que momentânea, das dificuldades encontradas na gestão escolar, deixando claro um certo sentido microinstitucional. (MELO, 2001, p.244. In: FERREIRA, Naura S. Carapeto. Gestão da Educação: impasses e perspectivas Cortez Ed: São Paulo, 2001) ___________________________________________________________ 10 Unidade: A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ ____________________________________________________________ A administração eficaz A administração eficaz nasce das tentativas e esforços, e é fruto de experiências vividas pelos administradores educacionais na busca de soluções diversas aos problemas cotidianos nos diferentes aspectos da escola: administrativos, pedagógicos, humanos e materiais. Ou seja, é originário das práticas e conceitos adotados pelos gestores da educação frente aos desafios que se apresentam na organização escolar e, geralmente, com adoção de princípios funcionalistas, advindos dos movimentos das relações humanas. A administração escolar busca alcançar os resultados planejados e atingir as metas estabelecidas, ou pela equipe local, ou por ordem das autoridades superiores. Contudo, a eficácia pode ser mais valorizada quando se atinge uma meta com o menor custo e esforço possíveis, o que é considerado como eficiência; nesse caso, o objetivo é atingido eficazmente com maior eficiência. No campo da pedagogia, a utilização do termo está geralmente equivocada quando não empregam parâmetros educacionais, de níveis de aprendizagem, ou de aproveitamento dos alunos. Também é equívoco quando só são considerados resultados finais, como notas (de zero a dez, por exemplo), sem considerarem outros fatores no processo de aprendizado do aluno. Assim, há o uso indevido edescaracterizado o conceito do termo “eficácia” ligado à pedagogia. A eficácia, do latim efficax, diz respeito ao “que tem o poder de produzir o efeito desejado”. Analisada do ponto de vista da administração empresarial, a expressão tem seu efeito próprio, diferente dos desejos da educação, quando se esperam resultados muito mais abrangentes na formação e no desenvolvimento do ser humano, de sua potencialidade intelectuale moral. Não cabendo o uso do termo no atendimento dos indivíduos quando ligado ou limitado ao institucional, ou seja, dentro de metas que demonstrem números estatísticos e gráficos para efeitos de controles de investimentos financeiros, retornos econômicos, ou valores materiais. Neste estudo e em nossa profissão como educadores, interessa-nos a busca dos efeitos e adequação ao termo e seu uso mais apropriado na pedagogia, ou seja, “o conceito de eficácia da administração da educação limita-se aos aspectos intrínsecos das instituições escolares, preocupando-se, consequentemente, com o alcance eficaz dos objetivos pedagógicos” (SANDER, 1995, p.46). 11 O que nos interessa, realmente, são os objetivos pedagógicos, o desempenho dos projetos pedagógicos a partir das ações do aluno, do professor, da proposta educacional, e seus efeitos esperados na produção intelectual, cultural e científica de todos, para que seja possível e viabilizado um projeto de efeito socializante. Em suma, os aspectos intrínsecos, dizem respeito aos objetivos internos, de interesse da comunidade escolar, relativamente ao que ela elege como importante para sua formação no contexto do desenvolvimento global da humanidade. Por outro lado, há, também, gestores e professores que eventualmente consideram a eficácia dentro de “aspectos utilitários e extrínsecos de tipo econômico” (SANDER, 1995, p.47), dificultando que a escola alcance êxito em seus objetivos específicos educacionais. Para estabelecer as prioridades e reforma educacional, o Banco Mundial sugere que se dê mais atenção às avaliações dos resultados educacionais, com ênfase para o rendimento escolar. O professor emerge, nesta concepção, como instrumento que possibilita a consecução de fins deslocados para fora do ofício de ensinar. Subordinam as propostas educacionais às políticas de redução dos custos. (SOUZA, 2005, p.112) A análise econômica aplicada a educação se centra na comparação entre os benefícios e os custos, para as pessoas e para a sociedade. [...] A técnica mais eficaz é aquela que produz o resultado desejado a um custo mínimo e que resulte no aumento do rendimento escolar a um custo determinado. (BANCO MUNDIAL, 1996a, p. 105. Apud SOUZA, 1995, p. 112) Exercícios Pesquise em http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/%7BA5DBB568-2D31-4AD7- AA33-3CBFF35BBE78%7D_Indicadores_Qualidade.pdf e verifique os índices de desempenho de aprendizagem, argumentando sobre o que você considera indicador real de qualidade, e se esses indicadores correspondem ao que apresenta o cotidiano da escola. A administração efetiva Representa o critério político que diz respeito à capacidade de realizar, cumprir, concretizar uma tarefa, ou uma meta (do verbo latino efficere, quer dizer:cumprir, realizar, concretizar). Refere-se, na contemporaneidade, à capacidade de um administrador de realizar e satisfazer os interesses da comunidade externa. O termo em inglês, reflete a capacidade de responder às exigências da sociedade como um todo, incluindo-se as comunidades externa e interna à escola. O termo se liga a questões políticas porque está voltado à capacidade do administrador num em responder aos interesses da sociedade. Na tentativa de superação dos critérios de eficiência técnica, ou empresarial, ou da eficácia economicista, adotados pela lógica econômica de desenvolvimento técnico e material, apresenta contexto mais amplo da teoria política. http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/%257BA5DBB568-2D31-4AD7-AA33-3CBFF35BBE78%257D_Indicadores_Qualidade.pdf http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/%257BA5DBB568-2D31-4AD7-AA33-3CBFF35BBE78%257D_Indicadores_Qualidade.pdf 12 Unidade: A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitosde Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância “Sua preocupação fundamental é a promoção do desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições de vida humana.” (SANDER, 1995, p.48) Nesse sentido, a adequação do conceito de efetividade está mais relacionada às linhas da educação para o desenvolvimento do ser humano e da sociedade no seu conjunto. Mais apropriada, portanto, resgata o alcance do compromisso da educação com a sociedade que dela se serve, no caso da escola. Esse conceito de efetividade trata as questões políticas demandadas pela sociedade que participa da escola efetivamente em suas organizações internas, como Conselhos de Escola, Associações de Pais e Mestres, Grêmios e outras, tornando a administração educacional mais próxima à realidade de seus interlocutores no contexto da vida. A materialização desse compromisso exige da administração da educação um envolvimento concreto na vida da comunidade através de uma filosofia solidária e uma metodologia participativa. (SANDER, 1995, p.48) Por esse motivo, ligado aos interesses da sociedade que na escola apresenta envolvida, é que se caracteriza o conceito de efetividade como político. Está ele intimamente ligado ao envolvimento maior ou menor da comunidade escolar e da comunidade que dela participa, mesmo sendo de fora da instituição, mas que, de certa forma contribui para seu desenvolvimento, como por exemplo, alguns empresários, ou profissionais liberais, médicos, advogados, e tantos que possam ser constituídos como auxiliares no projeto pedagógico da escola. A comunidade interna e externa é considerada, assim, toda aquela que participa efetivamente do seu projeto político-pedagógico. Para tanto, é imprescindível a organização de metodologia adequada aos participantes de modo que venha atender tanto aos interesses culturais, científicos e outros, quanto aos métodos dinâmicos e apropriados aos temas que sejam eleitos como importantes no seu currículo. Ao lançar mão de elementos participativos, espera-se, também, a agregação de conflitos sociais de diversas naturezas, o que é perfeitamente administrável numa sociedade democrática. Portanto, a utilização de métodos e conceitos mais próximos e efetivamente ligados aos propósitos, às metas e projetos internos da comunidade escolar, facilita a que se obtenham mais resultados e melhores desempenhos, tanto administrativos, quanto pedagógicos, de modo articulado e relevante. O termo administração relevantetambém é usado, comum e corretamente, no lugar de administração efetiva. A gestão da educação que se ampara e se organiza a partir das demandas sociais, relevantes do ponto de vista interno, possibilitam uma correção dos critérios comumente adotados de eficiência e eficácia da administração empresarial. 13 A administração relevante Adotada como consequência da relação e interação com a sociedade escolar, está mais compromissada com questões culturais e éticas. Sem desconsiderar as questões políticas, funda- se essencialmente nas questões ligadas às globais e multiculturais, enfatizando os “princípios da conscientização, significação, ação humana coletiva e aos conceitos de totalidade, à luz do conceito de relevância” (SANDER, 1995, p.50). Se o conhecimento escolar é hoje considerado uma das conquistas e metas mais importantes da educação, no contexto da globalização do conhecimento, das comunicações e das tecnologias, então, cabe-nos salientar que a questão da relevância deve ser observada, sobretudo, na construção do currículo escolar. Nos documentos oficiais do Ministério da Educação, por exemplo, que tratam de questões sobre currículo, intitulado Indagações sobre Currículo, de 2008, no caderno sobre Currículo, Conhecimento e Cultura, de Antonio Flavio Barbosa Moreira e Vera Maria Candau (2008, p. 21), que trata também sobre relevância, lemos: A nosso ver uma educação de qualidade deve propiciar ao (a) estudante ir além dos referentes presentes em seu mundo cotidiano, assumindo-o, ampliando-o, transformando-se, assim, em um sujeito ativo na mudança de seu contexto. [...] A nosso ver são indispensáveis conhecimentos escolares que facilitem ao aluno uma compreensão acurada da realidade em que está inserido, que possibilitem uma ação consciente e segura no mundo imediato e que, além disso, promovam a ampliação de seu universo cultural. (CANDAU e MOREIRA, 2008, p.21) Podemos considerar outros conceitos de relevância que nos remetam à compreensão de valores técnicos, científicos, culturais dentro do contexto político social em que se encontram as pessoas, os trabalhadores que passam pelas escolas e delas absorvem informações que, no processo de aprendizado auxiliam na formação do conhecimento. Para que haja uma verdadeira apropriação desse conhecimento formado é indispensável que a escola compreenda o que seja relevante para os estudantes e a comunidade escolar, como um todo. Vejamos outro autor, citado no mesmo caderno do Ministério da Educação de 2008, “Indagações sobre Currículo”, quando enfatiza que a“relevância sugere conhecimentos e experiências que contribuam para formar sujeitos autônomos, críticos e criativos que analisem como as coisas passaram a ser, o que são e como fazer para que elas sejam diferentes do que hoje são.” (AVALOS, 1992; SANTOS e MOREIRA, 1995. ApudCANDAU, 2008, p.21). Daí percebermos que, na construção de um projeto pedagógico da escola, a participação dos gestores, professores e alunos é fundamental para se alcançar uma proposta mais relevante e que atenda aos interesses coletivos. Os gestores, nesse sentido, devem promover o diálogo entre as pessoas e profissionais da educação, nos espaços escolares, de forma a que não considerem certas disciplinas ou áreas do conhecimento mais ou menos importantes. Por exemplo, quando destacam como mais relevantes as matérias exatas, como Matemática, ou Física, secundarizando as demais áreas que contemplam as disciplinas de História, Filosofia, Geografia etc. Nesse caso, específico da gestão pedagógica do projeto escolar, destacam-se questões de conteúdos, metodologias e planos de 14 Unidade: A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância ensino e aulas; nos casos específicos de administração, observam-se, por exemplo, as questões relativas ao aperfeiçoamento e formação continuada dos professores, treinamento e qualificação adequada dos funcionários e tudo o que se refere à melhoria do atendimento ao público. Conforme a legislação, a relevância estará determinada e eleita corretamente quando a escola for embasada na própria lei, como podemos lembrar em alguns Incisos do Artigo 3º da LDB/96: II- Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, divulgar cultura, pensamento, arte e saber; III-Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; VII-Valorização do profissional da educação; VIII- Gestão democrática no ensino público; X-Valorização das experiências extraescolar; XI-Vinculação escola/trabalho/práticas sociais. A gestão da escola deve focar o mais importante dentro das funções diversas que têm como o alcance das metas os projetos pedagógicos que foram eleitos pela coletividade, ou seja, deve focaro cumprimento daquilo que seja realmente relevante para a sociedade que dela necessita e participa. Exercício: Discuta no fórum o que você e seus colegas de estudos adotariam como ações administrativas e pedagógicas consideradas relevantes e que, na sua opinião, melhoraria a qualidade da educação no Brasil, levando em consideração o que estudou neste texto e suas experiências nas escolas como estudante e/ou como professor. Paradigma Multidimensional Dentro do tema administração e gestão escolar, procuramos estudar os paradigmas que mais se ajustam aos vários sistemas e formas de gerenciamento escolar. Abordamos administração e gestão escolar tanto do ponto de vista dos governos, que adotam determinadas políticas de educação, quanto dos agentes externos,que agem como financiadores dos sistemas com vistas aos propósitos economicistas de formação de capital humano e desenvolvimento econômico mundial. Ressaltamos que, ao longo da história da América Latina, foram e ainda são utilizados conceitos e práticas na gestão educacional que produzem ou não efeitos significativos na qualidade do processo de ensino-aprendizado, gerando resultados mais ou menos importantes para o desenvolvimento intelectual e cultural das gerações que pelas escolas passam anualmente. 15 Há, no entanto, um paradigma que se apresenta de forma multifacetada, como múltiplas articulações e que se comunica com flexibilidade nas diferentes e diversas situações em que sejam exigidos comportamentos diversos na gestão da escola. Ou seja, há um paradigma multidimensional. Veja o que diz BennoSander (1995): No caso do Brasil, a bibliografia revela que na prática existem escolas de natureza empresarial, cuja administração se orienta pela eficiência econômica como critério de desempenho administrativo. Outras instituições e sistemas educacionais estão preocupados com seu papel político na comunidade, razão pela qual sua pauta-se no critério da efetividade, que veem a educação como um ato político. Existem ainda [...] cuja administração se orienta [...] pela eficácia na consecução de objetivos pedagógicos[...] ao lado de instituições que preocupados com o ser humano como sujeito individual e social [...] adotam a relevância [...] (SANDER, 1995, p.53). Assim, temos uma preocupação com a adoção de conceitos e práticas mais adequadas à realidade de cada grupo, em cada situação e região específicas. O paradigma da multidimensionalidade vem responder, de certa forma, à diversidade da realidade nacional no contexto da globalização. É nesse sentido que sugerimos, à luz destes estudos, que a articulação entre as diversas dimensões do paradigma multidimensional deva ser observada e cuidadosamente resgatada no comportamento e pensamento dos gestores. Afinal, o papel da administração e gestão escolar seja resgatado, em sua especificidade: o de garantir o atendimento à população escolar e aos profissionais da educação em condições organizacionais para o desempenho pleno do processo educativo. O papel mediador que os gestores desempenham nas relações e interações dos diferentes contextos em que se encontram as escolas definirá suas ações, dentro de conceitos e expectativas de desempenho, sob a égide do caráter mais político, cultural e social de administração educacional. Daí existiremos fatores que BennoSander denomina dimensões a serem consideradas nas análises dos conceitos de administração escolar e os critérios que se adotam na organização e gestão da escola. Esses estão caracterizados de seguinte maneira: Dimensões intrínsecas, extrínsecas, pedagógica, econômica, cultural e política. Dimensão intrínsecaestá ligada aos valores e às aspirações fundamentais do ser humano historicamente engajado em seu meio cultural. A dimensão extrínsecaé relacionada com a consecução dos fins e objetivos políticos da sociedade (SANDER, 1995, p.48). Na dimensão econômica, são considerados os recursos financeiros e materiais, estruturas, normas burocráticas e mecanismos de coordenação e comunicação. Na dimensão pedagógica, é considerado o conjunto de princípios, cenários e técnicas educacionais, comprometidos com a consecução eficaz dos objetivos do sistema educacional e da escola. Na dimensão política, estão as estratégias de ação organizadas dos participantes do sistema de educação, e considera o seu funcionamento dentro de um contexto circunstancial. A dimensão cultural envolve valores e características filosóficas, antropológicas, biopsíquicas e sociais das pessoas que participam do sistema e da comunidade (SANDER, 1995, pp.56-66). 18 Unidade: A Relevância Cultural na Administração da Educação: Conceitos de Eficiência, Eficácia, Efetividade e Relevância Anotações O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Wagner Impellizzieri Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos 5 • O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade Você fará um estudo a partir dos conteúdos teóricos sobre o cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade para compreender como se dá a atuação do gestor na rotina dos trabalhos administrativos e pedagógicos na escola, indagando: a) qual o papel da escola na formação dos cidadãos brasileiros e na preparação para o trabalho no contexto da globalização da economia? b) considerando alguns pressupostos, o que entenderemos por gestão “compartilhada” e gestão “democrática”; uma sutil diferença, alterando os resultados finais dos processos, no plano de metas da unidade escolar? c) qual a natureza da atuação e dos critérios de desempenho administrativo na gestão da educação? Para tanto, apresentamos no conteúdo nossas observações e conceituações, sob bases epistemológicas (de vários autores), incluindo algumas leituras de textos diversos no espaço “Conversando com os autores”, em que serão apresentados trechos de pesquisas para o enriquecimento de nossas aulas. · Veremos que por força da ingerência externa dos agentes financiadores da educação no Brasil, como o Banco Mundial, o papel do administrador escolar pode tornar-se desvinculado do papel de gestor educacional. · Há uma dupla atuação em sentidos opostos, conflitante? Servir ao Estado, vinculado ao BM, servir à coletividade? · Escolha entre Gestão partilhada ou democrática. O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade. 6 Unidade: O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade Contextualização Quando estudamos nos textos e na legislação que a educação é dever do Estado e o ensino deve ser ministrado em escola respeitando os princípios da gestão democrática e com a participação da sociedade na construção do projeto pedagógico, como na LDB/1996, devemos ter em mente conceitos que temos adquirido ao longo das experiências dos profissionais da educação no Brasil, no que se referem às ações dos gestores escolares, suas atitudes administrativas que se refletem nos serviços oferecidos à população. Dentro da história do Brasil, a luta pela educação de qualidade passa necessariamente pela construção de uma conceituação menos ingênua quanto à dualidade e o antagonismo das ações educativas no cotidiano da escola, ou seja, devemos considerar inclusa a ideia de escola como instrumento manipulado pelas elites do poder econômico para a formação da sociedade e seu papel importante na conservação dos sistemas nacionais e internacionais de educação (assim como de outros setores da sociedade). O papel dos gestores escolares está significativamente ligado aos interesses das classes dominantes de um lado e, de outro, aos interesses da população que vivencia a realidade da qualidade da educação no país. Alternando seu comportamento administrativo e pedagógico de acordo com as pressões que lhe são oferecidas, ora pelas imposições das políticas públicas, ora pela cobrança da comunidade estudantil e do entorno da escola, o diretor e sua equipe vêem-se capitulados pela força que for mais contundente. No entanto, há uma forma mais incisiva de gestão que poderá exercer força suficiente para alcançar o equilíbrio, justo e necessário, para que o conflito interno seja produtivo para a escola. Qual é, então, essa forma de educação mais saudável e viável para o bom desempenho escolar? A democratização do ensino e da gestão escolar. Estudaremos, nesta Unidade III, como se pensa educação escolar num desdobramento conceitual dado por alguns autores, referente ao que se considera gestão “compartilhada” e gestão “democrática”. A primeira sugere uma direção que “autoriza” ou “convida” a comunidade a colaborarcom seu projeto na intenção de alcançar suas metas dentro do que já está construído. A segunda, mais participativa, comporta-se de forma dialogal e aberta a que a sociedade estude e crie seu projeto pedagógico coletivamente. Ambas com propósitos operacionais semelhantes. Mas com uma sutil diferença, alterando os resultados finais dos processos, no plano de metas da unidade escolar. Convidamos você a discutir um modelo de gestão que caminhe na direção da “[...] construção de um espaço público de direito, que deve promover condições de eqüidade, garantir a estrutura material para um serviço de qualidade, criar um ambiente de trabalho coletivo que vise à superação de um sistema educacional seletivo e excludente” (ABICALI, 1995. In: SOUZA, 2001, p.244). Uma escola de qualidade é fruto de uma gestão de qualidade que, por sua vez, pressupõe ao gestor uma formação intelectual e profissional com base na práxis educativa, na experiência da relação teoria-prática dentro do contexto sociopolítico e cultural em conjunto com a comunidade escolar de forma democrática. A conjugação de elementos constitutivos de uma sociedade democrática fará, certamente, a diferença face à triste realidade em que se encontram o sistema de educação no Brasil e as escolas públicas no seu cotidiano, especialmente no que tange às suas diversas carências. 7 Os esforços, portanto, para a conquista de uma estrutura e organização escolares que visem ao aprimoramento dos profissionais da educação, da melhoria da qualidade dos processos ensino-aprendizagem e das possibilidades de inserção da sociedade civil na construção do seu projeto pedagógico, requerem dos pedagogos interação com demais ciências do conhecimento a fim de que adquiram capacidades intelectuais suficientes para a autonomia de decisão, sem a qual não há gestão. 8 Unidade: O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade A gestão da educação no contexto da globalização da economia, historicamente, desde o período do pós Segunda Guerra Mundial, tem assumido um importante papel no cenário da recuperação do processo de desenvolvimento técnico e científico, da produção de bens materiais, culturais e de consumo, bem como no desenvolvimento das relações de trabalho. O que, para tanto, vale-se da administração escolar, visando adequar intelectual, cultural e tecnicamente a sociedade ao mundo do trabalho e suas relações sociais. A administração escolar, em seu papel organizador e funcional, situa-se num lugar de difícil identificação em relação ao projeto pedagógico da escola quando ele é construído democraticamente, ou seja, com a participação da comunidade escolar. Isso porque há uma forma de se gerir a escola com a comunidade quando consideramos pais, alunos, funcionários e professores parte da gestão. Outra forma de geri-la, do ponto de vista da autoridade pessoal e representativa de poder centralizado, é quando consideramos o gestor voltado ao cumprimento de metas e normas exclusivamente emanadas por autoridades externas à escola. Quando olhamos para a escola como um espaço privilegiado de construção e reconstrução de saberes acumulados e suas funções precípuas as de formação do cidadão pleno, de consciência, de intelectualidade, de cultura, de identidade própria, social e eticamente organizada, estaremos situando essa instituição como um lugar de diversidades de opiniões, geradora de diversos conflitos, exatamente por se tratar da relação de ajustes de interesses individuais e coletivos. Ao mesmo tempo, estaremos situando-a no papel de promotora do diálogo e das interações sociais, necessárias para a promoção das transformações e do desenvolvimento humano pleno que só se constroem a partir dessas relações conflituosas. Há, então, duas funções próprias da escola, uma que se volta para a gestão escolar estritamente ligada aos interesses das autoridades externas e outra que se volta aos interesses da sociedade local? Em tese, não. Isso porque a legislação é esclarecedora quanto aos princípios e fins da educação nacional e, consequentemente os papéis da escola, em que se prevê o “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (LDB/1996). Mas, de fato, há uma vinculação entre escola e os poderes públicos, os governos locais, sejam nos Estados, Municípios, Distrito Federal ou de iniciativas privadas que, apesar de representarem o fruto das conquistas sociais e políticas no Brasil, as determinações legais, também representam o instrumento necessário para a formação da sociedade dentro dos interesses das elites do poder econômico mundial. A luta pela educação de qualidade passa necessariamente pela conceituação menos ingênua quanto à dualidade da ação educativa no cotidiano da escola, ou seja, devemos considerar inclusa a ideia de escola como instrumento manipulado pelas elites do poder econômico para a formação da sociedade e seu papel importante na conservação dos sistemas nacionais e internacionais de educação (assim como de outros setores da sociedade). Particularmente, no caso do desenvolvimento econômico da América Latina e do Brasil, no contexto do desenvolvimento do capitalismo internacional e de suas transformações, a escola tem importante função. Daí a preocupação quanto ao papel duplo da gestão educacional e a prática da administração escolar no desempenho de suas funções ao ofertar serviços à comunidade, esbarrando num grande conflito entre sua vocação e sua efetiva atuação. 9 Por isso a administração escolar deve estar atenta aos pressupostos teóricos que norteiam a educação, os sistemas educacionais e as políticas de Estado ligadas aos determinantes externos da economia globalizada, uma vez que sua atuação e suas decisões, no âmbito da unidade escolar serão mais ou menos comprometidas com os grupos que sobre ela exercerão maior ou menor pressão. Como norteador da autoavaliação em relação ao papel que exerce naquela comunidade, é necessário considerar as constantes indagações e críticas feitas pelos profissionais da educação, seus especialistas, assim como pela sociedade, quando ela vier a participar de forma democrática no interior da escola. Cabe aqui um desdobramento conceitual dado por alguns autores, referente ao que se considera gestão “compartilhada” e gestão “democrática”; uma sutil diferença, alterando os resultados finais dos processos, no plano de metas da unidade escolar. Vejamos por parte. Primeiramente, consideremos o conceito e o comportamento ligados à “gestão compartilhada”, que procura buscar parceiros para ajudar e socorrer as necessidades mais imediatas da escola, com oferta de aporte material, financeiro ou humano, momentâneo e imediato, considerando, inclusive, ações espontâneas e voluntárias da comunidade. Essas posturas de gerenciamento são bem mais íntimas das políticas de governos e dos grupos de interesses econômicos, próprios do sistema capitalista, chamados de neoliberais, que agem tanto pelas vias não democráticas e do descompromisso social e, por outro, pelas vias do financiamento internacional para a educação. Exemplo desse grupo financiador, o Banco Mundial, que adota a partir da Segunda Guerra Mundial a política de ajuda financeira aos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, especialmente os da América Latina e Brasil, com objetivo específico de incentivar as reformas governamentais para os setores sociais como Educação, Saúde, Moradia, Alimentação. No caso da educação, como os investimentos foram aumentando significativamente ao longo dos anos de 1970 até os anos de 1990, o retorno esperado, no escopo da teoria do capital humano, deveria ser controlado pelos governos que são os gestores do sistema educacional. Esses o fizeram, por sua vez, controlando rigidamente os gestores escolares em cada região do país. O controle exercido pelos governos, apartir das políticas públicas de educação, passa necessariamente pela questão da qualidade educacional como meta a ser alcançada, mas qualidade do ponto de vista dos investidores econômico. Leia, logo após, na Atividade Reflexa de Aprofundamento, o que nos escreve Rosa María Torres em “Melhorar a qualidade da educação básica? As estratégias do Banco Mundial”, com tradução feita por Mónica Corullón em “O Banco Mundial e as Políticas Educacionais” de Sérgio Haddad, Mirian Jorge Warde e Livia De Tommasi (2000, p. 127-128), para entender como as políticas externas agem sobre as internas no Brasil. Diálogo com o Autor Embora a visibilidade do Banco Mundial no setor educativo seja recente, ele vem trabalhando de forma direta neste setor há mais de trinta anos, ampliando cada vez mais seu raio de influência e ação e abran- gendo atualmente as atividades de pesquisa, assistência técnica, assessoria aos governos em matéria de políticas educativas, assim como prestando ajuda para a mobilização e coordenação de recursos externos para a educação (TORRES, In: HADDAD; TOMMASI, 2000, p. 127). 10 Unidade: O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade Com as políticas de contratos de financiamentos externos contraídos entre os países participantes do Fundo Monetário Internacional, agenciados pelo Banco Mundial, adotadas pelos governos latino-americanos e pelo Brasil, são determinadas as ações dos sistemas educacionais, tanto no nível Federal quanto nos níveis dos governos locais, implicando, consequentemente, nas tomadas de decisões e nas ações dos gestores escolares, tendo em vista o excessivo controle feito pelas políticas públicas dos governos locais. Outro exemplo de determinação de controles a serem exigidos pelo agente financeiro (BM) internacional é o que encontramos nos relatórios do Banco Mundial, cujos resumos estão na obra de Fuller e Clark (1994), em que se verificam a ênfase nas questões voltadas primeiramente ao aumento de tempo e permanência da criança na escola, o que chamam de tempo de instrução, em segundo lugar a oferta de livros didáticos, vistos como expressão operativa do currículo e, em terceiro, o conhecimento dos professores. Este último não implica em melhoria salarial ou das suas condições de trabalho. Estas apareciam como últimas prioridades indicadas pelo Banco. Esses fatores, considerados “insumos”, determinam a qualidade melhor e melhoria do aprendizado dos alunos. “A qualidade educativa, na concepção do BM, seria o resultado da presença de determinados “insumos” que intervêm na escolaridade. [...] consideram-se nove fatores de um aprendizado efetivo, nesta ordem de prioridade que revelariam uma correlação e um efeito positivos.” (TORRES, 2000, p.134). São esses os insumos citados pelo Banco: 1. biblioteca; 2. tempo de instrução dos alunos; 3. tarefas de casa; 4. livros didáticos; 5. conhecimentos dos professores; 6. experiência do professor; 7. laboratórios; 8. salários dos professores; 9. tamanho das classes. Esses fatores, situados em ordem de prioridades, não recebem, de fato, investimentos iguais e nem se exerce um controle igual sobre cada um, passando a ser observado cada item na sua particularidade e na sua ênfase, de acordo com as análises que o Banco venha a fazer. Ou seja, para as questões do salário dos professores e o tamanho das classes, por exemplo, o Banco não considera como “insumos” importantes, mas, ao contrário, considera que devem ser minimizados em seus gastos, como podemos ver: Diálogo com o Autor A relação professor-aluno é uma medida global de eficiência de pessoal [...]. As escolas dos países de baixa renda média renda poderiam diminuir custos e melhorar a aprendizagem aumentando o coeficiente professor-alunos. Utilizariam menos mestres e poderiam transferir recursos para outros in- sumos que melhoram o rendimento, como livros didáticos, e a formação dos professores em serviço. [...] porque os gastos com pessoal docente normalmente representam cerca de dois terços do gasto em educação. (BANCO MUNDIAL, 1996, p.4. In: SOUZA, 2005, p.109) 11 Nesse sentido, podemos ver que as relações de políticas internas governamentais em cada país favorecido pelos investimentos externos, circunscrevem-se no âmbito das necessidades e imposições dos países ricos, gestores dos fundos internacionais, como o Banco Mundial, agente derivado do Fundo Monetário Internacional – FMI. Assim, as políticas públicas de educação vinculam-se à função de produção, no sentido econômico de seus resultados. Ou seja, “o processo educativo compreende como “produto” os níveis de aprendizagem e, como “insumos” as variáveis que se associam aos resultados. O que leva ao BM oferecer mecanismos de avaliação da instituição escolar, onde os gestores se vêem obrigados e induzidos a cumprir. Diálogo com o Autor As medições de rendimento têm três aplicações políticas e pedagógicas; podem ser utilizadas para controlar os avanços da implementação de metas educacionais, avaliar a eficiência de políticas e programas, responsabilizar as escolas pelo rendimento dos alunos, selecionar estudantes e outorgar certificados. (Banco Mundial, 1996ª. In: SOUZA, 2005, p.109) Por esses motivos, podemos perceber que o conceito de gestão compartilhada só cabe nas estruturas educacionais onde as influências e determinações são centralizadas nos governos, a partir dos interesses dos agentes financiadores da educação, em que os gestores escolares não encontram possibilidades de gerirem democraticamente suas instituições uma vez que não podem extrapolar os limites impostos e permitidos, já que não se permitem que decisões importantes sejam tomadas pela coletividade, pela comunidade, ou seja, não há autonomia de ação administrativa. Da gestão compartilhada temos que esse tipo de participação, segundo Melo (2001, p.246), é na verdade “dever de ofício para uns e voluntariado para outros, revelando uma concepção que se afasta da idéia de controle social e se aproxima do conceito de gerência”. Nesse sentido, a autora sintetiza a ideia de dominação da direção escolar sobre a ação política e de empoderamento da sociedade, anulando sua capacidade interventora quando essa participa efetivamente das decisões e planejamento do projeto pedagógico. Ao contrário, nesse modelo de gestão compartilhada, a direção não precisa se preocupar com a conscientização crítica dos participantes, pois “para compartilhar a gestão não é preciso explicar a situação precária em que se encontra a escola pública, nem tampouco identificar os responsáveis e os determinantes desse quadro [...] é bastante comprovar que a realidade é grave e precisa ser resolvida, estando a solução nas mãos da comunidade que, irá buscar os meios possíveis para melhorar o desempenho e a imagem da escola.” (MELO, 2001, p.246). Daí que, nesse modelo de gestão compartilhada, não há espaço para que a comunidade escolar – incluídos pais, professores, profissionais da educação e alunos – defina os objetivos relevantes e de interesse coletivo, nem construam seu projeto pedagógico da escola. Quanto ao currículo programático, incluso no projeto, fica igualmente prejudicado, tendo que aceitar a imposição de currículos criados por pessoas de fora da escola, a exemplo dos especialistas que trabalham nos departamentos das secretarias de Estado e que, muitas vezes não consideram as realidades locais e as experiências da comunidade local em cada escola. 12 Unidade: O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade O outro modelo de gestão é a democrática, que encontra e oferece espaços para a participação da sociedade na organização e definição dos objetivos da escola, dentro do interesse coletivo. Isso não é tarefa fácil, mas é viável quando os gestores, de um lado, e os pais e alunos, de outro, interagem no mesmo sentimento de pertencimento e deco-responsáveis pela qualidade educacional e pelo desempenho dos alunos, professores e funcionários da escola. Todos, portanto, num mesmo sentido, numa mesma direção. Não significa, no entanto, que todos tenham as mesmas aspirações ou os mesmos desejos e interesses, uma vez que a diversidade e a pluralidade caminham juntas e dinamicamente alternadas, numa relação conflituosa absolutamente administrada pelas lideranças. Vejamos o que o autor Carlos Abicalil (1995) nos traz: Exatamente na construção de um espaço público de direito, que deve promover condições de eqüidade, garantir a estrutura material para um serviço de qualidade, criar um ambiente de trabalho coletivo que vise à superação de um sistema educacional seletivo e excludente e ao mesmo tempo faça a inter- relação desse sistema com o modo de produção e distribuição de riqueza com a organização da sociedade civil, com a organização política, com a definição dos papeis dos Poderes Públicos, com as teorias do conhecimento, as ciências, as artes, as culturas. (ABICALI, 1995. In: SOUZA, 2001, p.244). Temos, nesse fragmento de texto, uma visão de responsabilidade profissional em relação ao papel do gestor escolar, que apresenta como pressuposto básico a melhoria da qualidade do ensino no seu aspecto mais abrangente e moral, atributos que poderão ser assumidos com maior facilidade quando incluir no seu comportamento e cultura a gestão democrática. Nesse sentido, o gestor adota um conceito de educação voltado para o desenvolvimento das capacidades criativas, intelectuais e culturais do cidadão estudante e dos membros da comunidade que na escola participam. Uma visão mais política e cultural, portanto, com uma postura ética de função administrativa, ou seja, função específica, dentro das necessidades educacionais do ser humano, fora do contexto economicista, de formação de capital humano. Quando as metas de um projeto político pedagógico são construídas a partir da participação de todos, no interior da escola, corrigem-se metas impostas pelos governos que se apóiam nas políticas neoliberais, que são calcadas “no pragmatismo dos resultados estatísticos e na paranóia da otimização e da eficiência a qualquer custo” (SOUZA, 2001, p.247). Nesse modelo não existe a figura do “voluntário” que, não obstante estar na escola com a maior das boas intenções, é manipulado pela direção e pelas autoridades de governo dentro dos objetivos e metas econômicas, burocráticas e não pedagógicas, mas, ao contrário, existe a pessoa com objetivos e comportamentos pré-definidos em colegiado, com funções específicas distribuídas de acordo com cada capacidade e disponibilidade vocacional, num contexto de co- responsabilidade e participação efetiva. Aqui cabe uma observação quanto aos cuidados que se devem ter com os voluntários nas escolas; eles são de toda ordem e vão desde as tarefas a eles oferecidas, muitas vezes próprias de profissionais da educação que se preparam especialmente para um determinado fim, até tarefas próprias da direção, como alguns serviços burocráticos, e tarefas como limpeza, manutenção, vigilância de corredores e salas de aula, sendo, para esta última, considerados “inspetores de alunos”. 13 Outras tarefas e serviços que lhes são atribuídos por causa da carência ou falta de pessoal, acabam cumprindo. Os cuidados a que nos referimos são porque, apesar de a distribuição de tarefas aos voluntários resultar em minimização dos problemas de gestão e resolver muitos outros, provocados pelas inúmeras carências do equipamento público, não desonerará a responsabilidade do Diretor de Escola. Ao contrário, em caso de acidentes sobre um desses voluntários, a responsabilidade será imputada diretamente ao gestor, como pessoa física e não como representante de Estado. No caso de acidentes envolvendo funcionários e pessoas oficialmente ligadas à instituição, a direção responderá como representante do Estado, sem prejuízos à sua pessoa. O que fazer? Na gestão democrática e participativa, as pessoas, pais, alunos, professores e outros são arregimentados oficial e legalmente nos colegiados como Associação de Pais e Mestres, Conselhos de Escola, Grêmios Estudantis e outros que venha a se constituir por eleições e documentação próprias. A forma democrática de gestão corresponde ao que a Lei de Diretrizes E Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96, indica em seu Artigo 3º nos Incisos VIII, X e XI: Artigo 3º - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; X – valorização da experiência extra-escolar; XI – vinculação entre educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Dentro desse modelo de gestão democrática, com a inclusão da sociedade e sua efetiva participação, há diversas formas de organização escolar previstas, autorizadas e amparadas por lei, como no caso dos Conselhos Escolares e das Associações de Pais e Mestres. Dessa forma, a proposta de uma escola democrática terá um diferencial daquela proposta indicada por agentes externos da escola. Isso fará grande diferença nos resultados do processo ensino-aprendizagem. “Nesse aspecto, a proposta da escola, democraticamente discutida, implementada, gerida e avaliada, vai fazer a grande diferença” (SOUZA, 2001, p. 253). Dentre os indicadores, apresentados no texto de Maria Teresa Leitão de Melo (2001, apud SOUZA, 2001, p.253) para uma organização escolar no modelo democrático, com algumas alterações e adaptações textuais que fazemos, encontram-se os seguintes: 1. Autonomia escolar, que significa a capacidade que a escola e seus participantes têm de construir suas alternativas com base nas reflexões internas, avaliações internas e construção do projeto político pedagógico; 2. descentralização de poder, que consiste em distribuição de atribuições e responsabilidades entre os participantes do processo de ensino. Isso divide responsabilidades que são controladas pela hierarquia, no caso a direção que funciona como liderança de grupo; 3. participação nos Conselhos e Colegiados, quando feita de forma legal, prevê a 14 Unidade: O cotidiano da Gestão Escolar: perspectivas e possibilidades na Contemporaneidade abertura de Editais de convocação social, pública e aberta a todos que queiram e se sintam chamados ao trabalho escolar. A função dessa representatividade não se limita a apoiar os projetos de governos, ou quaisquer outros que venham de fora da escola, mas avaliá-los quando interessante para a coletividade, criar novos sempre que necessário para o pleno desenvolvimento do projeto pedagógico coletivo. Essa participação empodera a sociedade de forma que os governos possam reavaliar suas políticas educacionais; 4. controle da sociedade sobre a gestão, que significa uma co-participação nos controles, nas metas, nas avaliações, na utilização e prestação de contas dos recursos materiais e financeiros e suas destinações de acordo com os objetivos coletivos; 5. processo de eleição da gestão, que não se dá, na atualidade, por força dos concursos públicos para efetivação do quadro de direção ou outro cargo gestor, mas que pode ser aplicado aos cargos eletivos como Professor Coordenador Pedagógico, Vice-Diretor, Assistente de Direção, Coordenador Vocacional, Diretores de colegiados, Presidentes de Comissões etc., muito comuns em escolas privadas e públicas. Mesmo no caso de escolas púbicas, em alguns estados e municípios o processo de assunção de cargos diretivos se faz por meio de eleições, o que vem constituir importante elemento de participação pública; 6. inclusão de projetos e outros segmentos sociais se dão a partir da construção do projeto pedagógico que incluirá projetos criados e eleitos como relevantes pela coletividade. Outros projetos sociais, criados por pessoas e grupos fora da escola, podem ser incluídos no programa e no currículo da escola, desde que avaliado e planejado em grupo,
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