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TEORIA E FUNDAMENTOS DO FUTEBOL E FUTSAL Mylena Aparecida Rodrigues Alves E d u ca çã o T E O R IA E F U N D A M E N T O S D O F U T E B O L E F U T S A L M yl en a A p ar ec id a R od rig ue s A lv es Curitiba 2019 Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal Mylena Aparecida Rodrigues Alves Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. A474f Alves, Mylena Aparecida Rodrigues Teoria e fundamentos do futebol e futsal / Mylena Aparecida Rodrigues Alves. – Curitiba: Fael, 2019. 239 p.: il. ISBN 978-85-5337-073-3 1. Futebol I. Título CDD 796.334 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Thaiview Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Generalização e especialização do treinamento em esportes | 7 2. História e evolução do futebol e futsal | 29 3. Fundamentos do futsal e do futebol de campo | 47 4. Jogar conforme as regras | 71 5. Caracterização dos princípios táticos | 97 6. Pirâmide dos elementos do treinamento esportivo | 119 7. Periodização do treinamento | 139 8. Metodologia do ensino do futebol e futsal | 165 9. Exercícios específicos | 181 10. Revista Brasileira de futsal e futebol: pesquisa bibliométrica | 197 Gabarito | 213 Referências | 229 “O esporte é magia, pois encanta quem aprecia e se torna amor para quem a pratica” (Patricia C. Eickhoff) Olá, querido aluno do curso de Educação Física! Venho por meio dessa obra transmitir um pouco da história, da evolução, dos fundamentos e dos diversos tipos de treinamento das modali- dades de futebol e do futsal, esportes muito difundidos em todo o Brasil. Convido-o a desfrutar do conteúdo feito com muito cari- nho, escrito por alguém que é pesquisadora e apaixonada pelas modalidades aqui tratadas. Carta ao Aluno Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 6 – Na escrita do material, foi tomado todo o cuidado em tratar de assun- tos pertinentes para o desenvolvimento dos futuros profissionais de Edu- cação Física, trazendo ao longo das páginas temáticas atuais e oportunas para os futuros treinadores e conhecedores sobre as modalidades em ques- tão. Ao findar o estudo dos dez surpreendentes capítulos, você será capaz não apenas de transmitir o conhecimento adquirido para os seus atletas, mas de transformar vidas por meio do esporte; encontrará surpreendentes caminhos que o esporte pode traçar na vida de crianças, jovens e adultos. 1 Generalização e especialização do treinamento em esportes O esporte, conhecido também, em países europeus como des- porto, é uma expressão sociocultural da atividade física englobada por manifestações com diferentes objetivos: saúde, melhora na aptidão física, saúde mental, melhora social, desempenho de habi- lidades, entre outros (BOMPA, 2002a; MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007). Segundo Marques, Almeida e Gutierrez (2007), podem-se dividir as manifestações esportivas em dois grandes grupos: 2 sentido da prática – é realizado conforme as intenções e o contexto cultural em que elas se expõem. É subdi- vidida em atividades de lazer – amador e heterogêneo. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 8 – 2 modalidade esportiva – são atividades realizadas sob um caráter competitivo, que possui regras e normas próprias, controladas pelos órgãos superiores da modalidade, e caracterizadas como a busca pelo alto rendimento e profissionalismo na modalidade. Como apresenta na figura 1.1 a seguir: Figura 1.1 - Modelo de concepção das formas de manifestação do esporte ESPORTE Modalidades Esportivas Sentidos para a Prática - Regras - História - Formas de Disputa -Valores Morais - Significado da Prática - Contexto Cultural Forma de Manifestação do Esporte Fonte: Marques, Almeida e Gutierrez (2007). Cabe aos profissionais de Educação Física, portanto, obter o conhe- cimento em qual das duas formas desenvolver o(s) esporte(s) proposto(s). Ele é encarado de diferentes maneiras, por exemplo, em um jogo da Copa do Mundo de Futebol: o esporte para os atletas é trabalho de alta perfor- mance (resultados, vitórias); para os dirigentes, uma indústria (retorno na mídia, lucros com vendas); para os espectadores, um momento de emo- ções, lazer, alegrias ou tristezas. O esporte é um fenômeno que envolve características complexas do indivíduo praticante, o qual interfere na construção e execuções da prática esportiva, capaz de exercer influência sobre a formação do sujeito “por meio da transmissão de valores morais, possibilidades de relacionamento e até de adaptações físicas” (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007, p. 233). – 9 – Generalização e especialização do treinamento em esportes Há uma divisão entre os esportes em categorias, a qual é baseada nos objetivos de treinamento, nas similaridades fisiológicas e nas habilidades do esporte em questão, necessárias para alcançar e certificar um desempe- nho adequado (BOMPA, 2002a). As categorias citadas estão descritas no quadro 1.1 a seguir: Quadro 1.1 – Característica da classificação dos grupos esportivos Categorias/ grupos Descrição Grupo 1 Esportes que necessitam do aperfeiçoamento da coor-denação e da execução perfeita de uma habilidade. Grupo 2 Esporte em que é preciso atingir uma velocidade supe-rior, caso dos esportes cíclicos. Grupo 3 Esportes que necessitam do aperfeiçoamento da força e da velocidade de uma habilidade. Grupo 4 Esportes que necessitam do aperfeiçoamento de uma habilidade realizada em uma competição com oponente. Grupo 5 Esportes que necessitam do aperfeiçoamento da condu-ção de diferentes meios de transporte. Grupo 6 Esportes que necessitam do aperfeiçoamento da ativi- dade do sistema nervoso central (SNC) sob estresse e baixo envolvimento físico. Grupo 7 Esportes que necessitam do desenvolvimento da capaci-dade de participação em várias atividades combinadas. Fonte: Gandelsman e Smirnov (1970). Os esportes como o futebol e o futsal estão enquadrados no grupo 4, em que é necessário ter a capacidade de perceber e agir rapidamente sob situações instáveis. A tomada de decisão depende da velocidade do atleta e da percepção dos movimentos dos adversários.Os esportes coletivos apresentam em sua estrutura de habilidade a forma acíclica; com inten- sidade variada; em que as capacidades biomotoras são a coordenação, a velocidade, a força e a resistência; e a demanda funcional vem do SNC, da capacidade locomotora e da cardiorrespiratória (BOMPA, 2002a). O futebol e o futsal, em relação a sua popularidade, encontram-se como os maiores exemplos de esportes coletivos, sistematizados e com- Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 10 – plexos, os quais exigem boa técnica e boa preparação física. São modali- dades díspares, porém, com suas semelhanças e intercolaborações. Como cita Santana (2018), em relação ao legado que o futsal deixa para o futebol, mesmo sabendo que a origem do futsal veio muitos anos depois da criação do futebol: [...] cada vez mais precocemente, os jogadores de futsal migram para o futebol – há, inclusive, um interesse cada vez maior dos clubes de futebol em tornar o futsal, de forma sistematizada, parte do processo de formação do jogador. [...] muitos fatores convergem na tentativa de explicar isso. Por exemplo, seria a capacidade de o jogador raciocinar rápido e/ou de driblar em espaços curtos? Seria a experiência competitiva, dado o fato de que, desde cedo, disputa competições acirradas? Seria uma boa formação tática individual? Dessa maneira, é importante obter o entendimento de que, apesar de essas duas modalidades serem distintas e englobarem regras diferentes, a presença de um não exclui o outro. 1.1 Treinamento dos esportes coletivos Para atingir bons resultados em qualquerárea é preciso um bom pla- nejamento, muito trabalho e compromisso, e o treinamento esportivo não é exceção. Os atletas que alcançaram o seu maior auge, consequentemente conquistaram muitos títulos, até mesmo foram consagrados os melho- res do mundo, no entanto não atin- giram tal magnitude de um dia para o outro, tampouco de um ano para outro. Por trás de tanto talento houve profissionais capacitados que desen- volveram programas de treinamento bem elaborados durante vários anos. A educação física para o treinamento esportivo deve ser tratada como uma área interdisciplinar, pois envolve várias disciplinas distintas com diver- sos objetivos em comum (figura 1.2). Figura 1.2 – Interdisciplinaridade do treinamento Como cita Santana (2018), em relação ao legado que o futsal deixa para o futebol, mesmo sabendo que a origem do futsal veio muitos anos depois da criação do futebol: [...] cada vez mais precocemente, os jogadores de futsal migram para o futebol – há, inclusive, um interesse cada vez maior dos clubes de futebol em tornar o futsal, de forma sistematizada, parte do processo de formação do jogador. [...] muitos fatores convergem na tentativa de explicar isso. Por exemplo, seria a capacidade de o jogador raciocinar rápido e/ou de driblar em espaços curtos? Seria a experiência competitiva, dado o fato de que, desde cedo, disputa competições acirradas? Seria uma boa formação tática individual? Dessa maneira, é importante obter o entendimento de que, apesar de essas duas modalidades serem distintas e englobarem regras diferentes, a presença de um não exclui o outro. 1.1 Treinamento dos esportes coletivos (PESO 01) Para atingir bons resultados em qualquer área é preciso um bom planejamento, muito trabalho e compromisso, e o treinamento esportivo não é exceção. Os atletas que alcançaram o seu maior auge, consequentemente conquistaram muitos títulos, até mesmo foram consagrados os melhores do mundo, no entanto não atingiram tal magnitude de um dia para o outro, tampouco de um ano para outro. Por trás de tanto talento houve profissionais capacitados que desenvolveram programas de treinamento bem elaborados durante vários anos. A educação física para o treinamento esportivo deve ser tratada como uma área interdisciplinar, pois envolve várias disciplinas distintas com diversos objetivos em comum (figura 1.2). Figura 1.2 – Interdisciplinaridade do treinamento Fonte: elaborada pela autora. Para elaborar programas de treinamento, é essencial ter em mente que a melhor formação é a de longo prazo, para que o desenvolvimento motor e o psicológico alcancem a excelência a longo prazo e não o desgaste a curto prazo. EDUCAÇÃO FÍSICA MEDICINA FISIOLOGIA E BIOLOGIA NUTRIÇÃO PSICOLOGIAFISIOTERAPIA BIOMECÂNICA PEDAGOGIA Fonte: elaborada pela autora. – 11 – Generalização e especialização do treinamento em esportes Para elaborar programas de treinamento, é essencial ter em mente que a melhor formação é a de longo prazo, para que o desenvolvimento motor e o psicológico alcancem a excelência a longo prazo e não o des- gaste a curto prazo. Em países europeus como Rússia, Alemanha e Romênia, a formação geral de crianças é trabalhada por meio dos esportes bases, tais como o Atletismo, que desenvolve as habilidades básicas; a Natação, que desen- volve a capacidade cardiopulmonar e a habilidade de salvar vidas, e a Ginástica, que desenvolve o equilíbrio e a coordenação (BOMPA, 2002a). Esse é um exemplo de como iniciar um programa de treinamento na infân- cia. Não há necessidade de ensinar movimentos complexos, como o drible no futebol e futsal, para a criança, sendo que a ginástica dará a coordenação e o equilíbrio ideais para a idade, de forma muito mais lúdica e prazerosa. No Brasil, entretanto, a realidade é um pouco diferente, pois, na infância e na adolescência, os esportes base a serem trabalhados, em sua maioria, são os esportes coletivos (futsal, voleibol, basquetebol e hande- bol). Recomenda-se que, no primeiro contato com o esporte entre as crian- ças, seja feita uma adaptação para a idade, com o intuito de evitar lesões e o abandono precoce. Os aspectos que devem ser levados em consideração no treinamento para o público infantil são: 2 morfológico; 2 médico-biológico; 2 fisiológico; 2 neuromotor; 2 sociológico; 2 psicológico; 2 cognitivo; 2 maturacional. Para ilustrar, a tabela 1.1 demonstra de forma geral as faixas etárias adequadas para cada momento ao longo do desenvolvimento de algumas modalidades esportivas. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 12 – Tabela 1.1 – Diretrizes para o caminho rumo à especialização Modalidade esportiva Idade para iniciar a prática do esporte Idade para iniciar a especialização Idade para alcançar o alto rendimento Basquetebol 10-12 14-16 22-28 Handebol 10-12 14-16 22-26 Futebol 10-12 14-16 22-26 Voleibol 10-12 15-16 22-26 Fonte: Bompa (2002a). Diante disso, segundo Nadori (apud FERNANDES, 2003), “uma maçã não deve colher-se a meio da sua maturação. O seu sabor nunca será o mesmo.” Assim também ocorre na iniciação esportiva, em que a criança não é um adulto em miniatura, uma vez que o treinamento deve ser prepa- rado conforme a idade em que o indivíduo se encontra. 1.2 Generalização e Especialização no treinamento de esportes coletivos As etapas de formação de atletas baseiam-se na divisão de duas gran- des fases: a Geral e a Especialização. Entre cada fase, encontram-se subfa- ses, como demonstrado na figura 1.3. É importante entender que o modelo criado pelo Phd. Tudor O. Bompa pode variar consideravelmente con- forme a modalidade em questão, visto que o profissional deve con- siderar o seu estado de prontidão para aquela modalidade em vez da idade cronológica. Figura 1.3 – Periodização do treinamento a longo prazo Fonte: Bompa (2002a). – 13 – Generalização e especialização do treinamento em esportes Na Formação Geral, conhecida também como Desenvolvimento Multilateral, devem-se desenvolver habilidades básicas e a capacidade de adaptação. A Iniciação (seis a dez anos de idade) tem como objetivo geral o desenvolvimento de habilidades e do prazer pelo esporte. As orientações do quadro 1.2 ajudarão o profissional na elaboração de programas de trei- namento adequado para essa faixa etária: Quadro 1.2 – Objetivos específicos que o profissional deve atender na subfase da Iniciação Objetivos específicos Descrição 1 Enfatizar o desenvolvimento multilateral, introduzindo-se várias habilidades e exercícios, como correr, saltar, apa- nhar, arremessar, rebater, equilibrar e rolar; 2 Dar a cada criança tempo suficiente para o desenvolvi- mento adequado de habilidades e, ao mesmo tempo, para jogar e para as atividades; 3 Reforçar positivamente crianças que se dedicam e são autodisciplinadas. Reforçar a melhora no desenvolvimento de aptidões; 4 Encorajá-las a desenvolver flexibilidade, coordenação e equilíbrio; 5 Encorajá-las a desenvolver diversas habilidades motoras em meios de baixa intensidade. Por exemplo, nadar em um ambiente maravilhoso para desenvolver o sistema cardior- respiratório, enquanto se minimizam as tensões nas articu- lações, nos ligamentos e no tecido conjuntivo; 6 Selecionar um número adequado de repetições para cada habilidade e incentivar as crianças a desempenhar correta- mente cada técnica; 7 Modificar o equipamento e o ambiente de jogo para um nível adequado. Por exemplo, crianças não têm força para arremessar uma bola de basquetebol de tamanho adulto na cesta de três metros de altura usando a técnica correta. A bola deve ser menor e mais leve, e a cesta, mais baixa; Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 14 – Objetivos específicos Descrição 8 Elaborar exercícios com repetições, jogos e atividades para que as crianças tenham oportunidade de participação ativa máxima; 9 Promover a aprendizagem por experiência ao proporcio- nar às crianças oportunidades de elaborar seusexercícios, seus jogos e suas atividades. Incentivá-las a ser criativas e a usar a imaginação; 10 Simplificar ou modificar as regras para que as crianças entendam o jogo; 11 Incluir jogos modificados que enfatizem estratégias e táti- cas básicas. Por exemplo, se as crianças desenvolverem habilidades individuais básicas como correr, dominar e chutar a bola, provavelmente estarão prontas para jogar, com sucesso, um jogo modificado de futebol ou futsal; 12 Incentivar as crianças a participar de exercícios que desenvolvam o controle da atenção para prepará-las para exigências maiores do treinamento e da competi- ção que ocorrem na subfase da formação esportiva do desenvolvimento; 13 Enfatizar a importância da ética e do jogo justo; 14 Proporcionar oportunidades para meninos e meninas par-ticiparem juntos; 15 Certificar-se de que praticar esportes é divertido; 16 Incentivar a participação no maior número possível de modalidades esportivas. Fonte: Bompa (2002b). A Formação Esportiva (11 anos a 14 anos de idade), tem como principais objetivos: aumentar progressivamente a intensidade de tra- balho e um pequeno direcionamento à modalidade trabalhada, com ênfase na especialização. As orientações do quadro 1.3 ajudarão o pro- fissional na elaboração de programas de treinamento adequado para essa faixa etária: – 15 – Generalização e especialização do treinamento em esportes Quadro 1.3 – Objetivos específicos que o profissional deve atender na subfase da Formação Esportiva Objetivos específicos Descrição 1 Incentivar a participação em diversos exercícios da modalidade esportiva específica e de outras, que ajudarão a melhorar a base multilateral e preparar para a competição na modalidade esportiva escolhida. Aumentar progressivamente o volume e a intensidade do treinamento; 2 Preparar exercícios que introduzam os atletas a estratégias e táticas fundamentais, e forçar o desenvolvimento de habilidades; 3 Ajudar os atletas a apurar e automatizar as habilidades básicas aprendidas durante o estágio de iniciação e apren- der habilidades um pouco mais complexas; 4 Enfatizar a melhora na flexibilidade, na coordenação e no equilíbrio; 5 Enfatizar a ética e o jogo justo durante as competições e as sessões de treinamento; 6 Proporcionar oportunidades a todas as crianças de partici-par em níveis de maior desafio; 7 Introduzir os atletas aos exercícios que desenvolvam a força geral. A base para ganhos de potência e de força no futuro deve começar nesse estágio. Enfatizar o desenvol- vimento de regiões-chave do corpo, sobretudo os qua- dris, a coluna lombar e o abdome, bem como os múscu- los nas extremidades (as articulações do ombro, braços e pernas). A maioria dos exercícios deve envolver o peso corporal e os equipamentos leves, como medicine balls e halteres leves; 8 Continuar o desenvolvimento da capacidade aeróbica. Uma base sólida de resistência permitirá aos atletas lidar, com maior eficácia, com as exigências do treinamento e da competição durante o estágio de especialização; Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 16 – Objetivos específicos Descrição 9 Introduzir atletas ao treinamento anaeróbico moderado. Isso ajudará na adaptação ao treinamento anaeróbico de alta intensidade, que assume maior importância na maioria das modalidades esportivas durante o estágio de especialização. Os atletas não devem competir em eventos que enfatizam excessivo estresse sobre o sistema energético anaeróbico lático, como sprint de 200 metros e corrida rápida de 400 metros no atletismo. Eles são mais adequados para sprints curtos, com menos de 80 metros, que envolvem o sistema energético anaeróbico alático, e eventos de resistência com distâncias maiores, com velocidades menores, como 800 metros ou mais, os quais testam a capacidade aeróbica. 10 Evitar competições que exijam anatomicamente muito do corpo. Por exemplo, a maioria dos jovens atletas não tem desenvolvimento muscular suficiente para desempenhar o salto triplo com a técnica correta. Em consequência, alguns podem sofrer lesões por compressão do choque que o corpo absorve durante a impulsão e a execução do salto propriamente dito; 11 Para melhorar a concentração, introduzir os atletas a exercícios mais complexos. Incentivá-los a desenvolver estratégias para autorregulação e visualização. Introduzir organizadamente treinamento mental; 12 Introduzir os atletas nas diversas situações competiti- vas divertidas que lhes permitam aplicar várias técnicas e táticas. Jovens atletas gostam de competir, porém é importante não enfatizar a vitória. Estruturar as competi- ções para reforçar o desenvolvimento de habilidades. Por exemplo, pode-se basear o objetivo de uma competição de arremesso de dardo na precisão e na técnica e não na distância alcançada pelos atletas com o arremesso; 13 Proporcionar tempo para os atletas brincarem e se sociali-zarem com os colegas. Fonte: Bompa (2002b). – 17 – Generalização e especialização do treinamento em esportes Vale salientar que o treinamento Geral bem trabalhado prepara o atleta para suportar a carga do treinamento específico, o qual será especi- ficado a seguir. A Formação Específica (Especialização), conhecida como Desenvolvi- mento Especializado, trata de atletas com 15 anos a 18 anos de idade. Nessa fase o profissional precisará capacitar os atletas a atingirem o alto nível. Em um cálculo rápido, 60% do treinamento total deve ser voltado a atividades espe- cíficas da modalidade e os outros 40% a atividades com similaridade à moda- lidade principal (para evitar o abandono e as lesões) (PLATONOV, 2008). A especialização não deve ser conceituada negativamente, tampouco há rendimento sem ela. É a etapa que se inicia somente após adquirir expe- riências em diversas modalidades, sempre respeitando o desejo da criança (BOMPA, 2002a). O direcionamento para a especialização de uma moda- lidade esportiva faz parte do processo de formação esportiva. As orienta- ções do quadro 1.4 ajudarão o profissional na elaboração de programas de treinamento adequado para uma boa especialização: Quadro 1.4 – Objetivos específicos que o profissional deve atender na subfase da Especialização Objetivos específicos Descrição 1 Monitorar atentamente o desenvolvimento de atletas durante esse estágio. Eles desenvolverão estratégias para lidar com as maiores exigências físicas e psicológicas do treinamento e da competição. Também são vulneráveis às dificuldades físicas e psicológicas causadas pelo excesso de treinamento; 2 Verificar melhoras progressivas nas habilidades motoras dominantes para a modalidades esportiva, como potência, capacidade anaeróbica, coordenação específica e flexibili- dade dinâmica; 3 Aumentar o volume de treinamento para repetições e exer- cícios específicos, a fim de facilitar o aprimoramento no desempenho. O corpo precisa se adaptar aos incrementos específicos na carga de treinamento com o preparo eficaz para a competição; portanto, agora é o momento para se enfatizar a especificidade; Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 18 – Objetivos específicos Descrição 4 Aumentar a intensidade de treinamento com maior rapidez do que com volume, embora ainda seja preciso aumentá-lo progressivamente. Deve-se preparar os atletas para desem- penharem determinada habilidade, exercício ou repetição com a velocidade e o ritmo adequados. O treinamento deve simular sobretudo as ações que ocorrem durante as competi- ções. Embora a fadiga seja um resultado normal do treina- mento de alta intensidade, é importante que os atletas não cheguem ao estado de exaustão; 5 Envolver atletas no processo de tomada de decisões sempre que possível; 6 Continuar a enfatizar o treinamento multilateral, sobretudo durante a pré-temporada. Mais importantes, porém, é enfati- zar a especificidade e usar métodos e técnicas de treinamento que desenvolvam um alto nível de eficiência específica para o esporte, sobretudo durante a temporadacompetitiva; 7 Incentivar os atletas a se familiarizarem com os aspectos teóricos do treinamento; 8 Enfatizar os exercícios dos músculos que os atletas usam basicamente quando utilizam habilidades técnicas (princi- pais movimentadores). O desenvolvimento de força deve começar a refletir as necessidades específicas da modali- dade esportiva. Atletas que estejam realizando treinamento com peso podem iniciar a prática de exercícios que requei- ram menos repetições e um peso maior. Evitar o treina- mento de força máxima, em que os atletas desempenham menos de quatro repetições de um exercício, sobretudo para aqueles que ainda estão em crescimento; 9 Priorizar o desenvolvimento da capacidade aeróbica para todos os atletas, sobretudo para aqueles que participam de esportes de resistência ou relacionados a ela; 10 Aumentar progressivamente o volume e a intensidade do treinamento anaeróbico. Os atletas são capazes de lidar com o acúmulo de ácido lático; – 19 – Generalização e especialização do treinamento em esportes Objetivos específicos Descrição 11 Melhorar e aperfeiçoar as técnicas da modalidade esportiva. Selecionar exercícios específicos que garantam que os atle- tas desempenharão as habilidades de forma biomecânica correta e fisiologicamente eficaz. Os atletas devem praticar movimentos técnicos difíceis frequentemente durante as sessões de treinamento, incorporá-los aos exercícios táticos específicos e aplicá-los nas competições; 12 Melhorar as táticas individuais e coletivas. Incorporar exercícios específicos para o jogo nas sessões de treina- mento tático. Selecionar exercícios interessantes, exigentes e estimulantes, que requeiram decisões e ações rápidas, concentração prolongada e um alto nível de motivação dos atletas. Eles devem demonstrar iniciativa, autocontrole, vigor competitivo, ética e honestidade no jogo em situações competitivas; 13 Aumentar aos poucos o número de competições, de forma que, ao final desse estágio, os atletas estejam competindo com a mesma frequência que os seniores. Também é importante estabelecer objetivos para as competições que focam no desenvolvimento de habilidades motoras, táticas e aptidões específicas. Embora vencer se torne cada vez mais importante, não se deve dar ênfase excessiva; 14 Os atletas devem praticar o treinamento mental. Estruturar exercícios e repetições que desenvolvam concentração, controle da atenção, pensamento positivo, autorregulação, visualização e motivação para melhorar o desempenho específico para aquela modalidade esportiva. Fonte: Bompa (2002b). E por fim, a fase do Alto Rendimento, parte final do processo de for- mação esportiva, àqueles que anseiam e apresentam as qualidades neces- sárias para obtenção de uma boa performance e recordes, compreende práticas em níveis elevados e um treinamento de alto nível em atletas e equipes, em que se utiliza uma tecnologia avançada. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 20 – É muito visado pela mídia esportiva, conhecido como esporte-espe- táculo, disputado em jogos Olímpicos, ligas nacionais, campeonatos mundiais e circuitos mundiais profissionais. No caso do futebol brasi- leiro, Marta (Orlando Pride – USA) e Kaká (Orlando City – USA) encon- tram-se como os últimos ganhadores do prêmio de melhores jogadores do mundo de futebol. Já no futsal brasileiro encontram-se Amandinha (Leoas da Serra – Brasil) e Falcão (Magnus Futsal – Brasil) como os últi- mos ganhadores do prêmio de melhores jogadores de futsal do mundo. Tais jogadores alcançaram o seu mais alto rendimento, consagrados como os melhores do mundo em sua modalidade, por meio de um programa de treinamento desenvolvido a longo prazo. 1.3 Princípios do treinamento voltado aos esportes coletivos Os princípios de treinamento voltados aos esportes coletivos são baseados nas ciências biológicas, psicológicas e pedagógicas (BOMPA, 2002; BOMPA 2002b). Têm como função, dentro do treinamento espor- tivo: aumento da capa- cidade de trabalho, efetividade de suas habilidades e de suas qualidades psicológi- cas (TUBINO, 1984). Esses princípios serão aqui tratados em sete categorias e devem ser observados, res- peitados e aplicados pelo profissional que se proponha a planejar um programa de treina- mento, visando extrair o melhor de cada atleta e/ou equipe. Figura 1.4 – Princípios do treinamento esportivo PRÍNCIPIOS DO TREINAMENTO INDIVIDUALIDADE BIOLOGICA SOBRECARGA ADAPTAÇÃO CONTINUIDADEREVERSIBILIDADE INTERDEPENDÊNCIA ESPECIFICIDADE Fonte: elaborada pela autora. – 21 – Generalização e especialização do treinamento em esportes 1.3.1 Individualidade biológica Cada indivíduo carrega em sua carga genética a sua individualidade, um ser humano único no universo, e a sua estrutura física e psicológica constrói a sua personalidade. Indivíduos respondem aos estímulos de treinamento de forma distinta, mesmo quando o treinamento é igual (BOMPA, 2002a). Tal princípio é conhecido como a soma do Genótipo (carga gené- tica) com o Fenótipo (respostas ao estímulo após ao nascimento). Envolve aspectos relacionados a(ao): 2 gênero (feminino ou masculino); 2 idade; 2 altura; 2 massa corpórea; 2 profissão; 2 percentual de gordura corporal (%G); 2 tipos de fibras musculares; 2 experiência prévia; 2 técnica de execução etc. No esporte, a genética é muito importante, uma vez que as distribui- ções dos tipos de fibras musculares (contrações rápidas ou lentas) contri- buem para que o profissional observe um melhor desenvolvimento do indi- víduo em um determinado esporte, visto que o indivíduo poderá se destacar melhor em um tipo de exercício físico do que o outro, devido a sua carga genética ser um facilitador na execução de determinados exercícios. 1.3.2 Adaptação No princípio da adaptação ocorre a busca da homeostase pelo orga- nismo. O treinamento esportivo é um estímulo externo que o organismo recebe. Após esse estímulo ocorrerá a adaptação, que resulta em melhora no sistema circulatório, sistema cardiopulmonar, na força muscular e con- sequentemente uma nova estrutura do corpo (DANTAS, 2003). Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 22 – Os estímulos novos que o corpo recebe são capazes de causar estresses e adaptações ao organismo, as quais auxiliam na progressão do treinamento. É importante não exceder os limites de segurança dos estímulos (tabela 1.2). Tabela 1.2 – Tipos de estímulos do treinamento esportivo e suas consequências Tipos de estímulos Consequências Débeis Não acarretam consequências Médios Apenas excitam Fortes Provocam adaptações Muito fortes Provocam danos Fonte: Dantas (2003). Os estímulos fortes e principalmente os muito fortes, denominados de estresse por Selye (1956), causam reações ao organismo. Os estímulos pro- vocam adaptação ou danos, conhecidos como Síndrome de Adaptação Geral (SAG). A SAG é dividida em três fases subsequentes até atingir o limite da capacidade fisiológica de compensação do indivíduo (TUBINO, 1984): 2 reação de alarme – todo o corpo é mobilizado sem o envolvi- mento de algum órgão isoladamente, ou seja, um alerta de pron- tidão geral (susto). 2 fase de adaptação ou resistência – o estresse persiste e a tensão muscular se acumula. O corpo se acostuma com os estímulos gera- dores do estresse e inicia o estado de resistência ou de adaptação. Nesta fase o estresse pode ser direcionado para um órgão especí- fico ou para um determinado sistema (cardíaco, respiratório). 2 estado de exaustão ou esgotamento – esta fase é grave, pois ocasiona uma queda da capacidade adaptativa, na qual o orga- nismo não é mais capaz de equilibrar-se, resultando em uma falência adaptativa. 1.3.3 Progressão da carga (sobrecarga) As progressões da carga são os esforços para se adaptar a um novo nível ou patamar de trabalho, ou seja, aumento da capacidade do músculo – 23 – Generalização e especialização do treinamento em esportes em gerar força solicitada de forma progressiva. A figura1.5 demons- tra os principais recur- sos propostos por esse princípio: o aumento do volume, da intensidade, número de sessões de treinamento e duração de cada sessão, assim como a diminuição do tempo de recuperação. Do início do trei- namento até o alcance do alto rendimento da modalidade, deve-se aumentar de forma progressiva a carga do treina- mento, conforme as capacidades psicológicas e fisiológicas de cada atleta (BOMPA, 2002a). Dentre os tipos de cargas existentes, o presente irá tra- tar da Carga Padrão, da Sobrecarga e da Carga Progressiva, em sequência. A Carga Padrão no treinamento esportivo é trabalhada durante vários meses do ano. No período preparatório do treinamento, tal carga é bem aceita. No momento em que se aproxima o período da competição, ocorre o platô e uma estagnação (figura 1.6). Figura 1.6 – Carga Padrão resulta somente na primeira fase do treinamento Platô Estagnação de desempenho Carga padrão Melhoria de desempenho Período preparatório Período competitivo Fonte: Bompa (2002a). Figura 1.5 – Recursos do princípio da sobrecarga Fonte: elaborada pela autora. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 24 – Na sobrecarga (figura 1.7) ocorrem os estímulos mais fortes para que se eleve o nível do limite da adaptação do atleta. Tal fato é fundamental para que ocorra a evolução progressiva do esporte. Pode ocorrer, entretanto, um prejuízo muito grande na preparação esportiva, caso não haja uma relação satisfatória nas cargas e nos intervalos de descanso (BOMPA, 2002a). Figura 1.7 – Elevação da carga de acordo com o princípio de sobrecarga Incremento de carga Dias de treinamento 4 8 12 16 20 160 140 120 100 80 60 40 200 Fonte: Hellebrant e Houtz (1956); Fox etal. (1989) (apud Bompa, 2002a). A Carga Progressiva é a elevação da carga no treinamento de forma uniforme e contínua, a qual preenche as exigências fisiológicas e psicoló- gicas do atleta. Após elevar a carga, o atleta se adapta e ocorre uma rege- neração como demonstrado na figura 1.8. Figura 1.8 – Elevação da carga de treinamento em degraus Macrociclo 1 Alta Média Baixa 2 3 4 Microciclo Ca rg a Fonte: Bompa (2002a). – 25 – Generalização e especialização do treinamento em esportes 1.3.4 Continuidade Segundo Tubino (1984), o princípio da continuidade baseia-se em duas premissas: 1) o desempenho esportivo só é conquistado depois de alguns anos de treinamento dentro de uma especialização; 2) existem influências bastante significativas em preparações físicas anteriores em quaisquer esquemas de treinamento em curso. Tal princípio não permite a quebra na sistematização do treinamento, ou seja, não permite interrupções negativas durante o período de treina- mento ou na preparação. 1.3.5 Reversibilidade As adaptações e benefícios são transitórios. A interrupção do trei- namento leva à reversibilidade das adaptações já conquistadas, e a ausência da sobrecarga progressiva (novos estímulos nas cargas) tam- bém causa o mesmo efeito. O tempo que o indivíduo leva para reverter os efeitos do treinamento é o mesmo que o treinamento, em uma pre- paração a longo prazo. Essa reversão é feita de forma mais lenta e o inverso é verdadeiro (BARBANTI, 2010). Devido a isso, torna-se importante uma boa preparação geral na infância e na juventude, para que a base seja desenvolvida lentamente e com uma grande variedade motora (BARBANTI, 2010). 1.3.6 Especificidade O princípio da especificidade obedece às características específicas de cada modalidade. Para o treinamento esportivo, as capacidades biomo- toras e o ambiente de treinamento são trabalhados diferentemente em cada modalidade esportiva. Em relação às capacidades biomotoras, deve predominar a capacidade dominante do esporte em treinamento. Por exemplo, na maratona, a capa- cidade dominante é a resistência. Isso não significa que as outras capacida- des não serão trabalhadas em determinadas fases do treinamento. Deve-se melhorar também a velocidade e a força nessa modalidade, porém, em por- Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 26 – centagens menores dentro do planejamento do treinamento. Outro exemplo é o Levantamento de Peso, em que a capacidade dominante é a força. Há também a combinação de duas capacidades biomotoras. Em esportes como natação, canoagem e lutas, é interessante trabalhar a resis- tência juntamente com a força, conhecida como resistência muscular. Além disso, a junção da força com a velocidade gera a potência, que é muito trabalhada no atletismo (saltos e lançamentos) e no vôlei. Quando o produto é a combinação da resistência com a velocidade (em eventos de cerca de 60 segundos), o resultado é conhecido como resistência de velo- cidade. Por fim, quando a agilidade se junta com a flexibilidade, o produto é a mobilidade, muito trabalhada no mergulho, ginástica no solo, caratê e esportes coletivos (como futebol e o futsal) (BOMPA, 2002a). 1.3.7 Interdependência volume/intensidade O princípio da interdependência volume-intensidade são inversa- mente proporcionais e são interdependentes, ou seja, qualquer mudança no volume (quantidade) provocará uma mudança na intensidade (quali- dade) (TUBINO; MOREIRA, 1984, p.108). O volume deve ser trabalhado na preparação básica da modalidade. Essas interdependências do volume com a intensidade podem ser ilustradas por uma gangorra (figura 1.9), quanto mais o volume aumenta, a intensidade diminuiu na mesma proporção inversamente. Figura 1.9 – Gangorra do princípio da interpendência volume-intensidade Volume Intensidade Fonte: elaborada pela autora. – 27 – Generalização e especialização do treinamento em esportes O volume é a quantidade do treinamento, expressa pela soma da carga de trabalho (quilômetros, repetições), a intensidade é a quantidade do treinamento, expressa pelo tipo de carga aplicada (quilogramas, velo- cidade) (TUBINO; MOREIRA, 1984, p.108). Conclusão Nesse contexto, observou-se que o treinamento em esportes coletivos é uma atividade planejada de forma sistematizada e complexa. Não existe uma fórmula mágica para formar uma equipe/atleta campeã mundial. O que existe são apenas metodologias de treinamento, que, se utilizadas cor- retamente, no momento certo, podem resultar em uma performance cam- peã, tanto de um atleta como de uma equipe. Vale salientar que a aplicação do treinamento em crianças requer uma preparação especial, pois engloba uma série de fatores. Quando a criança inicia a formação esportiva e demonstra um diferencial, não precisa neces- sariamente ser tratada como uma pessoa melhor porque joga bem. Em esportes coletivos, o treinador deve fazer com que a criança diferenciada jogue voltada ao coletivo, possibilitando oportunidades para todos, pois o principal objetivo do professor de Educação Física é formar pessoas melhores para sociedade por meio dos esportes. Atividades 1. Explique as duas manifestações esportivas descritas no início do capítulo. 2. Descreva as etapas de formação esportiva e seus respectivos objetivos em cada etapa. 3. Quais os últimos brasileiros eleitos os melhores jogadores do mundo, segundo a FIFA e a AGLA. 4. Exemplifique cada princípio de treinamento voltado ao atleta de futebol e futsal. 2 História e evolução do futebol e futsal O futebol é o esporte coletivo mais praticado no mundo e, desde a sua chegada ao Brasil, vem se popularizando com vigor na sociedade. São diversos os meios de comunicação, tais como: televisão, rádio, jornal, internet e aplicativos para celulares. Esses últimos são os meios que mais oferecem, diariamente, uma série de informações a respeito da seleção nacional, dos clubes esportivos e dos campeonatos nacionais e internacionais. Nesse ambiente, desde cedo, as crianças são incentivadas a torcer por um determinado clube e/ou time, geralmente aquele com o qual os pais se identificam ou da cidade que moram. O futebol exerce um peso muito grande na sociedade bra- sileira. Tal fato é entendido, por exemplo, quandoas cifras são anunciadas nas transferências de jogadores. A indústria do fute- bol movimenta mais de 250 bilhões de dólares americanos por ano (OLIVEIRA, 2012). Além disso, segundo o mesmo autor, no âmbito mundial, estima-se que 75% dos patrocínios esportivos sejam destinados ao futebol. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 30 – O relatório de 2019 elaborado pela Diretoria de Registros, Transfe- rências e Licenciamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), relatou os números em relação à importação e à exportação de jogadores, como demonstra a tabela 2.1, a seguir: Tabela 2.1 – transferências internacionais Brasil exportação* Brasil importação** Jogadores profissionais 792 674 Jogadoras profissionais 40 3 Profissionais como amadores 548 — Amadores como amadores 507 151 Futsal 200 191 * Valores envolvidos: R$ 1.443.307.009 ** Valores envolvidos: R$ 209.767.825 Fonte: CBF. Nesse contexto, torna-se simples o entendimento de que o futebol é o esporte mais popularizado no mundo e no Brasil. A popularidade do esporte se deve ao fato de que ele desperta o fascínio em diversas pessoas de todas as classes sociais. Ademais, é o progenitor de outras modalidades praticadas com o pé. Entre elas, encontra-se o futebol de salão, que atual- mente é conhecido como futsal no Brasil. Nesse contexto, no âmbito popularizado e evolutivo em que o futebol e o futsal se enquadram, o presente capítulo terá como objetivo elencar alguns fatos históricos relevantes das modalidades, bem como desenvol- ver a compreensão da importância no ambiente educacional de crianças e jovens, como um fenômeno social, cultural e econômico. 2.1 História do futebol Entre os séculos XVI e XIX na Europa, a prática esportiva era exclusiva à nobreza, sendo os esportes mais praticados naquela época o arco-e-flecha e equitação, modalidades que simulavam os combates ( OLIVEIRA, 2012). – 31 – História e evolução do futebol e futsal O futebol era considerado um esporte de “passatempo”, desregrado e vulgar. Por ser considerado muito violento, o clero responsabilizou tal prática como a culpada de os fiéis se afastarem da igreja, uma vez que os homens preferiam jogar futebol em vez de ir às missas aos domingos (OLIVEIRA, 2012). Criado na Inglaterra em 1823, o futebol foi registrado oficialmente em 1863 na cidade de Londres, com a criação do Football Association, que registrou as principais regras da mais nova modalidade (OLIVEIRA, 2012). Em 1835, a Inglaterra instaurou uma lei que proibia a prática do fute- bol nas ruas, entretanto houve muita resistência por parte da população (OLIVEIRA, 2012). Após o ano de 1870, os trabalhadores conquistaram o direito de folgar nos sábados à tarde, que foram ocupadas pela prática do mais novo esporte já organizado (OLIVEIRA, 2012). Com o passar dos anos, a prática futebolística foi se disciplinando e despertando o interesse dos pedagogos em utilizar tal modalidade para somar com a educação nas escolas europeias, como também na eco- nomia, que passou a enxergar o futebol como um grande aliado no comércio do capital para todo o mundo ( OLIVEIRA, 2012). Charles Miller, conhecido no Brasil como o “pai do fute- bol”, nasceu em 24 de novem- bro de 1874 em São Paulo, filho de um pai escocês que veio ao Brasil para trabalhar na São Paulo Railway Company, e de uma mãe brasileira descen- dente de inglês. Aos dez anos de idade, foi para a Inglaterra, estu- dar em uma escola pública onde aprendeu a jogar futebol, rugby e críquete (MILLS, 2005). Figura 2.1 – Charles William Miller em 1893 Fonte: CC BY 1.0/Wikimedia. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 32 – Em 1894, o jovem inglês (figura 2.1), retorna e desembarca no Porto de Santos, trazendo em meio as suas bagagens duas bolas, uma bomba para enchê-las, uniformes, apitos e um livro de regras de futebol (AQUINO, 2002). Desde então o esporte foi ganhando força e muita popularidade nas terras brasileiras. Em 14 de abril de 1895, ocorre o primeiro jogo de futebol no Brasil, em Várzea do Carmo-SP, entre duas equipes de ingleses radicados na capital paulista, a qual consagrou a vitória para o São Paulo Railway, time de Char- les Miller, por 4 x 2, em cima da Companhia de Gás (RODRIGUES, 2004). Em sua carreira como jogador em terras brasileiras, Charles Miller recebe destaque no Campeonato Paulista de Futebol, sendo tetracampeão com o São Paulo Athletic nos anos de 1902, 1903, 1904 e 1911, e nos anos de 1902 e 1904, foi o artilheiro da competição, com dez e nove gols, respectivamente (MILLS, 2005). Não somente o Brasil, mas o mundo, estava agraciado com o futebol e, a cada ano, a modalidade foi se especificando e modernizando. Devido a sua popularidade, em 21 de maio de 1904 foi criada a Fédération Inter- nationale de Football Association (FIFA), em Paris (França). Os países fundadores foram França, Espanha, Bélgica, Suíça, Holanda, Dinamarca e Suécia (RODRIGUES, 2004). O futebol não demorou a contagiar todas as classes sociais brasilei- ras. Foi iniciada a prática pelos brancos inseridos em clubes aristocratas dentro das grandes cidades modernizadas, mas logo passou a se populari- zar entre os negros e mulatos, que se organizavam como podiam em times para se enfrentarem, até mesmo os que chegavam à cidade de Santos por embarcações estrangeiras: Enquanto os ricos e brancos jogavam nos clubes elegantes, com equi- pamentos esportivos sofisticados e caros, os negros e pobres joga- vam entre si, com material esportivo velho e improvisado. Porém, a agilidade dos menos favorecidos despertava o interesse das equipes populares recém-formadas, que buscavam alternativas criativas para remunerar esses jogadores, uma vez que tal prática era malvista pela elite que apregoava o amadorismo ( OLIVEIRA, 2012). Em 14 de Abril de 1912, foi fundado o Santos Futebol Clube, em San- tos-SP, por um grupo de esportistas, no salão do clube Concórdia. Nomes – 33 – História e evolução do futebol e futsal como África Futebol Clube, Associação Esportiva Brasil e Concórdia Fute- bol Clube foram cogitados pelos membros da reunião, porém o nome esco- lhido acabou sendo o Santos Futebol Clube (RODRIGUES, 2004). Figura 2.2 – Equipe do Santos Futebol Clube em 1913 Fonte: Laire José Giraud/Santos Futebol Clube/Wikimedia. O Santos Futebol Clube ficou famoso por ter revelado o jogador Edson Arantes do Nascimento (Pelé), o qual foi nomeado pela FIFA o melhor jogador do século e o maior artilheiro da seleção brasileira e do clube. Em anos anteriores à criação do Santos Futebol Clube, já haviam fundado alguns outros clubes de futebol, como demonstra na tabela 2.2 a seguir: Tabela 2.2 – data da criação dos clubes brasileiros antecedentes a 1912 Nome do clube Data de criação Cidade-UF Clube de Regatas Vasco da Gama 21/08/1898 Rio de Janeiro-RJ Sport Club Rio Grande 19/07/1900 Rio Grande do Sul-RS Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 34 – Nome do clube Data de criação Cidade-UF Clube Náutico Capibaribe 07/04/1901 Recife-PE Fluminense Football Club 21/07/1902 Rio de Janeiro-RJ Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense 15/09/1903 Porte Alegre-RS Bangu Atlético Clube 07/04/1904 Rio de Janeiro-RJ Sport Club do Recife 13/05/1905 Recife-PE Sport Club Internacional 04/04/1909 Porto Alegre-RS Coritibano Foot-Ball Club 12/10/1909 Curitiba-PR Sport Club Corinthians Paulista 01/09/1910 São Paulo -SP Guarani Futebol Clube 02/04/1911 Campinas-SP Fonte: Rodrigues (2004). Em 30 de junho de 1953, morre Charles William Miller, considerado o pai do futebol brasileiro, em São Paulo - SP, aos 79 anos de idade. O jogador foi o primeiro artilheiro do Campeonato Paulista de Futebol no ano de 1902 (RODRIGUES, 2004). A possibilidade de mulheres como jogadoras de futebol não agradou aos olhos da população, principalmente às famílias conservadoras. Por esse motivo, a prática do futebol por mulheres foi proibida em seu decreto de Lei n. 3.199, de 14 de abril de 1941, em seu art. 54 que dizia: “Às mulheres não se permitiráa prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. Não suficiente, o Conselho Nacional Desportos regulamentou instruções proibindo as mulhe- res de praticarem esportes, por meio da Deliberação n.º 7 de 1965, em que diz: “Não é permitida a prática feminina de lutas de qualquer natureza, fute- bol, futebol de salão, futebol de praia, polo, halterofilismo e beisebol”. Pouco tempo atrás, mulheres praticantes de algum esporte se depa- ravam constantemente com a frase de Dunning, dizendo que o esporte é “tradicionalmente uma das mais importantes áreas reservadas masculi- nas” (DUNNING, 1992, p. 390), ainda mais quando o esporte em questão é considerado socialmente masculinizado, como o futsal e o futebol (SIL- VEIRA; STIGGER, 2013). – 35 – História e evolução do futebol e futsal As mulheres brasileiras, para chegar ao campo de futebol, dependiam das iniciativas e subversão isoladamente. Até que no ano de 1979, o fute- bol para as mulheres deixou de ser proibido, o que possibilitou a criação dos primeiros campeonatos às damas (REIS; ARRUDA, 2011). Desde então, o futebol feminino foi se modificando e se profissiona- lizando nas questões técnicas e táticas, até que, nas Olimpíadas de Atlanta em 1996, o Brasil conquistou o seu mais valoroso quarto lugar, mostrando o quanto as mulheres poderiam surpreender o país. Trataremos de forma mais aprofundada sobre as mulheres em campo, nos capítulos adiante, pois tal assunto é de extrema importância por carregar fatos históricos fortes em que descrevem as mulheres atualmente, e o deta- lhamento do assunto torna-se uma peça fundamental para os profissionais lidarem com tal modalidade dita “masculinizada” para o público feminino. 2.2 Copa do Mundo e os jogadores Em se tratando das competições que a FIFA organiza, a Copa do Mundo é o maior evento internacional de uma única modalidade, a qual é disputada por seleções masculinas a cada quatro anos, sendo a última edição, em 2018, na Rússia, com os franceses como os campeões. A última Copa do Mundo que o Brasil sediou foi em 2014, uma vez que a primeira foi em 1950. Em complemento do presente tópico, a tabela 2.3 apresenta os melho- res jogadores do mundo em um período de 18 anos de história. Observa- mos o destaque de quatro brasileiros: Ronaldo Luís Nazário de Lima, em 2002, Ronaldo de Assis Moreira, em 2004 e 2005, Ricardo Izecson dos Santos Leite, em 2007, e a “Rainha” Marta Vieira da Silva em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018. Tabela 2.3 – Melhores jogadores(as) de futebol do mundo e seus países (2001-2018) Ano Feminino Masculino 2001* Mia Hamm (EUA) Luís Figo (Portugal) 2002 Mia Hamm (EUA) Ronaldo (Brasil) 2003 Birgit Prinz (Alemanha) Zinedine Zidane (França) Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 36 – Ano Feminino Masculino 2004 Birgit Prinz (Alemanha) Ronaldinho (Brasil) 2005 Birgit Prinz (Alemanha) Ronaldinho (Brasil) 2006 Marta (Brasil) Fabio Cannavaro (Itália) 2007 Marta (Brasil) Kaká (Brasil) 2008 Marta (Brasil) Cristiano Ronaldo (Portugal) 2009-2010 Marta (Brasil) Lionel Messi (Argentina) 2011 Homare Sawa (Japão) Lionel Messi (Argentina) 2012 Abby Wambach (EUA) Lionel Messi (Argentina) 2013 Nadine Angerer (Alemanha) Cristiano Ronaldo (Portugal) 2014 Nadine Kebler (Alemanha) Cristiano Ronaldo (Portugal) 2015 Carli Lloyd (EUA) Lionel Messi (Argentina) 2016** Carli Lloyd (EUA) Cristiano Ronaldo (Portugal) 2017 Lieke Martens (Holanda) Cristiano Ronaldo (Portugal) 2018 Marta (Brasil) Luka Modric (Croácia) * Foi o primeiro ano que a FIFA premiou uma mulher, como melhor jogadora. Vale salientar que na América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México), o futebol é visto como um jogo para mulheres. **A partir de 2016 a premiação foi denominada de The Best FIFA Football Awards. Fonte: elaborada pela autora. A tabela 2.3 representa o quanto o futebol tem história e influência no mundo, pois trata de grandes atletas da modalidade. Além disso, o Brasil é o único país, até o momento, com cinco títulos mundiais (FIFA, 2019), tendo reconhecidamente jogadores no cenário de melhores do mundo, entre eles a jogadora Marta, que sozinha obteve 33,33% dos títulos entre as mulheres. Ganham destaque também os jogadores Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro (Portugal) e Lionel Andrés Messi Cuccittini (Argen- tina), os quais juntos obtiveram 10 títulos mundiais no período de 2008 a 2017. – 37 – História e evolução do futebol e futsal 2.3 História do futsal A origem do futsal foi um pouco diferente da do futebol, tanta que levanta grande polêmica. O que se sabe é que, por volta do ano de 1930, o Uruguai foi o país que redigiu as primeiras regras e condutas, mais especi- ficamente a Associação Cristã de Moços de Montevidéu (ACM). Ao Bra- sil, coube a responsabilidade do seu desenvolvimento e organização como modalidade esportiva (VOSER; GIUSTI, 2002, p.41). Alguns documentos comprovando a paternidade do futsal dada ao Uruguai são de fato existentes, dando assim o direito de serem os precur- sores da modalidade, diferente do Brasil (ESTIGARRIBIA, 2005). Não sendo o foco do presente, porém, apresentar o real precursor da modalidade, a seguir serão apresentados os fatos marcantes da história do futsal e seus principais jogadores. O futebol se popularizou de forma descontrolada, faltando até mesmo campos de várzeas para sediarem pequenos jogos, fazendo com que fal- tassem espaços suficientes para todos jogarem. Segundo Voser (1998), os praticantes do futebol se obrigaram a adaptar-se a jogar em espaços meno- res e, consequentemente, reduzir a quantidade de números de jogadores, criando, assim, novas regras específicas para as novas dimensões surgidas. Por volta de 1933, o futebol de salão surgiu pela mistura do futebol de campo, basquetebol, handebol e polo aquático (VOSER, 1998). Por exemplo, nota-se a similaridade do basquetebol com o futebol de salão, pois ambas as modalidades são enfrentadas de forma coletiva, tendo o mesmo número de jogares em quadra, ocorrendo contato físico e os siste- mas táticos muito próximos (VOSER, 1998). Na década de 1950, ocorreram os primeiros momentos dos proces- sos de institucionalização do esporte, juntamente com o surgimento da primeira federação: Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro (VOSER, 1998). No ano de 1955, o futebol de salão encontrou o Paraná por meio do radialista Milton Camargo Amorim, que, ao se deparar com a modalidade no Rio de Janeiro, teve a ideia de trazer às terras paranaenses. Desde então, houve uma grande aceitação, da mais nova modalidade, pelo público Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 38 – paranaense. Em 10 de fevereiro de 1956, foi criada a federação do estado que teve os seguintes clubes fundadores: Água Verde, Alvorada, América do Sul, Atlético Irapuan, Atlético Paranaense, Atlético Paranaense Júnior, Bandeirantes, Coritiba F. Clube, Fiorentina, Gaviões Solitários, Jacare- zinho, Palestra Itália, Pinguim, Senadinho, Senff e Terwal (FPFS, 2019). A partir da década de 1980, criaram-se os primeiros campeonatos em nível americano e mundial, tendo os brasileiros como os campeões (1982, 1985, 1989). No ano de 1990, ocorreu a maior mudança da modalidade: a fusão do Futebol de Cinco (FIFA) com o Futebol de Salão (FIFUSA – Federação Internacional de Futebol de Salão), a qual originou o Futsal. As regras foram alteradas nos anos seguintes (VOSER, 1998). Atualmente, o futsal é a modalidade mais praticada no Brasil (VOSER, 2002; CAMARGO; HIROTA; VERARDI, 2008; DIAS et al., 2007), e atraindo cada vez mais praticantes (RIBEIRO et al., 2003). E assim se originou o futsal, uma modalidade com um valor imensu- rável na educação física escolar (ZAREMBA; NAVARRO, 2016), a qual se adaptou em um pequeno espaço e vem se reinventando para possibilitar maior acessibilidade a crianças e jovens em diversas regiões do Brasil.A tabela 2.4 a seguir apresenta dados interessantes dos jogadores de alto rendimento da modalidade de futsal, trazendo os ganhadores do título de melhores jogadores do mundo da modalidade. Entre os melhores do mundo se destacam três brasileiros: Vanessa, melhor do mundo em 2010, 2011 e 2012; Falcão, melhor do mundo em 2004, 2006, 2011 e 2012; e Amandinha, melhor do mundo em 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018. Tabela 2.4 – Melhores jogadores (as) de futsal do mundo e seus países (2001-2018) Ano Feminino Masculino 2001 - Manoel Tobias (Brasil) 2002 - Manoel Tobias (Brasil) 2003 - Foglia (Itália-Brasil)* 2004 - Falcão (Brasil) 2005 - Javi Rodriguez (Espanha) 2006 - Falcão (Brasil) – 39 – História e evolução do futebol e futsal Ano Feminino Masculino 2007 Eva Manguan (Espanha) Shayakhmetov (Rússia) 2008 Cilene (Brasil) Flávio Sergio Shumacher (Brasil) 2009 Alina Gorobets (Ucrânia) Kike (Espanha) 2010 Vanessa (Brasil) Ricardinho (Portugal) 2011 Vanessa (Brasil) Falcão (Brasil) 2012 Vanessa (Brasil) Falcão (Brasil) 2013 Lu Minuzzo (Brasil) Sergio Lozano (Espanha) 2014 - 2018 Amandinha (Brasil) Ricardinho (Portugal) *brasileiro naturalizado italiano Fonte: elaborada pela autora. É quase impossível não notar os jogadores brasileiros nas classifica- ções na tabela 2.4. Essa presença vem sendo marcada, por muito tempo, no quadro dos melhores do mundo, seja no feminino ou no masculino. O Brasil tem uma grande responsabilidade de manter essa tradição com os pés, intitulado como “o país do futebol”, consequentemente sendo o autor- responsável pelo desenvolvimento do futsal. Segundo Santana (2019), o futsal é o maior legado para o futebol, pois exige capacidade de raciocínio rápido, dribles em espaços menores, experiências em competições antecipadamente, formação tática apurada. Entre tantos outros legados que o futsal pode deixar para o futebol, o prin- cipal, segundo o mesmo autor, é o “jogo associativo, de combinações”, o qual exige um avanço intuitivo na tática individual. 2.4 Futebol e futsal como fenômenos social e cultural A intervenção do Estado sobre o esporte, dentro de um cenário social, cultural e histórico no país, se fundamenta, também, no esporte de alto rendimento, o qual tem o intuito de alcançar resultados e quebras de recor- des. Sobretudo, a importância dada ao futebol na organização política e Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 40 – sistêmica do esporte brasileiro é de fundamental importância social, cultu- ral e econômica do país, como pode perceber na Lei Zico (8.672/1993) – revogada pela Lei Pelé de Nº 9.615, de 24 de março de 1998), a qual dispõe sobre princípios e manifestações esportivas por meio do Sistema Brasileiro do Desporto e também fundamenta a justiça desportiva. A prática espor- tiva formal é organizada por normas internacionais e nacionais e a prática informal tem como fundamentação a liberdade lúdica de seus praticantes. Programas como o Bolsa-Atleta e o Bolsa Pódio são auxílios finan- ceiros concedidos aos atletas e têm como finalidade o desenvolvimento social, sendo o esporte, instrumento indispensável. Segundo entidades como o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), a Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE), a Confe- deração Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), entre outras enti- dades que regem e regulamentam os esportes brasileiros, hoje o esporte é “a política pública que mais contribui para retirar da rua crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, impactando significativamente na redução das desigualdades sociais. Estudos da ONU comprovam a impor- tância do esporte como fator de desenvolvimento humano e da busca pela paz, reduzindo diretamente os gastos das áreas de saúde e segurança pública, além de muitos outros de forma indireta [...]”. Com esse argu- mento é visto o quão importante é o esporte no envolvimento de políticas públicas sociais, tendo o futebol e o futsal como as modalidades difundi- das na cultura brasileira. 2.5 Motivos que levam à prática do futebol e futsal O conhecimento da motivação que leva crianças e jovens a praticar algum tipo de esporte é um dos principais temas que vêm chamando a atenção de pesquisadores e profissionais da área (GUEDES; SILVÉRIO NETTO, 2013). Devido a isso, identificar os motivos que levam as crian- ças e os jovens a iniciarem, permanecerem, ou até mesmo, abandonarem a prática do esporte é relevante (GUEDES; SILVÉRIO NETTO, 2013). – 41 – História e evolução do futebol e futsal Com o intuito de elencar os principais motivos que levam crianças e adolescentes a praticarem futsal e/ou futebol, foi realizada uma busca de artigos científicos da literatura que tratassem desse tema e utilizassem o Inventário de Motivação para a Prática Desportiva (IMPD), adaptado por Gaya e Cardoso (1998), como forma de mensurar a amostra. A busca ocor- reu na Revista Brasileira de Futsal e Futebol (RBFF), a qual está indexada na base de dados Web of Science e é referência internacional sobre o futsal e o futebol (BARREIRA, et al., 2018). O Inventário de Motivação para a Prática Desportiva é o instrumento específico mais utilizado na literatura referente à avaliação dos motivos que levam os indivíduos à pratica esportiva. Contém em sua estrutura 19 itens agrupados em três dimensões gerais, sendo elas: 2 competência esportiva Para vencer; para ser o melhor no esporte; porque gosto; para competir; para ser um atleta; para desenvolver habilidades; para aprender novos esportes; para s,er jogador quando crescer. 2 saúde Para exercitar-se; para manter a saúde; para desenvolver a mus- culatura; para ter bom aspecto; para manter o corpo em forma; para emagrecer. 2 amizade/lazer Para brincar; para encontrar os amigos; para me divertir; para fazer novos amigos; para não ficar em casa. A escala de resposta consiste em níveis de importâncias, sendo 1 para “nada importante, 2 para “pouco importante” e 3 para “muito importante” (GAYA; CARDOSO, 1998). Vale salientar que a consistência interna de cada dimensão, calculado pelo Alpha de Cronbach, obteve como valores 0,611 para Competência Esportiva; 0,641 para Saúde e 0,643 para Ami- zade/Lazer (GAYA; CARDOSO, 1998). Na busca realizada, como mencionado acima, retornaram quatro arti- gos que tratavam dos motivos que levam indivíduos a praticarem esportes. No caso do presente, os esportes selecionados foram o futsal e o futebol. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 42 – Quadro 2.1 – Variáveis dos artigos científicos retornados da busca na RBFF Autor (ano) Título Objetivo Amostra (N) Idade da amostra Resultados das dimensões gerais (média) Voser et al. (2016)* Fatores moti- vacionais para a prática da ini- ciação ao futsal Identificar os motivos para a prática da ini- ciação ao futsal 53 meninos; 35 meninas. 7 a 17 anos de idade CE (2,7); S (2,6); AL (2,2). Sena et al. (2017)* Fatores moti- vacionais que influenciam na prática do futsal: um estudo em uma escolinha na cidade de Porto Alegre Verificar a prin- cipal motivação para a prática do futsal em uma escola da cidade de Porto Alegre 100 meninos 6 a 13 anos de idade CE (2,6); S (2,6); AL (2,5). Alves (2015)* Fatores motiva- cionais para a prática de futsal em adolescen- tes entre 11 e 17 anos Investigar os fatores motiva- cionais para a prática do futsal em escolares 140 meninos 11 a 17 anos de idade CE (2,3); S (2,4); AL (2,1). Diehl e Souza (2018) Os fatores motivacionais no futsal: estudo realizado com crianças de um projeto social de futsal no municí- pio de Lindolfo Collor-RS Analisar os fatores motiva- cionais que levam as crianças a praticar o futsal em um projeto social no muni- cípio de Lindolfo Collor-RS 16 meninos 10 anos CE (2,7); S (2,8); AL (2,7). CE: Competência Esportiva S: Saúde AL: Amizade/Lazer *: Não houve diferença significativa entreas dimensões gerais do instrumento IMPD. Fonte: elaborado pela autora. – 43 – História e evolução do futebol e futsal Nota-se que não retornaram estudos sobre amostras de jogadores de futebol. Pode-se justificar pelo fato de que a busca restringiu-se apenas à Revista Brasileira de Futsal e Futebol na qual não obteve estudos que utili- zaram o IMPD como forma de mensurar a motivação de atletas de futebol. Conforme a variável nomeada de objetivo descrito no quadro 2.1, quando o assunto é identificar, verificar, investigar e analisar os jogadores de futsal entre seis e dezessete anos de idade, os fatores motivacionais predominaram. Os estudos de Voser et al. (2016), Sena et al. (2017) e Alves (2015), entretanto, relatam que não houve diferenças significativas na inter-relação das dimensões gerais do instrumento IMPD. No estudo de Diehl e Souza (2018), os escores foram bem próximos (2,7-2,8-2,7), ou seja, a Competência Esportiva, a Saúde e a Amizade/Lazer são variáveis que estão no mesmo nível de preferência entre as amostras estudadas. Nas quadras de treinos, os profissionais devem ser capazes de identificar essas variáveis em seus atletas e equipes. Um dos maiores objetivos “do educar através do esporte” é preparar o indivíduo para a vida e não somente conquistar medalhas e títulos, oportu- nizando um desenvolvimento na “cooperação, perseverança, socialização, respeito e demais atitudes positivas que contribuirão para a convivência em sociedade” (VANCINI et al., 2015). O esporte é um fenômeno sociocultural com diferentes tipos de mani- festações. Entre elas existe a pedagogia do esporte, na qual ocorre uma ramificação de dois importantes princípios integrados: o princípio técni- co-tático e o princípio socioeducativo (VANCINI et al., 2015). O primeiro se refere ao trabalho dos aspectos físicos, técnicos e táticos do treinamento esportivo, já o segundo são os valores e modos de comportamento, tendo o esporte como um contribuinte na educação do aluno/atleta. As principais características comuns entre o treinamento do futebol e do futsal são a forma de disputar (jogo), com ações motoras imprevisíveis, a cooperação mútua, tomadas de decisões rápidas e uma soma de várias inteligências (corporal-cinestésica, verbal-linguística, lógico-matemática, espacial, musical, naturalista, interpessoal e intrapessoal) (VANCINI et al., 2015). Pode-se salientar que as características comuns mencionadas são a base da maioria dos esportes coletivos. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 44 – As manifestações e os objetivos dos fenômenos no futsal e no futebol podem ser inseridas e adaptadas em três contextos: a do esporte educacio- nal, esporte participação e esporte de rendimento: Esporte educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hiper- competitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; Esporte de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades esportivas praticadas com a finalidade de con- tribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente; Esporte de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comuni- dades do País e estas com as de outras nações (VANCINI et al., 2015, p. 141). Dentre os vários papéis fundamentais do esporte, em especial das modalidades do futsal e do futebol, o papel redigido pelo treinador é de suma importância para o desenvolvimento do atleta e da equipe. 2.6 O Técnico e a equipe O técnico, além de ser o líder e responsável pela condução da sua equipe, incorpora o papel de espelho e grande exemplo para seus atletas. Em alguns casos, os atletas se espelham mais nos técnicos do que nos seus próprios pais. Tal gesto enfatiza que o técnico não é apenas o responsável pela técnica da equipe e sim o responsável, também, por educar e formar mentes com opiniões. O profissional deve estar atento. O treinamento esportivo para crian- ças e jovens não basta apenas falar o que o atleta deve fazer entre quatro linhas, é preciso demonstrar por meio de atitudes, comportamentos e pro- cedimentos o que se deve fazer. A dosagem dos estímulos a serem trans- mitidos aos atletas, também, é necessária para um bom aproveitamento do rendimento de cada atleta. – 45 – História e evolução do futebol e futsal Segundo Santos Filho (2002), a função do técnico de futebol, e também de futsal, é de orientar e formar bem os seus atletas. Dessa forma, o mesmo autor descreve cinco tipos de condutas que são impor- tantes para que o técnico desenvolva no decorrer da sua jornada como responsável e exemplo: 2 pontualidade – só pode ser exigida quando se pratica. A serie- dade na pontualidade em diversas ocasiões gera o primeiro passo ao profissionalismo. 2 disciplina – a disciplina incentiva um ambiente respeitoso, no qual a hierarquia deve ser respeitada, independentemente do nível de amizade e de parceria entre os membros do grupo. 2 relacionamento – o técnico deve ser o mediador entre seus atle- tas e os membros do grupo, além de ficar atento às observações, aos comentários e às sugestões. 2 metas definidas – as metas devem sempre despertar o espírito competitivo, para fazer com que o treinamento seja empolgante e que não caia na rotina, ou na monotonia, evitando uma pos- sível interrupção prejudicial à equipe. Dessa maneira, as metas preestabelecidas devem fazer com que os atletas tomem deci- sões e procurem soluções para os problemas. 2 responsabilidade – não bastando, o técnico deve desenvolver a autorresponsabilidade de seus atletas e membros do grupo diante de atitudes, comportamentos e posicionamento inadequados que possam prejudicar o bom andamento da equipe, tratando a todos com igualdade sem cometer injustiças. Atividades 1. Quem foi nomeado como o pai do futebol? O que ele trouxe na mala para iniciar a prática do futebol em terras brasileiras? 2. Quem são os jogadores brasileiros e suas principais conquistas no futebol e no futsal na história do Brasil? Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 46 – 3. Conforme o presente capítulo, descreva os principais motivos que levam à prática do futsal e seus itens descritos no Inventário de Motivação para a Prática Desportiva (IMPD). 4. Quais são os cinco tipos de condutas que um bom profissional de Educação Física precisa ter para conduzir sua equipe e seus atletas/alunos? 3 Fundamentos do futsal e do futebol de campo De antemão, antes de iniciar o capítulo propriamente dito, é de suma importância esclarecer que o profissional de educação física será tratado aqui como técnico/professor, pois além de um formador técnico esportivo, obtém a responsabilidade de um formador educativo. Em continuidade, Jones (2006) afirma que, para um técnico/professor de formação ser considerado excelente, deverá apresentar minimamente as seguintes características: conhecimento do jogo, metas a serem alcançadas, capacidade de planejamento, inteligência, liderança, ser comunicativo, motivar seus atletas, desenvolver a sensibilidade, ser disciplinado, respeitoso e ter autocontrole. Ainda, deve estar atento às constantes inovações de diversas áreas, inclusive a tecnológica. Em capítulos anteriores, os alunos tiveram uma breve expla- nação sobre treinamento geral, treinamento específico e princípios do treinamento. Na sequência, receberam um aprofundamento sobre a história do futsal e do futebol de campo no Brasil, jun- tamente com os fenômenos sociais, culturais e econômicos que estruturam o corpo das modalidades esportivas brasileiras. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 48 – Diante disso, para a aprendizagem, é necessária a fragmentação do jogo,de forma que possibilite o conhecimento do todo. Ou seja, dividir o jogo em partes para que se possa treinar cada parte, reconhecer os pontos positivos e negativos dos atletas e da equipe e, com isso, criar interven- ções com base nos objetivos. Em uma linguagem pedagógica voltada ao esporte, pode-se conside- rar que os elementos das técnicas individuais empregados durante o jogo de futebol de campo e do futsal dividem-se em dois grandes elementos: técnicas individuais para jogadores de linha e técnicas individuais para os goleiros (SOARES, 2006, p. 56). A seguir, separados por modalidades, serão descritos os fundamentos técnicos individuais, empregados constan- temente em todos os treinos e nos jogos. É importante que o profissional aprenda na teoria para que se crie bases para aplicá-la no dia a dia do treinamento em quadra ou campo. Devido a isso, o conhecimento dos métodos de treinamento para o futsal e futebol de campo é de praticabilidade. Canfield (1981, apud ESTIGAR- RIBIA, 2005) afirma que “métodos de ensino sugerem formas organiza- das e sistemáticas de, cientificamente, criar ambientes de aprendizagem que eficientemente conduzem a resultados favoráveis”. Os métodos mais conhecidos no ensino de esportes, como o futsal e o futebol de campo, assim como as vantagens e desvantagens em utilizá-los, serão descritos a seguir e ilustrados na figura 3.1: 2 Método parcial – consiste em ensinar o jogo em partes, por meio do desenvolvimento dos fundamentos técnicos isolados, para que depois possa juntá-los entre si e partir para o todo, para o jogo propriamente dito. 2 Método global – consiste em ensinar o seu conjunto no todo, de forma mais simples, progredindo conforme a aprendizagem da equipe e, se preciso, alterando as regras. Em outras palavras, é “deixar jogar”. Segundo Santana (2005), é o método mais indi- cado para crianças de sete a oito anos de idade. 2 Método misto – consiste na junção do método parcial com o método global. Possibilita exercícios isolados dentro de um todo, no caso, o jogo de futsal ou de futebol de campo. – 49 – Fundamentos do futsal e do futebol de campo Figura 3.1 – Métodos de treinamento no futsal e no futebol de campo Método Parcial Vantagens 2 Possibilita o treino motor correto e profundo de todos os elementos da técnica do jogo; 2 Possibilita ao profissional aplicar correções imediatas à realização de um gesto técnico errado por parte do aluno; 2 O método permite ao profissional trabalhar dentro dos estágios de aprendizagem, individualizando o ensino das habilidades, respeitando, dessa forma, o ritmo de aprendizagem de cada aluno. Desvantagens 2 Não possibilita o jogo por imediato, ocasionando a sua desmotivação; 2 Cria-se um ambiente em que não há criatividade por parte dos alunos; 2 Pode proporcionar um ambiente monótono e pouco atraente. Método Global Vantagens 2 Possibilita que, desde cedo, o aprendiz comece a praticar o jogo; 2 A técnica e a tática estão sempre juntas; 2 Permite a participação de todos os elementos envolvidos, como o movimento, a reação, percepção, ritmo e outros. Desvantagens 2 O aluno demora a ver seu progresso técnico; 2 Não proporciona uma avaliação eficaz sobre o desempenho do aluno; 2 Não permite o atendimento das limitações individuais, Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 50 – Método Misto Vantagens 2 Todas as vantagens anteriores podem serem aplicadas nesse método; Desvantagens 2 O profissional tem mais difi culdade de acompanhar o desenvolvimento individual do aluno. Fonte: adaptada de Zaremba (2010) com elementos de Shutterstock.com/SeventyFour/ matimix/Monkey Business Images. Além do conhecimento dos métodos mais utilizados no treinamento do futsal e do futebol de campo, ser técnico/professor de uma equipe com- petitiva por meio de uma formação acadêmica exige, atualmente, a com- petência de duas áreas essenciais: “1) o conhecimento do futsal geral (na parte técnica, tática e física) e 2) o conhecimento empírico da criança e do adolescente, no seu aspecto motor, cognitivo e principalmente afetivo” (ALVES et al., 2017, p. 393). Nesse contexto, o objetivo do presente capítulo é reunir os principais conhecimentos da temática proposta, para que o aluno seja capaz de dife- renciar as semelhanças e as dessemelhanças dos fundamentos do futebol de campo e do futsal, assim como as dimensões do local de jogo. 3.1 Fundamentos do futsal 3.1.1 Passe É a ação coletiva, altamente técnica, que tem como objetivo projetar a bola para algum determinado companheiro e/ou espaço da quadra. Por meio desse fundamento, inicia-se o jogo e é concedida a sequência nas jogadas, considerado o meio de comunicação entre os jogadores. O passe sem precisão poderá acarretar inúmeros prejuízos para a equipe, tornando-se um importante fundamento a ser trabalhado, desde o primeiro contato com a modalidade. – 51 – Fundamentos do futsal e do futebol de campo Para realizar um bom passe é preciso: manter o equilíbrio do corpo para executar o movimento; a cabeça deve permanecer reta, com o olhar projetado para o fim da trajetória da bola; usar a força necessária para aquele objetivo; precisão no toque e o pé de apoio (o que não irá encos- tar na bola no momento em que fizer o toque) deve estar paralelo e próximo à bola. Figura 3.2 – Fundamento do passe Fonte: Shutterstock.com/IfH O passe é classificado das seguintes formas: 2 em relação à distância 2 curto (até quatro metros de distância); 2 médio (de quatro a dez metros de distância); 2 longo (mais de dez metros de distância). 2 em relação à trajetória da bola (figura 3.3) 2 rasteiro (1); 2 parabólico (2); 2 meia altura (3). Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 52 – Figura 3.3 – Os tipos de trajetória da bola (2) (1) (3) Fonte: elaborada pelo autor. 2 em relação ao espaço de jogo (figura 3.4) Figura 3.4 – Os passes em relação ao espaço do jogo Fonte: elaborada pela autora com elementos de Shutterstock.com/Nerthuz 2 passe paralelo (1); 2 passe diagonal (2); 2 passe lateral (3). 2 em relação à execução do passe 2 parte interna do pé (1); 2 parte anterior do pé (2); 2 dorso e solado do pé (3); – 53 – Fundamentos do futsal e do futebol de campo 2 parte externa do pé (4); 2 passe de peito (5). 2 em relação aos passes de alta complexidade 2 passe de coxa; 2 passe de cabeça; 2 passe de calcanhar. 3.1.2 Domínio ou recepção É a ação de interromper o percurso da bola, provindo de um passe ou arremesso, para seu controle. Pode ser realizada por diversas partes do corpo, exceto braços e mãos. Para obter as características reais de um jogador de futsal, é de fundamental importância a capacidade de controle dessa habilidade, dando continuidade para diversas jogadas. 2 Em relação à trajetória: 2 rasteira; 2 parabólica; 2 meia altura. Figura 3.5 – Do passe ao domínio Passe Trajetória Domínio (2) (1) (3) Fonte: elaborada pela autora. Teoria e Fundamentos do Futebol e Futsal – 54 – 2 Em relação à execução: 2 cabeça; 2 sola; 2 peito; 2 coxa. Há também a ação realizada pela parte interna e externa do pé. Vale salientar que o domínio realizado pela sola do pé é o mais uti- lizado e o mais seguro, pelo fato dos passes, em sua grande parte, serem realizados de forma rasteira, forte e rápida. O domínio com a parte interna do pé pode ser classificado como o segundo mais utilizado, porém, não é tão seguro quanto o da sola do pé. Quando a bola vem do alto, ou seja, quando a sua trajetória é para- bólica, acima da linha do ombro ou meia altura, o domínio, normal- mente, é feito pela coxa ou pelo peito. Na coxa, o nível de comple- xidade é um pouco menor, se fosse realizado pelo peito. No entanto, ambos têm como característica o amortecimento do impacto da bola, facilitando seu domínio. Muito pouco usado, o domínio feito pela cabeça necessita de um nível alto de amadurecimento do atleta, visto que perder o controle da bola nesse tipo de
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