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Introdução Antes de falar sobre os aparelhos em si é importante retomar alguns conceitos de eletricidade, visto que é preciso entender algumas características técnicas do aparelho. O primeiro conceito a ser abordado é o de corrente elétrica. A corrente elétrica é o fluxo de elétrons através de um condutor, quando há diferença de potencial entre os polos. Na imagem a seguir as bolinhas rosas representam elétrons, que partem do polo negativo (o cátodo) em direção ao polo positivo. O tubo por onde as bolinhas passam representam o condutor, o que torna possível exemplificar o que é a corrente elétrica. Existem duas características da corrente elétrica: a qualidade e a quantidade. Um dos conceitos é a voltagem, que nada mais é do que a diferença de potencial entre dois polos, que também pode ser conceituada como sendo a foça de repulsão entre os elétrons. Para que haja o fluxo de corrente elétrica há a presença de dois polos, um positivo e um negativo. A diferença de potencial entre esses dois polos é a voltagem. A unidade da voltagem é o Volt, que é representado pela letra V. Os aparelhos de radiologia utilizam uma voltagem bastante alta quando comparada com a da corrente elétrica que consumimos. Por conta disso, a voltagem é medida por Kilovoltagem, que é representada por KV ou KVp (kilovoltagem pico). A corrente elétrica que passa pelo aparelho de raio X é alternada (parte do potencial 0, vai para o potencial máximo, vulgo pico, e cai para o 0 novamente). Por conta disso, o p do “KVp” indica a potência máxima do aparelho. 1 KV é igual a 1.000 V. Essa terminologia permite que se escreva menos números. Nos aparelhos intrabucais (IB), onde se obtêm radiografias intrabucais (filmes postos dentro da boca do paciente) e a área radiografada é menor, a potência é de 50 a 70 KVp (voltagem fixa – não dá para escolher a voltagem utilizada, pois o aparelho sempre opera com a kilovoltagem de fábrica). Os aparelhos extrabucais (EB), que são aqueles em que o filme é posto fora da cavidade oral do paciente (radiografias panorâmicas e telerradiografias cefalométricas), a potência é de até 100 KVp (a voltagem é variável, visto que há a necessidade de regular a quantidade de corrente elétrica de acordo com a área a ser radiografada). Outro conceito leva em consideração a quantidade de corrente elétrica. Como a corrente elétrica é a passagem de elétrons por um condutor de um polo a outro, se ocorrer a análise de uma secção do condutor e for contar a quantidade de elétrons que estiver passando, haverá a medida da quantidade de elétrons que passa pelo condutor, que é a amperagem. Nos aparelhos de raio X, a amperagem é bem menor do que a presente na rede elétrica que utilizamos. Por conta disso, embora a unidade da amperagem seja o ampère (A), a amperagem do aparelho é medida em miliampère (mA), que é a milésima parte do Ampère. Com isso, ao analisarmos um aparelho radiográfico com a especificação de 50 KVp e 7 mA, podemos concluir que ele irá trabalhar com 50 kV de potencia e com uma produção de raio X, que corresponde à amperagem, de 7 mA. Da mesma forma que a voltagem, a miliampèragem dos aparelhos radiográficos intrabucais é fixa (o aparelho comprado possui a característica técnica determinada de fábrica), variando de 7 mA a 10 mA. Os aparelhos extrabucais, por sua vez, podem ser regulados, chegando até 15 mA. Ampolas de Raios X É dentro das ampolas de raios X ou tubos de raio X que a radiação é produzida. Como foi descrito no capítulo anterior, Röentgen descobriu os raios X utilizando uma ampola de Crookes, como a da imagem a seguir. Ampolas e Aparelhos de Raios X Tratava-se de uma ampola de vidro que continha dois polos, sendo um positivo e um negativo, e um gás em seu interior. Quando uma corrente de altavoltagem era ligada, na época de 10 KV, o gás era ionizado e emitia uma luminosidade, cuja cor dependia do gás utilizado. Como foi visto, existiam vários tipos de ampolas, sendo que com a mesma constituição: um polo negativo, um polo positivo, gás em seu interior e a constituição da ampola era de vidro. Essas ampolas foram utilizadas para fazer radiografia até 1913 (os raios X foram descobertos em 1985). Nesse ano (1913), um engenheiro elétrico, que trabalhava na general elétrica (GE – fabricante de lâmpadas), William Coolidge, realizou um aperfeiçoamento na ampola de Crookes, utilizando o princípio utilizado nas lâmpadas elétricas, que é o princípio da emissão termoiônica, de Thomas Edison. O princípio da emissão termoiônica diz que “todo condutor metálico aquecido no vácuo libera elétrons”. Com a incorporação desse princípio, Coolidge criou uma nova ampola, que foi batizada com seu nome. A princípio, ele idealizou uma ampola de vidro plumbífero (vidro com uma certa composição de chumbo), visto que o chumbo funciona como uma barreira para a passagem dos raios X. Com o auxílio de uma máquina, Coolidge retirou todo o ar de dentro da ampola, dando origem a um vácuo quase que perfeito no interior da ampola. Os dois polos, sendo um negativo (cátodo) e um positivo (ânodo), no entanto, foram mantidos. Em um local estratégico, a ampola criada possui um vidro mais fino, onde não tem chumbo, que é por onde o raio X irá sair. O cátodo é constituído por uma capa focalizadora (ou copo focador) feita de molibdênio. Além disso, o outro principal componete do cátodo é um filamento de tungstênio. Com isso, temos um filamento metálico no vácuo, o que permite a ocorrência de emissão termoiônica (um metal aquecido no vácuo libera elétrons). O filamento de tungstênio fica na capa focalizadora porque ela irá manter a nuvem de elétrons localizada no ponto em questão. Portanto, é no cátodo que se irá regular a quantidade de fótons de raio X, visto que é nele que há a passagem de corrente por um filamento metálico no vácuo, que aquece e gera elétrons (emissão termoiônica). Na imagem ao lado, relativa a uma ampola aberta/queimada, podemos observar a concavidade a capa focalizadora (fundo branco) com o filamento de tungstênio. Na imagem ao lado observamos uma ampola de dois filamentos, sendo um mais fino e o outro mais groso, mas ambos constituídos por tungstênio. No interior da ampola há a presença de um vácuo. O polo positivo ou ânodo é composto por um alvo/anteparo constituído por uma pastilha arredondada de tungstênio (não é retangular como a da imagem). Essa pastilha/alvo/anteparo fica presa numa haste de cobre. O tungstênio foi escolhido para ser o alvo/anteparo do ânodo por conta de três requisitos necessários: Alta resistência ao calor (alto ponto de fusão – 3.400 °C) – Necessário para suportar o calor gerado no interior da ampola (entre 98% a 99% da energia gerada no interior é calor); Alto número atômico (74) – Um número atômico alto implica em uma energia de ligação dos elétrons alta, o que é necessário para a produção de raios X; Ser bom condutor de calor – O tungstênio não é um bom condutor de calor, sendo considerado como médio. Para auxiliar o processo de dissipação do calor, Coolidge colocou o tungstênio na haste de cobre, que é um bom condutor de calor (ligado à haste de cobre há um radiador e também existe um óleo no cabeçote do aparelho para promover o seu resfriamento). A imagem a seguir traz uma dessas ampolas tão importantes para a produção de raios X. Nela é possível observar o polo negativo com a capa focalizadora (a haste metálica não pode ser observada no ângulo em questão), à direita. À esquerda temos o alvo de tungstênio e o cobre (mais ao centro). Mais externamente temos o vidro plumbífero. Aparelhos mais modernos, principalmente os extrabucais, apresentam um ânodo não fixo, ou seja, ele não é incrustado na pastilha de cobre. Trata-se de um ânodo rotatório, tendo o formato de um disco de tungstênio. Na imagem a seguirpodemos observar esse tipo de ampola de vidro. Nela temos o cátodo, com o filamento de tungstênio em seu interior, a capa focalizadora e o ânodo rotatório. Ocorre então o aquecimento do filamento, que passa a produzir elétrons que são acelerados em direção ao ânodo. Como esse ânodo é rotatório/giratório, o disco irá girar sobre o seu próprio eixo. Com isso, cada vez que os elétrons acelerados são bombardeados, eles irão atingir uma área diferente do disco. Como a área de choque muda constantemente, essa ampola irá apresentar uma vida útil maior, visto que a área de bombardeamento dos elétrons torna-se maior pelo efeito rotatório. Os aparelhos que utilizam esse artifício geralmente possuem uma alta kilovoltagem e geralmente são destinados a radiografias extrabucais. Transformadores As ampolas também necessitam de outros dois componentes principais, que são os transformadores. Os transformadores são aparelhos que modificam a corrente elétrica. Os aparelhos de raio X precisam de dois transformadores, sendo um de baixa voltagem e um de alta voltagem. Transformadores de Baixa Voltagem O transformador de baixa voltagem fica ligado ao cátodo. Ele reduz a voltagem e a amperagem que alimentam o filamento de tungstênio do cátodo. Quem aquece o filamento é essa corrente de baixa voltagem. Com isso, o transformador de baixa voltagem controla a quantidade de energia que chega ao filamento, o que repercute dizer que ele controla o aquecimento do filamento. Nesse tipo de aparelho, a voltagem entra com um determinado valor e sai com um valor menor. A voltagem também pode ser descrita como a força de repulsão entre os elétrons. Um transformador de baixa voltagem consiste em um filamento primário, por onde entra a corrente elétrica, e um filamento secundário, por onde sai a corrente elétrica. Com isso, chega uma corrente elétrica com uma determinada voltagem no filamento primário e, a partir do filamento secundário, chega no cátodo uma corrente elétrica com voltagem menor. Para entender como isso funciona, imagine uma multidão de pessoas (chamadas de elétrons) passando por um determinado corredor estreito, longo e com muitas curvas (filamento primário). Com isso, imagine que essa mesma quantidade de pessoas (elétrons) sai desse corredor inicial e vão ao encontro de um corredor mais largo (o fio é mais largo), menor (se esticado, esse fio é menor) e com menos espirais (filamento secundário). Ao chegar nesse corredor mais largo, a tensão entre as pessoas irá diminuir. É mais ou menos isso o que ocorre no transformador, onde a corrente entra em um filamento primário fino, longo e com muitas espirais e sai por um filamento secundário menor, grosso e com poucas espirais. Essa corrente elétrica de baixa voltagem, por sua vez, irá aquecer o filamento de tungstênio que, por sua vez, irá liberar elétrons. Transformadores de Alta Voltagem O transformador de alta voltagem é responsável por gerar a diferença de potencial entre o cátodo e o ânodo. É a diferença de potencial a responsável pela aceleração de elétrons. Com isso, esses aparelhos irão controlar a kilovoltagem e a qualidade dos fótons, visto que se a kilovoltagem determina a qualidade da corrente elétrica, também ela irá controlar a qualidade dos raios X. Na imagem a seguir observamos o cátodo ligado ao transformador de baixa voltagem. No entanto, também é possível observar um fio que irá se fechar com o transformador de alta voltagem. O transformador de alta voltagem é o oposto do de baixa voltagem. Nele, a eletricidade chega por um fio curto, grosso e de poucas aspirais e passa para um fio longo, fino e de muitas aspirais. Com isso, a voltagem irá aumentar. Esse transformador se liga ao ânodo e fecha o circuito no cátodo, de forma a criar a diferença de potencial. Na imagem a seguir, partindo do princípio de que o aparelho está ligado na tomada e que o interruptor geral foi ativado, vamos um aparelho de raio X preparado para a produção de radiação. Observamos uma nuvem de elétrons no cátodo. Esses elétrons estão mantidos ao redor do filamento por conta da capa focalizadora. Ao apertar o botão disparador, o transformador de alta voltagem entra em funcionamento, alimenta o ânodo, fecha o circuito com o cátodo e cria uma diferença de potencial. Com isso, os elétrons são acelerados e se chocam com a pastilha de tungstênio formando radiação (calor e raio X). Quanto maior for a kilovoltagem, mais rapidamente os elétrons serão acelerados. Sendo acelerados mais rapidamente, os elétrons terão mais energia cinética e irão produzir raios X mais potentes (com menor comprimento de onda), visto que chegarão mais próximo ao núcleo ou vão se chocar com maior força. Produção dos Raios X Basicamente, temos uma ampola com o filamento de tungstênio em seu interior. Além disso, há também um vácuo, visto que o filamento tem que liberar elétrons. O vidro é plumbífero, de forma que a radiação, que é emitida em vários sentidos, não passe pelo vidro e atinja o paciente ou o profissional. Além do filamento de tungstênio no cátodo, há também uma pastilha de tungstênio no ânodo. Com isso, ao ligar o aparelho uma corrente de baixa voltagem irá circular para aquecer o filamento de tungstênio, possibilitando a liberação de elétrons. No entanto, os elétrons ficam parados e é preciso acelera-los (é preciso formar um feixe de elétrons). Essa aceleração ocorrerá quando o transformador de alta voltagem for acionado, que irá proporcionar uma diferença de potencial. Por exemplo, ao acionar o transformador de alta voltagem haverá uma potência de 50 KVp no ânodo e - 50KVp no cátodo. Essa diferença de potencial fará com que os elétrons, que são negativos, sejam atraídos em direção ao ânodo, que é o polo positivo (a corrente elétrica sempre sai do polo negativo paro o positivo). Essa diferença de potencial faz com que os elétrons se acelerem (adquirem energia cinética) e se choquem com os átomos do tungstênio do alvo, proporcionando a geração de raios X e de calor (98% é calor e 2% é radiação X). Portanto, para que ocorra a produção de raios X é necessário: Gerador de elétrons - No caso da ampola de Coolidge é o filamento de tungstênio; Aceleração dos elétrons em direção ao anteparo – Quem acelera é a diferença de potencial; Anteparo/alvo – Pastilha de tungstênio. Com isso, ocorre a formação da nuvem de elétrons, que serão acelerados e, em seguida, serão freados (ou se chocando ou sendo freados bruscamente e desviados). Assim ocorre a produção de energia eletromagnética, sendo que quando o comprimento de onda é de 0,1 Å a 1 Å, essa energia se trata de raio X. Componentes do Circuito Elétrico dos Aparelhos de Raios X Os dois principais componentes desse circuito já foram vistos, que são a ampola (no caso dos aparelhos atuais é a ampola de Coolidge) e os transformadores (o de alta, que acelera os elétrons, e o de baixa tensão, que aquece o filamento e libera os elétrons). Em alguns aparelhos extrabucais há também o voltímetro (a kilovoltagem é variável apenas nos aparelhos extrabucais), que possibilita a regulação da kilovoltagem. De igual maneira, também em alguns aparelhos extrabucais há o miliamperímetro, que possibilita a regulação da miliamperagem. Temos também o interruptor geral, que é responsável por ligar o aparelho radiográfico à rede elétrica. Há a lâmpada piloto, que é um controle visual que informa que o aparelho está ligado (geralmente de luz verde) e que ele está emitindo raios X (no caso, geralmente é uma luz vermelha). Também existe o autotransformador, que serve para regular/compensar as variações da rede elétrica (é para o aparelho não queimar). Tanto ele aumenta a voltagem tanto ele diminui, a depender das alterações que ocorrerem na rede elétrica. Por fim, temos o botão disparador que, quando acionados,o aparelho produz raios X. Na imagem a seguir temos alguns tipos de botões disparadores. Partes dos Aparelhos de Raios X Os aparelhos intrabucais são constituídos por: Braço articular/articulado – Ele tem a capacidade de girar para modificar o posicionamento do cabeçote; Cabeçote – É onde fica os principais componentes do aparelho de raio X; Corpo do aparelho – Geralmente é nele que fica os outros componentes elétricos e os controles; Coluna – É o que dá sustentação ao aparelho; Base – Pode ser móvel ou fixa. O cabeçote é blindado e é nele onde se localiza o cilindro localizador. Esse cilindro é posicionado para a região da face do paciente que se deseja radiografar. Na imagem ao lado é possível observar que no cabeçote há as angulações que foram vistas no capítulo de técnicas radiográficas intrabucais. Dentro do cabeçote temos a seguinte estrutura: Cilindro localizador – Por onde os raios X irão asir; Ampola – Com o cátodo e o ânodo; Observa-se que há uma inclinação no ânodo, que é proposital. Isso ajuda a direcionar o feixe de raio X para a janela da ampola, processo chamado de efeito Benson. Transformador de baixa voltagem – Ligado ao cátodo; Transformador de alta voltagem – Ligado ao cátodo e ao ânodo. A ampola e os transformadores ficam dentro do cabeçote blindado. Em volta dessas estruturas (parte externa) existe um óleo para resfriar o calor formado no interior do cabeçote. Além disso, há a chamada câmara de expansão, que é uma abertura que existe no interior do cabeçote utilizada para conter a expansão do óleo quando aquecido, sem que ele saia do cabeçote. Tipos de Aparelhos de Raios X Existem três tipos de aparelhos radiográficos odontológicos intrabucais: Os de base móvel, que podem ser transportados (possuem rodas); Os de base fixa – Não possuem rodas e nem coluna, tendo o seu corpo preso à parede (geralmente são utilizados em consultórios pequenos – economia de espaço); Os portáteis – Não são muito utilizados, sendo mais comumente destinados a atendimentos a domicilio e a pacientes acamados.
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