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Medidas de Profilaxia em Defesa Sanitária Animal

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AULA 4: MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA
Chamamos de profilaxia o conjunto de medidas adotadas que visam interromper toda a
cadeia epidemiológica de uma determinada enfermidade. Essas medidas, algumas vezes, são
determinadas por órgãos governamentais.
1. MEDIDAS DE PROFILAXIA
A. Prevenção: é o conjunto de procedimentos adotados visando proteger e melhorar a
saúde de uma população, impedindo a entrada de uma doença em áreas geográficas livres ou
protegendo as populações de regiões endêmicas para tal doença.
B. Controle: é o combate a uma doença, quando a mesma já penetrou em uma
determinada população. Deve impedir a transmissão de um agente a um novo hospedeiro.
C. Erradicação: é a eliminação da doença, bem como de seu agente causal, de uma
população. Implica na aplicação contínua das medidas de prevenção e controle.
2. MEDIDAS OU AÇÕES APLICADAS À FONTE DE INFECÇÃO (FI)
Objetivo: Limitar a capacidade infectante, ou seja, reduzir o potencial de infecção representado
pelo número e mobilidade das Fontes de Infecção de uma determinada área geográfica. Duas ou
mais ações descritas a seguir podem ser usadas concomitantemente.
A. Identificação da FI
B. Isolamento da FI: tem a finalidade de concentrar o potencial de infecção a uma área
restrita e controlável, facilitando a adoção de medidas adequadas de tratamento e melhores
oportunidades de destruição do agente, além de bloquear seu acesso a outros hospedeiros
susceptíveis. Consiste na segregação da FI pelo período máximo de transmissibilidade da doença
que o acomete.
- seqüestro ou isolamento individual: consiste em levar o doente para um local
pré-determinado pelas autoridades sanitárias ou pelo proprietário, podendo ser dentro ou fora da
propriedade. Este local deverá ser individual e construído especialmente para tal finalidade. O
proprietário perde o direito de domínio sobre o animal.
- acantonamento ou isolamento em grupo: os animais doentes são levados a
uma área restrita com dependências adequadas, resguardando todas as condições de segurança
relativas a dispersão do agente infectante a outros animais susceptíveis de forma que o seu
deslocamento seja o mínimo possível e as condições de disseminação sejam remotas.
- emigração: é a transferência dos animais sãos para outra propriedade.
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- cordão sanitário - interdição ou isolamento da área: é a demarcação de uma
área, estabelecendo limites geográficos na propriedade ou nas instalações, impedindo que os
animais, as dependências e os objetos se comuniquem com o exterior. A propriedade interditada
fica impedida de movimentar tanto os animais, quanto os bens e produtos fora de seus limites sem
a devida autorização dos agentes sanitários que a controla. A interdição pode ser parcial (somente
para a saída) ou total (proibida a entrada e a saída de qualquer espécie animal, veículos, pessoas,
etc.)
C. Tratamento da FI: uma vez diagnosticada a doença, processa-se o tratamento
específico da mesma, quando possível e viável, com a finalidade de bloquear a evolução do
quadro em busca da mais rápida recuperação. É muito difícil que a adoção do tratamento,
isoladamente, resolva todos os problemas que encontramos. No entanto, o tratamento torna-se
valiosíssimo quando associado a outras ações profiláticas.
D. Sacrifício ou Rifle Sanitário: quando não for possível ou viável recuperar e tratar a FI,
lança-se mão do sacrifício.
- Objetivos: proteger a população ainda não afetada quando houver a presença de
doenças graves, doenças de alta difusibilidade, doenças com ocorrência em áreas de pequena
extensão, doenças com introdução recente numa região indene, doenças cujo programa sanitário
está em fase final.
- Fatores limitantes: diagnóstico da FI, espécie hospedeira (humanos, p.e.),
possibilidade de reposição animal, características do agente causal (resistência)...
D.S.A- Artigo 63- Obrigatório o sacrifício nas seguintes doenças: Mormo (eqüino com pústula
ulcerativa), Raiva, Pseudo- Raiva, Tuberculose, Pulorose, AIE, Peste Suína, Peste Bovina,
Brucelose Suína.
Recomenda-se o sacrifício de todos os rebanhos suínos onde tenha sido diagnosticada a
brucelose.
E. Destino dos cadáveres: mesmo mortos, os animais podem ainda transmitir o agente a
novos hospedeiros. A destruição dos cadáveres é uma das práticas higiênicas mais importantes
na exploração pecuária.
Portanto, deve-se evitar ao máximo que os cadáveres sejam lançados em coleções de
água ou perto delas, sirvam de alimentos para outros animais, sejam invadidos por vetores, sejam
circundados por qualquer animal e sejam necropsiados em condições inadequadas (deve-se
evitar a contaminação do solo, de utensílios, de veículos, etc.)
F. Procedimento para a destruição dos cadáveres: deve-se fazer o tamponamento das
aberturas naturais quando a disseminação do agente ocorre por meio de excreções e secreções.
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- enterramento: é o mais indicado em virtude da facilidade do método. Entretanto deve-se
seguir algumas observações:
● a vala deve ter aproximadamente 2 metros de profundidade;
● deve ser colocada uma camada de cal, querosene ou outra substância que desinfete e
não deixe fluir odores do cadáver. Este procedimento evita a presença de animais carnívoros
e outros animais, como a minhoca, que é grande disseminadora de esporos;
● a cobertura deve ser feita com pedras, pneus ,etc.;
● local deve ser distante de fontes de água;
- cremação ou incineração: esta prática nem sempre é possível devido ao seu alto custo
e, algumas vezes, à inexistência de forno crematório. No campo, pode-se abrir uma vala e atear
fogo ao cadáver, tomando-se o cuidado de abrir o abdome do animal para evitar explosões pela
formação de gases.
- cozimento ou esterilização: no campo, sua prática é bastante complicada. Em
frigoríficos, este método é utilizado no aproveitamento de animais para a obtenção de gorduras e
farinhas de osso e carne, principalmente quando as carcaças são condenadas para uso na
alimentação humana. Em laboratórios, é mais utilizado para pequenos animais de experimentos,
que são inoculados com materiais infecciosos (uso de autoclave)
- método químico: economicamente inviável devido à grande quantidade de produto
químico a ser utilizado para eliminar o agente etiológico. Inúmeros agentes desinfetantes podem
ser utilizados para tal finalidade, como o ácido sulfúrico, a soda cáustica, etc.⇒ sempre soluções
alcalinas ou ácidas fortes.
3. MEDIDAS APLICADAS AOS MEIOS DE TRANSMISSÃO
São todas as medidas que visam destruir o agente no período em que ele se encontra nos
diferentes meios utilizados para transferir-se a um novo hospedeiro. São ações variadas que
incluem o controle sanitário do ar, da água, do solo e das pastagens, dos alimentos, das
habitações, das instalações, dos produtos medicamentosos, dos reagentes e imunógenos, dos
excretas, efluentes, lixos, resíduos em geral e restos animais, dos vetores, dos equipamentos, etc.
A. Contágio direto: neste caso, não existe a possibilidade de atuar-se sobre o agente
etiológico durante o período de transferência, já que não existe espaço físico entre a FI e o novo
hospedeiro. Pode-se tomar medidas com a finalidade de evitar a presença do agente.
B. Contágio indireto: difícil atuação preventiva quando a transmissão se verifica por
gotículas ou aerossóis emitidos pela FI. O arejamento (ventilação/exaustão) é um método
bastante auxiliar contra o contágio indireto.
C. Transmissão indireta: como existe espaço físico entre FI e novo hospedeiro, o combate
ao agente, muitas vezes, torna-se mais difícil.
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- Transmissão aerógena: difícil ação (aerossóis): evitar varreduras a seco e
movimentação brusca de animais confinados. Em ambientes fechados, pode-se adotar a
desinfecção do ar, o arejamento, o controle da poeira; pode-se usar a descontaminação do
ambiente (radiação UV, calor, exaustão, desinfetantes)
- Solo: tratamento de esgotos e águas residuais, uso de esterqueira, controle de
adubos orgânicos (têm que ser suficientemente maturados),quarentena, uso de inseticidas
(contra vetores), aradura e gradagem do solo, correção do pH do solo, rotação de pastagens,
drenagem de águas pantanosas...
- Água: proteção dos mananciais, impedindo o afluxo de esgotos e efluentes
industriais, bem como o acesso de pessoas e animais (existência de uma faixa de vegetação
densa ao redor dos mananciais, tipo cerca viva) - isso evita a contaminação da água. Caso a
contaminação já tenha ocorrido, deve-se partir para a sua descontaminação, através do
tratamento da fonte de abastecimento (sedimentação/filtração)
- Alimentos: armazenamento correto, correta higienização, criação higiênica dos
animais, cuidados com leite e carnes, tratamento pelo calor/frio, dessecação, salga;
- Vetores: impedir a procriação, usar inseticidas, fazer controle biológico, controlar
criadouros, usar telas, evitar frestas e fendas, usar repelentes, fazer quarentena. Contra os
vetores, podemos tomar três tipos de medidas;
● Medidas defensivas: impedir o acesso dos vetores ao hospedeiro;
● Medidas ofensivas: destruir os vetores;
● Medidas saneadoras: criar medidas para evitar a procriação dos vetores. São ações dirigidas
ao meio ambiente.
- Produtos biológicos: controle e idoneidade (soros, vacinas);
- Fômites: descontaminação de materiais e equipamentos;
- Veículos animados: controle de movimento do homem e dos animais, uso de
pedilúvios, uso de roupas especiais e de barreiras físicas;
- Produtos não comestíveis de origem animal: tratar com desinfetantes as peles, as
penas, a lã, o couro, etc. O melhor é a criação higiênicas dos animais.
4. MEDIDAS RELATIVAS AOS HOSPEDEIROS SUSCETÍVEIS
É o último recurso a ser utilizado, já que, nem sempre, os procedimentos até aqui
estudados são suficientes para evitar a introdução ou progressão da doença numa população.
A. Medidas inespecíficas
- proteção ao animal: uso de telas, tratamento das feridas e do umbigo, alimentação
adequada, evitar promiscuidade animal, evitar diferentes faixas etárias e de espécies no mesmo
grupo de animais;
B. Medidas específicas: imunoprofilaxia
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- Imunizações ativa (natural ou artificial) e passiva (natural ou artificial).
5. MEDIDAS RELATIVAS AOS COMUNICANTES OU CONTATOS
Os comunicantes são aqueles indivíduos que estiveram em contato com a fonte de
infecção ou em locais sabidamente contaminados. Portanto, são hospedeiros vertebrados que,
por satisfazerem as condições epidemiológicas requeridas para a transmissão (ter estado exposto
ao risco de infecção), possivelmente estão infectados.
A. Quarentena: é uma das medidas mais eficazes que se pode utilizar para prevenir a
introdução ou propagação de uma determinada doença a uma população. Esta medida deve ser
adotada quando se introduz novos animais em uma propriedade e quando os animais
participaram de feiras e exposições. Consiste em isolar o comunicante pelo período máximo de
incubação da doença (não significa que seja por 40 dias, variando de doença para doença), de
maneira a evitar seu contato com animais comprovadamente sadios. O termo deriva do
isolamento que se fazia para a lepra em humanos, já que os mesmos ficavam isolados por 40
dias.
B. Sacrifício: deve ser praticado quando a doença em questão tiver tratamento inviável ou
inexistente e for altamente grave e transmissível. É indicada quando a doença está
disseminando-se de forma rápida, tem elevada transmissibilidade e é de introdução recente em
uma região e quando a população é inacessível a outras medidas sanitárias.
C. Vigilância sanitária: é a observação dos comunicantes durante o período máximo de
incubação da doença, contado a partir da data do último contato com a fonte de infecção ou da
data em que o comunicante abandonou o local em que se encontrava a fonte de infecção. Difere
da quarentena apenas pelo fato dos indivíduos não permanecerem isolados. Essa atividade pode
ser implementada com a utilização de animais sentinela: animais altamente sensíveis à doença
são submetidos a um estreito convívio com os comunicantes.
6. MEDIDAS RELATIVAS À COMUNIDADE
Educação Sanitária: é a conscientização dos proprietários, tratadores e criadores de
animais, bem como de toda a população, sobre os problemas causados pelas inúmeras doenças
que podem acometê-los, principalmente as zoonoses. É a principal medida de qualquer campanha
sanitária.

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