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Indaial – 2021 Práticas de Geração, transmissão e distribuição de enerGia elétrica 1a Edição Sagah Educação S.A. Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Sagah Educação S.A. Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Conteúdo produzido: Copyright © Sagah Educação S.A. Impresso por: aPresentação Prezado acadêmico, bem-vindo à disciplina Práticas de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica. Você, acadêmico da Educação a Distância, deve saber que existem fatores importantes para um bom desempenho: disciplina, organização e um horário de estudos predefinido para se obter o sucesso. Na sua caminhada acadêmica, você é quem faz a diferença. Como todo texto técnico, por vezes, denso, você necessitará de papel, lápis, borracha, calculadora científica e muita concentração. Lembre-se de que o estudo é algo primoroso. Aproveite essa motivação para iniciar a leitura do livro didático. Este livro está dividido em três unidades, que abordam diferentes aspectos dos circuitos e das aplicações com amplificadores operacionais. Na Unidade 1, você estudará o desenvolvimento da sociedade e o aumento da sua dependência das fontes de energia, além de analisar algumas das principais formas de produção de energia. Na Unidade 2, serão abordados os tipos e as aplicações das fontes de energia renováveis e não renováveis e, ainda, será feita uma análise acerca dos equipamentos e dos procedimentos de medição de energia elétrica. Finalmente, na Unidade 3, será apresentado a respeito do fornecimento de energia em diversos níveis de tensão, microgeração, fluxo de carga e análise das linhas de tensão. Apesar deste livro ser um material destinado à formação geral para os cursos de Engenharia, é importante que você, prezado acadêmico, tenha estudado, previamente, alguma disciplina acerca dos Circuitos Elétricos e da Eletrônica Básica, pois diversos temas serão abordados aqui de maneira superficial, considerando que estes já sejam do seu entendimento. Estimamos que, ao término deste estudo, você tenha agregado, a sua experiência de acadêmico, um mínimo de entendimento dos circuitos e das aplicações, envolvendo o uso de amplificadores operacionais, a fim de lidar com esse tema de forma satisfatória nas áreas acadêmica e profissional. Destaca-se, ainda, a necessidade do contínuo aprimoramento através de atualizações e do aprofundamento dos temas estudados. Bons estudos! Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA..................................................... 1 TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA ..................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 TIPOS DE ENERGIA E SEU USO AO LONGO DA HISTÓRIA ............................................... 3 3 ENERGIA E CIDADE ......................................................................................................................... 8 4 AS FONTES RENOVÁVEIS DE GERAÇÃO DE ENERGIA .................................................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 — SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA ............................... 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA E MÉTODOS UTILIZADOS .......................... 21 2.1 ENERGIA HIDRÁULICA ............................................................................................................ 22 2.2 ENERGIA TERMELÉTRICA ....................................................................................................... 23 2.3 ENERGIA NUCLEAR .................................................................................................................. 25 2.4 ENERGIA EÓLICA ....................................................................................................................... 25 2.5 ENERGIA SOLAR ......................................................................................................................... 26 3 DIFERENÇAS ENTRE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA ..................................... 27 4 FONTES DE ENERGIA .................................................................................................................... 28 4.1 AS FONTES RENOVÁVEIS ........................................................................................................ 29 4.2 AS FONTES NÃO RENOVÁVEIS .............................................................................................. 30 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 32 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS .................................................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35 2 A GERAÇÃO DE DIFERENTES FORMAS DE ENERGIA ....................................................... 35 2.1 GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA ........................................................................................... 36 2.2 GERAÇÃO DE ENERGIA HÍDRICA ........................................................................................ 36 2.3 GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR ......................................................................................37 2.4 GERAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA ............................................................................... 38 2.5 GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR ............................................................................................. 39 3 GERAÇÃO DE ENERGIA: ASPECTOS AMBIENTAIS ............................................................. 39 3.1 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA .............................................................. 40 3.2 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA HÍDRICA ............................................................ 42 3.3 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR.......................................................... 42 3.4 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA .................................................. 43 3.5 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR ................................................................ 43 4 O USO DA PRODUÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS ........................................................ 44 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 48 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 53 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 54 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 56 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA .......................................................................................... 59 TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA ..................................... 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS ............................................. 61 3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ENERGIA SOLAR .................................................... 63 4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA APLICABILIDADE DE OUTRAS FONTES DE ENERGIA NAS EDIFICAÇÕES ............................................................................. 66 5 A BIOMASSA COMO FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA .............................................. 67 6 A APLICAÇÃO DE CÉLULAS COMBUSTÍVEIS ....................................................................... 69 6.1 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO .................................................................................................... 71 7 O HIDROGÊNIO COMO FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA ........................................ 72 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS ..................... 77 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 77 2 SISTEMAS DE SINAL DE BAIXA TENSÃO ............................................................................... 77 3 CIRCUITO DE CAMPAINHA ........................................................................................................ 79 4 CONCEITOS DE MEDIÇÃO DE POTÊNCIA E ENERGIA ..................................................... 81 5 INSTRUMENTOS PARA MEDIÇÃO DE POTÊNCIA E ENERGIA....................................... 84 6 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE POTÊNCIA E ENERGIA ELÉTRICA EM CORRENTES ALTERNADAS ................................................................................................. 87 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 92 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 93 TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO ........................................................... 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 SISTEMAS ELÉTRICOS DE ALIMENTAÇÃO .......................................................................... 95 2.1 GERAÇÃO ..................................................................................................................................... 97 2.2 TRANSMISSÃO ............................................................................................................................ 98 2.3 DISTRIBUIÇÃO ............................................................................................................................ 99 3 HISTÓRICO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE ALIMENTAÇÃO ...................................... 100 3.1 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS NO BRASIL E AS NORMAS PARA BAIXA TENSÃO ...... 102 4 ELEMENTOS DOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE ALIMENTAÇÃO ..................................... 102 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 105 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 107 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 108 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 110 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA ...................... 113 TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA ................................................................... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115 2 FORNECIMENTO DE ENERGIA ................................................................................................ 116 3 TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA .............................................................................. 118 4 TRANSFORMADORES REDUTORES DE TENSÃO .............................................................. 121 5 O QUE É MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA? ......................................................................... 123 5.1 MODELO FEED-IN .................................................................................................................... 124 5.2 MODELO NET METERING ...................................................................................................... 124 5.3 ENERGIA SOLAR E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA ..................................................... 125 6 SISTEMA DE ENERGIA SOLAR AUTÔNOMO E CONECTADO À REDE ...................... 126 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 129 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 130 TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS ................................................................................................ 135 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135 2 FLUXO DE CARGA ......................................................................................................................... 135 3 MODELAGEM DE LINHAS DE TRANSMISSÃO .................................................................. 139 4 MODELAGEM DE TRANSFORMADORES ............................................................................. 142 5 TIPOS DE CARGA DO SOLO ESUA ORIGEM ...................................................................... 144 5.1 CARGAS PERMANENTES ....................................................................................................... 145 5.2 CARGAS VARIÁVEIS ................................................................................................................ 146 6 IMPORTÂNCIA DAS CARGAS ELÉTRICAS NAS PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS SOLOS .............................................................................................................. 148 6.1 ADSORÇÃO DE CÁTIONS E DE ÂNIONS ........................................................................... 148 6.2 CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA .............................................................................. 150 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 151 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 152 TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO .............................................................................. 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 155 2 ATERRAMENTO ELÉTRICO ........................................................................................................ 155 3 ESQUEMAS DE ATERRAMENTO E EQUIPOTENCIALIZAÇÃO ...................................... 157 3.1 ESQUEMA TN............................................................................................................................. 158 3.2 ESQUEMA TT ............................................................................................................................. 159 3.3 ESQUEMA IT .............................................................................................................................. 160 3.4 EQUIPOTENCIALIZAÇÃO ...................................................................................................... 160 4 DIMENSIONANDO ELETRODOS DE ATERRAMENTO ..................................................... 161 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 164 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 170 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 171 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 173 1 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir como a evolução urbana se relaciona com a energia; • explicar como o sistema energético interfere na evolução urbana; • exemplificar sistemas de geração de energia tradicionais e sustentáveis; • avaliar as vantagens do uso de energias limpas; • descrever sistemas e métodos de produção de energia; • diferenciar as gerações de energia eólica, nuclear, solar, geotérmica e hídrica; • determinar os aspectos ambientais das gerações de energia eólica, hídrica, nuclear, geotérmica e solar; • analisar o uso da produção de energias renováveis. Esta unidade está dividida em três tópicos. No fim de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA TÓPICO 2 – SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA TÓPICO 3 – ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, você estudará como o homem desenvolveu os principais sistemas de geração de energia e os tipos de energia consumidos desde a Antiguidade até os dias de hoje. Você verificará de que maneira a sociedade evoluiu a partir do advento do consumo energético e como isso influenciou no desenvolvimento da vida urbana. Ainda, você identificará formas alternativas para a captação da energia elétrica, o principal tipo de consumo energético do planeta. Ao fim da unidade, será explicado como a evolução dos sistemas de geração de energia pode transformar a vida do homem dentro e fora das grandes cidades nas próximas décadas. 2 TIPOS DE ENERGIA E SEU USO AO LONGO DA HISTÓRIA A história do desenvolvimento energético pode ser confundida com a própria evolução da sociedade humana. A busca do homem por formas de otimizar o dia a dia existe desde os tempos da pedra lascada. No período Paleolítico, o ser humano, ainda nômade, buscava energia para se aquecer, alimentar-se e iluminar os períodos em que não contava com a luz solar, e atingiu esses objetivos por meio do fogo. Já no período Neolítico, o homo sapiens desenvolveu as primeiras técnicas de armazenamento da energia excedente, quando iniciou a fabricação de cerâmicas, olaria, artesanato e, até mesmo, a construção. Esse avanço, concomitantemente ao desenvolvimento da agricultura e da domesticação dos animais, foi crucial para que o homem deixasse de ser nômade para se tornar sedentário. As grandes civilizações do mundo antigo (aproximadamente, 4000 a.C.) passaram a fazer a conversão energética a partir da água e do vento, o que gerou um grande salto evolutivo na agricultura e na pecuária. Ainda, a partir da Idade Média, o desenvolvimento de equipamentos mecânicos tornou possível a multiplicação da força extraída das diferentes fontes energéticas. Os egípcios foram pioneiros na utilização do vento para o transporte, por meio da navegação. Vem, da China e da Pérsia, a cultura dos moinhos, aparato criado para fazer a moagem mecânica de grãos por meio da energia proveniente da água. UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 4 FIGURA 1 – MOINHO DE ÁGUA FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Os moinhos chegaram à Europa no século XIII, e foram adaptados para serem utilizados nas indústrias têxtil, madeireira e metalúrgica. A primeira versão do moinho de vento foi patenteada na Holanda. FIGURA 2 – MOINHO DE VENTO NA HOLANDA FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. O século XVII também foi marcado pela invenção da máquina a vapor, adaptada para acionar equipamentos industriais e meios de transporte, como as locomotivas. A invenção da máquina a vapor foi responsável por tornar a Inglaterra o primeiro país industrial do mundo. Aliado a isso, no processo que culminou na Revolução Industrial, houve a substituição da lenha pelo carvão mineral fóssil nas máquinas a vapor. O carvão se manteve como o principal combustível usado no mundo até a década de 1960, quando foi ultrapassado pelo petróleo e pelos seus derivados. Com o advento da indústria automotiva, houve, também, um grande crescimento no consumo de petróleo. A partir da fundação da indústria petrolífera, o petróleo passou a ser matéria-prima para outros combustíveis, como gasolina, óleo diesel, além de produtos plásticos e asfalto, por exemplo. A extração e a TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 5 industrialização do petróleo podem causar contaminações ambientais, liberação de gases tóxicos, emissão de calor e potencialização da ocorrência de desastres naturais. Isso, aliado à instabilidade do preço, os conflitos gerados a partir da sua extração, além de ser uma fonte não renovável de energia, traz a necessidade da sociedade contemporânea de substituí-lo por outras formas de obtenção energética. A eletricidade foi descoberta ainda no século XVI, porém, a utilização para o consumo direto, em forma de luz elétrica,foi demonstrada por Thomas Edison, em 1882, quando ele descobriu a geração de corrente contínua para acender um filamento, a lâmpada. A corrente elétrica pode ser transmitida por longas distâncias, o que possibilitou o seu uso nos centros urbanos. Até a década de 1970, em função da abundância dos combustíveis fósseis e da competitividade das usinas hidrelétricas e termelétricas, a pesquisa por fontes renováveis não obteve muito investimento. O processo de geração de energia, por meio de usinas hidrelétricas, apesar de corresponder a uma fonte renovável, causa muito impacto ambiental, com o desmatamento e as disfunções da fauna e da flora a partir das represas. As usinas termelétricas, geralmente, utilizam combustíveis fósseis, como o carvão ou o óleo, e, por isso, não são renováveis. FIGURA 3 – USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU, NA DIVISA ENTRE BRASIL E PARAGUAI - DISFUNÇÕES AMBIENTAIS EM FUNÇÃO TANTO DA CONSTRUÇÃO QUANTO DA NECESSIDADE DE REPRESAR ÁGUA FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Como fontes renováveis para a obtenção de energia, pode-se citar a biomassa, a energia eólica, a energia solar e a energia nuclear. Essas são algumas fontes alternativas que podem gerar a energia elétrica, que é uma energia secundária (obtida a partir de fontes de energia primária). Atualmente, a energia elétrica é a energia mais utilizada em todo o mundo para as mais diversas finalidades, tanto em escala doméstica quanto industrial. ATENCAO UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 6 A energia nuclear, apesar de ser considerada limpa pela baixa emissão de CO2 e demais gases que contribuem para o efeito estufa, possui grande rejeição, já que pode provocar impactos socioambientais severos ao longo da cadeia produtiva do urânio. Além disso, há um trauma relacionado com os grandes desastres das usinas de Chernobil e Fukushima, por exemplo. Há um movimento muito grande, na atualidade, em favor de práticas renováveis de obtenção de energia que possam ser economicamente viáveis e não prejudiciais ao meio ambiente. A energia solar, por exemplo, obtida a partir de células fotovoltaicas e armazenada em forma de baterias, já é amplamente utilizada nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, a abundância dos ventos faz com que a energia eólica ganhe muito espaço. A utilização de biomassa, isto é, de fontes orgânicas que fazem a transformação da energia solar em energia química e, então, produzem combustíveis, como o biodiesel e o etanol, também tem ganhado muito espaço nos últimos anos. Entretanto, a transição é muito lenta, principalmente, nas cidades, nas quais os meios de transporte ainda são, em esmagadora maioria, alimentados por meio de derivados do petróleo. É preciso uma total renovação de frota para que se altere a fonte da energia. Uma pilha também é uma forma de obtenção de eletricidade a partir de processos químicos. Embora, fisicamente, sejam tratadas como sinônimos, popularmente, pilhas são dispositivos de formato cilíndrico, e baterias são as de carro (chumbo-ácido) e as de equipamentos eletrônicos, como telefones celulares. No caso de pilhas comuns, os eletrodos são, normalmente, um pino central de carvão e um invólucro de zinco, e o eletrólito é uma pasta de cloreto de amônio. Já as pilhas alcalinas possuem, geralmente, eletrodos à base de aço revestido em níquel e zinco, tendo, como eletrólito, uma solução de hidróxido de potássio. Nos dois casos, podem, ainda, ser adicionados mercúrio, cádmio, índio e/ou chumbo, com o intuito de diminuir a corrosão do zinco, além de aumentar a eficiência. O acidente nuclear de Chernobil, ocorrido na cidade ucraniana de mesmo nome, em 1986, deu-se a partir de uma explosão no interior da usina nuclear. A partir disso, grandes quantidades de partículas radioativas foram lançadas na atmosfera, espalhando-se por boa parte do território da antiga União Soviética e Europa Ocidental. Foi o pior acidente nuclear já registrado e, nos mais de 30 anos que o separam da atualidade, mais de 100 mil pessoas já foram contaminadas pela radiação, adquirindo doenças ou morrendo em decorrência dela. O acidente de Fukushima aconteceu a partir de um terremoto que atingiu o Japão, em 2011, ocasionando o derretimento de três reatores nucleares, contaminando o solo, os lençóis freáticos e o oceano. Até hoje, não se tem uma estimativa segura da extensão da contaminação e do número de vítimas. Esses dois acidentes são os únicos da história com classificação 7 — a máxima — na Escala de Acidentes Nucleares. IMPORTANT E TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 7 As baterias de celular ou pilhas recarregáveis possuem um princípio de funcionamento semelhante ao da bateria usada nos carros, o que permite a recarga por várias vezes. Os eletrodos são, normalmente, de níquel e de cádmio, e, o eletrólito de hidróxido, de potássio. Por apresentar metais na composição e outros componentes potencialmente tóxicos, além da destinação final difícil e onerosa, o descarte de pilhas e baterias mereceu legislação específica. Deve haver o descarte seletivo obrigatório por parte dos consumidores e a coleta, disposição e reciclagem por parte dos fabricantes e/ ou importadores. A legislação estabelece, ainda, limites máximos para a utilização de alguns metais, como mercúrio e cádmio, na composição de pilhas e de baterias chumbo-ácido. As células a combustível também são formas químicas de obtenção de energia. Essencialmente, elas são compostas de um ânodo, que é seu terminal negativo, um cátodo, um eletrólito e um catalisador. O combustível dessas células, normalmente, é o gás hidrogênio, embora outros, como o metanol, também possam ser usados. No eletrólito, é comum o uso de uma membrana de troca de prótons, que é livremente atravessada por prótons e bloqueia a passagem dos elétrons. Quando o hidrogênio gasoso entra em contato com o catalisador, a sua molécula se dissocia, formando dois íons H+ e dois elétrons. Os prótons são conduzidos através da membrana até o cátodo, enquanto os elétrons são forçados a percorrer um circuito externo (gerando a eletricidade) para chegar ao cátodo. Simultaneamente, oxigênio molecular (O2), ou, até mesmo, ar, é comprimido pelo catalisador sobre o cátodo, formando dois átomos de oxigênio que atraem íons H+ através da membrana e, com os elétrons que percorreram o circuito externo, formam moléculas de água como gás de escape. Como processos físicos de obtenção de eletricidade, destacam-se os geradores, as células fotovoltaicas e os cristais piezoelétricos. As células fotovoltaicas se baseiam no efeito fotoelétrico e são construídas a partir de placas conectadas de materiais semicondutores convenientemente dopados, por exemplo, com fósforo e boro, para que uma placa tenha tendência a doar elétrons e, a outra, tenha tendência a recebê-los, respectivamente. A luz, ao ser absorvida pelo semicondutor, pode fornecer energia aos elétrons do eletrodo doador em quantidade suficiente para que eles se movam livremente pelo material em direção ao receptor, gerando, dessa forma, uma corrente elétrica. A luz, normalmente, utilizada para fazer funcionar as células fotovoltaicas, é a do sol e, por essa razão, tais dispositivos também são chamados de células solares. A eficiência da conversão de energia luminosa em elétrica é baixa, limitando-se, atualmente, a cerca de 30%. Além disso, o alto custo das placas semicondutoras ainda dificulta a aplicação, em grande escala, das células solares. Atualmente, a fotoeletricidade é largamente empregada em dispositivos eletrônicos de baixo consumo de energia, como calculadoras e relógios. UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 8 Calcula-se que, no mundo inteiro, haja uma potência instalada de quase 8 GW em “usinas” fotovoltaicas, sendo metade na Alemanha. Uma das maiores usinas fotovoltaicas em operação no mundo fica em Portugal, e tem capacidade de gerar 11 MW. No Brasil, há uma única central fotovoltaica,de 20,5 kW, em Nova Mamoré, Rondônia. Há, ainda, no país, aplicações da fotoeletricidade para bombeamento de água para irrigação, radares em estradas, além de projetos- piloto de iluminação pública, eletrificação de escolas, postos de saúde e de dessalinização de água. Muitos são sistemas ainda experimentais, adotados, em geral, em comunidades rurais e/ou isoladas, nas quais o acesso aos meios convencionais de geração de energia elétrica é muito difícil. Os cristais piezoelétricos podem, também, ser empregados como geradores de eletricidade. Alguns materiais cristalinos, sendo, o mais comum deles, o quartzo, possuem a propriedade de produzir eletricidade quando submetidos à pressão, a piezo-eletricidade. Pelos custos envolvidos e pela dificuldade de se gerarem grandes correntes, essa forma de geração encontra aplicação limitada, por exemplo, em componentes eletrônicos e microfones. A forma mais comum para geração de grandes quantidades de energia elétrica, suficientes para abastecer fábricas ou cidades, é, sem dúvida, o gerador elétrico. Esse tipo de gerador é uma aplicação prática do fenômeno da indução magnética, baseado no princípio de que a variação do campo magnético agindo sobre um material condutor gera o movimento ordenado dos seus elétrons livres. Ligando-se as extremidades do condutor a um circuito externo, tem-se uma corrente elétrica percorrendo o circuito. A variação do campo magnético pode ocorrer quando um ímã é movimentado nas vizinhanças de um fio ou quando o ímã é mantido fixo e o condutor é movimentado. A seguir, estudaremos a relação da energia com o desenvolvimento e a modernização dos centros urbanos. 3 ENERGIA E CIDADE A eletricidade é muito importante no processo de evolução das sociedades, não só impulsionando a industrialização, mas, também, alterando a estrutura urbana, por meio de sistemas de iluminação, transportes, aparelhos domésticos etc. O uso de energia elétrica impulsionou a urbanização, promovendo diversas mudanças. As atividades, antes mediadas pelo dia e pela noite, agora, podem se estender por mais tempo. Há alguns fatores cruciais que fazem com que a energia gerada chegue aos consumidores. O primeiro é a maneira de transmiti-la. Com o início da utilização da energia elétrica, foi necessário o planejamento de uma estrutura de linhas de transmissão dentro das cidades, de modo que a energia chegue para todas as residências e indústrias. Todos conhecemos os fios elétricos, que, de maneira a facilitar a sua instalação, são externos, mas também podem ser subterrâneos. TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 9 Além disso, é necessário construir subestações em pontos estratégicos da cidade, nos quais transformadores adaptam a tensão chegada da usina, para que possa ser consumida. FIGURA 4 – SUBESTAÇÃO DE ENERGIA - EQUIPAMENTO COMUM E NECESSÁRIO NAS CIDADES FONTE: O autor A Revolução Industrial foi um marco no desenvolvimento das cidades. Impulsionada, também, pela energia elétrica, durante a Revolução, as máquinas passaram a substituir a força humana e dos animais e a liberar o tempo do ser humano para a sua função intelectual, inclusive, a de inventar novos aparelhos que facilitassem o seu próprio cotidiano. O advento do automóvel e de aparelhos eletrodomésticos mudou completamente a rotina das pessoas, o que também refletiu no desenvolvimento urbano. É possível concluir que, quanto mais um país investe no setor energético, mais ele se desenvolve, já que a utilização de energia está intimamente ligada com a evolução da sociedade por meio da urbanização, das transições demográficas e dos sistemas de governo. Há uma diferença brutal entre o consumo de energia dos países pobres e dos mais ricos e que a escala da economia de um país pode ser medida pelo consumo energético. Com o aumento da produção industrial, foi necessário, para escoar a produção, implementar melhores soluções de transporte, incentivando a construção de estradas, aeroportos, ferrovias e rotas aquáticas. Isso fez com que a mobilidade passasse por um grande avanço. O aumento da produtividade gerou a invenção de novos setores da indústria da sociedade, aqueles que não apenas se dedicam a sanar as necessidades básicas do ser humano, mas, também, proporcionam o aumento da qualidade de vida por meio de equipamentos de lazer e de prazer humanos. Nos países em que a industrialização foi mais evidente, como Europa e Estados Unidos, esses UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 10 processos ocorreram de forma mais equilibrada em todos os setores, gerando menos desigualdade social. O consumo energético possibilitou a construção de cidades maiores, com infindáveis alternativas de moradia, trabalho, lazer e qualidade de vida para os seus habitantes. Estamos habituados a conviver com a eletricidade em atividades corriqueiras, por meio de iluminação e climatização artificiais, abertura e fechamento de portas, sistemas de segurança, computadores, semáforos, estações de tratamento de esgoto, equipamentos hospitalares, gadgets domésticos, todos impulsionados pela abundância de energia. Entretanto, com o aumento populacional, principalmente, nos grandes centros, a demanda energética também sofreu severa expansão. Em meados do século XX, acompanhamos o boom dos equipamentos eletroeletrônicos, e, com a abundância dos combustíveis fósseis, construímos cidades que chegam a desperdiçar a energia produzida. Atualmente, lidamos, de maneira natural, com os frequentes blecautes ocorridos nas grandes cidades, os conflitos gerados pelo controle da extração de petróleo e produção dos seus derivados e o aumento do custo de vida gerado pelo aumento do valor da energia e dos combustíveis. É chegada a hora de repensar no nosso consumo energético e na maneira como captamos e distribuímos essa energia. 4 AS FONTES RENOVÁVEIS DE GERAÇÃO DE ENERGIA Conforme vimos, a captação e a distribuição de energia e de combustíveis, na atualidade, dão-se, majoritariamente, por meio de sistemas não renováveis, como o petróleo e as termelétricas. Muito da energia elétrica vem, também, das hidrelétricas, que, apesar de serem consideradas fontes limpas, produzem muitos danos ao meio ambiente. O mundo todo passa por um momento de conscientização para a redução da emissão de gases que colaboram com o efeito estufa e o superaquecimento da Terra, assim como para a utilização de fontes renováveis de geração de energia. O Brasil, com o seu amplo território e os seus grandes ventos, tem um grande potencial de geração de energia eólica e já começou a produzi-la. Edifícios que possuem desperdício energético, por exemplo, são aqueles que, por não serem adaptados ao local, produzem microclimas que exigem o total condicionamento dos seus espaços internos. Plantas baixas mal projetadas exigem a constante iluminação artificial, mesmo nos períodos mais iluminados do dia. Também deixamos de captar a luz solar por ainda não termos desenvolvido os equipamentos de captação dessa energia em larga escala para todos os níveis sociais. NOTA TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 11 A energia eólica se caracteriza pelo aproveitamento da energia cinética dos ventos para transformá-la em energia elétrica. A primeira turbina eólica conectada à rede de energia elétrica foi instalada em 1976, na Dinamarca. As turbinas eólicas precisam ser instaladas em locais com grande incidência de ventos, comumente, em faixas litorâneas. As turbinas precisam se conectar com as redes de distribuição elétrica. Tal fato, com o ruído das turbinas e as interferências eletromagnéticas do material utilizado para a sua fabricação, são os principais pontos negativos desse sistema. É uma energia completamente renovável, e os custos para a sua instalação caem ano após ano. O Brasil ainda está muito aquém da produção de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, mas tem recebido incentivos para aumentá-la. FIGURA 5 – TURBINAS DE GERAÇÃO DEENERGIA EÓLICA FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Os problemas ambientais causados pelos geradores eólicos são mínimos quando comparados com os provocados por outras formas de obtenção de eletricidade. Os mais graves são a poluição visual, os acidentes com aves e a geração de ruídos e de interferências. Uma grande vantagem da energia eólica é que, assim como a hidráulica e a solar, não há consumo de combustível. A manutenção dos equipamentos é considerada barata, porém, a sua instalação e a produção de eletricidade são caras. A Tabela 6.5 apresenta os custos de produção de várias formas de obtenção de energia elétrica, segundo a ANEEL. Considera-se que, para que uma usina eólica seja técnica e comercialmente viável, ela deve ser instalada em regiões de ventos superiores a 7 m/s, o que representa uma potência de 500 W/m2. A 50 m de altura, essas condições de vento só ocorrem em 13% da superfície terrestre, e, ainda assim, esses ventos não são constantes. Em função disso, os que criticam a energia eólica se apoiam no fato de que a usina está sujeita a ventos viáveis somente em parte do período de operação. Outro problema é que as regiões onde ocorrem os ventos ideais podem ser áreas densamente povoadas, industrializadas, montanhosas etc. UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 12 As turbinas eólicas devem ser produzidas com desenho aerodinâmico, visando à máxima força resultante para empurrar as suas pás para cima. São, normalmente, construídas com um número pequeno de pás (geralmente, 3), para facilitar o escoamento do vento. Elas devem, ainda, estar acopladas a sensores de vento e a controladores de giro para se adaptar a eventuais variações. A distância do eixo de rotação à ponta das pás, o raio do rotor, pode chegar a 60 m, e cada turbina, em uma usina eólica, está, em média, a 50 m do solo, quando instalada no litoral, e, a 70 m, no interior. Essas medidas estão aumentando ao longo do tempo, o que, muitas vezes, viabiliza a colocação de um aerogerador em local anteriormente não indicado. O diâmetro do rotor, D, determina a distância com que uma turbina pode ser instalada em relação a uma outra, sem que a primeira atrapalhe o rendimento da segunda. Recomenda-se que duas turbinas não sejam instaladas paralelamente, e sim que a separação entre elas seja de, no mínimo, cinco diâmetros de distância lateral e 10 diâmetros de distância longitudinal. Outra forma renovável de captação de energia são as placas solares. Os painéis compostos por células fotovoltaicas captam a luz solar e a transformam em energia elétrica, que, então, é armazenada em baterias ou conectada ao sistema local de abastecimento de energia. Apesar de ainda possuírem preço elevado no Brasil, têm sido utilizadas cada vez mais, já que temos uma ampla capacidade de captar a luz solar. Na Alemanha, após um programa de incentivo do governo, a maior parte da energia elétrica passou a ser produzida por meio de sistemas renováveis, principalmente, as placas fotovoltaicas, mesmo o país não estando nas condições mais favoráveis para a captação da luz solar. FIGURA 6 – CASAS COM PAINÉIS FOTOVOLTAICOS NA EUROPA FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. O grande desafio que temos é a adaptação dessas tecnologias — muito mais recentes do que as tradicionais — ao pleno funcionamento na rotina das cidades. O que se percebe, atualmente, é uma tentativa global de conciliar os interesses comerciais da produção de energia com a preservação do meio ambiente, sem prejudicar o consumo energético da população. Essa alternativa só será possível por meio da substituição dos sistemas de captação tradicionais, isto é, não renováveis, pelas alternativas mais sustentáveis. TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 13 Apesar das dificuldades para que a energia solar se torne uma fonte confiável e barata de energia, a sua conversão em calor poderia ser mais bem explorada com as tecnologias e os custos atuais. Pátios de secagem à luz solar são extremamente comuns em agroindústrias, onde coberturas de plástico protegem da chuva e funcionam como estufas. Fogões solares têm sido muito divulgados, principalmente, em regiões carentes. Versões rudimentares de dessalinizadores solares também têm sido utilizadas em áreas nas quais as águas subterrâneas costumam ter elevada concentração de sais. Na Califórnia (EUA), existe uma central termelétrica híbrida solar/gás de 354 MW, e espelhos parabólicos concentram a radiação sobre um tubo de cobre para vaporizar a água que circula por ele. O aquecimento de água com coletores solares pode representar uma grande economia de eletricidade. Tais coletores são, normalmente, colocados nos tetos das casas, e placas captam a luz solar e aquecem a água em serpentinas de cobre. Esse sistema pode eliminar, ou, pelo menos, diminuir, a necessidade de aquecedores a gás e de chuveiros elétricos, somente com os quais se estima que o Brasil consuma 20 TWh por ano. Países, como Israel, Espanha, Coreia, Índia, China e Alemanha, possuem legislações que exigem que parte do aquecimento de água (30 a 70%) seja feita via energia solar. A energia geotérmica se trata da energia produzida a partir do calor do interior da Terra, obtida, geralmente, em lugares do planeta (inexistentes no Brasil) onde existem falhas geológicas, ou rachaduras, que podem trazer, para a superfície, o calor de regiões a 2 ou até 3 km de profundidade. Os locais onde isso acontece são chamados de pontos quentes da Terra e, normalmente, ocorrem em fronteiras, entre placas tectônicas. A energia geotérmica pode ser aproveitada a partir de sistemas hidrotérmicos, a partir dos quais a água circula por tubulações que chegam próximas às rochas quentes ou aproveitando água quente e/ou vapores, às vezes, com temperaturas superiores a 150ª C, que possam existir em rochas porosas ou lençóis freáticos. Dessa maneira, essa fonte de energia é considerada renovável, mas pode ser esgotada se a taxa de aproveitamento for superior à recarga natural ou artificial. Esse tipo de energia pode ser utilizado para fornecimento de água quente para residências e/ou aquecer ambientes, como na Hungria e na Islândia. Calcula-se que, no mundo inteiro, existam 15,5 GW instalados para obtenção de calor via energia geotérmica. Para um aproveitamento termelétrico a partir dos pontos quentes, a eficiência do processo é considerada baixa. A principal razão disso é que as temperaturas máximas raramente ultrapassam 200º C (contra os cerca de 550 ºC, normalmente, atingidos em usinas termelétricas de combustíveis fósseis). Calcula-se que o mundo possua cerca de 9 GWe em unidades geotérmicas de geração de eletricidade. A maior dessas unidades se encontra na Califórnia (EUA), com 1,2 GWe, aproveitando-se da profusão de gêiseres na região. Os gêiseres ocorrem quando a água fica retida em regiões profundas da terra, mas UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 14 com ligações com a superfície. O calor do interior da Terra aquece essa água a temperaturas superiores ao seu ponto de ebulição. O aumento de pressão, quando a água ferve, faz com que o vapor atinja a superfície, podendo ser instalados conjuntos de turbinas/geradores. Uma limitação para o aproveitamento dos gêiseres é que eles não são contínuos, ou seja, a produção de energia é intermitente. Além da própria construção do sistema de aproveitamento, outros problemas ambientais associados à energia geotérmica existem, como os minerais associados aos vapores (o que pode obrigar tratamento específico para evitar incrustações em tubulações) e a eventual emanação de gás sulfídrico e dióxido de carbono. O Brasil possui um clima tropical e é farto de rios, ventos e luz solar. Em 2016, mais de 90% da energia produzida no país era proveniente de fontes renováveis. Entretanto, quase 65% dela é produzida por meio das usinas hidrelétricas. Apesar de ter havido um crescimento de, aproximadamente,30% na produção de energia eólica entre 2015 e 2016, esse tipo de energia representa apenas 6,7% da energia produzida no Brasil. A biomassa representa 9,3%, a energia solar, apenas 0,02%, e a energia nuclear representa 1,3% (BRASIL, 2018). Atualmente, os três principais estados produtores de energias renováveis limpas do Brasil são Minas Gerais, Ceará e Rio Grande do Sul. A capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, pode ser considerada um grande exemplo brasileiro de cidade sustentável. Além de diversos programas para a redução da emissão de gases poluentes, a cidade é referência na produção de energia elétrica proveniente da luz solar. Hoje em dia, mais de três mil edifícios (residenciais, comerciais, públicos, hospitais, clubes etc.) são dotados de placas fotovoltaicas, que, juntos, reduzem 22 mil toneladas anuais da emissão de gases nocivos, por utilizarem uma fonte limpa e renovável de produção de energia. O estádio Mineirão, por exemplo, possui uma usina de energia solar fotovoltaica na sua cobertura. A totalidade da energia elétrica consumida no estádio é produzida por meio delas, e o excedente é cedido para a companhia de distribuição, que chega a alimentar mais de 1.200 residências. Essa quantidade de energia excedente, de acordo com os programas de incentivo à geração de energia, é creditada ao estádio, que pode consumir nos momentos em que produz menor quantidade. TÓPICO 1 — EVOLUÇÃO URBANA, MEIO AMBIENTE E ENERGIA 15 FIGURA 7 – ESTÁDIO MINEIRÃO COM USINA DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA FONTE: O autor O Brasil ainda está aquém da sua capacidade de produção de energia renovável limpa. Apesar disso, possuímos as condições climáticas ideais para tal, e o incentivo para a produção é crescente a partir tanto dos órgãos públicos quanto da própria população, cada dia mais conscientizada com a preservação ambiental. As referências dos países desenvolvidos são inspiradoras para que possamos fazer o mesmo. Certamente, estamos no caminho certo. 16 Neste tópico, você aprendeu que: • A busca por energia vem desde os primórdios da humanidade. • A invenção da máquina a vapor revolucionou a indústria mundial. • O uso de energia elétrica impulsionou a urbanização, promovendo diversas mudanças. • O desenvolvimento de um país está diretamente ligado ao investimento no setor energético. • A evolução dos sistemas de geração de energia pode transformar a vida do homem dentro e fora das grandes cidades nas próximas décadas. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 A história do desenvolvimento energético pode ser confundida com a própria história do homem. O fogo exerceu uma importância muito grande no período paleolítico, já que permitia, ao ser humano, aquecer- se, alimentar-se e iluminar os períodos escuros. Quais foram as principais características, já no período neolítico, que fizeram com que o homem deixasse de ser nômade para se tornar sedentário? a) ( ) Prática de desmatamento, caça e fabricação de potes. b) ( ) Armazenamento de energia excedente, domesticação dos animais e desenvolvimento da agricultura. c) ( ) Prática da caça, desenvolvimento da agricultura e crescente aquecimento global. d) ( ) Armazenamento da energia excedente, crescente aquecimento global e desenvolvimento da agricultura. e) ( ) Desenvolvimento da agricultura, prática de desmatamento e construção de abrigos. 2 A Revolução Industrial foi a transição da Europa para novos processos de manufatura a partir do fim do século XVIII. Sob o ponto de vista da energia, o que foi crucial para alavancar a Revolução Industrial? a) ( ) A utilização de carvão mineral fóssil nas máquinas a vapor. b) ( ) A descoberta da energia eólica. c) ( ) A utilização de petróleo nas máquinas a vapor. d) ( ) O incentivo à energia nuclear. e) ( ) A invenção das placas fotovoltaicas. 3 O advento da energia elétrica e da indústria automotiva mudou muito a rotina da sociedade, liberando o tempo do ser humano para a sua função intelectual. Afirma-se que a escala da economia de um país pode ser medida pelo seu consumo energético. Por quê? a) ( ) Porque os países pobres investem muito em transporte e os países ricos em indústria. Essa característica acaba fazendo diferença no PIB dos países e faz os países ricos gastarem mais energia. b) ( ) Porque países pobres desenvolvem a agricultura e os ricos possuem mais lazer, incentivando o turismo local. c) ( ) Porque países ricos produzem e consomem mais energia, desenvolvendo a indústria e os transportes. Assim, libera-se a função intelectual da sua sociedade, que retroalimenta a indústria com inovações, produzindo e consumindo ainda mais energia. d) ( ) Porque os países ricos mecanizam a agricultura e liberam o tempo de sua sociedade para as atividades intelectuais. e) ( ) Porque os países pobres não usam energia renovável, assim, investem muito tempo extraindo os combustíveis fósseis, como carvão mineral e petróleo. AUTOATIVIDADE 18 4 As chamadas "fontes limpas de energia" não oferecem riscos para a população e não poluem o meio ambiente com as suas liberações gasosas, não contribuindo, portanto, para o efeito estufa e para o superaquecimento do planeta. Cite as duas fontes totalmente limpas de energia mais difundidas na atualidade. a) ( ) Petróleo e eólica. b) ( ) Hidrelética e solar. c) ( ) Solar e nuclear. d) ( ) Solar e eólica. e) ( ) Eólica e hidrelétrica. 5 A biomassa, energia muito sustentável, produzida a partir de matéria orgânica, tem ganhado muito espaço nos últimos anos em diversos lugares do mundo, dentre eles, no Brasil. Como pode ser resumido esse tipo de energia? a) ( ) É proveniente da matéria orgânica dos animais. O gás oriundo da decomposição dessa matéria é armazenado e encanado, conforme as necessidades das cidades. b) ( ) Um misto de energia mecânica proveniente dos animais com energia solar da biosfera, produzindo resíduos orgânicos que produzem combustíveis derivados do petróleo. c) ( ) Composta por matéria orgânica de origem vegetal ou animal obtida por meio da decomposição de uma variedade de recursos, como madeira, resíduos agrícolas, como da cana-de-açúcar e até do lixo. A decomposição da biomassa produz energia química e, a partir daí, combustíveis, como o biodiesel e o etanol. d) ( ) Um misto de energia solar com eólica, produzida nos canaviais. Pode ser utilizada na produção de açúcar, sendo combustível para as suas máquinas de extração do suco de cana. e) ( ) Composta por matéria orgânica obtida por meio da decomposição apenas de recursos vegetais, como a cana-de-açúcar. A decomposição da biomassa produz energia química e, a partir daí, combustíveis, como o biodiesel e o etanol. 6 Assinale a alternativa CORRETA: I- A energia hidrelétrica é a energia elétrica obtida por meio do aproveitamento do potencial hidráulico de um rio. Para que esse processo seja realizado, é necessária a construção de usinas em rios que possuam elevado volume de água e que apresentem desníveis no seu curso. II- Por ser uma fonte de energia renovável e não emitir poluentes, a energia hidrelétrica está isenta de impactos ambientais e sociais. III- Normalmente, as usinas hidrelétricas são construídas em locais distantes dos centros consumidores, o que diminui os valores do transporte de energia, que é transmitida por fios até as cidades. 19 IV- Apesar de ser uma fonte limpa de energia, apenas 18% da energia mundial é produzida pelas hidrelétricas, pois a maioria dos países não tem as condições naturais necessárias para a construção de usinas. a) ( ) Todas as alternativas estão corretas. b) ( ) Apenas as alternativas I e II estão corretas. c) ( ) Apenas as alternativas II e III estão corretas. d) ( ) Todas as alternativas estão incorretas. e) ( ) Apenas as alternativas I e IV estão corretas. 7 O aproveitamento energético da luz solar está cada vez mais presente nas discussões ambientais que tratam da utilização de fontes renováveis e não poluentes,porém, o alto custo de fabricação e de instalação de placas fotovoltaicas ainda impede que a energia solar seja amplamente usada no planeta. Considerando o exposto, é CORRETO afirmar: a) ( ) A energia solar é limpa e renovável, apresentando muitas vantagens para o meio ambiente e a saúde das pessoas, pois não há emissão de gases poluentes nem geração de resíduos. b) ( ) As formas de armazenamento da energia solar são tão eficientes quanto as adotadas para os combustíveis fósseis e a energia hidrelétrica. c) ( ) Em uma cidade com elevados índices de poluição, as placas para a captação de energia solar têm o mesmo rendimento do que as instaladas em locais com baixos índices de poluição. d) ( ) Uma das vantagens da captação de energia solar é a sua alta eficiência para a conversão de energia, não sendo necessário o uso de grandes áreas para a instalação das placas fotovoltaicas. e) ( ) O sistema de captação de energia solar apresenta alto custo de obtenção. Assim, em países, como o Brasil, essa é uma desvantagem. Os países que mais utilizam energia solar são Japão, Alemanha e Estados Unidos. 20 21 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 1 INTRODUÇÃO Os diversos métodos e tecnologias utilizados na produção e no consumo de energia estão fortemente associados à evolução histórica do desenvolvimento econômico da humanidade e às consequências sociais e ambientais. Um sistema de produção de energia comporta um conjunto de atividades, que iniciam na produção da energia e progridem para demais etapas necessárias para que ela chegue ao consumidor final, formando, assim, uma cadeia. Todas as formas de energia apresentam vantagens e desvantagens, que podem ser econômicas e/ou ambientais. Por isso, é necessário que os profissionais responsáveis pela produção de energia estejam atentos e aptos a avaliar qual é a fonte mais adequada para determinado fim. Neste texto, você vai estudar os sistemas de produção de energia, os diferentes métodos e fontes de energia, renováveis e não renováveis, bem como entender as cadeias enérgicas no âmbito nacional. 2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA E MÉTODOS UTILIZADOS As fontes que não se esgotam são chamadas de renováveis. Algumas delas são fontes permanentes e contínuas, como o Sol, o vento, a água e o calor da terra; outras, como a biomassa, podem se renovar. Já as fontes de energia não renováveis, como o petróleo, o carvão mineral, o gás natural e o urânio (usado nas usinas nucleares), podem se esgotar. São reservas formadas durante milhões de anos pela decomposição natural de matéria orgânica e não podem ser repostas pela ação do homem. As fontes de energia renováveis tendem a ser formas mais limpas de produção de eletricidade. As considerações econômicas, como a disponibilidade de recursos naturais e a viabilidade de exploração, sempre influenciaram na formação das bases energéticas dos países. No Brasil, a abundância de recursos hídricos foi significativa para a formação de um sistema predominantemente hidráulico. 22 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 2.1 ENERGIA HIDRÁULICA É a energia gerada a partir de uma fonte contínua de movimento de água. A força da queda da água é utilizada para movimentar turbinas que acionam um gerador elétrico. Para que isso ocorra, na construção de usinas hidrelétricas, são criados grandes reservatórios de água, inundando uma extensa área de terra, o que pode provocar profundas alterações no ecossistema, como a destruição da fauna e da flora locais. Conforme o tipo de relevo e da região onde se encontra o empreendimento, as hidrelétricas podem, também, ocasionar o alagamento de terras e o deslocamento de populações ribeirinhas. A usina de fio d’água é um outro tipo de usina hidrelétrica, que opera sem a necessidade de grandes reservatórios. Segue um esquema simplificado de geração de energia hidráulica. FIGURA 8 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DE GERAÇÃO DE ENERGIA HIDRÁULICA FONTE: Adaptada de Reis (2011) A abundância de recursos hídricos faz com que a utilização de energia hidráulica na geração de eletricidade ocorra de forma significativa em alguns países, como é o caso do Brasil, onde, atualmente, mais de 85% da energia elétrica é gerada com esse tipo de usina. Em 2009, a capacidade instalada em usinas hidrelétricas era de 78,2 GW (REIS, 2011). A hidreletricidade era considerada uma forma de energia não poluente, mas se sabe que a decomposição da vegetação submersa gera gases, como o metano, o gás carbônico e o óxido nitroso, que causam mudanças no clima da Terra. Atualmente, a questão ambiental é de extrema relevância no planejamento energético dos países. A Alemanha estabeleceu um plano de desativação de todo o seu sistema energético nuclear devido aos impactos sobre o meio ambiente. NOTA TÓPICO 2 — SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 23 Vale lembrar que, das emissões de CO2 (gás carbônico) e CH4 (metano) de uma barragem, uma parte ocorre de forma natural (carga orgânica transportada pelos afluentes da barragem que, naturalmente, decompõem-se, emitindo CO2 e CH4) e a outra é antrópica, ou seja, de interferência humana, como as emissões provenientes do esgoto doméstico despejado no reservatório, além das emissões decorrentes da biomassa inundada pela barragem da hidrelétrica. Ainda assim, as usinas hidrelétricas são consideradas menos prejudiciais do que as termelétricas, que emitem outros gases tóxicos, como o dióxido de enxofre e o de nitrogênio, além de material particulado (poeira e fumaça resultantes da queima de combustíveis fósseis, especialmente, das termelétricas movidas a óleo combustível). Os sistemas de energia hidráulicos estão voltados, basicamente, para a geração de eletricidade. Os seus métodos envolvem grandes hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas, mini e microcentrais hidrelétricas. Veja, no esquema a seguir, como se dá a cadeia de atividades relacionada à geração de eletricidade por meio de recursos hídricos. FIGURA 9 – CADEIA DA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DE HIDRELÉTRICAS FONTE: Adaptada de Reis (2016) 2.2 ENERGIA TERMELÉTRICA A energia térmica ou calorífica se origina da combustão de diversos materiais, como carvão, petróleo, gás natural, outras fontes não renováveis e biomassa (lenha, bagaço de cana etc.), que é uma fonte renovável, podendo ser convertida em energia mecânica e eletricidade por meio de equipamentos, como caldeiras a vapor e turbinas a gás. Após a geração de eletricidade, o calor que sobra pode, ainda, ser aproveitado em outros processos, principalmente, na indústria. Usinas de cogeração é o nome dado às usinas que produzem, ao mesmo tempo, calor e eletricidade. Há diferentes métodos utilizados para a geração de energia térmica, e eles envolvem diferentes combustíveis: • Gás natural: reservas de gás natural foram formadas há milhões de anos com a sedimentação do plâncton. A sua combustão libera óxido de nitrogênio e dióxido de carbono. Depois de tratado e processado, o gás natural é amplamente utilizado em indústrias, no comércio, em residências e em veículos. Em países de clima frio, é muito utilizado no aquecimento ambiental. Já no Brasil, seus usos residencial e comercial são feitos na cocção de alimentos e no aquecimento de água (REIS, 2011). 24 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA • Petróleo: o petróleo, que se formou durante milhões de anos pelas transformações químicas de materiais orgânicos, como os plânctons, a partir da queima dos seus derivados, também pode operar termelétricas. Contudo, os derivados do petróleo (gasolina, óleo combustível, óleo diesel etc.), quando queimados, produzem gases contaminantes, como monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono, que poluem a atmosfera e contribuem para o aquecimento da Terra e para a formação de chuva ácida, dentre outros efeitos nocivos. O consumo de petróleo e dos seus derivados, no Brasil, está mais relacionado ao setorde transportes do que ao setor elétrico. • Carvão mineral: é outro combustível muito usado em termelétricas. Também, formado há milhões de anos a partir de restos de plantas e animais, dos combustíveis não renováveis, esse é o que causa o maior impacto ambiental. A sua combustão, além de liberar dióxido de carbono, que contribui para o aumento do efeito estufa, emite grandes quantidades de óxidos de nitrogênio e de enxofre, que provocam acidificação (chuva ácida), e podem agravar doenças pulmonares, cardiovasculares e renais nas populações próximas. A abundância de outros recursos naturais disponíveis no Brasil, principalmente, no que diz respeito à geração de energia elétrica, faz com que a utilização do carvão mineral seja limitada, em consequência, também, da sua baixa qualidade, com teor calorífico baixo e alto teor de enxofre. • Biomassa: é uma fonte renovável formada por matéria de origem orgânica que pode ser usada como combustível em usinas termelétricas. Um exemplo de biomassa é o bagaço da cana. Veja, no esquema a seguir, como se dá a cadeia de atividades relacionada à geração de energia elétrica e energia térmica por meio da biomassa. Segundo os dados da Agência Internacional de Energia, a produção global de carvão caiu significativamente em 2016, enquanto o comércio global de gás natural aumentou. A produção de carvão caiu fortemente na China, em 2016, em cerca de 320 milhões de toneladas, ou 9% A produção também caiu em outros lugares, como nos EUA e na Austrália, levando a uma queda da produção global em 458 milhões de toneladas (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2017). NOTA TÓPICO 2 — SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 25 FIGURA 10 – PROCESSOS BIOLÓGICOS PARA GERAÇÃO DE ENERGIA FONTE: Adaptada de Reis (2016) 2.3 ENERGIA NUCLEAR Por uma reação denominada fissão nuclear, a energia é liberada no reator nuclear. Os núcleos dos átomos são bombardeados uns contra os outros, provocando o rompimento dos núcleos e a liberação de energia, gerando radiação e calor, o que transforma a água em vapor. A pressão resultante desse processo é usada para produzir eletricidade. O urânio, um metal pesado radioativo, é a matéria-prima empregada na produção de energia nuclear. Esse tipo de produção de energia gera muitas discussões, seja pelos problemas de contaminação resultantes da extração do urânio ou pelas dificuldades de eliminação de dejetos radioativos. Além disso, assim como em outros tipos de usinas termelétricas, a água empregada nos sistemas de refrigeração, quando lançada em rios ou em mares, por exemplo, aumenta a temperatura e prejudica os seres vivos locais. No caso das usinas nucleares do Brasil, o rejeito de calor é lançado ao mar. Exemplo 1: As usinas nucleares também estão sujeitas a acidentes, como aconteceu nas usinas de Three Miles Island, nos EUA, em 1979, e em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O vazamento de radiação tem o poder de provocar alterações genéticas e doenças, como câncer, por várias gerações, além de danos incalculáveis ao meio ambiente. Vários países da Europa foram afetados pelas consequências do vazamento radioativo de um reator em Chernobyl, e toda a área da usina segue isolada até hoje. 2.4 ENERGIA EÓLICA É a energia produzida a partir da força dos ventos. A força do vento é captada nos aerogeradores por hélices ligadas a uma turbina que aciona um gerador elétrico. Essa fonte é abundante, limpa e renovável, podendo ser explorada em muitos lugares. 26 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA Ela é utilizada desde os anos 1970 para fins comerciais, em decorrência da crise do petróleo no mundo, inicialmente, pelos Estados Unidos e alguns países da Europa, na busca de diminuir a dependência do petróleo e do carvão. No Brasil, o potencial de aproveitamento da energia eólica é de 143.000 megawatts. Os estados que apresentam os potenciais mais promissores são Ceará e Rio Grande do Norte. A seguir, veja, no esquema, como é formada a cadeia de atividades relacionada à geração de energia eólica. Cada uma dessas máquinas é específica para uma faixa de potência e um determinado tipo de usina. A seguir, esses geradores serão apresentados. FIGURA 11 – CADEIA DE GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA FONTE: Adaptada de Reis (2016) 2.5 ENERGIA SOLAR O sol é uma fonte de energia inesgotável. Muitas fontes de energia renováveis derivam do sol, com o seu uso direto, para fins de aquecimento ou de geração de eletricidade, e indiretamente, como é o caso da energia dos ventos, das águas, das plantas etc. Com o uso de diversas tecnologias, a radiação solar pode ser convertida em energia útil. Usando concentradores solares feitos de espelhos facetados, é possível obter elevadas temperaturas, sendo utilizadas em processos térmicos ou na geração de eletricidade (REIS, 2011). A cadeia de atividades da geração de energia solar é bem simples, mas a instalação dos equipamentos ainda tem um custo elevado. TÓPICO 2 — SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 27 FIGURA 12 – GERAÇÃO, CADEIA DE APROVEITAMENTO DE ENERGIA SOLAR FONTE: Adaptada de Reis (2016) 3 DIFERENÇAS ENTRE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA Uma das formas de diferenciar os sistemas de produção de energia é quanto à condição de renovável ou não renovável. A energia não renovável, ou esgotável, é aquela que é obtida a partir de fontes naturais que não são capazes de se regenerar, como: • Petróleo • Carvão • Gás natural A energia renovável é aquela que é obtida a partir de fontes naturais capazes de se regenerar, como: • Energia da biomassa • Energia hidráulica • Energia solar • Energia eólica Os sistemas de produção, por meio de energias renováveis, apresentam as seguintes vantagens em relação às energias convencionais: • São lançadas, anualmente, na atmosfera, toneladas de CO2 pelo consumo de energias convencionais, como petróleo, gás natural e carvão. O CO2 é o maior responsável pelo aumento do efeito estufa, fazendo a temperatura média global aumentar. • O uso elevado das energias convencionais pode fazer elas se esgotarem mais rápido do que o tempo necessário para que a natureza as produza novamente. Já a produção de energia por métodos renováveis não se esgota. 28 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA • Com exceção da biomassa, que origina quantidades insignificantes de CO2, SO2 e N2O para a atmosfera, a produção de energia por métodos renováveis é mais limpa e não emite gases com efeito estufa. • A produção local de energia por métodos renováveis contribui para reduzir a dependência energética relativa à importação do petróleo. 4 FONTES DE ENERGIA A energia elétrica é a forma de energia mais usual e difundida em todo o mundo: pode ser gerada por meio de fontes e métodos variados de produção de energia. No entanto, mesmo antes da invenção da eletricidade, as civilizações já utilizavam outras fontes de energia, como na pré-história, quando a humanidade aprendeu a manipular o fogo, que passou a ser utilizado na iluminação e no aquecimento das suas moradias. A eletricidade é utilizada como fonte energética para a iluminação, para o funcionamento de equipamentos e para o aquecimento e o resfriamento de ambientes. A sua criação possibilitou o avanço de novas tecnologias, como a da iluminação artificial e a do condicionamento de ar, que modificaram os hábitos culturais e, consequentemente, os projetos das edificações. Com isso, o conforto ambiental das edificações passou a ser transferido para essas novas tecnologias, o que gerou, também, o aumento considerável do consumo energético, causando impactos no meio ambiente (KELLER; VAIDYA, 2018). FIGURA 13 – DIAGRAMA UNIFILAR DE UM SISTEMA ELÉTRICO FONTE: O autor TÓPICO 2 — SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 29 O alto consumo energético pode gerar impactos ambientais das mais variadas formas. Por isso, uma das práticas sustentáveis utilizadas nos projetos de edificações é a busca por alternativas de redução do consumo energético. Alémdisso, a energia pode ser gerada por meio de fontes diversas, e cada uma delas pode produzir impactos ambientais distintos. Nesse sentido, além da redução do consumo energético, a sustentabilidade está relacionada com a forma de produção de energia e a fonte escolhida. Existem dois tipos de fontes possíveis para a geração da energia a ser consumida em uma edificação: as fontes estão caracterizadas pela utilização, ou não, de recursos passíveis de renovação e, por isso, são denominadas de fontes renováveis e fontes não renováveis. A seguir, serão analisados, definidos e exemplificados esses dois tipos de fontes de energia. 4.1 AS FONTES RENOVÁVEIS A fontes renováveis são as formas de produção de energia que utilizam recursos renováveis, ou seja, que se regeneram ou se mantêm ativas permanentemente e que, mesmo que o homem as utilize, não se esgotam. O não esgotamento dos recursos das fontes renováveis faz com que elas sejam mais indicadas para o processo de geração de energia. Nesse sentido, é mais indicado o uso de recursos que se renovam. A inesgotabilidade dos recursos não é fator de garantia da sustentabilidade e da não geração de impacto ambiental causado pela fonte. A avaliação da sustentabilidade de uma fonte de energia deve levar em consideração, também, os custos e os efeitos ambientais causados pelo seu processo de produção. A energia hídrica ou hidrelétrica é um exemplo de como a análise de uma fonte de energia deve ser feita de forma mais complexa e levando em consideração todo o ciclo de produção energética. Esse tipo de fonte utiliza o movimento da água de rios na geração de energia. Apesar de ser uma geração de energia não poluente, outras questões ambientais devem ser analisadas acerca da fonte hidrelétrica. Uma delas é a intervenção em um curso hídrico para a instalação de uma usina que envolve uma grande obra de engenharia. Além disso, a usina hidrelétrica produz uma área de inundação e represamento de água, afetando a região da instalação. 30 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA FIGURA 14 – DIAGRAMA ORGANIZACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Além da água do rio, outros recursos renováveis podem ser utilizados como fonte de energia. É o caso dos ventos, que geram energia eólica através de turbinas, e do calor do sol, que produz energia solar através de placas fotovoltaicas. A queima de matéria orgânica, ou seja, de biomassa, também é uma fonte geradora de energia. A partir da biomassa, também se pode produzir o biogás. Essas formas de energia ainda não são predominantes do mundo, mas estão ganhando espaço, devido aos seus impactos ambientais reduzidos. 4.2 AS FONTES NÃO RENOVÁVEIS Fontes não renováveis estão relacionadas com a geração de energia por meio de recursos que não se renovam e, por isso, estão passíveis de esgotamento, conforme o uso e a exploração contínua. Esses recursos são os denominados combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão e o gás natural, e, ainda, o minério urano e o seu núcleo radioativo. Os recursos não renováveis estão relacionados com a produção da energia termoelétrica, ou seja, com a geração de energia produzida pelo calor e pela combustão do recurso. No caso do urânio, a geração de energia é desenvolvida em usinas termonucleares, o que envolve o aquecimento de um núcleo reator (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008). Além da preocupação com a não renovação e o esgotamento dos recursos, o uso desse tipo de fonte de energia também é preocupante, pois gera outros impactos negativos no meio ambiente. Uma das questões é que, para serem usados como fonte energética, os recursos precisam ser extraídos da natureza. É o caso do carvão e do urânio, extraídos pela mineração, que causam grandes impactos ambientais. Além disso, o carvão, quando extraído, libera e dispersa micropartículas nocivas para a saúde. TÓPICO 2 — SISTEMAS E MÉTODOS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA 31 FIGURA 15 – (A) MINAS DE EXTRAÇÃO DE CARVÃO E (B) URÂNIO FONTE: <Shutterstock.com>; <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Além dos impactos da extração, os recursos não renováveis necessitam de transporte para as respectivas usinas, o que gera impactos ambientais relativos ao transporte e ao beneficiamento do recurso bruto nos componentes a serem utilizados. No entanto, os impactos não param por aí. A queima e o consumo dos combustíveis fósseis liberam gases responsáveis pelo efeito estufa e pela poluição do ar. Da mesma forma, a radioatividade do urânio, utilizada pelas usinas nucleares, é controlada, mas, em casos de acidentes, provoca impactos sociais e ambientais gravíssimos. 32 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • As fontes que não se esgotam são chamadas de renováveis. • As fontes de energia não renováveis, como o petróleo, o carvão mineral, o gás natural e o urânio (usado nas usinas nucleares), podem se esgotar. • A hidreletricidade era considerada uma forma de energia não poluente, mas se sabe que a decomposição da vegetação submersa gera gases, como o metano. • Cada forma de energia possui seus prós e contras. • A energia elétrica é a forma de energia mais usual e difundida em todo o mundo: pode ser gerada por meio de fontes e métodos variados de produção de energia. 33 1 A geração de energia para suprir as necessidades humanas pode ser feita mediante fontes renováveis e fontes não renováveis. Essas fontes estão relacionadas com o recurso utilizado na geração da energia. Considere as seguintes fontes de energia: I- Movimentos dos rios e carvão mineral II- Calor do sol e petróleo III- Matéria orgânica e urânio Apresenta(m) exemplos de recurso renovável e recurso não renovável, respectivamente: a) ( ) Apenas II. b) ( ) Apenas I e III. c) ( ) Apenas I. d) ( ) Apenas II e III. e) ( ) I, II e III. 2 Uma das questões da sustentabilidade é a redução de impactos ambientais por meio da utilização de energias limpas. Acerca da relação entre energia e sustentabilidade, o que se pode afirmar? a) ( ) A energia limpa é baseada na busca de fontes não renováveis alternativas. b) ( ) As fontes de uma energia limpa são baseadas em combustíveis fósseis. c) ( ) A energia limpa visa à utilização de recursos renováveis e não poluentes. d) ( ) A geração de uma energia limpa se baseia em não utilizar tecnologias. e) ( ) A energia limpa é uma forma de viver sem utilizar energia elétrica. 3 A iluminação artificial e o condicionamento de ar são tecnologias desenvolvidas após o advento da eletricidade e que estão relacionadas com o conforto ambiental. Acerca dessa questão, assinale a afirmativa verdadeira: a) ( ) A popularização das lâmpadas e dos aparelhos de ar-condicionado aumentou, consideravelmente, o consumo de eletricidade. b) ( ) O conforto ambiental só foi possível de ser alcançado com os aparelhos de ar-condicionado. c) ( ) O condicionamento de ar permitiu o desenvolvimento da iluminação artificial e, consequentemente, o aumento do consumo de energia. d) ( ) O conforto ambiental é o grande causador do alto consumo de energia, pois depende da eletricidade para ser alcançado. e) ( ) O condicionamento de ar aumentou o conforto ambiental das edificações e reduziu o consumo energético. AUTOATIVIDADE 34 4 A energia solar transforma o calor do sol em energia elétrica por meio de placas fotovoltaicas. Considere as seguintes afirmações acerca das placas fotovoltaicas: I- São uma ótima solução de geração de energia, pois funcionam em qualquer tipo de clima, inclusive, em regiões com baixo potencial de radiação solar. II- Podem ser usadas de forma domiciliar, acopladas em telhados e em coberturas de residências. III- São muito eficientes e, por isso, suprem qualquer tipo de demanda energética de uma edificação, mesmo em dias nublados. Quais das afirmações anteriores estão CORRETAS? a) ( ) Apenas I. b) ( ) Apenas II. c) ( ) Apenas III. d) ( ) Apenas I e II. e) () Apenas II e III. 5 As energias limpas devem ser pensadas com os projetos sustentáveis. De que maneira as energias limpas podem ser incorporadas na arquitetura sustentável? a) ( ) A energia limpa só pode ser promovida pelos órgãos públicos, mediante troca do sistema energético do país ou de uma região. b) ( ) Os governos podem incentivar o uso do transporte particular, aumentando o uso de energia limpa. c) ( ) As edificações podem conter painéis solares ou turbinas eólicas para gerar a própria energia. d) ( ) As cidades podem reduzir ou retirar a iluminação pública para economizar boa parte do consumo energético. e) ( ) As energias limpas ainda são ideias futuristas e não podem ser colocadas em prática, por inviabilidade tecnológica. 35 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 1 INTRODUÇÃO A produção inicial de energia elétrica era fundamentada, basicamente, em processos de queima de combustíveis fósseis e aproveitamento de potencial hídrico. O cenário ambiental passou a apresentar as consequências da exploração indiscriminada desse método de transformação na forma de chuvas ácidas, problemas respiratórios na população e aquecimento global. Com isso, a comunidade científica passou a alertar a população, criando um senso de urgência na solução dessa questão, que evidencia riscos para o macro e o microambiente da terra e da população. Líderes governamentais se uniram aos esforços contra a poluição, incentivando empresários e usuários a adotarem medidas de controle de emissão de poluentes e legislando contra quem desconsiderar os efeitos desses rejeitos. Para que você possa se tornar mais consciente, essa unidade apresentará as diferenças entre alguns tipos de geração de energia, determinando e relacionando os conceitos de aspectos ambientais relevantes, o que deve permitir uma compreensão do uso e da aplicação da produção das energias renováveis envolvidas. Nesta unidade, você estudará fontes alternativas de geração de energia elétrica, que vêm ganhando importância, gradualmente, e exigindo grandes disponibilidade e confiabilidade dos sistemas de produção. Assim, você conhecerá a diferença entre as energias eólica, nuclear, solar, geotérmica e hídrica, analisando os seus aspectos ambientais e o seu uso. 2 A GERAÇÃO DE DIFERENTES FORMAS DE ENERGIA Ao que parece, existem muitas formas de geração de energia. Certamente, você conseguiria enumerar várias. Contudo, quando avaliamos os processos de perto, nem sempre o processo físico envolvido na geração da eletricidade é diferente. Com esse estudo, observaremos, mais de perto, os processos de obtenção de energia elétrica a partir das energias eólica, hídrica, nuclear, geotérmica e solar. O físico Alessandro Volta (1745-1827), com base em experimentos, criou a pilha de Volta, capaz de transformar energia química em energia elétrica. Em seguida, o cientista Hans Christian Oersted (1777-1851), utilizando a energia de uma pilha, identificou a relação entre a eletricidade e o magnetismo. Seguindo 36 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA essa sequência de descobertas, Michael Faraday (1791-1867) unificou as teorias, identificando a lógica de movimentação do estator e do rotor, peças que ainda hoje compõem os motores elétricos. Zenóbe Théophile Gramme (1826-1901) percebeu que, assim como o campo poderia gerar uma força motriz, o contrário era, também, verdadeiro, criando o então chamado dínamo de Gramme, que era um gerador de energia elétrica. Foi então que Nikola Tesla (1856-1943) projetou e construiu o primeiro gerador de eletricidade de corrente alternada. Os geradores são construídos com base nas construções desses cientistas, sendo aplicados para a geração de energia elétrica da maior parte das fontes disponíveis. 2.1 GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA A produção de energia eólica se dá por meio da transformação da energia mecânica do vento em energia elétrica. A utilização da energia mecânica do vento é conhecida pela humanidade há centenas de anos, passando por aplicações de produção de alimentos (moinhos) e navais. Os moinhos de eixo horizontal passaram a ser utilizados na região do mediterrâneo e na Europa, entre os anos de 1300 e 1875 (FLEMING; PROBERT, 1984). O vento é resultado das movimentações das massas de ar que compõem nossa atmosfera. Esses movimentos, assim como as marés, apresentam algum comportamento sazonal, estando fortemente relacionados com os ciclos de órbita de translação e de rotação. A variação de temperatura acaba por causar o deslocamento de massas de ar, que podem ser aproveitadas para a movimentação das pás de moinhos. A geração de energia elétrica, por meio da movimentação das massas de ar, ocorre pelo acoplamento do eixo das turbinas a geradores de eletricidade. 2.2 GERAÇÃO DE ENERGIA HÍDRICA A geração de energia por meio de hidrelétricas é fundamentada na transformação da energia potencial gravitacional da água a partir da canalização dessa energia por turbinas, geradores ou outros elementos de conversão. Para que o fluxo das águas aconteça e seja possível realizar esse processo, deve-se contar com os ciclos de evaporação e de condensação das águas. TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 37 FIGURA 16 – ENERGIA POTENCIAL GRAVITACIONAL FONTE: O autor Muitas vezes, aproveita-se o fluxo de córregos e de rios para a criação de PCH (pequenas centrais hidrelétricas), existindo pouco ou nenhum controle da vazão de água, o que limita e define a taxa de conversão da energia potencial gravitacional da água em energia elétrica. Para contornar essa limitação, foram desenvolvidas as hidrelétricas, que utilizam o alagamento de grandes áreas para criação de reservatórios, a partir dos quais é possível ter grande controle sobre o volume de água que passa pelas turbinas, facilitando a gestão do sistema de distribuição. A transformação da energia nas hidrelétricas ocorre, então, a partir do mesmo princípio físico da energia eólica. O processo é dependente do gerador, que usa a variação do campo magnético impressa às pás para alcançar a indução eletromagnética pela variação do fluxo. 2.3 GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR Este processo é fundamentado no princípio de equivalência entre massa- -energia, identificado pelo físico vencedor do prêmio Nobel Albert Einstein (1879- 1955). A partir das reações químicas de fissão ou de fusão nuclear, um elemento transforma parte da sua massa, que é, então, convertida em energia na forma de calor. Essas reações químicas são aplicadas em ambientes controlados, nas usinas nucleares, para aquecer água e gerar vapor, o que movimenta uma turbina acoplada a um gerador. Perceba que, nesse processo, a fonte de energia não depende mais diretamente do sol, como visto nos processos de ciclo das águas e correntes de ar, mas ainda faz uso do gerador e das turbinas. 38 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA FIGURA 17 – USINA NUCLEAR, SÍNTESE GRÁFICA FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. 2.4 GERAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA A energia geotérmica está amplamente disponível no mundo, e é largamente utilizada para geração de energia elétrica ou aclimatação de ambientes. Essa energia é limpa (sem emissão de gases nocivos), segura e confiável (renovável e sustentável), e pode ter um papel importante em atender aos requisitos mundiais de energia. Um dos pontos mais importantes a respeito dela é que, ao contrário das outras fontes renováveis (solar e eólica), é possível obter energia constante dessa fonte (BALTA; DINCER; HEPBALSI, 2009). A energia geotérmica é obtida por meio de perfurações com profundidade suficiente para alcançar água aquecida ou por aparições naturais (gêiseres). A água aquecida libera vapor, que pode ser utilizado para movimentar uma turbina acoplada a um gerador, assim como nos processos das gerações eólica, hídrica e nuclear, vistos anteriormente. FIGURA 18 – UTILIZAÇÃODA ENERGIA GEOTÉRMICA PARA AQUECIMENTO DE RESIDÊNCIA FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 39 2.5 GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR A energia solar vem sendo explorada de duas formas: por meio do efeito fotovoltaico ou de concentração. O efeito fotovoltaico é capaz de converter a energia solar diretamente em energia elétrica. A luz absorvida excita os elétrons do material a um estado mais elevado de energia, gerando o potencial elétrico. FIGURA 19 – PAINEL FOTOVOLTAICO FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. FIGURA 20 – PAINÉIS DE CONCENTRAÇÃO DE ENERGIA SOLAR FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. 3 GERAÇÃO DE ENERGIA: ASPECTOS AMBIENTAIS A energia elétrica nada mais é que um potencial capaz de realizar trabalho. Ela é gerada por meio da transformação de outros tipos de energia (química, calor, mecânica, fotoelétrica) em potencial elétrico. A energia das reações químicas de fissão, por exemplo, é utilizada para causar o aquecimento da água do reator, que movimenta uma turbina acoplada a um gerador elétrico. Todos esses processos, no entanto, podem influenciar e impactar o ambiente no qual estão inseridos. 40 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA Agora que você já identificou as características que diferenciam os tipos de geração de energia, é relevante avaliarmos como essas tecnologias se relacionam com o ambiente no qual são inseridas, com os seus entornos. Para tal, utilizaremos os conceitos definidos pela ISO (International Organization for Standards, Organização Internacional Para Padronização), que define, por meio da Sério ISO 14000, os conceitos de aspectos e impactos ambientais. Essa norma foi adotada como referência pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), sendo um dos requisitos para reconhecimento de sistemas de gestão ambiental de referência. 3.1 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA Quais seriam os aspectos dessa tecnologia que são capazes de gerar impactos ambientais? A energia eólica, à primeira vista, aparenta não ter aspectos negativos, sendo frequentemente defendida como fonte limpa de eletricidade. Quando utilizamos um exemplo comparativo, como a energia térmica obtida pela queima de combustíveis fósseis, podemos assumir, automaticamente, que não existe a possibilidade de geração de impacto ambiental quando se utiliza essa tecnologia. Vamos observar atentamente essa questão e chegar a uma conclusão mais refinada? A energia eólica é produzida em grande escala em parques eólicos, nos quais, geralmente, uma grande área é desapropriada ou destinada a conviver em “harmonia” com os aerogeradores. Um aspecto relevante é o ruído gerado, que pode ser fonte de estresse – já se conhece a correlação entre estresse e doenças (GOHLKE; HRYNKOW; PORTIER, 2008). Um estudo preliminar identificou que Vejamos algumas definições importantes dessa norma para o entendimento do conceito de aspecto que será aqui proposto: • Meio ambiente: circunvizinhança em que uma organização (item 3.16 da norma) opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter- relações. Nesse contexto, circunvizinhança é o interior de uma organização para o sistema global. • Aspecto ambiental: elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente (item 3.5 da norma). Um aspecto ambiental significativo é aquele que tem ou pode ter impacto ambiental significativo. • Impacto ambiental: qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulta, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais (item 3.6 da norma) da organização (item 3.16 da norma). IMPORTANT E TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 41 um rebanho de gado situado a uma distância de 50 metros dos aerogeradores desenvolveu menor peso corporal e maiores índices de hormônio do estresse quando comparado a outro rebanho, situado a 500 metros da fonte de ruído (MIKOLAJCZKAK et al., 2013). FIGURA 21 – GADO CRIADO NOS ENTORNOS DE USINA EÓLICA FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Além disso, pode-se avaliar como as turbinas influenciam a fauna e a flora locais. Como as aves lidam com esses enormes dispositivos? A organização The Wildlife Society disponibilizou estudos que relacionam esse aspecto ambiental com a morte (impacto) de aves e de morcegos. Além disso, existem estudos sugerindo que apenas o levantamento do número de mortes causadas pelas turbinas não é suficiente para avaliar o impacto, e sugerem novos aspectos a serem relacionados, como a redução de índices de reprodução (SOVACOOL, 2013). Foram relatados alguns casos nos quais incêndios nas turbinas não puderam ser controlados devido à dificuldade em alcançar o topo da turbina, o que gera possíveis emissões de gases poluente. O Committee on Environmental Impacts of Wind-energy Projects (Comitê de Impactos Ambientais de Projetos de Energia Eólica) dos Estados Unidos sugeriu o termo “síndrome da turbina eólica” para os transtornos de ansiedade decorrentes da exposição prolongada aos níveis de ruído das turbinas de parques eólicos. ATENCAO 42 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA 3.2 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA HÍDRICA As hidrelétricas são amplamente utilizadas no nosso país, o que nos garante uma intimidade um pouco maior com essa tecnologia do que com as demais. Para que seja possível aumentar os graus de confiabilidade e de continuidade do processo de geração de energia, são utilizadas as barragens. Esses grandes reservatórios criam enormes regiões de alagamento, causando a destruição do habitat natural da fauna local e impedindo a utilização da terra para moradia ou plantação. As usinas de Furnas e Dona Francisca, por exemplo, tiveram processos judiciais de desapropriação muito divulgados na mídia. Até mesmo os animais aquáticos da região envolvida podem ser machucados pelas turbinas ou telas de proteção das usinas. A retenção de grandes volumes de água pode prejudicar o abastecimento das regiões rio abaixo, reduzindo não só o volume de água recebido, mas, também, a quantidade de sedimentos e de nutrientes. Como resultado dessa retenção de nutrientes no reservatório da barragem, pode haver excesso de algas e de ervas daninhas – assim como visto nos processos de maré vermelha, nos quais as algas consomem maior parte do oxigênio da água, aumentando a mortalidade de espécies nativas do rio. Até então, foram avaliados os aspectos operacionais das hidrelétricas, mas existiram outros aspectos relevantes? O processo de construção das usinas envolve emissão de gases do efeito estufa, assim como a alagação, em caso de regiões tropicais, que leva à decomposição de matéria orgânica, emitindo dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). 3.3 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR A energia nuclear é, certamente, uma das formas mais criticadas e atacadas pela mídia, o que é, seguramente, justificável. O acidente de Chernobyl, por exemplo, é uma prova clara da amplitude do impacto ambiental que pode ser causado por uma usina nuclear. É importante considerar, no entanto, que novas tecnologias de exploração da energia nuclear estão sendo desenvolvidas e que já existem tecnologias intrinsecamente seguras, também classificadas como usinas com segurança passiva. Nesse caso, não é necessária a ação do operador ou de sistemas, levando à extinção da reação em cadeia em caso de defeitos. A usina de Three Mile, na Pensilvânia, EUA, já utiliza esse tipo de tecnologia. Os aspectos ambientais da geração da energia nuclear começam com a extração do minério a ser utilizado como combustível nas reações, ou seja, os rejeitos e resíduos de rocha das usinas de mineração de urânio. O combustível nuclear usado (SNF) é aquele que já foi irradiado no processo químico que ocorre no reator. Quando ele deixa de serútil para a realização das reações, podem ter isótopos na sua constituição, elementos radioativos que obrigam o descarte do lixo classificado como radioativo. TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 43 3.4 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA A energia geotérmica é considerada uma energia limpa, mas já identificamos que os processos, como um todo, têm aspectos ambientais marcantes. Durante o período de construção das instalações, existem efeitos de compactação e de contaminação da terra, além do movimento do solo para construção de dutos, usinas e outros prédios (BROWN; DEKAY, 2009). Durante a operação, é possível que haja indução sísmica nos entornos da usina. A retirada de líquido do lençol freático pode levar à formação ou ao crescimento acelerado de uma camada de vapor, e esse processo pode induzir explosões que, no passado, já foram causa de morte. Em locais onde o solo seja pouco rochoso, isto é, que apresente uma estrutura com pouca resistência mecânica, a retirada de fluidos pode gerar desmoronamento e afundamento de terras. Também se considera o impacto visual da instalação da usina, assim como nas outras tecnologias de geração apresentadas. A operação dos poços sem isolação acústica pode gerar ruídos de até 120 dB. O ruído da primeira descarga do poço pode ser audível a vários quilômetros de distância e a operação pode afetar aves e animais no entorno, assim como a vizinhança. A poluição por químicos do ambiente é uma possibilidade decorrente do vapor. Os resíduos líquidos podem conter resíduos de elementos químicos, como sulfato de hidrogênio, arsênico, boro, mercúrio, e metais pesados, como chumbo. O método mais efetivo de disposição desses resíduos é o seu retorno para o lençol, garantindo que estejam em profundidade adequada para evitar a contaminação de águas próprias para consumo (ARMANNSSON et al., 2000). Os elementos mencionados anteriormente podem causar impacto na qualidade do ar. A maior preocupação ocorre com a disposição do sulfato de hidrogênio, que pode ser oxidado e liberado em forma de dióxido de enxofre, gás conhecido pelo efeito das chuvas ácidas. 3.5 ASPECTOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR A energia solar não causa emissão de poluentes durante a sua operação, mas a produção dos painéis fotovoltaicos pode ser relacionada e, portanto, esse é um aspecto importante a ser estudado. A emissão de gases poluentes pode variar entre 22 e 46 g/kWh, o que depende de a geração ser feita por painéis fotovoltaicos ou por energia térmica solar (concentração). As plantas de geração solar de energia elétrica estão entre as formas de geração que mais consomem energia (solar de concentração), consumindo menos água apenas do que as usinas, que funcionam à base de combustíveis fosseis e que exigem métodos de captura de carbono (BRACKEN et al., 2015). 44 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA A produção dos painéis fotovoltaicos exige a dopagem do semicondutor com cádmio (Cd), metal pesado e cumulativo na cadeia alimentar (WERNER, 2011). Com um processo adequado de reciclagem dos painéis e controle das emissões no processo produtivo, é possível atingir emissões da ordem de 03- 0,9 ug/kWh. Nos painéis de silício cristalino, a substância utilizada para a solda contém chumbo (Pb). Além disso, a pasta utilizada para impressão na tela dos contatos contém vestígios de chumbo e de cádmio. 4 O USO DA PRODUÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS A geração de energia elétrica vem acompanhando a evolução da nossa espécie desde a Segunda Revolução Industrial. Os avanços trazidos pela transmissão em corrente alternada possibilitaram que a distribuição da eletricidade atingisse regiões mais distantes das usinas de geração, ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos exigem, cada vez mais, a disponibilidade da eletricidade para o desenvolvimento de atividades cotidianas e laborais. A rápida expansão dos processos industriais e dos mercados de consumo impulsionou o mercado de geração de energia elétrica, exigindo soluções de curto prazo para o mercado consumidor. Como resultado das leis de oferta e de procura, a energia recebeu grandes aportes financeiros na forma de usinas térmicas e hidrelétricas. As usinas térmicas utilizavam, basicamente, combustíveis fósseis, como o carvão, o que elevou os níveis de poluição bruscamente, levando ao aparecimento de chuvas ácidas e ao efeito conhecido como estufa (aquecimento global). O conselho de pesquisa dos Estados Unidos determinou que é compatível, com o raciocínio científico atual, relacionar as atividades humanas ao aquecimento global, acelerado desde a metade do século XX. O estudo desenvolvido por eles afirma que esses impactos devem continuar nos próximos séculos, pois estão diretamente relacionados ao modelo econômico. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Rio 92, foi organizada pelos chefes de Estado das Nações Unidas e sediada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, dando continuação à Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Esses encontros objetivavam a identificação de medidas que diminuíssem a degradação ambiental impressa pelos processos de desenvolvimento e, portanto, a criação de propostas para que as economias se desenvolvessem de forma sustentável. O principal resultado da Conferência foi a Agenda 21, que sugere um novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional. O documento foi dividido em quatro seções principais, que abordam os temas de dimensões econômicas e sociais, conservação e questão dos recursos para o desenvolvimento, revisão dos instrumentos necessários para a execução das ações e aceitação do formato e conteúdo da agenda. TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 45 Em 1997, foi redigido o Protocolo de Kyoto, tratado internacional entre os países integrantes das Nações Unidas. De acordo com o tratado, as nações desenvolvidas se comprometeram em reduzir em 5,2% a emissão de gases do efeito estufa em relação aos níveis de referência de 1990. Para que essas metas fossem viáveis, foram levantadas as diretrizes básicas de reforma dos setores de energia e de transporte, além do uso de fontes de energia renovável, limitação das emissões de metano nos sistemas de gerenciamento de resíduos e sistemas de geração de energia, proteção dos sumidouros de carbono (florestas, corais) e revisão de mecanismos financeiros e de mercado inapropriados à implementação da convenção. As conscientizações pública e política de que os processos de industrialização e de desenvolvimento estavam afetando a qualidade de vida (nesse caso, negativamente) e o macroambiente no qual vivemos deram origem às discussões a respeito da sustentabilidade e motivaram o incentivo, por parte do Estado, do desenvolvimento das energias sustentáveis. A Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) publicou um gráfico da evolução mundial das energias renováveis e identificou que a capacidade instalada, mundialmente, atingiu um aumento de 8,3% em 2015, totalizando 153 GW de energia limpa, maior crescimento dentro do período do estudo (2001-2015). Ainda, considerando dados do estudo da agência, é possível identificar que, dentre as energias renováveis, a hídrica continua a ser a com maior representatividade, com 61% da produção. O panorama das energias renováveis no Brasil apresenta forte avanço dos biocombustíveis, representando um volume maior de energia do que o gerado por fontes hídricas — esse valor, no entanto, remete a toda energia (potência) gerada, não apenas à elétrica. GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS FONTE: <https://bit.ly/3dtnDho>. Acesso em: 21 abr. 2021. 46 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA FIGURA 22 – MATRIZ DE ENERGIAS RENOVÁVEIS DO BRASIL FONTE: <https://bit.ly/32oISL0>. Acesso em: 21 abr. 2021. A Casa Civil da Presidência da República do Brasil, por meio da Lei nº 10.438, de 28 de abrilde 2002, criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). O programa tem, como objetivo, aumentar a participação de fontes alternativas renováveis, como pequenas centrais hidrelétricas (PCH), usinas eólicas e termelétricas à biomassa, privilegiando investidores que não tenham vínculo societário com concessionárias de geração. O incentivo define preços diferenciados, mais atrativos, para a contratação de energia eólica e de outras fontes renováveis alternativas (BRASIL, 2002). Após o lançamento do Proinfa, foram realizados leilões específicos, como o LFA (Leilão de Fontes Alternativas) e o LER (Leilão de Energia de Reserva), a partir de 2007. Para motivar os investidores, o governo brasileiro, por meio do Ministério de Integração Nacional, lançou, em 2018, um programa de financiamento para a microgeração solar. O programa destinou R$ 3,2 bilhões para auxílio à instalação de painéis solares em residências e em estabelecimentos comerciais (disponível nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Uma das principais características da implantação da energia solar é o alto custo inicial, o que pode impedir que pequenas centrais geradoras sejam instaladas. A ideia do Governo Federal é que, com acesso ao crédito, a população possa adotar esses sistemas, contribuindo com a redução de emissão de gases do efeito estufa e com a geração distribuída de energia. A produção independente de energia por consumidores pode ser integrada ao fornecimento da distribuidora com a remuneração em forma de crédito. O Programa de Geração Distribuída (ProGD) aumentou o prazo de utilização dos créditos adquiridos dessa forma para cinco anos. Além disso, criou a possibilidade da utilização de créditos para compensação de faturas de imóveis de mesma TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 47 titularidade, mas endereço diferente da instalação geradora. O programa garante a isenção de ICMS e PIS/COFINS sobre o saldo não compensado de energia recebida da distribuidora, estabelecendo tarifas diferenciadas para projetos de eficiência energética e de geração distribuída de hospitais e de escolas públicas. Com essas medidas, foi implementado um projeto-piloto nas usinas de Sobradinho (BA) e Balbina (AM), que visa ao aproveitamento da área alagada para a instalação de painéis fotovoltaicos flutuantes. O projeto deve coletar informações para futuros investimentos e deve acontecer de 2016 até 2019. FIGURA 23 – APROVEITAMENTO DE ÁREA PARA INSTALAÇÃO DE PAINÉIS FLUTUANTES FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. 48 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA CARROS ELÉTRICOS AINDA SÃO UMA INCÓGNITA Já é possível avistar veículos elétricos nas ruas, contudo, estão longe de estar popularizados. Apenas 1% do mercado global de automóveis é movido à eletricidade. Às vezes, tem-se a impressão de que o futuro já chegou. Tecnologias mostradas em filmes das décadas de 1980 e 1990, e que, aos olhos da época, eram devaneios, fantasia, pura ficção, apresentam-se, hoje, como realidade. Exemplos não faltam, como eletrodomésticos que conseguem conversar entre si e realizar as tarefas de casa com uma simples programação; luzes que se acendem e que se apagam com um bater de palmas; chamadas por vídeo; e veículos movidos à energia elétrica. Algumas tecnologias já fazem parte do nosso cotidiano, outras começam a querer se tornar objetos corriqueiros nas vidas das pessoas. O veículo elétrico, por exemplo, é tema recorrente de notícias e cada vez mais debatido em conversas do dia a dia. É possível avistar alguns modelos pelas ruas, mas a tecnologia está longe de ser tão popular quanto o tradicional veículo de motor a combustão. De acordo com o site de negócios de origem norte-americana especializado em finanças, tecnologias e mídia, Business Insider, apenas 1% do mercado global de automóveis é movido à eletricidade. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos, que têm uma das maiores frotas de veículos motorizados do mundo, composta por mais de 250 milhões de unidades, apresentam somente cerca de 275 mil veículos elétricos e híbridos. No Brasil, os números são irrisórios. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), dos 41,5 milhões de veículos que trafegam no país, apenas 2,5 mil são movidos à eletricidade. No Brasil, o preço é ainda um dos principais obstáculos para a popularização do veículo elétrico. Para começar, no que se refere a carros, o país conta com apenas um modelo puramente elétrico disponível à venda para o consumidor comum. Trata-se do BMWi3, que, na versão mais modesta, custa, aproximadamente, R$ 170 mil. O automóvel híbrido elétrico – que combina motor elétrico com motor de combustão interna – apresenta mais opções disponíveis ao consumidor, mas nenhuma delas sai por menos de R$ 120 mil. Tendo em vista que os carros populares convencionais (movidos somente à combustão), no Brasil, custam cerca de R$ 30 mil, fica clara a diferença de preços entre os dois tipos de tecnologias. Conforme o presidente da ABVE, Ricardo Guggisberg, o veículo elétrico é bem mais caro do que um veículo comum muito por conta da tecnologia empregada. O veículo híbrido, por exemplo, conta com dois motores, um a combustão e outro elétrico, um sistema de regeneração de energia e a bateria recarregável. O preço fica ainda mais elevado quando se tratam dos veículos elétricos puros, em que a bateria corresponde a 50% do valor do carro. “Com o aumento da escala, porém, a tendência é que esse valor diminua”, pondera Guggisberg. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 49 A alta carga tributária é outro fator que torna os valores finais dos veículos elétricos menos competitivos do que os dos veículos convencionais, segundo o presidente da ABVE. Não que incentivos governamentais para baratear o preço do veículo, a fim de popularizá-lo, não tenham existido. Por exemplo, no fim de 2015, a Câmara do Comércio Exterior (Camex) aprovou resolução incluindo veículos híbridos e elétricos na Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum do Mercosul. Com tal medida, reduziu de 35% para 0% o Imposto de Importação (II) para automóveis puramente elétricos ou movidos a hidrogênio. Também, em 2015, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assinou decretos isentando proprietários de veículos elétricos, movidos a hidrogênio ou híbridos, de pagarem 50% (a parte que cabe ao município) do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Apesar das iniciativas, como visto, o preço do veículo elétrico continua bem mais caro do que o do veículo convencional. Para o presidente da ABVE, uma forma de tornar o preço dos automóveis elétricos mais competitivo seria por meio de bônus de incentivos pagos por tecnologias antiquadas e poluentes, forçando, assim, o subsídio inicial e desestimulando emissões de veículos não eficientes e sustentáveis. Mais um obstáculo que trava a popularização do veículo no país é, segundo Guggisberg, a ausência de incentivos fiscais, que acaba por desestimular a produção local de veículos em situação de SKD (parcialmente desmontados) e CKD (completamente desmontados). Há, também, a falta de uma malha de infraestrutura de recarga. A fim de solucionar esse problema específico, o presidente da ABVE propõe um plano mínimo de desenvolvimento alinhado com o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 65, que está em tramitação e pretende instituir a obrigatoriedade de instalação de pontos de recarga para veículos elétricos em vias públicas e em ambientes residenciais e comerciais. A sugestão da entidade é que os eletropostos sejam instalados em conjunto pela iniciativa privada e pelas concessionárias de energia elétrica. “A instalação, porém, deve ser combinada com projetos e concentração de uso da recarga por veículos elétrica, como táxi e carro compartilhado”, explica. O presidente alerta, também, para a necessidade de regulaçãoda cobrança da energia que deve ser utilizada no posto, assim como a necessidade de procedimentos claros para a instalação de eletropostos públicos e suas responsabilidades. O principal empecilho para a maior difusão dos veículos elétricos nos país, no entanto, conforme o presidente da ABVE, é a falta de uma política pública que incentive os veículos elétricos, seja através de incentivos financeiros, como a redução de impostos, seja por meio de outros benefícios, como a liberação do uso da faixa exclusiva de ônibus, liberação do rodízio de veículos (como já feito na cidade de São Paulo), bolsões exclusivos de estacionamento e acesso restrito a veículos sustentáveis em algumas áreas da cidade. 50 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA Baterias elétricas A baixa autonomia de um veículo elétrico também é um gargalo que dificulta a sua entrada com mais força no mercado automotivo do país. Conforme Guggisberg, a autonomia dos veículos elétricos puros varia de acordo com a composição das baterias embarcadas, sendo, em geral, de, aproximadamente, 300 km. Um carro popular que funciona à gasolina apresenta, em média, uma autonomia de quase 600 km, ou seja, o dobro. Para acabar com essa limitação, a pesquisa para o desenvolvimento de novos materiais e diferentes químicas vem sendo intensificada nos últimos anos. “A cada dois meses, temos novas tecnologias”, comenta o presidente da ABVE. Conforme Guggisberg, o crescimento das tecnologias foi e tem sido enorme, muito mais que exponencial, e há baterias (ainda não comercializadas em larga escala no país) cuja autonomia pode chegar a 800 km. O presidente da associação afirma que a bateria lítio-íon não é mais a única solução, destacando, também, o desenvolvimento do supercapacitor, que, com a bateria, permite que o veículo elétrico tenha potência para os arranques e as ultrapassagens mais eficientes. Somada à limitação da bateria, outra desvantagem do veículo elétrico é o tempo de recarga, que pode ser realizada em casa, mas demora cerca de oito horas. Já foi desenvolvida, porém, uma tecnologia de recarga rápida, que demora em torno de 20 minutos e é realizada em eletropostos. Segundo o presidente da ABVE, no que se refere ao carregamento rápido, o mundo está buscando uma harmonização, haja visto que cada país apresenta um tipo de tecnologia. “Ásia, Europa e Américas se conversam para uma solução universal em carga com corrente contínua, potência, e tipo de conexão”, adianta Guggisberg. Atualmente, no Brasil, a maioria dos eletropostos está instalada em empresas ou shoppings centers. “A disponibilização em áreas públicas, como parques, praças e estacionamentos, começou há pouco tempo, sendo realizada através da iniciativa conjunta de montadoras”, comenta Guggisberg. São pouco menos de cem postos instalados, que se restringem a algumas áreas metropolitanas da Região Sudeste do país. A maior unidade está situada na cidade de Campinas, interior de São Paulo. A expectativa da ABVE é que, por meio de incentivos do governo e iniciativas privadas, atinja-se a marca de 5000 postos de recarga até 2020. Programa de Mobilidade Elétrica na Região metropolitana de Campinas (SP) Uma importante iniciativa para divulgar e acelerar o processo de popularização do veículo elétrico no Brasil vem da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), distribuidora de energia para o interior de São Paulo. A empresa desenvolveu um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no âmbito da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), intitulado “Inserção Técnica e TÓPICO 3 — ENERGIA EÓLICA, NUCLEAR, SOLAR E GEOMÉTRICA – HIDROELÉTRICAS 51 Comercial de Veículos Elétricos em Frotas Empresariais da Região Metropolitana de Campinas”. A cidade do interior paulista é sede da concessionária e um dos municípios atendidos pela distribuidora. O objetivo do projeto, segundo a CPFL, é a constituição de um laboratório de mobilidade elétrica na região metropolitana de Campinas para permitir a coleta de dados sobre as diversas aplicações e implicações da tecnologia, possibilitando o estudo e o aprofundamento dos impactos dos veículos elétricos para o setor elétrico, além de proporcionar a criação de uma cultura em mobilidade elétrica para a cidade e para o país. O projeto está sendo executado pela CPFL, com o Centro e Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Daimon, empresa de engenharia especializada em serviços de regulação, desenvolvimento de soluções em software, estudos e projetos de pesquisa e desenvolvimento e novos negócios voltados ao setor energético. Diversos estudos estão sendo realizados dentro do projeto, como viabilidade econômico-financeira; impactos da utilização de veículos elétricos como fonte de geração distribuída para a rede de distribuição; requisitos técnicos e condições mínimas de segurança para a instalação dos eletropostos no Brasil; ciclo de vida dos veículos e das baterias; e impactos causados pelas conexões de veículos elétricos nas redes de média e baixa tensão e na qualidade da energia. Com relação aos impactos elétricos nas redes de distribuição, a professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC) da Unicamp, Fernanda Arioli, destaca que “as consequências são bem maiores na rede de baixa tensão”. Levando-se em conta que a recarga de um veículo elétrico em uma residência demora entre quatro e oito horas, o aumento de carga na rede de baixa tensão é similar ao de um chuveiro elétrico, conforme a docente. Isso pode ocasionar sobrecarga no condutor e queda de tensão, afetando a qualidade da energia não somente da residência onde o veículo elétrico está sendo recarregado, como também das residências vizinhas. Um complicador dessa situação é a tendência de a recarga dos veículos elétricos ser realizada pelos proprietários logo após a chegada do trabalho, gerando um pico de carga na rede no início do período noturno. Segundo a professora da Unicamp, a solução para o problema seria a mesma tomada pelas distribuidoras quando há um aumento de carga em determinadas épocas do ano, como no verão, em que o uso dos aparelhos de ar-condicionado aumenta e, com isso, a carga na rede também. Já no que se refere à média tensão, a recarga de veículos elétricos em eletropostos para recargas rápidas não acarreta, segundo estudo da Unicamp, impactos muito grandes à rede. Além disso, segundo Arioli, a tendência é de que os proprietários de carros com esse tipo de tecnologia não utilizem tanto os eletropostos como os proprietários de veículos de combustão usam os postos de abastecimento, até porque já carregariam na tomada das residências. Nesse sentido, não haveria a necessidade da implantação de muitos postos pelas cidades, devendo 52 UNIDADE 1 — A SOCIEDADE E AS FONTES DE ENERGIA ficar restritos às rodovias. “A tendência é que o custo da energia elétrica nos postos de recarga seja maior do que nas residências”, diz a docente, isso porque a energia dos postos não seria distribuída diretamente pela concessionária, mas por uma empresa comercializadora. FONTE: O SETOR ELÉTRICO. Carros elétricos ainda são uma incógnita. 2017. Disponível em: https:// www.osetoreletrico.com.br/carros-eletricos-ainda-sao-uma-incognita/. Acesso em: 9 abr. 2021. 53 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A geração de energia pode interferir diretamente no meio ambiente. • Há diferentes formas de geração de energia, e cada forma possui as suas características. • A geração de energia elétrica vem acompanhando a evolução da nossa espécie desde a Segunda Revolução Industrial. • Cada vez mais, há espaço para aumentar a participação de fontes alternativas renováveis. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 54 1 A energia elétrica obtida através da energiapotencial gravitacional da água na forma de hidrelétricas consiste no alagamento de grandes áreas através da criação de barragens. Esse processo tem, como fundamento, represar a água que antes fluia livremente, impedindo que o ecossistema à frente da instalação receba o seu fluxo normal de água. Como resultado da retenção no reservatório, muito material orgânico pode ser acumulado, o que pode dar origem à proliferação de algas e de ervas daninhas, podendo causar: a) ( ) O aumento da taxa de mortalidade de espécies nativas. b) ( ) O entupimento das tubulações do gerador. c) ( ) O aumento das taxas de cromo na água. d) ( ) A redução da eficiência da usina. e) ( ) A melhora na qualidade da água. 2 A pesquisa da Wildlife Society demonstrou, experimentalmente, que um rebanho criado a 50 metros de uma turbina eólica apresentou um perfil de desenvolvimento, e outro rebanho mantido a 500 metros do gerador apresentou outro perfil. Na prática, existe um efeito relacionado à criação de gado nas proximidades. O estudo relaciona esse efeito com o ruído sonoro permanente causado pelos aerogeradores. Baseado nisso, qual foi a característica apresentada pelo grupo que estava mais próximo ao gerador? a) ( ) O grupo desenvolveu aumento de peso em forma de gordura. b) ( ) O grupo desenvolveu menor peso corporal. c) ( ) O grupo desenvolveu menos hormônios relacionados ao estresse. d) ( ) O grupo apresentou redução da taxa de reprodução. e) ( ) O grupo apresentou aumento da taxa de reprodução. 3 As plantas nucleares de geração de energia elétrica podem utilizar os princípios de fusão ou de fissão nuclear. O processo se baseia em um princípio que foi identificado pelo famoso físico Albert Einstein (1879- 1955). Que princípio é esse? a) ( ) Teoria Geral da Física. b) ( ) Efeito fotoelétrico. c) ( ) Relatividade – equivalência massa-energia. d) ( ) Eletromagnetismo. e) ( ) Leis da termodinâmica. 4 O eletromagnetismo foi, primeiramente, utilizado para a geração de corrente alternada pelo cientista sérvio-americano Nikola Tesla (1856-1943). Muitas das formas de geração de energia elétrica ainda se valem desse princípio para atender à demanda do mercado consumidor. Entretanto, existe uma forma que independe desse princípio. Qual seria? AUTOATIVIDADE 55 a) ( ) Eólica. b) ( ) Hídrica. c) ( ) Nuclear. d) ( ) Solar fotovoltaica. e) ( ) Gás natural. 5 A Organização Internacional de Padronização (ISO) definiu, através da norma ISO 14000, o conceito de aspecto ambiental. Qual é a definição que condiz com a norma? Assinale a alternativa CORRETA acerca da ligação de geradores síncronos em paralelo: a) ( ) Resultados mensuráveis da gestão de uma organização sobre os seus impactos ambientais. b) ( ) Propósito ambiental geral, decorrente da política ambiental, que uma organização se propõe a atingir. c) ( ) Circunvizinhança, em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e as suas inter-relações. d) ( ) Qualquer mudança no meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulta, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização. e) ( ) Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente. 56 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: Aneel, 2008. Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/arquivos/ pdf/atlas_par2_cap5.pdf. Acesso em: 6 maio 2017. ÁRMANNSSON, H. et al. 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BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de pesquisa energética. Balanço energético nacional 2010: ano base 2009. Rio de Janeiro: EPE, 2010. Disponível em: https:// ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_ BEN_2010.pdf. Acesso em: 4 abr. 2011. BRASIL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Atlas de energia elétrica do Brasil 2008. 3. ed. Brasília: ANEEL, 2008. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/ arquivos/PDF/ atlas_capa_sumario.pdf. Acesso em: 4 abr. 2011. BRASIL. Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002. Dispõe sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, recomposição tarifária extraordinária, cria o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), dispõe sobre a universalização do serviço público de energia elétrica, dá nova redação às Leis no 9.427, de 26 de dezembro de 1996, no 9.648, de 27 de maio de 1998, no 3.890-A, de 25 de abril de 1961, no 5.655, de 20 de maio de 1971, no 5.899, de 5 de julho de 1973, no 9.991, de 24 de julho de 2000, e dá outras providências. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/2002/L10438.htm. Acesso em: 24 maio 2018. 57 BROWN, G. Z.; DEKAY, M. Sol, vento e luz: estratégias para o projeto de arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2009. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resoluções. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br. Acesso em: 4 abr. 2011. CRUZ, N. C.; MANCINI, S. D. Energia da biomassa. 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Stuttgart: University of Stuttgart, 2011. 59 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer os tipos e as aplicabilidades das fontes de energia renováveis e não renováveis; • identificar as vantagens e as desvantagens da aplicabilidade de um sistema de energia solar nas edificações; • explicar as vantagens e as desvantagens da aplicabilidade de outras fontes de energia nas edificações; • reconhecer o uso da biomassa como fonte alternativa de energia; • determinar a aplicação das células combustíveis; • analisar o uso de hidrogênio como fonte alternativa de energia; • interpretar os conceitos de medição de potência e de energia; • definir os instrumentos para a medição de potência e de energia; • analisar as técnicas de medição de potência e de energia elétrica em corrente alternada; • determinar os tipos de sistemas elétricos de alimentação; • analisar os elementos dos sistemas elétricos de alimentação. Esta unidade está dividida em três tópicos. No fim de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA TÓPICO 2 – VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS TÓPICO 3 – TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 60 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 61 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Existem diversas fontes de energia que podem ser empregadas em edificações e tais fontes se subdividem em renováveis e não renováveis. Faz-se necessário saber identificar as vantagens e as desvantagens de cada uma delas. Dentre as fontes renováveis, a energia solar tem se difundido como uma opção para o uso em edificações de diferentes portes e, assim como as demais fontes, possui vantagens e desvantagens. Nesta unidade, você estudará as fontes de energia. Você aprenderá a reconhecer os tipos e as aplicabilidades das fontes de energia renováveis e não renováveis e verificará as vantagens e as desvantagens da aplicação de sistemas de energia solar nas edificações. Identificará os aspectos positivos e negativos do emprego de outras fontes de energia nas edificações. As energias alternativas são todas aquelas que podem substituir os combustíveis fósseis, que são formados por meio de processos naturais, como o de decomposição anaeróbia de organismos vivos soterrados. Os processos biológicos que dão origem aos combustíveis fósseis podem demorar até 650 milhões de anos, levando à alta concentração de carbono, como no petróleo, no carvão e no gás natural. Nesta unidade, você também aprenderá a utilização da biomassa, proveniente, muitas vezes, de rejeitos e de subprodutos do sistema produtivo, como fonte alternativa proveniente. Ainda, deve ver os campos de utilização das células combustíveis e o desenvolvimento das tecnologias de exploração do potencial energético do hidrogênio, elemento químico mais abundante no universo. 2 FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS A energia pode ser oriunda de fontes renováveis e não renováveis, que apresentam diferenças conceituais entre si, conforme apontam Goldemberg e Lucon (2007): • Energia renovável: é aquela cuja fonte é reposta imediatamente pela natureza, como a energia eólica, cuja fonte é o vento, a energia das marés e das ondas, a radiação solar, o calor do fundo da Terra (geotermal) etc. TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 62 • Energia não renovável: consiste na energia cuja fonte necessita de um horizonte de tempo geológico para ser reposta, por exemplo, os combustíveis fósseis, como o gás. O quadro a seguir demonstrará as fontes de energia renováveis e não renováveis, separadas em energias primária e secundária. Essa última é resultante de um processo de transformação da primeira, por exemplo, a cana-de-açúcar, que vira biocombustível. QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES DE ENERGIA Fontes Energia primária Energia secundária Não renováveis Fósseis Carvão mineral Termoeletricidade, calor, combustível para transportePetróleo e derivados Gás natural Nuclear Materiais fósseis Termoeletricidade, calor Renováveis Tradicionais Biomassa primitica: lenha de desmatamento Calor Convencionais Potencias hidráulicas de médio e grande porte Hidreletricidade Novas Biomassa moderna: lenha replantada, culturas energéticas (cana-de-açúcar, óleos vegetais) Biocombustíveis (etanol, biodiesel), termeletricidade, calor Outros Energia solar Calor e eletricidade fotovoltaica Geotermal Calor e eletricidade Eólica EletricidadeMaremotriz e das ondas FONTE: Adaptado de Goldemberg e Lucon (2007) Dentre as fontes de energia não renováveis, temos as fósseis (carvão mineral, petróleo e derivados e gás natural), cuja aplicabilidade se dá em termoeletricidade, calor e combustível para transporte. Há, também, a energia nuclear (materiais físseis), que se aplica à termoeletricidade e ao calor. Com relação às fontes renováveis, surgem três subdivisões, sendo: tradicionais, convencionais e novas, conforme lecionam Goldemberg e Lucon (2007). Como fonte renovável tradicional, temos o uso da biomassa primitiva, e, como fontes convencionais, temos potenciais hidráulicos de médio e de grande porte, que são utilizados na hidreletricidade. Quanto às novas fontes de energia, temos os potenciais hidráulicos de pequeno porte, que também geram hidreletricidade, além da biomassa moderna (lenha replantada, culturas energéticas, como cana-de-açúcar, e outros óleos vegetais). Esse tipo de biomassa tem a sua aplicabilidade em biocombustíveis, como o etanol, e em termeletricidade e calor, ainda conforme Goldemberg e Lucon (2007). TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA 63 Dentre as novas fontes de energias renováveis, há, ainda, as que dão origem ao produto que aplicamos às edificações: a eletricidade. São elas: energia solar, geotérmica, eólica e maremotriz, sendo, a mais comum, a solar. 3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ENERGIA SOLAR Uma das fontes renováveis que vem sendo aplicada em edificações é a energia solar. Vamos conhecer um pouco mais do sistema de energia solar, além das vantagens e das desvantagens de sua aplicabilidade em edificações. O sistema de energia solar leva energia às edificações por meio do efeito fotovoltaico. Fraidenraich e Lyra (1995 apud SANTOS, 2009, p. 16) lecionam acerca desse efeito fotovoltaico: Esse fenômeno ocorre em alguns materiais semicondutores, a partir da incidência da luz solar. Os fótons da luz estimulam os elétrons a saltarem para a camada de condução, que, sob condições favoráveis, originará uma tensão e corrente elétrica. A radiação proveniente do sol fornece a energia necessária para o elétron saltar para a banda de condução. É, nesse movimento, entre a lacuna e a banda de condução, que a energia elétrica é gerada e “coletada” pelos condutores da célula. Utilizando materiais com diferentes características fotovoltaicas, são fabricadas as células fotovoltaicas, e a união de várias células dá origem ao chamado módulo fotovoltaico. Com relação à instalação de um sistema fotovoltaico, este, normalmente, utiliza painéis solares, fiação, sistema conversor CC–CA (corrente contínua e corrente alternada), proteções e conexões, conforme aponta Santos (2009). Seguem exemplos de módulos fotovoltaicos empregados em sistemas de energia solar. FIGURA 1 – MÓDULO DE SILÍCIO POLICRISTALINO, À ESQUERDA, E SILÍCIO MONOCRISTALINO, À DIREITA FONTE: Santos (2009, p. 18) UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 64 Os módulos fotovoltaicos de silício são os mais comumente utilizados, e o local de aplicação mais comum é o telhado, conforme leciona Santos (2009). De acordo com Torres (2012, p. 89): [...] A geração de energia elétrica em um sistema fotovoltaico depende das características dosmódulos (eficiência e coeficientes de temperatura), do posicionamento do painel (orientação e inclinação), das características dos inversores (eficiência) e do nível anual da irradiação no local (kWh/m2). A autora destaca, ainda, a questão de possíveis sombreamentos nos painéis, o que pode comprometer a geração de energia elétrica e, consequentemente, o desempenho do sistema. Dentre as vantagens de um sistema solar em edificações, podemos citar o fato de ser uma fonte de energia que causa menos danos ao meio ambiente, além de possibilitar a geração de energia durante o dia, ou seja, no mesmo período no qual há demanda de energia para atividades. Como desvantagens, podemos considerar a necessidade de incidência solar, que é menor em determinadas regiões e períodos do ano. Com relação à implementação de energia solar em edificações, é possível prever, no projeto, superfícies destinadas à colocação de painéis solares. FIGURA 2 – EDIFÍCIOS COM PREVISÃO DE PAINÉIS SOLARES FONTE: Adaptada de Santos (2009) Na figura anterior, observamos exemplos variados que incluem a instalação de painéis em telhados inclinados, fachadas, brises etc. Um exemplo de projeto com arquitetura pensada para o uso de energia solar é o estádio de futebol projetado por Toyo Ito. TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA 65 FIGURA 3 – ESTÁDIO DE FUTEBOL COM ARQUITETURA PLANEJADA PARA A UTILIZAÇÃO DE ENERGIA SOLAR FONTE: Archdaily (2013, s.p.) Construído em 2009, o estádio se localiza na cidade de Kaohsiung, em Taiwan. A área da cobertura corresponde a 14.155 m2 e conta com 8.844 painéis solares, capazes de gerar 1,14 GWh de energia que, ligada à rede da rua, consegue alimentar boa parte da vizinhança — cerca de 80% — quando o estádio não está sendo utilizado (GALILEU, [2010?]). Quanto aos componentes do sistema, a figura a seguir trará, de forma esquematizada, os itens que compõem um sistema de energia solar. O esquema apresentado traz painéis fotovoltaicos e inversores, que transformam a energia solar em elétrica, conforme leciona Santos (2009). FIGURA 4 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DE UM SISTEMA SOLAR FOTOVOLTAICO INTEGRADO AO TELHADO DE UMA RESIDÊNCIA URBANA E INTERLIGADO À REDE ELÉTRICA CONVENCIONAL FONTE: Adaptada de Santos (2009) UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 66 4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA APLICABILIDADE DE OUTRAS FONTES DE ENERGIA NAS EDIFICAÇÕES Agora que já estudamos a energia solar em edificações, falaremos da aplicabilidade de outras fontes, renováveis e não renováveis. No Brasil, a matriz energética é constituída, majoritariamente, por usinas hidrelétricas, conforme leciona Torres (2012). Em decorrência da predominância do uso de energia proveniente de hidrelétricas, as edificações ainda fazem pouco uso de outras fontes. A energia eólica, por exemplo, é pouco aplicada a edificações, devido aos equipamentos necessários e à necessidade de ventos. A seguir, veremos um exemplo de energia eólica aplicada a edificações. Um exemplo de aplicação de energia eólica em edificações é o do Hotel Hilton, em Fort Lauderdale, Flórida, Estados Unidos, que instalou seis aerogeradores. A seguir, veremos os aerogeradores instalados na cobertura do hotel. Em amarelo, estão destacados os macacos hidráulicos, que permitem a articulação dos mastros (movimentação descendente) para manutenção anual ou retirada de operação no caso de ventos de grandes velocidades, conforme leciona Bernardes (2015). FONTE: Bernardes (2015, s.p.) NOTA TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA 67 Outra fonte de energia renovável é aquela gerada a partir da biomassa. A Aneel (2008, p. 67) conceitua biomassa da seguinte forma: Qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou elétrica é classificada como biomassa. De acordo com a sua origem, pode ser: florestal (madeira, principalmente), agrícola (soja, arroz e cana--de-açúcar etc.) e rejeitos urbanos e industriais (sólidos ou líquidos, como o lixo). Os derivados obtidos dependem tanto da matéria-prima utilizada (cujo potencial energético varia de tipo para tipo) quanto da tecnologia de processamento para obtenção dos energéticos. 5 A BIOMASSA COMO FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA Você está prestes a iniciar os seus estudos relativos a fontes alternativas de energia. O primeiro assunto a ser estudado é a biomassa, que, segundo o dicionário Michaelis, é a quantidade de matéria orgânica viva constituída pelos componentes bióticos de um ecossistema — produtores, consumidores e desintegradores; o peso total dos organismos vivos de um ecossistema de determinado espaço, em determinado tempo; ou, ainda, mistura de restos de madeira, carvão vegetal ou resíduos agrícolas, como o bagaço e a palha da cana-de-açúcar, utilizados para a geração de energia elétrica. Essa definição engloba, também, combustíveis fósseis, pois eles, também, são de origem vegetal. É importante salientar, no entanto, que o seu objetivo de aprendizado, nesta unidade, está orientado a fontes alternativas e, portanto, não envolverá o estudo de fontes, como carvão mineral, gás natural e petróleo, que também se enquadram nessa definição. A biomassa é transformada a partir da fonte primária de energia dos organismos vivos: o sol. Os organismos absorvem a energia emitida pelo sol por meio dos fótons a partir da conversão, conhecida como fotossíntese, gerando energia química na forma de glicose — ou açúcar. FIGURA 5 – ESQUEMA DA FOTOSSÍNTESE. POR MEIO DE PROCESSOS FÍSICO-QUÍMICOS, O DIÓXIDO DE CARBONO E A ÁGUA GERAM GLICOSE E GÁS OXIGÊNIO POR MEIO DA ENERGIA DA LUZ SOLAR FONTE: Adaptada de Universia (2018) UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 68 O processo de geração de energia elétrica, a partir da energia térmica, começou a ser utilizado, comercialmente, a partir de 1882, nas usinas de Pearl Street (Nova Iorque, EUA) e Holborn Viaduct (Londres, Inglaterra), mas o processo de utilização da biomassa para a criação de fogo se desenvolveu com o próprio homo sapiens, sendo, portanto, uma descoberta pré-histórica. O conceito inicial de termoelétricas consistia na queima de carvão, que, apesar de poder ser classificado como biomassa, não é uma fonte renovável ou alternativa. O que vem sendo introduzido como fonte alternativa são resíduos de processamento de madeira, restos de alimentos e culturas agrícolas. Isso significa o reaproveitamento de materiais que podem ser obtidos de forma sustentável e está alinhado com as políticas de destinação de resíduos orgânicos. A seguir, você poderá observar um resumo gráfico das fontes utilizadas como biomassa. FIGURA 6 – FONTES UTILIZADAS COMO BIOMASSA FONTE: Adaptada de The National Energy Education Project (2018) No Brasil, a agência reguladora dos serviços de energia elétrica é a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que é uma autarquia, ou seja, tem poder para regular os assuntos relacionados ao setor de energia no país. A médio e a longo prazo, a biomassa se torna uma opção frente à exaustão de fontes não renováveis e às regulamentações ambientais que, cada vez mais, buscam restringir a exploração indiscriminada (predatória) de recursos naturais e desenvolver ciclos sustentáveis de expansão da economia. As vantagens ambientais do uso racional da biomassa se dão, principalmente, no controle das emissões de CO2 e de enxofre (ROSILLO-CALLE; BAJAY, 2000). A utilização desse recurso ainda é de difícil contabilização, devido à larga utilização não comercial. Ao analisar, especificamente, o caso do estado de São Paulo, onde é intensa a produção de biomassa energética por meio da cana-de-açúcar utilizada para produção de álcool, percebe-se que o estado atingiu um índice de 37,3% de produção de bioenergia com cana e derivados. O estado tem capacidade para TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA 69 atingir capacidade de produção de energia de mais de 14 mil MW, devido à alta produção agrícola, o que seria equivalente ao volume de produçãoda usina hidrelétrica de Itaipu. GRÁFICO 1 – RENOVÁVEIS NA MATRIZ ENERGÉTICA PAULISTA FONTE: Adaptada de São Paulo (2018) Para o estado de São Paulo, existe, ainda, um potencial para 5 mil MW se forem considerados aterros sanitários, efluentes, resíduos da agroindústria e resíduos sólidos urbanos. Além disso, foi feito um levantamento de escopo que identificou uma área de pastagens degradadas com área de, aproximadamente, 1,8 milhão de hectares, que pode dar origem a 1,5 mil MW. É importante ressaltar que a União Europeia e as Nações Unidas já reconheceram a utilização da biomassa como fonte de energia renovável, desde que os insumos não sejam captados de forma predatória, pois o balanço da emissão de dióxido de carbono proveniente da queima do material é equivalente ao consumido durante o processo de fotossíntese. A geração de bioenergia é particularmente propícia a países tropicais, onde os índices de crescimento das culturas são beneficiados pelo alto índice de incidência solar. A eficiência das plantas de geração de energia, a partir da biomassa, pode chegar a até 27%, o que é proporcional ao valor investido na tecnologia de geração. Em contrapartida, nas usinas que utilizam a biomassa com carvão, as eficiências atingidas chegam a 40%. 6 A APLICAÇÃO DE CÉLULAS COMBUSTÍVEIS O conceito de células combustíveis, certamente, originou-se da pilha desenvolvida pelo físico Alessandro Volta, ainda no século XVIII. As células combustíveis aplicam a conversão de energia química para a geração de energia elétrica e de calor. UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 70 Quais dispositivos você utiliza no dia a dia que são alimentados por baterias? Com certeza, são muitos. Eles poderiam funcionar por meio do sistema de distribuição de energia elétrica? Talvez. Contudo, as exigências das aplicações, muitas vezes, demandam que a alimentação elétrica do dispositivo permita mobilidade. Dessa forma, criaram-se desafios específicos para esse tipo de geração de energia. De forma geral, todas as células combustíveis operam de forma semelhante, seguindo, também, a lógica da pilha de Volta. A principal diferença entre os dois é que a segunda armazena energia, ao passo que a primeira atua como um gerador de energia por meio de um combustível. As células produzem um fluxo constante de energia em forma de corrente contínua a partir das reações químicas que acontecem a partir do eletrólito com o cátodo e o ânodo. O processo de equilíbrio energético se inicia com a oxidação do combustível, geralmente, hidrogênio, no ânodo da célula. Nesse processo, é liberado um elétron, que alimenta a carga do circuito. O íon com carga positiva liberado desse balanço energético atravessa o eletrólito até o cátodo, e o elétron liberado e o íon se encontram novamente. Nesse ponto, ocorre uma nova reação química (geralmente, consumindo oxigênio), origem do resíduo da geração de energia, geralmente, água ou dióxido de carbono. FIGURA 7 – CÉLULA COMBUSTÍVEL MODELO FONTE: Adaptada de Altork e Busby (2010) Você, provavelmente, já se deparou com a utilização de geradores de energia. Os modelos disponíveis, comercialmente, no Brasil, geralmente, atuam por meio do processo de combustão, no qual a energia captada da explosão do combustível é utilizada para movimentar o eixo de um gerador, dando origem à energia elétrica em forma de corrente alternada. As células combustíveis convertem a energia por meio das reações químicas, diferentemente do processo padrão de combustão utilizado atualmente, gerando energia diretamente, sem as perdas mecânicas de um gerador comum. Tecnicamente, pode-se construir um sistema desse tipo a partir de diversos insumos. Os modelos mais desenvolvidos e que têm aplicações comerciais práticas serão explicados a seguir. TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA 71 • PEMFCs: célula combustível com funcionamento por meio da membrana de troca de prótons. Nesse projeto, uma membrana de polímero condutora de prótons contém a solução de eletrólito que separa o cátodo e o ânodo. • PAFC: as células combustíveis de ácido fosfórico foram, primeiramente, desenvolvidas em 1991, por Tanner e Elmore. Os íons do hidrogênio são conduzidos através do eletrólito de ácido fosfórico do ânodo para o cátodo, sendo que o processo, geralmente, trabalha entre temperaturas de 150-200 °C. O calor deve ser removido do sistema para que a célula continue a operar, sendo uma possibilidade de aplicação para a cogeração. • SAFC: são as células combustíveis de ácido sólido. Nesse caso, o eletrólito é formado por uma camada sólida de ácido que, em regime de operação (140- 150 °C), atinge uma configuração com alta densidade protônica, propiciando alta condutividade no meio. • AFC: são as células alcalinas (desenvolvidas por Francis Bacon, em 1959). Elas foram a fonte primária de energia do programa Apollo, da NASA (WILLIAMS, 1994), funcionando através de eletrodos porosos de carbono e uma solução de eletrólito de hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio. 6.1 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO Como exemplo do âmbito automotivo, em 2015, a Toyota apresentou o seu primeiro veículo de célula combustível, o Mirai. Denominados FCEVs (Fuel Cell Electric Vehicles), os veículos alimentados pelas células já são realidade, sendo limitados apenas à distribuição do combustível utilizado pelas células, o hidrogênio. A tecnologia, de acordo com o relatório da Information Trends, atingiu a venda de 6.475 veículos até 2017. A respeito dos geradores, atualmente, as células combustíveis são consideradas fontes muito confiáveis de energia, sendo referência para aplicações que demandem fornecimento confiável de energia, como hospitais, espaçonaves e veículos militares. Em 2003, teve início o programa-piloto Stuart Island, no estado de Washington, capital dos Estados Unidos. A partir desse programa, foi desenvolvido um sistema fechado capaz de gerar 0,25 kW, podendo atender à demanda de uma residência. A ONSI Corporation desenvolveu uma célula CHP (Combined Heat and Power) com base na aplicação de ácido fosfórico, capaz de gerar 200 kW de energia elétrica. O sistema atua em um regime de cogeração, entregando, também, 200 kW de energia em forma de calor. Cogeração é o processo de produção combinada de energia elétrica e calor. As plantas térmicas movidas a carvão apresentam uma eficiência aproximada de 30%, o que significa que cerca de 70% do calor é desperdiçado. No processo de cogeração, 30-40% da energia química é transformada diretamente em energia elétrica e o restante em calor. Dessa forma, é possível reaproveitar o calor para alimentar o processo a vapor, gerando apenas 10-20% de perda de energia. UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 72 FIGURA 8 – BALANÇO ENERGÉTICO TERMELÉTRICA VERSUS BALANÇO ENERGÉTICO COGERAÇÃO FONTE: Adaptada de Instituto Nacional de Eficiência Energética (2018) Acerca do transporte público, em dezembro de 2010, foram iniciados os testes com passageiros em três ônibus movidos a células de hidrogênio. A Empresa Metropolitana de Transportes de São Paulo foi a coordenadora do projeto nacional de implantação da tecnologia, que traz a garantia de zero emissão de gases poluentes e geradores de efeito estufa, além de baixo ruído e vibração. 7 O HIDROGÊNIO COMO FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA O hidrogênio, como fonte alternativa de energia, pode ser utilizado nos processos de combustão e em células de combustível. Ele é tão leve que sobe às camadas mais altas da atmosfera, sendo raramente encontrado na sua forma pura (ALTORK; BUSBY, 2010). Apesar de ser um dos elementos disponíveis em maior volume no universo (o sol, por exemplo, é feito de hidrogênio na sua maior parte), a sua captação é difícil e a sua presença ocorre nas formas de compostos moleculares, como a água. Você deve se perguntar: mas qual é a vantagem da utilização do hidrogênio como combustível? Você deve avaliar, primeiramente, o funcionamento da cadeia de fornecimento de energia atual. Amaior parte dos combustíveis utilizados é de origem fóssil (derivados do petróleo e do carvão), mas é de conhecimento geral que essa cadeia não é sustentável e que os esforços da ciência têm sido justamente para encontrar alternativas que atendam à crescente demanda energética sem causar impacto ao meio ambiente. A exploração desses recursos fósseis está em um ritmo, aproximadamente, um milhão de vezes mais rápido do que o de geração (BRINNER; PHILLIPS, 2001), o que nos dá uma ideia de quão rápido esses recursos chegam à exaustão. TÓPICO 1 — ENERGIA SOLAR E OUTRAS FONTES DE ENERGIA 73 Uma das primeiras abordagens dos pontos de vista comercial e social feita é a comparação da utilização do hidrogênio com os combustíveis fósseis. Quando comparado com os demais combustíveis, o hidrogênio apresenta o maior conteúdo energético por peso (35,7 kWh/kg, aproximadamente, o triplo da gasolina), mas tem o menor conteúdo energético por volume (600 kWh/m3 com pressão de 200bar) (aproximadamente, 5,5% do apresentado pela gasolina). Para que ele fosse adotado como combustível da frota de veículos, toda a cadeia precisaria ser remodelada. O hidrogênio é, predominantemente, armazenado em forma de gás, pois só é liquefeito sob temperaturas muito baixas (-253 °C). Todos os aspectos relativos à segurança operacional necessitariam de ajustes, exigindo uma completa revisão do sistema de distribuição, armazenamento e utilização. Essas adaptações, no entanto, já foram comprovadamente testadas, com estudos que datam de 30 anos atrás e veículos comerciais disponíveis ao mercado consumidor (BMW e DC). 74 Neste tópico, você aprendeu que: • Fontes se subdividem em renováveis e não renováveis, as quais podem ser aplicadas a edificações. • Uma das fontes renováveis que vem sendo aplicada em edificações é a energia solar, fonte de energia que possui os seus pontos positivos. • No Brasil, a matriz energética é constituída, majoritariamente, por usinas hidrelétricas. • A energia eólica, por exemplo, é pouco aplicada a edificações, devido aos equipamentos necessários e à necessidade de ventos. • A respeito dos geradores, atualmente, as células combustíveis são consideradas fontes muito confiáveis de energia. • O hidrogênio, como fonte alternativa de energia, pode ser utilizado nos processos de combustão e em células de combustível. RESUMO DO TÓPICO 1 75 1 Entende-se, por energia renovável, aquela cuja fonte é imediatamente reposta pela natureza. Assinale a alternativa que traz exemplos de fontes renováveis de energia: a) ( ) Carvão mineral, energia solar e energia geotérmica. b) ( ) Energia eólica, energia solar e energia geotérmica. c) ( ) Carvão mineral, gás natural e energia solar. d) ( ) Gás natural, petróleo e energia geotérmica. e) ( ) Petróleo, energia eólica e gás natural. 2 Energia não renovável consiste na energia cuja fonte necessita de um horizonte de tempo geológico para ser reposta, como o gás, um combustível fóssil (GOLDEMBERG; LUCON, 2007). Acerca das fontes não renováveis de energia, assinale a alternativa que apresenta somente fontes desse tipo: a) ( ) Carvão mineral, petróleo e gás natural. b) ( ) Petróleo, gás natural e energia solar. c) ( ) Gás natural, petróleo e energia eólica. d) ( ) Energia solar, energia geotérmica e gás natural. e) ( ) Carvão mineral, energia eólica e energia solar. 3 A energia solar vem de uma fonte renovável, o sol, e a implementação de um sistema de captação da energia solar em edificações pode ser atrelada à concepção do projeto arquitetônico, por meio da previsão de superfícies destinadas à colocação de painéis, como brises e fachadas, por exemplo. Acerca das vantagens e das desvantagens da instalação de tal sistema, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Vantagens: fonte de energia não renovável, que causa menos danos ao meio ambiente; a geração de energia é realizada durante o dia, ou seja, no mesmo período no qual há demanda de energia para atividades. Desvantagens: necessidade de incidência solar, que é menor em determinadas regiões e períodos do ano. b) ( ) Vantagens: fonte de energia renovável, que causa menos danos ao meio ambiente; a geração de energia pode ser realizada em qualquer período do dia. Desvantagens: necessidade de incidência solar, que é menor em determinadas regiões e períodos do ano. c) ( ) Vantagens: fonte de energia não renovável, que causa menos danos ao meio ambiente; a geração de energia pode ser realizada à noite para ser utilizada durante o dia, ou seja, no mesmo período no qual há demanda de energia para atividades. Desvantagens: gera energia durante todos os períodos do dia. AUTOATIVIDADE 76 d) ( ) Vantagens: fonte de energia não renovável, que causa menos danos ao meio ambiente; a geração de energia pode ser realizada durante o dia, ou seja, no mesmo período no qual há demanda de energia para atividades. Desvantagens: gera energia durante todos os períodos do dia. e) ( ) Vantagens: fonte de energia renovável, que causa menos danos ao meio ambiente; a geração de energia pode ser realizada durante o dia, ou seja, no mesmo período no qual há demanda de energia para atividades. Desvantagens: necessidade de incidência solar, que é menor em determinadas regiões e períodos do ano. 4 No Brasil, predomina determinada matriz energética cuja fonte é considerada renovável. Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, o modelo de energia predominante no país e duas alternativas de fontes também renováveis: a) ( ) Hidreletricidade, solar e eólica. b) ( ) Nuclear, eólica e solar. c) ( ) Solar, nuclear e hidreletricidade. d) ( ) Hidreletricidade, nuclear e solar. e) ( ) Nuclear, maremotriz e eólica. 5 Dentre as fontes renováveis, há a biomassa. Assinale a alternativa que explica o termo e apresenta dois exemplos.: a) ( ) Qualquer matéria nuclear que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou elétrica é classificada como biomassa. Exemplos: água e lixo. b) ( ) Toda matéria orgânica que pode ser transformada em energia mecânica, solar ou eólica é classificada como biomassa. Exemplos: sol e vento. c) ( ) Qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou elétrica é classificada como biomassa. Exemplos: madeira e lixo. d) ( ) Toda matéria orgânica que possa ser transformada em energia elétrica, solar ou eólica é classificada como biomassa. Exemplos: arroz e carvão. e) ( ) Toda matéria orgânica que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou elétrica é classificada como biomassa. Exemplos: arroz e carvão. 6 A biomassa, assim como o petróleo, é considerada um hidrocarboneto. Apesar disso, o seu processo de combustão é considerado mais limpo. No entanto, a mesma característica que o torna menos poluente reduz o seu poder calorífico superior (PCS). Que característica é essa? a) ( ) Uma ligação com amina. b) ( ) Um oxigênio a mais. c) ( ) A densidade. d) ( ) O teor de umidade. e) ( ) A massa específica. 77 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Quando falamos do conceito de energia, ele pode ser muito amplo e abstrato, e, quando envolve dispositivos eletrônicos e elétricos, a energia pode ser caracterizada como trabalho, ou seja, o trabalho solicitado pelos equipamentos ou dispositivos elétricos ou eletrônicos para realizar tarefas, como aquecimento, geração de luz, acionamento de motores elétricos ou cargas mecânicas etc. Toda energia consumida por um dispositivo ou equipamento elétrico ou eletrônico está diretamente ligada ao tempo em que o equipamento ou dispositivo está em operação. Para podermos desvincular essa dependência de tempo, entra o conceito de potência, que pode ser definida como a taxa a que a energia é fornecida ou consumida por um equipamento ou dispositivo específico ao longo do tempo. Neste tópico, você interpretará os conceitos de medição de potência e de energia e definirá instrumentos para medição de potência e deenergia, assim como analisará as técnicas de medição de potência e de energia elétrica em corrente alternada (CA). 2 SISTEMAS DE SINAL DE BAIXA TENSÃO O significado do termo “baixa tensão” depende do contexto em que ele é usado. Em geral, os circuitos elétricos de sinal de baixa tensão, encontrados em uma casa, operam a partir de transformadores abaixadores, cuja tensão primária é de 127 V e a tensão secundária máxima é de cerca de 30 V. Esse nível de tensão mais baixo reduz o perigo de choque elétrico. Os sistemas de sinal de baixa tensão são empregados em campainhas, fechaduras de porta e sistema de segurança. A instalação de circuitos de sinal de baixa tensão é, em muitos aspectos, mais barata e mais simples do que a fiação de um circuito elétrico comum. A alimentação é fornecida por um transformador aprovado para essa finalidade. Os transformadores aprovados têm embutida uma proteção contra sobrecorrente e são, propositadamente, limitados a valores muito baixos de potência. Por essa razão, esses circuitos são, às vezes, chamados de circuitos limitadores de energia. Admite-se que um curto-circuito nesse tipo de circuito não inicia um incêndio ou constitui qualquer outra ameaça à vida ou à propriedade. TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 78 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA Um transformador de campainha, permanentemente conectado à alimentação de 127 VCA, é usado para abaixar a tensão. As tensões-padrão no secundário de um transformador de campainha são 6–10 VCA e 12–18 VCA. Eles são, geralmente, construídos de modo a serem instalados em um orifício de uma caixa de tomada metálica padrão, com os terminais primários de 127 V localizados dentro da caixa. Os condutores podem ser colocados em um revestimento (jaqueta), que forma um cabo, ou torcidos em conjunto sem um revestimento global. Os cabos para circuitos de campainha vêm, comumente, em cabos de dois, três, quatro e cinco condutores. Cada condutor é codificado por cores para a sua identificação e para facilitar a montagem e a manutenção do circuito. Os cabos são suportados por grampos especiais isolados, uma vez que o uso de grampos de metal pode danificar os condutores. É uma boa prática passar a fiação da campainha separada dos circuitos de potência e de iluminação para evitar a transferência acidental de tensão para o circuito de sinal. Além disso, essa fiação deve ser mantida longe de tubos de água quente, dutos de ar quente e outras fontes de calor que possam danificar a sua isolação. FIGURA 9 – CONEXÃO DE UM TRANSFORMADOR DE CAMPAINHA FONTE: Petruzella (2014, p. 358) FIGURA 10 – CIRCUITO EQUIVALENTE DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO MÉDIA FONTE: Petruzella (2014, p. 359) TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 79 3 CIRCUITO DE CAMPAINHA A campainha é um dispositivo de sinal muito popular nas residências, de modo geral. Uma campainha de porta típica de dois tons permite identificar sinais de dois lugares. Ela é constituída por dois solenoides elétricos de 16 V e duas barras de tom (também chamadas de barras de timbre). Um solenoide, como você deve lembrar, é um eletroímã que tem um núcleo móvel. Quando uma tensão é, momentaneamente, aplicada ao solenoide frontal (associado à porta da frente), o seu núcleo móvel se desloca e atinge ambas as barras de tom. Quando uma tensão é, momentaneamente, aplicada ao solenoide traseiro (associado à porta de trás), o seu núcleo móvel atinge apenas uma barra de tom. Assim, um tom duplo (ding-dong) é produzido por um sinal do solenoide frontal e um tom único é produzido pelo solenoide traseiro. O quadro de terminais da unidade de campainha tem, geralmente, três terminais de parafuso. O terminal marcado com “F” (frontal ou frontal) é conectado a um dos lados do solenoide frontal (porta da frente). O terminal marcado com “B” (back ou traseiro) é conectado a um dos lados do solenoide traseiro (porta de trás). O terminal marcado com “T” é conectado a ambos os terminais restantes dos solenoides. Isso torna o terminal “T” comum a ambos os solenoides. O esquemático completo e uma amostra do quadro de sequência numérica da fiação serão apresentados mais adiante. Um transformador 127 V/16 V é usado como fonte de alimentação. O circuito esquemático pode ser lido facilmente para mostrar como o circuito funciona. Apertando o botão (tipo pushbutton) apropriado, o circuito entre os solenoides frontal e traseiro: FIGURA 11 – CAMPAINHA DE PORTA DE DOIS TONS FONTE: Petruzella (2014, p. 359) 80 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA FIGURA 12 – QUADRO DE TERMINAIS DA CAMPAINHA FONTE: Petruzella (2014, p. 360) Será devidamente fechado. Botões são usados em vez de interruptores de modo, com o circuito ativo apenas quando o botão estiver pressionado. Uma campainha de dois tons indica que o sinal é da porta da frente. Uma campainha de um único tom indica que o sinal é da porta de trás. FIGURA 13 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DO CIRCUITO DE CAMPAINHA DE PORTA FONTE: Petruzella (2014, p. 360) Localizado no porão da casa*, com o seu primário de 127 V, permanentemente ligado ao sistema elétrico da casa. Três passagens de cabo são usadas. Um cabo único de dois condutores é instalado do transformador para cada uma das portas e um cabo de três condutores vai do transformador para a campainha. A campainha está localizada em um local central no primeiro andar (ou no único andar da residência). Observe que os componentes foram enumerados de acordo com a sequência de numeração adotada no esquema. Os botões e o transformador estão TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 81 representados pictoricamente. O diagrama de ligação é completado pela conexão dos terminais, de acordo com o quadro da sequência de numeração da ligação. Use o código de cores da isolação do fio para identificar, de forma correta, as extremidades dos fios do cabo. Um cabo de dois condutores, geralmente, contém um fio preto e um branco (ou azul). Um cabo de três condutores costuma ter fios preto, branco (ou azul) e vermelho**. Esse tipo de fiação de sinal, normalmente, não requer a utilização de caixas de luz (ou caixas de tomada). 4 CONCEITOS DE MEDIÇÃO DE POTÊNCIA E ENERGIA Os átomos são formados por elétrons, prótons e nêutrons; os elétrons giram em órbitas em torno do núcleo, que é composto pelos prótons e nêutrons. A quantidade de elétrons, prótons e nêutrons muda, de acordo com cada tipo de elemento químico, e quanto maior for a energia do elétron, maior é o raio da órbita por onde ele gira. A estrutura de um átomo poderá ser vista a seguir. FIGURA 14 – ESTRUTURA DO ÁTOMO FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Os elétrons que se encontram na camada mais externa são chamados de elétrons de valência. Quando um átomo recebe energia externa, isso faz com que os elétrons de valência se tornem elétrons livres, que formam uma banda de condução que pode se movimentar pelo material. Se você aplicar um campo elétrico ao material, são os elétrons livres que, ao se movimentarem, geram a corrente elétrica. Quanto maior a energia necessária para os elétrons de valência se movimentarem, maior é a resistência elétrica do material. A resistividade elétrica (ρ) é uma propriedade do material e está relacionada com a resistência elétrica da seguinte maneira: R é a resistência elétrica. A é a área da secção reta perpendicular à direção da corrente. l é a distância entre dois pontos no material. (1) 82 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA A condutividade elétrica indica a facilidade com que um material conduz corrente elétrica e é o inverso da resistividade. A carga elétrica (Q) é expressa em coulombs (C); um coulomb de carga equivale a uma quantidade de carga de 6.250.000.000.000.000.000 elétrons. A corrente elétrica (i) pode ser definida como o movimento, em uma determinada direção, de partículas carregadas. As partículas carregadas, nos sólidos, são sempre os elétrons, mas em líquidos e em sólidospodem ser, ainda, íons positivos ou íons negativos. Íons são átomos que ganharam ou perderam elétrons devido a alguma reação; os íons podem ser divididos em ânions e cátions. Os cátions são átomos que perdem elétrons e ficam carregados positivamente, e os ânions são átomos que recebem elétrons e ficam carregados negativamente (GUSSOW, 2009). A carga elétrica exerce uma força que faz surgir um campo eletrostático que envolve cada corpo carregado. Ao aproximar dois corpos de polaridades opostas, surge um campo eletrostático que se concentra na região entre os dois corpos. O campo elétrico e representado por linhas de força. FIGURA 15 – CAMPO ELETROSTÁTICO FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. A carga elétrica realiza trabalho ao deslocar uma outra carga por atração ou repulsão, devido ao seu campo eletrostático. Esse trabalho realizado pela carga elétrica é chamado de potencial. Sempre que as cargas forem diferentes entre si, teremos uma diferença de potencial entre as cargas. Essa diferença de potencial é denominada de tensão elétrica, e a unidade de medida é o volt (V). Quando os elétrons se movimentam, denomina-se corrente elétrica (I), e essa corrente surge através do movimento dos elétrons, gerado pelo efeito de uma diferença de potencial, tendo, como unidade de medida, o ampère (A) (COTRIM, 2009). A resistência elétrica é a capacidade de um elemento de se opor à passagem de corrente elétrica. Um resistor e um elemento que tem o seu valor de resistência para o fluxo da corrente específica. A resistência (R) elétrica é medida em ohms, TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 83 e o ohm (Ω) representa a quantidade de resistência que limita a corrente elétrica em um condutor ao valor de um ampère quando a tensão aplicada for de um volt (GUSSOW, 2009). A lei de ohm define a relação entre a corrente, a tensão e a resistência, e é representada pela seguinte equação, que menciona que a tensão elétrica é igual à resistência multiplicada pela corrente: V = R ∙ I V = Tensão (V) R = Resistência (Ω) I = Corrente (A) Basta conhecer duas das grandezas, V, I e R, para podemos calcular a terceira. Com isso, ainda, podemos calcular a potência elétrica P encontrada em qualquer parte de um circuito. A potência é igual à tensão (V) multiplicada pela corrente (I), representada pela seguinte fórmula, e a sua unidade de medida é watts: P = V ∙ I P = Potência (W) V = Tensão (V) I = Corrente (A) (2) (3) O conceito de energia é muito amplo e abstrato e, quando envolve dispositivos eletrônicos e elétricos, a energia pode ser caracterizada como trabalho, ou seja, o trabalho solicitado, pelos equipamentos ou dispositivos elétricos ou eletrônicos, para realizar tarefas, como aquecimento, geração de luz, acionamento de motores elétricos ou cargas mecânicas. Já a potência leva em conta o tempo gasto na realização do trabalho. Sendo, o watt, a unidade de potência, um watt usado em um segundo é igual ao trabalho de um joule, ou um watt e um joule por segundo. O joule (J) é a unidade prática fundamental de trabalho ou de energia. O quilowatt-hora (kWh) é uma unidade, normalmente, usada para designar grandes quantidades de energia elétrica ou trabalho. A grandeza quilowatt-hora é calculada se fazendo o produto da potência em quilowatts (kW) pelo tempo, em horas (h), e a potência é utilizada, ou seja, kWh = kW × h (GUSSOW, 2009). Qual a potência dissipada por um sistema que é alimentado com uma tensão de 220 V e consome uma corrente de 10 A? Para calcular P, utiliza-se a equação anterior. Solução: P= V ∙ I P = 220V * 10A P = 2200W= 2,2KW NOTA 84 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA 5 INSTRUMENTOS PARA MEDIÇÃO DE POTÊNCIA E ENERGIA Para medir a potência ativa (real), utiliza-se um equipamento chamado de wattímetro. Esse tipo de aparelho mede a potência ativa (P) consumida por uma carga, ou seja, o wattímetro é um instrumento desenvolvido para a medição da potência real fornecida ou dissipada por um circuito ou uma carga. A seguir, podemos ver um wattímetro. FIGURA 16 – WATTÍMETRO FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Utilizando um voltímetro e um amperímetro, é possível medir a potência aparente (S) absorvida pela carga ou circuito, que é S = V × I. A seguir, poderemos ver um voltímetro e um amperímetro. As concessionárias de energia elétrica estabelecem tarifas de cobranças por quilowatt-hora consumido. As tarifas para a energia elétrica, nos Estados Unidos, dependem do método pelo qual a eletricidade é gerada, do tipo e da complexidade do sistema de transmissão e distribuição, do custo de manutenção e diversos outros fatores. Sabendo-se da quantidade de energia utilizada (obtida a partir da leitura do medidor) e do custo do quilowatt-hora da energia em uma determinada área, calcule a conta mensal de energia elétrica. Uma residência usa 820 kWh de energia elétrica em um mês. Se a tarifa é de 10 centavos por quilowatt-hora, qual o valor da conta de energia elétrica de um mês? Solução: Custo total = kWh × custo unitário. Custo total = 820 kWh × 10 centavos. Custo total = 8200 centavos. Custo total = 82,00 reais = R$ 82,00. NOTA TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 85 FIGURA 17 – AMPERÍMETRO FONTE: Fowler (2013, p. 54) FIGURA 18 – VOLTÍMETRO FONTE: Fowler (2013, p. 55) Ainda, podemos utilizar os multímetros, que podem medir mais de uma grandeza elétrica. Eles apresentam todos os valores no mesmo display, apenas têm a necessidade de selecionar corretamente a função de medição que deve ser utilizada, além da faixa dessa medição. Segue a figura de um multímetro. FIGURA 19 – MULTÍMETRO FONTE: Fowler (2013, p. 57) 86 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA Com o valor da potência aparente (S) e o valor medido com o wattímetro (P), é possível determinar a potência reativa (Q) utilizando as equações a seguir: S = V ∙ I Q = V ∙ I senφ A energia elétrica que chega nas residências, no comércio e na indústria, é, normalmente, medida com um equipamento conhecido como medidor de energia. Os medidores de energia mais comuns são os medidores eletromecânicos e os medidores eletrônicos. A seguir, poderemos ver cada um deles: FIGURA 20 – MEDIDOR ELETROMECÂNICO FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. FIGURA 21 – MEDIDOR ELETRÔNICO FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. (4) (5) (6) (7) TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 87 6 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE POTÊNCIA E ENERGIA ELÉTRICA EM CORRENTES ALTERNADAS Na sua grande maioria, a energia elétrica é transmitida e distribuída na forma de tensões alternadas e CA. As CAs são correntes cujo sentido muda periodicamente, assim como a sua intensidade, que varia continuamente. Sempre que temos uma CA, também temos, associadas a ela, uma tensão alternada e uma potência. Quando uma tensão alternada é aplicada a um sistema ou circuito, ela gera uma CA, e, juntas, tensões alternadas e CA produzem uma potência (FOWLER, 2013). Seguem as formas de onda de corrente elétrica alternada. FIGURA 22 – CORRENTES CA FONTE: Fowler (2013, p. 54) A velocidade com que a corrente inverte o seu sentido ou a frequência com que a polaridade da tensão muda é chamada de frequência elétrica e é expressa em Hertz, ou seja, a frequência elétrica corresponde ao número de oscilações, ondas ou ciclos por segundo que ocorre na corrente elétrica. Os sistemas e os circuitos elétricos se comportam, diferentemente, quando submetidos à corrente contínua (CC) e à CA. Quando submetidos à CC, os capacitores e os indutores armazenam energia, já quando são alimentados com CA, o seu comportamento pode se aproximar ao dos resistores, que se opõem ao fluxo de corrente elétrica. Reatância (X) é a resistência oferecida à passagem de CA por indutância (indutores) ou capacitância (capacitores). A unidade de medida da reatância, assim como a da resistência, é o ohm, e é componente da impedância de um circuito,que não é derivada da resistência pura. 88 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA Em sistemas ou circuitos submetidos à CC, os capacitores agem como um circuito aberto, pois a sua resistência à passagem de CC é extremamente grande, enquanto os indutores, em sistemas ou em circuitos submetidos à CC, agem como curtos-circuitos, pois a sua resistência à passagem de CC é muito próxima de zero. Contudo, em sistemas ou circuitos submetidos à CA, os indutores e os capacitores têm resistência à passagem de CA, e essa resistência está diretamente relacionada à frequência do sinal alternado. Devido a esses fatores, os indutores e os capacitores, quando submetidos à corrente e à tensão alternadas, apresentam reatâncias que podem ser calculadas assim: Indutor: XL= 2πfL = ωL Capacitor: ω = 2πf L = indutância C = capacitância f = frequência A relação que a frequência tem com a reatância capacitiva (XC) é inversamente proporcional, ou seja, a reatância capacitiva diminui, proporcionalmente, ao aumento da frequência do sinal alternado; quanto menor for a frequência do sinal alternado, maior é a reatância capacitiva (XC). Já a relação que a frequência tem com a reatância indutiva (XL) é diretamente proporcional, ou seja, a reatância indutiva aumenta, proporcionalmente, ao aumento da frequência do sinal alternado, isto é, quanto maior for a frequência do sinal alternado, maior é a reatância indutiva (XL). Quando falamos da impedância (Z), estamos falando da relação a qualquer oposição à passagem de corrente, e, nos sistemas ou circuitos CC, essa oposição à passagem de corrente equivale à resistência. A impedância, então, pode representar uma reatância capacitiva, uma reatância indutiva ou a união dessas reatâncias com resistências. Em um circuito ou sistema elétrico que tenha uma reatância capacitiva ou uma reatância indutiva ligada, em série comum, à resistência, a impedância é representada como um número complexo na sua forma retangular, expressa, matematicamente, por: Z = R + Xj (8) (9) (10) (11) TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 89 Z = impedância total X é a reatância do circuito R é a resistência do circuito A seguir, podemos ver o diagrama vetorial que representa a impedância de um circuito. θ representa o ângulo de fase em graus entre a tensão e a corrente no circuito. FIGURA 23 – DIAGRAMA VETORIAL PARA A IMPEDÂNCIA FONTE: Fowler (2013, p. 351) A reatância total do circuito (X) é calculada pela equação a seguir: X = XL + XC O módulo da impedância |Z| é calculado pela equação que segue: |Z| = √R2 + (XL – XC)² = √R2 + X2 E o cálculo do ângulo da fase (θ) se dá pela equação: Fasores são vetores que giram em um círculo trigonométrico em uma determinada velocidade, originando as funções senoidais. Devido a isso, podemos representar todas as funções senoidais através de um fasor. Em circuitos monofásicos, a potência instantânea P e o produto da corrente I pela tensão V para um dado instante t (P = V x I). Um momento em que a corrente e a tensão se encontram positivamente ou negativamente gera uma potência positiva, ou seja, está sendo gasta uma potência no ciclo (GUSSOW, 2009), como poderemos ver a seguir: (12) (14) (13) 90 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA GRÁFICO 2 – POTÊNCIA GASTA NO CICLO FONTE: Gussow (2009, p. 352) Um momento em que a corrente e a tensão se encontram, uma positivamente e a outra negativamente, gera uma potência negativa, ou seja, não está sendo gasta uma potência no ciclo, e essa potência volta para a fonte (linha) (GUSSOW, 2009), como poderemos ver a seguir: GRÁFICO 3 – POTÊNCIA NÃO SENDO GASTA NO CICLO; VOLTA PARA A FONTE FONTE: Gussow (2009, p. 352) TÓPICO 2 — VISÃO GERAL DE CIRCUITOS E DE SISTEMAS ELÉTRICOS 91 A potência real é o produto da tensão em cima da resistência pela corrente que passa na resistência. A potência real também é conhecida como potência resistiva ou potência ativa, e é dissipada na forma de calor. A potência real é medida em watts (W) ou kilowatts (kW), por meio de um aparelho chamado de kilowattímetro. É a energia que deve ser realmente utilizada. Na reatância, a corrente está sempre 90° defasada em relação à tensão, e o produto Px = Vx × Ix é sempre negativo e denominado de potência reativa, pois se origina devido à reatância do circuito. A potência reativa funciona entre o gerador de energia e a carga, mantendo o campo eletromagnético ativo em motores, reatores, transformadores, lâmpadas fluorescentes, dentre outros equipamentos. A sua medida é feita em kilovolts-Amperes-Reativos (kVAR). Quando somamos as potências ativa e reativa, surge a potência aparente, que é medida em kilovolts-amperes (kVA). Podemos representar as potências (Real, Reativa e Aparente) em um triângulo retângulo chamado de triângulo de potência: FIGURA 24 – TRIÂNGULO DE POTÊNCIA - FÓRMULAS FONTE: Gussow (2009, p. 353) O fator de potência (FP) é a razão entre a potência real e a potência aparente. O FP determina que parcela da potência aparente e da potência real pode ser calculada pelas equações a seguir: (15) A energia monofásica utiliza apenas uma fase (linha), sendo distribuída através de tomadas de uso doméstico comuns e utilizada para a alimentação de equipamentos do cotidiano, como notebooks, iluminação e televisões. No sistema monofásico, há uma única onda que chega ao ponto máximo de 110 V (ou 220 V) e, em seguida, oscila entre +120 V e -120 V a 60 Hz. Essa oscilação é adequada para distribuição a curta distância. NOTA 92 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito de energia pode ser muito amplo e abstrato, e, quando envolve dispositivos eletrônicos e elétricos, a energia pode ser caracterizada como trabalho. • Em geral, os circuitos elétricos de sinal de baixa tensão, encontrados em uma casa, operam a partir de transformadores abaixadores. • Existem equipamentos específicos para medir as grandezas reais. • Fasores são vetores que giram em um círculo trigonométrico em uma determinada velocidade, originando as funções senoidais. • Ao somar as potências ativa e reativa, surge a potência aparente, que é medida em kilovolts-amperes (kVA). 93 1 Para poder medir grandezas elétricas, deve-se utilizar equipamentos adequados para cada grandeza. Qual é o equipamento utilizado para medir a potência ativa? a) ( ) Multímetro. b) ( ) Wattímetro. c) ( ) Multimedidor. d) ( ) Megôhmetro. e) ( ) Amperímetro. 2 Uma corrente de 10 A está atrasada em relação a uma tensão de 110 V em 30 graus. Qual é a potência real consumida pela carga? a) ( ) 110 W. b) ( ) 220 W. c) ( ) 952,6 W. d) ( ) 9526 W. e) ( ) 95,26 W. 3 Como pode ser definido o conceito de energia, quando envolve dispositivos eletrônicos e elétricos? a) ( ) O conceito de energia pode ser definido como o trabalho solicitado pelos equipamentos ou pelos dispositivos elétricos ou eletrônicos para realizar tarefas. b) ( ) O conceito de energia pode ser definido como a frequência com que a corrente inverte o seu sentido ou a frequência com a qual a polaridade da tensão muda. c) ( ) O conceito de energia pode ser definido como qualquer oposição à passagem de tensão em circuitos CC. d) ( ) O conceito de energia pode ser definido como a velocidade com que a corrente inverte o seu sentido ou a frequência com a qual a polaridade da tensão muda. e) ( ) O conceito de energia pode ser definido como a frequência solicitada para quaisquer equipamentos ou dispositivos elétricos ou eletrônicos para realizar tarefas. 4 Como pode ser definido o conceito de potência, quando envolve dispositivos eletrônicos e elétricos? a) ( ) A potência é o calor gerado pelos equipamentos ou pelos dispositivos elétricos ou eletrônicos para realizar tarefas. b) ( ) A potência é a frequência com que a corrente inverte o seu sentido ou a frequência com que a polaridade da tensão muda. AUTOATIVIDADE 94 c) ( ) A potência é qualquer oposição à passagem detensão em circuitos CC. d) ( ) A potência é o tempo e a energia gastos na realização do trabalho. e) ( ) A potência é a carga com que a corrente inverte o sentido da tensão. 5 As concessionárias de energia elétrica estabelecem tarifas de cobranças por quilowatt-hora consumido. As tarifas para a energia elétrica, nos Estados Unidos, dependem do método pelo qual a eletricidade é gerada, do tipo e da complexidade do sistema de transmissão e distribuição, do custo de manutenção e de diversos outros fatores. Sabendo a quantidade de energia utilizada (obtida a partir da leitura do medidor) e o custo do quilowatt- hora da energia em determinada área, calcule a conta mensal de energia elétrica de uma residência que usa 1000 kWh de energia elétrica em um mês, com uma tarifa de 15 centavos por quilowatt-hora. a) ( ) R$ 100,00. b) ( ) R$ 1,50. c) ( ) R$ 50,00. d) ( ) R$ 15,00. e) ( ) R$ 150,00. 95 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A história da eletricidade tem origem desde os tempos da Antiga Grécia. O filósofo Tales de Mileto descobriu que, ao esfregar dois tipos de materiais diferentes, alguns pequenos pedaços (como palha, madeira ou cabelo) eram atraídos. Muito tempo depois, Benjamin Franklin, outro grande autor da eletricidade, definiu o princípio de conservação da carga em materiais condutores, além de classificar as cargas como positivas e negativas. Embora a eletroestática seja uma parte muito estudada da eletricidade, a eletrodinâmica é uma ciência que, muitas vezes, utilizamos no nosso dia a dia sem perceber. Nos séculos XIX e XX, ocorreram os maiores avanços na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica em grande escala. Inicialmente, somente as cidades e as indústrias próximas ao centro de geração possuíam eletricidade, pois a energia elétrica era somente do tipo corrente contínua (CC). Já a aparição da energia elétrica em corrente alternada (CA) possibilitou a distribuição para longas distâncias, grande eficiência das máquinas elétricas, dentre outras vantagens. Neste tópico, você estudará os tipos de alimentação do sistema elétrico, assim como a história da eletricidade no Brasil e no mundo. Também identificará os principais elementos que constituem um sistema elétrico nos dias de hoje. 2 SISTEMAS ELÉTRICOS DE ALIMENTAÇÃO Conforme o tipo de estabelecimento a ser considerado, uma rede de alimentação elétrica diferente é demandada. Assim, um prédio residencial, comercial ou industrial, por exemplo, demanda um tipo de alimentação que, segundo a NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), e de acordo com a classificação definida pela prestadora de serviços elétricos da sua região, pode ser uma instalação de rede monofásica (tipo A), bifásica (tipo B) ou trifásica (tipo C). • Sistema monofásico ou tipo A: um sistema monofásico é constituído por dois fios de alimentação: a fase e o neutro. A tensão nominal de alimentação depende de cada região do Brasil, que pode ser de 127 V ou de 220 V. De acordo com a NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), é fornecida uma rede monofásica somente quando a potência demandada pela residência for menor que 10 kW para 127 V, ou 15 kW para 220 V. TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 96 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA • Sistema bifásico ou tipo B: a alimentação bifásica consiste em um ramal de entrada na residência ou prédio de três fios de rede elétrica, duas fases e um neutro. Esse tipo de instalação, de acordo com a NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), é indicado para potências entre 10 e 15 kW para uma tensão de alimentação de 127/220 V, e para potências entre 15 e 25 kW para uma rede alimentada com 220/380 V. Esse tipo de alimentação é utilizado em residências rurais ou urbanas com um consumo médio/alto de potência. • Sistema trifásico ou tipo C: trata-se de uma rede de quatro fios composta por duas fases e um neutro, cujas tensões de alimentação são de 127/220 V ou 220/380 V, dependendo da região e do que é solicitado à empresa prestadora do serviço elétrico. Esse tipo de instalação é indicado para grandes potências de consumo, em áreas rurais, residências urbanas, indústrias, comércios etc. De acordo com a NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), a empresa prestadora do serviço elétrico deve sugerir uma instalação trifásica quando a potência demandada superar os 15 kW em redes de 127/220 V, ou para potências acima de 25 kW em redes de 220/380 V. FIGURA 25 – LIGAÇÃO DO RAMAL DE ENTRADA DE UMA REDE TRIFÁSICA DO CONSUMIDOR FONTE: Creder (2016, p. 9) A empresa prestadora de serviços elétricos é responsável pela instalação e pela manutenção dos pontos de alimentação até o medidor de energia. Observe que há uma rede de alta tensão (A.T.), um transformador abaixador e uma rede de baixa tensão (B.T.). Para entender melhor de onde e como vem a energia que consumimos nas nossas residências, devemos compreender como o Sistema TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 97 Interligado Nacional (SIN) realiza as três principais etapas do sistema elétrico: geração, transmissão e distribuição. Com base na figura a seguir, o SIN possui uma estrutura similar, embora com uma escala maior, encarregada da geração e da transmissão de energia elétrica no Brasil. O SIN é composto por um sistema hidro- termo-eólico de grande porte, com predominância UHE (Usinas Hidrelétricas). FIGURA 26 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO SIMPLIFICADO DE UM SISTEMA ELÉTRICO. G = GERADOR SÍNCRONO DE ENERGIA (TURBINA HIDRÁULICA OU VAPOR); T-1 = TRANSFORMADOR ELEVADOR; LT = LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA (TRANSPORTA A ENERGIA PRÓXIMA AOS CENTROS CONSUMIDORES); T-2 = TRANSFORMADOR ABAIXADOR; DP = DISTRIBUIÇÃO PRIMÁRIA (DENTRO DA ZONA URBANA, DISTRIBUI A ENERGIA EM MÉDIA TENSÃO); T-3 = TRANSFORMADOR DE DISTRIBUIÇÃO (BAIXAS AS TENSÕES PARA VALORES UTILIZÁVEIS EM INSTALAÇÕES RESIDENCIAIS E COMERCIAIS); T-4 = IDEM PARA INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS; DS = DISTRIBUIÇÃO SECUNDÁRIA FONTE: Creder (2016, p. 2) 2.1 GERAÇÃO De acordo com Creder (2016) e ANEEL (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008), a principal forma de geração de energia elétrica no Brasil é a hidráulica, por meio das UHE, que, hoje em dia, excedem os 70% da matriz energética nacional. Outra fonte de geração importante, no Brasil, são as Usinas Termoelétricas (UTE), que correspondem a cerca de 27% da matriz energética nacional. Dentro das UTE, existem várias fontes de energia que convertem calor em energia elétrica. Essas fontes podem ser não renováveis, como é o caso do carvão mineral, do petróleo, do gás natural etc. As UTE podem ser abastecidas, também, com fontes de energia renováveis, como é o caso do bagaço da cana-de-açúcar, da madeira, da casca de arroz etc. Os geradores de energia são turbinas ou máquinas que convertem energia mecânica (cinética) em energia elétrica, por meio de geradores síncronos, de forma que gerador e turbina formam um só equipamento. 98 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA FIGURA 27 – GERADOR EÓLICO COMPOSTO POR UMA TURBINA (PÁS) E UM GERADOR ELÉTRICO FONTE: <Pixabay.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Os geradores precisam de energia mecânica para funcionar e, no caso dos geradores eólicos, precisam de vento para girar a turbina. A turbina está acoplada a um gerador por meio de um eixo que, por sua vez, é o rotor do gerador. No caso do sistema eólico, para um bom funcionamento, deve haver vento em abundância durante a maior parte do ano. É importante que o fluxo do vento seja o menos turbulento possível, por isso, geralmente, os campos eólicos estão localizados próximos ao litoral ou, até mesmo, dentro do mar, com o fluxo de vento menos turbulento, devido a protuberâncias geográficas menores. 2.2 TRANSMISSÃO Essa etapa consiste em transportar a energia elétrica dos pontos de geração aos centros de grande consumo, como as principais cidades ou os polos industriais do país. De acordo com ANEEL (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIAELÉTRICA, 2008) e Creder (2016), os níveis de tensões para o transporte podem variar, dependendo da distância pela qual a energia é transportada. Assim, no ponto de geração, a energia trifásica é gerada a 13,8 kV e, para o transporte, é elevada a tensões que podem ser de 69 kV, 138 kV, 230 kV, 400 kV e 500 kV. Existem linhas no SIN que transportam energia a níveis de tensões superiores a 500 kV, podendo ser em CA ou CC, contudo, é necessário fazer um estudo da viabilidade econômica para a sua execução. Um exemplo é a linha de Itaipu, que tem uma linha de transmissão, de Foz de Iguaçu até São Paulo, em CC. Para esse caso, é necessária a instalação de uma estação retificadora próxima aos centros consumidores, de forma a converter a energia de CC para CA. A seguir, será apresentada uma linha de transmissão com dois circuitos trifásicos. Será possível observar que cada fase é composta por quatro fios, o que ajuda a dissipar calor na linha. Na parte superior, dois fios, que são condutores de proteção da linha de transmissão e estão diretamente aterrados em cada torre. Em geral, as linhas de transmissão não possuem neutro. TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 99 FIGURA 28 – LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA PARA OS GRANDES CENTROS DE CONSUMO FONTE: <Pixabay.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. 2.3 DISTRIBUIÇÃO A distribuição acontece, principalmente, dentro dos grandes centros urbanos, cidades e regiões rurais próximas. Finalizada a transmissão, a energia chega em uma subestação abaixadora, com a tensão de linha abaixada para valores apropriados para distribuição primária, como 18,8 kV e 34,5 kV, chamada de subestação primária de distribuição (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008; CREDER, 2016). De uma subestação primária de distribuição, saem outras redes secundárias de distribuição, que são chamadas, também, de linhas de baixa tensão e estão em nossas ruas, bairros etc. Para as redes de distribuição primária, existem três configurações básicas: • sistema radial; • sistema em anel; • sistema radial seletivo. A seguir, será possível observar que cada configuração apresenta uma estrutura diferente. Dentro de uma cidade, pode existir uma ou todas essas arquiteturas de distribuição de energia em funcionamento. O uso de um tipo de configuração depende do grau de confiabilidade que a rede requere, dentre outros fatores. Ainda, perceberemos que, após o transformador, começa a linha secundária de distribuição. Tratam-se das linhas de baixa tensão, que podem ser de 127/220 V ou de 220/380 V, dependendo da cidade. 100 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA FIGURA 29 – PRINCIPAIS TIPOS DE DISTRIBUIÇÃO PRIMÁRIA DE ENERGIA FONTE: Creder (2016, p. 6) Dentro das cidades, as redes de distribuição primárias e/ou secundárias podem ser cabeadas de forma aérea ou subterrânea. Se a rede for subterrânea, o transformador abaixador deve estar localizado em câmaras subterrâneas adequadas para essa finalidade. Se a rede for aérea, os transformadores abaixadores podem ser instalados nos próprios postes. A linha de entrada, nos locais dos consumidores, é chamada de ramal de entrada. Esse ramal de entrada pode ser aéreo ou subterrâneo, dependendo do caso. Todos os profissionais das áreas de construção e engenharias, em algum momento, devem realizar algum tipo de instalação elétrica. Portanto, é importante seguir as normas estabelecidas nas RIC regionais e na NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). 3 HISTÓRICO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE ALIMENTAÇÃO No Brasil e no mundo, a história dos sistemas elétricos está ligada à história da eletricidade. Entre os vários precursores e grandes nomes da ciência, podemos mencionar Thales de Mileto, no século VI a.C., Willian Gilbert, no século XVI, e o cientista inglês Stephen Gray, de 1729. Nessa mesma época, estavam trabalhando dois grandes cientistas muito conhecidos na área da eletricidade: o norte-americano Para a instalação do ramal de entrada e para a potência instalada no seu local de consumo, é importante se adequar ao Regulamento de Instalações Consumidoras (RIC) de cada região. No caso da região de Porto Alegre, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) fornece um documento com essas regulamentações que, embora esteja submetido à NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), detalha itens pontuais da instalação dos medidores, padrões de postes, cálculos de disjuntores, demandas etc. Você pode obter a RIC da CEEE de Porto Alegre, ou da empresa fornecedora de energia elétrica da sua cidade, nas páginas das companhias na internet. DICAS TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 101 Benjamin Franklin e o francês Charles August Coulomb. Entretanto, no fim do século XVIII, começou a surgir a corrente elétrica similar ao que conhecemos hoje, por meio do físico italiano Alessandro Volta, que construiu a primeira pilha elétrica. A seguir, observaremos que a pilha de Volta foi construída utilizando rodelas de cobre e de zinco com uma separação ácida. Essa foi a primeira forma de corrente elétrica ordenada e, até hoje, em honra a Volta, a unidade de tensão elétrica é o Volt. FIGURA 30 – PILHA ELÉTRICA CRIADA POR ALESSANDRO VOLTA. FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Em 1820, na França, André Maria Ampere elaborou uma formulação matemática de eletromagnetismo conhecida como Lei de Ampere. Em 1827, o cientista alemão George Simon Ohm apresentou a Lei de Ohm, que demonstra a relação entre tensão, corrente e resistência elétrica. Em 1831, Michael Faraday descobriu a relação entre a corrente elétrica e o campo magnético, conhecida como Lei de Faraday (CHAVANTE, 2016). Em 1880, nos Estados Unidos, Thomas Edison desenvolveu a sua primeira lâmpada incandescente e, em 1882, construiu as suas 11 primeiras usinas geradoras, para iluminar algumas ruas de Londres e de Nova York. Todas eram de baixa potência e forneciam eletricidade em corrente contínua. Assim, a seguir, será possível observar que a lâmpada inventada por Edison não teve grandes mudanças em relação às lâmpadas incandescentes que são vendidas nos mercados. Sem dúvidas, esse invento marcou, para sempre, o uso da eletricidade. FIGURA 31 – LÂMPADA INVENTADA POR THOMAS EDSON FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. 102 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA De acordo com Chavante (2016), em 1886, nos Estados Unidos, George Westhinghouse e Nikola Tesla inauguraram o primeiro sistema de energia elétrica em corrente alternada CA. Essa nova forma de energia tinha vantagens sobre a corrente contínua, pois podia ser gerada em lugares distantes dos centros de consumo, onde os ruidosos geradores não incomodassem as pessoas das cidades. Esse sistema era mais eficiente e, para elevar ou abaixar o valor de tensão, eram usados transformadores. Em 1887, já existiam usinas em CA que subministravam energia para mais de 130.000 lâmpadas. A transmissão de energia elétrica do ponto de geração até os centros de consumo era de 1.000 volts naquela época. Em 1890, Nikola Tesla desenvolveu o sistema de geração de energia trifásico, que é utilizado desde 1896 até os dias de hoje (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008; CHAVANTE, 2016). 3.1 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS NO BRASIL E AS NORMAS PARA BAIXA TENSÃO A partir das diversas melhoras do mercado energético no mundo e dos avanços da tecnologia, foi necessária a padronização da regulamentação das instalações elétricas no país. Embora existam regulamentações para geração, transmissão e distribuição, faremos menção somente às regulamentações de instalação de baixa tensão, o que representa a grande maioria das instalações elétricas prediais, industriais e comerciais. As instalações elétricas de baixa tensão estão regulamentadas pela NBR 5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), que define os seguintes requisitos para as instalações: • a tensão máxima a ser utilizada em instalações elétricas de baixa tensão é de 1.000 volts para corrente alternada;• a tensão máxima em instalações elétricas de baixa tensão em corrente contínua é de 1.500 volts; • a frequência máxima utilizada em instalações elétricas de potência, sejam residenciais, comerciais ou industriais, é de 400 Hz; • a frequência adaptada, no Brasil, para as redes elétricas, é de 60 Hz (ciclos por segundo). 4 ELEMENTOS DOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE ALIMENTAÇÃO Devido ao avanço tecnológico, existem inúmeros elementos ou componentes a serem utilizados em uma instalação elétrica. Os elementos elétricos podem ser classificados nos seguintes grupos: componente, equipamento elétrico, aparelho elétrico, linha elétrica, dispositivos elétricos, carga elétrica, potência elétrica, sobrecarga, sobrecorrente e curto-circuito, corrente de fuga e corrente diferencial residual (COTRIM, 2009; CREDER, 2016; GEBRAN; RIZZATO, 2017). TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 103 Equipamento elétrico: de acordo com Cotrim (2009) e Gebran e Rizzato (2017), um equipamento elétrico é formado por um conjunto de componentes elétricos, configurando uma unidade funcional e exercendo uma ou mais funções elétricas. Dentro de uma instalação elétrica, podemos ter alguns dos equipamentos a seguir. • Equipamentos de geração ou fonte de energia: podem ser transformadores, banco de baterias ou geradores. • Dispositivos de manobra e proteção: disjuntores fusíveis, reles. • Equipamentos de utilização: portáteis (eletrodomésticos e eletroportáteis) e equipamentos industriais (fresas, prensas, fornos, aparelhos de iluminação). Os equipamentos elétricos ainda podem ser classificados em fixos, estacionários, portáteis e manuais. Aparelhos elétricos: são chamados de aparelhos elétricos equipamentos de medição elétrica e alguns outros equipamentos, como aparelhos eletrodomésticos de uso residencial (geladeira, chuveiro elétrico, aspirador de pó), aparelhos eletroprofissionais (computadores, máquinas copiadoras) e aparelhos de iluminação (lâmpadas, reatores). Linhas elétricas: são constituídas por fios condutores e elementos de fixação, além de elementos de proteção mecânica, cuja finalidade é transportar energia ou sinais elétricos até determinado ponto de consumo. Dispositivos elétricos: os dispositivos elétricos são componentes de um circuito elétrico que desempenham uma tarefa específica. Geralmente, esses elementos consomem um mínimo de energia no desempenho da sua função. Dentre as principais atribuições dos dispositivos elétricos, estão: manobra, comando, proteção elétrica e controle (COTRIM, 2009; GEBRAN; RIZZATO, 2017). Carga elétrica: todo circuito ou instalação elétrica funciona com carga, quando está consumindo ou absorvendo potência elétrica (COTRIM, 2009). Um circuito elétrico está vazio quando, mesmo alimentado, não consome potência elétrica. Assim, a carga elétrica pode ser interpretada de várias formas, mas com significados análogos: • soma dos valores de grandeza elétrica que solicitam certo equipamento ou determinada instalação em um instante específico; • instalação elétrica que consome potência ativa; • potência instalada. Potência instalada: é a soma das potências dos circuitos de uma instalação elétrica, ou seja, a soma das potências nominais dos equipamentos que compartilham uma mesma instalação. 104 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA Sobrecarga, sobrecorrente e curto-circuito: a sobrecarga ocorre quando um circuito elétrico de uma instalação excede a sua capacidade máxima de carga. Da mesma forma, a sobrecorrente ocorre quando um circuito excede a sua capacidade máxima de condução dos fios e dos seus dispositivos de acionamento. Um conceito similar pode ser aplicado para o caso da sobretensão. A corrente de curto-circuito se deve à sobrecorrente que há entre dois condutores (corrente de falta), ou entre um condutor e o terra. Em funcionamento normal, os condutores teriam tensões diferentes ou, entre o condutor e o terra, teriam uma diferença de potencial (COTRIM, 2009). Corrente de fuga e corrente diferencial/residual: corrente de fuga é aquela fração de corrente que percorre um caminho diferente do previsto. Esse tipo de corrente está associado a correntes de falta. A corrente diferencial residual é definida como a soma das correntes instantâneas dos condutores de um circuito elétrico. A seguir, a soma instantânea das correntes será realizada em um P (comercialmente conhecido como interruptor diferencial residual). Nesse ponto, é aplicada a segunda Lei de Kirchhoff, com i1 + i2 + i3 + iN = 0, sendo as correntes de cada uma das fases de um circuito trifásico e a corrente do neutro. Para condições normais de funcionamento, essa equação é atendida. Quando há uma corrente de fuga, existe uma corrente diferencial residual, em que dispositivos especiais detectam esse tipo de corrente (COTRIM, 2009). FIGURA 32 – CIRCUITO TRIFÁSICO E PONTO DE MEDIÇÃO DAS CORRENTES FONTE: Cotrim (2009, p. 225) TÓPICO 3 — TIPOS DE SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO 105 ESTUDO APONTA VIABILIDADE DA ABERTURA TOTAL DO MERCADO LIVRE Encomendado pela Abraceel, estudo também sugere ações para tornar ambiente mais eficiente com a entrada até de consumidores residenciais no ACL Estudo da consultoria Thymos Energia, sob encomenda da Abraceel - Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia, concluiu que não há impedimentos para a abertura total do mercado brasileiro de energia elétrica, incluindo-se, aí, os consumidores residenciais. O documento incluiu, porém, sugestões para facilitar a abertura e tornar mais eficiente a operação comercial futura. Seus resultados foram apresentados pela Abraceel no dia 27 de janeiro para integrantes da CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e da Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica, e, em breve, serão, também, tema de reunião com o MME - Ministério de Minas e Energia. Para começar, o estudo contesta o mito de que seriam necessários 82 milhões de medidores inteligentes de energia para permitir o acesso dos milhões de novos consumidores ao Ambiente de Contratação Livre (ACL), que, hoje, responde por 30% do consumo nacional por ser, no momento, limitado a consumidores com demanda contratada superior a 1,5 MW por mês ou a 500 kW, caso a energia seja de fonte renovável. Contudo, seguindo a Portaria MME 465/2019, em 1º de janeiro de 2022, o requisito cairá para 1 MW e, por fim, a 500 kW a partir de 1º de janeiro de 2023. A ideia é, depois desses prazos, abrir completamente o mercado. Na avaliação dos consultores, a modernização da medição seria dispensável para a migração, já que os medidores analógicos, hoje utilizados, são aptos a registrar a energia comercializada na ACL. Por outro lado, o uso de medidores digitais é apontado como avanço tecnológico setorial, independentemente de se tratar do mercado livre ou cativo, e que a demanda em larga escala faria o preço do equipamento cair pela metade (hoje, está na faixa dos R$ 500). LEITURA COMPLEMENTAR 106 UNIDADE 2 — FONTES DE ENERGIA A pesquisa recomendou, ainda, a adoção de apenas uma fatura de energia para o consumidor, discriminados os valores de cada componente do custo, desde as tarifas do fio/poste (reguladas e pertencentes à distribuidora) até o preço da energia em si (livremente negociado com a comercializadora). Isso porque, hoje, o consumidor do mercado livre – indústrias e comércios – paga duas faturas distintas. O estudo aponta, ainda, que há a possibilidade de integração com o PIX (Plataforma de Pagamentos Instantâneos), como forma de pagamento. O estudo também se preocupa em sugerir ações para as próprias comercializadoras de energia. Para evitar possível aumento de inadimplência de consumidores, a recomendação é que os agentes criem áreas internas específicas para cobranças financeiras. Nesse mesmo tópico, a Abraceel considera importante a deliberação na Câmara dos Deputados, no âmbito da MP 998, acerca da regulamentação da concessão para cobrança financeira, que visa inibir maus pagadores. FONTE: ELETRICIDADEMODERNA. Estudo aponta viabilidade da abertura total do mercado livre. 2021. Disponível em: https://www.arandanet.com.br/revista/em/noticia/1539-Estudo-aponta- viabilidade-da-abertura-total-do-mercado-livre.html. Acesso em: 9 abr. 2021. 107 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Uma rede de alimentação elétrica diferente é demandada conforme o tipo de estabelecimento a ser considerado. • A empresa prestadora de serviços elétricos é responsável pela instalação e pela manutenção dos pontos de alimentação até o medidor de energia. • A distribuição de energia acontece, principalmente, dentro dos grandes centros urbanos, cidades e regiões rurais próximas. • As instalações elétricas de baixa tensão estão regulamentadas pela NBR 5410. • Os elementos elétricos podem ser classificados em diferentes grupos. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 108 1 Acerca dos acontecimentos históricos e da evolução do uso da eletricidade, nos últimos 200 anos, ocorreram muitos fatos importantes relacionados ao uso massivo da eletricidade. Qual foi o invento que revolucionou as comunicações e mudou a dinâmica global de se comunicar? a) ( ) O cabo transatlântico. b) ( ) O telégrafo. c) ( ) Os elétrons. d) ( ) As medidas de ondas em Hertz. e) ( ) A corrente alternada. 2 Dependendo do tipo de estabelecimento, um tipo diferente de rede de alimentação elétrica é instalado. Você é proprietário de um prédio com um número importante de apartamentos para estudantes, localizado próximo ao campus universitário da sua cidade. O edifício está na etapa de finalização, portanto, você deve solicitar, à empresa prestadora de serviços elétricos, a instalação dos medidores, pois todos os apartamentos já foram alugados. Para cada um dos apartamentos individuais, que tipo de instalação deve ser solicitado à empresa prestadora de serviços elétricos, sabendo que a potência instalada na residência é de 11kW com tensão de alimentação de 220V? a) ( ) Instalação de sistema de corrente contínua. b) ( ) Sistema trifásico de energia. c) ( ) Sistema monofásico de energia. d) ( ) Sistema bifásico de energia. e) ( ) Sistema fotovoltaico. 3 Em regiões afastadas de centros urbanos, existe somente eletrificação rural, com uma rede de distribuição chamada de monobucha. Você é proprietário de um sítio, que adquiriu, recentemente, em uma região rural bem afastada da cidade e de qualquer centro urbano. No entanto, precisa de algum tipo de conforto e gostaria de solicitar uma instalação elétrica à empresa prestadora de serviços local. Qual é a tensão de linha desse tipo de rede de distribuição monobucha? a) ( ) 220/380V. b) ( ) 13,8kV. c) ( ) 138kV. d) ( ) 230kV. e) ( ) 127V. 4 As normas NBR 5410:2004 regulamentam as instalações de baixa tensão com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), definindo os requisitos para que as instalações sejam seguras e padronizadas. Dentre as seguintes opções, em qual das alternativas a norma NBR 5410:2004 não é aplicada? AUTOATIVIDADE 109 a) ( ) Circuitos elétricos de instalações cuja tensão em CA seja inferior a 1.000V. b) ( ) Instalações em corrente contínua cujo nível de tensão seja superior a 1.500V. c) ( ) Circuitos de instalação elétrica cuja frequência da rede seja de 50Hz. d) ( ) Instalações elétricas em prédios de grandes cadeias comerciais. e) ( ) Instalações elétricas em pequenas indústrias e comércios de bairro. 5 O dispositivo que mede a corrente diferencial residual é chamado de interruptor diferencial residual (ou comercialmente conhecido como disjuntor DR), como o apresentado na figura a seguir: Esse dispositivo mede, instantaneamente, as correntes. Se a soma das correntes é zero, a instalação funciona normalmente; se for diferente de zero, o dispositivo é acionado e abre o circuito, protegendo as pessoas e a instalação. Agora, com base no princípio de funcionamento em que, de acordo com a figura apresentada a seguir, i1+12+i3+iN = 0, e, ainda, a instalação domiciliar é monofásica, com tensão de 220V e potência instalada de 11kW, em que momento você pode dizer que o dispositivo DR vai ser acionado? a) ( ) Quando iN=i₁. b) ( ) Quando i₃=0 e i₂=0 e i₁ é diferente de zero. c) ( ) i₃=0, i₁=0, i₂=0 e iN=0. d) ( ) Quando i₁=15 A e iN=15 A, e as outras correntes são nulas. e) ( ) Quando iN é diferente do i₁. 110 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Atlas de energia elétrica do Brasil: parte II fontes renováveis: biomassa. Brasília: Aneel, 2008. Disponível em: http://www2. aneel.gov.br/arquivos/pdf/atlas_par2_cap4.pdf. Acesso em: 18 dez. 2018. ALTORK, L. N.; BUSBY, J. R. Hydrogen fuel cells: part of the solution. Eric, v. 70, n. 2, p. 22-27, 2010. ARCHDAILY. Estádio de energia solar de Taiwan/Toyo Ito. 2013. 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Acesso em: 18 maio 2018. 113 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • caracterizar o fornecimento de energia quanto à tensão; • diferenciar os funcionamentos de alta, média e baixa tensão; • descrever a função da redução da tensão na rede de distribuição; • definir microgeração distribuída; • identificar vantagens e desvantagens da aplicabilidade de um sistema de energia solar associada à ou dissociada da concessionária de energia; • definir a formulação básica do fluxo de carga; • determinar a modelagem das linhas de transmissão; • identificar os tipos e como se formam as cargas elétricas nos solos; • identificar a finalidade do aterramento elétrico; • diferenciar esquemas de aterramentos e equipotencialização; • dimensionar eletrodos de aterramento. Esta unidade está dividida em três tópicos. No fim de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA TÓPICO 2 – FLUXO DE CARGAS TÓPICO 3 – MALHA DO ATERRAMENTO 114 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 115 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A energia elétrica é uma forma de energia baseada na geração de diferenças de potencial elétrico, o que permite estabelecer uma corrente elétrica entre dois pontos. Quando usado livremente, esse termo se refere à energia que foi convertida a partir da energia potencial elétrica. Essa energia é fornecida pela combinação da corrente elétrica e do potencial elétrico que é entregue por um circuito elétrico, como o fornecido por uma empresa de energia elétrica, por exemplo. No momento em que essa energia potencial é convertida em outro tipo de energia, ela passa a ser energia elétrica. Assim, toda a energia elétrica é energia potencial antes de ser entregue ao uso final. Uma vez convertida a partir da energia potencial, a energia elétrica é sempre convertida para outro tipo de energia, como calor, luz, movimento etc. O Brasil é o oitavo maior consumidor de energia do mundo e o maior da América do Sul, onde cerca de 90% da matriz energética provém de usinas hidrelétricas. Desde a geração da energia em uma usina até o destino final, o caminho é longo, passando por transformadores elevadores de tensão que melhoram a sua transmissão, milhares de quilômetros de linhas e, por fim, subestações que transformam novamente a energia, de modo que possa ser utilizada em residências, escolas, hospitais, dentre outros locais. Para isso ser possível, técnicos e engenheiros preparam o caminho para que a energia seja transmitida da maneira mais eficaz possível, utilizando-se de princípios físicos, de normas técnicas e de segurança que garantam que a sua entrega seja instantânea ao cliente final quando solicitada. Há diferentes necessidades de clientes, o que leva a diferentes soluções quanto ao fornecimento de energia. Neste tópico, você aprenderá a diferenciar os tipos de necessidades para o fornecimento de energia elétrica, utilizados pelas concessionárias brasileiras. Você também conhecerá como funciona a transmissão dessa energia, além das transformações pelas quais ela passa para chegar até os clientes, a fim de entender a necessidade da redução da tensão na rede de distribuição. TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 116 2 FORNECIMENTO DE ENERGIA A engenharia de energia, também chamada de engenharia de sistemas de energia, lida com geração, transmissão, distribuição e utilização de energia elétrica, além do aparato elétrico conectado a esses sistemas. Embora grande parte do campo esteja preocupada com os problemas de energia de corrente alternada trifásica — o padrão para transmissão e distribuição de energia em larga escala no mundo moderno —, uma fração significativa está relacionada à conversão entre energia de corrente alternada e corrente contínua e o desenvolvimento de sistemas de energia especializados, como os utilizados em aeronaves ou em redes ferroviárias elétricas. A engenharia de energia entrelaça os fundamentos das físicas clássica e moderna, química e matemática, com aplicações de técnicas modernas de engenharia (ABB, 2006; ENGINEERING SCIENCE, [2016?]; GUIA DO ESTUDANTE, 2012). Antes de chegar aos consumidores, a energia sai da subestação com o nível de média tensão, de modo que possa estar de acordo com a necessidade do consumidor. Assim, a rede de distribuição é dividida em duas redes: rede primária e rede secundária. Rede primária são os cabos que conduzem corrente em média tensão de distribuição, por exemplo, 13.800 V. Esses cabos, geralmente, podem ser vistos nas partes mais altas dos postes de uma cidade. A rede secundária é constituída pelos cabos que conduzem correntes em tensões que já passaram pelos transformadores localizados nesses postes ou pelo subterrâneo e que já foram reduzidas para os valores de consumo desejado, como 127 e 220 V, por exemplo. O tipo de transformador colocado nos postes depende da necessidade dos consumidores. Essa necessidade, por sua vez, depende se a energia está sendo transmitida para um estabelecimento residencial, comercial ou industrial, pois cada um deles tem demandas diferentes de potência dos equipamentos. As sociedades humanas dependem cada vez mais de um elevado consumo energético para a sua subsistência. Para isso, foram desenvolvidos, ao longo da história, diversos processos de transformação, transporte e armazenamento de energia. Os equipamentos nas casas, nos escritórios, os carros, a iluminação das ruas e até produtoras e distribuidoras de energia consomem uma fonte de energia. Para que esse sistema seja sustentável em longo prazo, é fundamental que os consumidores entendam melhor o consumo de energia. O vídeo a seguir trará os cálculos realizados pelas concessionáriaspara a conta residencial de energia elétrica, além de exemplos práticos do dia a dia (AULA 06..., 2017): https://qrgo.page.link/qgqMT. DICAS TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 117 De maneira a suprir a necessidade de cada consumidor, a energia provida pelas concessionárias passa por transformadores, que podem ser monofásicos, bifásicos ou trifásicos, de modo que atendam a diferentes tipos de clientes. A seguir, estarão listados esses transformadores, com a situação ideal de uso de cada um deles. A próxima figura trará exemplos de transformadores bifásicos e trifásicos. • Transformador monofásico: normalmente, utilizado em residências, esse tipo de transformador faz uso de apenas dois fios, uma fase e um neutro. É ideal para instalações que necessitam de potências de até 8.000 W, entregando uma tensão de, no máximo, 127 V. • Transformador bifásico: utiliza três fios, dois fases e um neutro. Esse tipo de rede é utilizado somente em zonas rurais, entregando tensões que podem ser de 127 V (fase-neutro) ou de 220 V (fase-fase). É ideal para consumidores que têm uma maior demanda de potência, por exemplo, de 12.000 W até 25.000 W. • Transformador trifásico: utilizado por clientes que ficam dentro dos centros urbanos e demandam grandes potências, o sistema trabalha com quatro fios, que são três fases e um neutro. As tensões adotadas são de 127 V ou 220 V e a potência utilizada parte de 25.000 W e vai até 75.000 W. FIGURA 1 – (A) TRANSFORMADOR TRIFÁSICO; (B) TRANSFORMADOR BIFÁSICO FONTE: (a) Transformador ([201–?], s.p.); (b) Ensinando elétrica (2017, s.p.) Consumidores de centros urbanos tendem a possuir mais eletrodomésticos e equipamentos digitais, além de atualizar os seus equipamentos com frequência. Assim, para evitar gastos desnecessários, as concessionárias adotam, diretamente, o sistema trifásico para residências nas quais a potência dos equipamentos excede os 8.000 W. NOTA UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 118 3 TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A transmissão de energia elétrica é o movimento em massa de energia elétrica de um local de geração, como uma usina, para uma subestação elétrica. As linhas interconectadas que facilitam esse movimento são conhecidas como rede de transmissão. Isso é diferente da fiação local entre subestações de alta tensão e clientes, que, geralmente, é chamada de distribuição de energia elétrica. A rede combinada de transmissão e distribuição faz parte do fornecimento de eletricidade e é conhecida como rede elétrica. A maioria das linhas de transmissão é de corrente alternada trifásica de alta tensão, embora a monofásica, às vezes, seja usada em sistemas de eletrificação ferroviária. A tecnologia de corrente contínua de alta tensão é usada para grande eficiência em distâncias muito longas, normalmente, centenas de quilômetros. Essa tecnologia também é usada em cabos de energia submarinos, geralmente, com mais de 50 km, além de utilizada no intercâmbio de energia entre redes que não são sincronizadas mutuamente. A falta de instalações de armazenamento de energia elétrica nos sistemas de transmissão leva a uma limitação importante. A energia elétrica deve ser gerada na mesma taxa em que é consumida. Desse modo, é necessário um sistema de controle sofisticado para garantir que a geração de energia corresponda à demanda. Se a demanda por energia exceder a oferta, o desequilíbrio pode fazer com que as usinas de geração e equipamentos de transmissão se desconectem ou desliguem automaticamente, para evitar danos. Na pior das hipóteses, isso pode levar a uma série de paralisações em cascata e a um grande apagão regional. As redes de transmissão elétrica são interconectadas em redes regionais, nacionais e até continentais, para reduzir o risco de uma falha como essa, fornecendo várias rotas alternativas e redundantes para que a energia flua, caso ocorram esses desligamentos. As empresas de transmissão determinam a capacidade máxima confiável de cada linha, comumente, menor que o limite físico ou térmico, para garantir que a capacidade máxima esteja disponível no caso de uma falha em outra parte da rede. Usualmente, usinas geradoras são construídas distantes dos centros comerciais, o que leva à necessidade de transmitir a energia por longas distâncias. A energia é, geralmente, transmitida através de linhas de energia aéreas. A transmissão de energia subterrânea tem um custo de instalação significativamente mais alto e grandes limitações operacionais, mas custos de manutenção reduzidos, sendo usada em áreas densamente urbanizadas ou sensíveis ao meio ambiente. Então, a eletricidade é transmitida em altas tensões (66 kV ou mais), para reduzir a perda de energia que ocorre na transmissão de longa distância causada pelo efeito Joule, que expressa a relação entre o calor gerado e a corrente elétrica que percorre um condutor. P = I ∙ R (1) TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 119 P é a potência dissipada no condutor. I é a corrente. R é a resistência à passagem da corrente do condutor. Observando essa equação, é possível perceber que, quanto maior a corrente que estamos passando através de um condutor, maior é a perda de potência. Assim, para que a energia seja transmitida a longas distâncias sem grandes dissipações de potência nos cabos de transmissão, faz-se uso da lei de Ohm. Essa lei afirma que a razão entre a tensão entre dois pontos e a corrente elétrica é constante e é denominada de resistência elétrica, ou seja: V é a tensão elétrica. (2) Para conhecer melhor os princípios físicos que regem as equações apresentadas aqui, leia o artigo Perdas em Transmissão de Energia Elétrica, de Robson Luiz Ferreira (2017), que explica profundamente o efeito Joule em linhas de transmissão. DICAS Para um melhor entendimento, considere o seguinte problema: calcule a potência dissipada em um cabo de 220 Ω percorrido por uma corrente de 1 A e uma tensão de 1.3 kV. Calcule, também, a potência dissipada em um cabo de mesma resistência elétrica, mas percorrido por uma corrente de 0.5 A e 2.6 kV de tensão. P=1A×1.300V=1.300W P = 0.5 A × 2.600 V = 1.300 W Como é possível observar nos resultados, para uma mesma potência, a relação entre corrente elétrica e tensão é inversamente proporcional. Com isso, é possível perceber que, em redes de transmissão, a elevação de tensão é um processo necessário para evitar perdas desnecessárias de potência ao longo das linhas. NOTA UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 120 Considerando um determinado condutor, é possível perceber que a tensão e a corrente apresentam comportamentos inversamente proporcionais, isto é, para uma mesma potência, quanto maior for a tensão, menor é a sua corrente. Assim, para transmitir a energia produzida em usinas, o primeiro passo é elevar a tensão o máximo possível, utilizando elevadores de tensão. Após, faz-se uso da rede de transmissão, que tem, como objetivo, levar essa energia de alta tensão até os centros urbanos. Próximas dos centros consumidores, estão as subestações abaixadoras, onde o transformador recebe energia da transmissão nas mais diversas tensões existentes, como 230, 345, 440, 500, 525, 600 ou 765 kV, e rebaixa para distribuição, geralmente, para média tensão de 13,8 kV. Essa energia é, então, conduzida até o transformador abaixador, que fica situado nos postes urbanos e tem, como objetivo, reduzir novamente a energia para ser utilizada pelos clientes finais, ou seja, de baixa tensão. Seguem os diferentes níveis de tensão. QUADRO 1 – NÍVEIS DE TENSÃO Nível de tensão ≥ ≤ Alta tensão 69 kV 230 kV Média tensão 1 kV 69 kV Baixa tensão – 1 kV FONTE: Adaptado de Agência Nacional de Energia Elétrica (2017) O aquecimento por efeito Joule é, também, conhecido como aquecimentoôhmico ou aquecimento resistivo, devido a sua proximidade com a lei de Ohm. Diversas práticas que envolvem o aquecimento elétrico têm, como base, esse fenômeno. No entanto, em aplicações em que o aquecimento é um efeito indesejado, como perdas de carga em transformadores elétricos, a perda de energia é, usualmente, chamada de perda resistiva. O uso de altas tensões em sistemas de transmissão de energia elétrica é projetado justamente para diminuir essas perdas ao longo dos cabos, operando com correntes proporcionalmente mais baixas. O Reino Unido, por exemplo, faz uso de rede elétrica em anel, com a energia fornecida em correntes mais baixas, reduzindo, assim, o aquecimento pelo efeito Joule. O aquecimento por efeito Joule não ocorre em materiais supercondutores, pois eles têm resistência elétrica zero no estado supercondutor. Segue um exemplo do caminho que a eletricidade percorre. FIGURA 2 – EXEMPLO DO CAMINHO DA ELETRICIDADE DESDE A SUA GERAÇÃO ATÉ OS CONSUMIDORES FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 121 4 TRANSFORMADORES REDUTORES DE TENSÃO Um transformador é um dispositivo elétrico passivo que transfere energia elétrica de um circuito elétrico para um ou mais circuitos. Uma corrente variável, em qualquer bobina do transformador, produz um fluxo magnético variável, que, por sua vez, induz uma força eletromotriz variável através de quaisquer outras bobinas enroladas em torno do mesmo núcleo. A energia elétrica pode ser transferida entre as bobinas, sem uma conexão metálica entre os dois circuitos. A lei de indução de Faraday, descoberta em 1831, descreveu o efeito da tensão induzida em qualquer bobina, devido à mudança do fluxo magnético circundado pela bobina, ou seja, os transformadores são dispositivos que funcionam por meio da indução de corrente de acordo com os princípios do eletromagnetismo, a partir do qual é possível afirmar que se pode criar uma corrente elétrica submetendo um circuito a uma variação no seu campo magnético (JORDÃO, 2002). Os transformadores são usados para aumentar as tensões alternadas em baixa corrente ou diminuir as tensões alternadas em alta corrente em aplicações de energia elétrica e para acoplar os estágios dos circuitos de processamento de sinal. Desde a invenção do primeiro transformador de potencial constante, em 1885, os transformadores se tornaram essenciais para transmissão, distribuição e utilização da energia elétrica de corrente alternada. Uma ampla gama de projetos de transformadores é encontrada em aplicações de energias eletrônica e elétrica. Os transformadores variam em tamanho, desde transformadores com menos de um centímetro cúbico de volume até unidades que pesam centenas de toneladas e que são usadas para interconectar a rede elétrica. Como a transmissão de energia por longas distâncias só é possível se houver uma diminuição da dissipação de energia ao longo dos cabos, um transformador elevador é utilizado para elevar a tensão ao sair da usina, de maneira que se possa diminuir a corrente no sistema para a transmissão. De modo semelhante, quando a energia chega às subestações, ela passa por um abaixamento do nível de tensão antes de chegar ao consumidor final, para atender aos requisitos de tensão e de corrente de equipamentos domésticos. Um transformador é formado, basicamente, de núcleo e de enrolamento. O núcleo do transformador é feito de um material altamente imantável, ou seja, apresenta as mesmas características de um ímã, e os enrolamentos são compostos por um número diferente de espiras, que são isoladas eletricamente, chamadas de enrolamento primário e enrolamento secundário. O primário é o enrolamento que recebe a tensão da rede e o secundário é o enrolamento a partir do qual sai a tensão transformada, ou seja, com um valor diferente. Pela lei de indução de Faraday: V é a tensão instantânea. N é o número de voltas em um enrolamento. (3) UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 122 Combinando as equações apresentadas, obtemos a seguinte relação: Para um transformador abaixador a > 1, para um transformador elevador a < 1 e para um transformador de isolamento a = 1. Pela lei da conservação de energia, cada potência aparente, real e reativa é conservada na entrada e na saída: P = Vp ∙ Ip = Vs ∙ Is P é a potência e I é a corrente. Segue o esquemático de um transformador de alta tensão, além de um modelo real desse transformador. FIGURA 3 – (A) ESQUEMÁTICO DE TRANSFORMADOR DE ALTA TENSÃO; (B) TRANSFORMADOR DE ALTA TENSÃO REAL FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. As subestações fazem uso desse tipo de transformador para diminuir a tensão da rede, que está em alta tensão, para média tensão nas linhas de distribuição primárias. Essa parte da rede transporta a tensão até os transformadores de distribuição localizados mais próximos dos clientes. Transformadores de distribuição diminuem, novamente, a tensão para a sua utilização por eletrodomésticos e, normalmente, alimentam vários clientes através de linhas de distribuição secundárias com níveis de baixa tensão. A distribuição de energia elétrica e de outros processos ligados a esse sistema é de responsabilidade das concessionárias locais. (4) (5) TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 123 5 O QUE É MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA? O termo geração distribuída é usado para definir a modalidade de geração de energia próxima à carga. De acordo com o conceito, essa geração, não necessariamente, precisa ser renovável, pode ser através de combustíveis fósseis, como geradores a diesel, por exemplo. Esse é o conceito amplo e geral (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2016). Nos termos da regulamentação brasileira, qualquer central geradora com potência instalada igual ou inferior a 75 kW, que utilize fontes renováveis de energia elétrica ou cogeração qualificada e que esteja conectada à rede de distribuição por meio de instalações de unidade consumidora, é uma central de microgeração distribuída. Caso a potência instalada seja acima de 75 kW e inferior a 5 MW, a unidade passa a ser considerada de minigeração distribuída (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2012). Como explicado no conceito, uma área rural que possua uma queda d’água e gere a própria energia, um criadouro de porcos que possua biodigestores para geração de energia, através do dejeto suíno, ou uma residência no meio de uma grande cidade, com painéis fotovoltaicos e que estejam todos eles conectados à rede de distribuição, é um gerador distribuído. Como mencionado, a energia mensal, gerada através da microgeração distribuída, pode ser usada para abatimento do consumo, e o eventual excedente permanece como crédito para ser usado em até 60 meses, porém, para usar esse crédito, há algumas regras, por exemplo: a geração e o consumo de energia devem ser na mesma área de concessão do serviço de distribuição — significando que não é possível gerar energia em Pernambuco e usar esse crédito em Santa Catarina. Ainda, as unidades geradoras e consumidoras têm que pertencer a uma mesma pessoa física ou jurídica, logo, é possível que a energia gerada na casa de praia de uma pessoa possa ser usada para abater a conta de energia no seu endereço habitual, na cidade. A geração de energia centralizada, realizada através de grandes hidrelétricas, termelétricas, parques eólicos ou grandes usinas fotovoltaicas, possui a vantagem competitiva do preço. O ganho de escala obtido com a compra de milhares de painéis fotovoltaicos, por exemplo, barateia o custo de produção de energia por megawatt construído. Por outro lado, na geração distribuída, como a geração de energia é próxima àcarga, não há perdas associadas ao serviço de distribuição/transmissão de energia. A geração distribuída, através de energia solar, ainda contribui para a diversificação da matriz elétrica e é uma fonte de energia verde, de baixa emissão de carbono. NOTA UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 124 Os dois modelos mais importantes que permitem a comercialização da energia através da geração distribuída são o feed-in e o net metering. O sistema feed-in remunera o gerador distribuído baseado no custo da geração. Já no sistema net metering, que foi o adotado no Brasil, o excedente de geração retorna como crédito e o preço de compra pode ser igual ao preço de venda. 5.1 MODELO FEED-IN O modelo feed-in foi adotado em 2000, pela Alemanha, com o intuito de promover o desenvolvimento de fontes renováveis de energia, além de aumentar a participação de fontes de energia limpa naquele país. Essa política de estado foi fundamental para tornar a Alemanha referência mundial de geração distribuída, principalmente, da energia solar. O modelo alemão já foi emendado diversas vezes, porém, na sua versão original, havia garantia de preço da venda da energia por um período de 20 anos. Logo, o gerador distribuído pode vender o excedente de energia e, de fato, receber dinheiro pela energia gerada. Não é um sistema de compensação. Outro ponto positivo interessante do modelo é que se adiam investimentos no sistema de transmissão, uma vez que, com o aumento da oferta da geração distribuída, a energia não precisa ser mais transportada através de grandes distâncias. A desvantagem desse sistema é que a distribuidora de energia, ao invés de comprar uma energia mais barata de geradores centralizados, acaba comprando de geradores distribuídos e repassa esse custo para a tarifa, ou seja, há um custo econômico imediato para a sociedade, que paga por uma energia mais cara. Essa é a principal crítica ao modelo que acaba onerando quem não possui geração distribuída. Como mencionado, o modelo alemão evoluiu para ir amenizando essas fragilidades. 5.2 MODELO NET METERING O modelo net metering, adotado no Brasil e na Dinamarca, por exemplo, consiste no sistema de compensação de energia. O gerador distribuído não recebe dinheiro pela energia gerada, e, sim, créditos para serem compensados. Pelo fato de o gerador distribuído não ser remunerado, a velocidade de crescimento da geração distribuída nos países que adotaram esse modelo é mais lenta. Não há incentivo a se gerar mais do que o próprio consumo. A compensação de energia pode ser paritária, ou seja, para cada um quilowatt gerado, gera-se um crédito de um quilowatt, ou a regulamentação pode não desonerar o gerador distribuído de questões técnicas, como impostos, tarifa de uso do sistema de distribuição ou encargos do sistema elétrico. Um dos objetivos desse modelo é manter a modicidade tarifária. TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 125 5.3 ENERGIA SOLAR E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA A energia solar acabou assumindo um protagonismo no mercado de geração distribuída, e, até 2027, deve responder por uma fatia de mercado de 82% da capacidade instalada. Possui diversas vantagens: fácil instalação, não possui partes móveis (o que implica em baixo custo de manutenção), não emite ruído, se aplicada a edificações, acaba não ocupando o solo, além de se adequar à arquitetura. Além dessas vantagens competitivas, com o passar dos anos, o custo dos componentes — painéis solares e inversores — caiu drasticamente, para os módulos fotovoltaicos. É mostrado que, em 2009, um módulo comum de silício produzido na Alemanha custava um pouco menos de US$/W 4,00 (US$ 4,00 por Watt), enquanto, em 2014, o preço desse mesmo módulo estava inferior a US$/MW 1,00 (US$ 1,00 por Watt), ou seja, uma redução de 75% no preço em apenas cinco anos. GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DO PREÇO DE MÓDULOS SOLARES POR TECNOLOGIA DE FABRICAÇÃO E LOCAL DE COMERCIALIZAÇÃO FONTE: Adaptado de International Bank for Reconstruction and Development (2015) A perspectiva do mercado para o segmento de geração distribuída é muito promissora. Como mostrado, no Brasil, a geração distribuída, através de fontes renováveis, permite a compensação do consumo energético desde 2012. O decrescimento constante do preço dos equipamentos só vem a favorecer essa perspectiva de expansão. Além do crédito energético, a geração distribuída, através de fontes renováveis de energia, ajuda a limpar e a diversificar a matriz energética, mas não é só o segmento de geração distribuída que realiza compensação de energia que se beneficia da expansão do setor. Em lugares remotos, onde a distribuidora de energia não é presente, os sistemas autônomos, com destaque aos sistemas solares, fazem o atendimento da demanda por eletricidade da sociedade. UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 126 6 SISTEMA DE ENERGIA SOLAR AUTÔNOMO E CONECTADO À REDE Um sistema fotovoltaico autônomo é capaz de suprir a própria carga sem a necessidade da conexão com a rede elétrica. Existem diversas aplicações para sistemas autônomos: telemetria (medição de variáveis de meteorologias ou leitura de dados de reservatório de água), iluminação pública, suprimento de energia para sistemas de monitoramento remoto por câmeras, radares de velocidade, ou, ainda, suprimento de energia em residências localizadas em locais isolados. Uma característica importante para a aplicação de um sistema isolado é a não viabilidade técnica ou econômica de ligar a carga à rede elétrica de distribuição. Para a implementação de um sistema autônomo de geração solar distribuída, alguns componentes são necessários (VILLALVA, 2012). Confira: • Módulos fotovoltaicos: convertem a energia solar em energia elétrica. A saída do módulo fotovoltaico produz energia em corrente contínua. Usualmente, alguns arranjos de módulos são necessários. Alguns módulos são ligados em série para que seja atingido um valor de tensão suficiente para o inversor funcionar e/ou paralelo para prover a corrente necessária para atendimento da carga. • Inversor de frequência: na maioria dos casos, principalmente, em residências, as cargas são supridas em corrente alternada. Esse equipamento tem a função de transformar a energia de entrada do inversor, entregue pelos módulos fotovoltaicos ou pelas baterias de corrente contínua para corrente alternada, na saída. Geladeira, televisor e tomadas, de uso geral, são alimentados em corrente alternada. Em aplicações específicas, há cargas em corrente contínua, e, nesses casos, um inversor não é necessário. Em sistemas de telemetria, por exemplo, a saída do módulo fotovoltaico alimenta o controlador de carga, e este estabiliza a tensão para alimentar o controlador, que faz a leitura dos dados meteorológicos. A disponibilidade da energia elétrica aumenta a qualidade de vida e o bem- estar das pessoas. A energia elétrica permite armazenar alimentos com o uso de geladeiras; melhorar o acesso à educação, ao permitir o estudo em horários noturnos e o uso de tecnologias, como computadores e tablets; e melhorar a sensação de segurança através da iluminação pública e a abertura de leques de desenvolvimento de atividades econômicas. Devido à inviabilidade de se levar energia a certas localidades através da rede da distribuidora, muitas vezes, é possível fazer o atendimento a localidades remotas através de geração distribuída, por fontes renováveis de energia, com sistemas autônomos, através da energia solar, por exemplo. Para comunidades pequenas, é possível prover pequenos trechos da rede de distribuição. NOTA TÓPICO 1 — CRITÉRIOS DE ALIMENTAÇÃO PELAS CONCESSIONÁRIAS E MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA 127 • Controlador de carga: tem a função de controlar o fluxo de energia entre os módulos fotovoltaicos e o inversor, entre os módulos fotovoltaicose as baterias e entre as baterias e o inversor. Quando há energia solar, o controlador de carga usa essa energia, prioritariamente, para alimentação do inversor e, consequentemente, das cargas; o excedente de energia gerada nos módulos fotovoltaicos é usado para carregar as baterias. Caso a carga esteja demandando mais energia do que os módulos fotovoltaicos podem fornecer no momento, o controlador de carga passa a desviar o fluxo de energia das baterias para o inversor e, consequentemente, para as cargas. Logo, durante a noite, por exemplo, o sistema continua disponível para os consumidores através das baterias. • Bateria: tem a função de armazenar energia em momentos em que a produção, através dos módulos, é maior do que o consumo das cargas, e de prover energia para as cargas quando a produção, através dos módulos, não é suficiente. As baterias possuem vida útil inferior a cinco anos, precisam ser bem armazenadas e, posteriormente, corretamente descartadas. As baterias são equipamentos que tornam o sistema autônomo caro. Um esquemático do fluxo de potência pelos equipamentos será mostrado a seguir. Será possível observar o fluxo energético em um sistema autônomo. Inicialmente, os módulos fazem a conversão fotovoltaica da energia solar. O controlador de carga direciona esse fluxo de potência para a bateria ou para o inversor, a depender da necessidade da unidade consumidora. Para as cargas supridas em corrente alternada, o inversor faz a conversão de energia elétrica para esse fim. Já as cargas em corrente contínua podem ser diretamente supridas pelo controlador de carga. FIGURA 4 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO AUTÔNOMO FONTE: Adaptada de Fuentes et al. (2014) Um sistema fotovoltaico conectado à rede utiliza o sistema de distribuição como uma “bateria de capacidade infinita”. É para esse tipo de sistema que funciona o modelo brasileiro net metering de compensação da energia. O sistema conectado à rede é muito mais barato do que o autônomo, pois dispensa o uso de baterias. UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 128 Para o funcionamento desse tipo de sistema, o gerador distribuído deve solicitar, à distribuidora de energia, um medidor bidirecional, que marca o consumo e a geração de energia. Essa diferença gera um crédito a ser compensado em até 60 meses ou um débito que deve ser pago na conta de energia ou abatido de algum crédito pretérito existente. Esse tipo de sistema dispensa o uso de controlador de carga e de baterias. Os inversores devem seguir rigorosos critérios de fabricação. Uma vez que eles injetam energia na rede da distribuidora, é fundamental que os inversores tenham sido ensaiados e aprovados “[...] conforme normas técnicas brasileiras ou normas internacionais, ou o número de concessão do Inmetro” (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2017, s.p.). A seguir, será mostrado um esquemático de um sistema de energia conectado à rede. Diferentemente do apresentado antes, não há necessidade do controlador de carga em sistemas conectados à rede. A energia produzida pelos módulos fotovoltaicos é convertida para corrente alternada e já é entregue fisicamente no quadro de energia, que pode ser imediatamente consumida ou, se não há demanda, é entregue à rede de energia, que funciona como uma “bateria de capacidade ilimitada”. FIGURA 5 – ESQUEMA ILUSTRATIVO DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA CONECTADO À REDE FONTE: Adaptada de Agência Nacional de Energia Elétrica (2016) Desde 2012, com a publicação da Resolução Normativa da ANEEL, acerca da geração distribuída, os sistemas conectados à rede passaram a se popularizar pelo Brasil, principalmente, em regiões onde a tarifa da distribuidora é elevada e onde a classe média é mais pujante. Por outro lado, os sistemas autônomos, através da energia solar ou através de outros recursos, são a solução viável e, às vezes, única, para o provimento de energia em áreas remotas ou aplicações específicas. Para sistemas conectados à rede, a regulação atual permite a compensação paritária de energia. Portanto, é importante identificar o quantitativo de energia que se deseja compensar ao longo do ano. Uma vez que o crédito energético não usado em 60 meses é perdido, é muito importante o correto dimensionamento do sistema. 129 Neste tópico, você aprendeu que: • A energia provida pelas concessionárias passa por transformadores, que podem ser monofásicos, bifásicos ou trifásicos, de modo que atendam a diferentes tipos de clientes. • A energia elétrica deve ser gerada na mesma taxa em que é consumida. • Ao transmitir a energia produzida em usinas, é necessário elevar a tensão o máximo possível, utilizando elevadores de tensão. • Para a energia chegar ao consumidor da forma adequada, a tensão é rebaixada. • A microgeração distribuída é uma modalidade de geração de energia próxima à carga. RESUMO DO TÓPICO 1 130 1 Como técnico responsável pela transmissão de energia na rede elétrica, é necessário ter conhecimento das normas vigentes do país. Nesse contexto, quais são os valores determinados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para as tensões baixa, média e alta? a) ( ) Baixa tensão: entre 0 e 1kV. Média tensão: entre 1kV e 69kV. Alta tensão: entre 69kV e 230kV. b) ( ) Baixa tensão: entre 0 e 10kV. Média tensão: entre 10kV e 69kV. Alta tensão: entre 69kV e 100kV. c) ( ) Baixa tensão: entre 0 e 500V. Média tensão: entre 500V e 10kV. Alta tensão: entre 10kV e 20kV. d) ( ) Baixa tensão: entre 0 e 100kV. Média tensão: entre 100kV e 690kV. Alta tensão: entre 690kV e 2.300kV. e) ( ) Baixa tensão: entre 0 e 100V. Média tensão: entre 100V e 69kV. Alta tensão: entre 69kV e 230kV. 2 Os engenheiros eletricistas responsáveis pela rede de distribuição das cidades, geralmente, solicitam a troca de transformadores para os clientes. Considerando a demanda de potência de 13.000W em um bairro residencial, e a demanda, em uma área rural, como 15.000W, qual é o tipo de transformador usado em cada um dos casos? a) ( ) Residencial: transformador bifásico. Rural: transformador trifásico. b) ( ) Residencial: transformador trifásico. Rural: transformador monofásico. c) ( ) Residencial: transformador trifásico. Rural: transformador bifásico. d) ( ) Residencial: transformador monofásico. Rural: transformador bifásico. e) ( ) Residencial: transformador monofásico. Rural: transformador monofásico. 3 O trabalho com a rede de transmissão faz parte do cotidiano de um engenheiro eletricista. Assim, por questões de segurança, torna-se imprescindível o conhecimento dos níveis de tensão. Com base na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), quais são os níveis de tensão da rede elétrica, considerando a geração de energia de 13.8kV, a transmissão de 138kV e a distribuição de 220V? a) ( ) Geração de energia: média tensão. Transmissão: alta tensão. Distribuição: média tensão. b) ( ) Geração de energia: baixa tensão. Transmissão: alta tensão. Distribuição: baixa tensão. c) ( ) Geração de energia: alta tensão. Transmissão: média tensão. Distribuição: baixa tensão. d) ( ) Geração de energia: alta tensão. Transmissão: baixa tensão. Distribuição: média tensão. AUTOATIVIDADE 131 e) ( ) Geração de energia: média tensão. Transmissão: alta tensão. Distribuição: baixa tensão. 4 Para que a energia gerada seja transmitida, é necessária uma mudança do nível de tensão por transformadores situados a algumas centenas de metros da usina. Acerca da finalidade desses dispositivos na transmissão de energia, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os transformadores são utilizados para evitar perdas de potência por meio do efeito Joule. Utilizando a lei de Ohm, a tensão é diminuída, de maneira a diminuir a corrente, tornandopossível, assim, a transmissão por longas distâncias. b) ( ) Os transformadores são utilizados para evitar perdas de potência por meio do efeito Joule. Utilizando a lei de Ohm, a tensão é aumentada, de maneira a diminuir a corrente, tornando possível, assim, a transmissão por longas distâncias. c) ( ) Os transformadores são utilizados para evitar perdas de potência por meio do efeito Joule. Utilizando a lei de Ohm, a tensão é diminuída, de maneira a aumentar a corrente, tornando possível, assim, a transmissão por longas distâncias. d) ( ) Os transformadores são utilizados para evitar perdas de potência por meio do efeito Joule. Utilizando a lei de Ohm, a tensão é aumentada, de maneira a aumentar a corrente, tornando possível, assim, a transmissão por longas distâncias. e) ( ) Os transformadores são utilizados para evitar perdas de potência por meio do efeito Joule. Utilizando a lei de Ohm, a tensão é diminuída, de maneira a anular a corrente, tornando possível, assim, a transmissão por longas distâncias. 5 O transformador é um dispositivo utilizado diariamente para a mudança dos níveis de tensão da rede elétrica, como elevador ou como abaixador de tensão. Acerca dos transformadores abaixadores de tensão utilizados pelas concessionárias para a distribuição de energia para os clientes, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Transformador monofásico: ideal para instalações que necessitam de potências de até 8.000W e utilizado em áreas urbanas. Transformador bifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 25.000W, e utilizado em áreas rurais. Transformador trifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 75.000W, e utilizado em áreas urbanas. b) ( ) Transformador monofásico: ideal para instalações que necessitam de potências de até 18.000W e utilizado em áreas urbanas. Transformador bifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 20.000W, e utilizado em áreas rurais. Transformador trifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 50.000W, e utilizado em áreas urbanas. 132 c) ( ) Transformador monofásico: ideal para instalações que necessitam de potências de até 8.000W e utilizado em áreas rurais. Transformador bifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 25.000W, e utilizado em áreas urbanas. Transformador trifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 75.000W, e utilizado em áreas urbanas. d) ( ) Transformador monofásico: ideal para instalações que necessitam de potências de até 3.000W e utilizado em áreas urbanas. Transformador bifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 10.000W, e utilizado em áreas rurais. Transformador trifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 20.000W, e utilizado em áreas urbanas. e) ( ) Transformador monofásico: ideal para instalações que necessitam de potências até 3.000W e utilizado em áreas rurais. Transformador bifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 10.000W, e utilizado em áreas rurais. Transformador trifásico: ideal para consumidores que têm grande demanda de potência, de até 20.000W, e utilizado em áreas urbanas. 6 A Resolução Normativa nº 482, da ANEEL, trouxe grandes avanços para o setor de geração distribuída. Desde a sua publicação, o número de conexões de geração distribuída vem aumentando de forma exponencial. Considerando os conceitos de mini e de microgeração distribuída, por meio da Resolução Normativa da ANEEL, identifique a alternativa CORRETA: a) ( ) Uma central geradora eólica de 30 MW, conectada ao sistema de transmissão, de acordo com a Resolução Normativa nº 482, da ANEEL, faz jus ao sistema de compensação. b) ( ) Um gerador a diesel de potência inferior a 75 kW, conectado diretamente ao sistema de distribuição, de acordo com a Resolução Normativa nº 482, é considerado um gerador distribuído, e faz jus ao sistema de compensação. c) ( ) Um gerador fotovoltaico, de potência instalada de 7 MWp, localizado em uma fazenda e conectado diretamente à rede, de acordo com a Resolução Normativa nº 482, é considerado um microgerador distribuído. d) ( ) Um microgerador solar autônomo, instalado em área rural, com potência inferior a 75 kW, de acordo com a Resolução Normativa nº 482, faz jus ao sistema de compensação de energia. e) ( ) Uma microcentral geradora de energia solar de 15 kWp, conectada ao sistema de distribuição, de acordo com a Resolução Normativa nº 482, faz jus ao sistema de compensação. 7 Os modelos mais populares de trade energético, por meio da geração distribuída, são o feed-in e o net metering. Acerca desses modelos, identifique a resposta CORRETA: 133 a) ( ) O modelo feed-in é usado apenas para energia solar. No Brasil, é o modelo vigente de compensação de energia. b) ( ) Os países que adotaram o modelo feed-in desenvolveram diversas formas de geração distribuída, exceto a energia solar, pois o seu custo é elevado. c) ( ) Os países que adotaram o modelo feed-in tiveram um rápido crescimento da geração distribuída, pois a possibilidade de ser remunerado financeiramente é vantajosa. d) ( ) O modelo net metering, adotado na Alemanha, é considerado um caso de sucesso, pois estimulou a instalação de módulos fotovoltaicos nas residências. e) ( ) O modelo net metering tem uma grande vantagem em relação ao feed- in, pois o gerador distribuído é remunerado pela energia que gera. 134 135 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A análise do fluxo de cargas, ou fluxo de potência, é de fundamental importância para entender o comportamento do sistema elétrico de potência. É uma ferramenta muito relevante para análises de expansão e estudos de situações de falhas em componentes e em geradores, auxiliando na identificação da necessidade de expansão do sistema ou de readequação do arranjo. Ainda, ajuda a entender os impactos de novas fontes ou de grandes cargas no sistema atual. O Brasil tem um sistema elétrico robusto, o Sistema Interligado Nacional (SIN). De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) (BRASIL, 2021a, s.p.), é “a interconexão dos sistemas elétricos que, por meio da malha de transmissão, propicia a transferência de energia entre subsistemas, permite a obtenção de ganhos sinérgicos e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias”. Essa integração de recursos de geração e de transmissão permite atender ao mercado com segurança e economicidade. Atualmente, o SIN contempla uma capacidade de geração de energia elétrica de mais de 170 GW, com um sistema de linhas de transmissão interligadas de 145.600 km em grande parte do território nacional. Esses números grandiosos demonstram a relevância da análise do fluxo de cargas, conceito básico do SIN (BRASIL, 2021a). Neste tópico, você conhecerá o fluxo de cargas a partir da sua formulação básica. Além disso, verá os modelos de linhas de transmissão de curta, média e longa distância. Por fim, estudará a modelagem de transformadores. 2 FLUXO DE CARGA A análise do fluxo de carga é uma análise estática que permite que a rede seja representada por um conjunto de equações algébricas e inequações que representam as restrições do sistema. Ela trata, principalmente, da rede básica, composta pelos sistemas de geração e de transmissão, e não contempla o sistema de distribuição que, nessa análise, entra, usualmente, como carga. A análise se baseia em um sistema trifásico equilibrado. A representação sempre se dá em um diagrama unifilar, mas é um sistema trifásico. Assim, segue uma representação unifilar de um sistema de geração e de transmissão simples. TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 136 UNIDADE3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA FIGURA 6 – DIAGRAMA UNIFILAR DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO E SUBESTAÇÕES FONTE: Adaptada de Araujo e Barbosa (2018) O sistema representa dois geradores (G) conectados a transformadores elevadores nas barras 1 e 2, que se conectam à barra 3 (provavelmente, uma subestação elevadora, visto que há um transformador entre a barra 3 e a 4). A barra 4 é ligada à barra 5, por meio de uma linha de transmissão que, por sua vez, pode estar ligada diretamente a uma carga e a um elemento capacitivo shunt, para compensação de reativos de forma estática. A geração e a carga são classificadas como externas ao sistema, e, os transformadores e as linhas de transmissão, como internos. As partes externas são modeladas pela sua disponibilização ou consumo de potência na barra (MONTICELLI, 1983). O sistema elétrico brasileiro é muito mais complexo. Veja, a seguir, o mapa do SIN. FIGURA 7 – MAPA DO SIN FONTE: Brasil (2021b, s.p.) TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 137 Apesar da complexidade do sistema, ele é analisado conforme as leis de Kirchhoff, considerando a conservação de potência ativa e reativa em cada nó ou barra do sistema (MONTICELLI, 1983). A primeira lei de Kirchhoff, conhecida como lei dos nós, afirma que a soma das correntes que entram em um nó é igual à soma das correntes que saem desse nó. A segunda lei estabelece que a soma algébrica das quedas de tensão nos componentes de uma malha fechada é zero (HALLIDAY; RESNICK, 2016). Na formulação básica do problema de fluxo de carga, são tratados de sistemas menores, como o a seguir, que contém três barras. FIGURA 8 – EXEMPLO DE SISTEMA DE TRÊS BARRAS FONTE: O autor Conforme Monticelli e Garcia (2011), na análise que considera a formulação básica, existem quatro variáveis associadas a cada barra: • Vk — magnitude da tensão nodal (barra k). • θk — ângulo da tensão nodal (barra k). • Pk — geração líquida (geração menos carga) de potência ativa (barra k). • Qk — injeção líquida de potência reativa (barra k). Duas dessas variáveis participam da solução como dados do problema e duas são incógnitas a serem resolvidas. Existem três tipos de barras: • PQ — Pk e Qk são dados; Vk e θk são calculados. • PV — Pk e Vk são dados; Qk e θk são calculados. • Vθ (barra referência) — Vk e θk são dados; Pk e Qk são calculados. Geralmente, barras de geração são do tipo PV e barras de cargas são do tipo PQ. A barra Vθ é única, em cada sistema analisado. Ela deve servir de referência angular e de módulo de tensão para as demais barras, além de completar o balanço de potência, compensando as perdas nos demais componentes (MONTICELLI, 1983). 138 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA O equacionamento do fluxo de cargas é dado pelas componentes de potências ativa e reativa em cada barra. Para a lei de Kirchhoff, cada barra é equivalente a cada nó. As Equações 1 e 2 devem ser solucionadas para resolver o problema de fluxo de potência (MONTICELLI, 1983): • k = 1, ..., N, sendo N o número de barras da rede. • Ωk: conjunto de barras vizinhas a k. • Vk , Vm: magnitude da tensão nodal (barra k e barra m). • θk , θm: ângulo da tensão nodal (barra k e barra m). • Pkm: fluxo de potência ativa (ramo k ‒ m). • Qkm: fluxo de potência reativa (ramo k ‒ m). • Qksh: componente de potência reativa em razão do elemento shunt na barra k. As equações 3 e 4 definem as restrições do sistema e os limites operacionais de cada barra, quando informados (MONTICELLI, 1983): A equação 3 fornece os limites de tensão em uma barra PQ, e, a inequação 4, os limites de potência reativa em uma barra PV (MONTICELLI, 1983). Para o correto equacionamento, devem ser modelados os componentes presentes no sistema, como as linhas de transmissão e os transformadores. (1) (2) (3) (4) Para a resolução do fluxo de potência, as cargas consumidoras, geralmente, são tratadas como potência fixa. NOTA TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 139 3 MODELAGEM DE LINHAS DE TRANSMISSÃO As linhas de transmissão são componentes de suma importância no sistema elétrico de potência (SEP) e são sempre trifásicas na rede básica. São componentes passivos no transporte de energia elétrica entre as diferentes subestações, constituindo o meio para que o fluxo de potência ocorra (SAADAT, 1999). As linhas são formadas por condutores que apresentam baixa resistência elétrica. Contudo, de acordo com a distância percorrida, que pode chegar a centenas de quilômetros, essa resistência é significativa no sistema, representando perdas por efeito joule. Há, ainda, uma reatância, dependendo da capacitância presente entre a linha e o solo ou entre as próprias linhas. A modelagem reflete esses componentes. A modelagem da linha de transmissão varia, conforme o comprimento desta, sendo classificada como linha curta, média ou longa. A modelagem de linha curta se aplica a linhas com extensão de até 80 km e níveis de tensão de até 69okV. Nesse tipo de linha, a capacitância não é tão relevante, porém, a indutância da linha é mais presente. O modelo é, portanto, representado por uma indutância série (SAADAT, 1999). FIGURA 9 – MODELO DE LINHA CURTA FONTE: Saadat (1999, p. 143) A Equação 5 define o cálculo da impedância para a linha curta: Z = (r + jωL)l = R + jX r e L são a resistência e a indutância por unidade de comprimento, e l é o comprimento da linha (SAADAT, 1999). A linha média compreende distâncias entre 80 e 250 km, e a componente capacitiva da linha já se faz presente. Assim, segue o modelo de linha média, também conhecido como modelo π.: (5) 140 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA FIGURA 10 – MODELO Π DE LINHA MÉDIA FONTE: Saadat (1999, p. 148) Na figura anterior, foi possível observar as componentes capacitivas contribuindo em 50% em cada ponto de conexão. A componente série é calculada utilizando a mesma Equação 5, mas a admitância capacitiva é calculada pela Equação 6 (SAADAT, 1999): Y = (g + jωC)l • g: fugas de corrente por efeito corona, tipicamente atribuídas como zero nessa análise. • C: capacitância shunt. • l: comprimento da linha. (6) Para as linhas curtas e médias, foi considerado o modelo concentrado, em que as características de reatância e de admitância, presentes em longas distâncias, são concentradas em componentes singulares. Para as linhas longas, com mais de 250 km de comprimento, essa simplificação não é possível, pois não representaria o comportamento real da linha. Para um modelo mais preciso, é necessária uma solução com equações diferenciais (MONTICELLI; GARCIA, 2011). Segue uma seção de linha longa com os seus componentes infinitesimais. A Equação 6 traz a admitância shunt total. Entretanto, metade dela (Y ÷ 2) deve ser considerada em cada barra de conexão da linha. NOTA TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 141 FIGURA 11 – SEÇÃO DE LINHA LONGA CONTENDO AS COMPONENTES INFINITESIMAIS DL FONTE: Monticelli e Garcia (2011, p. 98) Após o grande tratamento matemático, é possível estabelecer um modelo π equivalente de linha longa, porém, diferentemente das linhas curtas e médias, as suas componentes não são triviais de encontrar. FIGURA 12 – MODELO Π EQUIVALENTE DE LINHA LONGA FONTE: Saadat (1999, p. 155) A componente série é dada pela Equação 7, e a admitância shunt é fornecida pela Equação O termo γ representa a constante de propagação, que é dada pela Equação 9 (complexa): γ = α + jβ = √zy = √(r+jωL) (q+jωC) Na Equação 9, a parte real é a constante de atenuação e a parte imaginária é a constante de fase (SAADAT, 1999). (7) (8) (9) 142 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 4 MODELAGEM DE TRANSFORMADORES Em análise de fluxos de potência, o transformador pode ser representado por um modelo π (MONTICELLI, 1983). FIGURA 13 – EQUIVALENTE Π DE UM TRANSFORMADOR FONTE: Monticelli (1983, p. 7) Os elementos da figuraanterior são dados de acordo com as Equações 10, 11 e 12, que representam a relação de transformação (MONTICELLI, 1983): A = a · ykm B = a ∙ (a – 1) · ykm C = (1 – a) ·ykm Caso a relação de transformação A fosse de 1:1, os termos B e C seriam nulos e restaria apenas a impedância série. Conforme Monticelli (1983), a modelagem de transformadores consiste em uma admitância série e um autotransformador ideal com a relação de transformação. Isso é válido para os cálculos por unidade (p.u.). FIGURA 14 – TRANSFORMADOR FONTE: Monticelli (1983, p. 6) (11) (12) (10) TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 143 O transformador da figura anterior apresentou relação de transformação A sem alterar o ângulo de fase. Pode-se observar a tensão no ponto p no mesmo ângulo θk que a barra k. Entretanto, existem equipamentos defasadores que alteram o ângulo de fase na transformação. Essa transformação pode ser apenas angular, sem alteração no módulo da tensão, ou em ambas as variáveis. Ainda, conforme Monticelli (1983), a relação de transformação é de 1:t, de acordo com a Equação 13: t = a ∙ e jφ Exemplo 1: Um exemplo de transformador defasador é o transformador estrela- triângulo (ΔY), que acrescenta uma defasagem de 30º entre o primário e o secundário. Segue um diagrama de um transformador defasador. FIGURA 15 – TRANSFORMADOR ESTRELA-TRIÂNGULO E DIAGRAMA FASORIAL DE TENSÃO FONTE: Monticelli e Garcia (2011, p. 149) Transformadores YY não alteram o ângulo da tensão entre primário e secundário, ou seja, φ = 0. FIGURA 16 – TRANSFORMADOR YY E DIAGRAMAS FASORIAIS DE TENSÃO FONTE: Monticelli e Garcia (2011, p. 148) (13) 144 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA A solução dos problemas de fluxo de carga depende do correto equacionamento e da correta modelagem dos componentes do sistema, especialmente, das linhas de transmissão e dos transformadores. 5 TIPOS DE CARGA DO SOLO E SUA ORIGEM As cargas do solo se originam, especialmente, a partir da presença e da distribuição de partículas pequenas, com tamanho abaixo de 2 µm (micrômetros), que podem ser observadas apenas em microscópio eletrônico. Tais partículas compreendem a fração coloidal, composta por argilominerais e óxidos (partículas minerais), húmus (partículas orgânicas) e associação entre as frações mineral e orgânica. FIGURA 17 – CARGAS DO SOLO FONTE: Adaptada de Finkler et al. (2018) Considerando que, quanto menor o tamanho da partícula em determinada massa de solo, maior é a sua área de superfície, os coloides do solo apresentam uma grande área de superfície. Isso indica a amplitude de reações que podem ocorrer entre as diferentes fases do solo. Quando se tratam de algumas argilas silicatadas, apresentam, também, uma grande superfície interna entre as lâminas que compõem a sua unidade cristalográfica (BRADY; WEIL, 2013). As superfícies dos coloides do solo são constituídas por cátions e ânions, ou seja, íons carregados positiva e negativamente. Em função da sua superfície eletricamente carregada, os coloides se tornam estruturas altamente reativas, por isso, recebem a denominação de fração mais ativa do solo. Tal reatividade se origina dos grupos funcionais que, por sua vez, são sequências químicas que, em contato com a solução do solo, reagem com moléculas e íons a fim de entrar em equilíbrio, reduzindo a sua energia livre. TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 145 Segundo Brady e Weil (2013), existem duas fontes principais de cargas dos coloides do solo: aquelas que têm a capacidade de liberar íons carregados positiva ou negativamente, como as hidroxilas, e aquelas que passam por substituição isomórfica entre cátions de tamanhos similares carregados eletricamente de forma diferente, assim como ocorre quando há o desequilíbrio de cargas em determinadas estruturas dos cristais de argila. As cargas presentes na maioria dos coloides do solo são majoritariamente eletronegativas, ainda que, em algumas situações, possa haver um balanço de cargas positivas. Essas cargas elétricas presentes no solo podem ser classificadas em permanentes e variáveis. As permanentes são aquelas que independem da composição da solução do solo. Já as variáveis variam a partir da alteração na concentração dos eletrólitos, e o seu potencial elétrico se mantém constante a um mesmo pH. Vejamos mais acerca dessas cargas. 5.1 CARGAS PERMANENTES As cargas permanentes recebem essa denominação por terem origem durante a formação do mineral, ou seja, elas se localizam no interior da rede cristalina do mineral e nunca se alteram, sendo inerentes ao mineral. Por esse motivo, também podem ser chamadas de carga estrutural. As cargas permanentes têm relação direta com o destino dos elementos químicos encontrados nos solos. Elas se desenvolvem na superfície de um sólido, a partir da substituição isomórfica, ou seja, quando uma região ocupada por um cátion é ocupada por outro cátion de valência diferente. As substituições ocorrem em minerais primários, no seu processo de diferenciação magmática, nos minerais secundários, durante a sua formação no solo, ou, ainda, pela herança dos minerais primários (FONTES; CAMARGO; SPOSITO, 2001). Entretanto, elas são capazes de produzir carga significante apenas em minerais do tipo 2:1, como vermiculita, ilita, montimorilonita etc. FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DA SUBSTITUIÇÃO ISOMÓRFICA NA ESTRUTURA DOS ARGILOMINERAIS FONTE: Universidade Federal de Santa Maria (2006, s.p.) 146 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA Conforme Gast (1977), as cargas do tipo permanente podem ser positivas ou negativas. No entanto, ao considerarmos os tamanhos iônicos, a substituição, normalmente, ocorre com a substituição de um elemento de maior valência por um de menor valência, levando a um déficit de carga positiva na estrutura cristalina e, como consequência, à expressão de carga negativa na superfície do coloide. Em alguns casos, as substituições isomórficas também constituem fonte de cargas positivas, por exemplo, quando o cátion substituto apresenta carga maior em relação ao íon que é substituído. 5.2 CARGAS VARIÁVEIS Os coloides, sejam eles orgânicos, sejam inorgânicos, apresentam cargas, na sua superfície, associadas a grupos carboxílicos (OH−), as quais são altamente dependentes do pH. Essas são chamadas de cargas variáveis e se originam de reações nas quais ocorre a associação de íons de hidrogênio (protonação e deprotonação) e a adsorção de cátions e de ânions, podendo tornar os solos predominantemente negativos ou positivos. Segundo Weber (2000), as fontes das cargas variáveis nos solos incluem a matéria orgânica, as arestas dos minerais de argilas e os óxidos e os oxi- hidróxidos de ferro (Fe), alumínio (Al), manganês (Mn), silício (Si) e titânio (Ti). Têm grande ocorrência em solos tropicais, que, em sua maioria, apresentam, na fração coloidal, argilas do tipo 1:1 e óxidos de Fe e Al. FIGURA 19 – ÓXIDO DE FERRO GOETHITA. VEJA QUE AS LÂMINAS DE OCTAEDROS DEIXAM ESPAÇOS INTERNOS (TÚNEIS), EM QUE ÂNIONS E ATÉ METAIS PESADOS CATIÔNICOS PODEM SER ADSORVIDOS FONTE: Universidade Federal de Santa Maria (2006, s.p.) As cargas variáveis são de grande importância nos solos altamente intemperizados. Esses solos, especialmente, nas camadas subsuperficiais, apresentam pouquíssima quantidade de cargas permanentes à medida que a intemperização aumenta. Tal situação afeta a fertilidade do solo e a produtividade das culturas (LANDELL et al., 2003). TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 147 A maioria das cargas associadas ao húmus, às argilas 1:1, aos óxidos de Fe e Al, além das alofanas, são variáveis. Leia mais acerca de tais situações acompanhando as figuras a seguir. FIGURA 20 – PRINCIPAIS GRUPOS QUÍMICOS RESPONSÁVEIS PELA ELEVADA QUANTIDADE DE CARGA NEGATIVA NOS COLOIDESDO HÚMUS FONTE: Brady e Weil (2013, p. 273) Os três grupos de destaque da figura anterior incluem hidroxilas (–OH), que podem perder o seu íon hidrogênio por dissociação e, assim, tornar-se negativamente carregadas. Note que os grupos fenólicos, carboxílicos e alcoólicos, no lado direito do diagrama, são mostrados no seu estado dissociado, enquanto aqueles, do lado direito, ainda estão com os seus íons de hidrogênio associados. Note que a associação com um segundo íon de hidrogênio faz com que sejam liberados sítios que exibem cargas positivas. FIGURA 21 – MODO COMO AS CARGAS DEPENDENTES DO PH SE FORMAM EM UM BORDO QUEBRADO DE UM CRISTAL DE CAULINITA FONTE: Brady e Weil (2013, p. 276) 148 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA Três fontes de carga líquida superficial negativa, em condições de pH elevado, foram ilustradas na figura anterior. • Uma carga (−1) a partir do oxigênio dos octaedros que perdeu o seu íon de hidrogênio (H+) por dissociação (o H se dissociou do grupo hidroxila da superfície em direção à solução do solo). Perceba que tal dissociação pode gerar cargas negativas em qualquer superfície planar com hidroxilas, e não apenas em um bordo quebrado. • (B) Metade (−1/2) de uma carga de cada um dos oxigênios octaédricos que, normalmente, estaria compartilhando os seus elétrons com o alumínio. • (C) Uma carga (−1) a partir de um átomo de oxigênio tetraédrico que, normalmente, estaria equilibrado pela ligação com um íon de silício, se não estivesse em um bordo quebrado. Muitos diagramas do centro e da direita mostraram o efeito da acidificação (diminuição do pH), que aumenta a atividade de íons H+ na solução do solo. No menor pH mostrado (à direita), todos os oxigênios do bordo têm um íon H+ associado, dando origem a uma carga líquida positiva sobre o cristal. Em resumo, as cargas presentes no solo podem ter diferentes origens. Aquelas que independem da composição do solo e têm a sua origem a partir da troca entre cátions de valência diferentes são chamadas de cargas permanentes. Aquelas oriundas da matéria orgânica do solo e de arestas de minerais, por sua vez, dependentes do pH do solo, são denominadas de cargas variáveis. 6 IMPORTÂNCIA DAS CARGAS ELÉTRICAS NAS PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS SOLOS O comportamento dos solos é afetado diretamente pela presença de cargas nas suas frações coloidais. O estudo de tal fração e das suas propriedades elétricas é de suma importância, pois fornece informações que auxiliam no entendimento dos diversos fenômenos que ocorrem nesse local. Tais cargas, existentes nas superfícies das frações coloidais, têm a capacidade de atrair ou de repelir substâncias que estão presentes na solução do solo, influenciando, de forma significativa, os comportamentos químico e físico do solo. 6.1 ADSORÇÃO DE CÁTIONS E DE ÂNIONS O processo de retenção de íons se dá em função dos diferentes grupos funcionais e das suas cargas nos coloides do solo. A retenção acontece por meio da adsorção de cátions e de ânions. A adsorção consiste no acúmulo de uma substância entre uma superfície sólida e a solução adjacente. Assim, a adsorção dos íons pelos coloides do solo interfere na disponibilidade e na mobilidade desses coloides, afetando diretamente a fertilidade do solo e a qualidade ambiental. TÓPICO 2 — FLUXO DE CARGAS 149 Brady e Weil (2013) exemplificam que, em solos pertencentes a regiões de clima temperado, normalmente, os ânions, comparativamente aos cátions, são adsorvidos em menor quantidade. Essa situação ocorre em função de esses solos terem mais argilas silicatadas do tipo 2:1, que, por sua vez, têm cargas predominantemente negativas. Os mesmos autores ainda explicam que, em solos mais intemperizados, ácidos e ricos em argila do tipo 1:1 e óxidos de Fe, como é o caso dos solos tropicais, as cargas positivas são abundantes e, assim, a adsorção de ânions é predominante. De acordo com a natureza das forças envolvidas no processo, a adsorção pode ocorrer de forma química (quimissorção) e física (fisissorção). A adsorção química é altamente específica. Ela gera uma reação química, uma vez que envolve a troca ou o compartilhamento de elétrons entre as moléculas do adsorvato e a superfície do adsorvente. Nem todas as superfícies sólidas têm, na sua estrutura, sítios adsorventes. No processo de ligação do adsorvato ao adsorvente, a adsorção física envolve interações fracas atribuídas às forças de Van der Waals A adsorção física é inespecífica e ocorre em toda superfície adsorvente (NASCIMENTO et al., 2014). Segundo Foust et al. (1982), a adsorção física é rápida e reversível, não havendo alteração na natureza química do adsorvato, pois este não sofre quebras ou formação de ligações. A quimissorção de cátions é o mecanismo pelo qual ocorre a retenção de cobre (Cu), zinco (Zn), parte do potássio (K) e grande parte do Al na presença de argilominerais 2:1. A adsorção química de ânions pode comprometer a disponibilidade às plantas em solos tropicais, principalmente, quando o pH for baixo. Segundo Alleoni et al. (2005), por meio da quimissorção, a matéria orgânica do solo se liga fortemente aos íons metálicos, com a formação de complexos, o que envolve diversos grupos funcionais das substâncias húmicas. Na fisissorção de cátions, os cátions são atraídos por cargas negativas dos coloides do solo, pois estão hidratados. São adsorvidos, por esse processo, os íons de sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca+2) e magnésio (Mg+2), disponíveis para as plantas. Assim, eles podem ser trocados por outros cátions, e esse fenômeno passa a ser tratado como adsorção e troca de cátions. Conforme Nunes (2005), alguns fatores podem afetar a adsorção em solos de cargas variáveis: • Cargas de superfície: em altas concentrações de eletrólitos, com redução da camada difusa, as regiões positivas ou negativas adsorvem ou repelem cátions independentemente. Em baixa concentração de eletrólitos, quando as camadas difusas sobrepõem as regiões positivas e negativas próximas a elas, a quantidade e a força de adsorção dos cátions são reduzidas. 150 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA • pH: valores de pH acima do ponto de carga zero geram predominância de cargas negativas; o contrário ocorre com valores abaixo do ponto de carga zero, quando as cargas positivas predominam. • Concentração de íons na solução: no caso dos íons de potássio, por exemplo, a adsorção aumenta, conforme maior a concentração de K+. • Ânions acompanhantes: a adsorção de cátions pode ser afetada, por exemplo, quando ocorre a formação de pares iônicos, pois a concentração de determinados ânions permite a maior ou menor concentração de cátions. 6.2 CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA A capacidade de troca catiônica, também conhecida pela sua abreviação, CTC, é um parâmetro quantitativo. Consiste nos processos reversíveis pelos quais ocorre a adsorção dos íons da fase aquosa do solo pelas partículas sólidas, ao mesmo tempo em que solubilizam quantidades equivalentes de outros cátions e geram um equilíbrio entre as fases aquosa e sólida (FASSBENDER; BORNEMISZA, 1984). As substâncias húmicas, as argilas minerais e os óxidos de Fe e de Al apresentam superfície de troca e são os principais coloides responsáveis pela CTC dos solos sob condições tropicais. Por terem alto número de cargas negativas comparativamente às positivas, a adsorção, nesses coloides, é, principalmente, de cátions. Entretanto, nesses coloides, especialmente, nos óxidos de Fe e de Al, encontram-se sítios com carga positiva que, por sua vez, atraem ânions (RONQUIM, 2010). A CTC representa a quantidade de cátions que um solo é capaz de reter por unidade de peso, expressa como o número decentimoles de carga positiva (cmolc), que pode ser adsorvido por unidade de massa. Assim, um solo com CTC de 20 cmolc/kg indica que 1 kg desse solo pode conter 20 cmolc de íons de hidrogênio H+, e pode trocar essa quantidade de cargas de íon H+ pela mesma quantidade de cargas de qualquer outro cátion. O pH do solo é capaz de interferir na CTC dos solos, pois a CTC varia em função da existência de cargas negativas dependentes do pH. Brady e Weil (2013) afirmam que, com pH baixo, as argilas do tipo 2:1, além de uma reduzida porção de cargas dependentes do pH dos coloides orgânicos, das alofanas e de algumas argilas do tipo 1:1, retêm os cátions com as suas cargas permanentes. Já com pH elevado, a CTC é aumentada, visto que há alto número de cargas negativas de algumas argilas silicatadas do tipo 1:1, do húmus, dos óxidos de Fe e de Al e da alofana. 151 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A análise de fluxo de cargas é de fundamental importância para entender o comportamento do sistema elétrico de potência. • As linhas de transmissão são componentes de suma importância no sistema elétrico de potência (SEP). • A modelagem da linha de transmissão varia, conforme o comprimento desta, sendo classificada como linha curta, média ou longa. • Em análise de fluxos de potência, o transformador pode ser representado por um modelo simplificado. • As cargas do solo se originam, especialmente, a partir da presença e da distribuição de partículas pequenas. 152 1 Os conceitos e as definições são partes fundamentais de qualquer técnica de análise. Considerando a análise de fluxo de carga e os seus conceitos básicos, classifique as afirmações a seguir em verdadeiras ou falsas: I- Quando analisado de forma estática, pode-se representar o sistema de distribuição por uma carga. II- A rede básica é composta pelos sistemas de geração e de transmissão. III- A análise do sistema é baseada em um sistema monofásico, e a representação é feita em um diagrama unifilar. a) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas. b) ( ) Apenas a alternativa III está correta. c) ( ) As alternativas I e II estão corretas. d) ( ) As alternativas I e III estão corretas. e) ( ) Apenas a alternativa I está correta. 2 Um sistema de geração e de transmissão simples deve ser analisado conforme as Leis de Kirchhoff, considerando as potências ativa e reativa de cada nó ou barra. Com relação à análise, considerando a formulação básica, associe corretamente as informações acerca das barras: I- Ângulo da tensão nodal II- Magnitude da tensão nodal III- Barras de carga IV- Barras de geração V- Barra de referência ( ) Vθ ( ) PQ ( ) Vk ( ) PV ( ) θk Selecione a sequência CORRETA: a) ( ) V – III – II – IV – I. b) ( ) V – IV – II – III – I. c) ( ) IV – III – V – II – I. d) ( ) I – III – V – IV – II. e) ( ) I – III – II – V – IV. 3 As linhas de transmissão são componentes essenciais para o sistema elétrico de potência, sendo responsáveis pelo transporte de energia no sistema. Considerando os conceitos da aplicação da linha de transmissão, classifique corretamente as afirmações a seguir: I- Os condutores de uma linha de transmissão não apresentam impedância no sistema. II- Uma linha de transmissão pode ser classificada em curta, média ou longa. AUTOATIVIDADE 153 III- A modelagem de linha média se aplica a linhas de até 80km e níveis de tensão a partir de 69kV. IV- Linhas com mais de 250km de comprimento são classificadas como linhas longas. a) ( ) As alternativas I, II, III e IV estão corretas. b) ( ) Apenas a alternativa IV está correta. c) ( ) As alternativas II e IV estão corretas. d) ( ) As alternativas I e III estão corretas. e) ( ) Apenas as alternativas I, II e IV estão corretas. 4 A modelagem da linha de transmissão varia, conforme o seu comprimento. Considerando uma linha de transmissão de 300km de comprimento, selecione a representação que define corretamente a linha: a) b) c) d) e) 5 O ângulo θ da tensão nodal é uma variável muito relevante no sistema elétrico de potência (SEP). Nesse contexto, em relação a transformadores e a defasadores, é CORRETO afirmar que: a) ( ) Transformadores YY proporcionam defasagem do ângulo e alteração no módulo da tensão do secundário em relação ao primário. b) ( ) Um equipamento que tenha relação 1:a . e jφ deve alterar a tensão, de acordo com “a”, e, o ângulo, de acordo com “φ”. c) ( ) Um defasador que gera uma nova barra Vθ, sendo adicionadas tantas barras de referência angular quantos forem os defasadores adicionados. 154 d) ( ) Não há equipamento que altere apenas o ângulo θ sem transformação do módulo de tensão. e) ( ) Um transformador pode defasar o ângulo da tensão sem que a ligação das bobinas do primário seja diferente das do secundário. 6 O cerrado brasileiro apresenta diversos aspectos favoráveis, mas tem, como problema, a baixa fertilidade dos seus solos, pois é predominantemente ácido, com baixo pH. Acerca desse tema, analise as afirmações a seguir, julgando V (verdadeiro) ou F (falso): ( ) O pH expressa a quantidade de íons de hidrogênio que precisam ser adicionados ao solo. ( ) A absorção de nutrientes pelas plantas não é afetada em função do pH da solução do solo. ( ) Além do pH, é necessário saber a CTC de um solo para afirmar se ele é ácido ou alcalino. ( ) A solubilidade dos nutrientes, da mesma forma, depende do pH da solução do solo. Assinale a alternativa que contém a ordem CORRETA de preenchimento: a) ( ) V, F, F, V. b) ( ) F, V, F, F. c) ( ) F, F, F, F. d) ( ) F, F, F V. e) ( ) V, V, V, V. 155 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Para que um sistema de aterramento seja efetivo, alguns critérios mínimos devem ser seguidos. A Norma Técnica (NBR) 5410 — Instalações Elétricas de Baixa Tensão (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004) caracteriza e quantifica as dimensões de cada um dos elementos que podem ser utilizados nos sistemas de aterramento e de equipotencialização. Neste tópico, você estudará os conceitos de aterramento e de equipotencialização e a importância dessas aplicações na segurança, principalmente, de pessoas. Com base na norma pertinente e nas características elétricas dos materiais, você verificará como deve ser dimensionada a proteção corrente de fuga, sobrecargas e contra choques elétricos, garantindo edificações mais seguras. 2 ATERRAMENTO ELÉTRICO Aterramento elétrico é estabelecer uma ligação intencional com a Terra, com o objetivo de estabilizar a tensão no caso de descargas atmosféricas, correntes de fuga, correntes de curto-circuito e demais correntes provenientes de qualquer surto elétrico. Essa ligação é beneficiada pelo fato de a Terra ser um grande depósito de energia, e, assim, como uma ligação de baixa resistência (aterramento), todas as correntes indesejáveis são conduzidas a ela. O objetivo principal do aterramento é evitar o choque elétrico. Em instalações elétricas, o aterramento garante a segurança de pessoas e de animais domésticos, proteção das instalações, máquinas e equipamentos e bom funcionamento dos circuitos em geral. Em projetos, placas, indicações etc., o símbolo mais comum de aterramento será o mostrado a seguir. FIGURA 22 – SÍMBOLO DE ATERRAMENTO FONTE: O autor TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 156 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA Em instalações elétricas, podem ser encontrados os dois tipos básicos de aterramento (CREDER, 2016): • Aterramento funcional: realiza a conexão de um dos condutores dos sistemas de alimentação dos circuitos à Terra e garante o funcionamento correto, seguro e confiável da instalação. A figura a seguir (a) mostrará o aterramento funcional, em que, a partir do barramento com a finalidade de aterramento, derivam-se os condutoresque vão aos circuitos de dispositivos e equipamentos. • Aterramento de proteção: conecta massas e elementos condutores que não participam da alimentação dos circuitos à Terra, com o objetivo de proteção contra choques elétricos por contato direto. A conexão da carcaça (massa) de um motor à Terra, para proteção contra choque elétrico (correntes de fuga), poderá ser verificada, também, na figura a seguir (b). FIGURA 23 – ATERRAMENTO (A) FUNCIONAL E (B) DE PROTEÇÃO FONTE: <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Ainda, é possível encontrar o aterramento temporário, realizado em situações de trabalho/manutenção em determinado equipamento ou área, tornando possível a realização de trabalho seguro. Esse aterramento tem caráter provisório, e, tão logo a atividade termine, ele é retirado. Todo aterramento contém o condutor de proteção que liga equipamentos, dispositivos, máquinas e massas entre si ou um barramento de aterramento principal, ou um conjunto de hastes de proteção (eletrodo), ligando o barramento de aterramento principal à terra. Por esse motivo, as hastes são instaladas enterradas diretamente na terra. Toda edificação deve possuir uma estrutura de aterramento, eletrodo de aterramento, sendo que podem ser utilizadas armaduras do concreto das fundações para essa finalidade, ou podem ser utilizados fitas, barras ou cabos metálicos específicos, imersos no concreto da fundação; uso de malhas metálicas enterradas no nível da fundação, cobrindo a área da edificação, sendo complementadas com hastes verticais ou cabos dispostos radialmente; ou, no mínimo, um anel metálico enterrado, circundando o perímetro da edificação e, também, havendo complemento com hastes verticais ou cabos dispostos radialmente. TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 157 Segundo a NBR-5410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), os condutores de proteção devem apresentar seções mínimas, de acordo com o circuito que acompanham. Se os condutores de fase dos circuitos apresentam seção até 16 mm2, o condutor de proteção deve ter a mesma seção deles. Se o circuito de alimentação (fases) tiver entre 16 mm2 e 35 mm2, o condutor de proteção deve ter seção de 16 mm2. Já em casos nos quais os condutores de fase apresentam seção superior a 35 mm2, o condutor de proteção deve sempre ter a metade da seção do condutor de fase. TABELA 1 – SEÇÃO MÍNIMA DO CONDUTOR DE PROTEÇÃO Seção de condutores de fase S (mm₂) Seção mínima do condutor de proteção correspondente (mm₂) S ≤ 16 S 16 < S ≤ 35 16 S > 35 S/₂ FONTE: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004) Os condutores de proteção podem ser fios isolados, mantendo-se no mesmo eletroduto dos demais condutores do circuito, ou podem ser um veio do cabo multipolar. O condutor de proteção, que interliga os elementos ao aterramento principal, pode ser chamado, simplesmente, de terra, com a sigla PE, designando-o. Entretanto, há casos em que é possível realizar a conexão do condutor neutro ao barramento de proteção, fazendo com que esse condutor tenha a função combinada de condutor de proteção e neutro. Esse condutor passa a ser designado por PEN. Essas definições serão muito úteis para os estudos que virão na sequência. 3 ESQUEMAS DE ATERRAMENTO E EQUIPOTENCIALIZAÇÃO Os circuitos terminais e os de distribuição devem conter um condutor de proteção, exceto em alguns casos específicos, que tratam da norma internacional IEC61140, segundo a NBR-5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Os sistemas de aterramento são classificados de acordo com um código de letras, de acordo com a NBR-5410, da forma XYZ (CREDER, 2016): Em instalações elétricas, as cores trazem informações muito importantes da finalidade, utilização etc. A NBR-5410 restringe o uso de condutores de dupla coloração verde-amarela somente como condutor de proteção (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Na ausência de condutor com essa dupla coloração, o condutor verde deve ser utilizado. Nenhuma outra cor deve ser aplicada para a finalidade de proteção. NOTA 158 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA • X — situação da alimentação em relação à terra: • T — um ponto diretamente aterrado; • I — isolação de todas as partes vivas em relação à terra ou aterramento de ponto através de impedância; • Y — situação das massas da instalação elétrica em relação à terra: • T — massas diretamente aterradas, independentemente do aterramento eventual de um ponto da alimentação; • N — massas ligadas ao ponto da alimentação aterrado (em corrente alternada, o ponto aterrado é, normalmente, o próprio neutro); • Z — disposição do condutor neutro e do condutor de proteção: • S — funções de neutro e de proteção asseguradas por condutores distintos; • C — funções de neutro e de proteção combinadas em um único condutor (condutor PEN). Ainda, conforme a NBR-5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), demonstraremos, a seguir, como são os símbolos utilizados na demonstração dos esquemas de aterramento, para sistemas trifásicos. FIGURA 24 – SÍMBOLOS UTILIZADOS NAS ILUSTRAÇÕES DOS ESQUEMAS DE ATERRAMENTO FONTE: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004) 3.1 ESQUEMA TN Possui um ponto da alimentação aterrado e todas as massas estão ligadas a esse ponto por meio do condutor de proteção. No esquema TN, é possível que o condutor neutro e o condutor de proteção sejam condutores distintos TN-S. Já para o esquema TN-C-S, em parte do sistema, condutores de neutro e de proteção podem ter as suas funções combinadas. Ainda, o esquema TN-C, em que os condutores de neutro e de proteção são combinados na totalidade do sistema de aterramento. TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 159 FIGURA 25 – (A) ESQUEMA TN-S; (B) ESQUEMA TN-C-S; (C) ESQUEMA TN-C FONTE: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004) 3.2 ESQUEMA TT Um ponto da alimentação é diretamente aterrado. As massas da instalação são ligadas a eletrodos de aterramento distintos do eletrodo de aterramento da alimentação. FIGURA 26 – ESQUEMA TT FONTE: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004) 160 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA 3.3 ESQUEMA IT As partes vivas são isoladas da terra ou um ponto da alimentação é aterrado por meio da impedância. As massas são aterradas no mesmo eletrodo de aterramento da alimentação, ou, se este último não existir, as massas aterradas devem possuir eletrodo de aterramento próprio. FIGURA 27 – ESQUEMA IT (A) SEM ATERRAMENTO DA ALIMENTAÇÃO; (B) COM ALIMENTAÇÃO ATERRADA POR MEIO DE IMPEDÂNCIA. (B.1) MASSAS ATERRADAS EM ELETRODOS SEPARADOS E INDEPENDENTES DO ELETRODO DE ATERRAMENTO DA ALIMENTAÇÃO; (B.2) MASSAS COLETIVAMENTE ATERRADAS EM ELETRODO INDEPENDENTE DO ELETRODO DE ATERRAMENTO DA ALIMENTAÇÃO; (B.3) MASSA COLETIVAMENTE ATERRADA NO MESMO ELETRODO DA ALIMENTAÇÃO FONTE: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004) 3.4 EQUIPOTENCIALIZAÇÃO Equipotencializar é fazer com que vários pontos de uma instalação, ou um sistema qualquer, estejam sob o mesmo potencial elétrico (tensão). Sem diferença de potencial entre carcaças, massas ou partes metálicas, que não façam parte da instalação elétrica, é possível minimizar a ocorrência de choques elétricos. Segundo a NBR-5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), toda edificação deve conter uma equipotencialização principal, reunindo os seguintes elementos: TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 161 • armaduras de concreto armado e outras estruturas metálicas da edificação; • tubulações metálicas de água, gás, esgoto, sistema de ar-condicionado, de ar comprimido etc.; • condutos metálicos das linhas de energia e de sinal que entram ou saem da edificação; • armações, coberturas ou capas metálicas de cabos das linhas de energiaou sinal; • outros elementos metálicos presentes na edificação e que não façam parte da condução da energia propriamente dita. Junto ou próximo à entrada da alimentação elétrica, deve ser colocado um Barramento de Equipotencialização Principal (BEP), com o qual todos os elementos relacionados devem estar direta ou indiretamente conectados. Agora que você já conhece meios de proteger a instalação elétrica e as pessoas, com os esquemas de aterramento e equipotencialização, aprenderemos a como dimensionar os eletrodos de aterramento. Toda a padronização do dimensionamento e a instalação dos sistemas de aterramento devem seguir a normatização pertinente. Nesse caso, a NBR-5410 traz todas as diretrizes a serem adotadas. 4 DIMENSIONANDO ELETRODOS DE ATERRAMENTO A NBR-5410 rege a padronização de segurança no momento do dimensionamento, ou seleção, de eletrodos de aterramento. Segundo a norma, a infraestrutura de aterramento deve ser confiável e atender aos requisitos de segurança em relação às pessoas e deve conduzir correntes de falta à terra, sem risco de danos térmicos, termomecânicos e eletromecânicos, ou de choques elétricos causados por essas correntes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Os eletrodos devem ser utilizados com os sistemas de proteção contra descargas atmosféricas. Segue um sistema de aterramento, no qual o sistema de proteção contra descargas atmosféricas é interligado aos eletrodos de aterramento e ao BEP, no quadro de ligação. A equipotencialização sempre é realizada por meio do BEP, e ele possui uma influência de 10 m. Quando existirem edificações dentro desse raio, todas devem ser interligadas no mesmo BEP. NOTA 162 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA FIGURA 28 – SISTEMA DE PROTEÇÃO COM HASTES DE ATERRAMENTO FONTE: Adaptada de <Shutterstock.com>. Acesso em: 9 abr. 2021. Ainda, seguem os materiais dos eletrodos de aterramento e as suas dimensões, segundo o que prevê a NBR-5410. QUADRO 4 – MATERIAIS COMUMENTE UTILIZÁVEIS EM ELETRODOS DE ATERRAMENTO — DIMENSÕES MÍNIMAS DO PONTO DE VISTA DA CORROSÃO E DA RESISTÊNCIA MECÂNICA, QUANDO OS ELETRODOS FOREM DIRETAMENTE ENTERRADOS TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 163 FONTE: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004) Nas fundações em alvenaria, a infraestrutura de aterramento pode ser constituída por fita, barra ou cabo de aço galvanizado imerso no concreto das fundações, formando um anel em todo o perímetro da edificação. A fita, barra ou cabo deve ser envolvido por uma camada de concreto de, no mínimo, cinco cm de espessura, a uma profundidade de, no mínimo, 0,5 m (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Segundo a NBR-5410 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), é necessário estar atento para que possíveis alterações nas características do solo não elevem a resistência de aterramento, dificultando a ação da proteção contra choques elétricos. NOTA 164 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA BIOGÁS DE ATERRO É ALTERNATIVA PARA GERAR ENERGIA ELÉTRICA NAS CIDADES Resíduos sólidos no país, entretanto, ainda são um problema. Legislação prevê tratamento, mas, ainda, 60% dos municípios despejam os seus resíduos em lixões. Restrições ambientais estão fazendo com que a matriz elétrica do Brasil se modifique. Majoritariamente hídrica, ela vem se abrindo cada vez mais para fontes antes negligenciadas, como a eólica e a solar. O fato de usinas hidrelétricas não poderem alagar mais as grandes áreas em razão dos transtornos causados à fauna, à flora e às populações ribeirinhas fez com que essas fontes ecologicamente mais sustentáveis fossem encaradas com mais seriedade. Nas grandes cidades, uma alternativa que ganha força é o biogás de aterro, grosso modo, gás produzido a partir dos resíduos sólidos urbanos (RSU), comumente chamado de lixo, que pode ser utilizado para gerar energia elétrica. Segundo o estudo “Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil”, desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produziu, em 2015, cerca de 219 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, o que equivale a, aproximadamente, 80 milhões de toneladas de RSU por ano. A primeira questão surgida ao se pensar em utilizar o biogás de aterro para gerar energia elétrica se refere à destinação e ao tratamento dos resíduos sólidos no Brasil. Em 2 de agosto de 2010, o Governo Federal publicou a Lei nº 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A orientação prevê a prevenção e a redução da geração de resíduos através da prática de hábitos de consumo sustentável, de um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Dentre as propostas do PNRS, está o estabelecimento de metas para a eliminação dos lixões. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 165 Inaugurada no último dia 16 de setembro, a Termoverde Caieiras é a maior usina de biogás de aterro do Brasil, possuindo 29,55 MW de capacidade instalada. A Termoverde é do Grupo Solví, que já proprietária de mais duas usinas desse tipo no país: a Biotérmica, situada no município de Minas de Leão, no Rio Grande do Sul, e a Termoverde Salvador, localizada em Salvador, Bahia. Contudo, apesar dessa legislação, a maior parte dos resíduos sólidos do país continua sendo despejada em lixões, sem receber qualquer tipo de tratamento. Segundo o engenheiro sanitarista, proprietário da Ciclo Ambiental, Marcos Eduardo Gomes Cunha, em torno de 60% dos municípios do país, o lixão é o destino final dos resíduos sólidos. A coordenadora do Grupo de Pesquisa em Bioenergia (GBio) do IEE/USP, professora Suani Teixeira Coelho, informa que o país apresenta mais de 1900 lixões, a maioria em pequenos municípios. Outro complicador é que não há, na lei, uma cláusula que obrigue os proprietários de aterros sanitários a tratarem o gás que se origina da decomposição dos resíduos ali depositados e, tampouco, a exigência da utilização desse gás para a geração de energia elétrica. No começo dos anos 2000, porém, em decorrência do Protocolo de Quioto, implementou-se um mercado voltado para a criação de projetos de redução da emissão de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global. Assim, em busca desses créditos, empresas começaram a queimar, em flare (tocha), o gás produzido no aterro sanitário. Esse gás tem, na sua composição, basicamente, metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). No processo, é feita a combustão do gás e o metano é convertido em gás carbônico, que é bem menos nocivo à atmosfera. A coordenadora do GBio destaca que todos os aterros que possuem tecnologia para fazer a captação do biogás queimam o produto em flare, a fim de gerar créditos de carbono. Já a utilização desse biogás para produzir energia elétrica é bem menos recorrente. Em São Paulo, por exemplo, conforme Suani, apenas três aterros apresentam usinas termelétricas para a geração de energia: os aterros de Caieiras, São João e Bandeirantes. Esses dois últimos já desativados, devido ao acúmulo de resíduos, mas que continuam gerando eletricidade, haja vista que a matéria orgânica ali existente continua a se decompor e a formar biogás. A capacidade instalada desses dois empreendimentos é de 20 MW cada um. Segundo a professora da USP, se todo o resíduo sólido existente em São Paulo fosse usado para gerar energia elétrica, a potência total seria em torno de 495 MW. A capacidade de geração energética, no entanto, poderia ser bem maior, segundo o proprietário da Ciclo Ambiental.“O lixo todo misturado apresenta um potencial de uma molécula de metano por quilo. Já o material orgânico apresenta um potencial de duas moléculas de metano por quilo”, explica, ou seja, seria necessária uma melhor segregação dos resíduos sólidos para conseguir tratá-los melhor, mas o país ainda está engatinhando nisso. “No Brasil, a média de lixo reciclado é de 3%”, diz o engenheiro sanitarista. Contribui, para isso, segundo Cunha, o contingente de pessoas que presta o serviço da coleta. “Há 800 mil pessoas no país trabalhando na chamada logística reversa, mas temos que ter três milhões se quisermos um índice médio de reciclagem de 15% a 20%, que é o índice europeu”, afirma. 166 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA Mesmo aumentando o número de pessoas para fazer a coleta seletiva, há limitações inerentes à própria composição do resíduo que impedem a segregação em níveis adequados para o melhor aproveitamento dos resíduos. Suani explica que, no Brasil, a segregação é feita por catadores, que não conseguem aproveitar todos os resíduos porque, simplesmente, há coisas, como fraudas descartáveis, papéis e garrafas pets sujas, que não possuem valor comercial. A coordenadora do GBio destaca estudos realizados na Baixada Santista, que chegaram à conclusão de que somente 20% do lixo total pode ser reciclado. Na atualidade, também, por falta de uma segregação suficiente e adequada, os aterros sanitários recebem resíduos orgânicos misturados com resíduos inorgânicos (plásticos, metais, vidros etc. que não foram reciclados). A matéria orgânica forma o biogás, e o material inorgânico é enterrado. Isso causa um problema, já que, assim, os aterros acabam por atingir a sua capacidade máxima mais rapidamente. Junta-se a isso, segundo Suani, o fato de que não há, pelo menos, em São Paulo, muito mais espaço para fazer aterro, e “quando se encontra um local, a população não quer que ele seja feito perto das suas casas”. Como solução, os resíduos devem ser tratados antes da sua transferência para o aterro sanitário. Duas formas de se fazer isso são: a incineração, ou queima do lixo, gerando energia térmica, que pode ser transformada em energia elétrica ou vapor; e a gaseificação, série de processos que transforma o resíduo sólido em um gás combustível. Dessa forma, só iriam para os aterros os rejeitos que ocupam, assim, um espaço bem menor dos aterros. A professora Suani explica que a escolha de um processo ou de outro depende da quantidade de resíduos sólidos produzidos, já que o processo de incineração é mais caro do que o de gaseificação. Nesse sentido, de 30 a 600 toneladas por dia, a gaseificação é o procedimento mais indicado. A partir de 600 toneladas por dia, a incineração se torna viável economicamente, mas, também, são poucas as iniciativas desse tipo no Brasil. De acordo com a coordenadora do GBio, em São Paulo, existem somente duas plantas que utilizam a incineração como tratamento de resíduos, uma em São Bernardo do Campo e outra em Barueri, ambas licenciadas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). No que diz respeito à gaseificação, há um consórcio de municípios, no Vale do Paranapanema, que utiliza esse método. “São iniciativas importantes para satisfazer à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)”, diz a professora. A tendência, no Brasil, porém, é utilizar os resíduos sólidos depositados em aterros sanitários particulares para gerar energia elétrica a partir do biogás. “Até o momento, existem sete ou oito iniciativas desse tipo no Brasil, a tendência é esse número aumentar, pois pessoas ainda estão avaliando os resultados”, comenta o proprietário da Ciclo Ambiental. Um dos principais entraves para a difusão desses empreendimentos em território nacional é o custo. De acordo com o conselheiro da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) e sócio da Acesa Bioenergia, Gabriel Kropsch, o aporte financeiro para a implantação das usinas de aterros é elevado, mas, pelo fato de o empreendimento ter uma vida útil grande, é compensador. Além disso, TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 167 o custo operacional é baixo, já que a matéria-prima é o resíduo sólido. Dentro de uma escala comercial, o MWh pode ter um preço viável, principalmente, se forem levadas em consideração as fontes concorrentes, como Gás Natural Liquefeito (GNL), cuja importação deve se elevar nos próximos anos, e cujo preço deve ficar mais suscetível à variação cambial. “O biogás não tem esses riscos”, afirma Kropsch, acrescentando que, além do preço competitivo, trata-se de uma fonte com produção local e regular. Não obstante, o potencial dos resíduos sólidos, o universo do biogás não se restringe apenas a essa matéria-prima. O sócio proprietário da Acesa destaca, também, a vinhaça, subproduto do etanol. As usinas sucrooalcoleiras não podem, simplesmente, descartar esse resíduo no meio ambiente, segundo legislações ambientais estaduais, então, costumam transformá-lo em fertilizantes ou biogás para produzir eletricidade. “O mercado se adaptou, porém, utiliza a vinhaça como fertilizante, pouco aproveitando o potencial elétrico”, conta Kropsch. Outra matéria-prima são os resíduos de agropecuária, geralmente, de gado bovino ou suíno, que são esterco e resíduo do abate (sangues, partes internas e outras que não foram aproveitadas do animal). Conforme Kropsch, todas as empresas de abate são obrigadas, por lei, a tratar os seus resíduos. Nesse caso, o biogás é produzido através do processo de biodigestão. Já existem, no país, diversos empreendimentos que utilizam o biogás de resíduos agropecuários para geração de energia elétrica, a maioria na região Sul. O Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (Cibiogás), instituição científica, tecnológica e de inovação, tem, em andamento, um projeto para instalar, em Itapiranga (SC), uma central de geração de energia a partir do biogás produzido em 12 propriedades de criação de suínos. Segundo o conselheiro da Abiogás, o aterro sanitário ganhou mais visibilidade, também, em razão da Lei nº 12.305, mas se trata da fonte com menor potencial de produção de biogás do país. Conforme Kropsch, na sua totalidade, o Brasil apresenta potencial de 100 milhões de metros cúbicos por dia, sendo, o potencial de biogás de resíduos sólidos urbanos, de quatro milhões de metros cúbicos por dia. Fazendo um balanço final do que é, atualmente, o biometano no Brasil, o especialista da Acesa afirma que se trata, basicamente, de um produto novo que ainda não encontra uma política pública adequada para a sua promoção, isso porque são muitos os agentes envolvidos. “Parte do interesse está no Ministério de Minas e Energia (MME), parte no Ministério da Agricultura, parte no Ministério das Cidades, parte na ANP, e parte nos Estados. O debate está solto em várias esferas e é preciso juntar todos os elementos e interesses, além de ter uma política pública alinhada”, explica. De acordo com Kropsch, há um mercado pronto para o biogás, pois existem empresas interessadas, demanda grande (eletricidade e combustível) e muita oferta. “Mas há muita insegurança institucional. Quem regulamenta? Não está clara, para os players, a regra do jogo”, diz. 168 UNIDADE 3 — ANÁLISE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA Usina Termoverde Caieiras A maior usina de biogás de aterro do Brasil, a Termoverde Caieiras, foi inaugurada no dia 16 de setembro de 2016, na cidade de Caieiras, em São Paulo. A termelétrica tem 29, 55 MW, e conta 21 motores com 1,4 MW de potência cada, gerando 25 MW médios. Conforme o diretor da Termoverde Caieiras, Carlos Bezerra, a usina apresenta fator de capacidade elevada, acima de 80%. As usinas eólicas, por exemplo, possuem, em média, 30% de fator de capacidade, e as hidrelétricas apresentam fator de capacidade de, aproximadamente,50%. Bezerra destaca que tal fator de capacidade da Termoverde, ou seja, a energia que a usina efetivamente produz, tendo em vista a sua potência total, gera segurança na entrega para o comprador. Isso ocorre porque não há problema sazonal, já que o aterro é alimentado por resíduos o ano todo. “São oito mil toneladas por dia”, diz o diretor. Para a implantação da usina, foram investidos pouco mais de R$ 100 milhões. Desse montante, cerca de R$ 80 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, os outros R$ 20 milhões, vieram do Grupo Solví, empresa proprietária do aterro e da usina Termoverde Caieiras. Contratado pelo Grupo Solví no início da década de 1990, Bezerra relembra que, desde essa época, tenta viabilizar projetos para a construção de unidades de energia dentro dos aterros pertencentes ao grupo. No entanto, não conseguíamos viabilizá-los economicamente. Segundo Bezerra, eram feitos planos de negócios tentando enxergar a viabilidade, mas que sempre esbarravam no preço da energia, na variação cambial, no custo dos equipamentos (importados). Além disso, outros fatores que tornam mais difícil a implementação de projetos desse tipo são o custo de manutenção elevado, e o fato de que são termelétricas com escala menor, cuja energia produzida, muitas vezes, não compensa o investimento financeiro. Tudo isso fez com que, somente em 2011, o Grupo Solví conseguisse tirar do papel a Termoverde Salvador, instalada no Aterro Sanitário Metropolitano de Salvador, no Estado da Bahia. Em 2015, mais uma usina a biogás de aterro instalada: a Biotérmica, localizada no município de Minas de Leão, no Rio Grande do Sul. Agora, neste ano, a Termoverde Caieiras, que, segundo Bezerra, só se tornou viável economicamente porque o grupo se beneficiou do Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi), do Governo Federal, e da isenção do Imposto sobre Circulação e Mercadorias (ICMS), por parte do governo do Estado de São Paulo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos recomenda que se faça o tratamento dos resíduos e que se produza energia elétrica antes do aterro sanitário, se for viável economicamente. O diretor da Termoverde Caieiras explica que, atualmente, existe tecnologia importada para fazer, por exemplo, a compostagem – processo de decomposição da matéria orgânica por meio da digestão aeróbia – mas que ela é ainda muito cara. “O Grupo Solví tem 30 aterros, e somente três deles possuem térmicas. Nosso sonho é que os 30 aterros contassem com térmicas, mas isso não é viável economicamente”, enfatiza. Dessa forma, os incentivos governamentais se tornam fundamentais. TÓPICO 3 — MALHA DO ATERRAMENTO 169 FONTE: O SETOR ELÉTRICO. Biogás de aterro é alternativa para gerar energia elétrica nas cidades. 2016. Disponível em: https://www.osetoreletrico.com.br/biogas-de-aterro-e-alternativa-para-gerar- energia-eletrica-nas-cidades/. Acesso em: 9 abr. 2021. 170 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Alguns critérios devem ser seguidos para um sistema de aterramento efetivo. • O aterramento é beneficiado pelo fato de a terra ser um grande depósito de energia. • Em sistemas elétricos, a mudança para p.u. requer a definição de duas grandezas como bases. • É possível encontrar o aterramento temporário, realizado em situações de trabalho/manutenção em determinado equipamento ou área, tornando possível a realização de trabalho seguro. • Toda edificação deve possuir uma estrutura de aterramento, eletrodo de aterramento. • Os sistemas de aterramento são classificados de acordo com um código de letras, de acordo com a NBR-5410. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 171 1 Em uma instalação elétrica, a alimentação principal tem condutores de 120mm². Para a proteção dessa instalação, qual seria a seção do condutor de proteção, de acordo com a NBR-5410? a) ( ) 16mm². b) ( ) 50mm². c) ( ) 60mm². d) ( ) 70mm². e) ( ) 120mm². 2 De acordo com a conexão, existente ou não, entre os condutores neutro e de proteção, os esquemas de aterramento recebem nomenclaturas distintas. Dentre as nomenclaturas utilizadas para diferenciar os esquemas de aterramento, uma sequência de três letras identifica as características de tais esquemas. Nessa sequência, a representação do esquema de ligação entre o neutro e a proteção está representada: a) ( ) Pela primeira letra da sequência. b) ( ) Pela combinação da primeira e segunda letras da sequência. c) ( ) Pela segunda letra da sequência. d) ( ) Pela combinação da segunda e terceira letras da sequência. e) ( ) Pela terceira letra da sequência. 3 Sabendo-se que os esquemas de aterramento têm uma combinação de letras que informa as características gerais do esquema, segundo a NBR-5410, qual é o significado da conexão entre o neutro e a proteção no esquema de aterramento descrito por TN-C-S? a) ( ) Neutro e proteção são condutores distintos em toda a instalação. b) ( ) Neutro e proteção são condutores combinados em toda a instalação. c) ( ) Neutro e proteção são condutores combinados em parte da instalação. d) ( ) A proteção substitui o condutor neutro, não havendo a necessidade desse. e) ( ) O neutro substitui o condutor de proteção, não havendo a necessidade desse. 4 Equipotencializar é igualar o potencial elétrico em pontos da instalação, a fim de diminuir a ocorrência de correntes que possam ocasionar choques elétricos em pessoas e em animais domésticos. A correta equipotencialização de uma edificação prevê: AUTOATIVIDADE 172 a) ( ) Que as paredes da unidade consumidora estejam conectadas ao barramento de equipotencialização principal. b) ( ) Que todos os condutos, metálicos ou não, estejam conectados ao barramento de equipotencialização principal. c) ( ) Que todos os condutos de sinais que entram ou saem da edificação estejam conectados ao barramento de equipotencialização principal. d) ( ) Que todos os elementos metálicos presentes na edificação, estranhos à alimentação elétrica, estejam conectados ao barramento de equipotencialização principal. e) ( ) Que todos os elementos metálicos presentes na edificação, inclusive, os de alimentação elétrica, estejam conectados ao barramento de equipotencialização principal. 5 Os materiais utilizados nos eletrodos de aterramento devem garantir, além das dimensões mínimas previstas em norma, resistência mecânica, de corrosão, térmica e elétrica. Além de garantir a equipotencialização, devem manter as características de fabricação, a fim de manter resistência elétrica bem pequena. Dentre as opções a seguir, marque aquela que contém os materiais adequados à utilização para eletrodos de aterramento: a) ( ) Aço, alumínio e cobre. b) ( ) Aço e alumínio. c) ( ) Aço e cobre. d) ( ) Alumínio e cobre. e) ( ) Aço e outras ligas. 173 REFERÊNCIAS ABB. ABB opens era of power superhighways. 2006. Disponível em: http://www. abb.com/cawp/seitp202/40b621aafd3db79cc1257225002fcd3d.aspx. Acesso em: 24 jan. 2020. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Procedimentos de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional (PRODIST). Brasília: ANEEL, 2017. Disponível em: https://cutt.ly/7vG0O5P. Acesso em: 18 fev. 2020. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Micro e minigeração distribuída: sistema de compensação de energia elétrica. 2. ed. Brasília: ANEEL, 2016. Disponível em: https://cutt.ly/nvG0Gzs. Acesso em: 18 fev. 2020. 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