Buscar

Resenha Critica Um Discurso Sobre A Ciencia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

Santos, Boaventura de Sousa, Um discurso sobre as ciências / Boaventura de Sousa Santos. - 5. ed. - São Paulo: Cortez, 2008. 92 páginas.
Boaventura de Sousa Santos nasceu em Coimbra, Portugal. É doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973) e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Tem escrito e publicado extensivamente nas áreas de sociologia do direito, sociologia política, epistemologia, estudos pós-coloniais, e sobre os temas dos movimentos sociais, globalização, democracia participativa, reforma do Estado, direitos humanos, com trabalho de campo realizado em Portugal, Brasil, Colômbia, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Bolívia e Equador.
A obra, Um discurso sobre as ciências, é uma versão ampliada da Oração de Sapiência proferida na abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra, no ano letivo de 1985/86. Refere-se a um fragmento da história da ciência, partindo do século XVI quando nasceu a ciência moderna, constituída a partir da revolução científica pelas “mãos” de Copérnico, Galileu e Newton, até o momento em que ocorre a transição para ciência pós-moderna no final do século XX.
A obra é ser dividida em três pontos principais: o paradigma dominante, a crise do paradigma dominante, e o paradigma emergente.
Ao dissertar sobre paradigma dominante, o autor apresenta um modelo de racionalidade apontado no século XVI e que se consolidou no século XIX. Esse modelo era tido como totalitário, uma vez que não considerava válido qualquer outro processo metodológico que desse importância a estudos humanísticos. Definindo, portanto, que existia apenas uma forma de se obter o conhecimento verdadeiro. Para chegar a esse conhecimento, era aplicada a lógica e a matemática que forneciam instrumentos de análise mais rigorosos. Dessa forma, foram descobertas as leis da natureza, e, mediante dessas, passou-se a ideia de atribuir um valor quantitativo ao uso do conhecimento científico. “[...] Tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade.” (p. 32). Com precursores como Bacon: que afirma ser possível chegar ao aperfeiçoamento da natureza humana com condições precisas; Vico: sugerindo a existência de leis que facilitam a previsibilidade dos resultados das ações coletivas; e Montesquieu: que estabelece uma relação entre as leis do sistema jurídico e as leis da natureza.
Fundamentado nisso, autor aborda o segundo ponto: a crise do paradigma dominante; que surgiu pelo desentendimento de condições teóricas e sociais. Boaventura destaca quatro condições teóricas que serviram de catalisador para essa crise, como: a teoria da relatividade de Einstein, em que o físico aponta a simultaneidade dos acontecimentos onde há a impossibilidade de verificação, possibilidade apenas de definição, relativizando o rigor das leis de Newton. “[...] Não havendo simultaneidade universal, o tempo e o espaço absolutos de Newton deixam de existir.” (p. 43). O "Princípio da Incerteza" de Heisenberg, que afirma que a posição exata de um elétron dentro do núcleo atômico em um dado momento não poderia ser determinada com certeza, mas apenas ser calculada estatisticamente dentro de uma certa probabilidade; como segunda condição teórica da crise do paradigma dominante, a mecânica quântica. “[...] Se Einstein relativizou o rigor das leis de Newton no domínio da astrofísica, a mecânica quântica fê-lo no domínio da microfísica.” (p. 43). A terceira condição da crise do paradigma o autor aponta as investigações de Gödel que vieram para demonstrar que o rigor da matemática necessita de algo para se fundamentar, contrapondo, mais uma vez, as leis da natureza que fundamentam o seu rigor nas aplicações matemáticas. A partir desse ponto é possível observar que há um questionamento nas condições de êxito na ciência moderna, uma vez que não podem mais continuar a serem consideradas como naturais e óbvias. A quarta e última condição é constituída pelos avanços do conhecimento da química e da biologia, representada principalmente na teoria de Prigogine, refere-se ao rompimento do modelo newtoniano, que partir da segunda metade do século XX, houve um desenvolvimento convergente entre às ciências sociais e naturais.
Por fim, o autor propõe o terceiro ponto de destaque da obra: o paradigma emergente; que seria um novo modelo estruturado no que se refere a um paradigma científico e um paradigma social, questionando o modelo hegemônico e totalitário de que apenas os meios naturais são absolutos. “[...] paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente.” (p. 60).
Para compreendermos com mais clareza, Boaventura utiliza quatro tópicos: 1. Todo o conhecimento científico-natural é científico-social; 2. Todo o conhecimento é local e total; 3. Todo o conhecimento é autoconhecimento; 4. Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum.
O primeiro tópico está relacionado ao fato de que o autor aponta uma quebra na barreira entre os conhecimentos científico-natural e científico-social conseguindo equilibrar uma relação sobre elas, excluindo desta maneira o modelo totalitário e absoluto proposto no nas ciências naturais. Este modelo é fortificado devido as teorias na época (século XIX), como por exemplo o positivismo de Comte e Darwin e a criminologia de Lombroso. Apesar de tudo, as ciências naturais ainda se mantém devido a busca do ser humano por um conhecimento perfeito em todos os campos de estudo.
Já sobre o segundo tópico desse novo paradigma considera-se que para conseguirmos achar um conhecimento mais amplo e abrangente é necessário que os estudos sejam feitos pelas diversas áreas científicas hoje existentes. Portanto, a interdisciplinaridade, assim como a transdisciplinaridade entre os campos de estudo, mostra-se cada dia mais essencial para que cada ciência rompa os limites da outra. 
A respeito do terceiro tópico, Boaventura traz o modelo de estudo usado na antropologia em que a distância entre o sujeito e o objeto era desproporcional, mas por questões um tanto obvias; e deixa claro que esse modelo não fará mais sentido no paradigma emergente, sugerindo que não haja mais essa separação, pois é necessário um conhecimento compreensivo e íntimo que estabeleça uma relação entre eles, a fim de uma união pessoal ao que está sendo estudado.
E, por fim, no último tópico o autor justifica que a ciência é montada através do senso comum, pois a ciência pós-moderna procura preservar o valor do próprio, uma vez que através do senso comum todos os conhecimentos poderiam se ligar.
Portanto, a obra tem como contribuição a de proporcionar uma mudança aos produtores de pesquisas cientificas utilizando o paradigma emergente. A obra mostra que a ciência ganhou força, mas perdeu o controle durante a industrialização da ciência. Com base em conhecimentos sociológicos, o autor consegue apresentar as circunstancias e carências da ciência deixando claro ao leitor, como também um novo olhar a ciência. É uma leitura é objetiva. No entanto, exige conhecimento prévio para ter proveito, além de pesquisar conceitos e contextos apresentado na obra por ser termos científicos, o autor impulsiona a reflexão crítica ao leitor, direcionando ao diálogo estudantes universitários, cientistas e profissionais da área.
Ramon Afonso dos Santos Nascimento, acadêmico do Curso de Educação Física pela Universidade Federal do Piauí.

Continue navegando