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FUNDAMENTOS DA ENGENHARIA AMBIENTAL Agnes Reis Revisão técnica: Vanessa de Souza Machado Graduada em Ciências Biológicas Mestre e Doutora em Ciências Henrique Martins Rocha Graduado em Engenharia Mecânica Mestre em Sistemas de Gestão Doutor em Engenharia Mecânica Pós-doutor em Projetos e Desenvolvimento de Novos Produtos Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB-10/2147 F979 Fundamentos de engenharia ambiental / Raquel Finkler... [et al.] ; [revisão técnica: Vanessa de Souza Machado, Henrique Martins Rocha]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 170 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-462-5 Engenharia ambiental. I. Finkler, Raquel. CDU 630*38 C00a_Iniciais_Impresso.indd 2 26/06/2018 18:48:28 Agentes sociais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conceituar agentes ambientais no contexto de engenharia ambiental. � Relacionar a percepção ambiental com a gestão ambiental. � Identificar a ação dos diferentes agentes sociais na condução de um processo de avaliação ambiental. Introdução Independentemente do ramo de atividade laboral, os colaboradores podem estar expostos a uma série de riscos ambientais, chamados de agentes ambientais. Esses elementos devem ser considerados quanto à sua natureza, intensidade, concentração e ao tempo de exposição ao trabalhador, para que se assegurem as condições ideais para o desen- volvimento das atividades. Neste capítulo, você estudará o conceito de agentes ambientais na engenharia ambiental, a percepção aplicada à gestão ambiental e os distintos agentes sociais envolvidos nos estudos ambientais. Esses conteúdos incorporam conhecimentos práticos para a atuação do pro- fissional do meio ambiente na prática da gestão ambiental de projetos e organizações. Agentes ambientais no contexto da engenharia ambiental Inicialmente, para tratar deste assunto, é preciso entender de forma mais ampla o conceito de higiene ocupacional, a qual visa diretamente à prevenção da doença ocupacional por meio da antecipação, do reconhecimento, da avaliação e do controle dos agentes ambientais. Segundo a American Industrial Hygiene Association (AIHA), a definição de higiene ocupacional é: Ciência e arte devotada ao reconhecimento, à avaliação e ao controle dos fatores e estressores ambientais, presentes no local de trabalho ou oriundos deste, os quais podem causar doença, degradação da saúde ou bem-estar, ou desconforto significativo e ineficiência entre os trabalhadores ou cidadãos de uma comunidade (AMERICAN..., 1998 apud SESI, 2007, p. 24). A definição não descreve de forma adequada a disciplina e, por isso, é importante adicionar a palavra “antecipação”, e a preocupação deve se estender à família do trabalhador. Já a definição do American Board of Industrial Hygiene é semelhante à anterior: Ciência e prática devotada à antecipação, ao reconhecimento, à avaliação e ao controle dos fatores e estressores ambientais presentes no local de trabalho ou oriundo deste que podem causar doença, degradação da saúde ou bem-estar, ou desconforto significativo entre trabalhadores e podem ainda impactar a comunidade em geral (AMERICAN... apud SESI, 2007, p. 24). Em amplo senso, a atuação da higiene ocupacional prevê uma intervenção deliberada no ambiente de trabalho para prevenir doenças e é complementada pela ação da medicina ocupacional, cujo foco está predominantemente no indivíduo. Os agentes ambientais que ela tradicionalmente considera são os físicos, químicos e biológicos. Na legislação brasileira, a disciplina de higiene ocupacional se expressa por meio do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), o qual tem como finalidade antecipar, reconhecer, avaliar e, consequentemente, controlar as ocorrências de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, no qual os agentes físicos, químicos e biológicos, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e seu tempo de exposição, sejam capazes de causar danos à saúde dos trabalhadores. Observe que há uma significativa diferença entre agentes e riscos ambientais, como é enfatizado na Norma Regulamentadora (NR) nº 09, no item 9.1.5, que distingue os conceitos para que não se faça o seu uso de forma arbitrária. Desse modo, você pode entender que um agente somente se torna um risco quando ele se encontra em uma concentração de intensidade e com tempo de exposição capazes de causar danos ao trabalhador (BRASIL, 2018). Agentes sociais2 Contudo, para conhecer a intolerabilidade de exposição, devem existir valores de referência, como os limites da exposição legal e sua tolerância. O objetivo da atuação em higiene ocupacional, uma vez que nem sempre se pode eliminar os riscos dos ambientes de trabalho, é reduzir a exposição média de longo prazo (parâmetro recomendado de comparação) de todos os trabalhadores aos agentes ambientais, a valores tão baixos quanto razoavelmente exequível dentro dos critérios de tolerabilidade. Nesse sentido, deve-se trabalhar com equipes de projeto, modificações ou ampliações (ou analisar em momentos adequados o resultado desse trabalho), visando à detecção precoce de fatores de risco ligados aos agentes ambientais e adotando opções que favoreçam sua eliminação ou seu controle. É preciso investir em uma polícia de fronteira na empresa, rastrear e analisar todo novo produto químico que será utilizado e as amostras de vendedores, bem como ditar normas preventivas para compradores, projetistas, contratadores de serviços etc., a fim de evitar exposições inadvertidas. As técnicas de avaliação de agentes ambientais existem em razão da má seleção de produtos, materiais e equipamentos. Seu foco é conhecer pre- viamente os agentes do local de trabalho e reconhecer os riscos envolvidos em processos, materiais, operações associadas, manutenção, subprodutos, rejeitos, produto final e insumos, bem como estudar o processo, as ativi- dades e as operações associadas, não apenas com os dados existentes na empresa (inquirindo os técnicos, projetistas, operadores etc.), mas também com a literatura ocupacional específica a respeito deles. Os técnicos dos processos podem desconhecer os riscos ambientais e omitir detalhes ligados a um risco que não julgam importantes para o higienista, por exemplo, o técnico da máquina empacotadora de leite longa vida pode dar uma explicação detalhada do seu funcionamento e omitir que a caixa é selada por radiofrequência. Após a diagnose no ambiente de trabalho, é preciso avaliar, de forma simples, emitindo um juízo de tolerabilidade sobre a exposição a um agente ambiental. Atualmente, a avaliação está inserida dentro de um processo cha- mado de estratégia de amostragem, que é, evidentemente, muito mais que avaliar no sentido instrumental. Por exemplo, o agente ruído somente se torna agressivo à saúde quando está acima de 85 dB a oito horas de exposição no trabalho por dia. A partir disso, esse agente passa a ser um risco ambiental ao organismo do profissional, sendo necessário um controle por meio do PPRA, assim como do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que controla e monitora a saúde dos operadores e colaboradores expostos às atividades em que incidem riscos ambientais. 3Agentes sociais No caso dos agentes ambientais inerentes ao contexto da engenharia ambiental, por se tratar de uma área de gestão ambiental, em que há muito trabalho em “chão de fábrica” (atividades potencialmente ligadas à indústria onde os profissionais atuam), há também uma interação importante, pois os agentes já citados podem extrapolar o âmbito ocupacional, no qual existem trabalhadores expostos, tornando-se um problema de meio ambiente e da comunidade, por exemplo, ruídos, contaminantes presentes em resíduos, emissões, entre outros. Em geral, a engenharia é entendida como a ciência, a técnica ou a arte de projetar e construir coisas, que podem ser edificações, máquinas ouartefatos, e de propor soluções para os diversos problemas do cotidiano. Espera-se que o engenheiro seja um profissional criterioso, criativo e inventivo, bem como reúna muitas competências e habilidades que o tornem capaz de compreender, interpretar e interferir nos fenômenos a sua volta. Por isso, é fundamental ter conhecimento não apenas das atividades que exercerá, mas também das circunstâncias que incidem nas ações cotidianas, inerentes à profissão esco- lhida, pois deve manter a integridade física a fim de perpetuar-se de forma saudável no trabalho, evoluir e se desenvolver plenamente ativo na área ou no seguimento de atuação. Na Figura 1, você pode ver algumas ferramentas de segurança e saúde do trabalho e equipamentos de proteção individual (EPI). Figura 1. Ferramentas de segurança e saúde do trabalho e equipamentos de proteção individual. Tudo que envolve a questão da higiene ocupacional, bem como os agentes e riscos ambientais inerentes. Fonte: Kzenon; sirastock/Shutterstock.com. Agentes sociais4 NR nº 09 Essa NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação do PPRA, por parte de todos os empregadores e instituições, visando à preservação da saúde e integridade dos trabalhadores por meio de antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no local de trabalho, considerando, ainda, a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. O PPRA é parte integrante do conjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da preservação da saúde e integridade dos trabalhadores e está articulado com o disposto nas NR, sobretudo o PCMSO previsto na NR nº 07. As suas ações devem ser desenvolvidas no âmbito de cada estabelecimento da empresa, sob a responsabilidade do empregador e com a participação dos trabalhadores, sendo sua abrangência e profundidade dependentes das características dos riscos e das necessidades de controle. Agentes sociais, conceito de percepção ambiental com a gestão ambiental A descrição e a mensuração do comportamento humano, subordinada às ati- vidades intrínsecas (sentir, perceber, pensar, etc.), caracteriza o vínculo entre a psicologia e as outras áreas de estudo (MISIAK, 1964 apud RODRIGUES et al., 2012, p. 99), assim, por meio de uma percepção interdisciplinar dos fatos, o ser humano contemporâneo visualiza sua realidade. Durkheim (2009), por exemplo, interpreta a percepção como um modo de representação social. Já em meados de 1960, as análises da percepção come- çaram a ser discutidas na área do meio ambiente. Com esse enfoque, Holtzer (1993) aponta os principais autores humanistas e suas abordagens teóricas sobre percepção ambiental: Kevin Lynch, de cunho antiurbanista, estudou a percepção com ênfase no indivíduo e sua imagem ambiental como fator de equilíbrio da relação entre o ser humano e o meio ambiente, excluindo as raízes sociais e históricas; e Hugh Prince, autor da corrente epistemológica da percepção ambiental, tinha na literatura, na arte e na ciência suas formas de 5Agentes sociais abordagem e percebia a dificuldade da geografia em relacionar a subjetividade da arte e da descrição com a objetividade da explicação. A evolução dos estudos em percepção ambiental ampliou as suas iniciativas de aplicação, e um exemplo disso foi a criação do Projeto 13, “Percepção de Qualidade Ambiental”, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1973, o qual destacou a importância da pesquisa desse conceito para o planejamento do meio ambiente. As várias percep- ções dos valores, mencionados anteriormente, apresentam-se como dificuldades para a proteção dos ambientes naturais, pois os indivíduos de diferentes culturas ou posições socioeconômicas desempenham funções distintas no plano social nesses ambientes (FERNANDES et al., 2004 apud RODRIGUES et al., 2012). A percepção ambiental estimula a conscientização do sujeito em relação ao seu entorno. Cada ser humano tem a capacidade de perceber, reagir e responder de forma diferente tanto às relações interpessoais quanto ao que ocorre no seu meio (ambiente) (RODRIGUES et al., 2012). Dessa forma, observa-se que dentro de um mesmo grupo social, existem diferentes expressões de atitudes e pensamento, pois os valores manifestados são resultado de percepção distintas, como cultura, história, religião, classe social, etc., que influenciam diretamente no processo (RODRIGUES et al., 2012). Portanto, o reconhecimento dessas diferenças torna-se muito relevante para fornecer subsídios ao processo de gestão e formulação de melhores políticas públicas. Considerando o caráter difuso e coletivo das questões ambientais, a par- ticipação popular é um dos instrumentos intrínsecos à execução da gestão ambiental. Nesse contexto, a percepção da população se torna um importante aliado para o poder público quanto à leitura da realidade social, configurando-se como um meio de apoio aos instrumentos e às ferramentas do sistema de gestão. Compreender a percepção da sociedade sobre os problemas e as ações governamentais no processo de gestão pode aproximar o gestor do que a população entende por sua realidade local, ou indicar as lacunas existentes no modelo de gestão ambiental. As discussões mundiais sobre o meio ambiente foram precursoras da inserção das questões ambientais nas políticas públicas no Brasil, desse modo, a criação e o posterior aprimoramento do aparato legal-institucional que viabilizou a política ambiental nacional resultaram em um sistema com características descentralizadas, o qual responsabiliza União, Estados e Municípios pela gestão ambiental. Nesse contexto de descentralização política para a gestão do território, o poder público local deve planejar suas ações, as quais atendem aos seguintes requisitos: estar alinhadas à União e ao Estado; respeitar os princípios do desenvolvimento sustentável; incorporar a sociedade nas tomadas de decisão Agentes sociais6 para uma gestão municipal compartilhada do meio ambiente, que é entendido conforme a definição de Coimbra (1985 apud RODRIGUES et al., 2012, p. 97): Meio Ambiente é o conjunto dos elementos físico-químicos, ecossistemas naturais e sociais em que se insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades huma- nas, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro de padrões de qualidade definidos. Portanto, o uso dos instrumentos de gestão ambiental depende do desempenho das organizações que atuam no processo, decorrente da forma como estão estru- turadas. Seu diagnóstico, por sua vez, sugere a necessidade de reestruturações para que se encontre as alternativas mais apropriadas a cada situação. Visando dar suporte a esse contexto, surgem os agentes sociais, os quais são peças fundamentais de projetos e propostas formuladas com essa finalidade, assim, entende-se que os conhecimentos teóricos que fundamentam a leitura dos cenários da gestão ambiental têm como principal característica, entre os procedimentos administrativos/gerenciais usados, dar suporte aos projetos no segmento de gestão ambiental. Já no âmbito dos modelos de gestão, diversos motivos têm levado os estu- diosos da administração a buscarem estratégias mais atuais e flexíveis para a estruturação das organizações, a fim de fazê-las cumprir a missão para a qual foram criadas. Entre esses motivos, estão: � a certeza de que a mudança é um processo acelerado que envolve toda a sociedade; � a existência de uma grande massa de conhecimento e tecnologia dis- poníveis, nem sempre aproveitados ou utilizados para garantir uma melhor qualidade de vida; � a constatação da forma de ser e de trabalhar das pessoas; � a percepção de que todos os elementos do sistema organizacional intera- gem entre si e estão conectados uns aos outros por uma rede de relações; � o reconhecimentode que o cliente ou usuário de um produto ou serviço ganhou importância nas organizações, fazendo-as definir seus proce- dimentos internos em função das expectativas e necessidades de seus clientes. Os modelos teóricos que orientam a estruturação do trabalho na oferta de serviços e produção de bens recebem, nesse contexto, um significado mais amplo, pois permitem explicar a diferença entre o que funciona bem e o que não funciona nas empresas. 7Agentes sociais Estratégias de gestão Entre as estratégias que mais contribuem para a eficiência dos procedimentos e a efetividade dos resultados obtidos com os instrumentos de gestão, devem ser mencionadas: estruturação interna; processo decisório ágil; previsão de recursos financeiros; racionalização de recursos materiais; distribuição e uso adequado do espaço físico; renovação do desempenho e desenvolvimento de recursos humanos, em número suficiente e com perfil adequado às necessidades da organização; gerenciamento de conflitos; desenvolvimento da competência gerencial; informatização; planejamento estratégico; gestão participativa; gestão pela qualidade total etc. O interesse em alternativas para a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) faz ressaltar a importância das estratégias usadas na gestão pública, razão pela qual são descritas, a seguir, do ponto de vista dos modelos sistêmico e sistêmico contingencial, aquelas de maior relevância para o processo. Portanto, você pode concluir que a educação ambiental, um importante instrumento de gestão ambiental, deve ser moldada para a realidade local, provendo conhecimento à comunidade sobre essa questão com um enfoque global; e utilizar a percepção dos cidadãos (agentes sociais) e dos demais envolvidos no processo estrutural como ferramenta para referenciar as debilidades apresentadas pelos programas de educação ambiental implan- tados, bem como permitir o acompanhamento dos ajustes realizados pelo poder público. Participação pública no processo de AIA Sob as afirmações de deixar o processo de AIA mais ágil e menos burocrático, alguns países têm adotado medidas opostas à democratização da gestão ambiental, reduzindo o envolvimento do público e adotando mudanças controversas, como eliminar a participação da população dos processos de avaliação de classes especiais de projetos. A importância atribuída à participação do público, na prática, ecoa na literatura científica não apenas como um princípio em si, mas também parece haver um consenso generalizado de que ela é fundamental para uma avaliação ambiental efetiva. Existem diferentes tipos de conceito de participação, principalmente no sentido de manifestação do indivíduo e de quais as oportunidades ou os espaços abertos a ela no campo da AIA. O público é um importante agente social nessas discussões e possui direito de opinião. Se você também tem interesse, participe no seu município! Agentes sociais8 Ação dos diferentes agentes sociais na condução de um processo de avaliação ambiental Os agentes sociais são os colaboradores envolvidos na condução de um processo participativo, seja ele de AIA, empreendedor, órgãos ambientais licenciadores, grupos sociais afetados, entre outros. Para a melhor eficácia e efetividade da gestão ambiental, deve-se ter agentes sociais envolvidos em todo o processo. Assim, cada fase da AIA corresponde a um capítulo, em que se caracteriza os agentes sociais envolvidos, os procedimen- tos e as ferramentas, atuais e alternativos, bem como as sugestões de mudança na legislação para viabilização das possibilidades propostas. Essa rede de relações entre o órgão de meio ambiente e os demais agentes sociais (empreendedor, equipe multidisciplinar, grupos de apoio técnico, sociedade afetada etc.) é muito importante nas diferentes fases do processo de AIA, e, quanto maior for a siner- gia entre os diferentes agentes, mais fácil será a mediação e o consenso entre os envolvidos, para benefício não apenas do desenvolvimento industrial, mas também, principalmente, do meio ambiente, buscando um equilíbrio sustentável. Tanto na estruturação administrativa do órgão de meio ambiente como na sua relação com os outros agentes sociais, direta ou indiretamente envolvidos no processo de AIA, a ampliação dos espaços participativos constitui o eixo central das propostas alternativas de condução do licenciamento ambiental. Essa participação pública é o pressuposto teórico que deve permear qualquer método de condução do processo de AIA. Sua operacionalização implica a adoção de mecanismos diferenciados para cada etapa, os quais devem combinar, devido aos agentes sociais intervenientes em cada fase e às soluções almejadas por eles. Os princípios básicos que orientam as possibilidades de ampliação dos espaços participativos em processos de AIA estão fundamentados na lógica da negociação. A prática participativa implica em administrar os conflitos oriundos das divergências de interesse entre os agentes sociais envolvidos na AIA. Já a Audiência Pública, de caráter não obrigatório, é o único mecanismo de participação social previsto na legislação ambiental brasileira para esse processo (ver Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente [CONAMA] nº 001/1986) e deve ser realizada após o recebimento do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)/Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) pelo órgão de meio ambiente, se julgar pertinente ou for requerida por uma entidade civil, pelo Ministério Público ou por 50 ou mais cidadãos. Esse processo deve culminar com o estabelecimento de soluções comparti- lhadas por todos os agentes sociais envolvidos e com a corresponsabilização no acompanhamento e monitoramento dos impactos advindos dos empreendimentos. 9Agentes sociais Diferentes participações dos agentes sociais no processo de Avaliação de Impacto Ambiental Órgãos de fiscalização ambiental competentes Os órgãos de fiscalização, na condição de licenciadores, têm o papel de pro- mover a articulação entre os diversos agentes sociais envolvidos na AIA, sendo sua a maior parcela de responsabilidade no alcance da efetividade da participação social ao longo de todo o processo. Esse papel exige a capacidade de administrar conflitos de interesse, asses- sorando o empreendedor na escolha da equipe multidisciplinar responsável pela elaboração do EIA/RIMA ou outro documento técnico semelhante, mediante, por exemplo, o fornecimento de critérios de escolha e acesso ao Cadastro Técnico Federal e/ou Estadual de Atividade e Instrumentos de Defesa Ambiental (pessoa física e jurídica). Auxilia, ainda, na criação, sobretudo em casos de empreendimentos complexos ou controversos, grupos de trabalho e/ ou comitê de assessoramento técnico-científico; além de propor a criação ou o fortalecimento de Conselhos Estaduais de Meio Ambiente (CONSEMA) e/ou Conselhos Municipais de Meio Ambiente (CODEMAS), os quais constituem instâncias regulamentadoras do licenciamento ambiental e podem servir de fórum de discussão de processos controversos, por meio de suas Câmaras Técnicas, entre outras atividades. Empreendedor Trata-se do agente interventor sobre o meio, que possui a responsabilidade social de compatibilizar os interesses de sua atividade com as características naturais e socioeconômicas do meio ambiente. Ele tem a particularidade de estabelecer uma relação de parceria com o órgão de meio ambiente, em que os antagonismos sejam tratados com o objetivo de alcançarem soluções compartilhadas. Para isso, cabe ao empreendedor fornecer informações que possibilitem a identificação dos efeitos ambientais potenciais do empreendimento proposto. Essa relação deve permanecer ao longo de toda a vida útil do empreendimento, sobretudo na implementação dos compromissos negociados, como os programas de acompanhamento e monitoramento de impactos e a Auditoria Ambiental. O empreendedor também aloca recursos financeiros e materiais neces- sários para conferir qualidade ao estudo ambiental (EIA/RIMA, Plano de ControleAmbiental [PCA], Relatório de Controle Ambiental [RCA], Plano Agentes sociais10 de Recuperação de Área Degradada [PRAD] etc.) e implementar as medidas mitigadoras, os programas de acompanhamento e monitoramento de impactos e as Auditorias Ambientais periódicas. Equipe multidisciplinar Fornece as bases técnico-científicas para o estabelecimento de compromissos políticos e institucionais quanto às conclusões do EIA/RIMA ou outro docu- mento técnico semelhante, pelo qual é tecnicamente responsável, mantendo sempre a independência em relação ao proponente do projeto, conforme es- tabelecido na Resolução CONAMA nº 001/1986. Para maior efetividade de seu papel, a equipe precisa estabelecer uma relação de parceria permanente com o órgão de meio ambiente e os grupos criados para orientar e assessorar os processos de AIA. Essa interação, realizada nos foros instituídos pelo órgão com esse fim, deve resultar em revisões que permitam o aprimoramento dos estudos. A equipe multidisciplinar (geralmente uma empresa de consultoria ambien- tal) deve conferir total transparência às informações trabalhadas, colocando-se sempre disponível ou tomando a iniciativa de discutir com outros agentes envolvidos no processo de elaboração do EIA/RIMA ou de um documento técnico semelhante: � a base conceitual do método adotado no EIA; � as análises e conclusões do estudo ambiental; � as possibilidades reais de operacionalização dos programas propostos para o acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais do em- preendimento, com o efetivo envolvimento dos agentes sociais previstos. Órgãos de administração pública Trata-se de interessados institucionais no licenciamento do empreendimento, fornecendo informações de sua área de atuação ao órgão de meio ambiente e à equipe multidisciplinar, visando principalmente compatibilizar o projeto proposto com os planos setoriais existentes. Eles possuem também o papel de participar dos grupos de orientação e assessoramento coordenados pelo órgão de meio ambiente, desde o momento inicial do processo de AIA, sempre com a preocupação de internalizar as discussões e estabelecer relações de parceria com esse órgão e o empreendedor, na implementação das ações de mitigação e controle de impactos, bem como na implantação da infraestrutura prevista no projeto. 11Agentes sociais Em geral, todos os agentes sociais são fundamentais no processo de AIA e buscam o fortalecimento de seu papel condutor por meio da melhoria de sua capacidade gerencial; da definição de normas e procedimentos de licencia- mento ambiental; e da imprescindível articulação com outros agentes sociais que participam desse processo. Termo de referência Ele tem o objetivo de orientar a equipe multidisciplinar na elaboração do estudo ambiental, como EIA/RIMA, PCA, RCA, PRAD etc. Devido à sua importância, é aconse- lhável que seja elaborado pelo empreendedor, em estreita articulação com o órgão de meio ambiente, e conte, ainda, com a participação de outros órgãos da administração pública, da comunidade científica e de grupos sociais atingidos pelo empreendimento. 1. O conceito de agentes ambientais está associado aos riscos ambientais. Trata-se de conceitos são muito próximos, mas distinguem-se, pois: a) um risco somente se torna um agente quando se encontra em uma concentração de intensidade e com tempo de exposição capazes de causar danos à saúde do trabalhador. b) um agente somente se torna um risco quando se encontra em uma concentração de intensidade e com tempo de exposição incapazes de causar danos à saúde do trabalhador. c) um agente se torna um risco ambiental quando se encontra em uma concentração de intensidade e com tempo de exposição capazes de causar danos à saúde do trabalhador. d) um agente se torna um risco quando possui concentração de intensidade e tempo de exposição capazes de causar impactos ambientais. e) um risco corresponde ao agente potencialmente capaz de causar danos à saúde do trabalhador. 2. A percepção ambiental é uma ferramenta da gestão ambiental, que permite avaliar ________________________ e visa _______________________. Marque a alternativa que preenche corretamente a sentença. a) Como os indivíduos percebem o ambiente / sensibilização da preservação ambiental. Agentes sociais12 b) Como os indivíduos percebem o ambiente urbano / sensibilização quanto às questões sociais. c) Como os indivíduos percebem o planeta / sensibilização quanto às questões econômicas. d) Como os indivíduos percebem o ambiente rural / sensibilização quanto às questões ambientais. e) Como os indivíduos percebem o meio ambiente / sensibilização quanto às questões econômicas e sociais. 3. Os estudos ambientais, como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA)/Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), envolvem distintos agentes sociais e possuem papel fundamental na tomada de decisão. Marque a alternativa correta acerca dos agentes sociais. a) As organizações não governamentais (ONGs) são instituições do primeiro setor interessadas no desenvolvimento da região. b) As comunidades técnica e científica da região, de universidades e centros tecnológicos são o grupo responsável pelos estudos ambientais. c) Os órgãos ambientais licenciadores promovem a articulação entre os diversos agentes sociais. d) A equipe técnica corresponde aos agentes modificadores do meio ambiente. e) Os grupos sociais afetados promovem a articulação entre os diversos agentes sociais. 4. Para o sucesso dos projetos ambientais, é essencial compor uma equipe multidisciplinar. Essa equipe: I. é formada por geólogos. II. geralmente está associada a uma empresa de consultoria ambiental. III. é a responsável técnica pelo projeto ambiental. IV. está estabelecida na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 303/02. Entre as sentenças, quais são verdadeiras? a) Apenas a I. b) Apenas a I e II. c) Apenas a II. d) Apenas a II e III. e) Apenas a III e IV. 5. A implantação de empreendimentos que causem impactos no meio ambiente está sujeita à Avaliação do Impacto Ambiental (AIA), o que envolve distintos agentes durante o processo de licenciamento. Já a Audiência Pública é o único mecanismo de participação social previsto na legislação ambiental brasileira para esse processo. Quanto a esse assunto, marque a alternativa correta. a) A Audiência Pública é sempre obrigatória. b) A Audiência Pública precede o EIA/RIMA. c) A Audiência Pública é realizada quando o empreendedor julgar necessário. d) A Audiência Pública precede o EIA/RIMA e é indicada pela equipe técnica. e) A Audiência Pública é realizada quando 50 ou mais cidadãos requerem-na. 13Agentes sociais BRASIL. NR 9 - Programa de prevenção de riscos ambientais (109.000-3). São Paulo Coor- denadoria de Gestão Normativa e Jurisprudencial, 2018. Disponível em: <http://www. trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/NRs/NR_9.html>. Acesso em: 08 jun. 2018. CONAMA. Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Brasília, DF, 1986. Dispo- nível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 08 jun. 2018. DURKHEIM, É. Sociologia e filosofia. São Paulo: Martin Claret, 2009. HOLTZER, W. A geografia humanista anglosaxônica: de suas origens aos anos 90. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 55, n. 1-4, p. 109-145, 1993. RODRIGUES, M. L. et al. A percepção ambiental como instrumento de apoio na gestão e na formulação de políticas públicas ambientais. Saúde e Sociedade, São Paulo, v.21, supl.3, p.96-110, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v21s3/09. pdf>. Acesso em: 08 jun. 2018. SESI. Técnicas de avaliação de agentes ambientais: manual SESI. Brasília, DF: SESI, 2007. Disponível em: <http://www.cpn-nr18.com.br/uploads/documentos-gerais/tcni- cas_de_avaliao_de_agentes_ambientais_.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2018. Leituras recomendadas AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIALHYGIENISTS. Threshold limiting values for chemical substances and physical agents and biological exposure indices. Cincinnati: Technical Affairs Office ACGIH, 1998. BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2005. BRASIL. NR 7 - Programa de controle médico de saúde ocupacional. 2013. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR7.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2018. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS Renová- veis. Avaliação de impacto ambiental: agentes sociais, procedimentos e ferramentas. Brasília, DF: IBAMA, 1995. VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Cengage Learing, 2011. ZIMMERMAN, J. B.; MIHELCIC, J. R. Engenharia ambiental: fundamentos, sustentabilidade e projeto. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. Agentes sociais14 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.