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DOS CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COMETIDOS POR AUTORIDADES

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Produtor Verificado – Gustavo Marques
(https://www.passeidireto.com/perfil/gustavo-marques/ )
1 DOS CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COMETIDOS POR AUTORIDADES
Além dos crimes previstos no Código Penal, o Legislador previu no Capítulo I do Título VII do ECA uma série de crimes cometidos especificamente contra a criança e o adolescente. O Art. 227 do ECA estabelece que estes crimes são todos de ação penal pública incondicionada, isto é, quando identificados, o Poder Público, mais especificamente o Ministério Público, é o órgão com legitimidade para propor a devida ação judicial visando a responsabilização dos culpados. 
Os crimes estão previstos dos Arts. 228 a 244 –B do ECA. Contudo, daremos destaque para os crimes previstos nos Arts. 230 a 235, uma vez que cometidos por autoridades, escopo desta pesquisa. 
O Art. 230 assim estabelece como crime:
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
Com a simples análise do Art. colacionado, pode-se concluir que, se trata de um crime omissivo, praticado por qualquer um que prive a criança ou adolescente de sua liberdade, de forma indevida, inclusive podendo ser praticado por um agente público, cujo bem violado é a liberdade do infante. 
Se tal crime é praticado por agente público, então o que se verifica é que este não só abusou de seu dever, como também usou o seu poder de forma excessiva, abusando também do seu poder. 
Passamos a analisar o próximo crimes, previsto no Art. 231 do Eca:
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Ao revés do crime anterior, este trata-se de um crime omissivo, praticado pelo agente público, que por sua conduta abusiva, viola a liberdade da criança ou adolescente. 
Nesse caso, estamos diante de um abuso de dever do agente, que tinha a obrigação legal de comunicar a apreensão do infante à autoridade judiciária competente, à família ou à pessoa por ele indicada, mas não o fez, isto é, o agente non facere quod debet facere, não usando, para tanto, de qualquer poder. Contudo, desviando da finalidade de sua função, abusou, portanto, de seu dever.
O Art. 232 do ECA dispõe:”
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos.”
Trata-se de crime comissivo, onde o agente que possui dever de guarda ou vigilância, não se limitando ao policial, como também o médico ou o professor, com sua conduta desviante, viola a integridade psíquica da criança ou adolescente.
Valter Kenji Ishida[footnoteRef:2] explica que o termo “vexame” é a humilhação simples enquanto “constrangimento” refere-se a humilhação aplicada com violência ou grave ameaça. [2: ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 401.
] 
O agente, em nenhuma hipótese, possui poder para submeter a criança ou o adolescente a vexames ou constrangimento. Assim, o agente que pratica tais condutas, viola seu dever, desviando da finalidade de sua função. 
O Art. 233 foi expressamente revogado pelo Art. 4º da Lei 9.455/97 (Lei dos Crimes de Tortura), cujo Art. 1º assim dispõe:
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
III - se o crime é cometido mediante seqüestro.
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
Trata-se de crimes que podem se revestir da forma comissiva (incisos I e II), praticado por qualquer um no caso do inciso I, e por pessoa que possui guarda, poder ou autoridade sobre outrem no caso do inciso II. O bem jurídico violado é a integridade física, moral e psicológica da vítima. 
O § 2º do Art. prevê o crime revestido da forma omissiva, onde aquele que tem o dever de evitar ou apurar a tortura, se mantém inerte, violando seu dever. 
As penas para tais crimes aumentadas se cometidas por agentes públicos ou se cometida contra criança, conforme incisos I e II do § 4º.
Além das penas privativas de liberdade e restritivas de direito o agente que cometer tais crimes, também terá perda de seu cargo função ou emprego público, além da suspensão do direito de que este exerça outra função pública pelo dobro do prazo da pena aplicada, de acordo com o § 5º do mesmo artigo.
Tais crimes demonstram o abuso do dever do agente que com a conduta criminosa, desvia da finalidade de sua função pública. 
É a letra do Art. 234 do ECA:
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Trata-se de crime próprio praticado por agente público, que atenta contra a liberdade da criança ou adolescente. Tal crime é revestido da forma omissiva, portanto, cometido por abuso do dever do agente. 
Por fim, o Art. 235 do ECA dispõe:
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Trata-se de outro crime por abuso do dever do agente público, que com um ato omissivo, viola a liberdade do adolescente, tendo em vista o descumprimento injustificado do prazo em benefício do adolescente privado de sua liberdade. 
Leciona Valter Kenji Ishida[footnoteRef:3], os Arts. 230, 231 e 234 do ECA revogaram o Art. 4º a, b, c, e d, da Lei 4898/65 (Lei de Abuso de Autoridade) e o Art. 235 revogou o Art. 3º da mesma Lei, uma vez que o ECA é a Lei mais recente. [3: 	 Ibidem. p. 399.] 
Assim, pode-se se concluir que além da responsabilidade penal do agente público que pratica um dos atos tipificados no Código Penal contra a criança e o adolescente, nosso ordenamento jurídico também se preocupou em prever no ECA outras condutas lesivas especificamente cometidas por agentes públicos contra a criança e o adolescente, que se praticadas também ensejam na responsabilização penal do sujeito, sem prejuízo a responsabilização em outras áreas do direito.
2. DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Além dos crimes previstos no tópico anterior, o Título VII doECA, em seu Capítulo II, prevê nos Arts. 245 a 258 – B, uma série de infrações, cuja responsabilidade é administrativa.
Atentar-nos-emos, contudo, somente à infração prevista no Art. 245, uma vez que possível de ser praticada por agente público contra a criança ou adolescente que cumpre medida protetiva/socioeducativa. Esse é o Art. 245, in verbis:
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Trata-se de infração revestida da forma omissiva, praticada por médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde ou de ensino, que se for da rede pública, serão agentes públicos, que abusaram de seu dever de proteção, desviando de sua finalidade.
A apuração de irregularidades em entidade de atendimento de crianças e adolescentes está prevista nos Arts. 191 a 193 do ECA[footnoteRef:4], enquanto a apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao adolescente estão previstas nos Arts. 194 a 197[footnoteRef:5]. [4: 	 Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em entidade governamental e não-governamental terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão fundamentada.
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a autoridade judiciária designará audiência de instrução e julgamento, intimando as partes.
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, marcando prazo para a substituição.
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julgamento de mérito.
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento.] [5: 	 Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção à criança e ao adolescente terá início por representação do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se possível.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos motivos do retardamento.
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação de defesa, contado da data da intimação, que será feita:
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na presença do requerido;
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o requerido ou seu representante legal;
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo necessário, designará audiência de instrução e julgamento.             (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão sucessivamente o Ministério Público e o procurador do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá sentença.]