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Profa. Ma. Eliana Delchiaro UNIDADE I Jogos e Brinquedos na Infância A disciplina Jogos e Brinquedos na Infância estuda: As teorias sobre o jogo, o brinquedo e a brincadeira para a compreensão do processo de construção do conhecimento pela criança na faixa etária de 0 a 10 anos de idade. A atuação de espaços lúdicos para o desenvolvimento integral do educando. Conteúdos da Unidade I: 1. A história cultural do jogo, brinquedo e brincadeira. 2. Fundamentação teórica sobre jogo e brincadeira. 3. Froebel, Dewey, Bruner e Piaget. 4. Usos, costumes e brincadeira na infância 5. O brincar de faz de conta ou jogo simbólico. Introdução – Apresentação da disciplina O brincar é uma forma privilegiada de aprendizagem, pois é nesse ato que as crianças trazem para suas brincadeiras o que veem, escutam, observam e experimentam. Você já observou atentamente o modo como as crianças brincam? Roda, Pintura de Milton Dacosta, 1942 Fonte: https://pt.slideshare.net/ElieneDias/pnaic-2015-a-roda Qual é a força cultural dos jogos observados na obra de Bruegel? Jogos infantis (1560) de Pieter Bruegel Fonte: https://culturevr.fr/123-bruegel/ Participação dos jogos adultos e crianças; Tradição; Jogos e divertimentos são os principais meios para as sociedades estreitarem os laços afetivos. Como os brinquedos, jogos e brincadeiras são transmitidos de gerações a gerações? Observe nos fragmentos da obra brincadeiras presentes ainda hoje: Qual é a força cultural dos jogos observados na obra de Bruegel? pula-sela arcocadeirinha jogo do pião cavalo de pau Fonte: https://euliricoeu.wordpres s.com/2016/07/03/pieter- bruegel-o-cotidiano- medieval-e-os-brugelos- do-arruado/ “Quando a criança está de posse de um brinquedo ou toma parte em um jogo, ela tem a possibilidade de apropriar-se da cultura produzida por sua geração e por gerações anteriores a ela.” “O ato de brincar é comum entre as crianças, mas a maneira como esta ou aquela criança o faz depende de questões culturais presentes em seu entorno.” KLISYS (2010) Para Kishimoto (1999, p. 30), os objetos que concebemos atualmente como brinquedos “eram representações que tinham significados no mundo adulto, voltados para práticas sociais ou religiosas, e que na mão das crianças, viraram brinquedos”. Jogos e brinquedos na infância No Brasil, até o final do século XIX, os brinquedos eram confeccionados artesanalmente, nas residências ou pequenos galpões. Com a Revolução Industrial no início do século XX, os brinquedos saíram do âmbito dos ateliês de artesãos, que trabalhavam basicamente com carrinhos de madeira e bonecas de pano, e passaram para outros tipos de materiais e modelos. O processo de industrialização trouxe enorme diversificação em cada tipo de brinquedo. A assimilação do uso do plástico foi outro fator importante, pois artificializou os objetos do cotidiano em brinquedos, substituindo gradativamente os materiais naturais como a madeira, chumbo e metal. Como os brinquedos eram fabricados? Fonte: https://www.antiguidades.eu/brinquedos/ Com a industrialização do brinquedo, aparece a sua subordinação ao valor monetário. Assim, algumas indústrias, tentando abarcar faixas mais amplas da população de menor poder aquisitivo, lançaram a linha de produtos denominada de “brinquedos populares”, cuja característica principal é oferecer menor custo e menor qualidade. No entanto, esses mesmos brinquedos nem sempre eram atrativos para as crianças. O mais comum, todavia, é os brinquedos mais cobiçados pelas crianças estarem entre os mais caros e seduzidos pelo poder da mídia. Brinquedos industrializados Fonte: https://www.magazineluiza.com.br/boneca-barbie- treinadora-de-cachorrinhos-com-acessorios-mattel- fxh08/p/221694600/br/mdba/ Fonte: https://lista.mercadolivre.com.br/acessorio-boneco-marvel E atualmente, como os brinquedos são fabricados? A criança Os pais Os fabricantes Como esse objeto denominado brinquedo se torna educativo/pedagógico? Por meio do brinquedo educativo, o pedagógico aparece justaposto ao lúdico, passando a ser visto como um objeto sério e não um objeto que as crianças usam para se divertir e ocupar o tempo. O que é e o que não é brinquedo pedagógico? Será que o brinquedo pedagógico se restringe a ensinar formas, cores, números e letras? Há diferenças entre o brinquedo educativo e o pedagógico? Jogos e brinquedos na infância Fonte: https://www.google.com/search? q=brinquedos+pedagogicos&hl Vejamos as reflexões de Brougère: 1. O que caracteriza o brinquedo é a atitude que envolve a sua utilização. 2. A educação é um processo global e contínuo. Cada etapa do desenvolvimento e cada momento da vida de uma criança têm prioridades diferentes, às quais a atuação pedagógica precisa atender. 3. Todo brinquedo pode ser educativo, dependendo das circunstâncias, mas nem todo brinquedo pode ser pedagógico. Para a criança, todo objeto se torna um brinquedo. Obra: Ricardo Ferraro, 2012. Fonte: https://br.pinterest.com/marciasordi/ri cardo-ferrari/ Ao brincar com os brinquedos/objetos, a criança usufrui de seu imaginário, pois ela joga, imita e representa, expressando emoções e sentimentos. O que diferencia o jogo (objeto) do brinquedo é a atuação do jogador/brincador que leva em consideração as regras e a proposta do jogo. De acordo com Kishimoto (1999), o brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Ao contrário, jogos como xadrez e jogos de construção exigem, de modo explícito ou implícito, o desempenho de certas habilidades definidas por uma estrutura preexistente no próprio objeto e em suas regras. Será que há diferença entre jogo e brinquedo? Obras: Ricardo Ferraro Ivan Cruz Fonte: https://br.pinte rest.com/verf erreira/obras- de- crian%C3%A 7as- brincando/ https://br.pinte rest.com/gisa 7132/ricardo- ferrari/ Os brinquedos e jogos trazem a história e a engenhosidade que a humanidade levou anos para constituir. Existem brinquedos infantis provenientes de diversas culturas e que ainda estão presentes em nosso cotidiano. Isso representa: a) A força da produção de brinquedos. b) Que é natural o homem brincar. c) Que ainda não há diferença entre o mundo adulto e o infantil. d) A força cultural dos brinquedos e brincadeiras. e) O estilo e a beleza dos brinquedos. Interatividade Os brinquedos e jogos trazem a história e a engenhosidade que a humanidade levou anos para constituir. Existem brinquedos infantis provenientes de diversas culturas e que ainda estão presentes em nosso cotidiano. Isso representa: a) A força da produção de brinquedos. b) Que é natural o homem brincar. c) Que ainda não há diferença entre o mundo adulto e o infantil. d) A força cultural dos brinquedos e brincadeiras. e) O estilo e a beleza dos brinquedos. Resposta Como brincam as crianças atualmente? Como propiciar e estimular a criatividade e imaginação dessas crianças? Brinquedos Sazonais entram e saem do mercado em determinados períodos, como o bambolê, cuja origem vem dos arcos de metal que os garotos retiravam de barris de madeira próprios para estocar vinhos e alimentos. As crianças, no Brasil colônia, usavam uma varinha para rolar o aro pela rua (brincadeira ainda comum no interior brasileiro). O brinquedo, a criação e a imaginação Brinquedos do acervo do Laboratório de Pedagogia – LAB – Brinquedoteca – Universidade Paulista – UNIP campus Sorocaba e Campinas – SP/Brasil. Segundo Brougère (2004), os brinquedos são, em um primeiro momento, instrumentos definidores do gênero dos indivíduos, não do ponto de vista biológico, portanto sexual, mas do ponto de vista sociocultural, ou seja, o que a sociedade define e diferencia o que vem a ser características do masculino e do feminino. Apesar da classificaçãolúdica que os brinquedos a princípio possam ter, estes definem e contribuem também para o desenvolvimento do papel social de cada um dos sexos. Para esse autor, o brinquedo tem uma participação na formação social e cultural dos indivíduos na nossa sociedade. Assim, podemos compreender o que o brinquedo/objeto faz com a criança ao observar o que ela faz com ele. O brinquedo, a criação e a imaginação A criança dá ao brinquedo um sentido específico, o que faz com que o mesmo contexto produza indivíduos diferentes. Por exemplo, se um arquiteto brincou com blocos de construção na sua infância isso não pode ser considerado como a causa da sua escolha profissional. No brinquedo não está toda a experiência infantil, mas ele é um elemento importante da experiência complexa e multiforme que toda criança vive. Também temos o uso do brinquedo como material decorativo. Alguns brinquedos necessariamente usados exteriorizam o valor da infância. Todo brinquedo pode ser investido de um forte valor afetivo que o transforma em fetiche, companheiro, suporte para confidências impossíveis de serem contadas a qualquer ser humano. O brinquedo, a criação e a imaginação Alguns elementos devem ser considerados ao dispormos os objetos/brinquedos para as crianças: nem todo contato com um objeto/brinquedo é necessariamente uma brincadeira; o brinquedo não pode brincar sozinho, como uma TV; é preciso que um “brincador” o explore para descobrir o que se pode fazer com ele antes de apresentá-lo à criança. Brinquedo autômato: O brinquedo, a criação e a imaginação Fonte: https://www.pontofrio- imagens.com.br/Control/ArquivoE xibir.aspx?IdArquivo=1604264713 O brinquedo só surte efeito no cenário de uma situação organizada pela criança. O brinquedo inclui funções e significados, convida a criança a agir e a dar sentido ao seu cotidiano. O brincar com esse objeto/brinquedo é, ao mesmo tempo, ação (que se traduz pela manipulação) e produção de sentido. O brinquedo aparece como suporte que estrutura a atividade, assim como a maior parte dos objetos da cultura. O brinquedo oferece às crianças um universo de sentidos que dão uma dimensão ao faz de conta, além da pura brincadeira motora. Brinquedo de construção: O brinquedo, a criação e a imaginação Fonte: https://media.istockphoto.com/photos/kids-toys- child-building-tower-of-toy-blocks-picture- id1147824553 Os objetos e/ou brinquedos com os quais a criança brinca podem ser desde elementos simples da natureza até itens sofisticados. Esses objetos aparecem em diferentes contextos no cotidiano infantil: na família, nas instituições educacionais, no contexto psicológico. Em cada um deles, um brinquedo pode ser visto como objeto de solidão ou consolação, como objeto que estimula a autonomia ou que potencializa a socialização da criança no coletivo. O brinquedo, a criação e a imaginação Bonecas Naninha: Acervo próprio. Brinquedo artesanal: Ele é construído com diversos materiais, como madeira, lata, borracha, papelão e outros recursos retirados do cotidiano, inclusive sucata. Os brinquedos artesanais sempre terão espaço importante na formação social das crianças, são produtos da habilidade manual, da fantasia e da capacidade criadora de cada pessoa. Ex.: carrinho, carrinho de rolimã, pipas, bonecas. O brinquedo, a criação e a imaginação Fonte: https://louveira.portaldacida de.com/noticias/cidade/lou veira-faz-alerta-a- populacao-sobre-o-perigo- do-uso-de-cerol-nas-pipas- 5228 Fonte: https://www.logicaed ucativos.com.br/carri nho-de-rolim.html “Do mesmo modo que uma biblioteca se compõe de livros, o sucatário é um acervo de sucata, organizada e classificada. Sucata é qualquer coisa que perdeu seu uso original, que se quebrou, que não serve mais ou que não tem mais significado” (MACHADO, 2001). Há praticamente dois tipos: A sucata natural: constitui-se de sementes, pedras, conchas, folhas, penas, galhos, pedaços de madeira, areia, terra etc.; A sucata industrializada: inclui todos os tipos de embalagens, copos plásticos, chapas metálicas, tecidos, papéis, papelões, isopor, caixas de ovos etc. Sucata, como objeto concreto Brinquedos do acervo: Laboratório de Pedagogia LAB – Brinquedoteca – Universidade Paulista – UNIP, Campus Sorocaba e Campinas – SP. A cesta dos tesouros: Goldschmied & Jackson (2006) propõem a brincadeira do “Cesto de tesouros” que reúne e oferece uma rica variedade de objetos cotidianos, escolhidos e dispostos em um cesto, os quais propiciam estímulos sensoriais aos bebês. O uso do “cesto de tesouros” consiste em uma maneira de assegurar a riqueza das experiências do bebê em um momento em que o cérebro está pronto para receber, fazer conexões e, assim, utilizar essas informações. Os itens sugeridos para os cestos de tesouros, bem abastecidos, devem ter como objetivo principal despertar o máximo de interesse por meio do: 1. tato: texturas, formato, peso; 2. olfato: uma variedade de cheiros; 3. paladar: utilizar alimentos como fontes de exploração; 4. audição: sons como de campainhas, tilintar, batidas, coisas sendo amassadas; 5. visão: cor, forma, comprimento e brilho. Brinquedos e brincadeiras para crianças pequenas Com materiais do cotidiano, tais como: objetos naturais (conchas, cone de pinho, caroço de abacate, penas, pedaço de esponja, frutos etc.); objetos feitos de materiais naturais (alças de sacolas feitas de bambu, bolas de fio de lã, pincel de barba, pequena escova para sapatos etc.); objetos de madeira (apito de bambu, aro de cortina, colher ou espátula, pregadores de roupa etc.); objetos de metal (apito de escoteiro, coador de chá, espremedor de alho, espremedor de frutas, pequeno funil, sino etc.); objetos feitos de couro, têxteis, borracha e pele (bola de borracha, bola de golfe, bola de tênis, bolsa de couro, bonequinhas de retalhos, saquinho de pano); objetos de papel, papelão (cilindro de papel, papel impermeável, papel laminado, pequenas caixas de papelão, pequeno caderno com espiral). Cesto dos tesouros A palavra grega eurisko, da qual é derivada a palavra heurístico significa “descobrir ou alcançar a compreensão de algo”. É uma abordagem e não uma metodologia. É uma atividade espontânea e exploratória. Não há um padrão de como trabalhar. Caberá ao professor planejar os materiais e registrar as ações das crianças identificando as descobertas, as conquistas, interesses e curiosidades. O professor deve variar e incluir itens diferentes e lembrar sempre da segurança da criança. O brincar heurístico Fonte: https://www.metodomont essori.it/attivita- montessori/attivita-0-12- mesi/cestino-dei-tesori Os materiais que compõem o brincar heurístico são organizados cuidadosamente em sacolas fechadas com uma pequena corda, latas que contenham tampas e/ou caixas de diversos tamanhos para que a criança tenha o prazer de fazer descobertas e invenções. Um período limitado do dia deve ser reservado para que essa atividade aconteça. Para evitar que as crianças fiquem todas juntas em um mesmo local, deve-se dispor das várias sacolas, latas e/ou caixas colocando-as no chão e aproveitando o máximo de espaço disponível. [...] a criança tem grande prazer ao abrir o recipiente e descobrir o que tem dentro dele, a princípio simplesmente esvaziando-o, mais tarde começando a substituir itens ou colocá-los de volta (GOLDSCHIMIED & JACKSON, 2006, p. 154). O brincar heurístico Fonte: porumolharpedagogico.wordpr ess.com/2017/05/18/atividade -sensorial-cesto-de-tesouros/ Escolha os itens corretos: O professor deve sempre pesquisar e procurar colocar itens diferentes na “cesta dos tesouros”, não se esquecendo de: I. Levar em conta a segurança da criança. II. Deixar esses materiais espalhados pelo chão da creche. III. Observar e registrar as ações das crianças. IV. Dispor os materiaisem sacolas em diferentes locais. Estão corretas as afirmativas: a) I e II. b) I, III e IV. c) II e III. d) I e IV. e) I, II e III. Interatividade Escolha os itens corretos: O professor deve sempre pesquisar e procurar colocar itens diferentes na “cesta dos tesouros”, não se esquecendo de: I. Levar em conta a segurança da criança. II. Deixar esses materiais espalhados pelo chão da creche. III. Observar e registrar as ações das crianças. IV. Dispor os materiais em sacolas em diferentes locais. Estão corretas as afirmativas: a) I e II. b) I, III e IV. c) II e III. d) I e IV. e) I, II e III. Resposta O homem busca na ação, imitação, representação e reflexão formas de expressar e compreender o seu contexto social, político e cultural, procurando, assim, influenciar e transformar a realidade. Ponto de vista histórico: Jogo como ação é feito a partir da imagem de criança presente no cotidiano de uma determinada época. Criança origem latina – creator – creatoris ser humano de pouca idade. Infância também de origem latina – infans – infantis aquele que não fala. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira Segundo Ariès (1981), a concepção de infância e criança sempre esteve ligada aos modelos da sociedade. Século XII desconhecimento do que vinha a ser infância, poucas eram as crianças que sobreviviam. O mundo antigo tinha representações genéricas sobre as crianças, o papel dos pais era poderoso sobre as crianças. Como surgiu a concepção de infância? Resulta de um longo processo cultural e histórico. Na Idade Média, não havia uma noção de passagem entre o mundo infantil e o mundo adulto. A criança era vista como um adulto em miniatura. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira Pintura de Arnaud Julien Pallière (1784 - 1862), retratando D. Pedro II, ainda criança. Fonte: http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/g aleria/detalhe.php?foto=967&evento=5 Concepção de infância ao logo da história: Segundo Nunes & Silva (2000), essa concepção de adulto em miniatura foi tomando nova forma e [...] “a partir do final do século XVII a infância adquiriria uma significação representada pelo estado de fraqueza e inocência associado ao reflexo da pureza divina, o que colocava a educação na situação de primeira obrigação humana.” Estas representações de fraqueza e inocência davam às crianças uma identidade de pureza angelical. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira Fonte: https://rceliamendonca.com/2013/01/16/t emas-da-pintura-mes-e-filhosgaleria-9/ Ariès (1981) mostra-nos que foi necessária uma longa evolução para que o sentimento de infância realmente se arraigasse. Assim, a partir do início do século XVIII, os adultos modificaram sua concepção de infância e lhe concederam uma atenção nova que não manifestavam antes. Rousseau coloca a infância como um tempo específico, um período em que a natureza humana ainda não foi corrompida pela sociedade, guardando toda a sua pureza. Percebidas como seres inocentes e imperfeitos, as crianças precisavam ser corrigidas para tornarem-se adultos honrados e racionais. Tais concepções desencadeiam o movimento de “moralização” para que as crianças fossem preparadas para a vida adulta. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira No início do século XIX, com o avanço científico, surge uma nova concepção de criança, com base biológica favorecida pela medicina e a psicologia do desenvolvimento, cuja ideia principal é do crescimento natural, ou seja, a infância é um estágio biologicamente determinado e que constitui um caminho para a condição humana plena (maturidade). Esta concepção produz um entendimento da criança pequena como um ser essencial de natureza universal e capacidades inerentes, com um processo de desenvolvimento inato e biologicamente determinado. Esta imagem desconsidera a influência da cultura e dos contextos sociais, colocando a ação do adulto de maneira generalizada e universal. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira Na segunda metade do século XX um novo entendimento de infância: A infância é uma construção social, elaborada para e pelas crianças. Como construção social, a infância é sempre contextualizada em relação ao tempo, local e cultura, variando segundo gênero e condições socioeconômicas. As crianças são atores sociais, participando da construção e determinando suas próprias vidas e daqueles que a cercam, contribuindo para a sua aprendizagem como agentes que constroem sobre o conhecimento experimental. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira Assim vista, a infância é como uma convenção/interpretação cultural, consequentemente, uma questão sociopolítica que permite ou não reconhecer certas qualidades. Um marco importante no reconhecimento de que existem muitas crianças e muitas infâncias está na Declaração dos Direitos da Criança, assinada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1959). Ela garante a dignidade de condições de vida, tais como proteção, alimentação, saúde, educação e lazer, o qual inclui o brincar como uma das necessidades de desenvolvimento adequado. Fundamentação teórica sobre o jogo e a brincadeira Filósofo e educador americano. As principais ideias de Dewey são: A vida social constitui a base do desenvolvimento infantil e cabe à escola a importante tarefa. A perspectiva ético-religiosa da democracia como única forma de vida digna de seres humanos. O êxito da educação depende do enriquecimento, que possibilite estreitar as relações entre as atividades instintivas da criança, os interesses e as experiências sociais. A educação democrática de vida dentro e fora dos limites da escola. A proposta dos jogos viabilizaria essa experiência. Dewey Bruner nasceu no ano de 1915, na cidade de Nova Iorque (EUA). De acordo com Kishimoto (2002), as principais ideias de Bruner são: O jogo é visto como forma de o sujeito violar a rigidez dos padrões de comportamentos sociais das espécies. O jogo, ao ocorrer em situações sem pressão, em atmosfera familiar e de segurança emocional, proporciona condições para que aconteça a aprendizagem das normas sociais. A brincadeira proporciona à criança a descoberta das regras sociais e aquisição da linguagem. Pela brincadeira, a criança aprende a se movimentar, falar e desenvolver estratégias para solucionar problemas do seu cotidiano. Bruner Jean William Fritz Piaget (1896-1980) foi biólogo, psicólogo e filósofo suíço, e ficou conhecido por seu trabalho no campo da psicologia do desenvolvimento. Ele é um dos vários autores que tratam da questão do jogo como um sistema de regras e a brincadeira como conduta estruturada, o qual propõe uma classificação dos jogos baseada na evolução das estruturas mentais: jogo de exercício (aproximadamente de 0 a 2 anos de idade); jogo simbólico (aproximadamente de 2 a 7 anos de idade); jogo de regras (começa a se constituir por volta dos 4 aos 7 anos e tem seu apogeu na fase dos 7 aos 11 anos). Piaget Com relação às regras propriamente ditas, temos: regras transmitidas: fazem parte de jogos do acervo cultural e foram transmitidas de geração a geração, geralmente de indivíduos mais velhos para os mais novos; regras espontâneas e momentâneas: acontecem de acordo com a escolha do jogador ou dos componentes que estão participando do jogo, ou seja, são frutos de relações entre os pares contemporâneos. Piaget A concepção de infância é sempre contextualizada em relação ao tempo, local e cultura, variando segundo gênero e condições socioeconômicas. Chamamos esse entendimento de: a) Cultura infantil. b) Cultura lúdica. c) Construção social da infância. d) Novo paradigma da infância. e) Contexto cultural da infância. Interatividade A concepção de infância é sempre contextualizada em relação ao tempo, local e cultura, variando segundo gênero e condições socioeconômicas.Chamamos esse entendimento de: a) Cultura infantil. b) Cultura lúdica. c) Construção social da infância. d) Novo paradigma da infância. e) Contexto cultural da infância. Resposta Na linguagem cotidiana, observamos o emprego das palavras jogo, brinquedo e brincadeira sem a preocupação de diferenciá-las ou delimitá-las. No dicionário, brinquedo significa: Objeto que serve para brincar ou; Jogo de crianças e brincadeiras; Divertimento, passatempo; Para brincadeira: festa, folguedo, folia. A dificuldade para se conceituar aumenta quando entram valores culturais e sociais: Ex.: arco e flecha. Usos, costumes e brincadeira na infância Kishimoto (1999) distingue entre eles, do ponto de vista didático, as seguintes características: jogo: resultante de um sistema linguístico dentro de um contexto sociocultural, um sistema de regras, um objeto; brinquedo: objeto cultural (concreto ou ideológico), suporte de brincadeira, possui uma função lúdica e indeterminação quanto ao seu uso; brincadeira: descrição de uma conduta. Usos, costumes e brincadeira na infância Entre os autores que discutem a natureza do jogo, Christie aponta algumas características do jogo infantil que permitem identificar os fenômenos que pertencem à grande família dos jogos: a não literalidade: o sentido habitual é substituído por um outro. Por exemplo: a tampa da panela serve como direção do carro. o efeito positivo: a criança demonstra, por meio do prazer e da alegria, a sua satisfação na brincadeira. a flexibilidade: novas combinações e ideias são aprendidas, muitas vezes, em situações de brincadeira, e não em outras atividades não recreativas. Usos, costumes e brincadeira na infância Entre os autores que discutem a natureza do jogo, Christie aponta algumas características do jogo infantil que permitem identificar os fenômenos que pertencem à grande família dos jogos: prioridade do processo e não do produto: enquanto a criança brinca, sua atenção está mais focada na atividade em si do que em seus resultados ou efeitos. livre escolha: o jogo infantil só pode ser considerado jogo quando é escolhido livre e espontaneamente. controle interno: no jogo infantil, são os próprios jogadores que determinam o desenvolvimento dos acontecimentos. Usos, costumes e brincadeira na infância Na medida em que as crianças vão crescendo, surgem novos interesses, novas situações de troca, novos aprendizados e, consequentemente, os jogos vão se modificando. Com o crescente grau de socialização do indivíduo e a ampliação de sua linguagem, os jogos caminham do simples prazer funcional, perpassam o jogo de faz de conta (simbólico) e vão até os jogos de regras que permanecem na idade adulta. O brincar de faz de conta ou jogo simbólico, também chamado: Jogo imaginativo ou Jogo de faz de conta ou Jogo de papéis ou Jogo sociodramático. O brincar possibilita à criança realizar desejos irrealizáveis, objetivando reduzir a tensão do cotidiano e acomodar os conflitos e frustrações da vida real. Jogo simbólico O componente simbólico do jogo pressupõe a existência de regras que a criança impõe para que possa representar os personagens que ela incorpora. A criança passa de uma brincadeira, cujo conteúdo básico é a reprodução das atitudes dos adultos com objetos no seu cotidiano, para uma brincadeira cujo conteúdo básico torna-se a reprodução das relações dos adultos entre si ou com crianças. Brougère (2004) diz que a brincadeira aparece como um meio de sair do mundo real para descobrir outros mundos, para se projetar num universo inexistente. Assim, o brincar da criança não está somente ancorado no presente, mas também tenta resolver problemas do passado, ao mesmo tempo em que se projeta para o futuro. Exemplo: a brincadeira dos super-heróis. Jogo simbólico As brincadeiras têm um impacto próprio e são, ao mesmo tempo, veículos da inteligência e da atividade lúdica. Elas constituem um eco dos padrões culturais dos diferentes contextos socioeconômicos. Ao repetir a brincadeira nos contatos interativos com adultos, a criança descobre a regra, com a qual ela aprende: a desenvolver sua linguagem; a iniciar a brincadeira; a modificar a brincadeira. O prazer e a motivação é que impulsionam a ação para explorações livres. Em situações de brincadeiras, a criança desenvolve a intencionalidade e a inteligência. No âmbito social, os papéis das crianças são definidos pelo tipo de atividade lúdica que praticam, sendo esta definida como brinquedo e brincadeira para meninos e brinquedo e brincadeira para meninas. Brinca comigo? Na cultura popular, a brincadeira tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar. Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente, conforme motivações internas da criança, a brincadeira infantil garante a presença do lúdico, da situação imaginária. Portanto, meninos e meninas acabam compartilhando brincadeiras em comum, sendo que o professor deve possibilitar a participação das crianças e ampliar o repertório cultural delas. Para a psicologia sócio-histórica, a essência da vida humana é cultural e não natural. Assim, tanto a atividade lúdica como a atividade criativa surgem marcadas pela cultura e mediadas pelos sujeitos com quem a criança se relaciona. Brinca comigo? Compreender a origem e o significado das brincadeiras tradicionais infantis requer a investigação de raízes folclóricas de um determinado povo. As origens das brincadeiras tradicionais do Brasil estão na mistura das três matrizes étnicas que compõem o povo brasileiro; a matriz indígena, branca europeia e a matriz negra africana. Na matriz branca, encontramos vários elementos nas brincadeiras das crianças na figura dos colonizadores portugueses cuja influência está nos contos, histórias, lendas, parlendas, festas religiosas e jogos como bolinha de gude, jogo do botão, pião e outros que compõem o acervo derivado do folclore lusitano. As brincadeiras tradicionais brasileiras Segundo os autores estudados, é uma tarefa complexa separar rigorosamente as diferentes matrizes das brincadeiras, uma vez que elas ocorriam nos engenhos, nas plantações, nas minas e no litoral dificultando assim uma identificação própria devido ao próprio contexto social. Um dos brinquedos interessantes e que utiliza elementos naturais vindos do folclore africano é a espingarda de talo de bananeira. Ela é confeccionada do talo da bananeira em que se faz uma série de incisões, deixando os fragmentos presos pela base. Ao levantar todos esses pedaços seguros por uma haste, e ao passar a mão ao longo da haste, fazendo-os cair, eles soltam um ruído seco e uníssono, simulando o tiro de uma espingarda. As brincadeiras tradicionais brasileiras A matriz indígena trouxe grandes contribuições ao folclore brasileiro e às brincadeiras infantis com o predomínio de brincadeiras junto à natureza, nos rios, nas danças e jogos que imitam animais, e na tradição indígena das bonecas e animais de barro. Para Kishimoto (2003), torna-se imprescindível trazer de volta as brincadeiras tradicionais. No entanto, não podemos esquecer alguns problemas básicos relacionados à infraestrutura, às condições ecológicas, às áreas abertas ao público etc. que dificultam o seu resgate. Para revivê-las será necessária uma adaptação às condições contemporâneas de espaços e materiais. As brincadeiras tradicionais brasileiras Matriz branca colonizadores portugueses cuja influência está nos contos, histórias, lendas, parlendas, festas religiosas e jogos como bolinha de gude, jogo do botão, pião e outros que compõem o acervo derivado do folclore lusitano. Matriz negra um dos brinquedos interessantes e que utiliza elementos naturais vindos do folclore africano é aespingarda de talo de bananeira. Matriz indígena o predomínio de brincadeiras junto à natureza, nos rios, nas danças e jogos que imitam animais, e na tradição indígena das bonecas e animais de barro. Resumindo, as brincadeiras brasileiras: Uma característica marcante que diferencia o jogo do brinquedo é que o jogo: a) É um suporte para a brincadeira. b) Tem um sistema linguístico cultural com regras. c) É uma descrição de uma conduta. d) É um folguedo. e) É uma espécie de faz de conta. Interatividade Uma característica marcante que diferencia o jogo do brinquedo é que o jogo: a) É um suporte para a brincadeira. b) Tem um sistema linguístico cultural com regras. c) É uma descrição de uma conduta. d) É um folguedo. e) É uma espécie de faz de conta. Resposta ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. BROUGÈRE, G. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004. GOLDSCHMIED, E.; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em creche. Porto Alegre: Artmed, 2006 KISHIMOTO, T. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002. KISHIMOTO, T. (org.). Jogo, brinquedo e a educação. São Paulo: Cortez, 1999. KISHIMOTO, T. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2003. KLISYS, A. Quer jogar? São Paulo: Edições Sesc, 2010. MACHADO, M. O Brinquedo-sucata e a criança. São Paulo: Loyola, 2001. NUNES, C.; SILVA, E. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade. Campinas: Autores associados, 2000. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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