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EAD_CIDADANIA_bloco 06 (4)

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Bloco 06
Cidadania e Fé aplicada aos cursos
20
BLOCO 6
ONDE ESTÁ SUA TITULAÇÃO?
(Curso de Pedagogia)
Não conheço nenhuma universidade do mundo em que seus cursos de educação te-
nham apresentado ou oferecido os Evangelhos como manual de Pedagogia a ser estu-
dado pelos alunos; nem ao menos entre os maiores pedagogos da humanidade se tenha 
apresentado a figura de Jesus de Nazaré, O que tem acontecido, vez por outra, e isso é 
louvável, é algum educador cristão fazer uma releitura dos Evangelhos na ótica da Peda-
gogia. Mas isso só tem acontecido em celebrações de cursos de licenciatura, sobretudo 
de Pedagogia.
Em “História das ideias pedagógicas” (1993), o pensador Moacir Gadotti quando expõe 
o pensamento oriental apresenta Lao-Tsé como exemplo de educador e o Talmud como
fonte de educação hebraica, mas não Cristo nem os Evangelhos. No livro inteiro dedica à
pedagogia de Cristo apenas uma 06 linhas, quando afirma: “Do ponto de vista pedagó-
gico, Cristo havia sido um grande educador, popular e bem sucedido. Seus ensinamentos
ligavam-se essencialmente à vida. A pedagogia que propunha era concreta: parábolas
inventadas no calor dos fatos, motivados por suas numerosas mudanças pela Palestina.
Ao mesmo tempo dominava a linguagem erudita e sabia comunicar-se com o povo mais
humilde” (GADOTTI, 1993, p. 51).
Luiz Moura, na introdução de seu tra-
balho “Coisas do coração” diz sobre 
a pedagogia de Jesus: “A vida intei-
ra de Jesus de Nazaré foi uma esco-
la; tinha um projeto bem definido e 
uma metodologia que se adequava 
a qualquer situação. Qualquer espa-
ço era espaço educativo. Se a gen-
te observa melhor, pode-se classificar 
a ação pedagógica de Jesus como 
revolucionária, pois não age como 
os doutores da lei e os fariseus, consi-
derados mestres do povo. Ainda pe-
queno debate com os doutores no 
templo; encontra-se sozinho em lugar 
público (poço de água) com uma 
mulher estrangeira e pecadora; dependendo da situação reúne-se com um trio; ou com 
Foto retirada do site: http://grupodeoracaosaovicente.com.br/blog/category/pregacoes/
page/7/
21
um grupo (os doze) ou um grupo maior (os 72), ou ainda com a multidão. Seu jeito de 
educar inspirou até cancioneiros da música popular brasileira que fizeram o Brasil inteiro 
cantar:
JESUS DE NAZARÉ – CLAUDIO FONTANA
Ei! Já passamos do ano dois mil
Tanto tempo faz que ele morreu
O mundo se modificou, mas ninguém jamais o esqueceu
E eu sou ligado no que ele falou
Sou parado no que ele deixou
O mundo só será feliz, se a gente cultivar o amor
Ei, irmão, vamos seguir com fé, tudo o que ensinou
O Homem de Nazareth
Reis e rainhas que este mundo viu
Todo povo sempre dirigiu
Caminhando em busca de uma luz, sob o símbolo de sua cruz
Ele era o rei mas foi humilde o tempo inteiro
Ele foi filho de carpinteiro e nasceu em uma manjedoura
Não saiu jamais muito longe de sua cidade
Não cursou nenhuma faculdade, mas na vida Ele foi doutor
Ele modificou o mundo inteiro (3x)
Ele revolucionou o mundo inteiro
Ei irmão, vamos seguir com fé, tudo o que ensinou
O Homem de Nazareth
Ei irmão, vamos seguir com fé, tudo o que ensinou 
O Homem de Nazareth 
Ei, irmão!!!
(MOURA, 2006, p. 9 -10)
Escute também a música:
https://www.youtube.com/
watch?v=ZJ9ujH-udgw
22
Vale aqui alguns questionamentos: Por que nossos alunos estão mais interessados em ir ao 
Shopping do que à escola? Por que gostam mais de estar na frente da TV do que escutar 
seus professores?
A escola só oferece um produto que o aluno pouco está interessado: O conhecimento; 
às vezes conferido sem sabedoria. Não há algo mais prazeroso para um aluno que o sinal 
indicando o final da aula, a chegada das férias, um fim de semana sem aula, um feriado 
ou a notícia da falta de um professor.
Parece que o conceito de educação que tem prevalecido entre nós é que sua função 
tem sido a de adaptar a criança a uma ordem social existente, fazendo com que assi-
mile os conhecimentos e o saber destinados a inseri-la em tal ordem, como é o caso da 
sociedade capitalista em que vivemos. Um famoso crítico da sociedade ocidental, muito 
conhecido no meio universitário, o filósofo alemão Nietzsche, afirmava que a civilização 
ocidental educa o ser humano para ter o instinto de tartaruga. Ter instinto de tartaruga 
significa defender-se, fechar-se ao mundo, recolher-se para dentro de si e, como con-
sequência disso tudo, nada ver, nada ouvir e nada ameaçar. O sentido etimológico de 
educação aparece como muito sugestivo e caminha em direção contrária ao conceito 
que interessa aos grupos que controlam a sociedade. E+DUCERE: dá a ideia de conduzir 
para fora; assim educação é um processo de tirar do homem o ser humano que já existe 
dentro dele mesmo. O papel do educador consiste na arte de saber extrair ou ajudar a 
extrair esse ser humano que já existe. Talvez outra origem etimológica de educação é que 
o termo tenha vindo de outra palavra latina EDUCARE que significa alimentar; ideia fan-
tástica: educação é o processo de alimentar, de fazer crescer.
Muitos são os conceitos de educação; mas apesar de o conceito etimológico ser bem 
sugestivo, apresentamos aqui o que diz Boff, em seu livro “Homem: satã ou anjo bom?”. 
Afirma: “Já se disse acertadamente que educar não é encher uma vasilha vazia, mas 
acender uma luz. Em outras palavras, educar é ensinar a pensar, e não apenas ensinar 
a ter conhecimentos. Estes nascem do hábito de pensar com profundidade. Hoje co-
nhecemos muito mas pensamos pouco sobre o que conhecemos. Aprender a pensar é 
decisivo para nos situarmos com autonomia no interior da sociedade do conhecimento e 
da informação. Caso contrário, seremos simples caudatários dela, condenados a repetir 
modelos e fórmulas que se superam rapidamente. Para pensar de verdade, precisamos 
ser críticos, criativos e cuidadores. (...) Ser crítico é tirar a máscara dos interesses escusos 
e trazer à tona conexões ocultas. A crítica boa é também autocrítica. (...) Ser criativo é ir 
além das fórmulas convencionais e inventar maneiras surpreendentes de expressar a nós 
mesmos e ao mundo (...) ser crítico é dar asas à imaginação. (...) Ser cuidadores é quando 
prestamos atenção aos valores que estão em jogo, atentos ao que realmente interessa e 
preocupados com o impacto que nossas ideias e ações podem causar nos outros. (BOFF, 
2008, p. 211 -212)
23
A escola (.....), fundamenta-se sobre os mesmos princípios do mercado capitalista: con-
corrência e rentabilidade. Aliás, a escolarização da sociedade tem a mesma idade do 
mercado capitalista; cresceram juntos. Pelo princípio da rentabilidade, a escola deve ga-
rantir um capital-diploma ao aluno que lhe garantisse pelo resto da vida, um rendimento a 
tanto por cento; pelo princípio da concorrência, a escola, com suas seleções e concursos, 
promove alguns bem dotados, implicando a eliminação de outros. Desde sua origem a 
escola é seletiva. A palavra escola deriva do grego, scholé = ócio ou seja: antigamente a 
escola era o lugar dos que não tinham nada que fazer; não havia espaço para os escra-
vos, por exemplo, porque deviam viver a vida inteira mergulhados no trabalho.
“Estão lembrados da origem da palavra escola, de que falamos antes? Ócio?.
Do ponto de vista social, a época de Jesus não era tão 
diferente da nossa: o povo vivia esmagado por duas 
forças: a política e a religião. O governo local, apoiado 
pelo Império Romano, excluía e discriminava as pesso-
as, comunidades ou clãs; a lei de Deus era usada pelas 
autoridades para justificar a exclusão. Ao contrário, o 
Reino de Deus que Jesus anunciava era a proposta de 
fraternidade que Deus sonhou para todos e não uma 
observância a ser cobrada ou uma doutrina a ser im-
posta. Certamente Jesus frequentou escola, pois a bí-
blia nos diz: ‘na sinagoga levantou-se para ler’ e depois 
de ler ‘enrolou o livro, entregou ao servente e sentou-se’ (Lc 4, 17-20). Apesar de letrado, não 
ensinava só na sinagoga, mas em qualquer lugar que houvesse gente para ouvi-lo: deserto, 
barco, monte, caminho, casa etc. Masa verdadeira escola de Jesus era a vida: o evangelista 
comenta: Jesus ‘crescia tanto em estatura como em sabedoria’ (c. 2, 52). 
Se pudéssemos imaginar um homem formado em nossos sistemas escolares teríamos dian-
te de nós uma pessoa com um enorme quisto na cabeça; o quisto do saber, do conhe-
cimento; as outras partes estariam atrofiadas. A escola mostrou-se capaz de encher a 
cabeça do homem de conhecimento; mostrou-se, no entanto, incapaz de lhe dar força, 
coragem e ousadia de lutar e gritar por um mundo justo. Nossos currículos estão cheios de 
lições sobre poder, qualidade e eficiência, e vazios de lições sobre o amor, vida, justiça 
e paz. Poderíamos imaginar também um homem com uma enorme cabeça e as demais 
partes do corpo, raquíticas. Seria o retrato de um homem por nossas escolas; um ser huma-
no com a cabeça cheia de conhecimento, mas com pernas e braços raquíticos incapaz 
de enfrentar a seca e a fome no sertão, a violência na cidade, a dor e a solidão. 
A exemplo dos rabinos da época, mas de forma diferente, Jesus reúne, ao redor de si, dis-
cípulos. Os discípulos seguem o mestre por onde quer que vá, não importa por onde, mes
Foto retirada do site: https://imagensbiblicas.wordpress.
com/2008/06/12/jesus-lendo-na-sinagoga-ao-sabado/
24
mo que tenha de carregar uma cruz ou subir o calvário. O caminho do mestre nem sempre 
é fácil; aqui dá atenção especial aos excluídos, ali chama atenção para os fracos do povo 
e, mais na frente, atenta para a atitude de serviço. Em nossas escolas, a relação que se dá é 
entre professor-aluno; há muitos professores e poucos mestres, e sua relação com os alunos 
é mais ‘magisterial’ (trabalho do grande = magis) que ‘ministerial’ (trabalho do pequeno = 
minis); mais ‘professoral’ que de serviço e de testemunho. No jeito diferente de Jesus educar, 
a relação é discípulo-mestre. O mestre dá testemunho e o discípulo segue. 
Era comum, em Jesus, usar a sabedoria popular (ex. ‘médico, cura-te a ti mesmo’ Lc. 4, 
23-24), fatos da vida ou ainda histórias bem conhecidas para popularizar mais seus ensi-
namentos. Hoje a sabedoria popular não tem valor, não é científica, não tem comprova-
ção demonstrada. Só tem valor o conhecimento passado pela escola, através de mestres 
diplomados. No Ocidente, ‘conhecer’ significa também ‘dominar’; o ato de conhecer 
implica uma ação de domínio, por parte do sujeito que conhece, sobre o objeto conheci-
do; sendo assim, nem todo conhecimento é sabedoria. A ciência moderna significou cres-
cimento e desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, negação e destruição de culturas. 
O ensino de Jesus não era distante da vida do povo. Quando ensina usa parábolas. É uma 
forma participativa de ensinar e educar. Os doutores da lei, rabinos e escribas (letrados, 
formados em escolas) ensinavam que Deus só se manifestava na observância da lei. Je-
sus, ao contrário, contesta e diz: “o Reino de Deus já está presente no meio de vocês” (Lc. 
17, 20). O ensino de Jesus, ao contrário de apelar para a lei e o culto, era ‘novo’ e ‘dado 
com autoridade’. A autoridade de seu ensino era sua coerência de vida e sua aproxima-
ção com os considerados ‘ignorantes’ e excluídos pelos letrados da época. 
Nos Evangelhos, dois episódios, 
sobretudo, chamam atenção 
do ponto de vista da atitude 
pedagógica de Jesus: o episó-
dio da samaritana (Jo 4, 1-42) e 
dos discípulos de Emaús (Lc 24, 
13-35). A mulher samaritana era 
excluída pelo fato de ser mulher, 
por ser samaritana, estrangeira 
portanto, e pelo fato de ser pe-
cadora. O caminho que Jesus 
utiliza é pedir água de beber, 
para em seguida, falar de uma outra água, a água viva. Talvez nem tivesse sede, mas 
pede água para estabelecer um diálogo. O escritor sagrado diz que Ele estava só com a 
mulher, algo que era considerado escandaloso. Parece que o método de pedir água não 
surte efeito, fracassa. Era necessário fazer outro caminho, buscar novo método. A intuição 
pedagógica de Jesus é fantástica: “vai, chama teu marido e volta aqui”. Agora sim, a 
Print do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=R978KxaX19Q
25
nova metodologia é eficaz, e logo vem a reação: “Senhor, vejo que és um profeta”, diz a 
mulher. Ela tornou-se missionária de Cristo naquela cidade. Diz o texto que muitos samari-
tanos daquela cidade acreditaram nele, por causa da palavra da mulher. A pedagogia 
de Jesus é assim muito humana: tem sucesso e tem fracasso; quando não dá certo de 
uma forma, dá de outra. 
Já no episódio de Emaús, adota uma pedagogia di-
ferente do episódio da samaritana. Na nova situação, 
faz-se caminhante com os caminhantes, participa da 
mesma tristeza que envolve os dois discípulos, mas não 
fica aí: procura iluminar os acontecimentos com as es-
crituras e, por fim, na fração do pão, dá-se a conhe-
cer, de forma progressiva. Na mesma hora os discípu-
los partem para a ação, levantam-se e voltam para 
Jerusalém, proclamando a ressurreição do Senhor. 
Jesus surpreende com sua pedagogia ao adotar uma 
metodologia diferente, adequada a cada nova situa-
ção, a cada homem, a cada mulher, a cada criança, a cada jovem rico ou pobre, judeu 
ou estrangeiro. Sem titulação alguma, o Divino Mestre problematiza os que a tem e elege 
o que é essencialmente humano como ponto focal de sua pedagogia. 
Foto retirada do site: http://portrasdapalavra.blogspot.com.
br/2014/04/maria-mulher-que-vai-emaus-maria-soave.html
 Escola dos meus Sonhos
Frei Betto
 Na escola dos meus sonhos, os alunos aprendem a cozinhar, costurar, consertar eletrodomésticos, a fazer 
pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas, a conhecer mecânica de automóvel e de 
geladeira e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficinas de escultura, desenho, 
pintura e música. Cantam no coro e tocam na orquestra. Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao 
trabalho de lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros 
profissionais. Assim aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões que, à 
superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação.
Não há temas tabus. Todas as situações-limite da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, 
perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o texto 
dentro do contexto: a Matemática busca exemplos na corrupção dos precatórios e nos leilões das priva-
tizações; o Português, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais; a Geografia, nos suple-
mentos de turismo e nos conflitos internacionais; a Física, nas corridas de Fórmula-1 e nas pesquisas do 
supertelescópio Huble; a Química, na qualidade dos cosméticos e na culinária; a História, na violência de 
policiais contra cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores - índios, senhores - es-
cravos, Exército - Canudos, etc.
Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de Biologia e de Educação 
Física se complementem; a multidisciplinaridade faz com que a História do livro seja estudada a partir da 
análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e dança e associa a história 
26
da arte à história das ideologias e das expressões litúrgicas. Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: 
o rabino fala do judaísmo, o pai-de-santo, do candomblé; o padre, do catolicismo; o médium, do espiritis-
mo; o pastor, do protestantismo; o guru, do budismo, etc. Se for católica, há periódicos retiros espirituais 
e adequação do currículo ao calendário litúrgico da Igreja. Na escola dos meus sonhos, os professores são 
obrigados a fazer periódicos treinamentos e cursos de capacitação e só são admitidos se, além da compe-
tência, comungam os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática. Porque é uma escola 
com ideologia, visão de mundo e perfil definido do que sejam democracia e cidadania. Essa escola não 
forma consumidores, mas cidadãos.
Elanão briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em 
seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto adquirido; sua química, 
analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem 
como os fatores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a pro-
posta de vida subjacente, a visão de felicidade, a relação animador-platéia, os tabus e preconceitos refor-
çados, etc. Em suma, não se fecham os olhos à realidade, muda-se a ótica de encará-la. Há uma integração 
entre escola, família e sociedade. A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o 
grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e, um mês por ano, setores não vitais da instituição são 
administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discur-
sos analisados e comparados às suas práticas.
Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho 
mestre Geraldo França de Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira 
de Letras), no dia da prova sobre a Independência do Brasil, os alunos traziam para a classe a bibliografia 
pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar. Não há coincidência 
entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, 
dependendo de sua disponibilidade, aptidão e seus recursos. É mais importante educar do que instruir; 
formar pessoas que profissionais; ensinar a mudar o mundo que ascender à elite. Dentro de uma con-
cepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade corpo-espírito e o 
enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.
Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio 
para se poderem manter. Pois é a escola de uma sociedade em que educação não é privilégio, mas direito 
universal, e o acesso a ela, dever obrigatório.
Capítulo 17 - ECONOMIA COMPROMETIDA
(Administração e Economia voltadas para os mais pobres)
‘Economia comprometida’ é um artigo sobre essa fantástica experiência acontecida em Bangladesh, do professor Cris-
tovam Buarque, reitor e professor da UnB, ex-governador do DF pelo PT e autor de vários livros. Assim deixou escrito 
em uma crônica publicada em vários jornais do país:
Você pode imaginar um banco criado para emprestar dinheiro para pobres? Pode tam-
bém imaginar que banco possa emprestar dinheiro sem qualquer garantia? Então conhe-
ça a história de Muhammad Yunus e seu banco de crédito.
“Durante os anos 60 e 70, os países orientais enviaram milhares de jovens para fazer seus 
27
doutorados nos países ocidentais, e estes enviaram milhares dos seus para buscarem inspi-
ração espiritual no Oriente. Os primeiros esqueceram suas raízes, aprenderam a lição que 
receberam e construíram o desenvolvimento econômico que revolucionou os seus países, 
mas sem reduzir a pobreza e aumentando a desigualdade, destruindo o meio ambiente, 
desarticulando culturas. Os outros voltaram a suas origens, esqueceram o que viram no 
mundo oriental e se transformaram nos dirigentes do mundo global de hoje. 
Mas há exceções. Entre os jovens dos países ricos que foram em busca de inspiração es-
piritual, alguns se mantiveram fiéis, e entre os jovens dos países pobres, alguns voltaram às 
suas origens, adaptaram às suas realidades o que aprenderam nos doutorados, inventa-
ram novas formas de enfrentar os problemas de seus países e estão mudando a realidade 
deles, enfrentando o problema da pobreza. 
Entre estes está Muhammad Yunus, de Bangladesh. No final dos anos 60 e começo dos 70, 
ele foi aluno dos cursos de doutorado em Economia nas universidades americanas. Formado, 
ele se transformou em professor naquelas universidades. Mas, como milhares de outros jovens, 
preferiu voltar, recebeu a tarefa de dirigir novo centro de ensino de Economia em Bangladesh. 
Diferentemente dos demais doutores em economia dos países pobres, o jovem Yunus per-
cebeu a pobreza que havia ao redor da Universidade e entendeu que a teoria econô-
mica não estava elaborada para ajudar a enfrentar esse problema. Sensibilizou-se com a 
tragédia que via e agiu para mudar. Para isso, teve que mudar radicalmente tudo o que 
tinha aprendido e inventar um novo sistema de crédito, diferente dos livros: um banco que 
chegasse a quem precisa de dinheiro, e não a quem já tem dinheiro. Hoje, conhecido 
mesmo no Brasil como o banqueiro dos pobres, Yunus pode se orgulhar de ter 2,4 milhões 
de pobres beneficiados pelo seu Grameen Bank.
Graças a isso, ele está provocando um novo fluxo de visitantes ocidentais em direção ao 
Oriente – desta vez, de países pobres para aprenderem em Bangladesh. São dirigentes 
de bancos e outros profissionais em busca de inspiração para, por meio do micro-crédito, 
ajudarem os pobres de seus países. Passar uma semana escutando o professor Yunus, no 
seu escritório, na barulhenta e buliçosa cidade de Daca, é ouvir mais do que um criativo 
técnico em sistema bancário: é aprender uma nova maneira de definir as coisas. Não 
adianta ir lá e querer mudar somente algumas pequenas regras de concessão de crédito. 
É preciso mudar a postura na prática bancária. É preciso redefinir os conceitos. 
Para ele, ser pobre não é ter renda abaixo de um certo nível, é não ter acesso a uma lista 
de itens, entre os quais, “garantia de três refeições diárias ao longo de todo o ano, inclusi-
ve durante o período de seca”, “uma casa, com cama e mosquiteiro”, “acesso a serviço 
médico”, “todos os filhos na escola”, “capacidade de pagar um pequeno empréstimo”, 
“dispor de uma pequena poupança, porque, sem garantia de enfrentar dificuldades im-
previstas no futuro, a pessoa é pobre”. 
28
É uma nova definição, também, ver o acesso ao crédito como um direito humano. Para o 
Yunus, o acesso ao crédito está para o trabalhador de hoje como a terra estava para os 
ex-escravos. Os escravos não foram libertados plenamente porque não receberam terra 
para plantar, hoje uma parte da população continua escrava, se não tiver acesso ao cré-
dito para financiar o uso de seu potencial. 
É para garantir isso que o Banco Grameen oferece crédito até ao mais pobre entre os 
pobres. Mas para isso, ele também teve de mudar o conceito de banco e de empréstimo. 
Para surpresa dos que vão em busca de sua inspiração, micro-crédito não é um emprés-
timo de pouco valor. Micro-crédito é o “empréstimo dirigido ao pobre”, “de preferência 
nas mãos das mulheres”, “sem necessidade de garantias”, “sem condições prévias de 
experiência empresarial de parte do tomador”. Finalmente, Yunus diz que “o que afasta o 
tomador não é valor dos juros, mas a desconfiança e as exigências de garantia.” 
É claro que esta nova definição de pobre e de micro-crédito exigiu novas definições para 
o papel do banco. Onde, “quem toma emprestado não é cliente, é gente, pessoa, que 
merece respeito e não desconfiança”. “O empregado não serve ao banco, mas ao to-
mador, sua lealdade não é com a instituição, mas como gente, pessoas sócias”. “O toma-
dor é, por definição, capaz de fazer o que se propõe, e não alguém que deve buscar no 
banco a inspiração para seu negócio”. “Se, por acaso, ele não cumprir com suas obriga-
ções, a culpa não foi sua – houve alguma tragédia pessoal, algum cataclisma natural”. 
“Os empregados não devem ficar no escritório do banco, mas na rua, debaixo das ár-
vores, no campo, conversando com os membros do banco, tomadores de empréstimo”. 
Por último: “o empréstimo não deve ser pago em grandes partes, no final do período, mas 
toda semana, pouco a pouco, sem pesar no bolso do tomador”. 
Esta não é uma teoria, é uma realidade de um banco hoje absolutamente rentável, que se au-
to-sustenta com depósitos dos próprios tomadores, com uma grande rotação do seu capitale 
com capacidade de pagar poupanças internas e captar recursos no mercado financeiro. Mais 
importante ainda: nesta nova filosofia, praticamente não há inadimplência, nem cacciolas. 
Neste sistema não há necessidade de benesses do Banco Central e o povo é o benefici-
ário dos recursos financeiros. O Grameen não é apenas um banco para os pobres, é um 
saudável banco para um país saudável. 
Só precisamos que mais gente passe a pensar em uma economia comprometida. Uma 
viagem a Daca, em Bangladesh, para ouvir Yunus, é muito mais útil e mais barato do que 
anos de estudos para conseguir um doutorado em teorias que não se adaptam à realida-
de social dos países pobres”. 
Essa crônica foi escrita nos inícios dos anos 2000, bem antes de Muhammad receber o prê-
mio Nobel da Paz, em 2006. Pela primeira vez um economista recebe este prêmio. Existe 
29
um prêmio Nobel de Economia, mas o Nobel da Paz, Yunus foi o primeiro e único econo-
mista a receber, até os dias de hoje.
Muhammad Yunus esteve no Brasil várias vezes e 
criticou o ‘bolsa família do governo Lula dizendo: 
“dar dinheiro para os pobres mascara a miséria”. 
Segundo ele, o empreendedorismo é uma solução 
mais eficaz do que programas assistencialistas, 
como o Bolsa Família, para reduzir a pobreza. “É 
uma forma de mascarar o problema.”
Tentou mas não conseguiu trazer o seu banco de 
crédito para o Brasil. Hoje vive afastado do banco 
que fundou, dedicando-se a projetos sociais como 
uma companhia que vende painéis de energia so-
lar de baixo custo, uma escola de enfermagem e um hospital oftalmológico.
As últimas informações que temos sobre o banco são dadas pelo próprio Mahammad Yu-
nus numa entrevista recente a José Fucs e Marcos Coronato da revista Época:
“O Grameen foi muito bem. Hoje, 37 anos depois de sua criação, ele se espalhou por todo 
o país. Temos 8,5 milhões de tomadores de empréstimos, 97% dos quais são mulheres. O 
banco empresta cerca de US$ 1,5 bilhão, e a inadimplência é de apenas 3%. Tentamos 
garantir também que as crianças das famílias dos tomadores de crédito frequentem a 
escola e não sejam analfabetas como seus pais – e fomos bem-sucedidos nisso. Elas con-
cluíram o ensino básico, seguiram no ensino médio e algumas foram para a faculdade. 
Além do microcrédito, o Grameen oferece também empréstimos para a educação, para 
cobrir os custos do ensino superior e evitar o abandono de cursos por falta de recursos 
para pagar as mensalidades. A taxa de juros do microcrédito é de 20% ao ano; e a de em-
préstimos para educação, de 5%. O estudante só começa a pagar depois de se formar e 
conseguir um emprego. Hoje, há centenas de milhares de crianças que estão na escola e 
na faculdade com o apoio do Grameen. Elas se tornam médicos, engenheiros e seguem 
outras carreiras”.
Foto retirada do site: http://www.protestoverde.com.br/o-nego-
cio-social-segundo-muhammad-yunus/
Muhammad 
Yunus
(http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2013/06/muhammad-yunus-dar-dinheiro-para-
os-pobres-mascara-miseria.html)
VEJA UM DOS EXCELENTES PROJETOS SOCIAIS
DE MURRAMMAD YUNUS
https://www.youtube.com/watch?v=-V0j31_iXDc
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=58180 - CRISTOVAM BUARQUE, Economia comprometida.
30
ÉTICA DA VIDA
(Curso de Biológicas)
Verifica-se hoje uma verdadeira calamidade fren-
te ao ambiente em que vivemos. Trata-se de: di-
zimação da biodiversidade, desertificação, des-
matamento incontrolado, quimicalização dos 
alimentos, intensificação do efeito estufa, entre 
outros problemas. Recentemente esse tema foi 
objeto de uma carta universal do papa Francisco 
sobre o meio ambiente: Laudato Si. O professor Le-
onardo Boff tem dedicado também várias de suas 
obras para tratar da questão. Dentre elas, esco-
lhemos ‘Ética da vida’ para apresentar uma síntese de suas ideias.
Para onde vai a ecologia?
Assim começa Boff: “Ernest Haeckel, biólogo alemão, criou em 1866 a palavra ecologia e 
definiu-lhe o significado: o estudo do inter-retro-relacionamento de todos os sistemas vivos 
e não vivos entre si e com seu meio ambiente, entendido como uma casa, donde deriva 
a palavra ecologia (oikos, em grego = casa). (...) Ela se dá em quatro formas: ecologia 
ambiental, ecologia social, ecologia mental e a ecologia integral.
Ecologia ambiental – Preocupa-se com o meio ambiente, para que não sofra excessiva desfi-
guração, visando à qualidade de vida, à preservação das espécies em extinção e à perma-
nente renovação do equilíbrio dinâmico, urdidos em milhões e milhões de anos de evolução.
Ecologia social – Não quer apenas o meio ambiente. Quer o ambiente inteiro. Insere o ser 
humano e a sociedade dentro da natureza, como parte diferenciada dela. Segundo essa 
compreensão, a injustiça social se mostra como injustiça ecológica.
Ecologia mental – sustenta que as causas do déficit da terra não se encontram apenas 
no tipo de sociedade que atualmente temos, mas também no tipo de mentalidade que 
vigora, incluindo a profundidade da vida psíquica humana consciente e inconsciente, 
pessoal e arquetípica. A moderna cosmologia nos ensina que tudo tem a ver com tudo, 
em todos os momentos e em todas as circunstâncias.
Ecologia integral – parte de uma nova visão da terra inaugurada pelos astronautas. De lá 
de sua nave espacial a terra aparece como um resplandecente planeta azul e branco 
que cabe na palma da mão. Daquela distância, borram-se as diferenças entre ricos e po-
bres, ocidentais e orientais, neoliberais e socialistas. Todos são igualmente humanos.
A terra é, segundo notáveis cientistas, um superorganismo vivo, denominado gaia. O cris
Foto retirada do site: http://www.portaldevariedades.com.br/
fotos-do-meio-ambiente/meio-ambiente-destruido/
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tianismo é levado a aprofundar a dimensão cósmica que sempre esteve presente na sua 
fé. Deus está em tudo e tudo está em Deus (panenteísmo).
Críticas ao modelo de sociedade e à ecologia
A economia existente atualmente é de corte capitalista; criação de riqueza mediante a 
depredação da natureza. A economia é a economia do crescimento ilimitado.
A natureza é degradada à condição de um simples conjunto de recursos naturais ou ma-
térias-primas disponíveis aos interesses humanos particulares. Os trabalhadores são consi-
derados como recursos humanos ou, pior ainda, material humano.
Não se consegue criar riqueza sem ao mesmo tempo gerar pobreza; é incapaz de gestar 
desenvolvimento econômico sem simultaneamente produzir exploração social.
O modelo de sociedade vigente não favorece a solidariedade, mas sim a concorrência.
Não se consegue produzir riqueza sem simultaneamen-
te produzir degradação ambiental; são agressões eco-
lógicas contra o ser mais complexo da criação, o ser 
humano, sobretudo o pobre e excluído. 
Lenine, em seu último trabalho, apresenta essas ques-
tões em arte musical.
QUEDE ÁGUA - LENINE
A seca avança em Minas, Rio, 
São Paulo
O Nordeste é aqui, agora
No tráfego parado onde me enjaulo
Vejo o tempo que evapora
Meu automóvel novo mal se move
Enquanto no duro barro
No chão rachado da represa onde não chove
Surgem carcaças de carro
Os rios voadores da Iléia
Mal desaguam por aqui
E seca pouco a pouco em cada veia
O Aquífero Guarani
Assim do São Francisco a San Francisco
Um quadro aterra a Terra
Por água, por um córrego, um chovisco
Foto retirada do site: http://deolhonocariri.com.
br/2015/05/14/governo-propoe-alternativas-para-as-100-ci-
dades-mais-afetados-pela-seca/
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Nações entrarão em guerra
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Agora o clima muda tão depressa
Que cada ação é tardia
Que dá paralisia na cabeça
Que é mais do que se previa
Algo que parecia tão distante
Periga, agora tá perto
Flora que verdejava radiante
Desata a virar deserto
O lucro a curto prazo, o corte raso
O agrotóxico, o negócio
A grana a qualquer preço, petro-gaso
Carbo-combustível fóssil
O esgoto de carbono a céu aberto
Na atmosfera, no alto
O rio enterrado e encoberto
Por cimento e por asfalto
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Quandoem razão de toda a ação humana
E de tanta desrazão
A selva não for salva, e se tornar savana
E o mangue, um lixão
Quando minguar o Pantanal e entrar em pane
A Mata Atlântica tão rara
E o mar tomar toda cidade litorânea
E o sertão virar Saara
E todo grande rio virar areia
Sem verão, virar outono
E a água for commoditie alheia
Com seu ônus e seu dono
E a tragédia da seca, da escassez
Cair sobre todos nós
Mas sobretudo sobre os pobres outra vez
Sem terra, teto, nem voz
33
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Agora é encararmos o destino
E salvarmos o que resta
É aprendermos com o nordestino
Que pra seca se adestra
E termos como guias os indígenas
E determos o desmate
E não agirmos que nem alienígenas
No nosso próprio habitat
Que bem maior que o homem é a Terra
A Terra e seu arredor
Que encerra a vida aqui na Terra, não se encerra
A vida, coisa maior
Que não existe onde não existe água
E que há onde há arte
Que nos alaga e nos alegra quando a mágoa
A alma nos parte
Para criarmos alegria pra viver
O que houver para vivermos
Sem esperanças, mas sem desespero
O futuro que tivermos
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Quede água Acompanhe a música
com o artista:
https://www.youtube.com/
watch?v=_qc6-fDMnI8
Uma palavra da teologia
Teologicamente podemos falar de pecado ecológico. Quer dizer, daquelas atitudes que com-
prometem o equilíbrio ecológico e a evolução e que provocam consequências perversas para 
os seres vivos, inclusive para os humanos. Esse pecado ecológico não se restringe apenas ao 
presente. Ele alcança o futuro, pois podem ser feitas intervenções na natureza cujas consequ-
ências se prolongam para além da geração atual, atingindo aqueles que ainda não nasce-
ram. O preceito bíblico ‘não matarás’ abarca também o biocídio e o ecocídio futuros.
34
Por outro lado, é farisaico e injusto que os países ricos do norte exijam atenção ao meio 
ambiente aos países pobres do sul, se não lhes dão condições técnicas que facilitem as 
condições ecológicas. 
As teologias vigentes, entre elas a Teologia da Libertação foram elaboradas sem inserir o 
contexto ambiental. Necessitamos de uma nova cosmologia espiritual, isto é, uma reflexão 
que veja o planeta como um grande sacramento de Deus, como o templo do Espírito San-
to, o lugar da criatividade responsável do ser humano, a morada de todos os seres criados 
no Amor. Ecologia, etimologicamente, tem a ver com morada. (Cf BOFF, 1999, p. 25 a 66).
Críticas do cristianismo ao mercado capitalista
O cristianismo de libertação fez as mais duras críticas ao mercado capitalista por ele ter 
criado o fetichismo da mercadoria e a religião de mercado. Esta religião promete felici-
dade, vida e sentido ao mundo, como as religiões clássicas. Há analogias com a religião.
O dogma fundamental da religião de mercadoria é esse: “o dinheiro tudo pode, move o 
céu e a terra”. A propaganda tem a função de uma evangelização que anuncia as boas 
novas da salvação. Pessoas felizes e bem sucedidas são associadas às mercadorias.
Há mercadorias que são verdadeiros sacramentos. Quem os 
toma (como o cigarro Malboro ou a Coca Cola), enche-se de 
energia, de beleza e de vida. Existe uma autêntica catequese 
com sua didática de persuasão. Moças bonitas e carinhosas 
mostram a milhões de crianças o mundo encantado de pro-
dutos que só o dinheiro é capaz de criar e tornar acessível.
Existe também o culto dominical. Em programas de milhões 
de audiência, as pessoas se sujeitam a situações ridículas ou 
vivem a angústia do tudo ou nada diante de mercadorias 
ou somas de dinheiro quase ao seu alcance. A grande festa anual dessa religião é o Natal. 
É a celebração das mercadorias nos shoppings enfeitados e na ceia natalina, onde deve 
haver comida e bebida à saciedade, como em toda boa 
festa religiosa.
Existem os templos dessa religião, que são os bancos-sede, 
cuja suntuosidade e estilo arquitetônico impressionam o co-
mum dos mortais, impondo até o silêncio reverencial ao se 
entrar ou nas filas dos guichês, como se fossem filas para a 
comunhão eucarística.
Existe também a romaria aos espaços mais carregados de 
significação, que são os grandes shoppings e cidades de 
Foto retirada do site: https://www.flickr.com/pho-
tos/rafallano/2876349531
Foto retirada do site: http://www.pedromigao.com.
br/ourodetolo/2014/01/vamos-a-luta-ta-ruim-ou-ta-
bom/shopping-cheio-natal/
35
consumo, como Manaus, Paris, ou Nova Iorque. Organizam-se viagens a essas terras da 
promissão. Existem os sacerdotes que são os banqueiros e financistas, pois eles prestam o 
maior culto ao dinheiro, fazem-no render.
A religião de mercadoria possui a sua ética, segundo a qual o interesse individual constitui 
a norma geral de comportamento. Assim, por exemplo, o interesse do padeiro não reside 
em saciar a fome das pessoas (interesse social), mas em ganhar dinheiro com a venda do 
pão (interesse privado).
O cristianismo de libertação, na sua crítica ao mercado capitalista e por sua atitude, co-
mete uma heresia, na perspectiva do mercado: faz uma opção pelos pobres, quer dizer, 
por aqueles que são zeros econômicos e perderam no mercado (Idem, p.73 a p. 89).
Pressupostos para uma ética da vida
Entramos na fase em que a vida sofre sua maior ameaça e, ao mesmo tempo em que os 
indicadores apontam para um patamar mais alto da realização da vida: a emergência 
de uma única sociedade mundial; abrem-se novas possibilidade para a expectativa de 
vida. Importa, portanto, garantir a permanência do maior sucesso da cosmogênese: a 
produção e a reprodução da vida.
Não haverá futuro sem a garantia do presente, portanto, é necessário conservar as condi-
ções biossociológicas e espirituais para a realização pessoal e coletiva da espécie humana.
A terra está viva mas doente e contaminada. A solidariedade, a partir de agora não é 
só para o pobres e oprimidos, mas, em primeiro lugar, à Terra como um todo, pois ela 
demanda um cuidado especial para ser curada e poder possibilitar a vida para todos. A 
democracia deve ser não apenas social, mas também cósmica.
Basta tomarmos consciência de que estamos todos dentro de uma única nave espacial, 
a Terra, e de que participamos do mesmo destino para nos convencermos de nossa soli-
dariedade e interdependência”. (Cf. BOFF, 1999, p 101 a 156)
Beto Guedes e Ronaldo Bastos apontam uma saída
Anda, quero te dizer nenhum segredo
Falo desse chão, da nossa casa, vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante, nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor, o pé na terra
A paz na Terra, amor, o sal da...
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Terra, és o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro, tu que és a nave nossa irmã
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com teus frutos, tu que és do homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor
Deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor
Contribuição do cristianismo
“Depois de 500 anos de cristianismo, convém fazermos um breve balanço, na perspectiva 
de seu futuro e da situação mudada da humanidade. Vivemos num momento singular da 
história. Cresce a consciência planetária, consciência de que formamos uma única famí-
lia e de que temos um mesmo destino, associado ao destino do planeta terra.
Nesse processo, a experiência espiritual brasileira poderá ser sig-
nificativa; graças ao cristianismo somos carregados de magia, de 
alegria e de esperança de que tudo, no seu final, existe para brilhar 
e ser feliz. Nisso o cristianismo, mais que uma instituição religiosa, 
emerge como um caminho possível para a plena espiritualização 
do ser humano brasileiro e planetário”. (Cf. BOFF, 1999, p 159 a 170)
Vale completar esse estudocom a leitura da Laudato si’ em algu-
mas partes ou em sua totalidade. Esse documento é uma encíclica 
do Papa Francisco, na qual o pontífice critica o consumismo e de-
senvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e à unifica-
ção global das ações para combater a degradação ambiental e 
as alterações climáticas. 
Link:
http://www.vagal
ume.com.
br/beto-guedes/o-
sal-da-terra.
html#ixzz3oBr5XCg
m
Foto retirada do site: http://www.
opusdei.pt/pt-pt/article/livro-elec-
tronico-laudato-si/
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ECONOMIA COMPROMETIDA
(Administração e Economia voltadas para os mais pobres)
‘Economia comprometida’ é um artigo sobre essa fantástica experiência acontecida em Bangladesh, do professor 
Cristovam Buarque, reitor e professor da UnB, ex-governador do DF pelo PT e autor de vários livros. Assim deixou 
escrito em uma crônica publicada em vários jornais do país:
Você pode imaginar um banco criado para emprestar dinheiro para pobres? Pode tam-
bém imaginar que banco possa emprestar dinheiro sem qualquer garantia? Então conhe-
ça a história de Muhammad Yunus e seu banco de crédito.
“Durante os anos 60 e 70, os países orientais enviaram milhares de jovens para fazer seus 
doutorados nos países ocidentais, e estes enviaram milhares dos seus para buscarem inspi-
ração espiritual no Oriente. Os primeiros esqueceram suas raízes, aprenderam a lição que 
receberam e construíram o desenvolvimento econômico que revolucionou os seus países, 
mas sem reduzir a pobreza e aumentando a desigualdade, destruindo o meio ambiente, 
desarticulando culturas. Os outros voltaram a suas origens, esqueceram o que viram no 
mundo oriental e se transformaram nos dirigentes do mundo global de hoje. 
Mas há exceções. Entre os jovens dos países ricos que foram em busca de inspiração es-
piritual, alguns se mantiveram fiéis, e entre os jovens dos países pobres, alguns voltaram às 
suas origens, adaptaram às suas realidades o que aprenderam nos doutorados, inventa-
ram novas formas de enfrentar os problemas de seus países e estão mudando a realidade 
deles, enfrentando o problema da pobreza. 
Entre estes está Muhammad Yunus, de Bangladesh. No final dos anos 60 e começo dos 70, 
ele foi aluno dos cursos de doutorado em Economia nas universidades americanas. Formado, 
ele se transformou em professor naquelas universidades. Mas, como milhares de outros jovens, 
preferiu voltar, recebeu a tarefa de dirigir novo centro de ensino de Economia em Bangla-
desh. 
Diferentemente dos demais doutores em economia dos países pobres, o jovem Yunus per-
cebeu a pobreza que havia ao redor da Universidade e entendeu que a teoria econô-
mica não estava elaborada para ajudar a enfrentar esse problema. Sensibilizou-se com a 
tragédia que via e agiu para mudar. Para isso, teve que mudar radicalmente tudo o que 
tinha aprendido e inventar um novo sistema de crédito, diferente dos livros: um banco que 
chegasse a quem precisa de dinheiro, e não a quem já tem dinheiro. Hoje, conhecido 
mesmo no Brasil como o banqueiro dos pobres, Yunus pode se orgulhar de ter 2,4 milhões 
de pobres beneficiados pelo seu Grameen Bank.
Graças a isso, ele está provocando um novo fluxo de visitantes ocidentais em direção ao 
Oriente – desta vez, de países pobres para aprenderem em Bangladesh. São dirigentes 
de bancos e outros profissionais em busca de inspiração para, por meio do micro-crédito, 
38
ajudarem os pobres de seus países. Passar uma semana escutando o professor Yunus, no 
seu escritório, na barulhenta e buliçosa cidade de Daca, é ouvir mais do que um criativo 
técnico em sistema bancário: é aprender uma nova maneira de definir as coisas. Não 
adianta ir lá e querer mudar somente algumas pequenas regras de concessão de crédito. 
É preciso mudar a postura na prática bancária. É preciso redefinir os conceitos. 
Para ele, ser pobre não é ter renda abaixo de um certo nível, é não ter acesso a uma lista 
de itens, entre os quais, “garantia de três refeições diárias ao longo de todo o ano, inclusi-
ve durante o período de seca”, “uma casa, com cama e mosquiteiro”, “acesso a serviço 
médico”, “todos os filhos na escola”, “capacidade de pagar um pequeno empréstimo”, 
“dispor de uma pequena poupança, porque, sem garantia de enfrentar dificuldades im-
previstas no futuro, a pessoa é pobre”. 
É uma nova definição, também, ver o acesso ao crédito como um direito humano. Para o 
Yunus, o acesso ao crédito está para o trabalhador de hoje como a terra estava para os 
ex-escravos. Os escravos não foram libertados plenamente porque não receberam terra 
para plantar, hoje uma parte da população continua escrava, se não tiver acesso ao cré-
dito para financiar o uso de seu potencial. 
É para garantir isso que o Banco Grameen oferece crédito até ao mais pobre entre os 
pobres. Mas para isso, ele também teve de mudar o conceito de banco e de empréstimo. 
Para surpresa dos que vão em busca de sua inspiração, micro-crédito não é um emprés-
timo de pouco valor. Micro-crédito é o “empréstimo dirigido ao pobre”, “de preferência 
nas mãos das mulheres”, “sem necessidade de garantias”, “sem condições prévias de 
experiência empresarial de parte do tomador”. Finalmente, Yunus diz que “o que afasta o 
tomador não é valor dos juros, mas a desconfiança e as exigências de garantia.” 
É claro que esta nova definição de pobre e de micro-crédito exigiu novas definições para 
o papel do banco. Onde, “quem toma emprestado não é cliente, é gente, pessoa, que 
merece respeito e não desconfiança”. “O empregado não serve ao banco, mas ao to-
mador, sua lealdade não é com a instituição, mas como gente, pessoas sócias”. “O toma-
dor é, por definição, capaz de fazer o que se propõe, e não alguém que deve buscar no 
banco a inspiração para seu negócio”. “Se, por acaso, ele não cumprir com suas obriga-
ções, a culpa não foi sua – houve alguma tragédia pessoal, algum cataclisma natural”. 
“Os empregados não devem ficar no escritório do banco, mas na rua, debaixo das ár-
vores, no campo, conversando com os membros do banco, tomadores de empréstimo”. 
Por último: “o empréstimo não deve ser pago em grandes partes, no final do período, mas 
toda semana, pouco a pouco, sem pesar no bolso do tomador”. 
Esta não é uma teoria, é uma realidade de um banco hoje absolutamente rentável, que se au-
to-sustenta com depósitos dos próprios tomadores, com uma grande rotação do seu capital e 
39
com capacidade de pagar poupanças internas e captar recursos no mercado financeiro. Mais 
importante ainda: nesta nova filosofia, praticamente não há inadimplência, nem cacciolas. 
Neste sistema não há necessidade de benesses do Banco Central e o povo é o benefici-
ário dos recursos financeiros. O Grameen não é apenas um banco para os pobres, é um 
saudável banco para um país saudável. 
Só precisamos que mais gente passe a pensar em uma economia comprometida. Uma 
viagem a Daca, em Bangladesh, para ouvir Yunus, é muito mais útil e mais barato do que 
anos de estudos para conseguir um doutorado em teorias que não se adaptam à realida-
de social dos países pobres”. 
Essa crônica foi escrita nos inícios dos anos 2000, bem antes de Muhammad receber o prê-
mio Nobel da Paz, em 2006. Pela primeira vez um economista recebe este prêmio. Existe 
um prêmio Nobel de Economia, mas o Nobel da Paz, Yunus foi o primeiro e único econo-
mista a receber, até os dias de hoje.
Muhammad Yunus esteve no Brasil várias vezes e 
criticou o ‘bolsa família do governo Lula dizendo: 
“dar dinheiro para os pobres mascara a miséria”. 
Segundo ele, o empreendedorismo é uma solução 
mais eficaz do que programas assistencialistas, 
como o Bolsa Família, para reduzir a pobreza. “É 
uma forma de mascarar o problema.”
Tentou mas não conseguiu trazer o seu banco de 
crédito para o Brasil. Hoje vive afastado do banco 
que fundou, dedicando-se a projetos sociais como 
uma companhia que vende painéis de energia so-
lar de baixo custo, uma escola de enfermagem e 
um hospital oftalmológico.
As últimas informações que temos sobre o banco são dadas pelopróprio Mahammad Yu-
nus numa entrevista recente a José Fucs e Marcos Coronato da revista Época:
“O Grameen foi muito bem. Hoje, 37 anos depois de sua criação, ele se espalhou por todo 
o país. Temos 8,5 milhões de tomadores de empréstimos, 97% dos quais são mulheres. O 
banco empresta cerca de US$ 1,5 bilhão, e a inadimplência é de apenas 3%. Tentamos 
garantir também que as crianças das famílias dos tomadores de crédito frequentem a 
escola e não sejam analfabetas como seus pais – e fomos bem-sucedidos nisso. Elas con-
cluíram o ensino básico, seguiram no ensino médio e algumas foram para a faculdade. 
Além do microcrédito, o Grameen oferece também empréstimos para a educação, para 
cobrir os custos do ensino superior e evitar o abandono de cursos por falta de recursos 
Foto retirada do site: http://www.protestoverde.com.br/o-nego-
cio-social-segundo-muhammad-yunus/
Muhammad 
Yunus
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para pagar as mensalidades. A taxa de juros do microcrédito é de 20% ao ano; e a de em-
préstimos para educação, de 5%. O estudante só começa a pagar depois de se formar e 
conseguir um emprego. Hoje, há centenas de milhares de crianças que estão na escola e 
na faculdade com o apoio do Grameen. Elas se tornam médicos, engenheiros e seguem 
outras carreiras”.
(http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2013/06/muhammad-yunus-dar-dinheiro-para-
os-pobres-mascara-miseria.html)
VEJA UM DOS EXCELENTES PROJETOS SOCIAIS
DE MURRAMMAD YUNUS
https://www.youtube.com/watch?v=-V0j31_iXDc
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=58180 - CRISTOVAM BUARQUE, Economia comprometida.
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 Capítulo 19 - CIDADANIA, FÉ E LITERATURA EM ARIANO SUASSUNA
(Curso de Letras)
Assim como a música, a literatura brasileira é muito rica em temática sobre cidadania e fé. 
Poder-se-ia trabalhar esse tema de maneira geral abordando diversos autores, de norte a 
sul do país. Preferimos conhecer, trabalhar e estudar o escritor e dramaturgo Ariano Suas-
suna, por ser da Academia Brasileira de Letras e ser também de nossa região. Ariano tem 
uma particularidade: é paraibano de nascimento e tido como pernambucano de fato.
Estrategicamente escolhemos Ariano Suassuna, mas caberia qualquer outro grande es-
critor da literatura brasileira de material melhor e mais abundante que o próprio Ariano. 
Pode-se discutir e definir com os alunos sobre isso; afinal cada leitor tem sua preferência. 
Alguma sugestões: João Cabral de Mello Neto, Dias Gomes, Vinícius de Moraes, Chico 
Buarque e outros.
Para conhecer Ariano, vamos utilizar o texto de Ana Lúcia Santana, disponível na internet.
Ariano: Quem é?
“O dramaturgo, romancista e poeta brasileiro Ariano Vilar 
Suassuna nasceu em João Pessoa, no dia 16 de junho de 
1927, filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna 
e Rita de Cássia Dantas Villar. Seu nascimento coincidiu com 
uma procissão de Corpus Christi na capital paraibana.
Em 1930, aos três anos de idade, perdeu tragicamente o pai, 
vítima de um crime político, no Rio de Janeiro, por apoiar 
o então candidato a vice-presidente na chapa de oposi-
ção liderada por Getúlio Vargas, João Pessoa Cavalcanti de 
Albuquerque, também assassinado. Sua mãe teve que fugir várias vezes com a família, 
perseguida pelos assassinos de seu marido. Ariano Suassuna realizou seus estudos funda-
mentais em Taperoá, sertão da Paraíba, pois aí passou a infância, no Sítio Acauã. Nesta 
região ele teve os primeiros contatos com a cultura popular, presenciando um teatro de 
mamulengos e um desafio de viola.
Em 1942, no início da adolescência, Ariano parte com a família para Recife, onde final-
mente lança raízes. Ele estudou no conhecido Ginásio Pernambucano e depois no Colé-
gio Oswaldo Cruz. No ano de 1946 o jovem Suassuna ingressou na Faculdade de Direito 
de Recife, aí convivendo com escritores, atores, poetas, romancistas e demais aficionados 
por arte e literatura. Conheceu então Hermilo Borba Filho, ao lado de quem fundou o Te-
atro de Estudantes de Pernambuco.
Foto retirada do site: http://estudodigital.xpg.uol.
com.br/ariano.html
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Ele se graduou em Ciências Jurídicas e Sociais em 1950, formando-se também em Filosofia, 
no ano de 1964. Apesar de ser criado como calvinista, tornou-se depois partidário do agnos-
ticismo. Mas foi sua conversão à religião católica que influenciou sem dúvida nenhuma sua 
produção artística. A iniciação no universo literário se deu no dia sete de outubro de 1945, 
ao publicar seu poema ‘Noturno’ no “Jornal do Comércio do Recife”. Sua peça inaugural 
de teatro foi “Uma mulher vestida de sol”, adaptada do romanceiro popular do Nordeste. 
Com esta produção, Ariano conquistou o prêmio Nicolau Carlos Magno, em 1948.
No final da década de 50 ele se casa com Zélia de Andrade Lima, e com ela tem seis fi-
lhos. Nos anos 60 ele institui o Conselho Federal de Cultura, o qual integra de 1967 a 1973, 
e o Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, no qual atua de 1968 a 1972. Em 1970 
ele lança o Movimento Armorial, com a intenção de produzir cultura erudita mesclada à 
cultura popular nordestina, englobando todas as formas de arte – música, dança, literatu-
ra, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras.
Ariano assumiu o cargo de Secretário de Educação e Cultura do Recife de 1975 a 1978. 
Tornou-se Doutor em História, pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1976. No 
final da década de 80, mais precisamente em agosto de 1989, conquistou a cadeira da 
Academia Brasileira de Letras, antes pertencente ao escritor Genolino Amado, sendo em-
possado em maio de 1990.
Sua obra inclui os célebres Auto da Compadecida, adaptado também para a TV e o 
cinema, e A Pedra do Reino, além de O desertor de Princesa (1948); Os homens de barro 
(1949, inédita); Auto de João da Cruz (1949); O arco desabado (1952); O santo e a por-
ca (1957); O casamento suspeitoso (1957); A pena e a lei (1959); Farsa da boa preguiça 
(1960); A caseira e a Catarina (1962). Em 2002 ele se torna tema do enredo da escola de 
samba Império Serrano, no Rio de Janeiro; no ano de 2008 ele é novamente abordado por 
uma Escola Carnavalesca, a Mancha Verde, de São Paulo”. 
Religiosidade de Ariano Suassuna
A seguir, a Ariano expressa sua opinião sobre religião. Como é muito ligado à cultura po-
pular, Ariano apresenta em suas obras aspectos dessa religiosidade. Essa sua fala se en-
contra também publicada em sites da internet.
“Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda 
e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita.
Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do ho-
mem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os 
Ana Lúcia Santana
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-esquerda-e-a-direita-segundo-Ariano-Suassuna/4/31455
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mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila.
Como consequência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para 
o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com 
os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos 
de esquerda e direita.
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, en-
quanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquer-
da. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da 
direita e do povo por ela enganado, na primeira grande “assembleia geral” da história 
moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.
De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cris-
tã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por An-
tônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos “Atos 
dos Apóstolos”, com o de Euclydes da Cunha, em “Os Sertões”.
Escreve o primeiro: “Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudoentre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e 
casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. 
Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade”.
Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: “A pro-
priedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apro-
priação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, 
das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam 
exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia” (isto é, para a comunidade).
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção 
é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; 
quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ên-
fase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita”
Atividades com os escritos de Ariano Suassuna
O Santo e a porca – uma síntese
A peça conta a história de um velho avarento conhecido como Euricão Árabe. O prota-
gonista é devoto de Santo Antônio e guarda as economias de toda a vida numa porca 
de madeira. Ao receber uma carta de Eudoro dizendo que este iria lhe privar de seu mais 
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-esquerda-e-a-direita-segundo-Ariano-Suassuna/4/31455
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precioso tesouro, Euricão fica apreensivo achando que Eudoro irá pedir o dinheiro da por-
ca. Caroba, a empregada da casa, entende a situação: o tesouro à que ele se refere é 
Margarida, filha de Euricão. O fazendeiro deseja casar-se com ela.
Margarida namorava escondido Dodó, filho de Eudoro, Caroba aproveita a situação para 
arranjar um dinheiro e casar-se com Pinhão, seu noivo. A empregada planeja casar Mar-
garida com Dodó, e Benona, irmã de Euricão, com Eudoro, pois os dois haviam sido noivos 
no passado. Primeiro ela inventa que Eudoro irá pedir a mão de Benona em casamento, 
depois se aproveita do medo de Euricão de perder seu dinheiro e combina com ele uma 
comissão para ajudá-lo a tirar 20 contos de Eudoro.
Caroba esconde as meninas no quarto, tranca Dodó com Margarida e se disfarça para 
receber Eudoro como se fosse Margarida. Depois se disfarça de Benona, faz com que Eu-
doro se apaixone novamente pela antiga noiva e o tranca no quarto com ela.
Eurico resolve enterrar a porca no cemitério, mas quando levanta de madrugada para 
pegá-la não a encontra, Pinhão já havia levado a porca para o quarto de Caroba. Ao 
passar pelo quarto de Margarida, vê a filha saindo de lá com Dodó. Como Dodó tenta 
se explicar achando que Euricão está bravo por estarem juntos no quarto, ele começa a 
desconfiar de que o moço roubou sua porca e começam a brigar.
Ao ouvirem a discussão, todos saem dos quartos. Pinhão pede dinheiro a Euricão para 
dizer onde está a porca. Quando a recupera, percebe que o dinheiro guardado não vale 
mais. Os casais se acertam e Euricão termina sozinho com a porca e sem o dinheiro, per-
guntando a Santo Antônio o que aconteceu. 
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-santo-e-a-porca.html
VEJA EM IMAGENS UMA SÍNTESE DA OBRA:
 SANTO E A PORCA
https://www.youtube.com/watch?v=F8CYYCxkqyE
Auto da compadecida – resumo
A primeira peripécia narrativa da peça, o enterro do cachorro, pode ser encontrada em 
diversas obras anteriores, como no cordel “O Dinheiro”, de Leandro Gomes de Barros (1865-
1918). Nesse cordel, um cachorro também deixara uma soma em dinheiro no testamento 
com a condição de que fosse “enterrado em latim”.
As duas próximas peripécias, ambas encontradas na segunda parte da peça (que pode 
ser dividida em três atos), apresentam um gato que supostamente “descome” dinheiro 
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e de um instrumento musical que seria capaz de ressuscitar os 
mortos. Essas duas estruturas narrativas estão no romance de 
cordel “História do Cavalo que Defecava Dinheiro”, também 
de Leandro Gomes de Barros.
Na peça, porém, Suassuna substituiu o cavalo por um gato, 
certamente para facilitar a encenação. Esse é um exemplo de 
como uma necessidade prática pode influir na narrativa, obri-
gando o autor a transformá-la conforme as necessidades im-
postas pela forma de apresentação.
A apropriação da tradição, ao contrário de ser facilitada pela 
tematização prévia, é dificultada, pois, ao imitar, é preciso fazer 
jus a quem se imita, superando-o ou pelo menos igualando-se 
a ele em qualidade e inventividade. No texto de Leandro Gomes, o instrumento musical 
capaz de levantar defuntos era uma rabeca e, em Suassuna, passa a ser uma gaita, pro-
vavelmente também por causa de uma necessidade cênica.
No último ato da peça ocorre o julgamento dos personagens que foram mortos por Seve-
rino de Aracaju, e do próprio Severino, morto por uma facada de João Grilo. É impossível 
não pensar no “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, em que uma série de persona-
gens é julgada por seus atos em terra e tem como juízes um anjo e um demônio. A fonte 
direta de Suassuna, porém, estava mais próxima. É “O Castigo da Soberba”, romance 
popular nordestino, de autoria anônima, no qual a compadecida aparece para salvar 
um grupo de condenados.
Fica patente o cunho de sátira moralizante da peça, que assume uma posição cujo foco 
está na base da pirâmide social, a melhor maneira de desvelar os discursos mentirosos 
das autoridades e integrar os homens e mulheres por meio da compaixão, a qual só os 
desprendidos podem desenvolver. Nesse aspecto, a moral que se depreende da peça é 
muito semelhante à do cristianismo primitivo, que se baseava no preceito “amai-vos uns 
aos outros”. 
Foto retirada do site: http://estudodigital.xpg.
uol.com.br/ariano.html
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/auto-compadecida-resumo-obra-ariano-suassuna-700311.shtml
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Orientações para atividades em sala
Escolher uma das obras mais conhecidas de Ariano Suassuna e fazer 
uma leitura, buscando e observando a dimensão religiosa popular e 
aspectos do sagrado.
Escolher uma cena de algumas de suas obras teatrais e preparar uma 
dramatização em sala. Após a encenação, discutir com os colegas, 
observando aspectos da cidadania e da fé.
Sem se ligar propriamente em uma obra, pode-se pesquisar a face 
religiosa de Ariano, apresentada em suas obras, palestras ou em sua 
arte amorial.
Pode-se também utilizar qualquer outra dinâmica sugerida pelos alu-
nos. Os alunos são muito criativos
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 RELIGIÃO E PSICOLOGIA DE NOSSO POVO
(Curso de Psicologia)
Para conhecer bem os condicionamentos psicológicos de nossa gente é necessário saber 
sua formação na história; requer olhar para trás, é necessário consultar a história da socie-
dade colonial. No passado, a religião era a maior expressão da vida social de nossa gen-
te; para se ter uma ideia, uma festa era uma grande celebração religiosa; praticamente 
não existia diferença entre ser católico e ser brasileiro. Costumava-se dizer na época que 
a religião era “com muito Deus e pouco padre”, ou ainda, de “muito céu e de pouca 
igreja” ou de “muita reza e pouca missa”. Por isso, mesmo com muita religião, a moralida-
de era de muita permissividade (Cf. João Facundes Hauck, pág. 17). Afinal, nosso povo é 
herdeiro de uma religião mais de devoções do que de preceitos. Devoções eram carac-
terísticas da religião do povo. Preceitos, por sua vez, eram características do catolicismo 
oficial, institucional e hierárquico.
Essas práticas religiosas populares eram muito misturadas, pelo fato de serem populares e 
fora do controle da hierarquia, por isso tinham tradições portuguesas, práticas animistas 
de índios e africanos. Tudo parecia estar fora das regras.
“BÊNÇA PAI, BÊNÇA MÃE!”
No tempo colonial da história do Brasil, a família se constituía 
como a instituição mais sólida; parecia uma pequena igreja; 
se a familia era patriarcal era porque a sociedade e a igreja 
também eram. Era na família quese transmitiam a religião, a 
cultura e o caráter. Nessa pequena sociedade se repetia e se 
reproduzia o mesmo mecanismo da sociedade colonial; assim 
o pai fazia o papel do senhor, e a mulher, os filhos e escravos 
eram mantidos à distância. O costume de dar a bênção ao pai 
consagrava o poderio do patriarca da família, sua autoridade 
e senhorio. 
A mulher tinha por função dirigir a casa, sobretudo a cozinha, e 
claro, gerar filhos. Não se costumava ver as mulheres nas ruas, 
mas eram numerosas nas igrejas, eram mantidas longe dos 
olhares dos homens. O costume de as mocinhas andarem de 
braços dados vem dessa época. Os quadros de Debret mos-
tram a mãe assentada, rodeada de escravas, com chicote na mão; a filha tenta, sozinha, 
aprender a ler. Como a Igreja era aberta a todos, tornava-se o lugar de libertação da 
mulher. Dos homens admitia-se a libertinagem, mas da mulher exigia-se total fidelidade.
Foto retirada do site: https://pt.wikipedia.
org/wiki/Fam%C3%ADlia#/media/File:Fran-
cisco_de_Goya_y_Lucientes_053.jpg
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As meninas não tinham adolescência, casavam-se muito cedo, a partir dos 11 ou 12 anos, 
com homens muito mais idosos. “Nas famílias patriarcais de maiores posses o primeiro filho 
era destinado a substituir o pai; o segundo ia estudar na Europa; o terceiro entrava para 
um convento pela idade de quinze anos: a vocação viria depois; fazia-o padre a mãe 
piedosa” (HAUCK, 2008, 59). É por isso que o clero da Igreja no tempo do Brasil Colônia 
levava uma vida de muita permissividade e libertinagem.
PSICOLOGIA RELIGIOSA DO POVO BRASILEIRO
Abaixo traçamos o perfil da psicologia do povo 
brasileiro, no final da época colonial, conforme 
está descrito em Hauck, no livro História da Igre-
ja no Brasil:
“Fruto da mistura de raças tão diferentes, condi-
cionado por fatores geográficos que tornavam 
diferentes os habitantes do litoral e do interior, 
da montanha, do sertão, das margens dos gran-
des rios, do norte e do sul, não se poderia imagi-
nar um perfil único do homem brasileiro. Mas ha-
via fatores que atingiam de modo igual todo o 
país, desenvolvendo características comuns: o 
regime de exploração colonial, a difícil situação 
econômica, o isolamento das grandes distâncias, o transporte difícil, a escravidão, a polí-
tica do colonialismo cultural, com rigorosa censura do pensamento e do comportamento, 
e, finalmente a religião, que era o fator que mais aglutinava o povo brasileiro.
O brasileiro é descrito como de querer débil e muito indolente. Tem uma linguagem, prin-
cipalmente o mineiro, que fala muito sem dizer nada, sem abrir o coração, com medo da 
inconfidência. Fácil de conduzir pelo sentimento, difícil pela força. Predomínio do afetivo, 
do irracional, do místico. Hospitaleiro mas desconfiado e revoltado (...). Individualista, sem 
interesses por empreendimentos da coletividade, tudo espera do governo. Resignado, 
submisso a fatalidades que considera superiores às suas forças. Tendência para a dissolu-
ção das hierarquias sociais. Preocupado com o prestígio social, tão importante na socie-
dade em que vive, na qual é decisiva a influência do apadrinhamento (bença padrim! 
bênça madrinha).
Suas racionalizações são emocionais, e não ideológicas; age por simpatias e antipatias, e 
não por convicções. Gosta de soluções prontas, de resultados imediatos, colhe as frutas 
antes de amadurecerem, é avesso a atividades que exijam constância e disciplina. Não é 
capaz de considerar o trabalho como acesso, como os protestantes dos Estados Unidos: 
Foto retirada do site: http://projetoluzevidamissaoamazonia.blogspot.
com.br/2014/02/o-povo-brasileiro-darcy-ribeiro_2083.html
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é castigo mesmo. Imagina bons planos e projetos, às vezes utópicos, que não se preocu-
pam em executar” (HAUCK, 2008, 70-71).
ALMA RELIGIOSA DO POVO BRASILEIRO
Nosso povo pratica uma religião sob o controle de uma igreja hierárquica. Os atos reli-
giosos são vistos e compreendidos como lei ou obrigação. “Daí a frequência à missa 
dominical ou aos sacramentos eram cumprimento de uma ‘obrigação’ religiosa”; era 
uma ‘lei’ (Idem p. 219). A alma religiosa de nosso povo se manifestava mesmo era nas 
devoções que se expressavam através das santas missões, procissões, novenas, mês de 
maio, 1ª sexta-feira do mês, festa do padroeiro e outras. “Em todos estes atos religiosos 
a alma popular se expressava em duas atitudes justapostas: expiação e festa. O cato-
licismo de nosso povo era profundamente marcado por um caráter penitencial. Este 
sentido de penitência era ainda mais acentuado por ocasião dos grandes ‘castigos’ 
de Deus: secas, epidemias, revoluções, calamidades públicas. A grande seca de 1845 
no nordeste ou as epidemias de cólera morbus foram motivos de muitas procissões de 
penitência, de santas missões, de novenas a São Sebastião para defender da peste, 
fome e guerra” (Idem p. 219).
Partindo dessa descrição, dá 
para se compreender melhor o 
fenômeno do Morro da Concei-
ção, em Recife, no dia 8 de de-
zembro, e o fenômeno das Ro-
marias a Juazeiro do Norte, no 
Ceará. Eis porque pessoas sobem 
o Morro da Conceição se arras-
tando pelo chão ou descalços 
sob sol causticante, ou ainda, 
pessoas ou famílias se aventuram 
a pé pelo sertão cearense para 
pagar promessa em Juazeiro do 
meu Padrinho Pe. Cícero.
Além da expiação, a festa constitui outra manifestação da alma popular. Festa era enten-
dida quando realizada sob a ótica religiosa; se não fosse assim era entendida como festa 
‘mundana’.
As festas eram incentivadas pelos vigários das paróquias porque esse caráter da festa era 
entendido como uma necessidade psicológica. “Era uma espécie de compensação pe-
los duros trabalhos pastorais da monotonia diária” (Idem p. 219).
Foto retirada do site: http://meioambiente.culturamix.com/noticias/crescimento-da-popula-
cao-brasileira
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‘SEJA O QUE DEUS QUISER’
As manifestações da vida cristã estavam centralizadas na cruz, ou seja, no sofrimento. 
O povo identificava os seus sofrimentos com o sofrimento de Cristo na cruz. Havia tam-
bém uma atitude de supervalorização dos atos individuais de piedade (as promessas, por 
exemplo) muito mais que os atos da piedade eclesial. É que os rituais religiosos da Igreja 
oficial pouco exprimiam a alma religiosa do povo. Com frequência se compreendiam os 
atos de sacrifício externo como expressão da vida cristã. Isso explica por que se encon-
tram ainda hoje grupos de penitentes em Juazeiro do Ceará e também no da Bahia que 
se flagelam em portas de cemitérios na sexta-feira da Semana Santa.
E a moral? A moral se centralizava na moral sexual. Era rigorosa frente aos trajes das mu-
lheres, mas não condenava a escravidão dos negros (moral social). Ser cristão católico, 
nessa época, era fazer as devoções pessoais e cumprir o preceito dominical.
Para concluir, evocamos Hauck, que nos fala sobre a “providência divina que na ordem 
natural vinha transferir para Deus o que o homem devia fazer; que esperava de Deus que 
Ele viesse suprir as deficiências humanas. Esperava-se a solução dos problemas humanos 
através dos milagres e de uma salvação extraordinária. Ao mesmo tempo quando não 
vinha esse milagre ou esta salvação extraordinária, caia-se num ‘fatalismo’ conformista: 
‘seja o que Deus quiser’”.
Essa vivência da ‘providência divina’ está retornando agora na Igreja católica através do 
movimento carismático, ou através de líderes como Pe. Marcelo Rossi, Reginaldo Manzoti 
e outros; no cristianismo de linha protestante, nos grupos pentecostais. Como exemplo, se-
gue a música “Noites traiçoeiras”, de Carlos Papae. É um exemplo do que se disse acima.
Foto retirada do site: http://www.namu.com.br/artigos/boecio-providencia-divina-e-o-livre-arbitrio
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NOITES TRAIÇOEIRAS – PE. MARCELO ROSSI E BELO
Deus está aqui neste momento
Sua presença é real em meu viver
Entregue sua vida e seus problemas
Fale com Deus, Ele vai ajudar você
Deus te trouxe aqui
Para aliviar o teu sofrimento
É Ele o autor da Fé
Do princípio ao fim
Em todos os seus tormentosE ainda se vier noites traiçoeiras
Se a cruz pesada for, Cristo estará contigo
O mundo pode até fazer você chorar
Mas Deus te quer sorrindo
Seja qual for o seu problema
Fale com Deus, Ele vai ajudar você
Após a dor vem a alegria
Pois Deus é amor e não te deixará sofrer
Cante com os A
utores:
https://www.youtu
be.com/watch?v=x
V7ZzeBR3oc

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