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APLICAÇÃO DE PERFIL SÔNICO PARA DETERMINAÇÃO DE QUALIDADE DA CIMENTAÇÃO EM POÇOS DE PETRÓLEO Fernando Varjão de Lima Resumo Este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade do cimento, posicionado no espaço entre o tubo de revestimento e a formação aberta, de poços de petróleo e gás tomando como exemplo um poço localizado no recôncavo baiano. Para tal, será feito um estudo da aderência do cimento no revestimento do poço. A literatura afirma que uma zona bem cimentada apresenta um índice de aderência igual ou maior que 80%. Esse parâmetro pode ser estimado a partir da amplitude da onda sonora refletida pelo revestimento. Utilizou -se a ferramenta CBL - Cement Bond Logs (Registro de aderência de cimento) para obter o perfil sônico na zona específica do poço ob jeto de estudo. De posse dos resultados fornecidos pelo CBL e com um modelo matemático implementado em Matlab® foi possível calcular o índice de aderência e avaliar a qualidade de cimentação do poç o objeto de estudo desse trabalho. Os resultados obtidos mostraram valores para este parâmetro, em sua maioria, abaixo de 80% o que está alinhando com a análise exclusiva da amplitude, e com uma concentração na faixa de 10% a 50%. Evidenciando, assim, uma cimentação com baixa eficácia. Portanto, este trabalho motiva estudos futuros, sobretudo no que diz respeito à aplicação do Matlab® como auxílio para a avaliação de outros poços. Palavras Chaves: CBL, Perfil de aderência, cimentação, poços de petróleo. 1. Introdução Um dos grandes desafios da indústria petrolífera está associado à construção de poços, principalmente, em função das dificuldades encontradas na execução de projetos que são cada vez mais complexos [1]. A construção do poço pode ser dividida em duas etapas: perfuração e completação. A perfuração consiste em perfurar o poço atravessando diferentes formações rochosas. Já a fase de completação se dá pela preparação do poço com a instalação de equipamentos, realização de operações e testes de superfície. Na etapa da completação ainda é realizada a cimentação final das paredes de sustentação do poço, por meio do posicionamento da pasta de cimento no espaço anular entre o tubo de revestimento e a formação aberta, até que ocorra a hidratação da pasta. Essa operação assegura a integridade do poço, pois minimiza a frequência problemas como: o desmoronamento das paredes, perda de permeabilidade das rochas devido à invasão de fluidos, o contato entre as zonas, sendo ainda possível corrigir desvios da trajetória do poço. Com a importância da cimentação para o desenvolvimento do poço, existem ferramentas capazes de avaliar a qualidade desse processo. O perfil de aderência de cimento pode ter descrições baseadas em inspeção visual de amostras levadas para a superfície ou medições de grandezas geofísicas, feitas com instrumentos, para formar um perfil do poço [2]. Dentre estas, a ferramenta de perfilagem a CBL - Cement Bond Log do inglês avaliação de aderência do cimento, é uma das mais comuns na indústria. Diante do exposto, percebe-se que é de extrema importância compreender as informações fornecidas por um perfil sônico, pois nelas é possível interpretar a qualidade da cimentação realizada, e a partir daí corrigir possíveis problemas decorridos de uma má cimentação. Nesse contexto o objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade da cimentação de um poço de petróleo a partir da leitura de um perfil sônico CBL. Para isso, inicialmente é apresentado uma breve explanação, sobre o funcionamento da ferramenta CBL. Posteriormente, é abordado, como é realizada a interpretação das informações fornecidas pelo perfil sônico. Em seguida, a implementação do modelo matemático e os resultados obtidos são discorridos. Por fim, realiza-se a conclusão desse artigo. 2. Referencial Teórico Os métodos utilizados para fazer a avaliação da cimentação são os baseados nos perfis sônicos, que utilizam propriedades acústicas do cimento para identificar a presença e qualidade do mesmo. Dentre esses métodos estão os perfis CBL, VDL, Raios Gama e ultrassônico CEL. Tendo o primeiro método sônico de avaliação de cimentação sido desenvolvido por Grosmagin, Kpkesh e Majani em 1961. A ferramenta CBL é mais utilizada dentre os perfis existentes, consiste em um transmissor e receptor espaçados de 3 pés entre si. Com a corrida da ferramenta no poço é fornecido um perfil com a amplitude sonora lida, de acordo com a profundidade. O transmissor é acionado por pulsos elétricos vindos da superfície pelo cabo de perfilagem. Estes pulsos elétricos causam a vibração do transmissor o que, por sua vez, produz pulsos sonoros. O receptor, ao captar pulsos sonoros, vibra produzindo pulsos elétricos que são percebidos na superfície [3]. A energia elétrica é transformada em energia acústica, tem sua medição feita e logo após é novamente transformada em energia elétrica. Conforme Fig. 1 e 2. Figura 1. Esquema de funcionamento da ferramenta CBL. Figura 2. Fluxograma de funcionamento da ferramenta CBL. A onda emitida pelo transmissor é refletida e refratada seguindo a Lei Snell. Partindo desse princípio o ângulo de incidência da mesma varia de 0 a 45º e quando outro material é detectado ocorre mudança na direção de propagação [4]. O receptor recebe o sinal de toda as direções do perímetro circunferencial do revestimento, toda a superfície lateral da extensão do revestimento auxilia para a diminuição da energia acústica ou não, isso significa que o sinal recebido pelo receptor é consequência da situação média da área lateral. Um pulso de alta frequência viaja do transmissor através do fluido dentro do revestimento para a parede do poço. Quando a onda entra em contato com a parede, parte da energia é refratada através do revestimento enquanto a maioria reflete de volta para o receptor. A quantidade refletida versus a refratada é determinada pelo contraste de impedância acústica entre o fluido e o revestimento [5]. O registro da amplitude no receptor, se dá pelo primeiro pico positivo da onda, a presença de cimento leva à pequenas amplitudes, o que interessa para avaliar a qualidade da cimentação é somente a porção positiva deste primeiro ciclo (E1). Os demais ciclos não devem ser medidos [3], conforme a Fig. 3. Figura 3. Trem de ondas mapeado no perfil CBL. A energia do som é dissipada pela pasta de cimento, de tal modo, zonas completamente cimentadas apresentam amplitudes menores que 5 mV (miliVolt). Por outro lado, a má cimentação ou ausência levam a maiores amplitudes. O tempo de transito (ΔT) é o registro em microssegundos para a primeira onda sonora chegar ao receptor e auxilia na leitura da amplitude, indicando se a ferramenta estava bem centralizada, para valores de ΔT constante, ocorrendo variações somente em conexões dos tubos de revestimento. No perfil CBL é apresentado uma escala de leitura pré-determinada de 200 µs a 400 µs, de acordo com o diâmetro e o peso do revestimento. O índice de aderência (“Bond Index” - BI) é um parâmetro utilizado para a avaliação quantitativa da cimentação, já que este fornece em porcentagem a aderência na interface revestimento-cimento, para tal é utilizada a razão entre atenuação acústica da seção em análise e a atenuação da zona bem cimentada. Ø 3,826 in Esse cálculo auxilia na interpretação do perfil do poço, em função das dificuldades de obtenção de dados, limitações e condições. Para isso, exige uma escolha de referência válida para a seção 100% cimentada, o que torna o BI tecnicamente bastante discutível. Mas é a única forma de tentar qualificar a qualidade de cimentação com os perfis CBL [3]. A atenuação na zona bem cimentada deve ser estimada com uma seção de referência. Além de estar próximo a seção em análise, a seção de referênciadeve apresentar mesmo tipo de cimento, formação rochosa e diâmetro de poço aberto, deste modo deve- se evitar que fatores como temperatura e pressão interfiram na interpretação, para isso se corre o CBL pressurizado a cerca de 1000 à 1500 Psi. Além destes, outros fatores podem interferir em um perfil CBL, entre eles estão a espessura da espessura de cimento, a centralização da ferramenta de perfilagem, o diâmetro e peso linear da coluna de revestimento, as propriedades do fluído no poço e o tipo de cimento no anular. 3. Metodologia Para o estudo deste trabalho, um perfil de CBL foi fornecido por uma empresa de prestação de serviços na indústria do petróleo no recôncavo baiano, que por motivos de confidencialidade industrial não será divulgado nome. No perfil fornecido é possível identificar dados do poço, conforme tabela 1: Tabela 1. Dados do poço Data 01/março/2016 Profundidade perfurada 4200 m Densidade do fluido 8,14 lb/gal Nível de fluido Cheio Zona de interesse 2170 à 2750 m Diâmetro da broca 8,5” Diâmetro do poço aberto 8,5” Diâmetro do revestimento do intervalo 7” Topo do cimento Indefinido Desta forma o cimento a ser avaliado está contido neste espaço anular. Na ferramenta de perfilagem utilizada neste estudo apresenta um conjunto que acompanha outros testes realizados simultaneamente, como Gamma Ray e VDL, conforme Fig. 4. Além disso, é possível identificar o posicionamento do CBL a 3,79 metros do topo da ferramenta de perfilagem, seu comprimento de 4,81 metros, o diâmetro 3,826 in e os centralizadores. Figura 4. Diagrama do conjunto ferramenta. É possível estimar a amplitude do revestimento livre com base no diâmetro e no peso do revestimento, sendo assim no caso apresentado a amplitude para o revestimento sem cimento é de 62,17 mV [3]. Estas informações estão expressas na tabela a seguir. Tabela 2. Amplitude lida e qualidade da cimentação Amplitude Qualidade 0 – 5 mV Cimentação excelente. 5 – 10 mV Cimentação aceitável. 10 – 62,17 mV Zona mal cimentada. Acima de 62,17 Ausência de cimento. Conforme a literatura, valores para uma cimentação excelente, são menores que 5 mV, mas a prática no campo considera uma amplitude de 10 mV aceitável. Ressalta-se que mesmo com excelente cimentação se a pasta for muito jovem e ainda não desenvolveu impedância e resistência acústica, ou se a pasta for muito leve, o que não é o caso estudado, pode apresentar valores maiores que 5mV de amplitude. O índice de aderência (BI) para avaliar a cimentação, é calculado pela Eq. 1. BI Atx Atx100% (1) 8,70 m Cable Head Ø 3,826 in Centralizer Ø 12,000 in GTET. Ø 3,826 in Centralizer CBL Centralizer Ø 12,000 in Ø 3,826 in CCL-D 0,0 m 0,1 m 7,51 m 8,12 m Bull Nose Ø 2,76 in Ø 3,625 in Ø 12,000 in 4,91 m Comprimento Diagrama Descrição O.D. A indústria considera um BI de 0,8 (80%) propício ao isolamento[3]. A atenuação da seção analisada Atx pode ser calculado conforme Eq. 2 e a atenuação para a zona 100% cimentada Atx100% pela Eq. 3. Atx 20 log Ax (2) L Arl Atx100% 20 log A100 (3) L Arl Do perfil sônico, foram obtidos os valores das amplitudes conforme sua profundidade, e utilizados como dados de entrada no modelo implementado utilizando as equações 1, 2 e 3, no software Matlab®. 4. Resultados A leitura da amplitude do perfil na zona de interesse para a primeira corrida sem pressão da ferramenta evidencia uma cimentação ruim conforme a Fig. 5. Observa-se que na primeira faixa é exibida a curva em azul o tempo de trânsito, já a amplitude é exibida na segunda curva, (azul) em escala normal de 0 a 100 mV e curva vermelha em escala amplificada de 0 a 20 mV, mantendo-se acima de 10 mV, esse comportamento se estende por toda a zona de perfilada (2500-2750). Diante deste primeiro resultado, o perfil apresenta a corrida repetida para a perfilagem da zona de interesse sem pressão, a fim de verificar quaisquer variações de leitura, porém os valores se mantiveram os mesmos, indicando que a corrida repetida está coerente com a primeira corrida sem pressão como mostra as Fig. 5 e 6. O que não significa que a cimentação está adequada. Figura 5. Perfil CBL sem pressão 1, nas profundidades de 2710 a 2750 m. Figura 6. Perfil CBL sem pressão 2, nas profundidades de 2710 a 2750 m. Ainda é apresentado a corrida principal com pressão a 1000Psi conforme Fig. 7, para detectar a existência de micro anular ou canalização. Micro anular é uma folga entre o revestimento e a espessura de cimento, influenciando na resposta do perfil. Já que essa folga dificulta a passagem do sinal acústico, o que pode indicar erroneamente a existência de uma má cimentação. A canalização ocorre quando existe cimento em volta do revestimento, porém não preenche todo espaço anular, sugerindo canais normalmente ocupados por fluido de perfuração. A pressão de 1000 Psi leva a expansão dos tubos de revestimento, diminuindo ou eliminando a folga do micro anular, de modo que grandes variações na resposta do perfil indicam a ocorrência do micro anular, por outro lado pequenas variações ou não variações indicam a canalização. Mesmo com a existência do micro anel há o isolamento hidráulico do cimento, enquanto a canalização não o promove, o que aponta para uma cimentação deficiente. Figura 7. Perfil CBL com pressão a 1000 Psi, nas profundidades de 2710 a 2750 m. Salienta-se que a leitura exclusiva da amplitude, leva às interpretações incertas, por isso a necessidade da análise do tempo de trânsito e do BI. O perfil estudado apresentou valor constante para ΔT de 230 µs, ocorrendo variação, somente nas conexões do revestimento, isso para as três corridas da ferramenta. O que indica que a ferramenta estava bem centralizada. Para o cálculo do BI, os dados foram divididos de acordo com o perfil, primeira corrida sem pressão, corrida repetida sem pressão e corrida principal com pressão de 1000 Psi. A atenuação acústica da zona analisada, foi determinada com dados do perfil, conforme Eq. 1. Já a atenuação da zona bem cimentada foi estimada em 7,94 db/ft, a partir da menor amplitude lida do perfil tida como referência: 4 mV na profundidade de 2593 m. De posse destas informações foi plotado um gráfico, relacionando cada profundidade com seu índice de aderência. Figura 8. Índice de aderência para primeira corrida sem pressão. A plotagem do gráfico para a primeira corrida da ferramenta sem pressão na zona de interesse de 2710 a 2750 m é apresentada, conforme Fig. 8. Percebe-se que as curvas do índice de aderência não ultrapassam a linha vermelha pontilhada dos 80%, variando entre 10 e 70%, com concentração entre 10 e 50%. Isso indica que em nenhum ponto da seção analisada existe uma zona bem cimentada. Na Fig. 9 é possível observar o gráfico contendo as três curvas: primeira corrida sem pressão, repetida sem pressão e corrida principal com pressão de 1000 Psi. Foi observado que a variação entres as curvas sem pressão e com pressão de 1000 Psi, é pequena, sendo a variação menor ainda quando comparadas as curvas 1 e 2 sem pressão. Portanto não há a existência de um micro anular, mas pode existir uma canalização. Os valores do BI abaixo do 80% estão condizentes aos valores da amplitude acima de 10 mV, sendo assim, não há vedação hidráulica do poço estudado. Figura 9. Índice de aderência para as três corridas do CBL Quando analisada toda a zona perfilada de 2500 a 2750 metros, alguns pontos apresentam BI satisfatório, com BI máximo de 100% na seção tomada como referência a 2593 m de profundidade. 5. Conclusão Informações sobre a cimentação e aderênciado cimento ao revestimento, fazem parte do mapeamento da segurança do poço e são minuciosamente buscadas pelas empresas do setor de produção e exploração de petróleo e gás. Sendo assim esse trabalho tem como finalidade avaliar a qualidade da cimentação de um poço de petróleo e gás no recôncavo baiano. Os resultados obtidos para este caso, tanto a partir da análise da amplitude quanto da análise dos índices de aderência indicam uma cimentação deficiente, quando apresenta para BI, valores abaixo de 80%. Portanto para se garantir uma boa vedação hidráulica do poço em estudo, é recomendado realizar uma operação de recimentação para correção do problema. Diante do exposto, este trabalho motiva estudos futuros, sobretudo no que diz respeito à aplicação do Matlab® para auxilio nas interpretações da qualidade da cimentação. Nomenclatura BI – Índice de aderência. ATx – Atenuação da seção analisada (dp/ft). At100% – Atenuação da seção 100% cimentada (dp/ft). L – Espaçamento entre o transmissor e o receptor (ft). Ax – Amplitude obtida na seção considerada (mV). Arl – Amplitude obtida na seção livre – (mV). Referências [1] THOMAS J. E et al. 2001, “Fundamentos de engenharia de petróleo”, 2ª edição, Editora Interciência, Rio de Janeiro, Brasil. [2] ELLIS DV & SINGER JM. 2008, “Well Logging for Earth Scientists.” Springer, The Netherlands, 2 ed. [3] LEPELEIRE, R. 2005, “Perfis de Avaliação de Cimentação”, E&P-Serv/Us -Po/Sp – Sercim. [4] PEREIRA, E. S. 2010, “Avaliação da aderência em estruturas tubulares metálicas revestida com material cimentício sob esforços estáticos e dinâmicos”. Universidade Federal da Paraíba, Paraíba. [5] HAYDEN, R. et al. 2011, “Case Studies in Evaluation of Cement with Wireline Logs in a Deep Water Environment”, Colorado Springs, USA. [6] NÓBREGA, M. et al. 2010, “Estudo Experimental para Avaliação de Aderência em Amostras Compostas de Tubo Metálico Revestido por Pasta de Cimento Usando Testes de Vibração”. [7] RIBEIRO, D. B. 2001, “Utilização de nanosílica como aditivo estendedor para pastas cimentadas de baixa densidade destinadas à cimentação de poços petrolíferos”. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Norte. [8] RENPU, W. 2011. “Engenharia de Completação de Poços.” Rio de Janeiro, 3 ed. [9] RUSSO, S. et al. 2010. “Avaliação de Perfis Sônicos Sintéticos em Poços de Petróleo Perfurados nas Unidades Geológicas Pertencentes a Bacia Sedimentar Sergipe-Alagoas”. Revista Gestão Industrial. p. 217-238. [1 0] SMOLEN, J. 1995 “Cased Hole and Production Log Evaluation.” Tulsa, Oklahoma. p. 162-171.
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