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CENTRO UNIVERSITARIO UNIVERITAS MEDICINA VETERINARIA GUILHERME FELIPE A RODRIGUES – 01332983 GABRIELA VIROSES DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Vacinas BELO HORIZONTE 2021 Sumário Tecnologia de Vacinas Modernas ........................................................................................................... 3 Antígenos Gerados por Clonagem Gênica (Categoria I) ...................................................................... 3 Organismos Geneticamente Atenuados (Categoria II) ....................................................................... 4 Organismos Vivos Recombinantes (Categoria III) ............................................................................... 5 Vacinas de Polinucleotídeos (Categoria IV) ......................................................................................... 8 Estratégias de Sensibilização e Reforço (Prime- Boost) .................................................................. 9 Vacinologia Reversa .......................................................................................................................... 10 Características de um bom antígeno .................................................................................................... 11 Tipos de vacinas .................................................................................................................................... 11 Vacinas replicativas ............................................................................................................................... 12 Vacinas com vírus patogênico ........................................................................................................... 12 Vacinas com vírus de espécie heteróloga ......................................................................................... 12 Vacinas com vírus atenuado ............................................................................................................. 12 Vírus naturalmente atenuado ....................................................................................................... 12 Atenuação por passagens em cultivo celular ................................................................................ 12 Atenuação por passagens em ovos embrionados............................................................................. 13 Atenuação por passagens em espécie heteróloga ............................................................................ 13 Vírus temperatura-sensíveis (TS) ...................................................................................................... 13 Vírus atenuados por deleção de genes ............................................................................................. 13 Vírus com marcadores antigênicos ................................................................................................... 13 Vetores vacinais .................................................................................................................................... 13 Vacinas não-replicativas ........................................................................................................................ 13 Vacinas com vírus inativado .............................................................................................................. 13 Vacinas de subunidades virais ........................................................................................................... 14 Vacinas de proteínas recombinantes ................................................................................................ 14 Vacinas de peptídeos sintéticos ........................................................................................................ 14 Vacinas de DNA e RNA .......................................................................................................................... 14 Vacinas monovalentes e polivalentes ................................................................................................... 14 Resposta imune celular ......................................................................................................................... 15 Resposta imune humoral ...................................................................................................................... 15 Referência bibliográfica......................................................................................................................... 17 Tecnologia de Vacinas Modernas Embora tanto as vacinas vivas modificadas quanto as inativadas tenham demonstrado sucesso no controle de várias doenças infecciosas, é sempre necessário torná-las mais eficazes, baratas e seguras. O uso de técnicas moleculares modernas pode produzir vacinas novas e melhoradas. Estas vacinas podem ser divididas em diversas categorias. Classificação do USDA para Produtos Biológicos Veterinários Desenvolvidos por Engenharia Genética I Vacinas que contêm organismos recombinantes inativados ou antígenos purificados derivados de organismos recombinantes. II Vacinas contendo organismos vivos que contenham deleções gênicas ou genes heterólogos marcadores. III Vacinas que contêm vetores de expressão ativos expressando genes heterólogos para antígenos imunizantes ou outros estimulantes. IV Outras vacinas geneticamente modificadas, como vacinas de polinucleotídeos. Antígenos Gerados por Clonagem Gênica (Categoria I) A clonagem gênica pode ser utilizada na produção de grandes quantidades de antígeno purificado de cultivo. Neste processo, o DNA que codifica para um antígeno de interesse é, primeiramente, isolado do patógeno. Este DNA é inserido em uma bactéria ou levedura, de forma que o gene seja funcional e expresse o antígeno recombinante em grandes quantidades. A primeira aplicação bem-sucedida da clonagem gênica para a preparação de um antígeno desta forma envolveu o vírus da febre aftosa, o qual é extremamente simples. O antígeno protetor (VP1) é bem conhecido e os genes que codificam para essa proteína foram mapeados. O genoma do RNA do vírus da febre aftosa foi isolado e transcrito em DNA pela enzima transcriptase reversa. O DNA foi, em seguida, cuidadosamente clivado por endonucleares de restrição, de forma que contivesse apenas o gene para o VP1. Este DNA, então, foi inserido em um plasmídeo inserido em uma E. coli e as bactérias foram cultivadas. As bactérias sintetizaram grandes quantidades de VP1, o qual foi recuperado, purificado e incorporado a uma vacina. O processo é altamente eficaz, uma vez que 4 × 10 7 doses da vacina contra a febre aftosa podem ser obtidas a partir de 10 L de E. coli cultivados a 10 12 organismos por mililitro. Infelizmente, a imunidade produzida é inferior à gerada pelo vírus inativado, exigindo uma dose 1.000 vezes maior para a indução de uma proteção equivalente. Organismos Geneticamente Atenuados (Categoria II) A atenuação por meio de cultura prolongada em tecidos pode ser considerada uma forma primitiva de engenharia genética. O resultado desejado é o desenvolvimento de uma cepa do organismo que seja incapaz de causar a doença. Este pode ser um objetivo difícil de atingir, e sempre existe o risco de reversão da virulência. As técnicas de genética molecular, no entanto, possibilitam a modificação de genes de um organismo, de tal forma que ele se torne irreversivelmente atenuado. Eles são classificados como vacinas da categoria II. Estas vacinas estão disponíveis contra o herpesvírus causador da doença de Aujeszky em suínos. A enzima timidina quinase (TK) é necessária para que os herpesvírus se repliquem em células indivisíveis, como os neurônios. Os vírus dos quais o gene TK foi removido podem infectar células nervosas, mas não podem se replicar nem causar a doença. Como resultado, essas vacinas, além de conferiremproteção eficaz, também bloqueiam a invasão celular por vírus da doença de Aujeszky, prevenindo o desenvolvimento de um estado de portador persistente. Organismos Vivos Recombinantes (Categoria III) Os genes que codificam para antígenos proteicos podem ser clonados diretamente em uma variedade de organismos. Em vez do antígeno purificado, o próprio organismo recombinante pode ser utilizado como vacina. Estes organismos são classificados como vacinas da categoria III. As vacinas recombinantes experimentais têm utilizado como vetores adenovírus, herpesvírus e bactérias como BCG ou Salmonella, entretanto, os organismos mais empregados para este propósito são poxvírus, como vaccínia, avipoxvírus e canaripox. Estes vírus são facilmente administrados por raspagem cutânea ou por ingestão. Possuem genomas extensos e estáveis, o que torna a inserção de um novo gene relativamente fácil (até 10% de seu genoma pode ser substituído por DNA exógeno), e podem expressar concentrações elevadas do novo antígeno. Além disso, as proteínas recombinantes são submetidas a etapas adequadas de processamento, incluindo a glicosilação e o transporte através da membrana do poxvírus. Os poxvírus aviários, como canaripox, são vetores especialmente efetivos em mamíferos. Eles não se replicam e a expressão de antígeno dura apenas cerca de 6 horas. Como resultado, estas vacinas são muito seguras, não podem ser transmitidas por artrópodes e não são excretadas nos fluidos corporais. É interessante destacar que não estimulam imunidade no vetor viral, característica que ocorre na utilização de outros vetores e que pode evitar imunizações subsequentes. Vacinas vetorizadas com canaripox muitas vezes são capazes de ultrapassar o bloqueio de anticorpos maternos, primando animais jovens. Elas não conseguem reverter-se a virulentas novamente. Em consequência, vacinas vetorizadas com canaripox são amplamente utilizadas para doenças como leucemia felina, vírus do Nilo Ocidental, parvovirose canina, cinomose, influenza equina e raiva. Outro exemplo de uma vacina viva recombinante é a vacina antirrábica vetorizada com vaccínia. O gene da glicoproteína do envelope da raiva, ou proteína G, é inserido no vírus vaccínia. A glicoproteína é o único antígeno da raiva capaz de induzir anticorpos neutralizantes contra o vírus, conferindo proteção contra a doença. A infecção pela vacina antirrábica de vaccínia recombinante resulta na produção de anticorpos contra a proteína G, levando ao desenvolvimento da imunidade. Essa vacina obteve sucesso quando administrada por via oral, por meio de iscas, a carnívoros selvagens. Esta forma de vacina pode ser distribuída a partir de aeronaves. Assim, na Bélgica, a vacina oral contra a raiva, lançada por via aérea, exterminou efetivamente a raiva em raposas espalhadas pelas Ardenas. A vacina foi utilizada em Ontário para prevenir a disseminação da raiva em raposas; em Nova Jersey, para prevenir a disseminação da raiva em guaxinins, e no Texas, para bloquear a disseminação da raiva em coiotes. Por exemplo, desde 1995, 17,5 milhões de doses da vacina antirrábica vetorizada com vaccínia foram lançados por via aérea ao longo de 661.745 km2 do Texas com grande sucesso. Custo-Benefício da Vacinação A raiva é uma doença cara. Se um animal não vacinado morde um humano, os custos incluem os da vacinação pós-exposição da vítima, bem como a quarentena ou a eutanásia do animal. O cérebro do animal deve ser examinado para a presença do vírus. Estes custos, é claro, não levam em consideração o estresse e a preocupação associada à doença. No Texas, a vacinação aérea, pela distribuição de iscas alimentares contendo a vacina vetorizada antirrábica, tem sido empregada para imunizar coiotes contra a raiva. O total de gastos com o programa inclui: vacinas, alimentos, aviões, combustível, e assim por diante. Os benefícios foram economias associadas à profilaxia humana pós- exposição e aos testes para a raiva animal na área afetada. Foi calculado que o programa de vacinação contra a raiva custou cerca de U$ 26 milhões. Os benefícios foram estimados entre U$ 89 e U$ 346 milhões! Dependendo da frequência de profilaxia pós-exposição e testes em animais, a relação custo-benefício variou de 3,38 a 33,13. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Shwiff SA, Kirkpatrick KN, Sterner RT: Economic evaluation of an oral rabies vaccination program for control of a domestic dog-coyote rabies epizootic: 1995-2006, J Am Vet Med Assoc 233: 1736–1741, 2008. Vacinas de Polinucleotídeos (Categoria IV) Outro método de vacinação envolve a injeção, não de um antígeno proteico, mas do DNA que codifica para antígenos estranhos. Por exemplo, o DNA que codifica para o antígeno de uma vacina pode ser inserido em um plasmídeo bacteriano, ou seja, uma sequência de DNA circular que atua como vetor. O gene do antígeno vacinal é inserido sob o controle de uma sequência promotora forte em mamíferos. Quando o plasmídeo modificado geneticamente é injetado em um animal por via intramuscular, ele é incorporado pelas células do hospedeiro. O DNA, então, é transcrito em mRNA e traduzido em uma proteína vacinal endógena. O plasmídeo, ao contrário dos vetores virais, não pode se replicar em células de mamíferos. O conhecimento já adquirido tem demonstrado que a incorporação do plasmídeo é aprimorada com o uso de alguns “adjuvantes”, que podem incluir complexos lipídicos, microcápsulas e copolímeros não iônicos. O fosfato de alumínio parece particularmente efetivo na melhoria da eficácia vacinal. As células do hospedeiro transfectadas processam a proteína vacinal e apresentam-na, como um antígeno endógeno, associada a moléculas do MHC classe I. Isso leva ao desenvolvimento de não apenas anticorpos neutralizantes, mas também de linfócitos T citotóxicos, uma vez que o antígeno é endógeno. Os antígenos expressos apresentam modificações pós-traducionais e estruturas terciárias adequadas, como a glicosilação. A resposta imunológica também é acentuada devido ao fato de que o DNA bacteriano contém motivos CpG não metilados, os quais são reconhecidos pelo receptor do tipo toll 9 (TLR9) e ativam células dendríticas. Esta ativação, por sua vez, promove uma intensa resposta Th1. Esse tipo de vacina é utilizado para proteger equinos contra a infecção pelo vírus do Nilo Ocidental. A vacina comercial consiste em um vetor plasmidial construído para expressar altas concentrações das proteínas do envelope viral (E) e pré-membrana (prM). Além disso, o plasmídeo contém promotores e genes marcadores. Quando injetado, combinado a um adjuvante oleoso biodegradável, o plasmídeo penetra nas células, levando-as a expressar a proteína viral. Uma segunda vacina de DNA foi aprovada para prevenção da necrose hematopoiética infecciosa em salmões no Atlântico. Outra vacina de DNA aprovada destina-se ao tratamento de cães com câncer letal, o melanoma. Os animais vacinados têm o tempo de vida prolongado significativamente. Estratégias de Sensibilização e Reforço (Prime- Boost) Há muito tempo costuma-se utilizar exatamente a mesma vacina para a primeira imunização do animal e para o reforço da resposta imunológica. A abordagem apresenta diversas vantagens, como a simplicidade na fabricação e regulamentação para produzir as vacinas. Entretanto, não há razão que impeça a utilização de diferentes formas de uma vacina na primeira imunização e no reforço. Esta abordagem é conhecida como estratégia de sensibilização (prime) e reforço (boost). Em determinadas circunstâncias, a técnica pode resultar na melhoria significativa da eficácia vacinal. De certa forma, o protocolo de sensibilização e reforço é empírico e os pesquisadores podem simplesmente testar várias combinações de vacinas para determinar qual atinge os melhoresresultados. A estratégia de sensibilização e reforço vem sendo amplamente investigada na tentativa de melhorar a eficácia das vacinas de DNA. Em geral, as combinações envolvem a sensibilização com uma vacina de DNA, porém o reforço é com outra vacina de DNA, talvez administrada com outro vetor, ou com antígenos proteicos recombinantes. Vacinologia Reversa Com a atual disponibilidade de genomas microbianos completos, é possível identificar todas as proteínas de um patógeno por análise computacional. A análise pode ser utilizada para a seleção de potenciais epitopos protetores deste repertório. Isto pode levar à identificação de antígenos específicos ou desconhecidos, que podem ser testados experimentalmente – um processo denominado vacinologia reversa. Os procedimentos envolvidos incluem o sequenciamento completo dos antígenos de interesse, seguido pela identificação dos epitopos importantes, especialmente os que se ligam a moléculas de MHC e são preferencialmente reconhecidos por linfócitos T CD4+ e CD8+. A predição dos epitopos pode ser realizada por modelos computacionais para proteínas ou pelo uso de anticorpos monoclonais que identifiquem componentes essenciais à proteção. Uma vez identificados, os epitopos protetores podem ser sintetizados quimicamente e testados em animais. As vacinas experimentais de linfócitos T têm sido desenvolvidas desta forma contra os vírus da febre aftosa, o parvovírus canino e o da influenza A. Características de um bom antígeno Uma molécula para ser reconhecida pelo sistema imune têm que ter características diferentes daquelas presentes no hospedeiro. Se a molécula for idêntica a alguma outra, presente no hospedeiro, será mais difícil induzir uma resposta. Este reconhecimento depende, inclusive, da distância filogenética entre o hospedeiro e a molécula estranha. Por exemplo, os seres humanos reconhecem bem antígenos bacterianos e virais porque na escala filogenética existe uma grande distância entre estas espécies, aumentando as diferenças presentes nas suas moléculas. A molécula para serem reconhecidas precisam ter um tamanho que permita que após o processamento, por células fagocíticas, ainda apresentem um tamanho mínimo para serem apresentadas para os linfócitos T. Moléculas de baixo peso molecular tais como a insulina (5.700 daltons) e as histonas (6.000 daltons) atuam como háptenos enquanto que a toxina ou o toxóide tetânico possuem peso molecular aproximado de 10.500 daltons e atuam como ótimos antígenos. Bons antígenos normalmente são proteicos e pesam acima de 10.000 daltons. Além do tamanho, a molécula para ser imunogênica precisa ter uma estrutura primária que permita um melhor reconhecimento e isso depende da complexidade da sua estrutura básica. Uma proteína é formada por aminoácidos que de acordo com a sua sequência formam diferentes determinantes antigênicos propiciando uma resposta mais ampla. Os polissacarídeos complexos podem ter uma estrutura que também propicia uma boa resposta. As proteínas quando se associam a açúcares, lipídeos ou ácidos nucleicos formando, respectivamente, glicoproteínas, lipoproteínas ou ribonucleoproteínas também propiciam uma boa ativação dos linfócitos. A configuração espacial de uma molécula é importante porque um anticorpo reconhece não apenas a sequência de aminoácidos mas também a sua configuração espacial. Tipos de vacinas Diferentes tipos de vacina contra vírus estão licenciados para uso veterinário, sendo a maioria composta por vírus inativados ou por vírus vivos atenuados. A utilização de novas tecnologias, principalmente envolvendo a manipulação genética (tecnologia de DNA recombinante), tem originado inúmeros estudos e expectativas no surgimento de novas opções de vacinas. Algumas vacinas recombinantes já estão no mercado, enquanto várias outras estão em fase de desenvolvimento ou de testes. Para algumas dessas vacinas, no entanto, muitos estudos ainda são necessários para a comprovação de sua segurança e eficácia; motivo pelo qual ainda possuem pouca participação no mercado veterinário. Por outro lado, algumas vacinas produzidas por métodos clássicos, há décadas, ainda conservam o seu espaço devido à sua efi cácia e segurança. Vacinas autógenas de uso individual, produzidas com material coletado do animal a ser vacinado, são ainda uma das melhores formas de controle da papilomatose bovina e canina, demonstrando maior eficiência se comparadas com outros tipos de vacinas. Os diferentes tipos de vacinas contra vírus, já licenciadas ou ainda em fase de desenvolvimento, estão apresentados na tabela. Vacinas replicativas Vacinas com vírus patogênico Em casos específicos, os próprios vírus com potencial patogênico, sem atenuação ou tratamento prévio, podem ser utilizados como vacina. Vacinas com vírus de espécie heteróloga Alguns vírus, que são antigenicamente relacionados com outros vírus, podem ser utilizados para induzir imunidade em determinadas espécies nas quais não causam doença. Vacinas com vírus atenuado Vírus que apresentam maior patogenicidade e virulência precisam ser submetidos a procedimentos específicos para reduzir o seu potencial patogênico e viabilizar a sua utilização como vacinas replicativas. Do contrário podem produzir doença e, até mesmo, mortalidade nos animais vacinados. Vírus naturalmente atenuado Determinadas cepas virais são naturalmente pouco virulentas e, assim, podem ser utilizadas em vacinas vivas sem a necessidade de atenuação prévia. Um exemplo está na utilização de vírus dos sorotipos 2 e 3 do vírus da doença de Marek, para proteger os pintos contra o sorotipo 1 oncogênico. Atenuação por passagens em cultivo celular Utilizada na profilaxia da varicela, a vacina resultante é capaz de induzir uma forte imunidade frente ao vírus sem produzir sinais clínicos nos indivíduos vacinados, ou seja, o vírus vacinal é desprovido de patogenicidade e virulência, propriedades que caracterizam a atenuação viral. Atenuação por passagens em ovos embrionados A realização de múltiplas passagens em embriões de galinha também tem sido utilizada como forma de se atenuar vírus para uso em vacinas. Esse procedimento pode ser utilizado tanto para vírus de aves como para vírus de mamíferos que replicam em embriões de galinha. Atenuação por passagens em espécie heteróloga Os vírus destinados para uso em vacinas também podem ser atenuados por múltiplas passagens em uma espécie heteróloga, geralmente animais de laboratório (coelhos, camundongos, cobaias). Vírus temperatura-sensíveis (TS) Vírus atenuados para uso em vacinas podem também ser obtidos pela seleção de variantes que apresentam capacidade limitada de replicar sob temperatura corporal (37°C), mas que replicam com eficiência sob temperaturas mais baixas (30- 33°C). Vírus atenuados por deleção de genes Quando os genes envolvidos na virulência de um vírus são conhecidos, é possível introduzir alterações direcionadas no genoma viral através de manipulação genética. Vacinas deletadas são obtidas pela remoção ou inativação de genes relacionados com a virulência, utilizando técnicas de DNA recombinante. Vírus com marcadores antigênicos Vacinas com marcadores antigênicos – também denominadas vacinas diferenciais – são aquelas que induzem uma resposta sorológica nos animais vacinados que pode ser distinguida da resposta à infecção natural. Vetores vacinais Vírus natural ou artificialmente atenuados podem ser utilizados para carrear um ou mais genes que codificam antígenos virais imunoprotetores de outros vírus. Esses vírus funcionam, assim, como vetores vivos para a imunização de animais. O gene de interesse pode ser inserido no genoma do vírus vetor por manipulação genética. O resultado é um microorganismo recombinante que expressa as suas próprias proteínas e também a proteína heteróloga. Como consequência, a vacinação com estevírus induz resposta imunológica contra as proteínas do vetor e também contra a proteína do vírus heterólogo. Vacinas não-replicativas Vacinas com vírus inativado Vacinas inativadas, também chamadas de vacinas mortas, são obtidas a partir do vírus infectivo original, que passa pela eliminação irreversível da sua infectividade por métodos físicos ou químicos. São, portanto, vacinas compostas de partículas víricas íntegras, porém inertes e sem capacidade replicativa. Vacinas de subunidades virais O sistema imunológico – por meio de suas células e moléculas – não reconhece a estrutura completa do vírus. Ao contrário, reconhece e interage com pequenas regiões das proteínas que compõem as partículas víricas. Essas regiões, que na realidade são determinadas sequências de aminoácidos, são denominadas epitopos ou determinantes antigênicos. Vacinas de proteínas recombinantes A base dessas vacinas é semelhante às anteriores, com a diferença que a proteína viral de interesse não é extraída dos vírions, e sim produzida em organismos recombinantes. O gene de interesse é removido do vírus e inserido no genoma de bactérias ou leveduras, que passam a produzir a proteína em grande quantidade, possibilitando a sua purificação e administração na forma de vacina. Vacinas de peptídeos sintéticos Por maior que seja a molécula do antígeno, somente alguns epitopos são importantes para o reconhecimento pelos linfócitos B e indução da resposta imunológica. Assim, os epitopos virais, que são bem conhecidos e caracterizados por apresentarem maior capacidade imunoprotetora, podem ser sintetizados em laboratório, resultando em uma vacina de peptídeos sintéticos. Ou seja, essas vacinas contêm apenas as sequências de aminoácidos correspondentes aos epitopos relevantes, produzidas sinteticamente em laboratório. Vacinas de DNA e RNA A elaboração de uma vacina de DNA necessita a identificação prévia de um gene que codifica uma determinada proteína imunodominante e indutora de resposta protetora, o qual é inserido em um plasmídeo de expressão. Esse plasmídeo, que serve como vetor vacinal, contém um promotor eucariótico forte e um marcador de seleção para a produção do DNA em grande escala em bactérias. Uma grande quantidade desses plasmídeos é produzida em E. coli, sendo, então, purificada e inoculada no hospedeiro. Uma vez no organismo hospedeiro, o DNA é transportado até o núcleo das células locais, onde o gene será transcrito, a proteína produzida e, posteriormente, apresentada ao sistema imunológico. O resultado é a estimulação de resposta imunológica humoral e celular contra esta proteína e, como consequência, contra o vírus que a possui em sua estrutura. As vias de administração mais utilizadas para as vacinas de DNA são a intramuscular e a intradérmica, através das quais os plasmídeos podem ser injetados associados a lipídeos catiônicos ou através da metodologia de balística (gene-gun). Vacinas monovalentes e polivalentes Várias vacinas de uso humano e animal contêm antígenos de mais de um vírus – e também de bactérias – em sua formulação. O objetivo de se formular vacinas di-, tri-, tetra- ou polivalentes é o de facilitar o manejo da vacinação, ou seja, imunizar os animais contra vários patógenos em apenas uma ocasião. Dentre as vacinas multivalentes, podem-se mencionar dois tipos, de acordo com o objetivo e abrangência: a) vacinas multivalentes direcionadas contra síndromes clínicas definidas; b) vacinas multivalentes direcionadas contra vírus não-relacionados, mas que são prevalentes na população. Resposta imune celular A resposta imune específica mediada por células é representada pela atividade dos linfócitos T, pois a participação das demais células (macrófagos, DCs e células NK) faz parte da resposta inata e ocorre de forma inespecífica. Os mecanismos efetores dos linfócitos Th e Tc são distintos. Os linfócitos Th modulam a resposta imunológica através das citocinas, que agem estimulando e modulando a atividade de uma variedade de células do sistema imune. Os linfócitos Tc possuem a função precípua de identificar e destruir células infectadas por vírus. Na resposta imune celular, as moléculas de reconhecimento ficam aderidas a membrana dos linfócitos T. Os linfócitos sensibilizados são efetores nos casos de: Hipersensibilidade do tipo tardia Rejeição de transplantes (em parte) Reação do transplante contra o receptor Resistência por parte dos tumores Imunidade contra inúmeros agentes bacterianos e virais (sobretudo intracelular) Certas alergias medicamentosas Certas doenças auto-imunes Nos fenomenos de citotoxicidade e MLR Esse tipo de imunidade pode ser transferido a um animal não imunizado através de injeção de células sensibilizadas e não através do soro ou plasma. Resposta imune humoral A resposta específica humoral é mediada pelas imunoglobulinas (Igs), popularmente conhecidas como anticorpos. As Igs são produzidas e secretadas pelos plasmócitos, que são células originadas da proliferação e diferenciação dos linfócitos B em resposta a antígenos. As Igs apresentam cinco classes principais, com estrutura e funções diferentes: IgG, IgM, IgA, IgE e IgD. Imunoglobulinas das classes IgM e IgD são também encontradas na superfície dos linfócitos B, onde servem de receptores (BCRs) para o reconhecimento de antígenos por essas células. Classe Sub-classes Cadeia Pesada Cadeia Leve IgG IgG1 IgG2 IgG3 IgG4 g 1 g 2 g 3 g 4 Kappa/Lambda IgA IgA1 IgA2 a 1 a 2 Kappa/Lambda IgM IgM1 (?) IgM2 (?) m 1 m 2 Kappa/Lambda IgD - d Kappa/Lambda IgE - e Kappa/Lambda O efeito das Ig podem ser benéficas (anticorpos protegendo contra inumeros microrganismos infecciosos, toxinas...) ou maléficas (alergias, anafilaxia...). Os anticorpos podem recobrir certas células ou aindas agir em conjunto com o sistema complemente permitindo a distruição da célula (citólise). Referência bibliográfica Virologia do Eduardo Flores; Tizard de Imunologia Veterinária; Aula de antígenos do Professor Flávio Gimenis – D.Sc flaviogimenis@micro.ufrj.br; Faculdade de Ciências Médicas Universidade Estadual de Campinas (www.fcm.unicamp.br); mailto:flaviogimenis@micro.ufrj.br http://www.fcm.unicamp.br/
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