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Enfrentando a Psicopatia no Sistema Penal Brasileiro

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA 
SETOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO DE DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS 
 
 
 
 
 
KATIUSCIA ROCKENBACH 
 
 
 
ENFRENTANDO A PSICOPATIA NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PONTA GROSSA 
2016 
KATIUSCIA ROCKENBACH 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENFRENTANDO A PSICOPATIA NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito na Universidade Estadual de 
Ponta Grossa. 
Orientador: Prof. Me. José Jairo Baluta 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PONTA GROSSA 
2016 
KATIUSCIA ROCKENBACH 
 
 
 
ENFRENTANDO A PSICOPATIA NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção 
do título de Bacharel em Direito na Universidade Estadual de Ponta Grossa. 
 
 
Ponta Grossa, 14 de outubro de 2016. 
 
 
Prof. Me. José Jairo Baluta – Orientador 
Mestre em Direito das Relações Sociais 
Universidade Estadual de Ponta Grossa 
 
 
Profa. Dra. Dirceia Moreira 
Doutora em Direito 
Universidade Estadual de Ponta Grossa 
 
 
Cirlene Felde 
Especialista em Psicologia 
Instituto de Ensino Superior Sant’Ana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico a todas as pessoas e suas famílias que, 
infelizmente, foram vítimas nas mãos de quem julga 
serem seus interesses mais importantes que a vida 
e a integridade física e emocional do próximo. 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Célio José Rockenbach e 
Marcia Teresinha Rauber Rockenbach, pela minha vida, pela minha maravilhosa 
criação, pelo apoio material e afetivo tão essencial que sempre me deram para atingir 
meus objetivos. Amo muito vocês. 
 
Agradeço aos meus amigos estranhos, Camila Bueno, Jean Sauka, 
Jennifer Eslompo, Laura Melo, Mayara Scheffer e Vanessa Janoni, que me 
acompanham na vida, em todos os momentos, sejam bons ou ruins, também sempre 
me dando o apoio e ajuda necessários, e pela compreensão nos meus momentos de 
ausência. Amo muito vocês. 
 
Agradeço aos meus amigos e futuros colegas de profissão, Aurora 
Cappelletti, Bruna Godoy, Jaqueline Kasteller, Marina Rodrigues, Wanessa Starke, 
Wesley Bueno e William Hilgemberg, responsáveis por tornar prazerosa a trajetória 
árdua de uma graduação. Amo muito vocês. 
 
Agradeço a todos os professores que passaram pela minha vida 
estudantil, pela sua dedicação ao magistério, pois cada um, de uma maneira ou outra, 
teve grande influência na minha formação. Admiro muito vocês. 
 
Agradeço, por fim, às mulheres militantes do Feminismo, pois, não 
fosse por elas, meu direito à educação superior não existiria. We can do it! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Depois que o medo e o terror do que fiz se foram, o 
que levou um mês ou dois, eu comecei mais uma vez. 
Eu sentia uma espécie de fome, eu não sei como 
descrevê-la, uma compulsão e eu apenas continuei 
fazendo, fazendo e fazendo novamente, sempre que a 
oportunidade aparecia. 
(Jeffrey Dahmer) 
RESUMO 
O presente trabalho, a partir de uma pesquisa bibliográfica, teve como objetivo 
evidenciar as características psicológicas e comportamentais particulares da pessoa 
que apresenta o transtorno da personalidade antissocial (em especial, a de grau grave 
que incide em crimes como homicídio e estupro) frente ao criminoso imputável e 
inimputável. Em seguida, realizou-se um breve estudo sobre alguns aspectos do 
direito penal, como a culpabilidade, a imputabilidade e quais penas são impostas aos 
psicopatas infratores. A fim de proporcionar maior palpabilidade no assunto, discorreu-
se acerca de 4 casos concretos de psicopatas assassinos brasileiros (2 deles também 
estupradores) que chocaram a sociedade com seus crimes de extrema crueldade para 
com suas vítimas. Por fim, tendo em mente a análise inicial do protagonista deste 
trabalho, verificou-se uma carência de legislação específica para o trato destes 
personagens no sistema penal brasileiro, uma vez que devem ser considerados 
imputáveis, porém necessitam de uma atenção psicológica na sua punição, algo que 
não acontece fora das medidas de segurança, sanções estas aplicadas somente aos 
inimputáveis e, facultativamente, aos semi-imputáveis. O trabalho também aponta 
possíveis propostas alternativas de punições/tratamento que, após o devido estudo 
de viabilidade, poderiam ser implementadas na legislação penal individualizada aos 
psicopatas. 
Palavras-chave: psicopatia, transtorno de personalidade, crime, imputabilidade, 
tratamento, punição, medida de segurança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 9 
1 A PSICOPATIA E O PSICOPATA .................................................................................. 11 
1.1 A PSICOPATIA ............................................................................................................ 11 
1.1.1 Transtorno ou doença mental? .......................................................................... 13 
1.1.2 Transtorno nato ou desenvolvido? .................................................................... 14 
1.2 O PSICOPATA ............................................................................................................. 18 
1.2.1 Características do psicopata .............................................................................. 19 
1.2.2 O psicopata criminoso e as punições ............................................................... 22 
1.3 TRATAMENTOS .......................................................................................................... 25 
2 O PSICOPATA NO ÂMBITO JURÍDICO ....................................................................... 27 
2.1 DA CULPABILIDADE E IMPUTABILIDADE ........................................................... 27 
2.2 PERÍCIA MÉDICA ....................................................................................................... 28 
3 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS ............................................................................. 31 
3.1 FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA – “MANÍACO DO PARQUE” ....................... 31 
3.2 PEDRO RODRIGUES FILHO – “PEDRINHO MATADOR” .................................. 32 
3.3 ROBERTO APARECIDO ALVES CARDOSO – “CHAMPINHA” ......................... 34 
3.4 FRANCISCO DA COSTA ROCHA – “CHICO PICADINHO” ................................ 36 
4 A REAÇÃO DO SISTEMA PENAL AO PSICOPATA CRIMINOSO ......................... 38 
4.1 PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ........................................................................ 38 
4.2 MEDIDAS DE SEGURANÇA .................................................................................... 39 
4.2.1 Disposições gerais ............................................................................................... 39 
4.2.2 Espécies ................................................................................................................. 42 
4.2.3 Duração .................................................................................................................. 43 
4.3 MEDIDAS DE SEGURANÇA APLICADA AO PSICOPATA ................................. 45 
4.4 LEGISLAÇÃO ADEQUADA AO PSICOPATA ........................................................ 48 
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 50 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
Em nosso cotidiano, convivemos com os mais diferentes tipos de 
pessoas. Algumas são visivelmente instáveis psicologicamente e devemos ter cuidado 
ao interagir com elas. No entanto, os que mais impõem umaameaça são aqueles que 
achamos que conhecemos bem, mas escondem uma mente profundamente cruel por 
trás de uma aparência relativamente normal, e são capazes de provocar o mal ao 
próximo sem qualquer remorso. 
Estes são os chamados psicopatas e, apesar de serem apenas de 1 
a 4% da população mundial1, já causaram terror a muitas pessoas, algumas ainda 
vivas, outras não, pelos horríveis crimes que cometeram. 
Psicopatas não são pessoas acometidas por doença, mas, sim, por 
um transtorno mental, que os impossibilita de sentir empatia ou amor pelo próximo. 
Eles têm personalidades perversas e impulsivas, a maioria é altamente inteligente e 
sedutora, capazes de manipular qualquer um a fazer o que eles queiram. Nem todos 
são criminosos, mas alguns tornam-se os assassinos mais frios e violentos 
conhecidos. Porém, de maneira alguma eles perdem noção do que é errado e o que 
é certo, eles simplesmente não se importam se estão cometendo algum crime ou se 
estão machucando alguém. A punição, como uma pena privativa de liberdade, não os 
ensina a não delinquir, pois eles não aprendem com castigo. 
Por todas suas características, pode se dizer que o psicopata se 
encontra na linha divisória entre a sanidade e insanidade mental. Assim, objetiva-se 
neste trabalho o questionamento se o Sistema Penal brasileiro atual é suficiente para 
enfrentar adequadamente estes indivíduos, justificando-se na necessidade de que se 
haja uma tentativa real de reabilitá-los para o retorno ao convívio social. 
No primeiro capítulo, abordaremos as questões psicológicas acerca 
do transtorno mental da psicopatia a fim de conhecermos bem quais são suas 
características que os diferem de outras pessoas consideradas normais e daquelas 
consideradas doentes mentais. 
 
1 SABBATINI, Renato M. E. O Cérebro do Psicopata. Disponível em: 
<http://www.cerebromente.org.br/n07/doencas/index_p.html>. Acesso em: 12 out. 2016. 
10 
 
Em seguida, no segundo capítulo, trataremos das questões jurídicas 
relacionadas ao psicopata, explicando a culpabilidade e a imputabilidade no Direito 
Penal, e onde o psicopata se insere nestes institutos. Também ressaltamos a 
importância do exame psiquiátrico do réu para que seja imposta a sanção penal 
adequada. 
No terceiro capítulo, foram trazidos casos reais de psicopatas 
homicidas brasileiros com a finalidade de analisar esse transtorno mais 
concretamente e também ponderar a respeito das sanções aplicadas a cada um. 
Por fim, no quarto capítulo, demos enfoque no modo como o Sistema 
Penal brasileiro reage frente ao psicopata homicida, de que maneira o classifica em 
relação à imputabilidade e quais sanções são impostas a estes indivíduos. Ainda, 
ressaltou-se a importância da formulação de uma legislação específica que enfrente 
adequadamente o psicopata criminoso, principalmente o homicida e agressor sexual. 
 
 
 
11 
 
1 A PSICOPATIA E O PSICOPATA 
1.1 A PSICOPATIA 
Antes que o transtorno de personalidade mais conhecido como 
psicopatia começasse a ser estudado propriamente, ele já havia sido retratado em 
obras literárias, como no romance Billy Budd, publicado 30 anos após a morte de seu 
autor, Herman Melville (mesmo escritor de Moby Dick), em 1924, onde o personagem 
John Claggart é um homem de aparência amável que possui uma essência maligna.2 
O termo “psicopatia” foi começando a ser desenhado no século XIX, 
quando o psicólogo alemão Koch3, em 1888, passa a falar em “Inferioridades 
Psicopáticas” com a seguinte conceituação: 
São psicopáticas as personalidades anormais, cuja anormalidade consiste 
especificamente em anomalias do temperamento e do caráter, que 
determinam uma conduta anormal e configuram uma minusvalia social. 
 
Entretanto, foi o psiquiatra alemão Kurt Schneider4 em 1923 quem 
difundiu o conceito de psicopata mais amplamente, como sendo aquelas 
personalidades que em “função do caráter anormal de sua personalidade, mais ou 
menos marcadas segundo as situações, as coloca, em todas as circunstâncias, em 
conflitos externos e internos”. Ainda de acordo com Schneider: “As personalidades 
psicopáticas são personalidades anormais, cujo caráter anormal lhes faz sofrer ou faz 
sofrer a sociedade”. 
Em 1941, Harvey Cleckley5 apresentou uma concepção abrangente 
da psicopatia em seu livro A máscara da sanidade onde identificou 16 características 
diferentes que definem ou compõem o perfil clínico do psicopata, as quais serão 
abordadas posteriormente. 
 
2 SCHECHTER, Harold. Serial Killers, anatomia do mal. Tradução: Lucas Magdiel. Rio de Janeiro: 
Dark Side Books, 2013, p. 28. 
3 MARANHÃO, Odon Ramos. Psicologia do Crime. 2.ed.6.tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 
2012, p. 79. 
4 MARANHÃO, loc. cit. 
5 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 92. 
12 
 
Tal estudo por Cleckley foi a base para boa parte do trabalho mais 
recente de Robert Hare6, um dos principais especialistas em psicopatia moderna e 
autor do método de diagnóstico mais frequentemente utilizado para este transtorno de 
personalidade, o Psychopathy Checklist-Revised (Escala de Hare). Em 1996, Hare 
definiu a psicopatia como um “transtorno socialmente devastador, sendo que os 
psicopatas são predadores dentro da própria espécie” (grifo nosso).7 
Atualmente, a psicopatia é utilizada para designar uma forma 
específica de transtorno de personalidade antissocial (TPA), a qual pode ser 
diagnosticada de acordo com os critérios do DSM-IV TR (Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria)8, quais 
sejam: 
Um padrão global de desrespeito e violação de direitos alheios, que 
ocorre desde os 15 anos, indicado por, no mínimo, três (ou mais) dos 
seguintes critérios: 
1. Incapacidade de se adequar às normas sociais com relação a 
comportamentos lícitos, indicada pela execução repetida de atos que 
constituem motivo de detenção; 
2. Propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar 
nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou 
prazer; 
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro; 
4. Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais 
ou agressões físicas; 
5. Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; 
6. Irresponsabilidade consistente, indicada por constante fracasso em 
manter um comportamento laboral consistente ou em honrar 
obrigações financeiras; e 
7. Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por 
ter ferido, maltratado ou roubado alguém. 
 
6 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 93. 
7 Ibid., p. 92. 
8 HUSS, loc. cit. 
13 
 
Nota-se que a psicopatia nem sempre se iguala ao comportamento 
criminal. Devido ao conhecimento popular, quando pensamos no termo psicopata logo 
nos vem à cabeça a imagem de assassinos em série retratados em filmes, porém, o 
portador do transtorno da personalidade antissocial pode não ser um assassino, nem 
mesmo um criminoso de outro gênero. Entretanto, neste trabalho, é o psicopata 
infrator que nos interessa estudar, em especial o homicida e/ou agressor sexual. 
 
1.1.1 Transtorno ou doença mental? 
O termo psicopatia costumava ser utilizado como uma designação 
genérica para doenças mentais9, uma vez que a palavra “psicopata” foi composta a 
partir do grego PSYKHÉ (mente, alma) mais PATHOS (sofrimento), formada no século 
XIX do alemão psychopatisch. 
No entanto, atualmente a psicopatia por si só não é considerada uma 
doença mental, tendo sido identificada em 1998 como o primeiro transtorno de 
personalidade aser reconhecido e, também é utilizada para designar uma forma 
específica de Transtorno da Personalidade Antissocial (TPA), como citado 
anteriormente.10 
As pessoas portadoras deste transtorno sabem a diferença entre o 
certo e o errado. São pessoas racionais, muitas vezes altamente inteligentes e alguns 
conseguem ser também bastante sedutores, sabendo geralmente disfarçar seu 
distúrbio de forma a parecerem “normais”. 
De acordo com Cleckley11, os psicopatas produzem uma linguagem 
tecnicamente correta que mascara ou esconde os seus déficits emocionais 
subjacentes, além de que uma das características que compõem o perfil clínico do 
psicopata, segundo Cleckley, é a ausência de delírios ou sinais de pensamento 
ilógico, visto que não apresentam traços de psicose de qualquer tipo12. Tudo isso é 
fator indicativo de que psicopatas não se encaixam na categoria de doentes mentais. 
 
9 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 91. 
10 HUSS, loc. cit. 
11 Ibid., p. 103. 
12 MARANHÃO, Odon Ramos. Psicologia do Crime. 2.ed.6.tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 
2012, p. 87. 
14 
 
Diferentemente do neurótico, o psicopata não apresenta ansiedade e 
angústia. Já do psicótico, o psicopata se diferencia por não perder contato com a 
realidade ou sua própria identidade, e também não passa por delírios, alucinações e 
transtornos de conduta severos. O paranoico sofre de delírio crônico e sistemático 
enquanto o psicopata manipula a realidade, mas não a cria. O esquizofrênico também 
apresenta alucinações e delírios, algo que não faz parte do transtorno da psicopatia.13 
Esta comparação revela-se importante para o debate acerca de 
culpabilidade, imputabilidade e qual sanção é mais adequada na ocorrência de 
infração penal, como veremos mais a frente. 
 
1.1.2 Transtorno nato ou desenvolvido? 
Um dos grandes debates acerca da psicopatia diz respeito ao seu 
surgimento nos indivíduos. Até o presente momento não se sabe definitivamente quais 
são as causas da sua origem ou desenvolvimento, sendo que há quem aposte nos 
fatores genéticos associados à influência do meio familiar e social em que a criança, 
em sua 1ª, 2ª e 3ª infância foi formada. Por outro lado, há também os que acreditam 
que este transtorno de personalidade se desenvolva independentemente de qualquer 
um desses fatores. É difícil obter qualquer tipo de explicação definitiva quando existem 
tantos elementos aleatórios e incognoscíveis que interferem no desenvolvimento de 
um indivíduo. 
Para Robert Hare14, a psicopatia não está relacionada a um tipo 
específico de passado família ou experiências precoces, “mas o tipo de experiência 
vivenciada moldará muito do futuro comportamento do indivíduo, inclusive no tocante 
ao grau de violência e agressividade”. 
Na obra Serial Killers, anatomia do mal de Harold Schechter15, são 
descritas várias prováveis causas para a formação de um assassino em série 
(psicopatas homicidas geralmente com motivações sexuais por trás de seus crimes), 
 
13 GARCIA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos; 
introdução às bases criminológicas da Lei 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais 
Criminais.7.ed.ref.atual.ampl. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 255. 
14 GRECO, Rogério (Coord.). Medicina legal à luz do direito penal e do direito processual 
penal. 11.ed.rev.ampl.atual. Niterói: Impetus, 2013, p. 177. 
15 SCHECHTER, Harold. Serial Killers, anatomia do mal. Tradução: Lucas Magdiel. Rio de Janeiro: 
Dark Side Books, 2013, p. 251 - 284. 
15 
 
vale citar algumas delas que podem ter relação com a formação de psicopatas em 
geral: 
- Danos cerebrais: casos de graves lesões na cabeça são 
surpreendentemente comuns na infância de assassinos em série. Gary Heidnik16, por 
exemplo, sofreu uma lesão tão grave quando era jovem ao cair de uma árvore que 
seu crânio ficou permanentemente deformado. Arthur Shawcross17 sofreu pelo menos 
quatro lesões graves na cabeça durante a juventude que o deixaram com cicatrizes 
no cérebro e um cisto no lóbulo temporal. 
 A grande frequência de lesões cerebrais nestes indivíduos fez com 
que pesquisadores apontassem este como um fator-chave no desenvolvimento de 
psicopatas homicidas, isto porque muitos comportamentos associados às relações 
sociais são controlados pelo lobo frontal, que está localizado na parte mais anterior 
dos hemisférios cerebrais. Inclusive, existem muitos exemplos de pessoas que 
adquiriram transtorno da personalidade devido a lesões patológicas do cérebro, tais 
como tumores.18 
Porém, o dano cerebral, por si só, não seria suficiente causa para a 
psicopatia, visto que também é comumente identificado na vida desses psicopatas 
homicidas uma criação muito abusiva. 
- Abuso infantil: Shawcross passou por diversas violências na sua 
infância. Seu vizinho o molestava com frequência e também foi sodomizado com um 
cabo de vassoura aos dez anos de idade. O pai de Heidnik, por sua vez, humilhava-o 
sistematicamente, exibindo em público os lençóis manchados de urina sempre que 
Gary molhava a cama. Apesar dos problemas neurológicos serem frequentemente um 
fator relevante na formação de um psicopata homicida, também os abusos e maus-
tratos na infância são quase que universais em seus históricos familiares. O 
 
16 Gary Heidnik foi um psicopata norte americano que manteve um total de 6 mulheres reféns em sua 
casa, estuprando-as e torturando-as, duas delas vindo a falecer. 
17 Arthur Shawcross assassinou brutalmente uma série de prostitutas no norte do estado de Nova 
York, Estados Unidos, e costumava consumir parte de seus corpos. 
18 SABBATINI, Renato M. E. O Cérebro do Psicopata. Disponível em: 
<http://www.cerebromente.org.br/n07/doencas/index_p.html>. Acesso em 03 ago. 2016. 
16 
 
psicoterapeuta paulista, Roberto Ziemer19, defende a tese de que todo assassino 
perverso sofreu alguma forma de abuso na infância. 
Pesquisas científicas recentes demonstram que uma criação 
traumática pode efetivamente alterar a anatomia do cérebro de uma pessoa, mais 
especificamente em regiões do córtex (relacionadas não só à inteligência, mas 
também às emoções). Tomografias cerebrais realizadas em crianças que sofreram 
abusos graves revelaram que estas áreas do córtex nunca se desenvolveram 
adequadamente, deixando-as incapazes de sentir empatia por outros seres humanos. 
Tal criação pode fazer surtir a psicopatia violenta ainda durante a 
infância e juventude, como no caso de Mary Bell, uma precoce assassina que aos 10 
anos estrangulou até a morte duas crianças de 3 e 4 anos de idade, em 1968. A mãe 
de Mary, que era prostituta, participou na tortura sexual de sua filha, entre outros 
maus-tratos, segurando-a enquanto seus clientes a estupravam oralmente. 
- “Semente do mal”: a expressão “semente do mal” diz respeito à ideia 
de que uma criança profundamente psicopata pode crescer em um lar normal, estável 
e amoroso, ou seja, ela já nasce má. Porém, tal pensamento não possui evidência no 
mundo real, uma vez que praticamente todos os psicopatas assassinos são produtos 
de ambientes nitidamente disfuncionais. 
- Genes ruins: descobertas científicas recentes parecem confirmar 
que personalidades gravemente antissociais são, pelo menos em parte, produto de 
fatores genéticos. Sabe-se que pais amorosos, comunicativos e capazes de exercer 
autoridade conseguem passar uma boa criação aos filhos. Essas características dos 
pais, porém, podem ser fruto da hereditariedade que também serão passadas aos 
filhos, resultando em uma pessoa sem o transtorno da personalidade antissocial. 
Assim, o contrário também seria verdade, ou seja, pais que não são capazes de 
proporcionaruma boa criação aos filhos, colaborando para uma infância abusiva, 
podem ter passado seus “genes ruins” para os filhos que eventualmente se tornam 
psicopatas. 
 
 
19 MENTE QUE MATA. São Paulo: Abril, n. 175, 2002. Disponível em: 
<http://super.abril.com.br/ciencia/mente-que-mata>. Acesso em: 03 ago. 2016. 
17 
 
Odon Ramos Maranhão20, propõe o reconhecimento de dois tipos de 
personalidades: a delinquente e a psicopática. A primeira seria fruto de um desvio do 
caráter proveniente de um ambiente deficitário onde o sujeito incorpora maus valores 
ou, reagindo a um abandono, torna-se adverso à estrutura social, sendo, porém, 
capaz de aprender pela experiência, ou seja, são “mal formados porque não tiveram 
a oportunidade de ser bem formados”. 
Já no caso da personalidade psicopática, Maranhão crê que o sujeito 
nasce com um defeito no caráter que o impede de incorporar as experiências vividas 
e o incapacita de integrar grupos e efetivar um plano de vida. Aqui o sujeito não é mal 
formado, mas sim, mal constituído. Ainda, afirma que até hoje não se afastou a 
causalidade biológico-constitucional como causa da origem da psicopatia. 
Nessa mesma lógica, Huss21 cita evidências de bases fisiológicas e 
neurobiológicas que distinguem psicopatas de não psicopatas, analisando o 
funcionamento de seus cérebros. Um estudo com Tomografia Computadorizada por 
Emissão de Fóton Único, a qual mapeava a atividade cerebral em tempo real, onde 
mostravam palavras emocionais e neutras aos participantes, revelou que o córtex 
cerebral dos psicopatas “é menos ativo, e que a ativação está em grande parte 
confinada ao córtex occipital, enquanto os não psicopatas apresentaram muito mais 
atividade nos outros córtex cerebrais”22. Isso sugere que psicopatas somente 
processam as informações visualmente (usando o lobo occipital), sem ligação com 
uma reação emocional. 
Vários outros estudos23 utilizando técnicas de mapeamento, como a 
Ressonância Magnética Funcional, apoiam esta noção de que partes do cérebro não 
são utilizadas pelos psicopatas ao processar estímulos emocionais. 
Segundo Sabbatini24, a psicopatia é um transtorno multideterminado, 
resultado de uma somatória dos fatores biológicos, sociais e psicológicos. Por esta 
 
20 MARANHÃO, Odon Ramos. Psicologia do Crime. 2.ed.6.tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 
2012, p. 78 e 79. 
21 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 105. 
22 Ibid., p. 106 
23 HUSS, loc. cit. 
24 SABBATINI, Renato M. E. O Cérebro do Psicopata. Disponível em: 
<http://www.cerebromente.org.br/n07/doencas/index_p.html>. Acesso em 03 ago. 2016. 
18 
 
razão a abordagem biopsicossocial é a mais aceita na atualidade, em razão de ela 
tentar articular o fator biológico com os restantes níveis do comportamento humano. 
 
1.2 O PSICOPATA 
O indivíduo que se enquadra na personalidade psicopática atua para 
satisfazer suas necessidades. Para isto, utiliza-se de mentiras, dissimulação, extrema 
sedução, de especial percepção para captar as sensibilidades dos outros e manipulá-
los como melhor lhe agradar, sem preocupação com o aspecto ético de sua conduta 
ou com os sentimentos alheios. Psicopatas são pessoas racionais, sabem a diferença 
entre o certo e o errado, são muitas vezes altamente inteligentes, charmosos e 
conseguem passar a ilusão de serem pessoas normais. Porém, tudo passa de uma 
encenação para esconder uma profunda perturbação. 
Daniel Goleman25 evidencia que os “psicopatas são notórios por 
serem ao mesmo tempo encantadores e completamente desprovidos de remorso, 
mesmo em relação aos atos mais cruéis e impiedosos”. Sua característica mais 
marcante é a total falta de empatia, uma incapacidade de amar, de se preocupar e se 
importar com alguém, de sentir pena de qualquer pessoa além de si mesmo. Nada 
importa a eles a não ser suas próprias necessidades e os outros são simplesmente 
objetos a serem usados e manipulados a seu bel-prazer. O criminologista Edward 
Glover em seu livro The Roots of Crime (As raízes do Crime, de 1960) diz que 
psicopatas são “extraordinariamente egoístas, narcisistas e desonestos”.26 
Importante ressaltar a descrição do quadro clínico da psicopatia, feito 
pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, para apontamentos 
futuros27: 
Este termo se refere a indivíduos cronicamente anti-sociais, e que estão em 
dificuldades, não tirando proveito nem da experiência e nem das 
punições sofridas e não mantendo lealdade real a qualquer pessoa, grupo 
ou código. São frequentemente empedernidos e hedonistas, mostrando 
acentuada imaturidade emocional, com falta de senso de responsabilidade, 
 
25 GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser 
inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995, p. 121. 
26 SCHECHTER, Harold. Serial Killers, anatomia do mal. Tradução: Lucas Magdiel. Rio de Janeiro: 
Dark Side Books, 2013, p. 27. 
27 MARANHÃO, Odon Ramos. Psicologia do Crime. 2.ed.6.tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 
2012, p. 80. 
19 
 
falta de tirocínio e habilidade de racionalizar sua conduta de modo que ela 
pareça justificável e razoável. (sic) (grifo nosso) 
 
1.2.1 Características do psicopata 
Como citado anteriormente, Harvey Cleckley e Robert Hare 
desenvolveram, cada um, um quadro de características diferentes que definem ou 
compõem o perfil clínico do psicopata. Existem atributos que se sobrepõe entre as 
listas e outros que não, como vislumbra-se a seguir28: 
 
QUADRO 1 - Características de Cleckley 
1. Charme superficial e boa inteligência 
2. Egocentrismo patológico e incapacidade de amar 
3. Falsidade e falta de sinceridade 
4. Ausência de remorso ou vergonha 
5. Deficiência geral nas principais reações afetivas 
6. Falta de resposta nas relações interpessoais gerais 
7. Vida sexual e interpessoal triviais e pobremente integradas 
8. Fracasso em seguir um plano de vida 
9. Julgamento pobre e falha em aprender com a experiência 
10. Não confiável 
11. Perda específica de insight 
12. Comportamento antissocial inadequadamente motivado, comportamento fantástico e 
desagradável com bebida e às vezes sem 
13. Ausência de alucinações e outros sinais de pensamento irracional 
14. Ausência de nervosismo 
15. Comportamento fantástico e desagradável 
16. Tentativas de suicídio raramente concretizadas 
 
É necessário ressaltar o item 13 da lista acima, descrevendo-o da 
seguinte maneira: “Não apresentam sinais de psicose de qualquer tipo. Seu 
 
28 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 94. 
20 
 
pensamento é lógico e convincente. São capazes de criticar verbalmente seus erros 
passados e emitir juízos aparentemente válidos”.29 
A lista de Cleckley, elaborada em 1941, foi base para boa parte do 
trabalho de Robert Hare: 
 
QUADRO 2 - Itens do PSYCHOPATHY Checklist-Revised (Robert Hare): 
1. Lábia/charme superficial – Fator 1 
2. Senso grandioso de autoestima – Fator 1 
3. Mentira patológica – Fator 1 
4. Ausência de remorso ou culpa – Fator 1 
5. Afeto superficial – Fator 1 
6. Crueldade/falta de empatia – Fator 1 
7. Comportamento sexual promíscuo 
8. Falta de objetivos realistas de longo prazo – Fator 2 
9. Impulsividade – Fator 2 
10. Irresponsabilidade – Fator 2 
11. Falha em aceitar responsabilidade pelas próprias ações – Fator 1 
12. Versatilidade criminal 
13. Necessidade de estimulação – Fator 2 
14. Ludibriador/manipulador – Fator 1 
15. Estilo de vida parasita – Fator 2 
16. Controle deficiente do comportamento – Fator2 
17. Problemas comportamentais precoces – Fator 2 
18. Muitas relações conjugais de curta duração 
19. Delinquência juvenil – Fator 2 
20. Revogação da liberdade condicional – Fator 2 
 
A Escala Hare é o método mais utilizado atualmente para se 
diagnosticar o quadro de psicopatia. Esta lista de 20 sintomas requer o julgamento 
clínico de um especialista para pontuá-lo. Para cada termo pode ser atribuído 0, 1 ou 
2 pontos, significando ausência, possível presença e sintoma definitivamente exibido 
 
29 MARANHÃO, Odon Ramos. Psicologia do Crime. 2.ed.6.tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 
2012, p. 87. 
21 
 
pelo examinado, respectivamente. Assim, ao final da avaliação, o escore total poderá 
chegar a 40 pontos. Uma pontuação acima de 30 é geralmente considerada como 
“nota de corte” para a psicopatia30. 
A maioria dos itens do PCL-R está agrupada em duas categorias ou 
fatores. O Fator 1 é frequentemente rotulado como o fator interpessoal/afetivo, 
relacionado ao comportamento interpessoal e à expressão emocional, enquanto o 
Fator 2 tem ligação com o estilo de vida socialmente desviante/antissocial e consiste 
de itens baseados no comportamento. 
Ademais, discute-se se esse diagnóstico consiste de uma variável de 
categorias ou variável contínua. A primeira significa que quem pontua acima de 30 é 
considerado psicopata, já a segunda quer dizer que quanto mais alto o escore, mais 
psicopatia o indivíduo apresenta, o que nos leva ao debate acerca dos níveis de 
gravidade de psicopatas: 
- Psicopata de grau leve: a maior parte dos psicopatas enquadram-se 
neste grau, apesar de serem mais dificilmente diagnosticados, uma vez que 
geralmente não satisfazem totalmente os critérios do DSM do transtorno da 
personalidade antissocial. Sua capacidade de manipulação de outras pessoas os 
ajuda a passarem despercebidos no ambiente social. Podem nunca cometer crimes, 
mas quando o fazem, geralmente são atos ilícitos relativamente leves, como 
pequenos golpes e roubos, ou tiram algum tipo de vantagem sobre aquelas pessoas 
das quais conquistaram a confiança. Quando são encarcerados são tidos como 
presos exemplares pelo seu bom comportamento, novamente devido a sua 
capacidade de manipulação, simulando uma aparência de inocente.31 
- Psicopata de grau moderado a grave: os indivíduos com nível de 
psicopatia moderado a grave exibem quase ou todos os critérios do Manual 
Diagnóstico referente ao transtorno de personalidade antissocial e normalmente são 
pessoas antissociais, diferentemente dos de nível leve, os quais têm mais facilidade 
para socializar. São uma parcela pequena dentre os psicopatas e tendem a ser mais 
perigosos. Os de grau moderado estão inseridos nos meios das drogas, grandes 
 
30 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 95. 
31 GRAUS de psicopatia. Disponível em <http://www.psicopata.ardois.com.br/pg/14324/psicopata-
graus-de-psicopatia/>. Acesso em 02 set. 2016. 
22 
 
golpes e estelionatos. Já os de grau muito grave cometem infrações mais violentas e 
brutais, sendo frequentemente os assassinos em série, os quais sentem prazer ao ver 
o sofrimento de outra pessoa. Após cometerem seus crimes, do mesmo modo que 
psicopatas de grau leve, não apresentam remorso algum, a despeito de terem ciência 
de que agiram ilegalmente e trouxeram enorme dor para alguém. 
 
Existe também uma parcela de psicopatas que não apresentam o 
TPA, Transtorno da Personalidade Antissocial. Estes indivíduos são comumente 
chamados de “psicopatas de sucesso” ou de colarinho branco, pois são aqueles que 
“não estão encarcerados e tendem a exibir inteligência superior, são mais educados 
e são de uma posição socioeconômica mais alta do que a maioria dos psicopatas”.32 
Os psicopatas de sucesso são frequentemente encontrados trabalhando em 
corporações ou tendo um escritório político. 
 
1.2.2 O psicopata criminoso e as punições 
Dentro da Criminologia estuda-se a prevenção e a reação ao delito. O 
primeiro ocupa-se dos modos para se evitar que os sujeitos cometam infrações 
penais. Já o segundo diz respeito a como o Estado, detentor do jus puniendi, deve 
lidar com o infrator tanto na questão da punição devida, quanto nas formas de impedir 
a reincidência. 
O meio que o Direito Penal possui para enfrentar a prevenção e a 
reação ao delito reside na pena aplicada ao fato típico. De acordo com o artigo 59 do 
Código Penal Brasileiro, as penas devem ser necessárias e suficientes à reprovação 
e prevenção do crime. Destarte, segundo nossa legislação penal, “a pena deve 
reprovar o mal produzido pela conduta praticada pelo agente, bem como prevenir 
futuras infrações penais”.33 
Nosso Código, em relação às penas, adota um modelo misto (ou 
eclético), que combina as teorias absolutas e relativas. A primeira tem como objetivo 
 
32 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 97. 
33 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16.ed.rev.ampl.atual. Niterói: Impetus, 
2014, p. 485. 
23 
 
principal a retribuição do crime praticado, significando uma espécie de compensação 
feita pelo condenado, principalmente no modo de uma aplicação de pena privativa de 
liberdade, pois, de outra forma, como uma restritiva de direitos, a sociedade entende 
ser um tipo de impunidade.34 
Sobre a teoria absoluta, Mirabete35 ensina: 
O castigo compensa o mal e dá reparação à moral, sendo a pena imposta por 
uma exigência ética em que não se vislumbra qualquer conotação ideológica. 
Para a Escola Clássica, que considerava o crime um ente jurídico, a pena era 
nitidamente retributiva, não havendo qualquer preocupação com a pessoa do 
delinqüente, já que a sanção se destinava a restabelecer a ordem pública 
alterada pelo delito. (sic) 
 
Por sua vez, as teorias relativas da pena importam-se com a 
prevenção, tanto geral quanto especial. A prevenção geral atua na população quando 
esta fica intimidada ao assistir à pena sendo aplicada a algum infrator; ou, no seu 
modo positivo, a pena gera uma consciência geral de necessidade de respeito a 
determinadas regras. Ainda, a prevenção especial corresponde ao isolamento 
temporário do infrator (caráter negativo) impedindo-o de cometer novos crimes contra 
a sociedade livre, e funciona também como uma tentativa de inibi-lo a reincidir no 
futuro (caráter positivo). 
Mais uma vez Mirabete36, de maneira pertinente, esclarece a respeito 
das terias relativas: 
Na Escola Positiva, em que o homem passava a centrar o Direito Penal como 
objeto principal de suas conceituações doutrinárias, a pena já não era um 
castigo, mas uma oportunidade para ressocializar o criminoso, e a 
segregação deste era um imperativo de proteção à sociedade, tendo em vista 
sua periculosidade. 
 
Desta maneira, a teoria eclética adotada pelo nosso Sistema Penal 
segue o entendimento de que “a pena, por sua natureza, é retributiva, tem seu aspecto 
moral, mas sua finalidade não é simplesmente prevenção, mas um misto de educação 
 
34 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16.ed.rev.ampl.atual. Niterói: Impetus, 2014, 
p. 481. 
35 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários a lei n§7210 de 11-07-
84. 11.ed.rev.atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 24. 
36 MIRABETE, loc. cit. 
24 
 
e correção”.37 O Brasil é signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
(Pacto de São José da Costa Rica), promulgada no país pelo Decreto nº 678/92, a 
qual dispõe no seu artigo 5.6 que as “penas privativas de liberdade devem ter por 
finalidade essencial a reformae a readaptação social dos condenados”.38 
Contudo, as penas não possuem estes efeitos sobre o psicopata. 
Deve-se chamar atenção a alguns aspectos característicos do estilo 
de vida do psicopata, em particular sua impulsividade. Por exibir um controle deficiente 
de sua conduta, “passa à ação sem que funcionem os mecanismos inibidores que 
permitem aos demais humanos frear suas tendências agressivas” (prevenção geral).39 
Aliado a isto, eles também necessitam de excitação continuada e crescente, e não se 
preocupam com a repercussão negativa de seu comportamento em pessoas ao seu 
redor. Tais características somam-se para construir um perfil muito propício à prática 
de crimes, inclusive com uma violência desproporcional e gratuita, ignorando qualquer 
tipo de instrumento preventivo estatal. 
Contribuindo ao quadro criminológico do psicopata temos a sua 
incapacidade de aprender pela experiência ou pelo castigo (prevenção especial), 
como mencionado na descrição do quadro clínico da psicopatia, feito pelo Manual 
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Psicopatas possuem um déficit 
emocional que concorre com sua incapacidade para “aprender da experiência, já que 
para aprender da experiência da memória há de armazenar os sentimentos vividos e 
o psicopata fracassa nesse âmbito”.40 Neles está ausente toda a inibição do 
comportamento criminoso pela sua péssima capacidade de condicionamento. 
Portanto, as punições existentes para coibir ações criminosas não são eficientes na 
prevenção nem reabilitação de psicopatas. 
 
 
37 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários a lei n§7210 de 11-07-
84. 11.ed.rev.atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 25. 
38 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Conferência Especializada Interamericana sobre 
Direitos Humanos em San José, Costa Rica. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. 
Disponível em <https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acesso 
em 07 out. 2016. 
39 GARCIA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos; 
introdução às bases criminológicas da Lei 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais 
Criminais.7.ed.ref.atual.ampl. São Paulo: Saraiva, 2011, p 254. 
40 Ibid., p 258. 
25 
 
1.3 TRATAMENTOS 
Huss41 elucida que a maioria dos programas de sucesso na 
recuperação de criminosos em geral foca nas necessidades criminogênicas, ou seja, 
naqueles fatores que levaram a pessoa a delinquir e que poderiam resultar na sua 
reincidência. Assim, tratando estas necessidades as chances de o criminoso voltar 
para o crime diminuem e aumentam as buscas por alternativas não criminais para os 
comportamentos antissociais. No entanto, tendo em mente todas as características 
dos psicopatas estudadas previamente, fica a dúvida se realmente existe alguma cura 
para estre transtorno mental. 
Cleckley acreditava que não havia possibilidade de um tratamento 
efetivo, considerando que os psicopatas não têm a capacidade de formar vínculos 
emocionais, portanto não se beneficiariam da terapia. Em 1990, foi realizado um 
estudo com 80 presos inscritos em um programa de tratamento, o qual indicou, 
consistentemente, que os “psicopatas demonstravam menos melhora clínica, eram 
menos motivados e abandonavam o programa antes dos não psicopatas”.42 
Outro estudo realizado em 1992, examinou 176 infratores de uma 
instituição forense, e constatou que houve um agravamento no quadro clínico dos 
psicopatas em questão. Entre os infratores não psicopatas, este tratamento conseguiu 
produzir uma melhora, reduzindo a reincidência entre os criminosos tratados. Porém, 
o resultado foi inverso quando o tratamento foi aplicado aos psicopatas. Sobre isto, 
Huss43 comenta: 
Esse estudo foi usado como indicação de que o tratamento não apenas 
fracassa com os psicopatas, como também a abordagem de tratamento 
errada pode, na verdade, transformar os psicopatas em melhores psicopatas 
ainda, dando a eles uma compreensão das emoções dos outros. (Huss e 
Langhinrichsen-Rohling, 2000). Contudo, o tratamento particular empregado 
naquela instituição era muito anticonvencional. 
 
Em outro estudo, 48 indivíduos considerados psicopatas foram 
tratados e somente 21 deles (44%) não demonstraram resposta ao tratamento, após 
um ano de tentativa. Alguns fatores foram apontados como responsáveis pela 
 
41 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 61. 
42 Ibid., p. 107. 
43 HUSS, loc. cit. 
26 
 
resposta terapêutica negativa: não aceitação prévia em realizar o tratamento 
psiquiátrico e falta de resposta ao mesmo; baixo nível de motivação para o tratamento; 
antecedentes prisionais; e crime no qual a vítima era desconhecida pelo paciente.44 
Os melhores resultados de intervenção psicoterápica que vêm sendo 
propostos são aqueles com o objetivo de tratar os sintomas específicos dos 
transtornos de personalidade. Também a terapia comportamental dialética tem sido 
reconhecida internacionalmente pela sua eficácia no tratamento de transtornos de 
personalidade.45 Esta espécie de terapia é definida da seguinte maneira: 
Terapia Comportamental Dialética (TCD, ou Dialectical Behavior 
Therapy, DBT) é uma técnica psicoterápica desenvolvida pela psicóloga 
americana, Dra. Marsha Linehan, na qual se utilizam conceitos e estratégias 
da Terapia Comportamental Cognitiva (TCC) e treinamento de habilidades 
emocionais e sociais. 
 
Para os psicopatas de grau leve e moderado o tratamento efetivo até 
pode ser possível com medicação para que ajudem na produção dos hormônios 
noradrenalina e dopamina, e com psicoterapia cognitiva comportamental para ajudar 
a organizar os comportamentos disfuncionais e estimular os sentimentos como 
alegria, tristeza, medo, nojo e raiva, gerando, assim, um equilíbrio emocional. O 
psicopata de grau grave não irá aceitar nem a medicação e nem a psicoterapia. 
Ainda há pouco interesse pelos profissionais da área de saúde em 
estudar a psicopatia por entenderem que este transtorno mental tem caráter 
permanente, imutável. Assim, a “solução” frequentemente utilizada se resume no 
afastamento do psicopata criminoso do convívio social, desprezando a busca por 
novas possibilidades de tratamento. 
 
 
 
 
44 ABDALLA-FILHO, Elias; MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H. Transtornos de personalidade, 
psicopatia, e serial killers. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 28, suppl. 2, out. 2006. 
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462006000600005>. 
Acesso em 05 out. 2016. 
45 ABDALLA-FILHO, Elias; MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H, loc. cit. 
27 
 
2 O PSICOPATA NO ÂMBITO JURÍDICO 
2.1 DA CULPABILIDADE E IMPUTABILIDADE 
Para que se possa falar em punição do psicopata, precisamos, 
primeiramente, abordar o instituto da culpabilidade, uma vez que somente aquele que 
é culpável é também punível. Podemos conceituar a culpabilidade, atualmente, como 
o “juízo de reprovação que recai sobre o agente do fato que podia se motivar de 
acordo com a norma e agir de modo diverso, conforme o Direito”.46 
A culpabilidade, na concepção finalista, é composta por 3 elementos 
normativos: a imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a 
exigibilidade de conduta diversa.47 A responsabilidade do agente pelo fato típico e 
ilícito por ele cometido somente existe caso ele seja imputável. Sanzo Brondt apud 
Rogério Greco48 leciona: 
A imputabilidade é constituída por dois elementos: um intelectual (capacidade 
de entender o caráter ilícito do fato), outro volitivo (capacidade de determinar-
se de acordo com esse entendimento). O primeiro é a capacidade (genérica) 
de compreender as proibições ou determinaçõesjurídicas. Bettiol diz que o 
agente deve poder ‘prever as repercussões que a própria ação poderá 
acarretar no mundo social’, deve ter, pois, ‘a percepção do significado ético-
social do próprio agir’. O segundo, a ‘capacidade de dirigir a conduta de 
acordo com o entendimento ético-jurídico. Conforme Bettiol, é preciso que o 
agente tenha condições de avaliar o valor do motivo que o impele à ação e, 
do outro lado, o valor inibitório da ameaça penal. 
 
Portanto, a imputabilidade se traduz na possibilidade de se atribuir 
(imputar) o fato típico e ilícito ao agente. O criminoso portador de transtorno de 
personalidade, em regra, é considerado imputável, uma vez que detém capacidade 
de compreensão do caráter ilícito do fato e de se determinar de acordo com esse 
entendimento. Como já falado, este indivíduo não sofre com alucinações ou outros 
sinais de pensamento irracional. 
Por outro lado, doenças mentais como a neurose, a psicose, a 
paranoia e a esquizofrenia levam à inimputabilidade quem as possui e comete algum 
delito, segundo o artigo 26 do Código Penal: 
 
46 GOMES, Luiz Flavio. Direito penal: parte geral. 2.ed.rev.atual.ampl. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2009, p. 409. 
47 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16.ed.rev.ampl.atual. Niterói: Impetus, 2014, 
p. 392. 
48 Ibid., p. 393. 
28 
 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou 
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. 
 
Comprovada a total inimputabilidade, o agente deverá ser absolvido, 
conforme artigo 386, inciso VI do Código de Processo Penal, sendo então aplicada 
medida de segurança ao inimputável que cometeu algum delito, de acordo com o art. 
97 do Código Penal. 
Existe, ainda, a figura da semi-imputabilidade, prevista no parágrafo 
único do artigo 26 do Código Penal. O agente considerado semi-imputável terá sua 
pena reduzida de um a dois terços, visto que, em razão de perturbação de saúde 
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era inteiramente 
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento. 
Caso seja determinada a semi-imputabilidade do psicopata, a 
condenação em pena privativa de liberdade com redução dada pelo parágrafo único 
do artigo 26 do Código Penal não é a melhor atitude a se tomar. Seria uma decisão 
extremamente perigosa, pois, além de ele sequer passar por alguma espécie de 
tratamento psicológico, a sociedade teria em liberdade, mais cedo do que deveria, um 
criminoso com grande probabilidade de reincidência. Ainda, como já foi esclarecido, o 
psicopata não tira proveito da punição, portanto a mera prisão em instituição 
penitenciária comum não é o bastante. 
Assim, é necessária uma atenção especial nestes casos e que 
sempre se realize a perícia médica constatando a psicopatia do réu, para que este 
seja tratado devidamente, conforme as características do transtorno de personalidade 
antissocial. 
 
2.2 PERÍCIA MÉDICA 
Através de uma avaliação psiquiátrica forense é possível determinar 
a imputabilidade do infrator, sendo, por conseguinte, muito importante no contexto 
jurídico penal. Este exame pode demonstrar o nível global de risco do indivíduo 
29 
 
avaliado, bem como compará-lo com outros sujeitos em situação similar e “identificar 
os fatores que provavelmente aumentam ou diminuem o risco de violência futura” 49. 
A avaliação psiquiátrica forense é normalmente feita a partir de uma 
entrevista que reúne informações sobre o examinado durante sua persecução penal 
ou mesmo quando já está cumprindo pena. Huss50 explica mais a fundo como se dá 
esta entrevista: 
As entrevistas clínicas normalmente consistem em solicitar informações 
pessoais sobre diferentes áreas da vida do examinando, tais como família, 
trabalho, saúde mental, abuso de substância, educação ou envolvimento 
legal. Um psicólogo forense pode perguntar a uma pessoa se ela teve alguma 
dificuldade na escola com os estudos, colegas ou problemas disciplinares. 
Ele também pode perguntar à pessoa sobre seus sentimentos e pensamentos 
atuais. 
 
Além da entrevista é importante a realização de testes psicológicos, 
no caso da psicopatia, o mais relevante é o teste de personalidade, concebido para 
medir alguns aspectos da personalidade do examinando, atestando sua normalidade 
ou possíveis psicopatologias ou doenças mentais. 
Existem também os Instrumentos para Avaliação Forense (IAF), os 
quais incluem medidas designadas para avaliar questões legais específicas como a 
inimputabilidade. Como já mencionado, o Psichopathy Checklist-Revised é o 
instrumento de avaliação forense mais frequentemente utilizado.51 
É muito relevante, ainda, que o examinador se utilize de informações 
de arquivo na condução da avaliação forense, as quais equivalem às “informações 
coletadas dos registros institucionais ou entrevistas em situações em que a pessoa 
não estava sendo avaliada”52. Também fontes testemunhais, de amigos ou membros 
da família podem ajudar na corroboração de informações específicas em uma 
avaliação. 
 
49 HUSS, Matthew T. Psicologia forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Tradução: Sandra 
Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 43. 
50 Ibid., p. 46. 
51 Ibid., p. 52. 
52 HUSS, loc. cit. 
30 
 
A análise psicológica do infrator é de extrema importância para que o 
Direito Penal seja aplicado devida e eficazmente, cumprindo com sua finalidade de 
prevenção e reprovação. 
 
 
 
31 
 
3 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS 
Para uma noção mais tangível do comportamento criminoso destes 
indivíduos, citaremos exemplos de alguns psicopatas homicidas brasileiros, como 
foram os crimes que cometeram e em qual situação jurídica se encontram. Suas 
histórias de vida corroboram os estudos teóricos concernentes à psicopatia. 
 
3.1 FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA – “MANÍACO DO PARQUE” 
Um dos casos de assassinatos em série mais famoso da história do 
Brasil foi perpetrado por Francisco de Assis Pereira, motoboy que ganhou o apelido 
de “Maníaco do Parque” em razão de seus crimes cometidos no ano de 1998. 
Francisco abordava suas vítimas, todas mulheres jovens, na rua, 
apresentando-se como agente de modelos. Com seu charme, Pereira conseguia 
convencer as mulheres a subir em sua moto para irem até um parque fazer uma 
sessão de fotos. Quando chegavam ao local, bem conhecido pelo motoboy, ele 
estuprava e estrangulava suas vítimas até a morte, abandonando seus corpos no local 
do crime. Ao total foram encontrados oito corpos. Outras mulheres foram vítimas de 
ataques de Francisco, porém conseguiram escapar vivas. O maníaco do parque foi 
sentenciado a um total de 271 anos de reclusão e está preso desde 1998. Em 1995, 
Francisco já havia sido preso por tentativa de estupro, mas foi libertado, pagando 
fiança de R$ 80,00 por ser réu primário.53 
Durante seus depoimentos, Francisco alegava estar possuído por 
“forças malignas” quando cometeu seus crimes e sua defesa argumentava que o 
motoboy não tinha consciência do crime. Em um dos julgamentos ele foi considerado 
semi-imputável, pois tinha consciência do crime, mas não conseguia de 
“autodeterminar”. Porém, em outro julgamento foi considerado imputável. 
Chama a atenção o fato de que todas as suas vítimas aceitavam seu 
convite espontaneamente, sem coação física ou moral por parte de Francisco. “Logo 
após sua prisão, a perita da Polícia Civil Jane Pacheco Belucci conversou com ele por 
 
53 SERPONE, Fernando. Caso Maníaco do Parque. 2011. Disponível em: 
<http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/crimes/caso-maniaco-do-parque/n1596992315299.html>.Acesso em: 21 set. 2016. 
32 
 
duas horas e afirmou: ‘Ele é inteligentíssimo, tem uma fala mansa que convence’”.54 
Esse comportamento vem de encontro com o entendimento de que psicopatas 
normalmente possuem alta inteligência e poder de convencimento. 
Segundo reportagens feitas sobre sua vida55, o maníaco do parque 
aparentava ser um cidadão normal, adorado por todos, que escondia muito bem sua 
profunda perturbação psicológica. Francisco relatou que havia sido abusado por uma 
tia, que quando era mais velho foi assediado por um patrão, mantendo relações 
homossexuais com este, e também que uma ex-namorada teria machucado seu pênis 
em uma ocasião, resultando em dores durante relações sexuais futuras, fato 
confirmado por suas vítimas sobreviventes.56 
Em entrevista57 Francisco conta como é a compulsão por violentar e 
matar uma mulher. Ele diz que tinha desejos canibais, de sentir a carne humana na 
sua boca. Após a primeira morte, Francisco se masturbava relembrando as imagens 
do crime e logo isso o fez procurar outra vítima para satisfazer seus impulsos. 
Impressiona a maneira como Francisco responde às perguntas de maneira tão 
tranquila e serena enquanto descreve seus crimes. Atualmente ele alega ser uma 
“pessoa normal”, que se arrepende dos crimes e que “se sente perdoado por Deus”.58 
 
3.2 PEDRO RODRIGUES FILHO – “PEDRINHO MATADOR” 
O histórico criminoso deste famoso psicopata homicida brasileiro é 
extenso e precoce. Aos 13 anos cometeu sua primeira tentativa de homicídio contra o 
próprio primo, da mesma idade, empurrando-o em um moedor de cana. Aos 14 matou 
pela primeira vez: o prefeito de Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, ordenou a 
demissão do pai de Pedro por ser acusado de roubar merenda da escola onde era 
 
54 SERPONE, Fernando. Caso Maníaco do Parque. 2011. Disponível em: 
<http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/crimes/caso-maniaco-do-parque/n1596992315299.html>. 
Acesso em: 21 set. 2016. 
55 APRENDIZ, O. Reportagem Retrô: Maníaco do Parque, A Face Inocente do Terror. Disponível 
em: <http://oaprendizverde.com.br/2015/07/19/reportagem-retro-maniaco-do-parque-a-face-inocente-
do-terror>. Acesso em: 26 set. 2016. 
56 SERPONE, op. cit. 
57 O maníaco do parque, Francisco de Assis Pereira. Disponível em 
<https://www.youtube.com/watch?v=DIW6_oXD-QU>. Acesso em 27 set. 2016. 
58 ABC, Diário do Grande. 'Maníaco do Parque' se sente perdoado por Deus. 2001. Disponível em: 
<http://www.dgabc.com.br/Noticia/374536/-maniaco-do-parque-se-sente-perdoado-por-deus>. Acesso 
em: 27 set. 2016. 
33 
 
vigia, por isso Pedro matou a tiros o prefeito e também outro vigia, o qual achava ser 
o verdadeiro culpado pelo roubo. 
Após o início da sua carreira criminosa, Pedro passou a cometer mais 
infrações. Envolveu-se com a viúva de um líder do tráfico em Mogi das Cruzes, na 
Grande São Paulo, para onde havia fugido. Logo assumiu o papel de traficante, 
eliminando alguns rivais. Morou nesta cidade até que a polícia executou sua 
companheira, porém, ele conseguiu escapar para continuar no tráfico. 
Começou a se relacionar com outra mulher, a qual foi morta a tiros 
quando estava grávida de Pedro. Para se vingar, o psicopata torturou e matou várias 
pessoas a fim de descobrir os responsáveis pelo assassinato de sua companheira. 
Quando delataram o mandante, Pedro e quatro amigos foram até uma festa de 
casamento onde aquele estava e mataram sete pessoas, deixando, ainda, 16 feridos. 
Em 1973, logo após completar 18 anos, já tendo cometido vários homicídios, Pedro 
foi finalmente preso, passando a maior parte da sua vida adulta em reclusão, onde 
ganhou o apelido de Pedrinho Matador. 
Antonio José Elias Andraus e Norberto Zoner Jr, ambos psiquiatras, 
o analisaram em 1982 para um laudo pericial e relataram que a maior motivação da 
vida de Pedro era a “afirmação violenta do próprio eu”59, concluindo pelo diagnóstico 
de caráter paranoide e comportamento antissocial do criminoso. 
Estima-se que, ao total, Pedro Rodrigues Filho tenha assassinado 
mais de 100 pessoas, parte desse número enquanto estava em liberdade e a outra 
parte quando preso. Uma de suas vítimas foi o próprio pai, após ter sido preso pelo 
homicídio da mãe de Pedro, tendo inclusive arrancado um pedaço do coração de seu 
genitor, mastigado e cuspido fora. Outra vítima foi um suposto assassino de uma de 
suas irmãs. 
Alega-se que Pedro também já matou por motivos tão insignificantes 
quanto o ronco de um companheiro de cela, ou simplesmente porque “não foi com a 
cara” de sua vítima. Em entrevista, Pedro disse que considerava matar um vício, um 
 
59 MENDONÇA, Ricardo. O monstro do sistema. Disponível em: 
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR57160-6014,00.html>. Acesso em: 27 set. 2016. 
34 
 
hábito.60 O Maníaco do Parque, mencionado anteriormente, ficou preso no mesmo 
estabelecimento que Pedro e foi jurado de morte por este. 
Suas condenações somavam 128 anos de reclusão e Pedro deveria 
ter sido posto em liberdade em 2003, com 30 anos de cumprimento de pena. Porém, 
devido aos crimes cometidos enquanto encontrava-se recluso, a pena chegou a quase 
400 anos e sua permanência na prisão foi prorrogada, sendo solto em 2007. Em 2011 
foi preso em Balneário Camboriú, Santa Catarina, pela participação em seis motins e 
por privação de liberdade de um agente carcerário durante uma das rebeliões. Está 
em reclusão até o presente momento. 
Cada um vive de acordo com a sua realidade e dela constrói seus 
padrões de normalidade. O pai de Pedro desde sempre foi violento e agressivo no 
ambiente familiar, inclusive agrediu a mãe de Pedro enquanto ela estava grávida dele, 
resultando em ferimentos no crânio do futuro assassino. Apesar de Pedro não ter 
crescido e se tornado um agressor de mulheres, ele ainda assim é violento e perigoso 
para a sociedade, uma vez que encara a morte alheia como algo banal. Sua história 
é exemplo de que o sistema penal comum não é eficaz nem ideal para se punir e 
tentar ressocializar psicopatas criminosos. 
 
3.3 ROBERTO APARECIDO ALVES CARDOSO – “CHAMPINHA” 
Em 2003, Roberto Aparecido Alves Cardoso, na época com 16 anos, 
juntamente com outros 4 homens maiores de idade, renderam o jovem casal Liana 
Friedenbach, de 16 anos, e Felipe Caffé, de 19, enquanto estes acampavam na cidade 
de Embu-Guaçu, região metropolitana de São Paulo. Felipe foi morto com um tiro na 
nuca, em frente à Liana, que ficou refém por 4 dias, período no qual foi torturada e 
estuprada por todos os homens do grupo. Por fim, foi morta a facadas por Roberto 
Aparecido. 
Os quatro adultos foram condenados pelos respectivos crimes, a 
maior condenação foi de 110 anos. Champinha foi inicialmente internado por três anos 
na antiga Febem, atual Fundação Casa, por ser menor de idade na época dos fatos e 
 
60 APRENDIZ, O. Serial Killers: Pedrinho, O Matador, é preso em Santa Catarina. Disponível em: 
<http://oaprendizverde.com.br/2011/09/16/serial-killers-pedrinho-o-matador-e-preso-em-santa-
catarina/>. Acesso em: 27 set. 2016. 
35 
 
por este ser o prazo máximo estipulado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, 
segundo seu art. 121, § 3º. Chegando o término da medida socioeducativa, o 
Ministério Público entrou com pedido de interdição civil e que Roberto continuasse 
internado em instituição psiquiátrica. 
Os laudos médicos atestaram sua personalidade psicopática, 
responsável por seu comportamento impulsivo e perigoso, por sua falta de culpa e 
remorso em relação aos atos cometidos, e sua alta probabilidade de voltar a infringir 
caso seja libertado. Em vista disso, Roberto teve sua interdição civil decretada e foi 
transferido para a Unidade Experimental de Saúde (UES), na capital paulista, onde se 
encontra desde 2006.61 
Na sua adolescência,Roberto Aparecido frequentemente se envolvia 
em brigas, chegou a ser apontado como integrante de uma quadrilha de desmanche 
de carros e, ainda, foi suspeito de matar um morador de rua. Ele é o quarto filho de 
uma família de cinco irmãos, ficou em uma escola da região até os 14 anos e não 
chegou a estudar além da terceira série.62 
Foram diversos pedidos de liberdade em favor de Champinha, porém 
todos negados, inclusive pelo STF, com base em seus laudos psicológicos os quais 
continuaram a evidenciar sua predisposição a se envolver em atos violentos, a 
ausência de culpa e remorso, o desrespeito pelas leis e regras sociais e seu 
comportamento extremamente impulsivo, o que representa uma alta periculosidade à 
sociedade, caso seja concedida a liberdade.63 
Seus defensores pediram a troca da internação pelo regime 
ambulatorial, dando continuidade ao seu tratamento em liberdade. Outros laudos 
periciais apontaram que a “internação não melhora o tratamento e que Champinha 
 
61 ESTADO, Agência do. Internação de Champinha custa R$ 30 mil por mês aos cofres 
públicos. Disponível em: 
<http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2015/11/25/interna_nacional,711375/internacao-de-
champinha-custa-r-30-mil-por-mes-aos-cofres-publicos.shtml>. Acesso em: 29 set. 2016. 
62 FANTÁSTICO. Imagens exclusivas mostram como Champinha vive atualmente. 2013. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/11/imagens-exclusivas-mostram-como-
champinha-vive-atualmente.html>. Acesso em: 29 set. 2016. 
63 ARAÚJO, Glauco. Justiça de SP decide que Champinha vai continuar internado, diz MP. 2015. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/05/justica-de-sp-decide-que-champinha-
vai-continuar-internado-diz-mp.html>. Acesso em: 29 set. 2016. 
36 
 
apresenta condições, mínimas, de controlar seus impulsos”. Ao mesmo tempo, os 
referidos laudos dizem que o psicopata representa risco à sociedade.64 
A Unidade Experimental de Saúde é vinculada à Secretaria Estadual 
da Saúde e se destina a recuperar jovens infratores com distúrbios mentais graves 
que oferecem alto risco à sociedade e a outros internos, como se vislumbra no caso 
de Pedro Rodrigues Filho (item 4.2) que matou aproximadamente 50 homens durante 
seu tempo preso.65 
 
3.4 FRANCISCO DA COSTA ROCHA – “CHICO PICADINHO” 
Em 3 de agosto de 1966 Francisco da Costa Rocha estrangulou e 
esquartejou o corpo de Margareth Suida, quem ele havia conhecido poucas horas 
antes em um bar no centro de São Paulo e a convidou para irem ao seu apartamento, 
onde se deu o homicídio. Por este crime, Francisco foi condenado em 1968 a 17 anos 
de prisão e após 6 anos de cumprimento da pena, conseguiu a progressão do regime 
por bom comportamento, com o aval de psiquiatras e peritos forenses. 
No entanto, em 1976, após 02 anos de liberdade, Francisco voltou a 
delinquir: tentou matar uma mulher, Rosemarie Michelucci, mas ela conseguiu 
escapar. Um mês depois atacou novamente outra mulher, Angela de Souza da Silva, 
e no mesmo ano foi condenado e preso pela sua morte, cujo corpo ele também 
esquartejou, como sua primeira vítima.66 
Em 1998 deveria ter sido libertado pelo cumprimento de 30 anos de 
pena, porém o Ministério Público interveio e pediu a interdição de Francisco baseado 
em laudos médicos e psiquiátricos os quais atestaram que o réu não tinha condições 
mentais de voltar a viver em sociedade, por ser ainda considerado perigoso. Ele se 
encontra, desde então, internado na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. 
 
64 ESTADO, Agência do. Internação de Champinha custa R$ 30 mil por mês aos cofres 
públicos. Disponível em: 
<http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2015/11/25/interna_nacional,711375/internacao-de-
champinha-custa-r-30-mil-por-mes-aos-cofres-publicos.shtml>. Acesso em: 29 set. 2016. 
65 ESTADO, op. cit. 
66 DIRETA, Linha. Chico Picadinho. Disponível em: 
<http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215805,00.html>. Acesso em: 29 set. 
2016. 
37 
 
Em 2010 um pedido de levantamento da interdição em favor de 
Francisco, à época com 68 anos, foi negado pelo juiz Jorge Alberto Passos Rodrigues, 
baseado na constatação de peritos do Instituto de Medicina Social e de Criminologia 
de São Paulo (Imesc) “de que Chico é incapaz de se responsabilizar por seus atos, 
podendo voltar a matar se sair da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté”.67 
Ainda, de acordo com o juiz, “todos os laudos realizados confirmaram que o interditado 
não possui condições de gerir a sua vida civil, sem representar ameaça à sociedade 
haja vista as características de transtorno mental descritas nos laudos”.68 
Em 2015 o Tribunal de Justiça de São Paulo também já negou recurso 
para o pedido de liberdade de Francisco seguindo recomendação do Ministério 
Público por ainda não existir condições para seu retorno ao convívio em sociedade.69 
Atualmente Francisco está com 74 anos e segue internado na Casa de Custódia de 
Taubaté. Segundo entendimento da decisão, a interdição por tempo indeterminado 
não equivale a prisão perpétua.70 
 
 
 
 
67 FARIA, João Carlos de. Justiça de Taubaté-SP nega liberdade a Chico Picadinho. 2010. 
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,justica-de-taubate-sp-nega-liberdade-a-
chico-picadinho,613200>. Acesso em: 29 set. 2016. 
68 FARIA, op. cit. 
69 G1, Vale do Paraíba e Região. Tribunal de Justiça nega recurso para liberdade de Chico 
Picadinho. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-
regiao/noticia/2015/11/tribunal-de-justica-nega-recurso-para-liberdade-de-chico-picadinho.html>. 
Acesso em: 29 set. 2016.. 
70 MATSUURA, Lilian. Interdição por tempo indeterminado não é prisão perpétua, afirma TJ-
SP. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-nov-27/interdicao-tempo-indeterminado-
nao-prisao-perpetua-tj-sp>. Acesso em: 29 set. 2016. 
38 
 
4 A REAÇÃO DO SISTEMA PENAL AO PSICOPATA CRIMINOSO 
4.1 PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 
Quando um sujeito infringe a norma penal através de uma conduta 
delituosa, ao Estado surge o direito de punir (jus puniendi), o qual, segundo José 
Frederico apud Haroldo Caetano da Silva71 significa 
o direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário 
da norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou omissão 
descrita no preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica, de 
maneira reprovável. 
 
Com a sentença condenatória, esse direito se concretizará. Tendo em 
vista que o presente estudo se concentra em psicopatas que cometeram o crime de 
homicídio capitulado no artigo 121 do Código Penal, cuja sanção prevista é a reclusão 
de 6 a 20 anos (na sua modalidade simples), a espécie de pena aplicadas nestes 
casos são as privativas de direito. 
Como ainda não existe um tratamento penal diferenciado 
devidamente legislado para casos de psicopatia como um agente fronteiriço, já que 
vive entre o limítrofe da loucura e da sanidade, estes criminosos normalmente são 
encarcerados em penitenciárias comuns, juntamente com outros infratores 
considerados sãos. 
Poucos são os casos onde o psicopata foi tratado com 
excepcionalidade, como foi com “Chico Picadinho” e “Champinha”. Já “Pedrinho 
Matador” cumpre sua pena em prisão comum, o que resultou em quase 50 mortes de 
outros presos, praticamente dobrando o número de assassinatos que este psicopata 
já havia cometido. 
Ao ser aplicada a pena privativa de liberdade para o psicopata, ele é 
colocado no meio de pessoas que ele pode manipular e persuadir, tornando-se uma 
espécie de líder no presídio. Acerca desta problemática, Nathalia Cristina Soto 
Banha72 tece os seguintes comentários: 
 
71 SILVA, Haroldo Caetano da. Manual da execução penal. 2.ed.Campinas: Bookseller, 2002, p. 35. 
72 BANHA, Nathalia Cristina Soto. A resposta do Estado aos crimes cometidos por psicopatas. 
Disponível. <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5321>. Acesso em 05 out. 
2016. 
39 
 
São eles que, na maioria das vezes, comandam rebeliões, controlam o tráfico 
mesmo dentro das prisões e ainda aprimoram o conhecimento e a crueldade 
de presos comuns, confirmando a idéia de que a prisão é uma escola do 
crime. (sic) 
 
Soma-se a essa situação desfavorável o fato de que psicopatas não 
assimilam a repreensão objetivada pela punição, sendo altamente provável que 
reincidam nos crimes quando forem libertados após cumprirem sua pena. 
Assim, fica claro que a condenação à pena privativa de liberdade a 
ser cumprida em instituição penitenciária comum, sem qualquer acompanhamento 
psicológico, juntamente com criminosos sem o transtorno de personalidade antissocial 
e psicopatia, não é a melhor solução, tanto para os psicopatas quanto para os 
infratores com quem aqueles conviveriam. No mínimo deve existir uma separação 
entre estes indivíduos. 
 
4.2 MEDIDAS DE SEGURANÇA 
4.2.1 Disposições gerais 
As medidas de segurança surgiram a partir do momento que se 
desenvolveram os estudos acerca das enfermidades mentais, criando a noção de 
inimputabilidade pela doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado. A partir disto, foi definido que aos enfermos mentais não poderia ser 
aplicada a mesma sanção que aos criminosos sãos. Assim, a “punição” para os 
inimputáveis passou a denominar-se de medida de segurança. 
Também aos semi-imputáveis é possível a aplicação da medida de 
segurança, caso o juiz determine ser necessário um especial tratamento curativo ao 
condenado, de acordo com o art. 98 do Código Penal. A Lei nº 7.209/84 alterou o 
sistema duplo binário que permitia a cumulação de medida de segurança com penas 
ao semi-imputável, passando a viger o sistema vicariante ou unitário, onde só uma ou 
outra sanção pode ser aplicada a este indivíduo. Deste modo, a medida de segurança 
deixou de ser um complemento da pena, passando a ser medida autônoma.73 
 
73 TRISTÃO, Adalto Dias. Sentença criminal: prática de aplicação de pena e medida de 
segurança. 5.ed.rev.atual.ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 161. 
40 
 
Mirabete74 comenta a respeito desta alteração: 
Ficou assim demarcado o caráter exclusivamente preventivo e assistencial 
da medida de segurança, aplicada em decorrência da periculosidade, distinto 
do fundamento da imposição da pena, que é a culpabilidade. 
 
Tem-se como finalidade da medida de segurança a “adequada 
reintegração social de um indivíduo considerado perigoso para a própria sociedade”75, 
indivíduo este que precisa de tratamento especial para ressocialização, em razão da 
sua enfermidade ou transtorno mental. 
O Código Penal não é expresso quanto aos pressupostos para a 
aplicação da medida de segurança, porém, a partir de interpretação dos seus artigos 
97 e 98, infere-se que dois são os requisitos exigidos: (1) a prática, pelo agente, de 
fato definido como crime; e (2) a comprovação da periculosidade do agente.76 
Em relação à primeira condição, é importante ressaltar que o juiz 
precisa reconhecer que o agente praticou fato típico e antijurídico. Caso o fato não 
seja ilícito penal ou “se apurar que o acusado agiu ao abrigo de uma excludente da 
antijuricidade”77, a medida de segurança é inaplicável. 
Também é necessário que o réu seja perigoso, com grande 
probabilidade de voltar a delinquir. A respeito desse pressuposto, Mirabete78 ensina: 
Essa periculosidade é presumida quanto ao inimputável, já que a lei 
determina a aplicação da medida de segurança àquele que cometeu o ilícito 
nas condições previstas no art. 26 do Código Penal (art. 97 do CP). No que 
diz respeito ao chamado semi-imputável, a periculosidade pode ser 
reconhecida pelo juiz que, em vez de aplicar a pena, a substitui por medida 
de segurança por necessitar o acusado de especial tratamento curativo (art. 
98 do CP). 
A substituição da pena privativa de liberdade pela medida de 
segurança no caso do semi-imputável somente deverá ser realizada mediante 
comprovação pericial de que o agente “é perigoso ou que a doença ou perturbação 
 
74 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários a lei n§7210 de 11-07-
84. 11.ed.rev.atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 735. 
75 FREITAS, Ana Clelia de. Medida de segurança: princípios e aplicação. Disponível em 
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8536/Medida-de-seguranca-principios-e-aplicacao>. 
Acesso em 08 out. 2016. 
76 TRISTÃO, op. cit., loc. cit. 
77 MIRABETE, op. cit., p. 736. 
78 Ibid., p. 737. 
41 
 
da saúde mental pode ser curada ou ao menos atenuada com um tratamento 
psiquiátrico especializado”.79 
Sempre que houver dúvida quanto à integralidade mental do agente, 
o incidente de sanidade deve ser suscitado, nos termos dos artigos 149 a 154 do 
Código de Processo Penal, tanto de ofício, pelo juiz, quanto a requerimento das 
partes. Também durante o inquérito policial a autoridade policial pode representar 
quanto à necessidade do exame. Por consequência, sendo o exame determinado, o 
andamento do feito principal será suspenso e o incidente processado em apartado.80 
Após o trânsito em julgado da sentença em que foi aplicada medida 
de segurança, ordena-se a expedição de guia para a execução do internamento ou 
do tratamento ambulatorial. 
Existem diversos estabelecimentos penais estabelecidos pela Lei de 
Execução Penal. A Penitenciária é o local onde o condenado cumprirá sua pena de 
reclusão, em regime fechado (art. 87). Os condenados em regime semiaberto 
cumprem sua pena em Colônia Agrícola, Industrial ou similar (art. 91). Para o 
cumprimento das penas privativas de liberdade em regime aberto e da pena de 
limitação de fim de semana, existe a Casa do Albergado (art. 93). 
Por sua vez, as medidas de segurança são cumpridas nos Hospitais 
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (art. 99) em casos de internação e tratamento 
ambulatorial, sendo que este último também pode ser realizado em outro local com 
dependência médica adequada (art. 101). Não existindo necessidade de custódia ou 
vigilância, no caso do tratamento ambulatorial, mas somente do tratamento e 
fiscalização, estas medidas podem ser executadas em qualquer estabelecimento 
público hospitalar com atendimento psiquiátrico. Na hipótese da internação, permite-
se o encaminhamento para hospital psiquiátrico ou similar, desde que ofereça 
condições de custódia. 
 
 
 
79 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários a lei n§7210 de 11-07-
84. 11.ed.rev.atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 743. 
80 TRISTÃO, Adalto Dias. Sentença criminal: prática de aplicação de pena e medida de 
segurança. 5.ed.rev.atual.ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 163. 
42 
 
4.2.2 Espécies 
Estão previstas no artigo 96 do Código Penal brasileiro as duas 
espécies de medida de segurança, quais sejam: (1) internação em hospital de 
custódia e tratamento psiquiátrico ou em outro estabelecimento adequado; e (2) 
tratamento ambulatorial.81 
A internação consiste em medida detentiva enquanto o tratamento 
ambulatorial é não detentiva, de caráter restritivo. Ambas podem ser aplicadas tanto 
aos inimputáveis quanto aos semi-imputáveis. A diferença fica no tipo de pena que 
seria aplicada ao crime cometido pelo indivíduo. Caso ela seja de reclusão, impõe-se 
a medida de internação, já para penas de detenção, determina-se a medida de 
tratamento ambulatorial. 
No entanto, como esclarece Mirabete82, apesar de ser condenado 
com “detenção o crime praticado pelo agente, mediante o exame do caso concreto e 
da periculosidade por ele

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