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1 UFCD 7226 – Prevenção da negligência, abusos e maus-tratos 1 Por “abusos e maus-tratos” serão consideradas todas as ações ofensivas ou o não provimento dos direitos fundamentais da pessoa, afetando a sua qualidade de vida, nomeadamente, no que concerne a agressões físicas, violência psicológica, abuso sexual, e omissão de ações indispensáveis à satisfação das necessidades fundamentais. Violência Contra uma Pessoa É uma ação única ou repetida, ou ainda a ausência de uma ação devida, que cause sofrimento ou angústia e que ocorra numa relação em que exista expetativa de confiança (INPEA, 1998; OMS, 2001).A fobia costuma ser de longa duração, provoca intensas reações físicas e psicológicas e pode comprometer seriamente a qualidade de vida de quem a tem. Pode ocorrer através de maus tratos físicos, psicológicos, sexuais ou através de abuso financeiro, negligência ou abandono. Na verdade, os(as) idosos(as) experienciam desafios acrescidos face a outras vítimas e que acabam por colocá-los numa posição mais vulnerável para a vitimação: isolamento social e doença mental (ex.: alzheimer); dependência, total ou parcial, do agressor, para cuidados diários, como refeições, mobilidade e acesso a dinheiro e medicação; se coabitar com alguém com dependência de substâncias pode aumentar o risco de serem vítimas de violência. Tipos de Violência Físico – Qualquer comportamento que inflija dor física sobre a pessoa idosa: empurrões, golpes, queimaduras, administração de medicação de forma abusiva, entre outros. Psicológico – Qualquer ação que provoque dano psicológico na pessoa idosa: intimidar, infantilizar, humilhar, ameaçar, insultar, chantagear, desmoralizar, isolá-lo, retirar-lhe a reforma, entre outros. Sexual – Qualquer contacto sexual não consentido com a pessoa idosa. Exploração material ou financeira – Uso abusivo de fundos, propriedades ou bens da pessoa idosa: uso, venda ou transferência de dinheiro, assinatura forjada em cheques e outros documentos financeiros /legais. Abandono – Abandono da pessoa idosa por parte de quem tem a responsabilidade legal de lhe prestar cuidados. Negligência – Omissão ou ineficácia na satisfação das necessidades básicas da pessoa idosa: não procurar acompanhamento médico, não prestar uma alimentação adequada, não prestar cuidados de higiene, entre outros comportamentos. Maus Tratos/Abusos contra a Pessoa Idosa Os maus tratos a idosos assemelham-se aos causados às crianças, dada a dependência e fragilidade de ambas as idades. A sua definição não é muito concetual, segundo, Barnett, Perrine e Perrin (1997), o “abuso a idosos refere-se a um comportamento destrutivo dirigido a um adulto idoso, que ocorre num contexto de confiança e cuja frequência não só provoca sofrimento físico, psicológico e emocional, como representa uma séria violação dos direitos humanos” . Já em 2002, O conselho da europa, define este conceito como: “ Todo o ato ou omissão cometido contra a sua vida, segurança, economia, integridade física e psíquica, sua liberdade, ou que comprometa gravemente o desenvolvimento da sua personalidade”. Ainda na mesma data as Nações Unidas definem da seguinte forma: “Qualquer ato único ou repetido, falta de ação apropriada que ocorre no contexto de uma relação confiança, que cause dano ou sofrimento à pessoa idosa”. Independentemente da definição do conceito, o mesmo integra vários tipos de maus tratos como: Abuso físico – como injuria e coerção física, causando no idoso lesões físicas, danos psicológicos visíveis, como a diminuição da mobilidade e alterações do comportamento; Abuso psicológico – prática de sofrimento mental e angústia, é infligido através de agressões verbais, insultos, ameaças e vários processos de humilhação, o idoso sente medo, apatia e tem dificuldade em tomar decisões, conduz a uma diminuição da dignidade e da autoestima; Abuso material – reside na exploração económica, no uso ilegal dos seus fundos e recursos, conduz `apropriação indevida dos seus bens, propriedades e ate deixa de ter controlo sobre os seus bens pessoais; A negligência é um tipo de abuso. Segundo Stanhope e Lancastre (1999), os idosos são negligenciados quando outros falham em fornecer-lhes alimentação adequada, vestuário, abrigo e cuidados físicos e em dar respostas às necessidades fisiológicas, emocionais e de segurança. A negligência, pode ser definida por Auto Negligencia, onde o idoso não tem capacidade para desempenhar tarefas de autocuidados; pode ainda ser uma negligência passiva, que passa pela recusa inconsciente ao nível de prestação de cuidados necessários ao bem-estar da pessoa idosa. E ainda pode ser uma negligência ativa, feita de forma consciente. O QUE FAZER SE PRESENCIAR UM COLABORADOR A MALTRATAR OU NEGLIGENCIAR UM UTENTE? Tentar acalmar o ambiente; Pedir firme e assertivamente que o abusador altere o seu comportamento; Não humilhar nem agredir, para não dificultar a situação; Se o comportamento do agressor se tornar violento e constituir uma ameaça, a prioridade deve ser a proteção de si e dos que estão em perigo e pedir ajuda. A perspetiva da Vítima Escorreguei e caí; Isto não foi nada, foi apenas uma pancada que dei; Já não consigo aguentar tão bem nas pernas, e caí; O meu/minha filha/filha era incapaz de me fazer, apenas caí; Não me aconteceu nada, dei uma queda daquelas normais que os idosos costumam dar; … Sinais de Alerta para a Identificação Hematomas na pele, olhos roxos, ferimentos inexplicados; Quedas frequentes; Recusa do cuidador em deixar o idoso sozinho com outras pessoas; Procura de serviços de emergência com frequência; Perda de peso e sinais de desnutrição; Óculos quebrados com frequência; Sinais de Alerta para a Identificação Troca frequente de médicos; Roupas sujas, rasgadas e aparência de descuido; Escaras de decúbito em muitos lugares do corpo, com sinais de pouco tratamento; Sinais de sonolência excessiva por uso de medicamentos sedativos; Alterações de comportamento repentinas pelo idoso, principalmente perante estranhos; Sinais de Alerta para a Identificação Idoso confuso, mas que família ou cuidador alega estar “esclerosado”; Doenças facilmente controláveis, mas que não melhoram por falta de tratamento adequado; Mostrar sinais depressão ou de ansiedade; Demonstrarem medo diante certas pessoas; Tornarem-se passivos e muito submissos. Finalmente, para os profissionais de saúde que trabalham em emergência: devem sempre pensar e desconfiar de situações onde idosos se “acidentam” dentro do próprio domicílio. Medidas de Atuação e Prevenção A violência, o abuso e a negligência para com os idosos são sinais de que a pessoa envolvida necessita de ajuda imediata. O primeiro passo e o mais importante para prevenir o abuso contra o idoso é reconhecer que ninguém, qualquer que seja a idade, deve sofrer violência, comportamento abusivo, humilhação ou negligência. Medidas de Atuação e Prevenção Além de promover esta atitude social, as medidas devem ter em conta a educação das pessoas para o abuso, aumentando a disponibilidade de cuidado respeitoso, de promoção de aumento de contato social e de apoio para as famílias com idosos dependentes e encorajando o aconselhamento e o tratamento para lidar com problemas familiares e pessoais que contribuem para o abuso. Sempre que as autoridades não têm conhecimento de um crime não podem intervir e ao não intervir, torna-se mais difícil prevenir ou investigar, por falta de informação sobre as vítimas, o modus operandi e os agressores. A não formalização das denúncias poderá ainda criar nos agressores um sentimento de impunidade, que os levará inevitavelmente a reincidir no crime. Em certas regiões de Portugal, principalmente no interior existem medidas com o objetivo de reduzir o isolamento e aumentar o sentimento de segurança da população idosa, uma delas é através da GNR que realiza através dos Núcleos Idosos em Segurança, com o apoio dos militares dos Postos Territoriais,diversas ações no âmbito da sua missão de policiamento de proximidade, que vão desde o levantamento dos locais isolados habitados por idosos e respetiva sinalização das situações de perigo, no âmbito da Operação Censos Sénior, até à realização de ações de sensibilização e informação no âmbito da Operação Idosos em Segurança. Todos nós devemos estar informados sobre os procedimentos de segurança a observar em situações de assalto ou burla, bem como a forma como poderão denunciar os crimes de que são vítimas, sendo para isso disponibilizados os números de telefone diretos dos militares da GNR, criando-se assim laços de confiança entre a GNR e os idosos e seus familiares. Alguns tópicos que as instituições, família e cuidadores deveriam seguir quando cuidam de idosos: Dignidade: tratar com respeito. Inclusão social, evitando o isolamento e a solidão. Atenção imediata perante lesões, abusos, reclusões e negligências. Personalizar o ambiente, adequando o espaço para garantir a independência da pessoa. Satisfazer todas as necessidades de higiene. Qualidade dos alimentos adequando-os às suas preferências e necessidades. Respeitar a intimidade. Favorecer a manutenção ou recuperação do máximo grau de autonomia. Ajudas técnicas para facilitar a mobilização, a higiene e o vestir. Envolver as famílias no cuidado e na tomada compartilhada de decisões. Perguntas Frequentes na Violência Física Tem medo de alguém em casa? Tem sido agredido fisicamente em casa? Tem sido amarrado ou trancado no quarto ou algum compartimento em casa? Perguntas Frequentes na Violência Psicológica A sua família conversa consigo frequentemente? Participa na vida da família recebendo notícias e informações? Tem sofrido algum tipo de punição ou privação? Tem sido obrigado a comer? O que acontece quando o seu cuidador discorda de si? Foi internado em alguma instituição para idosos sem estar de acordo? Perguntas Frequentes na Violência Sexual Sente-se respeitado em sua intimidade e privacidade? Já se sentiu constrangido pela forma como alguém lhe tocou ou acariciou? Quer falar do assunto? Perguntas Frequentes na Negligência Esta a precisar de óculos ou aparelho auditivo? Fica sozinho por longos períodos de tempo? Sente-se seguro em casa? Recebe ajuda sempre que necessita? Perguntas Frequentes na Violência Financeira Recebe e administra o seu dinheiro conforme a sua vontade? O Seu dinheiro já foi usado para atender necessidades de familiares sem o seu consentimento? Outros Exemplos de Perguntas Podia contar-me como estão as coisas em sua casa? Existe alguma coisa em especial que gostaria de partilhar comigo? Que ajuda acredita que pode receber? Como esta o relacionamento com as pessoas que vivem com você? Pode descrever-me um dia da sua vida diária? Outros Exemplos de Perguntas Sente-se só? Tem medo de alguém em casa? Alguém em sua casa grita consigo? Já o obrigaram a comer a força? Alguém em sua casa não fala consigo? Quando precisa de roupa, alimentos e medicação é atendido? Pode sair de casa quando tem vontade? Pode receber ou visitar amigos? Controlam as suas chamadas telefónicas? Alguém em sua casa usa drogas, bebe ou tem alguma doença mental? Mostrar-se cordial e amável Facilitar ao idoso a oportunidade de se sentir seguro, sem medo ou represálias por exemplo “o que vai ser dito aqui fica entre nós se assim o desejar” Observar a comunicação não-verbal Mostrar empatia por exemplo “estou preocupada com o senhor” Repetir as respostas dadas para que a pessoa confirme por exemplo “Você disse que não fez queixa porque tem medo que o seu filho faça alguma coisa contra si não é isso?” Ser específico por exemplo “estou a ver um hematoma no seu braço.” Mostrar sensibilidade por exemplo “sei que é difícil de falar dos problemas pessoais” Mostrar disposição para ajudar a encontrar outros apoios profissionais de necessário. O que não devemos fazer! Sugerir respostas para as perguntas que fazemos Pressionar o idoso para que responda perguntas as quais ele não quer responder Julgar ou insinuar que a pessoa idosa pode ser culpada pelo que está acontecendo Mostrar-se horrorizado pelo relato ou a situação descrita Fazer promessas que não podem ser cumpridas Criar expectativas que podem não ser reais sobre a solução do problema Prevalência Como podemos ajudar uma criança que sofre de maus tratos? Todos os adultos, pais, familiares ou amigos, profissionais que prestam cuidados a crianças ou simplesmente cidadãos têm o dever de proteger qualquer criança que seja vítima de maus tratos (abuso ou negligência). Uma criança maltratada que não recebe tratamento adequado será afetada no seu desenvolvimento intelectual, emocional e físico e está em risco de morrer devido aos maus tratos. Como podemos ajudar uma criança que sofre de maus tratos? Quando temos conhecimento de uma situação de maus tratos devemos informar as autoridades competentes de forma a garantir a proteção da criança. Em Portugal podemos dar conhecimento da situação às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens em Risco (antigas Comissões de Proteção de Menores) que cobrem quase toda a área geográfica do país, ainda com exceção das cidades de Lisboa e Porto, onde as situações podem ser comunicadas ao Tribunal de Menores. Quando estamos perante uma vítima de violência, importa ter em conta alguns aspetos não diretamente relacionados com o atendimento, mas com regras elementares de bom trato e cortesia. Estas ajudam-nos a mostrar-lhe que é bem-vinda, num momento difícil. O apoio emocional deve estar presente em todos os momentos do processo. Não necessita que dele se façam grandes explicações: devemos estar diante da vítima com sensibilidade humana, capazes de a ouvir, de a compreender e estabelecer empatia Encorajar a expressão de emoções e/ou sentimentos. Devemos mostrar disponibilidade, para que a vítima se expresse espontaneamente, auxiliando-a na libertação de emoções e/ou sentimentos, usando expressões como: Não se reprima, Chorar é natural e pode fazer-lhe bem, Esteja à vontade... É natural que se sinta assim abalado..., Chorar não é motivo de vergonha... Contactos Úteis: SOS MULHER 808 200 175 (Linha Azul) Solidariedade à Mulher: 808 202 710 (Linha Azul) INFORMAÇÃO MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA: 800 202 148 APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima: 21 888 4732 UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta): Tel: 21 886 79 86 O maior amigo da violência é o Silêncio. OBRIGADO E OBRIGADA FIM