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Anatomia Relevante e Biomecânica Para compreender as alterações patológicas causadas pelas fraturas e fraturas-luxações do úmero proximal e luxações glenoumerais, é importante compreender a anatomia do desenvolvimento bem como a anatomia adulta normal da articulação glenoumeral. O úmero proximal desenvolve-se a partir de três centros de ossificação. No lactente, o úmero proximal é esférico e a placa epifisária é convexa inferiormente com o seu ápice posterior e medial ao seu centro 2z A epífise do segmento articular central da cabeça umeral aparece dentro de 4 a 6 meses do nascimento 39 A epífise da tuberosidade maior aparece aproximadamente aos 3 anos e a da tuberosidade menor pelos 5 anos. Estas coalescem entre 4 e 6 anos e fundem-se com a metáfise umeral entre 20 e 23 anos (Fig. 43-1).' Codman reconheceu que as fraturas do úmero proximal adulto ocorrem ao longo das linhas da antiga cicatriz epifisária, com padrões que envolvem quatro segmentos importantes (Fig. 43-2). Estes incluem o segmento articular; a tuberosidade menor com o subescapular inserido; a tuberosidade maior com os tendões supra-espinhoso, infraespinhoso e redondo menor fixados nas suas respectivas facetas; e a diáfise do úmero. A cabeça umeral normalmente é retrovertida 35° a 40° em relação ao eixo epicondiliano do úmero distal. A articulação do ombro não está localizada no plano sagital ou coronal do corpo, e o movimento do plano escapular ocorre APARECIMENTO Coalescência do CU, 1-3 m TM com Tm, 3 a TM, Tm com CU, 6 a FECHAMENTO EPIFISÁRIO CU com diáfise, 20-23 a APARECIMENTO DOS CENTROS DE OSSIFICAÇÃO Acrômio Pré, 15-17 a COALESCÊNCIA DOS CENTROS DE OSSIFICAÇÃO EPIFISÁRIOS Acrômio, 19-21 a Glenóide e coracóide, 20-24 a Figura 43-1 Aparecimento e fechamento dos centros de ossificação em torno da articulação glenoumeral. A, úmero proximal. B, Acrômio, coracóide e glenóide. Basiacrômio - presente ao nascimento. Abreviações: TM, tuberosidade maior; CU, segmento articular da cabeça umeral; Tm, tuberosidade menor; Meso, mesoacrômio; Meta, metacrômio; Pré, epífise pré-acromial. (A,B, Redesenhados de Hodges, P.C. AJR Am J Roentgenol 30:809, 1933.) 43 / Fraturas do Úmero Proximal e Luxações Glenoumerais 1551 Diáfise Figura 43-2 Classificação das fraturas do úmero proximal nos quatro segmen- tos de Codman. 35° a 40° anterior ao plano coronal. Isto tem importantes implicações para o imageamento, reparação e reconstrução, e reabilitação. A cabeça umeral adulta média tem um raio de curvatura entre 22 e 25 mm. A superfície mais cefálica do segmento articular fica ligeiramente acima da tuberosidade maior. O tamanho da cabeça umeral determina o desvio lateral da tuberosidade maior e inserções do manguito rotador e tem um efeito importante na mecânica dos músculos do manguito rotador. Pequenas alterações como as que acom- panham colapso da cabeça ou união defeituosa superior da tuberosidade maior levam a grandes defeitos na movimen- tação, particularmente elevação. A pequena e aplanada cavidade glenóide fornece míni- mo suporte ósseo para a grande cabeça umeral. Apenas 25 a 30% da cabeça umeral articulam-se com a glenóide a qual- quer tempo. Entretanto, as superfícies articulares do úmero e glenóide possuem superfícies que se harmonizam. O labro glenóideo é uma estrutura de tecido mole em forma de cunha fixado ao rebordo glenóideo. Superiormente, ele se assemelha à cartilagem meniscal do joelho, pode ser frouxamente fixado à glenóide, e é intimamente associado com o tendão da cabeça longa do bíceps do braço. Inferiormente, ele tem um bordo rombo e é firmemente lixado ao rebordo glenóideo. O labro aumenta a profundidade da fossa glenóide em cerca de 50%. Histologicamente, o labro é uma estrutura transicional entre a cartilagem articular hialina da glenóide e a cápsula glenoumeral fibrosa. Ele é predominantemente fibroso exceto na sua inserção no re- bordo glenóideo, onde é fibrocartilaginoso. O labro torna-se fibroso à medida em que se funde com a cápsula. A cabeça umeral intacta é o fulcro através do qual o deltóide, o manguito rotador e a cabeça longa do bíceps atuam para fornecer força para elevação do braço enquanto fixam a cabeça dentro da cavidade glenóide. A força ativa do manguito rotador serve para proteger os estabilizadores ligamentares passivos do hiperestiramento ou laceração. A rotação e elevação são perdidas se o fulcro da cabeça for destruído por fratura, luxação, osteonecrose ou ressecção cirúrgica. Há uma rica rede perióstica de suprimento sangüíneo à cabeça umeral. A maior parte do suprimento sangüíneo di- reto à cabeça umeral vem da artéria arqueada suprida pela artéria circunflexa umeral anterior, a qual se origina da ter- ceira divisão da artéria axilar imediatamente acima do mús- culo redondo maior (Fig. 43-3). O ramo arqueado viaja com o bíceps superiormente e entra na cabeça umeral no sulco bicipital para fornecer o principal suprimento sangüíneo ao segmento articular da cabeça umeral. A artéria umeral posterior também envia ramos para a tuberosidade maior póstero-medialmente. Em menor extensão, suprimento sangüíneo é fornecido através das inserções dos tendões do manguito rotador nas tuberosidades e através da cápsula. Vasos na cápsula medial presumivelmente mantêm supri- mento sangüíneo para o segmento articular nas fraturas com quatro partes impactadas em valgo. Lesão da artéria axilar ou dos ramos ascendentes por fratura ou cirurgia associase com uma incidência aumentada de osteonecrose. A articulação glenoumeral possui a maior amplitude de movimento de todas as articulações do corpo. Os frouxos ligamentos que permitem esta movimentação proporcionam uma restrição passiva contra instabilidade. Eles são princi- palmente eficazes nos extremos da movimentação umeral. Diversamente das estruturas ligamentares individualizadas das outras articulações, os ligamentos glenoumerais representam espessamentos dentro dos tecidos capsulares. O mais importante destes é o complexo ligamentar glenoumeral inferior, com faixas anterior e posterior em cada lado de uma bolsa axilar. A faixa anterior viaja desde o colo umeral, inferiormente, para cima ao longo do rebordo glenóideo anterior. Ele se torna confluente com o labro glenóideo anterior no quadrante ântero-inferior da glenóide. Quando esticado em abdução e rotação externa, ele é o principal estabilizador do ombro. Lesão do labro e do complexo ligamentar glenoumeral ântero-inferior é o mecanismo mais comum de luxação glenoumeral ântero- inferior traumática. A faixa posterior muito menos bem desenvolvida viaja superiormente desde o colo umeral para o rebordo glenóideo posterior para juntar-se ao labro glenóideo posterior. Este tecido composto torna-se confluente superiormente com a origem da cabeça longa do bíceps no tubérculo supraglenóideo (Fig. 43-4). Ramo escapular circunflexo da artéria Artéria arqueada de Laing (ramo principal para tuberosidade maior) Artéria axilar Artéria umeral circunflexa anterior Figura 43-3 Suprimento vascular à região do ombro. A importância clínica do labro superior, ligamentos glenoumerais superior e médio e ligamentos coracoumerais não está tão bem definida. O ligamento glenoumeral superior fixa-se no ápice do labro superior, com o tendão da cabeça Cabeça longa do bíceps Figura 43-4 Cavidade glenóide. Relações dos ligamentos glenoumerais, manguito rotador e tendão da cabeça longa do bíceps. (Redesenhado de Hodges, P.C. AJR Am J Roentgenol 30:809,1933.) Bolsa capsular inferior Faixa anterior Faixa Complexo ligamentar glenoumeral inferior posterior Ligamento glenoumeral superior Músculo subescapular Ligamento glenoumeral médio longa do bíceps do braço, e na base do coracóide. O ligamento glenoumeral médio fixa-se ao longo do colo glenóideo anterior. Destacamentos do labro superior (lesões anteriores e posteriores do labro superior [APLS] e dos ligamentos glenoumerais superior e médio associam-se com instabilidade. O intervalo do manguito rotador, incluindo os ligamentos coracoumeral e glenoumeralsuperior, resiste à translação inferior do úmero aduzido e impede luxação posterior nas posições de flexão ou abdução e rotação externa. O ligamento coracoumeral tem um papel de prevenir instabilidade inferior e restringir a rotação externa. Este último efeito é visto comumente na capsulite adesiva. Quando visualizado artroscopicamente, o ligamento glenoumeral inferior é o mais constante ligamento discernido . 93 O labro glenóideo é o local de inserção do ligamento glenoumeral inferior. O ligamento glenoumeral médio fixa-se medialmente ao labro e mais superiormente no colo glenóideo. Ele tem alguma variação. O ligamento glenoumeral superior não é constantemente visível. Aproximadamente dois terços do movimento inteiro do ombro acima da cabeça ocorrem através da articulação glenoumeral, e um terço ocorre através da articulação escapulotorácica 45,79 O fulcro da cabeça umeral é perdido se a articulação for destruída ou a superfície articular for eliminada. Com a perda deste fulcro, a rotação é perdida bem como a elevação e a abdução. Para elevação completa acima da cabeça, é necessária rotação externa com um fulcro de cabeça umeral intacto.` O ombro exige força e resistência para função normal. Isto é derivado da interação coordenada de pelo menos 26 músculos. Estes incluem os músculos escapulotorácicos, escapuloumerais e toracoumerais. Embora o ombro não seja sujeito ao mesmo tipo e magnitudes de carga que o quadril e o joelho e tenha sido descrito como uma articulação não sustentadora de peso, ele é sustentador de carga. As forças geradas pelos músculos que cruzam a articulação glenoumeral são substanciais. Quando o braço é mantido em 90° de abdução, a força de reação na articulação é igual a 90% do peso corporal. Estas forças compreensivelmente aumentam com atividades resistidas. O manguito rotador e o deltóide cada um fornecem aproximadamente 50% da força necessária para levantamento acima da cabeça. Estes, combinados com os músculos estabilizadores da escápula, possibilitam o posicionamento do braço no espaço com força e precisão. A estabilidade glenoumeral dinâmica é fornecida principalmente pelos músculos e tendões do manguito rotador e pela cabeça longa do bíceps (Fig. 43-5). Lippett e associados demonstraram que a estabilidade é relacionada à profundidade da fossa glenóide côncava e à magnitude da força compressiva gerada pelo manguito rotador, assim confirmando o papel do manguito rotador como um mecanismo estabilizador dinâmico. Os músculos estabilizadores escapulares auxiliam na estabilidade glenoumeral mantendo a glenóide como um fulcro estável para o úmero proximal.` Esta função é perturbada quando laceração do manguito rotador acompanha luxação glenoumeral. A ruptura de qualquer um destes intricados mecanismos pode resultar em dor e perda de função, coordenação, estabilidade e força. Até mesmo pequenas alterações entre a cabeça e a inser- ção do deltóide podem alterar significativamente as razões de comprimento-tensão do deltóide. A contração efetiva do deltóide pode ser gasta reduzindo uma subluxação inferior da cabeça umeral, com pouca contração sendo dei- xada para poder de elevação (Fig. 43-6). Os músculos da cintura escapular também influenciam o grau e as direções de desvio de fragmentos de fratura. A tração dos músculos supra-espinhoso e infra-espinhoso e redondo menor resulta em desvio superior e posterior da tuberosidade maior. O músculo subescapular desvia a tuberosidade menor medialmente. Os músculos deltóide, peitoral maior, grande dorsal e redondo maior causam des- vio da diáfise umeral. Figura 43-5 As forças do manguito rotador para o úmero proximal fornecem estabilidade dinâmica - centrando a cabeça na glenóide e impedin- do translação glenoumeral anormal - e rotam o braço. O manguito rotador fornece 50% da força para elevação do braço e 90% da força para rotação externa.
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