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Gastrite A gastrite é uma inflamação do revestimento interno do estômago. Pode ser aguda, quando aparece de repente e dura pouco, ou crônica, quando se instala aos poucos e leva muito tempo para ser controlada. A dispepsia é definida como um distúrbio da digestão caracterizado por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrointestinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen, que podem estar associados a saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse. Hoje classificamos as gastrites e gastropatias baseando-se em: (1) tempo de instalação (aguda ou crônica); (2) histopatologia (gastrite superficial ou gastrite atrófica ou gastropatia); e (3) etiologia (ex.: gastrite por H. pylori). Após aquisição da bactéria, o paciente desenvolve uma pangastrite aguda superficial, que pode ser totalmente assintomática ou se apresentar com dispepsia (dor epigástrica, náuseas e vômitos). Neste momento, o histopatológico revela uma gastrite neutrofílica. Tal quadro evolui com resolução espontânea dentro de alguns dias ou semanas, porém, na maioria das vezes, a bactéria não desaparece... A partir daí, três evoluções são possíveis: (1) gastrite crônica leve; (2) gastrite antral crônica; (3) pangastrite crônica grave (atrófica). Em todas elas, o histopatológico revela uma gastrite linfocítica. Gastrite aguda por H. pylori A gastrite crônica leve representa o fenótipo mais comum, cursando de forma assintomática e sem repercussões clínicas no futuro. A gastrite antral crônica (15% dos casos), por outro lado, se associa à HIPERcloridria e à úlcera péptica (principalmente duodenal). O mecanismo é o seguinte: o H. pylori danifica de forma seletiva as células D do antro, secretoras de somatostatina, o que suprime o feedback negativo deste hormônio sobre as células G, secretoras de gastrina... Assim, ocorre hipergastrinemia, que estimula a secreção ácida do corpo e fundo gástrico (os quais se encontram livres de doença nesta forma de gastrite). Na pangastrite grave (forma menos frequente) há destruição e atrofia das glândulas oxínticas do corpo e fundo gástrico, gerando HIPOcloridria. Tal fenótipo se associa às úlceras gástricas, à metaplasia intestinal (lesão precursora do adenocarcinoma) e à hiperestimulação do tecido linfoide associado à mucosa. Pr in c ipa l f a t o r d e r i s c o pa ra ú l c e r a p ép t i c a , adenoca r c inoma gás t r i c o e o l in foma do ma l t ( t e c i do l in fo i d e asso c i ado à mucosa ) . Agente e t i o l óg ic o Bacilo gram-negativo. Reside na mucosa gástrica, como uma pequena proporção de bactérias aderentes à mucosa. O h.pylori tem forma helicoidal e possui flagelos que lhe confere mobilidade ao ambiente mucoso. Possui mecanismo de resistência ao ácido como a produção de urease, que catalisa a hidrólise da ureia produzindo amônia tamponante. Além disso, ele requer baixos níveis de oxigênio para a sua sobrevivência. Enzimas degradativas: a produção de proteases A e fosfolipases leva à degradação das membranas das células epiteliais e do complexo lipídico- glicoprotéico da camada de muco,aumentando a solubilidade do mesmo, acarretando danos à mucosa gástrica. Mecanismos de escape: o lipopolissacarídeo (LPS) presente na parede celular bacteriana possui baixa imunogenicidade, importante no processo de escape da bactéria ao sistema imune do hospedeiro. Estima-se que se tenha 80% de contaminação por H. pylori em nações em desenvolvimento. Ele é geralmente adquirido na infância que podem adquirir de seus pais (mais frequente da mãe) ou de outras crianças. O H. pylori é mais cultivado em material de vômitos e de refluxo gastro-esofágico. Transmissão Via oral-oral: a cavidade oral tem sido proposta como reservatório da infecção e reinfecção pela H. pylori, pois a regurgitação do suco gástrico pode contaminar a boca, predispondo a colonização por essa bactéria por tempo não determinado; Via fecal-oral: apesar da constatação de que H. pylori pode ser eliminada nas fezes, não se conhece o mecanismo exato de transmissão do agente por essa via, embora se saiba que a nível populacional, a disseminação de doenças infecciosas pela água baseia-se em sua contaminação por fezes; Transmissão iatrogênica: este tipo infecção pela H. pylori tem sido documentada; a alta prevalência da infecção entre os endoscopistas, particularmente, aqueles sem o hábito de usar luvas, sugere que a infecção pela bactéria pode sertransmitida por instrumentos contaminados com secreções gástricas, sobretudo quando a lavagem do equipamento é manual. Fatores de risco: Idade: a infância, particularmente nos cinco primeiros anos, constitui o período de idade de maior aquisição da bactéria H. pylori; Etnia: estudos realizados envolvendo indivíduos assintomáticos de etnias negra, branca e hispânica, encontrando menor prevalência do microorganismo em indivíduos de etnia branca e expressiva relação inversa, entre o baixo nível socioeconômico na infância e a presença de infecção; Fatores ambientais: destaca-se o fumo, o consumo de álcool, a dieta e a exposição ocupacional que influenciariam na aquisição da infecção; Fatores contextuais: relação inversa com a renda familiar. Fatores de dieta. A mucosa do estômago é constituída de epitélio colunar. Este sofre diversas invaginações que determinam a formação das fossetas gástricas. Nas bases das fossetas desembocam as glândulas gástricas. Na região do corpo e fundo gástricos, as células próximas à superfície das fossetas, e entre as mesmas, têm a função de secretar muco (células foveolares) e bicarbonato. Em situação mais profunda, já na estrutura glandular, encontramos as células parietais – também conhecidas como células oxínticas – que secretam Ácido Clorídrico (HCl) e fator intrínsec (absorção da vitamina B12), e as células principais, que secretam pepsinogênio. Este último, sob efeito do HCl, é convertido em pepsina no lúmen gástrico. As glândulas presentes no corpo e fundo gástricos também são chamadas de oxínticas. Fisiologia A acetilcolina é liberada pela estimulação vagal do estômago, influenciada pela visão do alimento, olfato e paladar. A histamina é produzida pelas células Enterocromafim-Like (células ECL), localizadas próximas às células parietais, nas glândulas oxínticas. A gastrina é produzida pelas células G, presentes no antro gástrico, em resposta a diversos estímulos. Os principais incluem aumento do pH do conteúdo gástrico, presença de peptídeos e aminoácidos dietéticos (fenilalanina e tirosina) e distensão gástrica. A somatostatina é sintetizada pelas células D, encontradas principalmente no antro gástrico; sua liberação se dá em resposta ao HCl. Este hormônio tem por função inibir a secreção ácida através de dois mecanismos: ação direta em seu receptor sobre a célula parietal e ação indireta, reduzindo a secreção de gastrina pela célula G e de histamina pelas células ECL. A destruição das células D, como ocorre em alguns casos de infecção pelo H. pylori, leva à hipergastrinemia e à hipercloridria. Outros inibidores da secreção ácida incluem o fator de crescimento epidérmico e as prostaglandinas, com as células parietais possuindo também receptores para todas essas substâncias. Patologia e Patogenia A contaminação por H. pylori induz uma resposta tecidual no estômago, a gastrite superficial crônica, que inclui a infiltração da mucosa por células mononucleares e polimorfonucleares. Entretanto, essas respostas são ineficazes no combate à bactéria. A divergência de sintomas deve-se, em parte, aos seguintes fatores: diferenças nas cepas bacterianas, suscetibilidade do paciente à doença e fatores ambientais. Embora a resposta celular seja predominante na infecção por H. pylor,i a resposta humoral também é observada, normalmente uma resposta humoral sistêmica e estável, predominantemente do tipo IgG; no entanto, na inflamação crônica observa-sepresença de anticorpos específicos, também do tipo IgA contra o patógeno. Ambos têm sido usados para diagnosticar a infecção da H. pylori no soro e saliva dos pacientes, sendo que estes anticorpos diminuem somente após a eliminação da infecção, o que ,raramente, ocorre espontaneamente. Após a infecção primária, aproximadamente metade dos indivíduos infectados poderão apresentar sintomas de gastrite aguda, tais como náuseas, vômitos, digestão difícil e demorada. Caracteriza-se pelo aumento transitório de secreção ácida e hipocloridria, sendo precursora para o desenvolvimento de uma gastrite crônica ativa, com denso infiltrado celular na mucosa, que devido à persistência pode causar sérios danos à mucosa gástrica, podendo evoluir para gastrite atrófica, atrofia gástrica, metaplasia. Um estômago normal não contém folículos linfóides, no entanto, em pacientes com gastrite crônica ativa associada com H. pylori, encontra se intenso infiltrado linfóide levando a hipótese de que a indução da gastrite por H. pylori poderia sero precursor do linfoma ao longo do tempo de infecção. A prostaglandina é uma substância produzida pelo organismo em maior quantidade quando a acidez no estômago está muito alta, que inibe as células que produzem o ácido e estimula as células que secretam o muco de proteção do estômago. Os anti-inflamatórios impedem que a prostaglandina seja formada, o que causa a gastrite. AINEs e Gastrite O risco de desenvolver DUP com o uso crônico de AINEs é maior nas seguintes situações: - Idade > 60 anos; - História prévia de úlcera péptica; - Uso concomitante de glicocorticoide; - Uso concomitante de AAS em baixas doses; - Uso de altas doses de AINEs; - Presença de comorbidades importantes (ex.: insuficiência renal crônica, cirrose hepática etc.). As úlceras pépticas são lesões da mucosa gastrintestinal com, no mínimo, 0,5 cm que penetram na camada muscular da mucosa. Falhas menores são denominadas erosões. O termo úlcera péptica é utilizado tanto para úlceras gástricas quanto para duodenais causadas por diversos mecanismos fisiopatológicos.As úlceras gástricas são subdivididas em proximais, localizadas no corpo gástrico, e distais, encontradas no antro e na incisura angular, sendo mais frequentes na pequena curvatura. As duodenais localizam-se principalmente na parede anterior ou posterior do bulbo duodenal. O risco estimado de úlcera péptica é de três a oito vezes maior nos pacientes com H. pylori em relação aos que não apresentam a bactéria. A úlcera da pequena curvatura (tipo I) é a mais comum e está associada à normo ou hipocloridria, com gastrite atrófica do corpo gástrico pelo H. pylori. Tipo II e III - hipercloridria. A dor abdominal epigástrica (epigastralgia), em queimação, que ocorre 2-3h após as refeições e à noite, que pode ser aliviada pelo uso de antiácidos ou pelo alimento. Alguns pacientes referem que eventualmente acordam à noite (entre 0h e 3h) por causa da dor, coincidindo com o pico de secreção ácida por descarga vagal. Manifestações clínicas A gastrite geralmente é assintomática. Quando há sintomas, estes variam dependendo da causa e podem incluir dores ou desconforto, náusea ou vômito e problemas geralmente descritos como indigestão (dispepsia).Gastrite crônica. Náusea e vômito intermitentes podem resultar de formas mais graves de gastrite, como gastrite erosiva e gastrite por radiação.Pode ocorrer indigestão, especialmente na gastrite erosiva, gastrite por radiação, gastrite pós- gastrectomia e gastrite atrófica. Também ocorre dispepsia muito leve em casos de gastrite aguda por estresse. Diagnóstico Pode ser através de testes evasivos que incluem cultura, histologia, teste rápido da urease e reação em cadeia da polimerase (PCR). Padrão-ouro: biópsia. o tratamento consiste em uso de antibióticos por 14 dias e inibidores de bomba de próton por 28 dias
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