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A Vida de Jesus Do Nascimento ao Sermão do Monte Leandro Lima Sérgio Lima Volume 1 Leandro Lim a / Sérgio Lim a A VIda de Jesus 1 Continuando bíblicos para Escola Dominical, ou grupos de estudos teológicos, apresentamos a Revista “A vida de Jesus”. Dois volumes para um ano de estudos, abordando toda a trajetória de Cristo, do nascimento à ascensão, passando pelos principais eventos da vida daquele que foi o maior de todos os seres humanos que já viveu, o qual, segundo a Bíblia, veio para nos salvar de nossos pecados. Um destaque, entre tantos, está justamente no paradoxo visto entre sua humilhação e sua glória. Aquele que nasceu de uma virgem pobre e desconhecida, foi posto num comedouro de animais, teve como suas primeiras visitas rudes pastores do campo, foi o mesmo a quem anjos anunciaram, diante de quem magos se prostraram e reis temeram. Ele veio para inverter todos os status da sociedade daqueles dias (e também dos atuais). Não nasceu em um palácio, não foi filho de príncipes reconhecidos, não andou entre os principais religiosos, antes preferiu a companhia de pescadores, de cobradores de impostos, e, não poucas vezes, de prostitutas e adúlteras regeneradas. Sua maior derrota foi sua grande vitória, seu trono foi sua cruz; no auge de sua simplicidade, humilhação e sofrimento, ele revelou sua glória, a glória do unigênito do Pai. a série de estudos Este E-Book é exclusivo para alunos do IRSP Instituto Reformado de São Paulo É proibido qualquer reprodução, cópia ou compartilhamento, total ou parcial deste livro. A Vida de Jesus Do Nascimento ao Sermão do Monte LEANDRO LIMA SÉRGIO LIMA © Leandro Lima \ Sérgio Lima Projeto gráfico Vanessa Sousa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) L732c Lima, Leandro Antonio de, 1975- Lima, Sérgio Paulo de, 1970- A Vida de Jesus - Do Nascimento ao Sermão do Monte. - São Paulo : Agathos, 2014. v.1. ISBN: 978-85-99704-18-9 1. CRISTIANISMO. 2. JESUS CRISTO. 3. NOVO TESTAMENTO. 4. A VIDA DE JESUS 5. BÍBLIA - COMENTÁRIOS. 9. BÍBLIA - CITAÇÕES. ASPECTOS RELIGIOSOS. I.Título. PeR – BPE 12-002 CDU261 CDD 261.22 2014 Todos os direitos reservados e protegi- dos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Agathos Editora (011)5521-4495 A vida de Jesus Do Nascimento ao Sermão do Monte LEANDRO LIMA SÉRGIO LIMA Volume 1 1ª Edição 2014 SUMÁRIO Volume 1 1 JESUS CRISTO, O CENTRO 9 2 O ANUNCIADO 16 3 A CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 23 4 FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 30 5 ELE ESTÁ ENTRE NÓS 37 6 GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 44 7 NA CASA DO PAI 51 8 O MENINO MESTRE 58 9 A DIGNIDADE DO TESTEMUNHO 65 10 A TRINDADE NA CONSAGRAÇÃO DO MESSIAS 72 11 TENTAÇÃO: O TESTE INICIAL DO MINISTÉRIO 79 12 SALVAÇÃO - UM TESOURO PARA COMPARTILHAR 87 13 O PRIMEIRO MILAGRE - SINAL DE SUA AUTORIDADE 94 14 ZELO PELA CASA DE DEUS 101 15 ENSINO, PREGAÇÃO E “TERAPIA” 108 16 SERMÃO DO MONTE: LEI DO CORAÇÃO 115 17 A VERDADEIRA FELICIDADE 122 JESUS CRISTO O CENTRO 9 INTRODUÇÃO Foi anunciado, mas ao chegar não foi reconhecido. Era esperado, mas causou imensa surpresa. Era ouvido, mas nem sempre compreendido. Causava preocupações, reconsiderações, temores, e ao mesmo tempo, esperança e alegria. “Quem dizeis que eu sou?”, perguntou certa vez. Simplesmente, o Filho do Deus vivo, disse Pedro. Sim! Deus se fez homem e habitou entre nós. Não é mais um fato corriqueiro da sofrida vida humana. É a plenitude dos tempos com o melhor presente. A régua, o prumo que mediria o mundo estava entre nós. A vida humana amaria a ele conformando-se à sua pessoa e obra, ou o odiaria com todas as suas forças. Ele é Jesus Cristo! Um impacto inigualável na história do mundo. Mais do que dividir o próprio tempo em antes e depois de Cristo, Jesus veio para estabelecer um tempo realmente novo. Uma nova era de acesso a Deus e comunhão com ele. Os seus ensinos vieram das Escrituras existentes até o momento, foram vividos pelos que o acompanharam, o seu exemplo foi assimilado e as suas novas instruções foram registradas por seus discípulos. Um mestre em Israel, que abençoaria o mundo. Luz para os povos! Ele é o caminho, a verdade, a vida, a água, o pão, a porta, o pastor. Existe um pastor para as ovelhas perdidas da Casa de Israel! Não continuarão perdidas! As que lhe pertencem o ouvirão e o seguirão por fé. I. O TEMPO DE DEUS (PLENITUDE) Deus sempre amou ao mundo. Moisés registra que na criação, a cada novidade, a cada novo dia, Deus expressava sua satisfação com a frase: Tudo era bom! (Gn 1.10, 12, 18, 25). A queda, porém, trouxe consigo uma dura pena ao homem. Expulso do jardim, JESUS CRISTO, O CENTRO Gálatas 4.1-7 1 10 A VIDA DE JESUS o homem teria dificuldade em buscar ao Senhor, conviver com o seu semelhante e administrar a natureza. Quanto tempo isso duraria? Alguns milênios. Mas Deus sempre amou ao mundo, e nunca retrocedeu no seu propósito de redimir o homem do seus pecados. Haveria um dia em que a relação com Deus seria restaurada, a relação entre semelhantes seria uma possibilidade e a administração da natureza seria um propósito almejado por seus filhos. O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5). Os antigos contavam o tempo como um recipiente onde iam gotejando os minutos, horas, dias, semanas, meses e anos. Na perspectiva do Apóstolo Paulo, era como se esse recipiente tivesse finalmente se enchido. Quando esse tempo se “encheu” Deus enviou seu Filho. Ele esperou o tempo do mundo, literalmente o “chronos” se encher. Todavia, Deus não esperou que o último grão de areia caísse no recipiente do tempo de braços cruzados, ele agiu efetivamente a fim de preparar o mundo para o nascimento de seu Filho. Homens como tipificações do Messias foram conhecidos desde a antiguidade. Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué, Davi, e alguns outros, lembravam o povo acerca do Deus que tinham, e da sua relação com ele. A Lei determinava limites. Os profetas não se cansavam de propagar a centralidade de Deus. Os heróis da fé viveram e morreram na certeza de que Deus orquestrava um plano redentivo para o seu povo. Deus preparou o mundo através dos séculos, para o nascimento de Jesus. Não poderia ser diferente, a maior e mais definitiva intervenção de Deus na história do mundo não poderia acontecer de qualquer jeito. Deus preparou cuidadosamente o mundo para o nascimento de seu Filho, a fim de que ele pudesse realizar a obra para a qual veio. No contexto da afirmação de Paulo aos Gálatas sobre a plenitude do tempo destaca-se o papel realizado pela Lei. Acima de tudo, essa foi a grande preparação de Deus nesse mundo. Séculos antes de enviar seu Filho, Deus enviou sua Lei. A Lei ajudou a preparar o mundo para que Jesus nascesse. Portanto, a Plenitude dos Tempos se refere ao tempo quando Deus, em sua soberania, terminou os preparativos para executar o plano da Redenção. A Lei já havia cumprido seu propósito de mostrar ao homem seu estado de completa inaptidão para servir a Deus, e o próprio Deus já havia largamente indicado que a forma de salvação era pelo derramamento de sangue, conforme o sistema de sacrifício vigente no templo demonstrava. Além disso, sabe-se que Israel desejava ardentemente a vinda do Messias. Deus se incumbiu de deixar pistas no Antigo Testamento sobre a vinda de um homem que libertaria o povo e o levaria a uma era de paze prosperidade. Sem essa crença, a vinda de Jesus não teria tido o mesmo JESUS CRISTO O CENTRO 11 impacto. O ato de enviar o seu filho foi a maior demonstração do amor de Deus. A conta era impagável, o preço era de sangue. Jesus derramou o seu sangue pelos homens. A cruz foi o local do martírio do filho de Deus e da redenção dos filhos de Deus. II. O FILHO DE DEUS (REDENTOR) No começo do seu ministério, foi considerado alguém muito inteligente, que despertava atenção por sua alta concentração nas coisas de Deus. Mas isso, outros também fizeram. Poderia ser mais um mestre em Israel, mesmo sem passar pela escola clássica? Sempre houve alguém sobre a terra que pregava, ensinava e testemunhava a respeito de Deus. No entanto, quando ele afirmou que era o Filho prometido de Deus, que fazia a obra do seu pai, e que era o salvador, dividiu as águas. Amar e odiar, seguir e perseguir, glorificar e profanar tornaram-se práticas antagônicas resultantes da interpretação de quem ele era. Não existe personagem mais debatido em toda a história do mundo do que Jesus, o carpinteiro de Nazaré. Ninguém é como Ele, amado ou odiado, adorado ou profanado. Uma coisa é certa, ele mexe com todos. O curioso é que, enquanto os mais eruditos e capacitados pesquisadores se calam ou falam demais perante o mistério de sua pessoa, pessoas simples têm a coragem de dizer que o conhecem e que ele é o Filho de Deus. Até aos dias de hoje repercute a questão que Jesus levantou para seus discípulos: “quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). A. O Filho eterno é a solução para o problema do mal A iniquidade não tem limites. O homem em seu estado decaído pratica o mal, e se especializa em fazer sempre o que é errado porque o seu coração é desesperadamente corrupto. Somente uma intervenção externa poderia alterar uma essência terrivelmente dominada pelo pecado desde a queda. O estado espiritual do homem é degenerativo, autodestrutivo e contaminante. Não há nenhum ser humano saudável, nesse sentido (Rm 3.23). Para a Escritura, não resta dúvida, Jesus é o Filho de Deus, o único possível interventor. Paulo diz: “na Plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho”. Como nenhum outro, Jesus recebe na Escritura o título de “Filho”. Ele veio a esse mundo porque foi enviado. Isso significa que veio com uma missão: resolver o estado caótico em que se encontra o mundo. Com a entrada do pecado, o mundo se tornou “território” de Satanás. O homem corrompido pelo pecado, destituído de qualquer capacidade de mudar sua situação, marcha para a autodestruição numa vida de separação de Deus. A vinda de Jesus é a grande intervenção de Deus na história a fim de recuperar o território perdido, e reconduzir o mundo ao propósito original. Paulo escreveu: “Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai. Assim, 12 A VIDA DE JESUS também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo” (Gl 4.1-3). Paulo está fazendo uma comparação do homem antes da vinda de Jesus com o filho herdeiro antes de assumir a herança: não são superiores a escravos. O que Paulo está dizendo é que antes da manifestação de Cristo, os homens eram escravos dos “rudimentos do mundo”. Comentando o texto de Gálatas, uma excelente interpretação da expressão “rudimentos do mundo” nos é dada por Hendriksen: “ensinos elementares acerca de regras e ordenanças, pelos quais, antes da vinda de Cristo, os indivíduos, tanto judeus como gentios, cada um à sua maneira, buscavam por seu próprio esforço alcançar, e segundo a disposição de sua própria natureza carnal, sua salvação”1. Ele é a solução para o problema do mal. Ele é o libertador dos escravos, que agora se tornam filhos, tendo sua condição alterada totalmente e definitivamente. B. O Filho eterno se torna o menino de Belém Existente antes da concepção, desde os primeiros marcos do mundo, estava com o Pai. A Glória era sua honra, o mundo fora criado para ele. O tempo cronológico, que não consegue dimensionar a sua existência, por lhe faltar recursos, o terá por trinta e três anos. Uma das coisas que essa expressão “Deus enviou seu Filho” representa é a própria pré-existência do Filho. Ele abriu mão da sua glória, e semelhante a um homem, se esvaziou, e servo se tornou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pré-existente, enviado, nascido de mulher, filho de homem e filho de Deus, anunciador, professor, pastor, acusado, condenado, morto. O tempo da vida de Jesus na terra representou o que houve de mais completo na existência. Nada do que aconteceu antes, mesmo quando os grandes impérios surgiram e desapareceram, mudou a monotonia do tempo como quando os pequenos grãos de areia caíram um a um até os tempos ficarem plenos. A vinda do Filho de Deus tornou aqueles dias plenos, como disse Pohl “os anos 1 a 30 foram, nesse sentido, tempo pleno, mais que cheio, porque alimentaram de sentido toda a história da revelação antes e depois deles e, assim, a história propriamente dita”2. O tempo que Jesus esteve aqui foi a grande intervenção de Deus na história. Aqueles dias tornam o resto da história cheia de sentido e expectativa. Quando nasceu, o colocaram em uma manjedoura. Um recipiente de madeira, provavelmente. Da manjedoura em Belém para a cruz de madeira dos malditos em Jerusalém, este foi o seu percurso, do nascimento à morte. Mas a tão temida morte não o deteve, e o viu tornar-se o primogênito entre os homens. Deus o ressuscitou e o exaltou e lhe deu o nome que é sobre todo o nome tanto no céu quanto na terra. A glória e a eternidade são o seu destino. 1 William Hendriksen. Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 228. 2 Adolf Pohl. Carta aos Gálatas. Curitiba: Editora Esperança, 1999. p. 143. JESUS CRISTO O CENTRO 13 3 João Calvino. Gálatas. São Paulo: Editora Paracletos, 1998. p. 123 (Com. Gl 4.4) C. O Filho eterno se torna homem entre os homens. Não era aparência de homem. Era homem mesmo, sujeito às fragilidades da raça humana. Menino, adolescente, jovem e adulto. Feliz, triste, cansado e animado. Jesus veio a esse mundo realizar a missão de salvar o homem tornando- se ele próprio um homem. Também isso estava no plano de Deus. Paulo aponta para isso com a expressão “nascido de mulher”. Essa expressão por sua vez nos aponta para o maior mistério dessa vida. Por séculos os teólogos têm debatido em cima do mistério cristológico e não têm conseguido entender suficientemente a essência desse Deus que se fez homem. Essa porém, é a essência do cristianismo: Deus adentrou ao tempo e se fez um de nós. Ao vir para esse mundo, Jesus entrou pela porta comum pela qual todos entram, nascendo da mulher. João Calvino diz que Jesus “se vestiu de nossa natureza”3. Isso é uma repercussão do autor do quarto evangelho que disse: “e o verbo se fez carne”. Tudo isso nos aponta para a real e específica encarnação de Cristo, o maior de todos os mistérios da teologia. Ele não apenas pareceu um homem, ele foi um homem de fato em todos os sentidos. Tanto sua divindade quanto sua humanidade eram absolutamente necessárias para a obra que precisava realizar. Era Deus e homem, pleno homem e pleno Deus. Duas naturezas em uma só pessoa. Deus e homem, sem confusão, sem mistura. Mas não duas pessoas num ser. Um só ser, uma só pessoa, duas naturezas perfeitamente unidas, para que o supremo propósito de Deus se cumprisse. Unir sem misturar a criatura ao seu criador. D. O Filho eterno redime os filhos adotivos de Deus Qual é a principal missão do Filho Eterno? De acordo com Paulo a grande missão do Filho que veio na Plenitude dos tempos foi “resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5). Ele expressa o benefício concedidode uma forma negativa: “resgate”, e outra positiva: “adoção”. O resgate da Lei dos rudimentos do mundo que escravizava o homem aconteceu porque “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo- se ele próprio maldito em nosso lugar, porque está escrito: maldito todo aquele que for pendurado em madeiro” (Gl 3.13). A maldição que Cristo assumiu foi o pagamento do resgate da tutela da lei. Ao mesmo tempo que fomos livrados da escravidão por esse ato de Cristo, também fomos elevados à categoria de filhos por adoção. Tanto o resgate de escravos como a adoção de filhos são aspectos legais comuns no tempo do Apóstolo Paulo. O que a adoção sugere é exatamente a maioridade do cristão, que em Jesus, deixa de ser escravo sob os rudimentos do mundo e passa a desfrutar da verdadeira liberdade do filho em todos os seus direitos. Enviando Jesus ao mundo, Deus não só resgatou o homem da escravidão da lei e do mundo, elevou o homem a categoria de filho, como deu plena garantia disso enviando o Espírito Santo. Paulo diz: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, 14 A VIDA DE JESUS que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus” (Gl 4.6-7). A certidão de nascimento do filho de Deus é o Espírito Santo que habita seu interior e que clama: “Aba, Pai”, uma expressão íntima de um filho para seu pai. O Espírito Santo, também chamado por Paulo de “penhor da nossa herança” (Ef 1.14) é a garantia de que somos herdeiros de Deus e que certamente receberemos essa herança. CONCLUSÃO Nunca houve e nem haverá outro como Jesus, o Cristo, que nasceu, viveu, morreu e ressuscitou no primeiro século. Impactou e dividiu a história. Colocou- se no meio de dois testamentos, e gerou uma nova contagem cronológica para os calendários do mundo. Colocou-se no meio de dois mundos, o divino e o humano, e possibilitou a união desses dois lugares separados por causa do pecado. Toda uma civilização foi construída sobre as bases do cristianismo. Os melhores conceitos de adoração a Deus, de amor ao próximo e de convivência pacífica com a existência se devem a Ele. A civilização ocidental, que tem estado na vanguarda do mundo desde o estabelecimento do cristianismo, deve sua própria origem ao cristianismo de Jesus. O mundo tem uma dívida impagável com o homem de Nazaré. Dá para imaginar um budismo sem Buda e até um islamismo sem Maomé, e muitas outras religiões também passariam bem sem seus fundadores, pois não dependem deles e sim dos ensinos deles. O cristianismo, porém, não existe sem Cristo. De fato, “seria mais fácil separar todos os raios de luz que atravessam o espaço e deles remover uma das cores primárias, do que retirar do mundo o caráter de Jesus”4. As vezes as pessoas se dizem cristãs porque fazem certas obras ou têm certos comportamentos, mas isso é um equívoco, ninguém é cristão por algo que faz e sim por sua postura em relação a Cristo. Não somos salvos pelos ensinos de Jesus somos salvos por Jesus. O Cristianismo é Jesus. APLICAÇÃO Jesus perguntou: Quem dizeis que eu sou (Mateus 16.13-20)? O que ele é para nós? João escreveu que a vinda do Filho foi uma prova de amor de Deus por nós ( João 3.16). Amamos por que ele nos amou primeiro? A vinda de Jesus na plenitude dos tempos impactou a existência ( João 1). Qual é o impacto da vinda de Jesus sobre sua vida? 4 E. H. Bancroft. Teologia Elementar. São Paulo: Editora Batista Regular, 1966. p. 97 15 Anotações 16 A VIDA DE JESUS O ANUNCIADO Mateus 1.1-17 2 INTRODUÇÃO Houve um momento no jardim do Éden, um instante forense, em que o Senhor Deus estabeleceu um veredicto judicial sobre Adão, por conta da desobediência e anunciou suas consequências (Gn 3.14,15). Entendemos que foi um instante crucial1, no melhor sentido da palavra. Parecia não haver solução para a situação do homem. E, de fato, o homem não solucionaria o seu problema por sua própria condição. Condenado, restava cumprir sua pena. Dali em diante, imerso no pecado, o homem apenas geraria os pecadores para sempre. Neste momento, o redentor foi anunciado pela primeira vez. Então, ele foi anunciado no jardim do Éden (Gn 3.14,15), e continuou a ser anunciado no monte Moriá quando Abraão sacrificaria o seu filho (Gn 12.1-14), no cordeiro pascal quando os israelitas comemoraram a primeira páscoa (Ex 12.1-28), no Maná que caía do céu como pão (Ex 16.1-4), na água da rocha quando o povo andava pelo deserto (Nm 20.1-11), através dos profetas que sempre disseram que o redentor viria (Is 11.1-6), e muitas outras vezes. Na plenitude dos tempos, o sempre anunciado Messias viria... I. O DIREITO DE JESUS AO TRONO DAVÍDICO Do tronco de Jessé nasceria um renovo, um rebento... (Is 11.1). A casa davídica permaneceria para sempre. Mas como isso seria possível uma vez que o povo de Deus era frágil? Um povo assim entre tantos povos mais poderosos conseguiria tal feito? Sustentaria a propriedade? Protegeria as suas fronteiras? Em Mateus 1.1-17 vemos a linhagem do Messias sendo preservada. A palavra Cristo tem origem no termo hebraico mashiac, ou seja, Messias, que significa ungido. No Antigo Testamento usava- 1 Crucial vem de “cruz”. O ANUNCIADO 17 se óleo para ungir alguém chamado por Deus para um ofício (1Sm 16.13), contudo, no tempo de Jesus, Messias trazia a conotação de Rei. De onde viria o rei prometido? Os israelitas davam muita importância às genealogias porque para eles era uma questão vital. Quando o povo entrou em Canaã, a terra foi dividida entre as tribos, de maneira que era preciso saber exatamente a que ascendência uma determinada pessoa pertencia para saber qual pedaço de terra herdaria (Nm 26.34- 35). Com certeza, a principal razão pela qual tanto Mateus quanto Lucas fizeram questão de colocar a genealogia de Jesus em seus Evangelhos foi para provar que Jesus era um legítimo descendente de Davi e, consequentemente, um herdeiro do Trono de Israel. A diferença básica entre os dois evangelistas é que Mateus segue a ascendência de José que era tido como pai de Jesus e Lucas segue a ascendência de Maria. Fosse por José, fosse por Maria, Jesus era igualmente descendente de Davi. Mateus, que escreve para os judeus, faz questão de demonstrar a genealogia de Jesus a partir de Abraão. Lucas, que escreve para gentios, vai mais atrás até o próprio Adão, originador de toda a raça humana. A descendência davídica de Jesus Cristo era muito importante, pois Deus havia prometido a Davi que o descendente dele se assentaria no Trono de Israel (2Sm 7.12-17). Em seu ministério, Jesus sofreu várias acusações sobre sua origem. O povo ignorava sua ascendência davídica. Era de domínio popular a informação de que o Messias nasceria em Belém e seria descendente de Davi ( Jo 7.41-42), e todos pensavam que Jesus era da Galileia. Os Evangelhos escritos corrigiram essa noção errônea (Mq 5.2). Como afirma John MacArthur Jr. “é igualmente interessante e significante que desde a destruição do Templo em 70 d.C. não existam genealogias que possam traçar a ascendência de algum judeu que vive nos dias de hoje. O significado primário deste fato é que, para aqueles judeus que esperam pelo Messias, sua linhagem até Davi nunca poderá ser estabelecida. Jesus Cristo é o último pretendente ao trono de Davi que pode ser verificado”2. Todos os registros dos judeus que esperavam um sucessor de Davi apontaram para Cristo, e nunca mais houve registros que apontem para outro redentor. Ou é Cristo, ou nenhum. Este é o dilema judeu, negar os seus próprios registros e as suas próprias expectativas messiânicas, rasgando assim, milhares de anos de história, ou reconhecer Jesus como Messias. II. OS HONRADOS PELO REGISTRO SAGRADO Quando olhamos para a extensa lista de nomes descrita na genealogia de Jesus alguns são absolutamente estranhos para nós. E defato, alguns nomes somente aparecem aqui na Bíblia. Não temos qualquer informação adicional sobre eles, mas percebemos que Deus é suficientemente justo e misericordioso 2 John F. MacArthur. Mathew - The MacAr- thur New Testament Commentary. Chicago: Moody Press, 1983. Mt 1.1. 18 A VIDA DE JESUS para não deixar ninguém esquecido. A. Abraão e Davi Precisaríamos muito tempo para falar desses dois homens de Deus, que estão entre os personagens bíblicos mais importantes de todos os tempos. O que eles têm em comum é a fé inabalável nas promessas de Deus. A ambos Deus fez promessas. Abraão foi chamado de Ur dos caldeus para ser uma bênção para todas as famílias da terra (Gn 12.1-3). Sua descendência seria numerosa como as estrelas do céu (Ex 32.13). Abraão é chamado pelo Novo Testamento de o “pai de todos os que creem” (Rm 4.11). Jesus é o descendente de Abraão que abençoa todas as famílias da terra e que torna a descendência de Abraão numerosa como as estrelas do céu ou como a areia do mar. De Davi, como já dissemos, Deus disse que seu descendente se assentaria para sempre no seu trono. Jesus é o descendente de Davi, o legítimo herdeiro de seu Trono. B. As mulheres Significativamente na ascendência de Jesus, citam-se várias mulheres. Mais do que a lógica, porque sem elas ninguém nasceria, há a intenção de honrar quem deve ser honrado. A começar por Maria, a mãe de Jesus. Maria era uma jovem e desconhecida mulher que foi agraciada por Deus para uma tarefa sem precedentes. Como Abraão e Davi, Maria também era pecadora e precisava de salvação. Por isso ela mesma disse: “o meu espírito se alegrou em Deus, meu salvador” (Lc 1.47). Mais quatro mulheres são citadas na lista: Tamar, Raabe, Rute e Bateseba (essa última não é citada pelo nome). As três primeiras têm algo em comum: são estrangeiras. E Bateseba, antes de Davi, era mulher de outro homem. Tamar era canaanita e nora de Judá. Sua história é contada em Gênesis 38. O marido de Tamar chamava-se Er. Ele morreu sem deixar filhos. No costume da época, o irmão mais moço deveria suscitar a descendência do irmão morto. Assim, Onã, irmão de Er se casou com Tamar, mas se recusou a engravidá-la, consciente de que o primeiro filho seria legalmente descendente de Er. Punido por Deus, Onã morreu. Judá prometeu a Tamar o filho caçula, mas não cumpriu a promessa. Um dia Tamar se disfarçou de prostituta e se deitou com o próprio Judá. Tendo engravidado, Judá ordenou que fosse morta, foi quando ela provou que estava grávida dele. Dessa ilícita união nasceram Perez e Zera. Perez entrou na linhagem do Messias. Raabe é a próxima citada na genealogia. Era estrangeira, habitante de Jericó e prostituta de profissão. Seu grande feito foi proteger dois israelitas enviados por Josué para espiar a terra ( Js 2.1-21). Por causa disso foi poupada quando Jericó foi destruída ( Js 6.22-25). Ela se tornou esposa de Salmom e mãe de Boaz, que foi avô de Davi. Rute, a moabita, é a terceira mulher citada na lista. Foi a mulher que se casou com Boaz, e portanto, acabou sendo nora de Raabe. Mas, antes disso foi nora de Noemi, e permaneceu junto O ANUNCIADO 19 dessa, mesmo quando o marido, filho de Noemi, morreu. Voltou junto para Israel com Noemi, tendo aceitado o Senhor como seu Deus. Foi avó de Davi, o grande rei de Israel. Bateseba é identificada na lista como a mãe de Salomão, e antes fora mulher de Urias. Davi cometeu adultério com ela, e a criança que resultou do adultério morreu. Salomão, entretanto, foi o sucessor de Davi no trono e continuou a linhagem messiânica (2 Sm. 11:1-27; 12:14, 24). O que essas quatro mulheres têm em comum é que, aos olhos humanos, não seriam consideradas dignas, nem muito honradas. Entretanto, Deus as incluiu na linhagem de seu Filho. Isso nos mostra como Deus tem seus “caminhos secretos”, realiza o improvável e escolhe o inesperado. A graça de Deus é o que se destaca acima de tudo nessas escolhas. De fato Jesus veio buscar pecadores ao arrependimento (Mt 9.13), pois pecadores foram tanto seus “descendentes” quanto seus ascendentes. III. OS DIFERENTES PERÍODOS Ao todo Mateus lista três grupos de ancestrais de Jesus (Mt 1.17). O objetivo de Mateus ao dividir as gerações dessa forma é demonstrar que a graça de Deus esteve presente em três épocas bem distintas da nação. A. O Tempo das Peregrinações O tempo de Abraão até Davi incluiu o tempo dos Patriarcas, de Moisés, Josué e dos Juízes. Foi uma longa época em que o povo de Deus contemplou os grandes feitos do Senhor para libertação. Foi nesse tempo que o povo tomou conhecimento da Aliança, recebeu a Lei e conquistou a Terra Prometida. De um homem, Deus fez para si um povo, que se multiplicou e se tornou uma genealogia, uma luz ascendente entre as nações, com registros históricos que confirmam a sua trajetória objetiva de chegar ao melhor lugar da terra. Isso aconteceu nos tempos de Josué, o povo, instalado no lugar escolhido, começou a sua organização política. Eles querem um rei... O povo de Deus necessita ter a mesma organização dos povos? Quais são as suas leis? B. O Tempo da Monarquia De Davi até a deportação para a Babilônia foi o período em que Israel se manteve organizado em forma de Reino. O povo quis um rei em semelhança das nações ao redor (1Sm 8.5). Foi um tempo de declínio e apostasia. Enquanto os reis se alternavam entre bons e maus, os profetas iniciaram uma atividade reformatória apontando para um rei acima dos reis. Deus era o rei dos reis. Ele sustentava a existência pela força do seu poder. Este período de aproximadamente quinhentos anos foi um tempo para conhecer a disciplina de Deus, embora a mais dura disciplina ainda estava por vir. Apenas quatro reis se destacaram 20 A VIDA DE JESUS nesse período como defensores da verdade de Deus: Davi, um homem segundo o coração de Deus; Josafá, que compreendeu a necessidade de um rei sobre si; Ezequias que estreitou o relacionamento e foi abençoado por Deus, e Josias, que foi um dos mais jovens restauradores da ortodoxia perdida. Era de reis que o povo necessitava? Ou de voltar-se para o supremo rei, com a instrução mais segura, e um cuidado garantido pela Graça? Ao mesmo tempo, levantando reis fiéis e tementes, Deus mostrou sua misericórdia e “adiou” por várias vezes a destruição de Judá e Jerusalém. Tudo isso fez parte do plano de trazer o Messias ao mundo. C. O Tempo do Cativeiro As catorze gerações que viveram desde a deportação para Babilônia até Cristo experimentam a “Era das Trevas” de Israel. Durante todo esse período, Israel jamais deixou de ser escravo de potências estrangeiras. Templo queimado, muros assolados, política danificada, famílias destruídas, sistema religioso avariado. Nações ímpias comandaram o seu destino, reis foram humilhados e o povo foi escravizado. Uma coisa permanece: o pacto da redenção através da linhagem messiânica. E mais do que nunca, o anseio pelo Messias perdura. Durante esses três distintos períodos da história de Israel, Deus continuou agindo ininterruptamente a fim de trazer a salvação ao mundo. Apesar de toda apostasia e declínio, a linhagem santa prosseguiu através de heróis como Davi, ou desconhecidos como Azor. Nas palavras de MacArthur: “a genealogia de Jesus é um misto de glória e vergonha, heroísmo e desgraça, renovação e obscuridade. Israel levanta, cai, estagna e finalmente rejeita e crucifica o Messias que Deus enviou para eles. Mas Deus, em sua infinita graça, já enviou seu Messias através deles”3. IV. O ÚLTIMO NOME Como já vimos, muitos nomes citados na lista nos falam de histórias tristes, cheias de violência e atos pecaminosos. Encontramos defeitos em todos os nomes citados nessa lista. A Bíblia não é um livro parcial, ela faz questão de mostrar a realidade sem disfarçar os defeitos dos personagens como se fosse um filme de ficção. Homens como Abraão quementiu sobre sua mulher Sara (Gn 12.13), e em outra ocasião tomou a serva Agar como mulher para “apressar” a promessa de Deus (Gn 16.1-4). Ou Arão que construiu os bezerros de ouro fazendo Israel se desviar (Ex 32.1-4). Ou Davi que adulterou com Bateseba e foi responsável pela morte do marido dela (2Sm 11.1-27). Ou Salomão que deixou suas mulheres lhe perverterem o coração e caiu na idolatria (1Rs 11.3-4). Ou Acaz que foi um rei ímpio, que desviou o povo do caminho do Senhor e chegou até a queimar seu próprio filho em sacrifício segundo as abominações dos povos da terra (2Rs 16.1-4). Ou Manasses, que além das abominações de Acaz, chegou a colocar um poste-ídolo dentro do Templo do Senhor em Jerusalém (2Cr 3 John F. MacArthur. Mathew - The MacAr- thur New Testament Commentary. Chicago: Moody Press, 1983. Mt 1.17. O ANUNCIADO 21 33.1-7). Todos esses figuram na lista e carregam histórias particulares de vitórias e derrotas. Mas, ao fim de todos esses nomes figura o nome do Senhor Jesus Cristo. Cristo é a salvação para seu povo não importa como esse povo vivia antes de conhecê-lo. Ao mesmo tempo, a pecaminosidade desses homens (e a nossa) tornou necessária a vinda do Senhor. Num sentido podemos dizer que Cristo termina uma lista e começa outra. Ele termina a lista dos pecadores da terra e inicia a dos pecadores regenerados e arrolados no céu. CONCLUSÃO Ao estudarmos a vida de Jesus, precisamos nos deter nos Evangelhos escritos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Eles são nossa fonte. Neles nos deparamos com a pessoa impressionante de Jesus de Nazaré. Cada detalhe desses escritos sagrados é de máxima importância para nós. Nas genealogias do Oriente Próximo, as mulheres geralmente não eram contadas, mas na genealogia bíblica elas figuram como parte da história. As cinco contadas são: Tamar (Gn 38.6-30), Raabe ( Js 2), Rute (Dt 23.3-5), Bateseba (2Sm 11) e Maria (que cumpriu a promessa de Isaías 7.14 e Gênesis 3.15, conforme Gálatas 4.4). Pessoas do ocidente não costumam dar muita importância a Genealogias. Por essa razão, achamos enfadonho ter que ler as extensas listas genealógicas do Antigo Testamento. Mas o Novo Testamento também começa com uma lista genealógica: A Genealogia do Filho de Deus como homem. Ela é de suprema importância, pois revela a soberania e a fidelidade de Deus. Aqueles que costumam “pular” esse texto até encontrar algum assunto mais interessante, não fazem ideia do que estão perdendo ao deixar de considerar a Genealogia de Jesus Cristo. Se o Espírito Santo fez questão de que ela estivesse aí é porque faz sentido e é importante para nossa vida. A genealogia, o nascimento, os primeiros dias, a infância de Jesus nos mostram que ele era o Messias aguardado. Desde cedo, Deus o conduziu para ser apresentado como o rei dos judeus e dos gentios para todo o sempre. Ninguém pode ser tão pecador que se exclua do alcance da graça de Cristo. APLICAÇÃO Anunciado no Éden, anunciado no Monte Moriá, anunciado no cordeiro Pascal, anunciado no Maná, anunciado na Rocha, anunciado na Serpente de Bronze, anunciado no templo. Anunciado. O Antigo Testamento afirmou a vinda do justo servo do Senhor (Is 42.1-9), ele seria profeta como Moisés (Dt 18.18-19), ministro da ordem de Melquisedeque (Sl 110.4), rei da linhagem de Davi (Is 55.1- 3). Por mais terríveis que sejam os nossos 22 A VIDA DE JESUS pecados, eles não fecham o céu para nós. Nossa vida de pecado acaba em Cristo. Após Cristo não há mais nomes a serem citados. Ele é o fim de tudo. É o nosso destino. Todos nós somos chamados pelo nome dele. Somos cristãos. Anotações CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 23 INTRODUÇÃO Salvador, Cristo e Senhor. É assim que ele foi anunciado no Antigo Testamento. Assim ele foi descrito pelo anjo na noite do seu nascimento, mostrando que o Novo Testamento é apenas o cumprimento de todas as expectativas do Antigo Testamento. Desde o Éden Deus fez muitos anúncios sobre o nascimento de seu Filho (Gn 3.15). Por todo o Antigo Testamento existem profecias reveladoras do caráter e da missão do Messias. Porém, profecias ainda mais claras, nesse sentido, foram feitas pouco antes do nascimento de Jesus para Maria, através de Zacarias e aos pastores na noite do próprio nascimento. Viva o Rei! Uma virgem conceberá, uma manjedoura por trono, pastores como testemunhas, luz sobre as trevas, o maior acontecimento do mundo, enquanto o mundo... dorme. I. ANÚNCIO A MARIA (LC 1.26-38) O anjo Gabriel aparece na Bíblia muito antes desse acontecimento, ainda nos tempos de Daniel, quando foi enviado para dar resposta a uma oração do mesmo (Dn 8.16; 9.21). Ele também foi o responsável pelo anúncio à prima de Maria chamada Isabel, que igualmente teria um filho, o qual se chamaria João Batista. O anúncio para Maria, porém, sem dúvida foi a maior missão que aquele anjo já teve. Quando Gabriel se apresentou, saudou-a chamando-a de “muito favorecida”, que também pode ser entendido como “cheia de graça”, não como fonte de graça para os outros, mas como beneficiária de uma graça especial, indicando o alto privilégio concedido a Maria de ser a geradora do Filho do próprio Deus, para o estabelecimento do governo de Deus sobre toda a terra. O anjo continuou falando para ela: “Maria, não temas; A CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS Lucas 1.26-38; 1.67-79; 2.8-20 3 24 A VIDA DE JESUS porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus” (Lc 1.28-29). Mateus nos diz que Jesus receberia esse nome porque de fato seria o salvador, conforme suas palavras: “ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Isso nos leva a pensar que com certeza não foi um nome escolhido aleatoriamente. De fato, o nome de Jesus anunciado pelo anjo Gabriel enuncia claramente quem seria aquela criança. O nome “Jesus” significa “Yahweh salva”. O anjo continuou: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1.32-33). O Antigo Testamento anunciou que o Messias seria chamado de “Filho de Deus” e se assentaria no “Trono de Davi” (2Samuel 7.12-16 e Salmos 89.29). Aqui está a confirmação do próprio anjo identificando o menino que nasceria de Maria com o Messias prometido. Notamos também a promessa angelical de um reino sem fim sobre a casa de Jacó. Essa era uma promessa do Antigo Testamento que até o nascimento de Jesus ainda não havia se cumprido e nem se quer parecia ter chance de se cumprir, mas segundo o anjo, ela se cumpre integralmente na pessoa de Jesus. Diante do anúncio do anjo, Maria tem uma dúvida: Como poderia ela, uma jovem não desposada, conceber um filho? Uma mulher casada poderia esperar um filho, mas alguém poderia gerar sem a inseminação de um pai humano? O anjo esclareceu: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Jesus não nasceria pelo processo comum no qual todos os homens nascem, até porque ele não seria um homem comum. De alguma forma miraculosa, Maria conceberia do Espírito Santo, que a envolveria com poder e realizaria em seu ventre a fecundação e o nascimento de uma criança. Em termos semelhantes à ação divina primordial, quando o Espírito de Deus pairou sobre as águas e fez a vida surgir do nada na criação do mundo; ao descer sobre Maria, o Espírito criou um ser santo e sem pecado. Essa criança, esse “ente santo”, nas palavras de Gabriel, seria chamado com todo direito de o “Filho de Deus”. A resposta de Maria demonstra o entendimento de que ela seria um vaso para a glória do Altíssimo. Estou aqui, disse ela, como serva, para que seja cumprida a vontade do soberano. Uma virgem daria a luz pelo poder do EspíritoSanto, este foi o anúncio de Gabriel a Maria, e ela fora escolhida para a missão. Esta era a vontade de Deus. Em seguida Maria expressa gratidão dizendo que sua alma engrandecia ao Senhor, e o seu espírito se alegrava em Deus, o seu Salvador, pois a contemplou na sua humildade, e isso a tornaria bem- aventurada, porque o Poderoso e Santo nome lhe fizera grandes coisas. Maria entende a intensidade da misericórdia de Deus que ultrapassou gerações, dispersando pensamentos soberbos, derrubando tronos de poderosos e CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 25 exaltando os humildes. Deus sustentara os famintos, amparando Israel a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência para sempre. Enfim, Deus estava cumprindo o que prometera. Maria entendeu isso (Lc 1.46-55). II. ANÚNCIO A ZACARIAS (LC 1.67-79) A expressão “Bendito seja” (eulogetos) ajuda-nos a entender o motivo da sua oração. É uma maneira comum para a época ao iniciar uma declaração de ação de graças (Sl 72.18; 124.6). A expressão “Poderosa salvação” (Keras) é uma metáfora que se refere ao chifre de um animal como símbolo de força, indicando que a salvação seria um ato de intensa força de Deus. Uma alusão ao seu poder por honra às suas promessas. Quando João Batista nasceu, seu pai Zacarias cheio do Espírito Santo profetizou a respeito da missão de João. Mas ao profetizar sobre João, Zacarias profetizou também sobre Jesus, a quem João precederia. Zacarias destaca a “visita” divina a seu povo que estava acontecendo. Ele diz: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo” (Lc 1.68-69). E mais adiante completa: “graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas” (Lc 1.78). A. A misericórdia de Deus é a fonte da luz Toda a ação redentiva de Deus está baseada na sua entranhável misericórdia. Essa visita é “graças a entranhável misericórdia de Deus” (v. 78) que não se conformou com o estado do nosso mundo e resolveu agir para mudar a nossa sorte. A expressão “entranhável” (splagchnon) vem da anatomia humana e significa “baço”. As entranhas para os antigos hebreus eram consideradas o centro dos sentimentos mais extremos. Para os hebreus significava a sede das afeições mais sensíveis, especialmente, bondade, benevolência e compaixão. Daí, nosso “coração” ser a sede da misericórdia, afetos, etc. No mesmo padrão da libertação israelita do Egito, quando Deus diz: “Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo” (Ex 3.7- 8), a vinda de Jesus é uma demonstração da misericórdia libertadora de Deus. Entranhável é uma misericórdia que vem das entranhas do ser de Deus. A plenitude dos tempos seria o tempo da mais profunda misericórdia de Deus. Ele se movimentaria em graça na direção do seu povo para iluminar mentes e corações, fendas e caminhos. João Batista anunciaria esta luz. B. Luz para o conhecimento Zacarias descreve a vinda de Jesus igual ao nascimento do Sol (v. 78). Embora não fossem tempos para dimensionar detalhes acerca do astro que iluminava a vida na 26 A VIDA DE JESUS terra, o sol tinha um grande significado para eles. Havia um tipo de beneficência no sol que os afetava diretamente. Via-se na produção agrícola, na manutenção da vida, na luz que espantava a escuridão. E não existe figura mais impressionante do que o nascer do Sol. Os seus raios de luz o antecedem. Ele divide o tempo entre as trevas e a luz. Significa o fim da noite e o raiar de um novo dia. É tempo de esperança e de alegria, quando o choro passa (Sl 30.5). O nascimento de Jesus pôs fim a uma era e deu início a outra. A partir daí o mundo não seria mais dominado pelas trevas, pois o Sol da justiça tinha nascido. No Antigo Testamento somente o povo de Israel tinha conhecimento de Deus, enquanto que o resto do mundo vivia mergulhado nas trevas da ignorância e do pecado. A vinda de Jesus não é só para Israel, mas para o mundo todo. A partir de seu ministério, Jesus enviaria seus discípulos a todas as nações, pondo fim ao terrível período de escuridão que cobria os povos (Is 60.2). Finalmente a alegria da manhã seria conhecida (Sl 30.5) C. Luz para o caminho O nascimento de Jesus não só põe fim a uma era de trevas do mundo como significa luz individual para os homens. Ele veio para “alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” (Lc 1.79). “Jazer nas trevas” é uma figura da morte. A morte é para o mundo o fim da esperança. Essas trevas simbolizam o pecado que desgraça esse mundo. Jesus nasceu para trazer luz, ou seja, tirar o pecado do mundo ( Jo 1.29). Seu nascimento, sua vida, seu sacrifício, sua ressurreição derrotaram o pecado. Para todos aqueles a quem ele comprou essa liberdade há um caminho iluminado a ser percorrido. III. ANÚNCIO AOS PASTORES (LC 2.8- 20) Os próximos que receberam um anúncio do nascimento de Jesus foram os pastores. As tarefas do “pastor” (poimen) no Oriente Próximo eram: Ficar atento aos inimigos que tentavam atacar o rebanho, defender o rebanho dos agressores, curar a ovelha ferida e doente, achar e salvar a ovelha perdida ou presa em armadilha, cuidar do rebanho com todo o esforço e diligência e assim ganhar a confiança das ovelhas, de forma que elas ouviriam a sua voz e seriam conduzidas por ele. Existem pessoas que parecem predestinadas a ver coisas excepcionais acontecerem. É uma questão de estar no lugar certo na hora certa. Mas o anjo não apareceu para eles aleatoriamente. Ele foi buscá-los. A. Uma visita celestial Era uma noite comum, como outra qualquer. Provavelmente uma fria noite de inverno. Um grupo de homens estava guardando ovelhas nos arredores de Jerusalém. Ali estava uma classe desprezada de homens, eram pastores. Eram desprezados porque seu trabalho os impedia de obedecer a lei cerimonial, e de participar das grandes festas judaicas. Eram considerados malfeitores, tidos como ladrões, e indignos de confiança. CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 27 Isso era tão significativo que a sua palavra não valia em um tribunal da época. A sua presença somente tinha valor para a ovelha. Não podiam imaginar o que estava acontecendo no mundo naquele exato instante, e nem que eles mesmos iriam receber uma visita muito especial ainda naquela noite. Eles podiam ser desprezados pelos homens, mas certamente não eram desprezados por Deus, eram privilegiados, eram escolhidos. Aqueles cuja palavra era desprezada e desvalorizada foram os primeiros anunciadores em Belém (Lc 1.20). Isto não é impressionante? B. A mensagem celestial A mensagem do anjo foi a seguinte: “hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Para o mundo os acontecimentos daquela noite eram um segredo. Em todas as casas as pessoas dormiam sem se dar conta do que estava acontecendo. É curioso que o maior acontecimento de todos os tempos aconteceu de forma humilde, e, até poderíamos dizer, particular. O único sinal diferente foi a estrela que trouxe os magos. E os únicos que receberam o anúncio foram aqueles humildes pastores. O mundo que sempre está ávido por espetáculos, na maioria das vezes, perde os principais acontecimentos. Os anjos sabiam da grandiosidade daquele evento. Parece até que os companheiros do anjo que anunciou não se aguentaram e vieram juntos contar a história (v. 13- 14). O anjo disse: “hoje vos nasceu”. Hoje é o dia em que a história do mundo será mudada. O mundo jamais seria o mesmo depois daquela noite. Entretanto, a particularidade daquela noite já havia sido anunciada pelo anjo. Ele disse “hoje vos nasceu”. O nascimento de Jesus é realmente especial para poucos, apenas para aqueles que foramescolhidos para entender e serem abençoados por esse nascimento. O anjo deu três nomes para o menino que havia nascido: Salvador, Cristo e Senhor. Esses nomes nos falam da natureza, do caráter e do poder da vida de Jesus. O primeiro é Salvador. Jesus veio a esse mundo com uma tarefa específica: salvar o seu povo dos pecados deles. Cristo literalmente significa ungido. A unção nos fala de alguém que é separado para alguma função especifica. Jesus, desde o nascimento, e na verdade, antes da fundação do mundo, já havia sido designado para a tarefa de morrer pelos pecados (Ap 13.8). O título Senhor nos fala que a Criança que havia nascido não era uma simples criança. Senhor é o termo usado no Antigo Testamento para o próprio Deus. Senhor nos fala do poder, e da Soberania de Jesus. C. A reação dos pastores Eles foram até Belém e encontraram a criança deitada na manjedoura. E o texto enfatiza: “e vendo-o, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino” (v. 17). Eles se sentiram obrigados a testemunhar de sua maravilhosa experiência, conforme todos os acontecimentos daquela noite. Imagine uma pessoa falando de sua experiência 28 A VIDA DE JESUS com anjos! Não seria considerado meio maluco? Sim, mas tal era a certeza, a convicção da veracidade do que eles haviam visto e ouvido que eles não se preocupavam com o que os outros iriam pensar. Importava-lhes testemunhar. Grande efeito causou o testemunho daqueles pastores na vida de muitas pessoas. Lucas nos diz que todos os que ouviam aquilo ficavam maravilhados, mas foi Maria quem teve a melhor atitude, Maria guardava tudo aquilo em seu coração (v.19). Achar o menino Jesus deitado numa manjedoura, num casebre, em pobreza extrema não foi motivo de tropeço para aqueles homens. O coração deles se encheu de gozo e alegria, se sentiam privilegiados por tudo o que tinham visto e ouvido, e o louvor fluiu espontaneamente de seus lábios. Temos muito a aprender com esses homens. Temos que aprender com sua simplicidade e fé. Precisamos aprender a sermos melhores testemunhas e melhores adoradores. CONCLUSÃO Enquanto um anjo desce até onde os pastores se encontram, com a Glória do Senhor iluminando a noite escura, levando-os a um grande temor; enquanto o anjo afirma que em Belém nasceu o Salvador, Cristo e Senhor; enquanto os anjos em coro celebram dizendo: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”, o mundo dorme. Podemos concluir que o nascimento de Jesus, o maior acontecimento de todos os tempos não foi muito concorrido. Deus anunciou o nascimento de seu Filho, mas o mundo não estava muito disposto a ouvir. O mundo continua dormindo. Poucos naquela noite ouviram o cântico dos anjos. E poucos estão ouvindo agora, mas eles cantam. Eles adoram a Deus por sua misericórdia e graça para com os homens. Enquanto o mundo descansa em berço esplêndido (ou pouco esplêndido), é dito para nós que o salvador dos humildes está aqui (Mt 11.25-27), que Deus escolheu os simples (1Co 1.26-29), que Cristo nasceu para nos libertar (Gl 4.4-5), que o Senhor sabe quando o seu povo precisa de livramento (Ex 3.1-22), e que o Pai enviou seu Filho para salvar os perdidos (1Jo 4.9-14). O que fazemos enquanto Deus executa as suas obras? Dormimos? APLICAÇÃO Mais uma vez devemos agradecer a Deus por sua provisão para seu povo. Louvar a Deus pela disposição de Jesus em tomar sobre si a dura tarefa de redimir o povo de Deus. Nossa fé pode ser novamente renovada nesse Deus que sempre cumpre suas promessas, e trabalha para aqueles que esperam nele (Is 64.4). Enquanto Deus continua a fazer obras maravilhosas, o que fazemos? Quais os pensamentos que ocupam nossa mente? Quais os objetivos do nosso coração? Quais propósitos norteiam nossa vida espiritual? CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 29 Disse o profeta: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”. (Is 9.6) Anotações 30 A VIDA DE JESUS INTRODUÇÃO Muitas coisas que acontecem nessa vida parecem simples e corriqueiras, mas muitas vezes têm implicações eternas. Encontros aparentemente casuais se revestem de solenidade ímpar, quando decisões importantes são tomadas a partir deles. Outras vezes nem é preciso tomar essa ou aquela decisão, mas o simples encontro já torna tudo novo. Um certo dia, duas mulheres grávidas se encontraram em algum lugar simples no interior da Judeia. Seria um encontro comum, não fosse o momento crucial que o mundo vivia e a identidade das crianças que estavam em seus ventres: Jesus e João Batista. Aquele foi definitivamente um encontro de gigantes. Um seria o rei, outro seria o seu profeta e precursor deste rei. O precursor seria o maior homem que já viveu. O rei, o próprio Deus na terra. Na cena relatada no texto deste estudo, de algum modo maravilhoso, vemos esses dois antes de nascerem, e isso faz com que aprendamos muito a respeito deles. I. VIDA NO VENTRE O Evangelista Lucas narra o impressionante encontro de Jesus e João Batista quando ainda estavam no ventre de suas mães. Tendo Maria engravidado através do Espírito Santo, apressadamente se dirigiu até a casa de sua parente Isabel, a fim de compartilhar com ela, que também estava grávida, as bênçãos recebidas de Deus. Pelo contexto, entendemos que Maria partiu imediatamente. Isabel estava grávida havia seis meses (v. 36), e Maria ficou na casa da parente por três meses (v. 56), possivelmente retornando para casa antes dos nove meses de Isabel. Aquela família estava sendo alvo de grandiosas manifestações e promessas FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO Lucas 1.39-56 4 FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 31 inefáveis. O anjo Gabriel havia se apresentado a Zacarias, esposo de Isabel, e lhe anunciado que apesar da idade avançada e do fato de não terem filhos, Deus lhes agraciaria com o nascimento de um menino, que receberia o nome de João. Esse menino seria “cheio do Espírito Santo, já do ventre materno” (Lc 1.15). Sua função seria anteceder o Senhor, preparando o caminho para a manifestação de Jesus. Seis meses depois, Gabriel se dirigiu a Maria na cidade de Nazaré e lhe anunciou o nascimento de Jesus que seria chamado “Filho do Altíssimo”, o qual se assentaria no Trono de Davi e reinaria para sempre sobre a casa de Jacó (Lc 1.31-33). Realmente não é todo dia que se ouve promessas assim. O encontro daqueles dois bebês notáveis, que sacudiriam a Judeia dentro de alguns anos, aconteceu de forma simples em algum lugar não identificado da região montanhosa da Judeia. Quando Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel, a criança no ventre de Isabel estremeceu, e ela ficou cheia do Espírito Santo (Lc 1.40-41). O termo “estremeceu” pode ser traduzido por “salto”, o que implica um movimento objetivo, reativo a um fato. Não era para menos, aquele a quem ele anunciaria enquanto vivesse, aquele que seria o seu Senhor, aquele que mudaria o mundo, estava ali, à distancia de um ventre. Assim, um pulo de alegria no ventre, produzido pelo Espírito Santo, também fez Isabel entender que a mãe do seu Senhor a visitava. Isabel disse a Maria, sobre aquele acontecimento: “logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim” (Lc 1.44). É comum que bebês se movam no ventre de suas mães. Mas aquele não era um mover comum. De alguma maneira, João, no ventre de sua mãe, reconheceu a pessoa daquele a quem fora enviado para anteceder. Sendo cheio do Espírito Santo desde o ventre materno, esse mesmo Espírito fez com que a criança se movesse de alegria ao reconhecer o Senhor, a quem dedicaria toda a sua vida. A partir daquele momento, João se movimentaria apenas em resposta ao comando do mestre. Todas as suas ações, toda asua vida, foi para glorificá-lo. João nunca pretendeu se comparar a Jesus. Apesar de muitos pensarem que ele pudesse ser o Messias, em sua humildade, desde o início reconheceu: “Eu, na verdade, vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16). João foi o grande anunciador de Jesus. Ele realmente preparou o caminho para a manifestação do Cristo. Ele disse de Jesus: “É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim” ( Jo 1.30). Essa alegria na pessoa de Jesus foi marca de toda a sua vida. Quando seus discípulos vieram lhe informar que Jesus também estava batizando, João disse: “O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o noivo; 32 A VIDA DE JESUS o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua” ( Jo 3.27-30). II. GRAÇA DE DEUS QUE GERA VIDA Ao ouvir a saudação de Maria, Isabel cheia do Espírito Santo exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc 1.42-43). A despeito de que parte dos cristãos até hoje use essas palavras de Isabel numa oração à Maria, recheada de idolatria, essa certamente não foi a intenção dela e muito menos do Espírito Santo. Era um simples reconhecimento do quanto Maria fora agraciada pelo Senhor ao ser escolhida para carregar o Filho de Deus. Maria não era geradora de graça ou de bênção, mas objeto da graça e da bênção de Deus. Ela se tornou bendita porque carregava em seu ventre aquele que é bendito por excelência. Sua bênção era derivada do ente bendito que carregava em seu ventre. A noção atual de que ela foi concebida sem pecado (Imaculada Conceição) e que seja Co-Redentora e Co-Mediadora com Cristo é algo totalmente anti-bíblico e que não existia na Igreja primitiva. Essas ideias heréticas foram introduzidas na igreja ao longo dos séculos quando mitos pagãos originados ainda na antiga Babilônia pelas religiões de mistério foram se acomodando dentro do cristianismo. Essas ideias se reportam ao tempo da torre de Babel, quando Semíramis, a esposa de Ninrode, tornou-se a primeira sacerdotisa idólatra. Semíramis foi cultuada em várias nações sob nomes diferentes, como Astarote, Isis, Afrodite, Vênus e Ishtar. Os hebreus que frequentemente caíam na idolatria a chamavam de “Rainha dos céus” ( Jr 44.17-19). Tamuz, o filho de Semíramis, que segundo a lenda foi concebido por um raio do Sol, foi conhecido como Baal, Eros e Cupido no mundo antigo. Os israelitas também se inclinavam a Tamuz em seus tempos de rebeldia (Ez 8.13-14). Inclusive acreditava-se que ele havia ressurgido dos mortos após 40 dias de jejum por parte de sua mãe. Essa é a origem do culto da mãe de Deus, da Rainha dos Céus. Durante a Idade Média, quando os pagãos foram forçadamente convertidos a religião cristã, essas crenças se infiltraram na Igreja. Dessa forma as deusas do paganismo foram adoradas sob o nome de Maria. À parte disso tudo, Maria deve ser honrada pela graça que recebeu de Deus. Porém, ela é receptora de graça e não geradora dela. III. VIDA QUE LOUVA AO SEU SENHOR A canção de louvor de Maria tem certa semelhança com outra canção, de outra mãe, que antes de João, profetizou a respeito da vinda de um profeta. São as belas palavras de Ana (1Sm 2.1-10). Ambos os cânticos jubilam ao Senhor pelos seus feitos, exaltam a singularidade e a santidade do Senhor, condenam a arrogância dos orgulhosos, revelam que o Senhor interfere nos destinos humanos, e ambos lembram que o Senhor cuida dos seus filhos. FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 33 Todo o entendimento da própria Maria sobre sua situação e sobre a graça de Deus está descrito em seu cântico que foi proferido após as palavras de Isabel. Esse cântico ficou historicamente conhecido como o Magnificat de Maria por causa da primeira palavra que aparece na tradução latina do cântico. Podemos ver no cântico de Maria três ênfases distintas. A. Graça Pessoal A primeira ênfase do cântico de Maria é de exaltação pela graça divina da qual ela própria foi objeto. Ela diz: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas” (Lc 1.46-49). Ela engrandece (tradução literal “continua engrandecendo) num ato contínuo por algo que Deus fez em sua vida. O que Deus fez ela descreve como o momento em que se “alegrou em Deus”, denotando uma ocasião específica no passado, sem dúvida se referindo ao anúncio do anjo e a concepção sobrenatural. Aquilo foi um momento de grande alegria. Consequentemente ela chama Deus de “meu Salvador”, que interveio na situação humilde dela como serva e fez grandes coisas. Essa ação divina em sua vida não só garante sua salvação pessoal como seu estado perpétuo de “bem-aventurada”. O que não pode ser esquecido é que a fonte de toda essa alegria e bem-aventurança é a criança que ela carregava em seu ventre. Assim, começando pela exaltação do ser de Deus, o cântico logo nos mostra o real sentimento de adoradora. O termo “engrandece”, também corresponde a “proclama as grandezas”. “Minha alma” não deve ser entendida como a parte espiritual da pessoa, mas tem o sentido de todo o ser de Maria. Não é um ato ritualístico, mas algo profundo, com todo o seu ser. O cântico traz o sentido de uma pessoa totalmente entregue a Deus, quebrantada diante dele, agradecida desde a sua alma. Portanto, o primeiro cântico de louvor do Novo Testamento nos mostra o sentimento do adorador. Não é uma explosão desconexa de sentimentos, mas um profundo reconhecimento de quem é Deus e do que está fazendo naquele momento. É um momento de reflexão e contrição. A verdadeira adoração parte de um coração rendido e absorto em Deus. Não há proeminência humana, mas uma glorificação a Deus. Por isso, o Magnificat não é um cântico de superioridade, mas de claro reconhecimento de humildade, diante do Senhor que atentou para a “pequenez de sua serva”. Maria recebeu graça do Poderoso de Israel. Ele “atentou”. É correto dizer que nossos cânticos devem expressar nossa fé e nossos sentimentos, mas devem deixar claro que tudo que recebemos de Deus é por generosidade dele e não mérito nosso. Determinar? Declarar? Reivindicar? Com que autoridade, uma vez que devemos a ele até mesmo nossas vidas?! Cânticos, primeiramente, deveriam magnificar ao Senhor por ele ter aceitado a nós como filhos. Maria deu esse exemplo. 34 A VIDA DE JESUS B. Graça para os humildes Na sequência, o cântico fala dos que temem a Deus, e diz que ele operou contra os soberbos e poderosos, elevou os mais fracos e humildes, saciou os famintos e disciplinou os ricos. Não é um cântico que apenas expressa gratidão pelo que lhe aconteceu. É um cântico que não olha apenas para si, mas inclui os demais. Louvamos a Deus pela sua bondade para conosco, mas devemos reconhecer sua bondade para com os demais. Embora Maria parta de sua experiência muito particular, sua gravidez pelo Espírito Santo, seu louvor inclui os demais. Mesmo no momento mais pessoal ela lembra que Deus é misericordioso para com todos os fiéis e carentes. Cânticos e culto não podem resvalar para um particularismo. Há uma mensagem para todos e não apenas para o adorador em particular. Em nossa gratidão lembremos dos irmãos. Deus não é propriedade de um adorador em particular, mas é o Senhor de todos os quecreem em Jesus. Conclui-se que o seu cântico é de louvor pela atitude divina em privilegiar os pobres em lugar dos ricos: “Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos” (Lc 1.49-53). Nessa seção do cântico está descrito bastante do caráter de Deus. O primeiro aspecto é sua santidade. Seu nome, ou seja, sua essência é santa. Sua misericórdia é infinita sobre os que o temem. Ele age vigorosamente a favor dos humildes e contra os soberbos. Para três tipos de pessoas não há misericórdia: soberbos, poderosos e os que se apegam às riquezas. Esses ficam de mãos vazias, ao passo que os humildes e famintos são agraciados por ele. Uma vez que essas palavras estão conectadas com a vinda de Jesus, então precisamos entender que é sua vinda quem corporifica essa profecia. De fato, Jesus abraçou os humildes, mas foi recusado pelos poderosos. Os famintos foram e continuam sendo alimentados, enquanto que os que se acham abastados continuam de mãos vazias. C. Graça para Israel A conclusão do cântico focaliza a graça de Deus sobre o povo de Israel: “Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais” (Lc 1.54-55). O nascimento de Jesus é a demonstração da misericórdia de Deus sobre Israel. É o cumprimento de suas promessas a Abraão e aos pais da nação. O Messias é o verdadeiro amparo de Israel, é a consumação e a salvação do povo de Deus. Embora grande parte da nação tenha rejeitado a Jesus como Messias, ele é a salvação definitiva do Israel de Deus, que não é o da carne, mas o da promessa (Rm 9.6-8). Promessa essa que Deus fez a Abraão de que nele e na descendência dele seriam abençoadas todas as famílias da terra (Gn 12.1-3). O cântico contempla o povo na sua totalidade. Deus está sendo misericordioso com Israel. O cântico é FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 35 um ofertório espiritual de todo o povo de Deus, dirige-se a todo o povo de Deus, e em sua dimensão horizontal fala de todo o povo. Maria entoa um cântico que sai de sua pessoa, de sua gratidão pessoal para o reconhecimento da bondade de Deus para com todos. Um cântico que vê a totalidade do povo de Deus e não apenas os sentimentos da adoradora. Aqui, uma aplicação especial: O culto público, principalmente, não pode primar pelo particularismo e pelo exclusivismo. O individualismo de um mundo sem Deus tem marcado até mesmo alguns de nossos cânticos, em que parecem existir apenas duas pessoas, o cantante e Deus (às vezes, só o cantante). O culto é dos demais irmãos, repartimos as bênçãos com eles, e nos alegramos com eles. O amparo a Israel se deu em função das promessas a nossos pais. CONCLUSÃO O encontro de Jesus e João Batista ainda no ventre materno foi um verdadeiro encontro de gigantes. Naquele dia, em algum lugar da montanhosa Judeia, muitos dos soberanos, graciosos e misericordiosos planos de Deus foram revelados entre Maria e Isabel. Antes mesmo do nascimento do Messias e de seu Precursor, Deus já demonstrava a grandiosidade da obra que estava por realizar. Somos bem-aventurados em poder ler essas palavras. Somos bem- aventurados porque essa obra já foi realizada. Podemos cantar juntos com Maria: “o poderoso nos fez grandes coisas”. Neste estudo acompanhamos um encontro nos ventres, uma bênção que enche uma mulher de graça, um cântico de uma mulher que entende que foi agraciada, e por isso lembra que Deus é maravilhoso consigo, com os necessitados e com todo o seu povo. APLICAÇÃO A salvação cuidadosamente planejada nos faz felizes? Podemos dizer que somos bem-aventurados porque temos um Salvador? Entendemos que Maria não é mediadora, mas também não deve ser desprezada, e que sua humildade sempre será um estímulo a nós? Devemos nos alegrar em Deus por ter proporcionado uma salvação tão poderosa, e, por causa disso, podemos confiar plenamente nessa salvação. 36 A VIDA DE JESUS Anotações ELE ESTÁ ENTRE NÓS 37 ELE ESTÁ ENTRE NÓS Mateus 1.18-25 INTRODUÇÃO Filho de Davi ou filho de Deus? Diante do nascimento de João batista, alguns perguntaram: O que virá a ser este menino? Diante do nascimento de Jesus a pergunta é outra: Quem é ele? De onde ele vem? Os primeiros dezessete versículos do Evangelho de Mateus estabelecem a posição humana de Jesus como legal descendente de Davi e de Abraão. Porém, os versos seguintes mostram que ele é muito mais que isso. Esses versos descrevem o nascimento de Jesus como Filho de Deus. Se Jesus tivesse se apresentado apenas como filho de Davi, possivelmente tivesse sido aceito pelo povo de sua época. Mas desde que havia reivindicado uma posição divina, já não poderia mais ser aceito pelos religiosos. Atualmente, como está esta questão? Jesus Cristo é o filho de Deus, que veio no tempo e na história, e habitou entre nós, cumpriu a missão dada pelo Pai e ressurgiu ao terceiro dia? Ou ele é um 5 homem de grande conhecimento e inteligência e por isso fez seguidores, e continua a fazer seguidores porque veem nele um exemplo a ser seguido, e só isso? Alguns estão dispostos a aceitá-lo como um grande mestre, um líder, até como o maior homem que já viveu, mas apenas isso: um homem. Mateus nos mostra que Jesus era sem nenhuma dúvida um homem, porém, muito mais do que um homem, ele é o Emanuel: o Deus Conosco. Realmente, ele está entre nós. I. NASCEU O MESSIAS ESPERADO Mateus usou muitos versículos para traçar a genealogia humana de Jesus, porém apenas um versículo para traçar a genealogia divina de Jesus. A palavra “nascimento” é da mesma raiz grega que a palavra “genealogia” que Mateus usou no primeiro versículo denotando claramente que ele pretendia fazer um paralelo. Se pelo lado humano Jesus tinha pelo menos quarenta e duas gerações de antepassados até Abraão, seu lado divino tinha apenas uma geração, a de seu Pai 38 A VIDA DE JESUS Celestial. O verdadeiro pai de Jesus foi o Espírito Santo. Mateus nos diz que Maria, desposada com José, achou-se grávida sem que tivessem antes coabitado. Embora pareça estranha essa ideia de casamento sem relação sexual diante dos olhos ocidentais modernos, era algo bastante comum na antiguidade. O ato de “desposar” alguém se assemelhava um pouco à cerimônia de noivado que conhecemos hoje, porém, com muito mais seriedade. Era um casamento no papel. O noivo e a noiva juravam fidelidade mútua na presença de testemunhas, e a infidelidade por parte de uma mulher desposada podia ser castigada com a morte (Dt 22.23-24). No caso de José e Maria, eles estavam legalmente casados, porém, era comum que se esperasse um tempo até que o casal fosse morar junto. Nesse período de espera, Maria subitamente engravidou. Um nascimento ímpar na história, como cumprimento de profecia (Is 7.14), como resultado de um plano específico (Gn 3.15), como concretização de desígnios imutáveis (Is 11.1). Não apenas um homem, nem apenas a presença manifestada de Deus, ou de sentimentos divinos. Nem antropomorfismo, nem meramente antropopatia1. O nascimento de Jesus Cristo caracterizou Deus em forma de homem, Deus em carne. Mesmo que esse estado de encarnação fosse para ele, a maior humilhação. Havia uma missão! Ela justificava as perdas II. JOSÉ ENTENDEU A DIMENSÃO DO FATO Uma noiva grávida sem sua participação? Este era o problema para José resolver. Aos olhos humanos, uma traição. Um pecado previsto na lei dos judeus. Uma honra manchada, uma vida em risco, uma sentença a ser proferida. Vergonha punida com a pena maior. Em certo momento, no tempo do ministério público de Jesus, uma mulher foi trazida porque fora encontrada em flagranteadultério. A lei permitia que fosse morta. Jesus não contestou a lei, apenas disse que os que não tivessem pecado que começassem a execução da pena. Eles largaram as pedras e foram embora. Não há dúvida de que as palavras de Jesus salvaram a mulher. A mãe de Jesus poderia ter passado por isso também. Ter sido morta, e junto com ela, a criança. Ao saber que sua mulher estava grávida, José se encontrou numa situação difícil. Com certeza sua alma entrou em profunda agonia. A mulher que amava o havia traído. Mas é impressionante a reação desse homem, que não é por acaso chamado de justo. Por um lado, não podia crer que sua virtuosa esposa cometesse tal ato, mas por outro, a situação era por demais evidente. Ele não a quis difamar, mesmo tendo todos os motivos para isso. Alguém poderia dizer que José foi débil em sua clemência, mas a Palavra de Deus nos diz que ele foi justo. Justo em todos os sentidos, pois, se por um lado não podia receber uma adúltera como sua esposa, pois a Lei condenava isso, por outro, não desejava ver Maria sendo vituperada. 1 Palavra utilizada para descrever os sentimentos divinos que se parecem com os sentimentos humanos. ELE ESTÁ ENTRE NÓS 39 José era um homem inclinado para a misericórdia, como o é o próprio Deus. Sua decisão foi deixá-la secretamente para que ninguém descobrisse e a denunciasse. Ele preferiu resolver tudo apenas entre os dois. Porém, quando estava pensando sobre isso, lhe apareceu em sonhos um anjo do Senhor dizendo que não temesse receber sua mulher, pois o que havia acontecido nela, era obra do Espírito Santo. Como é bom meditar antes de agir! Às vezes, enquanto meditamos, Deus dá a resposta. A Bíblia não relata sobre a agonia de alma que José enfrentou naqueles dias, mas, podemos entender, pelo relato bíblico, que ele estava pensando durante a noite justamente sobre aquela situação. De repente, aquilo que parecia irreconciliável tornou-se simples e fácil de resolver. Deus interveio para não deixar seu servo numa situação difícil. Nos momentos de silêncio, quando todas as vozes do mundo, incluindo a nossa, se calam, é mais fácil ouvir a voz de Deus. O anjo disse a José: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20). O coração de José foi alvo do poder consolador de Deus. Ele agiu de acordo com o que entendeu, com a misericórdia que o fato necessitava. III. A VIRGEM CONCEBEU, COMO PROMETIDO José e Maria não se relacionaram sexualmente até o momento do nascimento de Jesus. A pureza sexual fora do casamento sempre foi algo valorizado por Deus. Implica fidelidade e leito imaculado (Hb 13.4). No caso de Maria tinha ainda mais importância, pois era a garantia da divindade da criança que nasceria. Se Jesus tivesse sido concebido por ação de algum homem, jamais poderia ser o Salvador. É claro que a concepção de Jesus pelo Espírito Santo é um grande mistério. Não temos palavras para explicar esse evento, assim como não sabemos explicar como Deus pôde criar o mundo do nada. Podemos ver um paralelo entre a concepção de Jesus pelo Espírito Santo e a própria criação do mundo, onde o Espírito Santo “pairava por sobre as águas” (Gn 1.2). Da mesma forma a “sombra” do Espírito envolveria Maria e geraria “do nada” no ventre da virgem a vida do Filho de Deus. Nas palavras de Sproul: “como o Espírito Santo cobriu o abismo e gerou um universo criado, assim o mesmo Espírito pairou sobre uma virgem camponesa para gerar o Filho de Deus”2. Para o mundo, isso é muito difícil de compreender. Nascimento virginal? Ilógico, irreal e fantasioso. As pessoas cheias de conhecimento olham para essa história e a julgam um mito. Ainda que o mundo não acredite no nascimento virginal de Jesus, ele é amplamente confirmado pela Escritura. A própria vida de Jesus aponta para ele. Certa vez um cético perguntou a um cristão, na tentativa de fazê-lo duvidar do nascimento virginal de Jesus: se eu dissesse que aquele menino ali nasceu de uma virgem você acreditaria? Sim, disse o cristão, se ele tivesse uma vida igual a de Jesus. A maior prova do nascimento virginal de Jesus é sua vida absolutamente perfeita e sem pecado. 2R. C. Sproul. A Glória de Cristo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997. p. 30 40 A VIDA DE JESUS Ao contrário do que se pensa, a ideia de um nascimento virginal não era algo tão inimaginável. Em Isaías 7.14 havia uma profecia sobre o nascimento de um menino de uma virgem, e mesmo do Gênesis vinha a promessa de um descendente da mulher, onde aparentemente o homem seria deixado de lado (Gn 3.15). Este é o nível de fidelidade de Deus às suas promessas, muitas vezes inatingível por nossas mentes limitadas e aprisionadas pela lógica humana. A virgem concebeu. Simples assim... IV. O NOME DO FILHO: JEOVÁ É SALVAÇÃO (JESUS) Então o anjo disse a José “ela dará a luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”. JESUS, Ιησους de origem hebraica , “Jeová é salvação”, ou “o Senhor salva”. Jesus, o filho de Deus, Salvador da humanidade, o Deus encarnado. Tudo na vida de Jesus teve um significado e um planejamento anterior. Nos menores detalhes da sua vida, nós o percebemos cumprindo profecias de séculos passados. Sua relação com a história dos homens é tão importante e significativa que encontramos profecias sobre praticamente toda a vida dele distribuídas por todo o Antigo Testamento. Ao longo de sua vida Jesus ficou conhecido como Jesus de Nazaré, ou Jesus o Nazareno, em razão de sua cidade de origem. Ao ter sido batizado no rio Jordão e reconhecido como o mensageiro de Yahweh que viera libertar o povo judeu da opressão romana, Jesus recebeu o epíteto de Mashiach (“Messias”), que em hebraico quer dizer “ungido”. Como o Novo Testamento foi redigido num grego tardio chamado koiné, o nome Yeshua Mashiach foi traduzido para Iesoûs ho Khristós, literalmente “Jesus o Ungido”. Com a expansão do Cristianismo até Roma (percebe-se isso com clareza ao lermos Atos e Romanos 16), e com a adoção do latim como sua língua oficial, o nome grego de Jesus foi latinizado para Iesus Christus. Assim, lemos na língua portuguesa o nome Jesus Cristo. Mas, se “ungido” em latim é unctus, por que Jesus não ficou conhecido em Roma como Iesus Unctus? É que o prestígio da língua grega em Roma era muito grande, e o fato de os Evangelhos terem sido escritos em grego pesou decisivamente para que o epíteto grego Khristós não fosse traduzido, mas apenas transliterado para Christus. Este é o significado do nome por trás do Deus-homem. Por isso, seu nome foi escolhido por Deus para ser o Nome que está acima de todo nome. Podemos lembrar também que Jesus, no Hebraico, é Josué ( Joshua). Josué no passado foi o homem usado por Deus para levar o povo a conquistar a terra prometida. Este é um ótimo paralelo, pois Jesus é o que nos leva a terra prometida, a vida eterna nos céus. O nome Jesus representa a própria missão pela qual o Filho de Deus veio a este mundo: Salvar o mundo do pecado. Nada se compara a esta frase. Nada abrange com tanta precisão um problema que é o maior dos problemas, e nada traz uma solução tão contundente. A Bíblia, ao ELE ESTÁ ENTRE NÓS 41 contrário do homem moderno, não tenta negar a existência do pecado. A revelação bíblica demonstra que a existência do pecado exigiu a vinda do Filho de Deus. Ele veio salvar o seu povo dos pecados deles, pois não havia nada tão prejudicial para o homem, e ao mesmo tempo, nada que este fosse tão incapaz de realizar por si mesmo, do que se salvar. Jesus Cristo, este é o NOME. V. EMANUEL – O DEUS CONOSCO Deus existe, mas como ele é, onde ele está, como falo com ele, e como entendo quando ele fala comigo? Desde os tempos antigos o homem tem crido que Deus existe, e tem imaginado para si as mais estranhas formas para descrevê-lo. Não
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