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Unidade 3 Princípios da Segurança do Trabalho Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoras ROSIVANY GOMES A AUTORA Rosivany Gomes Olá. Sou a professora Rosivany Gomes. Sou mestre em Biociência e Pedagoga, com uma experiência técnico-profissional na área de Segurança, Saúde e Meio Ambiente. Também atuo como consultora em SMS para empresas que precisam se adequar às exigências legais na área de Saúde, Segurança e Meio Ambiente. Ao longo da minha vida acadêmica pude coordenar curso de MBA em Sistema de Gestão Integrado em SMS e atuar em diferentes segmentos da Educação, desde educação básica, cursos técnicos, cursos de graduação e pós-graduação. Durante essa jornada, desenvolvi habilidades e competências como educadora, aprimorando meus conhecimentos em Metodologia Ativa, Aprendizagem Baseada em Projetos e Ensino a Distância e Educação em Ambientes Virtuais com o projeto “Recomendação de materiais didáticos baseada em estilos cognitivos de aprendizagem”. Destaco na minha sólida carreira na área de Gestão Educacional os prêmios de coordenador inspirador e prêmio educação inovação e desenvolvimento de projetos educacionais pela implantação e coordenação de projetos educacionais baseados em metodologias ativas e por desenvolver a cultura digital na minha equipe e nos alunos de cursos presencial e nas plataformas de EAD. Atualmente me dedico à formação técnica profissional e elaboração de materiais educacionais, aplicando a aprendizagem, associando teoria à prática – aprender fazendo. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Causas de acidentes .......................................................................................10 Cenário do acidente de trabalho ......................................................................................... 10 Tipos de acidentes de trabalho .......................................................................................... 12 Causas dos acidentes .................................................................................................................. 14 Efeitos do acidente de trabalho ........................................................................................... 16 Fator pessoal de insegurança – ato inseguro .................................... 18 Ato inseguro ........................................................................................................................................ 18 Características do fator pessoal de insegurança .................................................... 20 Como controlar o fator pessoal ............................................................................................22 Consequências do fator pessoal .........................................................................................25 Condições de insegurança do ambiente ..............................................28 Condição insegura..........................................................................................................................28 Característica do ambiente - análise de risco .......................................................... 30 Classificação de riscos ocupacionais ............................................................33 Investigação de acidente ..........................................................................................................35 Consequências do acidente de trabalho: lesão pessoal e prejuízo material ..................................................................................................................39 Efeitos dos acidentes de trabalho - econômico e social.................................. 39 Custos do acidente ........................................................................................................................42 Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) ......................43 Fator Acidentário de Prevenção (FAP) ..........................................................43 Seguro de acidente de trabalho (SAT) .........................................................44 Responsabilidade do acidente ..............................................................................................45 7 UNIDADE 03 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 8 INTRODUÇÃO Você está iniciando a Unidade 3, onde trataremos das causas e consequências dos acidentes de trabalho. Você sabia que antes da criação do SESMT, por meio da NR4, as empresas não eram obrigadas a comunicar o acidente de trabalho? E que a NR5 estabelece que as empresas com mais de 50 funcionários trabalhando em regime de CLT devem ter uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)? Para compreender melhor os aspectos legais, sociais e econômicos que estão envolvidos em um acidente ou com uma doença do trabalho, você verá nesta unidade como os fatores humanos e ambientais influenciam nos acidentes de trabalhos. Quando se fala em fatores ambientais relacionados às condições de seguranças na prevenção de acidentes, deve-se considerar dois aspectos: a segurança concretizada pelas condições seguras e pelo ambiente ocupacional que as empresas têm por obrigação legal, que oferece aos trabalhadores a segurança esperada por eles, impulsionados pela sensação de proteção contra acidentes e doenças ocupacionais. Quanto aos fatores humanos, as pessoas que tenham sido devidamente capacitadas e treinadas são capazes de desenvolver suas atividades sem segurança e a figura do líder da equipe pode ser um diferencial tanto para a produção quanto para a qualidade e segurança. Para nos ajudar a compreender melhor esses fatores, temos a companhia da ELIS (Engenheira Líder em Segurança). Ela é uma grande conhecedora de Segurança do Trabalho, por isso, foi convidada para contar algumas histórias sobre prevenção de acidentes. Sempre que ela aparecer, fique atento, pois estudaremos um caso importante que requer a sua reflexão. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar as causas de acidentes de trabalho. 2. Entender fatores pessoais de insegurança – ato inseguro. 3. Compreender as condições do ambiente inseguro. 4. Conhecer as consequências dos acidentes: lesão pessoal e prejuízo material. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 10 Causas de acidentes INTRODUÇÃO: Ao final deste capítulo esperamos que você conheça os fatores envolvidos em um acidente de trabalho, como o prevencionismoclassifica os tipos de acidente, suas causas e seus efeitos para os trabalhadores, a empresa e a sociedade. Cenário do acidente de trabalho Querido(a) aluno(a), estamos prestes a iniciar nossa jornada rumo ao universo dos acidentes de trabalho e o papel da Engenharia de Segurança do Trabalho. Vamos pensar e refletir juntos com a ELIS sobre a cenário e os atores envolvidos com a institucionalização dos acidentes de trabalho no Brasil. Uma criança encontra uma chave de fenda no chão e resolve brincar com a ferramenta enquanto seu pai troca o pneu do carro. A ferramenta rola para debaixo do automóvel no momento em que o pai descia o macaco hidráulico, deixando a criança presa debaixo do carro. Vamos pensar de quem é a culpa se a criança se ferir? Da criança que estava brincando? Da mãe que não prestou atenção na criança enquanto o pai trocava o pneu? Do pai que desceu o carro sem atentar-se para o ambiente a sua volta? Agora vamos pensar se não fosse uma criança e sim um trabalhador. E se não fosse o pai e a mãe, e sim a empresa? De quem seria a culpa? Do trabalhador que não deveria estar ali ou usar uma ferramenta que não foi treinado? Do operador que movimentou a carga sem verificar as condições do ambiente? Vocês devem estar pensando em uma resposta prevencionista e isso é muito bom, mas é importante considerarmos as obrigações legais envolvidas em casos de acidentes. No Brasil a Constituição Federal, a CLT, as NRs e as convenções internacionais da OIT e OMS definem a Segurança do Trabalho. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 11 A CLT dedica o Capítulo V, Título II do seu texto à segurança e medicina do trabalho e serviu como marco para as atividades de segurança no Brasil, garantindo assistência e indenizações pelas consequências dos acidentes de trabalho. Atualmente, a assistência previdenciária é regulamentada pela Lei n0 5.316/67 que integrou o seguro de acidentes de trabalho na Previdência Social. O aumento no número de acidentes de trabalho no Brasil após o início da Segunda Guerra Mundial levou alguns empresários a fundarem a Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes (ABPA). Uma iniciativa que embora não tivesse um peso legal nas ações de prevenção de acidentes do trabalho, teve um de valor social. Por ser causa de sofrimentos pessoais, mas também despesas nas esferas públicas e privadas, os governantes e empresários se mostram empenhados na busca de soluções que contribuam na prevenção e acidentes. Alguns personagens se destacam nessa história, como o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do trabalho – e a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). O SESMT representa a empresa, é um serviço no qual encontramos o Engenheiro de Segurança do Trabalho. A CIPA é composta por representantes dos empregados e do empregador e tem a responsabilidade de auxiliar o SESMT nas atividades prevencionistas, garantindo que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e os deveres dos empregadores sejam cumpridos. No Brasil, uma parte substancial dos custos com acidentes de trabalho impactam na gestão econômica do sistema previdenciário, por isso a Previdência Social também apresenta um papel importante na história do acidente, através da concessão do seguro previdenciário. Por último, a população também está presente neste cenário, que paga pelos produtos e serviços, nos quais se encontram embutidos os custos com acidentes. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 12 Tipos de acidentes de trabalho O acidente de trabalho pode ser definido pelo conceito legal previdenciário, o qual estabelece o que pode ser considerado acidente de trabalho e doença do trabalho, bem como os benefícios ao qual o acidentado terá direito com base na comprovação do nexo causal. A legislação previdenciária, Lei nº 8.213/91, em seu art. 19 define acidente aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. São considerados acidentes do trabalho: • Acidentes típicos – acidentes decorrentes da característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado. • Acidentes de trajeto – acidentes ocorridos no trajeto entre a residência e o local de trabalho do segurado e vice-versa. • Acidentes devidos à doença do trabalho – acidentes ocasionados por qualquer tipo de doença profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante na tabela da Previdência Social (BRASIL, 1991). O art. 20 da legislação supracitada considera acidente de trabalho as seguintes entidades mórbidas: • Doença profissional, assim entendida, produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. • Doença do trabalho, assim entendida, adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. Equipara também nesta lei, em seu artigo 21, acidentes do trabalho as seguintes situações: Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 13 • Acidente ligado ao trabalho que tenha contribuído diretamente para a morte do segurado ou para a perda ou redução de sua capacidade para o trabalho, ou produzindo lesão que exija acompanhamento médico durante o período de recuperação. • Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; ofensa física intencional por motivo de disputa relacionado ao trabalho; imprudência, negligência ou imperícia de terceiros ou companheiro de trabalho; ato de pessoa privada do uso da razão; desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior. • Doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua função. • Acidentes sofridos ainda que fora do local e horário de trabalho, nas seguintes situações: na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; na prestação espontânea de qualquer serviço prestado à empresa, viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando financiado pela mesma, como meio de capacitação de mão de obra; no percurso da residência para o local do trabalho ou deste para aquele (BRASIL, 1991). IMPORTANTE: O acidente de trajeto sofreu alterações com a medida provisória 905/2019, que extinguia a estabilidade no emprego por acidente ocorrido no percurso entre a residência e o trabalho (e vice-versa), não se equiparando à acidente de trabalho ou gerando a estabilidade de 12 meses no contrato de trabalho. De acordo com a norma que vigorou até abril de 2020, as empresas também não precisariam emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). Como a medida provisória 905/2019 não foi convertida em lei, ela perdeu sua validade, voltando então o trabalhador ter direitos previdenciários assegurados em caso de acidente de trajeto. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 14 Na visão prevencionista, os incidentes são classificados como acidentes de trabalho, situações que envolvam a interrupção ou prejudiquem uma atividade ocupacional, mesmo que não resultem em lesão ou danos materiais e, por isso, devem receber atenção e serem gerenciados para que possam ser eliminados, reduzidos ou controlados. Causas dos acidentes Olha quem voltou para nos ajudar? ELIS (Engenheira Líder em Segurança). Vamos ver o que ela tem para nos contar! Um operador de máquinas tem parte de seu membro superior direito amputado. Durante um apagão de energia ocorrido na empresa ele resolveu fazer uma limpeza nas engrenagens da máquina. Como restabelecimento da energia a máquina voltou a funcionar, lesionando o braço do operador. Ao relatar o ocorrido, o engenheiro irá relatar que houve um ato inseguro ou uma condição insegura? A forma mais direta de se descobrir a causa do acidente é respondendo à pergunta: o que fez com que o fato ocorresse? A falta de energia? O retorno da energia? O fato de o operador estar realizando uma operação a qual não foi autorizado? A máquina voltar a funcionar sem que o operador tenha ligado? Quando respondemos essas perguntas encontramos os antecedentes que fizeram o acidente ocorrer. Entenda que em todas as respostas podemos relacionar direta ou indiretamente a presença humana. Sendo assim, podemos citar várias as causas ligadas aos acidentes de trabalho que são basicamente separadas em dois grupos. O ato inseguro é o ato praticado pelo homem, em geral consciente do que está fazendo, que está contra as normas de segurança. São exemplos de atos inseguros: • Subir em telhado sem cinto de segurança contra quedas. • Ligar tomadas de aparelhos elétricos com as mãos molhadas. • Dirigir em alta velocidade. O outro grupo de causa de acidentes de trabalho é o de condição insegura, ou seja, a condição do ambiente de trabalho que oferece perigo e/ou risco ao trabalhador. São exemplos de condições inseguras: Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 15 • Instalação elétrica com fios desencapados. • Máquinas em estado precário de manutenção. • Andaime de obras de construção civil feitos com materiais inadequados. Os fatores pessoais também podem contribuir para a ocorrência de acidentes devido ao comportamento humano individual e característico, que propicia a ocorrência de acidentes. São exemplos: • Doenças na família. • Excesso de horas trabalhadas. • Problemas conjugais. Os fatores pessoais associados ao meio nos quais os trabalhadores são expostos a perigos e risco, que precisam ser controlados por meio da gestão de segurança, são a origem dos acidentes de trabalho que podem ocasionar lesão parcial, permanente e até mesmo o óbito, além de danos ao meio, como mostra a sequência abaixo: Figura 1 – Atos inseguros e condições inseguras Homem → Fatores pessoais → Atos inseguros Acidente Danos ao trabalhador ou ao meioMeio → Fatores materiais → Condições inseguras Fonte: McGuire, 2014 (Adaptada). Ato inseguro é toda conduta ou comportamento que gera de uma decisão desnecessária a ocorrências de acidentes. Analisando o caso que a ELIS nos apresentou, podemos então identificar fatores pessoais que contribuíram para a ocorrência do acidente, o operador realizando a atividade sem autorização, o que caracteriza um ato inseguro. A inaptidão do trabalhador pode ser uma explicação para a causa de acidentes de trabalho, quando os profissionais escolhem ou aceitam realizar trabalhos para os quais não estão preparados. Em relação aos fatores ambientais, a máquina, que não apresenta uma trava que impeça que ela volte a funcionar sem que o operador dê o comando, caracteriza-se como condição insegura. Sendo assim, os acidentes podem ocorrer por fatores isolados ou associados. A condição insegura Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 16 pode ocorrer por erros administrativos, técnicos, falta de conhecimento ou má avaliação dos riscos e perigos, podendo ser causa direta ou indireta da ocorrência de acidentes. Uma ferramenta de gestão usada na investigação de causas de acidentes é o diagrama de causa e efeito. Uma ferramenta que auxilia na análise e identificação das potenciais causas de variação do processo ou da ocorrência de um fenômeno, bem como da forma como essas causas interagem entre si (ISHIKAWA, 1993). Efeitos do acidente de trabalho Quando você dirige falando ao celular e causa uma colisão sem vítimas, você logo pensa: “vou acionar o seguro”. Mesmo você tendo uma seguradora para cobrir acidentes de carro, você sabe que serão dias difíceis até consertar, em caso de perdas parciais, ou receber outro carro em casos de perda total. E se neste acidente houver vítimas não fatais, sua esposa, seu filho, que ficaram hospitalizados? Acidentes com vítimas fatais então... terão efeitos para uma vida inteira. Analogia igual pode ser feita com acidentes de trabalho, com consequências para as pessoas envolvidas, que podem ficar incapacitadas parcialmente ou totalmente ao trabalho, para a empresa que perderá a mão de obra, material e elevará os custos operacionais para a sociedade, com o aumento no número de beneficiários e diminuição do número de contribuintes ao sistema previdenciário. O que nos leva a afirmar que os efeitos de um acidente serão sempre negativos no que envolve aspectos humanos, sociais e econômicos. Além dos efeitos materiais, é preciso avaliar os efeitos psicológicos negativos envolvendo os sentimentos humanos das vítimas diretas ou de qualquer pessoa envolvida no meio que ocorreu o acidente. Esses efeitos podem ser imediatos em uma pessoa da equipe ou pode acontecer a médio e longo prazo, chegando a envolver uma equipe inteira, que podem durar horas em um ataque de euforia ou dias, o que em todos os casos levará a perdas significativas ao processo, podendo vir a se tornar um fator humano causador de novos acidentes. Os programas de prevenção e controle de perdas gerados pelos acidentes é um investimento feito pelas empresas para reduzir os custos e efeitos causados pelos acidentes. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 17 O objetivo desse programa está ligado aos fatores humanos, a fim de diminuir o afastamento do trabalho, mas principalmente em reduzir os efeitos causados ao processo, como garantir a qualidade do produto final durante o processo de fabricação, ou seja, não ter que refazer os padrões na linha de produção, pois a qualidade está ligada a todo o processo, incluindo os trabalhadores, além de manchar a imagem das empresas com seus clientes e parceiros de negócio. O relacionamento com os clientes e parceiros pode ser afetado pela ocorrência de acidentes de trabalho quando os efeitos do acidente impactam no cumprimento de prazos e na capacidade da empresa de produzir na quantidade esperada. O atraso na entrega ou a entrega em uma quantidade inferior à contratada é um efeito negativo para a imagem da empresa e também para os custos da produção que podem aumentar na tentativa de compensar o tempo perdido. Quando os efeitos são gerados causando danos à máquina e aos equipamentos, os custos podem ficar ainda mais altos para a empresa, por isso a importância da gestão de segurança preventiva, baseada em um plano de manutenção contínuo, mediante manutenções preventivas, programadas e, caso necessário, reparadora para máquinas e equipamentos. RESUMINDO: Se estivéssemos assistindo a um filme de investigação, você diria que conseguiria descrever os fatos e os personagens que apareceram? Então, para você não perder nenhuma cena, iremos apresentar um resumo. Os acidentes e incidentes de trabalho podem ocorrer em decorrência da atividade laboral causando lesões ou acidentes por doenças, que podem ser profissionais ou do trabalho. Esses acidentes podem ser causados por fatores humanos atrelados às condições do meio, configurando um ato inseguro ou condições inseguras, que terão efeitos humanos, sociais e econômicos. Sendo assim, a gestão de segurança tem como objetivo controlar os efeitos e as causas do acidente. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 18 Fator pessoal de insegurança – ato inseguro INTRODUÇÃO: Ao final deste capítulo esperamos que você reconheça os fatores humanos com potencial para causarem acidentes de trabalho por meio de atos inseguros, suas causas e consequências. Ato inseguro Quando relatamos um acidente de carro ou uma explosão de um posto de combustível, o desabamento de uma encosta sobre casas, sempre nos perguntam: “De quem é a culpa”? A definição para acidente detrabalho não é encontrada em legislação ou dicionário, pois ela só contempla as causas ou os culpados pelo inoportuno acontecimento. Então, é preciso compreender as causas do acidente de trabalho para poder defini-lo. Sendo assim, vamos analisar os fatores que, combinados ou não, são responsáveis direta ou indiretamente pelos acidentes e pelas doenças no ambiente de trabalho. Os atos inseguros podem estar presentes no ambiente de trabalho de várias maneiras, pois é a forma como o ser humano se relaciona com o perigo. Ela pode ocorrer de maneira inconsciente, quando o ser humano desconhece o perigo ao qual está sendo exposto; consciente, quando o ser humano reconhece o perigo que está exposto ou ainda circunstancial, quando algum fator inesperado o leva a se expor ao perigo, mesmo tento sido reconhecido pelo ser humano. Vamos chamar a ELIS para nos ajudar com sua experiência a evidenciar situações relacionadas a atos inseguros? Um motorista de caminhão ao passar pelo posto da polícia rodoviária acelera o veículo propositalmente para evitar que seja parado para verificação dos documentos. Seu medo é que a polícia identifique que sua habilitação não é compatível ao tipo de veículo que está conduzindo. Para escapar do cerco, ele acaba colidindo com o canteiro central, ocasionando um acidente de trabalho sem vítimas fatais. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 19 A ELIS relata que ao dirigir sem habilitação e acelerar o veículo acima da velocidade permitida, o motorista cometeu um ato inseguro consciente, considerando que o motorista foi devidamente treinado. Digamos que nesse mesmo acidente o veículo fosse tomado pelo fogo e que o ajudante do motorista ao ver seu companheiro preso dentro do veículo se lança em meio às chamas para salvar o companheiro de trabalho. Nesse caso, a ELIS define como um ato inseguro circunstancial, em que para salvar o companheiro o ajudante se expôs a um perigo que ele reconhecia. Além dos exemplos apresentados pela ELIS, alguns exemplos se destacam como mais frequentes, variando em relação à frequência de um processo de produção. São eles: • Em atividades com movimentação com cargas suspensas por diferentes equipamentos (grua, guindaste, pontes ou cordas), o trabalhador por falta de informação ou desobediência às regras de segurança se posiciona próximo ou sob a carga em movimentação. • Operadores de máquinas e equipamentos que colocam parte do corpo, principalmente membros superiores, em contato com engrenagens, pontos de esmagamento e energizadas, levando a lesões leves até à amputação do membro. O treinamento e a capacitação são medidas de controle fundamentais para instruir os trabalhadores e reduzir a ocorrência de acidentes de trabalho por ato inseguro inconsciente, quando o trabalhador não tem conhecimento do risco, por isso realizar uma atividade com máquina e equipamentos sem a devida habilitação/autorização pode causar acidentes de trabalho, assim como realizar manutenção e reparo em máquina e equipamentos em funcionamento ou as improvisações de ferramentas manuais. • Os dispositivos de segurança também podem se tornar fatores de risco quando utilizados de forma incorreta, para fins que não foram projetados, assim como não utilizar dispositivos de segurança individual quando este for indispensável para o controle do risco. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 20 • Os agentes de risco químico e biológico também são causas frequentes de acidentes de trabalhos quando são mal manipulados ou expostos a elementos reativos, como o uso de chamas ou fumar próximo a produtos inflamáveis. Características do fator pessoal de insegurança Os seres que vivem em agrupamentos estabelecem regras, mesmo que não sejam repassadas em linguagem verbal. Um exemplo são os animais que delimitam as regras em seus bandos. Os gorilas vivem em bandos que são liderados por um macho dominante, que toma as decisões sobre quando seu grupo acorda, come, se desloca e descansa à noite. Como ele deve proteger sua família em todos os momentos, esse gorila líder tende a ser o mais agressivo. Em algumas situações, ele bate com as duas mãos no peito quando percebe alguma ameaça para afastar o perigo. Para os seres humanos, as regras foram um marco na evolução, que servem de prescrições específicas de disciplina, podendo ou não ter um significado jurídico (AMARAL, 2005). Elas são usadas para evitar acidentes no trabalho e prevenir doenças ocupacionais. Segundo o observatório de Segurança do Trabalho, foram notificados 4.503.631 acidentes entre 2012 e 2018. O número permite estimar a quantidade de acidentes por unidade de tempo e projeção para 2019 até hoje. Os dados de 2019 serão atualizados em 2020, e assim por diante. Em anos anteriores, a estimativa esteve muito próxima do que se confirmou após a atualização (SMARTLAB, 2021). O acidente de trabalho gera danos materiais à comunidade, ocasionando o aumento do custo de vida e dos impostos, insatisfação com falta de condições de trabalho e diminuição de pessoas produtivas. Por isso, é indispensável entendermos por que ocorre o acidente do trabalho para podermos evitar os mais diversos tipos de prejuízos. Todo ser humano tem características pessoais, físicas, sociais ou mentais que podem interferir direta ou indiretamente no trabalho. Quando essas características interferem negativamente no trabalho, provocando atos inseguros, dá-se o nome de fator pessoal de insegurança. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 21 Podemos destacar aqui os principais fatores humanos que levam à prática de atos inseguros. • Desconhecer um risco dentro do ambiente ocupacional pode ser comparado a uma criança que brinca com um fósforo aceso perto de um vidro de álcool, aparentemente inofensivo aos olhos da criança que desconhece o resultado da reação. No caso da criança, cabe aos pais e responsáveis explicar o perigo envolvido ao aproximar a chama a um material inflamável e retirar o perigo das mãos da criança. No ambiente de trabalho, essa orientação deve ser feita pelo profissional prevencionista, que ao passar uma ordem de serviço deve evidenciar cada risco e perigo relacionado à atividade e apresentar ao trabalhador a devida forma de proteger. A informação é uma arma fundamental para evitar acidentes, assim com a falta de informação pode levar à ocorrência de acidentes do trabalho. • O desconhecimento pode ser por falta de orientação do profissional prevencionista, mas também por falta de preparo para o trabalho, trabalhadores sem capacitação ou formação profissional, utilizando-se do notório saber, que muitas vezes levam a práticas de gambiarras e improvisos, na tentativa de ganhar tempo ou por desleixo na atividade realizada. Por isso, a verificação da formação profissional antes da contratação, assim como os programas de capacitação e treinamento são importantes aliados contra os acidentes de trabalho. • Problemas de ordem social também podem ser evidenciados como fatores pessoais, com o excesso de confiança ou exibicionismos como forma de autoafirmação. Também os problemas de ordem financeira, como dívidas, falta de oportunidades para si e para sua família, que podem gerar brigas conjugais, uso descontrolado de drogas lícitas e ilícitas associados a uma extrema pressão emocional que podem levar a ataques de estresse e histeria. Todos esses fatores atrelados ao meio em que o trabalhador exerce sua função podem levar a atos inseguros e, por consequência, a acidentes de trabalho. Por isso, precisam ser observados e acompanhados para que possam ser controlados, reduzindo o número de acidentes de trabalho. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 22 Como controlar o fator pessoal Vimos que os seres humanos podem se tornar verdadeiras bombas- relógio, prontas para explodir... boom! E agora, o queo profissional prevencionista pode adotar nos ambientes de trabalho para evitar que essa bomba exploda? Figura 2 – Bomba-relógio Fonte: pixabay Dessa forma, vamos conhecer algumas ações que deverão ser adotadas nos ambientes de trabalho na tentativa de conter os fatores pessoais relacionados à ocorrência de acidentes de trabalho. Vimos que a falta de qualificação profissional é um fator pessoal atrelado à falta de aptidão que pode contribuir para a ocorrência de acidentes de trabalho. Por isso as empresas devem estar atentas desde o processo de contratação do trabalhador, selecionando profissionais devidamente habilitados, sem permitir que sejam feitas contratações de forma arbitrária ou por indicações, sem verificar os dados fornecidos por cada candidato selecionado. No entanto, além da documentação apresentada, o trabalhador que comprove sua formação através do ensino formal e/ou profissionalizante, deve apresentar outros requisitos que demonstrem suas habilidades e competências para desenvolver a atividade para a qual foi contratado, como condições físicas e emocionais, aptidão para o trabalho, caráter inidôneo, respeito pela cultura prevencionista da empresa, ou seja, o trabalhador não pode considerar as ações de segurança como uma banalidade desnecessária. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho https://pixabay.com/pt/vectors/bomba-explosivas-detona%C3%A7%C3%A3o-fus%C3%ADvel-154456/ 23 O SESMT tem uma participação importante após a seleção e contratação do trabalhador, que se apresenta para o SESMT no momento da integração. No momento da integração, o trabalhador deve se sentir parte da equipe ao qual irá desenvolver seu trabalho. O papel dos gestores e profissionais prevencionistas é importante na recepção e no acompanhamento dos trabalhadores desde sua chegada. O acompanhamento supracitado deve ter sempre como objetivo inserir no dia a dia do trabalhador a importância de vivenciar a política prevencionista proposta pela empresa, mediante medidas educacionais, por meio do planejamento e da execução de treinamentos e capacitação dos trabalhadores. Os treinamentos devem ocorrer não apenas para o cumprimento da legislação, mas como parte da formação continuada dos trabalhadores, acontecendo de forma programada e periódica e até mesmo diariamente através do Diálogo Diário de Segurança (DDS) ou palestra, que podem ocorrer de forma planejada ou durante a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT), organizada pela CIPA com o apoio do SESMT. Você sabe o que é uma SIPAT? Em 1953, foi publicado o Decreto- Lei nº 34.715, que oficializa uma semana dedicada de atividades sobre a segurança no trabalho, a SIPAT, em que fica definida como a última semana de novembro de todo ano para a sua realização. Posteriormente, foi consolidado pela NR 5 como um evento anual obrigatório que deve ser implementado pela CIPA em todas as empresas em conjunto com o SESMT. Para a SIPAT atingir seu objetivo, não deve ser realizada apenas como uma obrigação pela empresa, e sim ser encarada como uma importante ferramenta para informar aos trabalhadores sobre a segurança e a saúde no ambiente de trabalho e em casa. Durante o evento, a empresa pode informar, atualizar e reforçar com os trabalhadores temas voltados para a saúde do trabalhador e acidentes de trabalho, abordando os fatores pessoais por meio de dinâmicas e ações psicossociais (BRASIL, 2016). Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 24 Além da educação por meio da comunicação verbal, podemos usar também outros meios, como cartazes e sinalizações. Em tempos de indústrias inteligentes, o uso da tecnologia é uma ferramenta de comunicação que consegue gerar valores e atingir um número maior e com mais interatividade de trabalhadores. O uso de comunicação por correio eletrônico, videoconferências, simuladores e mídias digitais é uma forma de gerar educação prevencionista na indústria 4.0. As medidas médicas mediante acompanhamento periódico dos trabalhadores é uma grande aliada para reduzir causas de fatores pessoais ligadas ao acometimento de limitações pessoais, físicas ou cognitivas. A incapacidade física pode não ser detectada nos exames admissionais se desenvolverem tardiamente em função de fatores genéticos, que podem ser fatores pessoais, como a gradativa perda de visão e audição, ou a redução da capacidade física. Problemas neurológicos, como ataques epiléticos, podem causar problemas durante a execução do trabalho com segurança, pois em um ataque epilético o indivíduo não tem controle sobre seus movimentos, com contínuos espasmos musculares, que podem causar acidentes de trabalho. VOCÊ SABIA? A ciência já comprovou que algumas pessoas podem apresentar Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, uma condição que geralmente se apresenta na primeira infância, mas muitas, por falta de informação ou resistência ao tratamento, não são acompanhadas. No ambiente ocupacional, ele pode se apresentar por meio da falta de foco, perda de concentração e impulsividade. As medidas psicológicas atreladas a um acompanhamento prevencionista planejado podem contribuir para diminuir os efeitos dos fatores pessoais em causas de acidentes de trabalho, principalmente por meio de motivação e estímulo da autoestima e confiança do trabalhador na sua relação com a empresa, com os colegas e nas relações pessoais. De forma resumida, podemos listar as ações de prevenção de acidentes de trabalho como: Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 25 Figura 3 – Sequência de ações para reduzir o número de acidentes do trabalho causado por fatores pessoais Identificar fatores de risco Estabelecer medidas para controlar esses fatores Verificar os resultados das medidas implementadas Realizar treinamentos e campanhas de prevenção Fonte: Elaborada pela autora. Consequências do fator pessoal Olha quem chegou para nos ajudar a compreender melhor as consequências dos fatores pessoais causadores de acidentes de trabalho! Ao ser acordada durante a noite, ELIS respira fundo ao perceber que quem está ligando é um bombeiro informando que houve uma grave explosão seguida de um intenso incêndio no hospital em que ela trabalha e que até o momento existe o risco do fogo se propagar e atingir outras alas do hospital. Imediatamente ELIS aciona os gestores de plantão para saber se foi feita evacuação do prédio como planejado no plano de emergência garantindo a sobrevivência dos pacientes e trabalhadores e descobre que o incêndio foi causado durante a troca de turno na lavanderia, quando o trabalhador que saía do plantão esqueceu-se de desligar a secadora, levando a um superaquecimento e consequente incêndio. O trabalhador que deixou a secadora ligada já está em casa, seguro. Como podemos observar no relato da ELIS, o profissional que não desligou a secadora está seguro em casa, enquanto os trabalhadores do turno e os pacientes do hospital estão em risco, mesmo tendo sido executado o plano de evacuação com eficiência. Quando ocorre um acidente de trabalho, podemos considerar várias consequências, iniciando pelas consequências em relação à vida humana, que podem variar desde pequenos ferimentos até a perda da própria vida ou de outros. Além das consequências causadas nas vítimas, devemos considerar também os efeitos a curto, médio e longo prazos dos tratamentos e protocolos que serão realizados pelas vítimas, muitas vezes dolorosos Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 26 e que trazem novas consequências, como o abalo emocional e a discriminação social. Dessa forma, é essencial que todo sofrimento físico, mental ou social seja evitado ou reduzido para que não se tornem fatores pessoais os causadores de acidentes. Quando a vítima pode retornar às suas atividades de trabalho, mesmo após longos tratamentos, as consequências do acidentesão classificadas como incapacidade parcial. Mesmo assim, ela pode sentir- se mesmo capaz, o que pode vir a se tornar um fator para que ocorra um novo acidente, ou seja, a consequência do acidente é a insegurança gerada nas vítimas que pode se tornar um fator de ocorrência de novos acidentes. Figura 4 – A insegurança causada pelas sequelas de um acidente pode deixar o trabalhador susceptível à ocorrência de novos acidentes Acidentado Insegurança Acidente Fonte: Elaborada pela autora. Outro aspecto que devemos relacionar com consequências após um acidente de trabalho são as consequências sociais para as vítimas, que impossibilitadas de trabalhar podem ter uma redução na renda familiar por um período, em casos de incapacidade parcial ou temporária. Imagine em caso de incapacidade permanente, no qual a vítima e sua família tem sua realidade socioeconômica alterada repentinamente, afinal, ninguém se prepara para sofrer um acidente, mesmo que as vítimas recebam o auxílio garantido por lei. As consequências econômicas recaem sobre a vítima, mas também sobre a empresa, embora ainda existam empresas que não se importem com os efeitos negativos em relação aos efeitos de um acidente de trabalho. Para essa análise é preciso que a empresa entenda que os custos do acidente interferem na qualidade e na quantidade dos serviços prestados, no prazo de entrega do produto ou serviço, principalmente se em função do acidente a empresa sofre um embargo de suas atividades, danos às máquinas e aos equipamentos. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 27 Você sabe quando uma empresa pode sofrer um embargo ou uma interdição? A NR 3 foi originalmente editada pela Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, estabelecendo procedimentos para embargo e interdição em caso de Grave e Iminente Risco (GIR) à vida e à saúde dos trabalhadores. Embargo e interdição são medidas administrativas, de caráter cautelar, cuja adoção tem o objetivo de evitar a ocorrência de acidente ou doença com lesão grave ao trabalhador, não se tratando de medida punitiva às organizações (BRASIL, 2016). Em caso de acidentes, as empresas são obrigadas a emitirem a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), informando à previdência social todos os acidentes de trabalho ocorridos com trabalhadores, mesmo que não haja afastamento temporário das atividades de trabalho. Outras agências também utilizam esses dados. A International Oil and Gas Producers (IOGP) usa como índice a Taxa de Acidentes Registráveis (TAR) como critério para comparar o desempenho das empresas do setor, com o objetivo de intensificar a concorrência internacional. RESUMINDO: Acidente é um problemão né? E se não entendermos direitinho as causas e consequências relacionadas aos fatores pessoais, esse problema pode ficar ainda maior. Então, vamos resumir aqui as diferentes causas relacionadas aos fatores pessoais que podem ocasionar acidentes de trabalho, com o afastamento como consequência para a vítima, para a sociedade e para a economia, inclusive em relação à economia mundial. Entre os fatores podemos citar a falta de conhecimento, imprudência, irritabilidade e até mesmo transtornos cognitivos. Como consequências, podem ocorrer desde pequenas lesões a graves, que em função das sequelas e dos tratamentos podem se tornar um fator de insegurança, além das consequências sociais, como a discriminação e as consequências econômicas, a diminuição da renda familiar. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 28 Condições de insegurança do ambiente INTRODUÇÃO: Ao final deste capítulo esperamos que você reconheça as condições do meio com potencial para causarem acidentes de trabalho mediante condições inseguras, suas causas e consequências. Condição insegura No capítulo anterior, vimos que os seres humanos podem tornar-se um risco a sua saúde e segurança em função de atos inseguros. Mas será que só os seres humanos podem causar acidentes? Olha para essa tomada aí atrás do seu aparelho de TV ou do computador. Respondam, tem alguma possibilidade de surgir um pequeno incêndio nessa tomada devido às condições que ela está sendo utilizada? E o seu carro? Olhe os quatro pneus. E o pneu reserva? O estepe? Será que estamos seguros em andar com o nosso carro com esses pneus, a estrutura, a calibração, o tempo de desgaste? Então, quando a sua tomada ou o seu pneu não estão garantindo segurança para você e sua família, você precisa trocar ou adequar. No ambiente de trabalho vamos ver situações semelhantes. As condições do local de trabalho precisam gerar segurança para os trabalhadores, da mesma forma que as que não garantem a segurança geram condições inseguras no local de trabalho. Condições inseguras não devem ser confundidas com perigos presentes no ambiente ou inerente à função do trabalhador, como partes energizadas, produtos ou equipamentos usados no desenvolvimento da atividade. As condições inseguras estão presentes no ambiente de trabalho quando os perigos identificados na fase de análise de risco não são devidamente controlados, expondo os trabalhadores a danos causados por acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 29 Nossa Líder ELIS vai nos ajudar a compreender melhor com um exemplo que ela vivenciou em uma indústria de sapatos. As máquinas e os equipamentos para que possam operar precisam ser alimentados por uma rede energizada, ou seja, a corrente elétrica é um perigo presente na atividade de um operador de máquinas. Durante a inspeção de rotina, ELIS verificou que a máquina de costura do couro estava ligada na tomada, mas o fio condutor apresentava uma emenda, feita de forma improvisada, deixando o fio exposto. Ao identificar a condição insegura, ELIS suspendeu a atividade naquela máquina e acionou o setor de manutenção para que efetuasse a troca do fio, sem emendas e com todas as partes protegidas, como estabelecido nas NR10 e NR12 (BRASIL, 2016). A presença de energia elétrica, por sua capacidade em gerar danos ao trabalhador, representa um perigo. No entanto, se essa energia estiver isolada, sem que o trabalhador tenha contato, não causará danos. No caso apresentado, o fio emendado e exposto pode causar uma descarga elétrica e causar danos ao trabalhador, expondo-o a uma condição insegura. Condições inseguras: • Falta de proteção mecânica. • Máquinas e equipamentos defeituosos ou sem reparo. • Ambientes com mudança de nível não sinalizada (escadas ou rebaixamento). • Pisos escorregadios. • Iluminação inadequada. • Arranjo físico inadequado. • Ventilação e exaustão inadequadas. • Armazenamento e transporte de cargas e pessoas inadequados. • Passagem obstruída ou sobrecarga das instalações. • Redes energizadas e tubulações mal planejadas. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 30 Podemos apontar outros fatores que expõem o trabalhador a condições inseguras, como operar máquinas e equipamentos sem proteção ou com mecanismos defeituosos. A presença ou exposição a agentes químicos (gases, vapores, poeiras) ou físicos (calor, radiação) podem gerar condições inseguras caso a exposição a esses agentes não forem devidamente controlados. Figura 5 – Perigo versus Risco Perigo Risco Condição insegura Fonte: Elaborada pela autora. Perigo é a fonte que pode causar um dano inerente à atividade. Risco é o perigo controlado. Condição insegura é o perigo que não foi devidamente controlado. Característica do ambiente - análise de risco Se o perigo existe, por que analisar o risco? Nos ambientes de trabalho, inúmeras são as fontes de perigo que são inerentes às atividades desenvolvidas. Uma gestão prevencionista inicia-se com uma análise prévia dos riscos ocupacionais, com o planejamento de medidas de segurança que eliminem, reduzam ou controlem os riscos identificados no ambiente de trabalho.Para executar essa análise, é preciso que a empresa invista em profissionais prevencionistas, incluindo o Engenheiro de Segurança do Trabalho, que tenha um amplo conhecimento da legislação prevencionista atualizado, capacitado para reconhecer as fontes geradoras e os agentes causadores de riscos ocupacionais, propondo medidas de controle eficientes, que atendam às normas regulamentadoras e demais legislações. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 31 Os profissionais do serviço de segurança devem fazer o registro de todos os riscos e perigos presentes no ambiente de trabalho por meio de documentos de gestão de segurança. A NR9 estabelece a identificação dos riscos ocupacionais e seu registro deve ser feito em um documento denominado Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. A última atualização feita pela a CTP alterou o nome do documento para Programa de Gerenciamento de Risco (PGR) (BRASIL, 2016). Independente do nome do documento, PPRA ou PGR, a intuito é fazer o registro dos riscos existentes no ambiente ocupacional que comprometam a saúde e segurança dos trabalhadores. O ideal é que o documento seja alimentado por profissionais prevencionistas que atuam na empresa e que divulguem aos trabalhadores o resultado de sua investigação, de forma a educa-los e conscientizá-los quanto à presença do risco e às medidas adotadas pela empresa. Algumas empresas, desobrigadas a constituírem o SESMT, ou mesmo com o SESMT instalado, optam por contratarem serviços terceirizados para elaboração do documento, o que pode acabar dificultando o processo de divulgação e conscientização. Tabela 1 – Modelo de análise de risco Setor Função Fonte geradora Probabilidade de danos Agente causador de danos Risco ocu- pacional Medidas existentes C o le ta d e a m o st ra d e s an g u e P at o lo g is ta Coleta de amostra de sangue através de seringas com agulhas Ferimentos por perfuro- cortantes Equipa- mentos sem proteção Risco de acidentes Treinamento, capacitação, gerenciamento de resíduos do grupo E Contaminação por micror- ganismos patogênicos Vírus, bactérias Risco biológico Treinamento, capacitação, gerenciamento de resíduos do grupo E e A e Uso de EPI Fonte: Elaborada pela autora. A análise de risco é a primeira etapa do processo de gerenciamento de risco, que segundo Wege (2014), deve haver a implantação de medidas de controle e os procedimentos técnicos e administrativos para manter os riscos controlados. Não tem sentido identificar os riscos se não for para estabelecer as devidas medidas de controle. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 32 A análise de risco pode ser feita por meio do uso de ferramentas de gestão, como o diagrama de Ishikawa (ISHIKAWA, 1993), também conhecida como diagrama de causa e efeito, matriz GUT e análise preliminar de risco (APR). Na análise de risco, é importante registrar o material usado, sendo ele básico para o desenvolvimento da função, das peças de reposição ou ainda de algum produto ou material extra. Os agentes químicos precisam ser identificados, acompanhados pela ficha de identificação de cada produto (FISPQ), documento normatizado pela ABNT, no qual estão contidas as informações quanto à saúde, à segurança e ao meio ambiente do produto. Dentro dessa análise, podemos classificar o grau de risco com base em escalas padronizadas. Segundo Anderson Benite (2004), as empresas devem manter uma contínua análise e identificação de perigos e riscos com o objetivo de programar medidas de controle que incluem as atividades ordinárias e extraordinárias, considerando todos os trabalhadores (contratados, terceirizados) e possíveis visitantes. Os fatores ambientais são mais fáceis de identificar durante a análise qualitativa dos riscos, podendo facilitar a gestão de riscos por meio de manutenções preventivas, corretivas em máquina e equipamentos, organização do ambiente e sinalização e dispositivos de emergência. Para os fatores ambientais imperceptíveis à análise qualitativa, como a concentração de ruído, radiação, agentes químicos e biológicos, é preciso uma análise quantitativa no ambiente, considerando a avaliação não apenas da presença do agente, mas também sua concentração e, em alguns casos, a natureza físico-química do agente e suas reações com outros agentes presentes no meio (produtos perigosos). A análise quantitativa é utilizada para a classificação de condições insalubres prevista na NR15 (BRASIL, 2016). O resultado das análises qualitativa e quantitativa permite aos profissionais prevencionistas definirem os riscos ambientais. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 33 Os riscos ambientais são aqueles relativos às atividades ocupacionais que podem gerar danos ou agravos à saúde do trabalhador ou que causam de acidentes de trabalho (BAZZO; PEREIRA, 2006). Os riscos ambientais são classificados pela NR9 como risco físico, químico e biológico em relação à presença de agentes físico, químico e biológico no ambiente. Outra norma na qual os riscos ambientais são definidos, é na NR5, pela Portaria n0 25/1994, a qual estabelece a elaboração do Mapa de Risco pelos membros da CIPA e classifica os riscos em físico, químico, biológico, ergonômico e de acidentes (BRASIL, 2016). Não só a legislação trabalhista considera os agentes presentes no ambiente de trabalho que possam causar danos, mas o Ministério da Saúde (MS) também classifica os riscos em físico, químico, biológico, ergonômico e de acidentes. Os riscos ambientais, sob uma visão clássica, podem ser classificados nos grupos citados anteriormente, mas com a evolução e o desenvolvimento dos processos industriais e das atividades, devemos ampliar nosso olhar sobre o risco (BRISOT, 2019). Classificação de riscos ocupacionais Para a análise de risco e como base para o gerenciamento dos riscos ambientais, os profissionais utilizam as seguintes definições para classificação de risco: • Risco físico – diversas formas de energia que os trabalhadores podem estar expostos em seu ambiente de trabalho, listados nos anexos da NR15 – Atividades e Operações Insalubres. Exemplos: ruído, vibração, temperaturas extremas, radiações ionizantes e não ionizantes, trabalho sob condições hiperbáricas e umidade. • Risco químico – produtos ou compostos nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores que podem penetrar no organismo do trabalhador pela via respiratória. Alguns produtos podem também ser absorvidos pela pele ou por ingestão. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 34 Exemplos: gases, poeiras, vapores, névoas e fumos oriundos de compostos ou substâncias químicas. • Risco biológico – microrganismos patogênicos que podem penetrar no organismo. Exemplos: bactérias, vírus, fungos, protozoários patogênicos. • Risco ergonômico – resultante de relações de trabalho, organização do trabalho, mobiliário e relações ligadas ao conforto no ambiente de trabalho. Exemplos: levantamento manual de peso, trabalho em turno noturno, exigência de esforços repetitivo ou postura inadequada, esforço físico intenso. • Risco de acidente – também conhecido como risco mecânico, são os agentes presentes no ambiente de trabalho identificados durante a análise de risco como um potencial causador de acidentes. Exemplos: proteção de máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza, animais peçonhentos, probabilidade de explosão ou incêndio, partes energizadas. Uma comparação da aplicação dos riscos ambientais pode ser observada na tabela a seguir. Tabela 2 – Comparação dos riscos ambientais RISCOS NR5 NR9 MS Físico Químico Biológico Ergonômico Acidente Fonte: Elaborada pela autora. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 35 Para verificar se a análise de risco e as medidas adotadas para ocontrole do ambiente estão sendo eficientes, é preciso definir indicadores mensuráveis para as metas a serem alcançadas, por meio de processos de verificação contínua e planejada, como auditorias internas. Em casos de acidente, quando as medidas não forem eficientes para proteger o trabalhador, é necessária uma investigação das causas do acidente, assim como a definição dos agentes envolvidos para que possam ser tomadas novas medidas que garantem a segurança e a saúde do trabalhador, adequando-se às novas tecnologias e demandas do mercado. Investigação de acidente Como acompanhamos no capítulo anterior, para garantir a saúde e a segurança do trabalhador, a empresa precisa investir na análise de riscos ambientais de forma que os dados obtidos no levantamento de riscos contribuam para o planejamento e a implementação das medidas de controle. No entanto, mesmo com as medidas aplicadas, podem ocorrer situações de vulnerabilidade na gestão de segurança capazes de gerar acidentes. Quando ocorre um acidente, o primeiro impulso, e correto, é garantir a sobrevivência dos trabalhadores. No entanto, é fundamental definir os fatores que levaram ao acidente. A investigação do acidente de trabalho tem como objetivo analisar as informações identificando as causas reais, utilizando métodos para a análise, aplicando recursos tecnológicos. As conclusões devem servir para a transformação do ambiente, fortalecendo as medidas educativas, prevencionistas e médicas. A investigação de acidentes tem muitas informações relevantes sobre a origem e suas causas, pois somente conhecendo-as é possível evitar as reincidências ou ocorrências de novos acidentes por fatores semelhantes. Os agentes de riscos de acidentes são aqueles que durante a investigação de um acidente aparecem em diferentes métodos utilizado para a investigação. Vamos usar como exemplo um método simples, o diagrama de causa e efeito, agrupando as causas em categorias conhecidas como “6 Ms”: Método, Meio, Máquinas, Medições, Materiais e Mão de obra, sendo apenas a mão de obra a categoria em que a investigação pode não apontar apenas condições do ambiente. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 36 Uma empresa de limpeza predial iniciou a investigação de um acidente com o trabalhador que exercia a função de lavador de fachada. Ele desenvolvia sua atividade em um dia nublado e a uma altura de nove metros. No momento do acidente ventava muito e o trabalhador estava utilizando o equipamento que liberava jatos de água com uma solução de limpeza, quando em função de uma forte rajada de vento fez com que o trabalhador fosse atirado contra a grade de proteção. Como ele estava usando os dispositivos de segurança individual, não houve queda, mas a ferramenta estava presa apenas por suas mãos, o piso estava molhado e no momento do impacto a ferramenta caiu sobre o seu pé e causou uma luxação. Sendo assim, nossa amiga ELIS vai nos ajudar a investigar as causas do acidente usando o diagrama de causa e efeito com o modelo 6Ms. A Figura 7 mostra um modelo de diagrama: Figura 6 – Diagrama de causa e efeito Método Máquinas Materiais Meio Medições Mão de obra Efeito: luxação do membro inferior Fonte: Elaborada pela autora. • Método: limpeza da fachada com jato de água. • Meio: atividade realizada a céu aberto exposto a intempéries (dia nublado com rajada de vento). • Máquinas: falta de um dispositivo que evitasse quedas da ferramenta. • Medições: inspeções nas condições do tempo, velocidade do ar. • Materiais: produto químico escorregadio. • Mão de obra: treinada e capacitada, surpreendida por uma rajada de vento. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 37 Após a verificação, ELIS estabeleceu que fossem adicionadas medidas de proteção contra quedas de ferramentas e que as atividades acima de dois metros de altura seriam interrompidas quando comprovada a velocidade do vento acima de 40 quilômetros por hora conforme estabelecido na NR 35 (BRASIL, 2016). Com base nos resultados da avaliação de um acidente, as empresas, por meio dos profissionais responsáveis pela saúde e segurança da empresa, podem estabelecer um planejamento de ações para eliminar, mitigar ou controlar as causas de acidente. Uma ferramenta eficiente no planejamento e acompanhamento das ações é o Plano de Ação, como o 5W2H, conforme mostra a Tabela 3. Tabela 3 – Plano de Ação 5W2H WHAT WHERE WHEM WHO WHY HOW HOW MUCH O QUE ONDE QUANDO QUEM POR QUE COMO QUANTO CUSTA Fonte: Elaborada pela autora. O relatório de investigação de acidentes vai servir como base para o estabelecimento dessas ações. Por isso, é importante que ao preencher esses relatórios o engenheiro de segurança o faça respeitando os requisitos do código de ética profissional, não deixando possibilidades de dupla interpretação das informações ali registradas. Como parâmetro métrico para definir o caráter técnico idôneo, pode-se considerar: a legibilidade do documento, a recuperação dos dados apresentados com evidências no documento, a proteção das informações ali contidas para que não se percam, o tempo em que este ficará arquivado e a identificação do registro, para que seja possível sua consulta por parte interna, auditorias ou inspeções oficiais, fiscalização de órgãos do governo ou certificadoras na empresa. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 38 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Os acidentes de trabalho podem ser causados por agentes presentes no meio, que podem ser definidos com agentes de risco físico, químico, biológico, ergonômico ou de acidente. Os agentes considerados causadores de risco de acidente ou mecânico, são aqueles identificados durante a análise de risco como potenciais causadores de acidentes do trabalho. O gerenciamento dos riscos deve seguir as etapas de: identificação de perigos; identificação de potenciais de perdas; análise de riscos: estudo e descrição de como está posto esse risco no ambiente de trabalho; avaliação de riscos e tratamento dos riscos: ações que devem ser tomadas para a eliminação, redução ou convivência adequada com o risco. Caso as medidas não consigam evitar o acidente, ele deve ser investigado, definindo novamente as causas e os efeitos. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 39 Consequências do acidente de trabalho: lesão pessoal e prejuízo material INTRODUÇÃO: Ao final deste capítulo você deverá compreender os efeitos negativos gerados pelos acidentes de trabalho, tanto em questões econômicas quanto previdenciário, social e humano. Descobrir que um acidente pode custar caro para a empresa e refletir no valor final do processo de produção e que não existe um culpado, todos somos responsáveis. Efeitos dos acidentes de trabalho - econômico e social Todo trabalho é realizado para gerar produtos e serviços de qualidade, com resultados positivos para o cliente e para a empresa. No entanto, as falhas podem gerar algumas perdas no processo, no caso do acidente de trabalho nós perdemos qualidade de vida, perdemos vidas. Por isso, neste capítulo iremos nos dedicar em analisar efeitos negativos, individual, econômico e social. Ao analisar as causas e efeitos de um acidente, são inúmeros os fatores que podemos listar para justificar um antigo questionamento prevencionista: Por que investir em segurança? Para alguns, o investimento pode ser o cumprimento das obrigações legais atrelado aos interesses de alcançar os objetivos traçados pela empresa. Para outros, são o reconhecimento de valores aplicados à responsabilidade socioambiental (BENITE, 2004). Seja por valores econômicos ou sociais, a verdade é que o custo das ocorrências com qualquer tipo de acidente de trabalho é um fator deimpacto economicamente: • Na vida do indivíduo, que fica com restrições na capacidade de gerar renda para sobrevivência. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 40 • Nas contas do governo, que concede benefícios, como auxílio- doença acidentário, aposentadoria por invalidez ou especial, pensão por morte. • Nas empresas, onde os custos com acidentes são contabilizados por indicadores baseados no número de Comunicado de Acidente de Trabalho emitido. A empresa é obrigada a informar à Previdência Social todos os acidentes de trabalho ocorridos com seus empregados até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência, mesmo que não haja afastamento das atividades. Em caso de morte, a comunicação deverá ser imediata. Um bom exemplo dos custos do acidente de trabalho para a empresa é o cálculo feito conforme a quantidade, a gravidade e o custo das ocorrências acidentárias em cada empresa em relação ao seu segmento econômico. É por meio desse mecanismo que a Receita Federal do Brasil pode aumentar ou diminuir a alíquota de 1% (risco leve), 2% (risco médio) ou 3% (risco grave) que cada empresa recolhe para o financiamento dos benefícios por incapacidade (grau de incidência de incapacidade para o trabalho decorrente dos riscos ambientais). Essas alíquotas poderão ser reduzidas em até 50% ou aumentadas em até 100% (FIESC; SESI, 2011). ACESSE: Você sabe como emitir uma CAT? Acesse o site do INSS para saber mais. Clique aqui. O preenchimento é on-line ou nas agências do INSS. Se a empresa não fizer o registro da CAT dentro do prazo legal, estará sujeita à aplicação de multa, conforme disposto nos artigos 286 e 336 do Decreto nº 3.048/1999. O próprio trabalhador, o dependente, a entidade sindical, o médico ou a autoridade pública poderão efetivar a qualquer tempo o registro desse instrumento junto à Previdência Social (INSS, 2021). Os custos com a falta de segurança devem ser evidenciados pelas empresas como um incentivo aos investimentos com segurança, identificando que os custos do acidente, com ou sem afastamento do Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho https://www.gov.br/pt-br/servicos/registrar-comunicacao-de-acidente-de-trabalho-cat 41 trabalhador, gera prejuízo, pois os custos diretos ou indiretos são revertidos em ônus para a empresa, com o aumento dos custos da produção. Muitas vezes, as empresas fazem os cálculos dos custos baseados nos custos diretos, sendo que os indiretos podem ser mais significativos. Como calcular os custos indiretos? Esse cálculo deve envolver: • Gastos no transporte dos acidentados. • Gastos com atendimento médico. • Tempo dos prevencionistas envolvidos com o resgate no atendimento. • Tempo com a limpeza e recuperação do local do acidente e reinício das atividades. • Perda da produtividade. • Aumento nos seguros pagos pela instituição. Existe também o custo social dos acidentes de trabalho com o aumento do número de inválidos e dependentes da previdência social, quer seja por uma incapacidade parcial ou total, de forma permanente ou temporária e a redução de mão de obra qualificada. Infelizmente, os efeitos negativos não são evidenciados por todos e podemos validar essa informação quando durante a investigação de acidentes de trabalhos identificamos as causas relacionadas aos atos inseguros e às condições inseguras negligenciadas pelos setores prevencionistas ou operacionais. Em uma análise humana, podemos encontrar situações extremas em que o trabalhador não valoriza uma cultura prevencionista ou empregadores que não evidenciaram a vida humana como um patrimônio vivo e banalizaram a vida humana. Em ambos os casos, os efeitos são extremamente negativos, ocasionando inúmeras falhas. Um bom exemplo de situações de efeitos negativos são os acidentes que envolvem condições inseguras, como o planejamento do arranjo físico ou acidentes com equipamentos de movimentação de pessoas e materiais. Eles são, muitas vezes, possíveis de serem evitados, porém Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 42 quando não são identificados os riscos antecipadamente, comprometem não só a máquina, mas os trabalhadores e a imagem da empresa. Então, vamos lá! Após um acidente, os efeitos negativos podem ser em relação aos aspectos materiais e/ou humanos, veja se você consegue resumir esses aspectos no organograma a seguir. Figura 7 – Efeitos negativos do acidente Acidentes Efeitos Materiais Total Parcial Reversível Irreversível Humanos Com lesão Parcial Temporária Total Permanente Sem lesão Fonte: Elaborada pela autora. Custos do acidente Agora que já conseguimos reconhecer os efeitos negativos do acidente de trabalho, chegou a hora de fazer os cálculos de quanto custou o acidente. Nós já vimos que os efeitos negativos incluem os custos diretos e indiretos para os trabalhadores, para o governo e para a sociedade, mas como calcular esses custos? Inicialmente, tem-se a ideia de que grandes acidentes acontecem apenas em grandes empreendimentos, ou grandes empresas. No entanto, quando a palavra em questão é custos, o pequeno empresário poderá sofrer mais os impactos do acidente. O custo de acidentes é definido pela NBR 14.280, como o valor do prejuízo material decorrente de acidente, sendo prejuízo material o prejuízo decorrente de danos materiais, perda de tempo e outros ônus resultantes de acidente do trabalho, inclusive danos ao meio ambiente. O cálculo em si não é difícil, mas para cada caso existem diferentes variáveis envolvidas, que às vezes são de difícil identificação. Em linhas gerais, pode-se dizer que o custo do acidente é o somatório dos custos diretos e indiretos envolvidos. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 43 C = CD + CI CD = Todas as despesas ligadas diretamente ao atendimento do acidentado, que não são de responsabilidade do INSS, despesas médicas, odontológicas, hospitalares, farmacêuticas – incluída cirurgia reparadora. CI = Não envolve perda imediata de dinheiro. Relaciona-se com o ambiente que envolve o acidentado e com as consequências do acidente. Vamos conhecer alguns dos fatores utilizados para a base de cálculo do acidente, que no final acabam impactando a folha de pagamento da empresa e revelando o seu custo real. Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) O Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) surgiu em 2007 com o Decreto nº 6.042 e alterou o modo de definir o benefício da previdência para os casos de afastamento do trabalho acima de 15 dias. Ele define a relação causal entre os ramos de atividades econômicas e suas respectivas doenças. Com a adoção dessa metodologia, é a empresa que deverá provar que as doenças e os acidentes de trabalho não foram causados pela atividade desenvolvida pelo trabalhador, ou seja, o ônus da prova passa a ser do empregador e não mais do empregado (SESI, 2011). Fator Acidentário de Prevenção (FAP) O Fator Acidentário de Prevenção (FAP) entrou em vigor em 2010 e implica a redução ou o aumento da alíquota de redução da contribuição da empresa para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). O FAP é o mecanismo que permite à Receita Federal do Brasil aumentar ou diminuir a alíquota de 1% (risco leve), 2% (risco médio) ou 3% (risco grave) que cada empresa recolhe para o financiamento dos benefícios por incapacidade (grau de incidência de incapacidade para o trabalho decorrente dos riscos ambientais). Essas alíquotas poderão ser reduzidas em até 50% ou aumentadas em até 100%, conforme a quantidade, a gravidade e o custo das ocorrências acidentárias em cada empresa em relação ao seu segmento econômico (SESI, 2011). Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 44 Seguro de acidente de trabalho (SAT) A legislação brasileira prevê o pagamento do Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), calculado pela multiplicação de sua folha de pagamento por uma alíquota deRiscos Ambientais do Trabalho (RAT) de 1%, 2% e 3%, definidas para cada uma das atividades listadas na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), acrescido pela multiplicação do Fator Acidentário de Prevenção (FAP). Cálculo do índice de custo (SESI, 2011). SAT = folha de pagamento x (alíquota RAT x FAT) Com a utilização do NTEP e do FAT, o número de acidentes previdenciários passou a afetar diretamente o SAT, ou seja, o número de acidentes afeta diretamente uma porcentagem da folha de pagamento de uma empresa. Com essa combinação de fatores, os custos dos acidentes de trabalho e o afastamento previdenciário se tornaram muito mais nítidos. Para nos ajudar a calcular um acidente, a ELIS vai nos trazer uma situação ocorrida no canteiro de obra. Para não perder horas trabalhadas, o gestor da obra autorizou que os trabalhadores realizassem as atividades com concreto sem o EPI adequado. Com isso, no final da atividade ele teve um saldo de oito acidentes de trabalho, sendo três deles com afastamento previdenciário. Calculando os fatores, o valor de cada acidente foi de R$ 13.023,00 e o dos afastamentos foi de R$ 113.714,00. O custo total do acidente foi de 3 x (R$ 113.714,00) + 5 x (R$ 13.023,00) = R$ 406.257,00. O grande desafio para as empresas é investir na redução da incidência de acidentes e doenças ocupacionais, identificando os riscos que possam estar relacionados ao FAP/NTEP e implementando medidas de correção que diminuam os riscos de acidentes e doenças do trabalho, pois são essas ações que contribuem para a redução de custos com acidentes. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 45 Responsabilidade do acidente Um dito popular diz que quando ocorre uma fatalidade, notória ou não, “a casa caiu”. Evidentemente o “dono da casa”, além de arcar com os custos terá que justificar as causas. Mas a casa pode cair porque o arquiteto não planejou bem ou o pedreiro não seguiu o planejado ou ainda porque o fiscal da obra não identificou o erro e permitiu a construção. Sendo assim, vários podem ser os responsáveis, de forma conjunta ou isolada, pela fatalidade. Na Segurança do Trabalho não é diferente, a empresa pode usar outro dito popular que diz “todos somos responsáveis pela segurança”, sendo que todos são responsáveis também pelos acidentes. Vamos ver agora alguns dos responsáveis e suas responsabilidades (GERMANO, 2019). Quanto ao governo, podemos destacar o trabalho das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT). Suas atividades de fiscalização feitas por profissionais especializados nas áreas de saúde e segurança, as quais estão respaldadas e amparadas em legislação específica (CLT), podendo aplicar sanções que vão desde o embargo ou a interdição até expedição de termos de notificação e multas com o respaldo legal que determina a Norma Regulamentadora NR3 (BRASIL, 2016). No entanto, devido ao Brasil ser considerado um país de extensão continental, o efetivo da DRT ainda é incipiente para cobrir de forma eficaz todas as empresas nos diversos municípios do Brasil. Ainda por parte do governo temos o Ministério da Saúde (MS), que por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e nos estados com as Vigilâncias Sanitárias também possui papel preponderante na fiscalização da segurança sanitária, saúde e segurança dos trabalhadores dos estabelecimentos cujos produtos e serviços possam oferecer algum tipo de risco, tanto para os consumidores quanto para os profissionais responsáveis por esses produtos. A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) é um sistema de informações sobre acidentes do trabalho organizada com o propósito de implementar ações assistenciais, de vigilância, prevenção e de promoção da saúde, na perspectiva da ST. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 46 ACESSE: Saiba como montar um Renast nas empresas. Clique aqui. Em relação à responsabilidade que envolve os custos do acidente, compete à Previdência Social arcar com os custos referentes aos benefícios previdenciários decorrentes dos acidentes do trabalho. Os trabalhadores segurados que possuem carteira assinada recebem diretamente do empregador – inclusive doméstico – os valores referentes aos primeiros 15 dias. À Previdência Social cabe o pagamento a partir do 16º dia de afastamento. Após esse período, o ônus desses acidentes passa para os contribuintes, por meio da Previdência Social, que utiliza os recursos provenientes das contribuições dos trabalhadores e das empresas. Toda indenização ou todo benefício previdenciário decorrente de exposição a agentes agressivos e redução da capacidade laborativa somente é paga pela Previdência Social depois de comprovada a incapacidade reduzida em avaliação pericial. Os sindicatos apresentam importantes responsabilidades diante da possibilidade de ocorrência dos acidentes de trabalho, como exigir correção dos riscos nas empresas; fiscalizar a plena efetividade da implantação de normas e acordos que visem melhorias no campo da prevenção, estimulando ainda a criação de comissões de segurança e saúde nos locais de trabalho e em suas dependências; exigir e participar de programas oficiais e alternativos de fiscalização em segurança e medicina do trabalho; manter programas educacionais, disseminando a ideia de que, para os trabalhadores, melhor do que receber uma adicional de insalubridade de valor minúsculo é executar suas atividades em um ambiente seguro e saudável. Na esfera criminal, é o Ministério Público Estadual (MPE) responsável pelas ações em razão de ser ele detentor do monopólio da ação penal pública, o que ocorre na possibilidade de o empregador vir a ser responsabilizado criminalmente pela ocorrência de acidente do trabalho. Na empresa, a CIPA é uma comissão composta por representantes do empregador e dos empregados, e é um instrumento que os Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho https://renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/manual-gestao-gerenciamento-rede-nacional-atencao-integral-saude-trabalhador 47 trabalhadores dispõem para tratar da prevenção de acidentes do trabalho, das condições do ambiente do trabalho e de todos os aspectos que afetam sua saúde e segurança. A CIPA é regulamentada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) nos artigos 162 a 165 e pela Norma Regulamentadora 5 (NR-5), contida na Portaria nº 3.214 de 8 de junho de 1978, baixada pelo Ministério do Trabalho. As atribuições básicas de uma CIPA são: • Investigar e analisar os acidentes ocorridos na empresa. • Sugerir as medidas de prevenção de acidentes julgadas necessárias por iniciativa própria ou sugestão de outros empregados e encaminhá-las ao presidente e ao departamento de segurança da empresa. Essas medidas quando bem aplicadas evitam os acidentes e é a maneira mais eficaz de reduzir os custos para os responsáveis por eles. RESUMINDO: Viram como os acidentes de trabalho podem ser um grande transtorno para o governo, os empresários e os trabalhadores? Caso tenha ficado alguma dúvida vamos fazer uma breve revisão. Os trabalhadores acidentados ficam expostos à redução de sua renda familiar, limitações físicas, emocionais e sociais e algumas vezes desenvolvem a insegurança, que pode se tornar um fator de causa de acidentes. Para a empresa e para o governo, os custos podem ser percebidos nas tarifações tributárias, como o NEST, FAT e SAT, que acabam refletindo no valor final da produção. O governo, por sua vez, tem os ônus de custear os auxílios-acidentes sobrecarregando o sistema previdenciário. E a culpa é de quem? Bom, não podemos estabelecer um culpado, por isso cada um precisa fazer a sua parte para evitar que os custos com os acidentes de trabalho sobrecarreguem ainda mais o governo, a empresa, os trabalhadores e a sociedade, garantindo que os trabalhadores tenham seu direito à qualidade de vida garantido dentro e fora do ambiente de trabalho.
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