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Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal [Ano] Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 2 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal MATERIAL TEÓRICO Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Heloísa Orsini de Souza Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcante Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 3 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal 1. Introdução ao Estudo da Hereditariedade 1.1 Genes, Genótipo e Fenótipo O estudo da hereditariedade, ou seja, de como as características genéticas são transmitidas dos pais para os filhos, é de fundamental importância para o Melhoramento Animal. Os mecanismos genéticos básicos que regem a hereditariedade, assim como a importância dos genes neste sentido, já foram discutidos na Unidade I. Conforme descrito anteriormente, os genes são segmentos da molécula de DNA que comandam a produção de proteínas específicas e, com isso, conseguem determinar a expressão de características orgânicas. Os genes estão situados em regiões específicas dos cromossomos, chamadas conjuntamente de loci. Cada gene situa-se em um loco cromossômico diferente. De forma geral, os genes são responsáveis pela determinação das características orgânicas dos animais, mas não o fazem sempre da mesma maneira. Se usarmos como exemplo a característica clássica de cor de ervilhas, estudada por Gregor Mendel em 1865, temos que o gene que comanda tal característica (cor das ervilhas) pode determinar que as ervilhas sejam verdes ou amarelas. Assim, a expressão de um mesmo gene pode dar- se de formas diferentes. Sabemos hoje que o fenômeno descrito ocorre porque muitos genes apresentam versões alternativas de si mesmos, chamadas de alelos. Os alelos podem ser entendidos como formas diferentes de apresentação de um mesmo gene e comandam a mesma característica, mas de maneiras diferentes. No exemplo citado do gene que comanda a cor das ervilhas, um determinado alelo manda na expressão da cor amarela e outro (versão alternativa deste) manda na expressão da cor verde. Apesar de o exemplo citado referir-se a um gene que apresenta duas versões alternativas de si, é importante ressaltar que muitos genes podem se mostrar sob diferentes e numerosas versões (processo conhecido como alelismo múltiplo). Um exemplo disto é o que ocorre com os genes que determinam alguns sistemas de grupos sanguíneos dos animais, como é o caso do sistema B dos bovinos, que apresenta mais de 1000 tipos de alelos. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 4 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Estruturalmente, a diferença encontrada entre os alelos de um mesmo gene é devida à alteração de um ou de alguns pares de bases nitrogenadas presentes na molécula de DNA. Tais alterações são causadas por mutações genéticas decorrentes da evolução das espécies. Em células diploides (que apresentam o número básico de cromossomos duplicados – 2n), os alelos estão contidos nos dois cromossomos do par de homólogos, ocupando o mesmo loco (Figura 1). Figura 1 Representação esquemática mostrando um par de cromossomos homólogos e dois alelos de um gene ocupando o mesmo loco cromossômico. Os pares de alelos de cada gene constituem a identidade genética de um indivíduo, ou seja, o seu genótipo. As características orgânicas apresentadas pelos indivíduos dependem do genótipo que possui. Os alelos que formam um genótipo podem ser iguais ou diferentes entre si. Quando um determinado alelo se encontrar em duas cópias idênticas no genótipo, o organismo é dito homozigoto para a característica determinada. Quando os alelos que constituírem um genótipo forem diferentes entre si, o organismo que os contém é dito heterozigoto para uma dada característica. Assim, considerando, por exemplo, a característica de cor das ervilhas, sabe-se que um dos alelos, chamado V, promove a coloração amarela das sementes, enquanto a sua outra versão, o alelo v, promove a cor verde. Quando a planta apresentar em suas células somáticas os alelos VV ou vv formando o genótipo, são ditas homozigotas. No entanto, quando as plantas apresentarem em seu genótipo os alelos Vv, são ditas heterozigotas. Ao conjunto de características observáveis nos organismos vivos, tais como cor, forma, grupo sanguíneo apresentado, etc., dá-se o nome de fenótipo. O fenótipo corresponde à expressão visível da ação do genótipo, Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 5 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal mas é fortemente influenciado pelos eventos do ambiente. Desta forma, o fenótipo corresponde a uma somatória das ações genéticas e ambientais. Um exemplo disto pode ser dado pela produção leiteira em bovinos. Alguns genes estão envolvidos no controle da produtividade do leite nesta espécie animal; entretanto, se uma vaca geneticamente superior para essa característica é submetida a condições precárias de manejo e alimentação, a produtividade diminui. Neste exemplo, nota-se a forte influência fenotípica que o ambiente exerce sobre as condições genéticas. 1.2 Ação Gênica na Determinação dos Fenótipos Excluindo-se a ação ambiental e pensando-se apenas nos genes, é importante ressaltar que o resultado fenotípico depende de uma série de interações que ocorrem não apenas entre os alelos de um mesmo loco (interações alélicas), mas também entre genes de loci cromossômicos diferentes (interações gênicas). 1.2.1 Interações Alélicas Os alelos de um mesmo gene estabelecem entre si algumas relações, como, por exemplo, a relação de dominância e recessividade e a relação de codominância. Na relação de dominância e recessividade, um dos alelos o gene, considerado como o dominante (A), sobrepuja a ação de sua variável recessiva (a). Desta forma, quando em conjunto formando o genótipo (Aa), a característica fenotípica determinada pelo dominante é a que se expressa. A característica fenotípica determinada pelo alelo recessivo só é expressa quando este se encontrar em dose dupla, formando o genótipo de um indivíduo, ou seja, quando o indivíduo for aa. No exemplo das ervilhas, tem-se que o alelo V determina a cor amarela e é dominante sobre o alelo v, que determina a cor verde. Quando, no genótipo das células somáticas de uma planta, estão presentes os alelos VV ou Vv, a ervilha expressa a cor amarela Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 6 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal (determinada pelo alelo dominante V). A cor verde só é expressa quando os alelos recessivos v estiverem contidos em dose dupla no genótipo, ou seja, quando a planta for vv. Na relação de codominância, entre os alelos de um gene não existe quem domine, isto é, seja sobrepujado. O que ocorre é a expressão fenotípica conjunta dos dois alelos que formam o genótipo. Um exemplo é o padrão de cor de pelagem de algumas raças bovinas, como a do gado Shorthorn. Nesses animais, a pelagem pode se apresentar sob três padrões de coloração distintos: vermelho, branco ou ruão (vermelho e branco).Neste caso, um dos alelos do mesmo gene, chamado CR promove a coloração vermelha enquanto outra variação, o alelo CW, promove a coloração branca dos animais. Quando o genótipo é formado por dois alelos do tipo CR, o animal é vermelho. Quando o genótipo é formado por dois alelos do tipo CW, o animal é branco. No entanto, quando o genótipo é formado por um alelo de cada tipo (CRCW), o animal é branco e vemelho (ruão). 1.2.2 Interações Gênicas Em relação às interações gênicas, diversas situações podem ocorrer. Alguns genes podem estimular ou bloquear a expressão de outros não homólogos. Um exemplo bastante conhecido neste sentido é a epistasia. Nos casos de epistasia, um alelo de algum gene (que pode ser dominante ou recessivo) bloqueia a expressão de outro não homólogo. Um exemplo bastante conhecido é a cor da pelagem de cães labradores. Neste caso, um alelo recessivo do loco E, chamado de e, quando presente em dose dupla no genótipo do animal (ee) bloqueia a expressão dos alelos do loco B que determinam a cor da pelagem preta (B) ou marrom (b). Desta forma, animais que apresentam ee no seu genótipo, independentemente de possuírem B ou b também, não conseguem expressar a cor por eles determinada e acabam tornando-se amarelos. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 7 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Além da epistasia, uma outra situação na qual se nota a interação gênica é no efeito aditivo, promovido por alguns genes. Neste caso, mais de um par de genes determina a mesma característica. O efeito final é uma somatória da ação desses genes. A cor da pele em humanos é um dos muitos exemplos de efeito aditivo. O efeito aditivo está muito relacionado ao conceito de herança quantitativa e é extremamente importante para quem trabalha com Melhoramento Animal, visto que é um processo observado também nas características de produção de ovos e leite, na capacidade de conversão alimentar, etc. Os princípios básicos da herança quantitativa serão discutidos mais adiante nesta Unidade. 1.3 Padrões de Herança Genética Conforme descrito anteriormente, o primeiro passo para se trabalhar com o Melhoramento Animal é conhecer como as características genéticas (genes) podem ser passadas dos pais para os filhos. As bases moleculares de tais processos já foram descritas na Unidade I, na qual vimos também que o veículo que transporta um grupo de genes dos pais para os organismos em formação (zigoto) são os gametas femininos (óvulos) e masculinos (espermatozoides), por meio do processo de fertilização. É possível perceber que cada indivíduo é composto por um conjunto de informações provenientes de seus progenitores (50% vêm da mãe e 50% vêm do pai). A transmissão das características hereditárias dos pais para os filhos obedece a uma das três condições conhecidas como padrões de herança: a herança mendeliana ou autossômica, a herança sexual e a herança mitocondrial. 1.3.1 Herança mendeliana ou autossômica A herança mendeliana ou autossômica se relaciona à transmissão das informações genéticas contidas em todos os cromossomos autossômicos dos indivíduos, ou seja, em todos os cromossomos não sexuais. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 8 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Os preceitos básicos deste tipo de herança foram estabelecidos por Mendel na Lei da Segregação Independente dos Fatores (1ª. Lei de Mendel) e perduram até os dias de hoje. A 1ª. Lei de Mendel define que cada característica genética é determinada por dois fatores (par de genes), um proveniente do pai e outro da mãe, que se encontram em conjunto, formando o genótipo dos indivíduos. Na reprodução, por meio da formação dos gametas, tais genes se separam (segregam), de modo que cada gameta formado recebe apenas um dos alelos do par. A separação dos alelos é feita de forma independente. No processo de fertilização, os alelos de um mesmo gene voltam a se parear na constituição do zigoto e passam a comandar as informações genéticas desse novo indivíduo em conjunto (interação alélica). A combinação dos genes presentes nos gametas para formar o zigoto é aleatória. É importante ressaltar que a via envolvida nesta condição é a meiose, por meio da separação dos cromossomos homólogos, contendo os alelos de um mesmo gene, conforme descrito na Unidade I. Uma forma simples de demonstrar a segregação independente dos genes e a união aleatória dos mesmos na formação do zigoto é o quadrado de Punnett, representado na Figura 2. O quadrado ilustra de forma simples a segregação dos alelos constituintes de um genótipo (em azul) e os genótipos esperados dos descendentes de cada cruzamento, determinados pelas diferentes combinações que podem ser realizadas entre eles (em vermelho). A Figura 2 exemplifica um cruzamento realizado entre dois indivíduos heterozigotos (Aa) para uma característica hipotética. Repare que os gametas formados tanto pelo macho quanto pela fêmea contêm apenas um dos alelos do par de homólogos: ou A ou a (50% dos gametas de cada um contêm o alelo A e os outros 50%, o alelo a). Quando se encontram na formação do zigoto, os alelos podem estabelecer diversas combinações: AA, Aa e aa. O quadrado mostra as proporções esperadas de cada genótipo dos descendentes. É possível notar que dentre as quatro opções possíveis (que representam 100% Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 9 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal das possibilidades genotípicas), existe ¼ de chance de se formarem indivíduos de genótipo aa (25% de chances), ¼ de chance de se formarem indivíduos de genótipo AA (25% de chances) e ½ chance de se formarem indivíduos de genótipo Aa (50% de chances). Figura 2 Representação do cruzamento entre dois indivíduos heterozigotos (Aa) por meio do Quadrado de Punnett. Supondo que a característica fenotípica determinada pelo alelo dominante A fosse a presença de melanina na pelagem de coelhos e que a característica fenotípica determinada pelo alelo recessivo a fosse a ausência de melanina (promovendo uma situação conhecida como albinismo), se esperaria encontrar no cruzamento descrito acima: 75% de filhotes não albinos (AA e Aa) e 25% de filhotes albinos (aa). O valor de 75% de não albinos é dado pela soma das probabilidades de ocorrerem filhotes AA (25%) e Aa (50%). 1.3.2 Herança sexual A herança sexual possui relação com os cromossomos sexuais (par de cromossomos não autossômicos). De maneira geral, os sistemas envolvidos na determinação cromossômica do sexo variam em diferentes espécies animais. Por exemplo, em mamíferos, o sexo dos indivíduos é promovido pelo sistema XX/XY, que determina que fêmeas apresentem constituição cromossômica XX (homogamética) e machos, XY (heterogamética). Nas aves, peixes, anfíbios e em alguns répteis, o sistema prevalente é o ZZ/ZW, que determina que indivíduos ZZ (homogaméticos) são do sexo masculino e indivíduos ZW (heterogaméticos), do sexo feminino. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 10 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Considerando-se todos os pares de cromossomos presentes nas células somáticas dos animais, somente um par corresponde aos cromossomos sexuais. Desta forma, em bovinos, que possuem 60 cromossomos, por exemplo, 58 são autossomos e dois são sexuais, ou seja, 29 paressão de cromossomos autossômicos e um par é de cromossomos sexuais. Em linhas gerais, os cromossomos sexuais encontram-se envolvidos principalmente com as características relacionadas ao sexo, mas determinam também inúmeras outras funções orgânicas gerais, da mesma forma que os autossomos controlam tanto características somáticas quanto sexuais também. Desta forma, a diferença fundamental apresentada pela herança sexual em comparação com a autossômica é que enquanto na autossômica não existem diferenças nas proporções fenotípicas apresentadas pelos indivíduos (ex: não existem mais cães de pêlos pretos do sexo masculino do que do sexo feminino), na herança sexual essa diferença pode existir. Um exemplo clássico é a hemofilia dos humanos, sabidamente mais prevalente em indivíduos do sexo masculino do que do sexo feminino. A diferença de expressão fenotípica entre os sexos causada pela herança sexual ocorre principalmente por genes recessivos ligados ao cromossomo X ou ao cromossomo Z. Tomando-se como exemplo os mamíferos, de sexo cromossômico XX/XY, observa-se que para um macho apresentar a característica basta que tenha o alelo recessivo ligado ao seu cromossomo X. Uma vez que possui apenas um cromossomo X, a presença do alelo recessivo ali (XaY) já é suficiente para determinar a característica fenotípica proporcionada por ele. Nas fêmeas, o alelo recessivo deve estar presente em dose dupla, em cada cromossomo X, para determinar sua característica fenotípica (XaXa). Se a fêmea for heterozigota, o alelo dominante será capaz de suprimir a expressão do alelo recessivo. Desta forma, para que a fêmea apresente tal característica, ela deve ser homozigota recessiva (XaXa), o que é naturalmente mais difícil de acontecer. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 11 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal 1.3.3 Herança mitocondrial A herança mitocondrial está associada ao DNA mitocondrial (DNAmt) presente nas células eucarióticas dos animais. O DNAmt é uma molécula pequena e circular, presente em várias cópias dentro das mitocôndrias, que possui replicação autônoma. É responsável basicamente pela produção das proteínas que participam da respiração celular. Nos animais, a herança mitocondrial é, de maneira geral, um padrão transmitido pelas mitocôndrias contidas no óvulo, ou seja, a herança é transmitida das fêmeas para todos os seus descendentes, independentemente do sexo. 2. Herança Quantitativa Com base nas informações descritas nas linhas acima, foi possível perceber que algumas características, tais como a cor das ervilhas, o albinismo, a hemofilia, etc., obedeciam a uma regra do tipo “ou isso ou aquilo”. Por exemplo, em relação à cor das ervilhas, tínhamos que estas poderiam ser verdes ou amarelas; os animais poderiam apresentar melanina ou não apresentar; os humanos poderiam ter hemofilia ou não ter, e assim por diante. Nestas situações, e em inúmeras outras condições apresentadas pelos organismos, percebemos que existe pouca variação fenotípica entre os indivíduos: ou são de um jeito ou de outro. As características apresentadas são distintas e facilmente separáveis umas das outras; são extremas. Características genéticas deste tipo são denominadas qualitativas. No entanto, quando consideramos organismos tão complexos como o dos animais superiores, é possível perceber que algumas características não se enquadram nesta condição. A produção de leite, por exemplo, pode variar muito em quantidade de um animal para outro. Não é do tipo “sim ou não”, mas depende de quanto cada animal consegue produzir. Da mesma forma, a produção de ovos, a conversão alimentar, etc., são fenotipicamente muito variáveis entre os indivíduos da mesma espécie. No caso dessas características, e da maioria das características que são de interesse do Melhoramento Animal (porque possuem uma importância econômica), observa-se que entre os extremos, Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 12 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal existe uma série de fenótipos intermediários; existe uma gradação. Tais características (mensuráveis) são estudadas dentro de uma área chamada de genética quantitativa, que se vale de técnicas da estatística para fazer predições acerca das proporções fenotípicas esperadas em uma população. Os estudos genéticos são baseados em estimativas de médias de produção, variâncias, correlações e outros cálculos que serão discutidos adiante. No entanto, antes disso, é importante comentar alguns aspectos dessa área de conhecimento. A genética quantitativa pode ser definida como um tipo especial de interação gênica, também chamado de herança aditiva ou de herança poligênica. Estuda características de variação contínua, tais como conformação física, produção de leite e de ovos e assim por diante. Nestas condições, conforme descrito anteriormente, entre fenótipos extremos existe uma série de apresentações fenotípicas intermediárias – os caracteres variam de forma suave e contínua. Um exemplo clássico é a estatura dos seres humanos. Supondo que essa característica fenotípica varie em uma população hipotética entre 1,40m e 1,90m, podemos encontrar indivíduos com 1,41m, 1,45m, 1,53m, 1,78m e assim por diante, até chegar em 1,90m, demonstrando que a variação apresentada é grande e gradual. De maneira geral, quem determina a herança quantitativa é a interação apresentada entre vários genes e os eventos ambientais. O efeito aditivo, descrito anteriormente, possui muita relação com esse processo, assim como a epistasia. Da mesma forma, o ambiente influencia na produtividade, aumentando-a ou diminuindo-a. A compreensão dos mecanismos envolvidos com a herança quantitativa é importante no Melhoramento Animal visto que o melhorista visa sempre a aperfeiçoar a qualidade e a quantidade da sua produção. Neste caso, conhecer como uma determinada característica fenotípica se comporta em uma população animal é essencial para auxiliar na seleção do melhor reprodutor. O objetivo é melhorar as características genéticas não apenas de um indivíduo, mas de uma população inteira. Os princípios básicos da herança quantitativa utilizados no Melhoramento Animal serão descritos a seguir. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 13 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal 2.1 Variância Conforme vimos, algumas características genéticas são bastante variáveis entre os indivíduos de uma população. A variação destas características pode ser representada graficamente em uma curva, denominada Curva de Gauss. Matematicamente, a Curva de Gauss corresponde a um gráfico de distribuição normal de um conjunto de dados. Em estudos genéticos, é utilizada para representar a distribuição normal de um determinado fenótipo em uma dada população. A Figura 3 traz o exemplo da distribuição normal da produção diária de leite (em Kg) em uma população bovina. Podemos observar que a produção leiteira varia de 0 a 10 Kg por dia nesta população, sendo a média de produção de 5 Kg. Podemos observar também que a maioria dos fenótipos (fenótipos intermediários) se encontra próxima da média de produção, enquanto poucos indivíduos apresentam fenótipos extremos (no exemplo: 0 e 10 Kg). Define-se que os indivíduos que se encontram fora da média de produção correspondem à dispersão da amostragem, ou seja, ao quanto uma característica variou em relação à média. Alguns fenótipos dispersam-se pouco (apresentam valores mais próximosaos da média) e outros muito, como no caso dos extremos. Figura 3: Gráfico da distribuição normal da produção leiteira em uma população de bovinos – Curva de Gauss. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 14 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal A dispersão dos fenótipos em torno da média pode ser mensurada, sendo a medida da dispersão chamada de variância. Desta forma, podemos definir a variância como sendo a área de dispersão de uma determinada característica ao redor de uma classe central (média). Conforme percebido, o conceito de média é de extrema importância no estudo da variância, assim como o conceito de desvio-padrão (S). O desvio- padrão é um dado importante porque indica o quanto os fenótipos observados se distanciaram para mais ou para menos da média. Por meio desta condição, podemos definir se uma população é homogênea (S próximo da média) ou não (S distante da média da população). Para calcular a variância (V), usamos a fórmula matemática indicada abaixo. É importante notar que como se trata da área de dispersão de fenótipos, o cálculo considera as regras da geometria e, desta forma, as medidas são dadas em unidades elevadas ao quadrado (cm2, m2, etc.). O desvio-padrão (S), citado anteriormente, pode ser obtido a partir da raiz quadrada da variância, conforme representado abaixo, visto que a variância corresponde à medida do desvio-padrão elevada ao quadrado (V = S2). 1 )( 2 _ n xx S 1 )( 2 _ n xx V V = variância x = valor da amostra _ x = valor da média n = nº total de indivíduos = somatória Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 15 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Um exemplo prático do cálculo da variância e do desvio-padrão em uma população pode ser dado pela produção leiteira (Kg de leite/animal/dia) em uma população bovina hipotética. Para tal, consideraremos que o número total de indivíduos desta população é 5 (n = 5). A tabela abaixo (Tabela 1) foi feita a partir de informações obtidas dos animais desta população hipotética. A coluna 1 identifica cada animal. A coluna 2 mostra a produção diária de leite (em Kg) realizada por cada um deles. A coluna 3 mostra o quanto cada animal varia em relação à média de produção. Por fim, a coluna 4 mostra as medidas da coluna 3 elevadas ao quadrado. Tabela 1 Demonstração da produção leiteira (em Kg) de uma população hipotética de bovinos Podemos concluir, por meio da análise da produção de leite desta população, que a média de produção ( _ x ) corresponde à somatória da produção leiteira de cada animal dividida pelo número total de animais do rebanho: 7 5 108476 Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 16 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Com base nesta média, é possível calcular a variação individual de cada animal, subtraindo-se o valor da média do valor de produção individual (3ª. coluna, em rosa na tabela). Por fim, elevando-se esse valor ao quadrado, temos os valores apresentados na 4ª. coluna da tabela (em amarelo). Somando-se os resultados da 4ª. coluna, chegamos ao valor de 20, uma medida que pode ser utilizada na fórmula da variância para calculá-la. Desta maneira, conforme demonstrado abaixo, temos que a variância é de 5 Kg2: O desvio padrão da característica observada, por sua vez, é o seguinte: Neste momento, você pode estar se perguntando acerca da importância dos conhecimentos sobre variância e desvio-padrão no Melhoramento Animal. Tais princípios são muito relacionados a uma técnica importante de melhoramento que é a seleção animal, a ser abordada na Unidade III. Com base na distribuição normal dos fenótipos em uma população, é possível que se identifiquem indivíduos superiores para alguma característica e que tais indivíduos sejam selecionados como progenitores da geração seguinte, na intenção de melhorar alguma condição genética na população. Obviamente, este processo não é tão simples, visto que depende do quanto a característica fenotípica está associada a uma condição genética e não ambiental. Devemos lembrar que o fenótipo é uma associação entre as ações genéticas (genótipo) e o ambiente, e que o ambiente interfere muito (tanto positiva quanto negativamente) no fenótipo apresentado pelos indivíduos. A variância também considera essas questões e apresenta dois componentes: um genético e outro ambiental, podendo ser definida da seguinte forma: 5 15 20 V 23,25 S Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 17 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Saber disto é importante porque quando comparamos indivíduos de uma população, na intenção de selecionar um que seja superior em alguma característica, o fazemos por meio de seleção fenotípica e não genética. Garantir que o animal tenha um genótipo superior e não um fenótipo superior por causa de ações ambientais é importante, visto que a seleção genética se preocupa com a transmissão da superioridade para a progênie. Tal estimativa é função de outro princípio da herança quantitativa, a herdabilidade (a ser abordada a seguir). 2.2. Herdabilidade A herdabilidade ou heritabilidade é um princípio importante da genética quantitativa que ajuda a definir se a variância observada em uma dada característica é, de fato, influenciada por genes. Isto é importante porque quando se realiza seleção de animais, a preocupação é com a sua superioridade genética e não devida ao ambiente. Por essa razão, a herdabilidade permite antever a possibilidade de sucesso com a seleção. Reflete a proporção da variação fenotípica que pode ser herdada geneticamente. Da mesma forma que a variância, a herdabilidade (H2) também pode ser medida. O grau de herdabilidade é definido como a parte da variância total que é devida à variância genética, conforme indica a fórmula matemática a seguir: VEVHVT VT = Variância Total VH = Variância genética VE = Variância ambiental H 2 = Herdabilidade VT = Variância Total VH = Variância genética T H V V H ² Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 18 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal A herdabilidade é uma medida que varia entre 0 e 1, ou seja, entre 0 e 100%. Quando é igual a 0 (H² = 0), assume-se que a variância da característica observada não tem origem genética, somente ambiental. Quando é igual a 1 (H² = 1), assume-se que a variância depende somente do componente genético. Quando é igual a 0,5 (H² = 0,5), metade da variabilidade (50%) depende de condições genéticas e a outra metade (50%) de condições ambientais. Percebe-se assim, que quanto maior a herdabilidade, mais associada ao genótipo é. Uma herdabilidade de 0,75, por exemplo, indica que 75% das características se devem a variações do genótipo e os 25% restantes, a variações do ambiente. Para o Melhoramento Animal, características de maior herdabilidade são mais interessantes. Uma vez que os animais são selecionados pelo seu fenótipo, a alta herdabilidade indica maior correlação do fenótipo com o genótipo. Neste caso, o valor fenotípico do animal irá constituir uma boa indicação genotípica também.Definem-se alguns parâmetros para definir a herdabilidade. Desta forma: Alguns valores de herdabilidade são bastante conhecidos para algumas características animais. Por exemplo, a produção de leite, de ovos e a fertilidade dos animais possuem valores de H² geralmente baixos, o que significa dizer que apresentam alta influência do ambiente. Por outro lado, o peso dos ovos de galinhas possui herdabilidade alta, ou seja, pouca influência ambiental. H² é considerada 4,02 H Alta, se Média, se Baixa, se se 5,02 EH se 4,02,0 2 H 2,02 H Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 19 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal No Melhoramento Animal, a herdabilidade é um conceito amplamente utilizado porque, por meio dela, pode-se decidir qual método usar na seleção animal. Por exemplo, quando a herdabilidade é alta, escolhem-se os reprodutores pelo seu valor fenotípico, pois se espera observar aquelas mesmas características nos filhos, uma vez que o ambiente as altera pouco. Por outro lado, quando a herdabilidade de uma característica é baixa, os reprodutores são escolhidos pela performance dos seus descendentes (progênie). É importante observar que, neste caso, os filhos são utilizados para analisar se a característica dos pais foi transmitida a eles. Conhecendo-se a herdabilidade, dois outros cálculos importantes para a seleção genética são possíveis: o cálculo do diferencial de seleção e o cálculo do ganho genético. 2.2.1 Diferencial de Seleção O diferencial de seleção (DS) é uma medida que indica o quanto alguns animais de uma população são superiores à média. O DS é dado pela subtração da média da população da média apresentada pelos indivíduos selecionados. Desta forma, usando-se os dados da Figura 2 como exemplo (nos quais a média de produção diária de leite é de 5 Kg), se fossem escolhidos animais com produção média de 7 Kg de leite por dia como pais da geração seguinte, o DS seria: 7 – 5 = 2 Kg de leite. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 20 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal 2.2.2 Ganho genético O conceito de ganho genético (Gg) parte das informações do DS e indica o quanto a população gerada pela escolha de indivíduos superiores como pais “ganharia” geneticamente. A fórmula matemática para cálculo do ganho genético é a seguinte: s g D G H 2 No exemplo da produção de leite citado acima, supondo que a herdabilidade da característica seja de 0,3 e o DS de 2 Kg, o ganho genético seria de 0,6 Kg de leite, conforme indica a fórmula: Isto significa dizer que se fossem escolhidos dessa população, de média de produção leiteira diária de 5 Kg, animais que produzissem 7Kg de leite por dia como progenitores da geração seguinte, a média de produção da população aumentaria 0,6Kg, ou seja, seria de 5,6 Kg. Conhecendo esses princípios do Melhoramento Animal, podemos responder a questões do tipo: como aumentar em 18% o peso ao nascimento de uma população de bovinos, sabendo que a média desta característica é de 36,5 Kg e que a herdabilidade é de 0,3? O primeiro passo é calcular em quanto (em Kg) o peso deve ser aumentado na população filha, ou seja, de quanto é o ganho genético (Gg): 6,023,0 2 3,0 xGg Gg kgxGg 5,65,36 100 18 Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 21 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal A seguir, por meio da fórmula do Gg, podemos calcular o DS: Depois disso, é possível calcular o peso ao nascimento (em Kg) dos indivíduos que serão selecionados da população para aumentar o peso da geração filial em 18%, conforme segue: 36,5+21,66 = 58,16kg. Desta forma, para aumentar o peso ao nascimento desta população em 18%, deve-se selecionar animais que tenham, pelo menos, 58,16 Kg. Uma questão importante que surge quando se trabalha com a seleção de indivíduos baseada na curva de Gauss é por que não selecionar animais que estejam no extremo de produção. No exemplo citado, por que selecionar como progenitores animais que produzem 7 Kg de leite e não 10 Kg? A resposta está relacionada à herdabilidade. Uma vez que a herdabilidade da produção de leite não é de 100% (pelo contrário, é baixa), o extremo de produção está provavelmente associado a uma interferência ambiental e não a características genotípicas. Fazendo esse tipo de seleção, se correria o risco de não transmitir o fenótipo superior à prole. 66,21 3,0 5,6 2 2 DS H Gg DS DS Gg H Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 22 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Anotações _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br 23 Unidade: Colocar o nome da unidade aqui Unidade: Os genes e a herança quantitativa como bases para o estudo do melhoramento animal Referências MATIOLI, S. R. Introdução ao Estudo dos QTLS (Locos de Caracteres Quantitativos). Disponível em: http://www.ib.usp.br/evolucao/QTL/conceitos.html . Acesso em 20 de julho de 2011. GRIFFITHS, A. J. F. Introducao à Genetica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. NICHOLAS, F. W. Veterinary Genetics. New York: Oxford University Press, 1987. 580p. OTTO, P. G. Genética Básica para Veterinária. 4. ed. São Paulo: Roca, 2006. 284p. RAMALHO, M. A. P.; SANTOS, J. B.; PINTO, C. A. B. P. Genética na Agropecuária. 3. ed. Lavras: UFLA, 2004. 472p. SILVA, C.; SASSON, S. Biologia 3 – Genética, evolução e ecologia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 480p. SNUSTAD, D. P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de Génetica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 756p. http://www.ib.usp.br/evolucao/QTL/conceitos.html www.cruzeirodosul.edu.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 Campus Virtual Cruzeiro do Sul | www.cruzeirodovirtual.com.br
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