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Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 1 Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas Principais doenças neurodegenerativas Doença de Alzheimer (DA), doença de Parkinson (DP), doença priônica, doença de Huntington's, distrofia muscular, esclerose múltipla, escleorse lateral amiotrófica (ELA), atrofia muscular espinhal (AME) A demência e o comprometimento cognitivo são as sequelas mais frequentes e preocupantes. São caracterizadas por disfunção seletiva e perda progressiva de sinapses, neurônios associados e células gliais pela disposição de proteínas patologicamente alteradas principalmente no cérebro e ME. A classificação é baseada na apresentação clínica, região anatômica, tipos celulares afetados, proteínas conformacionalmente alteradas envolvidas no processo aptogênico e a etiologia (variações genéticas ou por vias adquiridas - ex.: doença priônica) Os estudos atuais mostram que a detecção precoce de doenças neurodegenerativas com métodos não invasivos é o principal foco dos pesquisadores e o desenvolvimento de biomarcadores visando tecidos periféricos estão em destaque. Critérios diagnósticos Técnicas diagnósticas são baseadas em exames de imagem e biomarcadores de LCR. A maioria das proteínas alteradas segue um padrão de distribuição sequencial no cérebro, sugerindo um mecanismo de propagação célula a célula Algumas das proteínas associadas à neurodegeneração podem ser detectadas em órgãos periféricos (método não invasivo) A presença concomitante de mais de uma proteína, todas associadas à neurodegeneração é comum em alguns casos Biomarcadores periféricos para a detecção precoce de DA e DP VANTAGEM → uso métodos não invasivos; tecidos periféricos podem apresentar biomarcadores que não estão tão presentes no SNC; tecidos periféricos são constituídos por importantes indicadores cerebrais de alterações cognitivas e biológicas precoces DA e DP são caracterizadas pela perda progressiva de estruturas e/ou funções neurais, resultando em morte neural. Disfunção de vias metabólicas resulta em neuro-desordens em tecidos periféricos → pele, células sanguíneas, olhos, estômago, colon, coração, SNP etc Doença de Alzheimer Causa mais comum de demência. Atualmente, cerca de 24 mi de pessoas. FASES: 1. DA PRÉ-CLÍNICA → sem sintomas 2. COMPROMETIMENTO COGNITIVO LEVE → sintomas leves que não interferem nas atividades diárias 3. DEMÊNCIA LEVE → sintomas interferem em algumas atividades diárias (lapso de memória, perda de equilíbrio etc) 4. DEMÊNCIA MODERADA → sintomas interferem em várias atividades diárias 5. DEMÊNCIA SEVERA → sintomas interferem na maioria das atividades diárias; não permitem a realização das atividades Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 2 Marcadores de risco potencial Estresse oxidativo Íons metálicos Desordens vasculares Alterações mitocondriais Disfunção e alterações conformacionais em proteínas Causas da neurodegeneração 1. Acúmulo do peptídeo Abeta (beta-amiloide) no espaço extracelular do neurônio = formação de placas amiloides = dano e morte neuronal e neurodegeneração 2. Acúmulo anormal da proteína TAU modificada dentro dos neurônios = formação de emaranhados neurofibrilares = bloqueio de moléculas no neurônio = dano e morte neuronal e neurodegeneração Logo, o acúmulo de peptídeo beta-amiloide predispõe o acúmulo de proteína TAU. A perda da função cerebral é devido à incapacidade do cérebro metabolizar a glicose (principal nutriente), devido ao acúmulo de TAU SINTOMAS MAIS GRAVES DA DA → perda de memória progressiva e dificuldade na fala OUTRAS ALTERAÇÕES CEREBRAIS → inflamação e atrofia (perda celular) - ativação de micróglias Mutação no gene de APP e mutações do peptídeo beta-amiloide predispõe para a DA. Alterações conformacionais em proteínas - oligomerização do peptídeo beta- amiloide As estruturas dos oligômeros e a formação das fibrilas são dependentes do ambiente celular. Monômeros e oligômeros podem formar protofibrilas e fibrilas (formam as placas beta amiloides). Fragmento do peptídeo beta-amiloide 1-42 com 42 resíduos de aa forma fibrilas, as quais são hidrofóbicas e neurotóxicas = formação de placas beta-amiloides Fragmento do peptídeo beta-amiloide 1-40 com 40 resíduos de aa formam monômeros e sua associação ao cobre acelera a formação de dímeros → oligêmeros fibrilares → fibrilas amiloides maduras (insolúveis - constituem as placas beta- amiloides) Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 3 A formação de oligômeros do pepídeo Abeta pode dar origem a micelas, TABFOs, PFOs, globulômeros, protofibrilas (pouco solúveis), APFs Patogênese da DA 1. Acúmulo de peptídeos beta-amiloides = formação de placas neuríticas/senis = ativação de cascata neurotóxica e alterações no citoesqueleto neuronal 2. Hiperfosforilação da proteína TAU = formação de emaranhados neurofibrilares Proteína APP (precursora do peptídeo beta-amiloide) sofre sucessivas clivagens proteolíticas por enzimas beta-secretases (bace-1) e gama-secretases. O descontrole dessas clivagens resulta no acúmulo dos peptídeos beta-amiloides e formação de oligômeros. Sua clivagem resulta na ativação da cascata neurotóxica da proteína Ras, que ativa ERK (age no núcleo celular, ativando a transcrição de genes, diferenciação e proliferação celular). Em excesso, a cascata é superativada. Essa clivagem excessiva ocorre pela ativação concomitante da cascata da proteína GSK3 (glicogênio sintase quinase 3 - prevalente no cérebro), que promove a fosforilação da APP e aumenta a ação das beta e gama-secretases e, logo, há maior acúmulo de peptídeos beta-amiloides. Ao mesmo tempo, a proteína GSK3 atua, intracelularmente, na fosforilação da proteína Tau, a qual, fosforilada, forma emaranhados neurofibrilares, comprometendo o fluxo de nutrientes e oxigênio = dano e morte neuronal. FUNÇÕES DA APP NOS NEURÔNIOS → desenvolvimento de neurônios, formação e reparo de sinapses, plasticidade neuronal e ativação de GSK3. Fatores relacionados à idade, fatores genéticos e ambientais, contribuem para o favorecimento da via metabólica de processamento da APP - a via amiloidogênica. Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 4 Sintomas e biomarcadores PRIMEIROS SINTOMAS → perda de memória frequente, capacidade reduzida de planejamento e julgamento, dificuldades coma atividades diárias, desorientação de tempo e espaço, perda de objetos, mudanças de comportamento e humor e problemas na comunicação e linguagem. BIOMARCADORES PERIFÉRICOS: SANGUE → níveis de PKC, níveis de peptídeo beta-amiloide, níveis de APP, níveis de GSK-3 CÉREBRO: NÍVEIS ELEVADOS → Ras-Erk; GSK-3, APP, peptídeo Abeta1-42 NÍVEIS REDUZIDOS → nPKCε; MnSOD, BDNF PROTEÍNAS → níveis plasmáticos de proteína beta-amiloide, alfa-1-antitripsina OLHOS → deposição Abeta, fluxo de sangue na retina, placas retinoidas, degradação de células ganglionares retinais FIBROBLASTOS DÉRMICOS → fosforilação ERK1 e ERK, liberação intracelular Ca2+ PKC - via de sinalização importante para funções neurais PKC pertence à família das quinases serina/treonina. As isoformas de PKC (a, bl, bll, d, e, g, i, h, l, m, q, z, a, beta, ε) são classificadas em 3 grupos: PKC convencionais (cPKC) → cálcio-dependentes, ativadas pela fosfatidil-serina e pelo DAG PKC originais/novas (nPKC) → cálcio-dependentes, ativadas pela fosfatidil-serina e pelo DAG; prevalente nos neurônios PKC atípicos (aPKC) → cálcio-independentes, não requerem DAG para ativação, mas fosfatidil-serina para regular sua atividade obs.: DAG → ativador metabólico intracelular que ativa a cascata de PKC obs.: o grupos cPKC e nPKC são os mais prevalentes nas junções neuromusculares (JNM) ETAPAS DE ATIVAÇÃO E VIA DE SINALIZAÇÃO DA PKC: 1. Geração de diferentes estímulos (neuronais, hormonais ou fatores de crescimento) e ativação da cascata de ativação da PKC (hiperglicemia, estresse oxidativo etc) 2. Sensibilização de um GPCr na superfície celular e ativação da proteína Gq 3. Ativação da FLP C e degradaçãodo fosfolípidio de membrana (fosfatidilserina, com liberação de DAG (ativação PKC) e IP3 4. Ativação de PKC gera ativação de proteínas intracelulares (enzimas, receptores ou segundos mensageiros) = modulação gênica específica Isoforma nPKCε Altamente expressa no cérebro. Alterações nessa isoforma está relacionada com atividade sináptica e sua regulação ocorre pela contração muscular. Diretamente envolvida na liberação do neurotransmissor ACh na JNM. A atividade da isoforma nPKCε requer que as células musculares se contraiam se o nível de membrana pré-sináptica de nPKCε deve ser mantido ou aumentou (provavelmente com o envolvimento da ação estabilizadora de HSP70). Finalmente, considera-se a hipótese de que nPKCε está funcionalmente relacionada no mecanismo de neurotransmissão nas JNM Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 5 nPKCε aumenta a expressão proteína Hu e de BDNF (brain derived neurotrophic fator) = crescimento e manutenção das redes neurais. Além disso, a expressão proteína Hu, pela nPKCε, aumenta a expressão de MnSOD = metabolismo de EROs. Logo, na DA, com a diminuição de nPKCε, há um comprometimento da manutenção das redes neurais. Formação de emaranhados neurofibrilares pelas alterações do citoesqueleto, devido à hiperfosforilação das proteínas associadas aos microtúbulos, como a proteína TAU. Isso ocorre devido à ativação da GSK3 e CDK, que promovem hiperfosforilação da proteína TAU = interfere na metabolização da glicose e aporte energético. Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 6 Cascata amiloide DA x doença cérebro vascular (DCV) DCV → injúria de tecidos e vasos sanguíneos cerebrais que comprometem o fluxo sanguíneo e, consequentemente, o suprimento de oxigênio e nutrientes necessários ao metabolismo cerebral. 5-10% de pacientes são diagnosticados apenas com demência vascular. SINTOMAS → alterações de funções cognitivas (dificuldade de planejamento e para tomar decisões) e funções motoras (marcha lenta e equilíbrio deficiente) Maioria apresenta patologia neurodegenerativa mista - alterações cerebrais da DA e DCV A localização, o número e o tamanho das lesões cerebrais determinam se ocorrerá demência e como o pensamento e o funcionamento físico do indivíduo serão afetados. Diagnóstico EXAME DE IMAGEM → à direita, o vermelho representa o acúmulo de proteína beta-amiloide Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 7 Maior tendência de acúmulo = amígdala cerebelosa, hipocampo, córtex entorrinal Doença de Parkinson (DP) Doença neurodegenerativa crônica que resulta em perda de dopamina, na substância negra compacta, e acúmulo de inclusões de proteína citoplasmática insolúvel "corpos de Lewis" (oligômeros de alfa-sinucleína) Oligômeros de alfa-sinuclínea Alfa-sinucleína está localizada nos terminais pré-sinápticos de neurônios. Afetam a função neuronal, pois interferem na homeostase mitocondrial e geram neuroinflamação. 140 resíduos de aa, com 3 domínios → N-terminal (carregado positivamente), região central (hidrofóbica - tendência a formar agregados), C-terminal (altamente ácida) Pode ficar nas estruturas: monômero desorganizado predominante no citoplasma e tetrâmero (alfa-hélice) NEURÔNIOS DE PACIENTES COM DP → forma oligomérica solúvel > forma fibrilar insolúvel Forma oligomérica promove o rompimento de membranas (células e organelas) e morte celular. FUNÇÕES: Plasticidade sináptica Empacotamento e tráfego vesicular (regula a quantidade de vesículas sinápticas encaixadas na sinapse durante a liberação do neurotransmissor) Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 8 Modificações pós-traducionais e agregação da alfa-sinucleína Fosforilação e nitração favorecem a oligomerização (prevalentes em neurônios de pacientes com DP). INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS → ~4% de alfa-sinucleína (Ser-129) DP → ≥90% alfa-sinucleína fosforilada no resíduo Ser-129, por caseínas kinases e polo-like dinakse 2 (PLK2) Fosfoproteína fosfatase SA (PP2A) desfosforila alfa-sinucleína Hiperfosforilação da alfa-sinucleína pode afetar sua solubilidade, propriedades de ligação à membrana e distribuição subcelular, favorecendo o estado patogênico. Disfunção lisossomal e agregação da alfa-sinucleína Mutação em GBA1 (hidrolase) → redução de GCase (glicocerebrosidade) → aumento de oligômeros de sinucleína (fosforilados) → DP DP = menos GCase, mais GluCer = menos PPA2 Disfunção mitocondrial e DP A dinâmica mitocondrial (transporte, degradação autofágica - mitofagia) e biogênese são essenciais para a integridade celular A desregulação da dinâmica mitocondrial tem sido associada à disfunção neuronal na DP. Oligômeros fosforilados de alfa-sinucleína promove a fragmentação mitocondrial = diminuição da integridade celular. Efeitos da alfa-sinucleína na mitocôndria EFEITOS DELETÉRIOS: Afeta a bioenergética mitocondrial Afeta a atividade dos complexos I e EEE e prejudica cadeia transportadora de elétrons Induz a permeabilidade mitocondrial (membrana mitocondrial interna) Rompe o mecanismo de "troca de proteínas" entre mitocôndria e citoplasma obs.: doença de Huntington → deficiência de importação de proteína mitocondrial resulta em morte neuronal Complexo SYN-MTS é uma sequência sinalizadora que é reconhecida por translocases nas membranas mitocondriais e internalizada (permite a entrada de oligômeros fosforilados na matriz mitocondrial = efeitos deletérios) Doença priônica Encefalopatias relacionadas a príons ou encefalopatias espongiformes transmissíveis (EET) são um grupo de doenças neurodegenerativas raras que são invariavelmente fatais com apenas 6 meses entre o diagnóstico e morte. GRUPOS DE DOENÇAS PRIÔNICAS: Kuru Doença de Creutzfeldt-Jacob (CJD) Síndrome de Gerstmann-Straussler (GSS) Insônia familial fatal (IFF) SINTOMAS → demência e disfunções motoras como a ataxia cerebelar Características neuropatológicas Neurodegeneração espongiforme Perda neuronal Ativação glial Acúmulo de agregados amiloides (mais proeminentes na GSS e no Kuru) = neurodegeneração espongiforme PrPc - características moleculares, distruição, função PrPc = proteína priônica celular Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 9 Glicoproteína (GPI-linked), ubíqua e altamente conservada em mamíferos. SNC → amplamente dsitribuída em neurônios hipocampais, neocorticais, células cerebelares de Purkinje e neurônios motores espinhais Localiza-se na membrana celular, exercer função na adesão célua-célula. FUNÇÃO → transmissão sináptica e excitabilidade euronal, efeito neuroprotetivo PrPc → atua como modulador do receptor serotoninérgico - na homeostase de neurônios serotoniérgicos; PrPc → atua metabolismo do cobre e cálcio: Cu2+ estabiliza a estrutura do PrPc - região N-terminal mais estruturada Regula a concentração de cobre na fenda sináptica Reduz Cu2+ → Cu+ e previne formação de EROs Participa da manutenção da homeostase de Ca2+, garantindo a integridade estrutural e funcional dos neurônios Replicação do príon (PrPc) PrPsc exerce função na encefalopatia espongiforme transmissível - desordem neurodegenerativa fatal. Em pH 4,4-6, PrPc (proteína celular) → PrPsc (isoforma patogênica). PrPc → solúvel, monoaminérica; degradada pela proteinase K; 0-3% conformação beta-sheets PrPsc → agregados insolúveis que se acumulam no cérebro; resistente à proteinase K; 45% conformação beta-sheets HIPÓTESE DE INDUÇÃO CONFORMACIONAL → a proteína alterada, PrPsc, induz a mudança de conformação da proteína normal PrPc (ciclo) CAUSAS POSSÍVEIS → mutação (espontânea) ou participação de chaperonas moleculares Síntese e processamento PrPc e PrPsc Processamento ocorre no retículo endoplasmático. Golgi leva à superfície celular. Normalmente, há um controle lisossomal e proteossomal. Estrutura de PrPc Ancorada na membrana celular pela glicosil-fosfatidil-inositol (GPI). Peptídeo sinal = endereçamento para a superfície celular. Predomínio de organizações em alfa-hélice, com sítios de glicolisação. Região de domínio (HD) é amiloidogênicahidrofóbica, em que enzimas proteólíticas convertem PrPc para forma amiloidogênica. Bases bioquímicas das doenças neurodegenerativas 10 Sítios de alfa-clivagem é atuante em indivíduos saudáveis, formando fragmentos M1, C1 e HD (potencial neurotóxico amiloidogênico = conversão em PrPsc). Na doença priônica, há prevalência de beta-clivagem, preservando o fragmento HD e liberando fragmentos N2 e C2, favorecendo a conversão da PrPc em PrPsc e o acúmulo da forma amiloidogênica = sintomas da doença. Considerações gerais Príons são agentes causadores da doença priônica patogênica, resultando em enovelamento anormal de proteínas cerebrais. A forma infecciona PrPsc define todos os tipos de encefalopatia espongiforme. Alteração conformacional e agregação de PrpC é favorecida na presença de mutações no gene PRNP ou PRP que torna a proteína mais propensa à agregação.
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