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Estou compartilhando o arquivo 'BARROCO NA LITERATURA BRASILEIRA - EDIÇÃO 2021' com você

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Na literatura brasileira
https://www.youtube.com/watch?v=1FN2jCxgnt0
PANORAMA DO BRASIL NO SÉCULO XVII
ORIGEM DO TERMO BARROCO
	A origem da palavra barroco tem causado muitas discussões. Dentre as várias posições, a mais aceita é a de que a palavra se teria originado do vocábulo espanhol “barrueco”, vindo do português arcaico e usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa, aliás, até hoje conhecida por essa mesma denominação. Assim, como termo técnico, estabeleceria, desde seu início, uma comparação fundamental para a arte: em oposição à disciplina das obras do Renascimento, caracterizaria as produções de uma época na qual os trabalhos artísticos mais diversos se apresentariam de maneira livre e até mesmo sob formas anárquicas, de grande imperfeição e mal gosto.(Suzy Mello, Barroco. São Paulo, Brasiliense, 1983. p.7-8)
OUTROS NOMES DO BARROCO
Marinismo (Itália), por influência do poeta Marini;
Gongorismo (Espanha), por influência do poeta Luís de Gôngora;
Preciosismo (França), em razão do requinte formal dos poemas;
Seiscentismo (na literatura brasileira).
9
O SURGIMENTO
	O Barroco surge da tentativa de solucionar os dilemas de um homem que perdeu sua confiança ilimitada na razão e na harmonia, através da volta a uma intensa religiosidade medieval e da eliminação dos conceitos renascentistas de vida e arte. Em parte, isso não é atingido e as contradições prosseguiriam. 
	Após o Concílio de Trento, realizado entre os anos de 1545 e 1563 e que teve como consequência uma grande reformulação do Catolicismo, em resposta à Reforma protestante, a disciplina e a autoridade da Igreja de Roma foram restauradas, estabelecendo-se a divisão da cristandade entre protestantes e católicos.
	Nos Estados protestantes, onde as condições sociais foram mais favoráveis à liberdade de pensamento, o racionalismo e a curiosidade científica do Renascimento continuaram a se desenvolver. Já nos Estados católicos, sobretudo na Península Ibérica, desenvolveu-se o movimento chamado Contrarreforma, que procurou reprimir todas as tentativas de manifestações culturais ou religiosas contrárias às determinações da Igreja Católica. Nesse período, a Companhia de Jesus passa a dominar quase que inteiramente o ensino, exercendo papel importantíssimo na difusão do pensamento aprovado pelo Concílio de Trento.
	
O clima geral era de austeridade e repressão. O Tribunal da Inquisição, que se estabelecera em Portugal para julgar casos de heresia, ameaçava cada vez mais a liberdade de pensamento. O complexo contexto sociocultural fez com que o homem tentasse conciliar a glória e os valores humanos despertados pelo Renascimento com as ideias de submissão e pequenez perante Deus e a Igreja. Ao antropocentrismo renascentista (valorização do homem) opôs-se o teocentrismo (Deus como centro de tudo), inspirado nas tradições medievais.
	Essa situação contraditória resultou em um movimento artístico que expressava também atitudes contraditórias do artista em face do mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo; esse movimento recebeu o nome de Barroco. O homem se vê colocado entre o céu e a terra, consciente de sua grandeza mas atormentado pela ideia de pecado e, nesse dilema, busca a salvação de forma angustiada. Os sentimentos se exaltam, as paixões não são mais controladas pela razão, e o desejo de exprimir esses estados de alma vai se realizar por meio de antíteses, paradoxos e interrogações. Essa oscilação que leva o homem do céu ao inferno, que mostra sua dimensão carnal e espiritual, é uma das principais características da literatura barroca. Os escritores barrocos abusam do jogo de palavras (cultismo) e do jogo de ideias ou conceitos (conceptismo).
CULTISMO E CONCEPTISMO
Cultismo e Conceptismo foram estilos literários utilizados no período Barroco. Mas enquanto o primeiro prestigiava a forma textual, o segundo valorizava o conteúdo.
13
 A corrente cultista, por exemplo, dá prioridade à construção de imagens, jogos de palavras, como sinonímia e antonímia, uso de figuras de linguagens, principalmente os paradoxos e metáforas, paralelismos, exploração dos sentidos. Conhecido também como Gongorismo, por ter como principal representante o poeta espanhol Luís de Gôngora, o cultismo representava a realidade de forma indireta. Na linha de pensamento do cultismo, o mundo poderia ser descrito por meio das sensações.
 Para isso, os autores cultistas exploravam as figuras de linguagem, como antítese, sinestesia, metáfora, as figuras de sintaxe para deixar a escrita com um estilo próprio, como o hipérbato, a anáfora, também eram comuns os trocadilhos. 
 Os autores que exploravam o cultismo gostavam muito de utilizar o jogo de palavras, que geralmente eram rebuscadas, termos eruditos. A habilidade dos artistas cultistas para desenvolver os textos contava muito. Observe um exemplo de poesia cultista:
 Cultismo - Jogo de palavras
Se choras por ser duro, isso é ser brando
Se choras por ser brando, isso é ser duro.
(Gregório de Matos)
14
15
	Na linha de pensamento conceptista, para obter o conhecimento era preciso fazer uma análise minuciosa do objeto, para assim, conhecer sua essência e definição. Por isso, os autores do conceptismo centram seus argumentos na razão, no raciocínio, na inteligência, sem utilizar os recursos sensoriais. Diferente do que ocorria no cultismo, o estilo conceptista não usa de exuberâncias, mas é sempre conciso. Outros artifícios que estão sempre presentes na construção textual conceptista são o silogismo e o sofisma, tipos de raciocínios da lógica aristotélica. O Silogismo é um tipo de raciocínio dedutivo que é formado por três proposições, ele é estruturado da seguinte forma: duas premissas formam uma terceira (conclusão), e elas estão interligadas pela lógica. Por exemplo: 
“Todos os políticos são corruptos
Matheus é um político
Logo, Matheus é corrupto. “
SOFISMA – o sofisma se difere do silogismo porque embora parta de premissas verdadeiras, elas são utilizadas para criar uma falsa ideia de verdade. O sofisma simula, propõe uma argumentação que parece ser verdade e cria um sistema que aparenta seguir as regras da lógica, mas na verdade leva a uma conclusão enganosa, incorreta. 
Por exemplo:
“O amor é cego
Deus é amor
Logo, Deus é cego.”
A vertente conceptista tem como característica a construção das ideias, o conteúdo intelectual das obras, também se utilizada de artifícios como a comparação e menção a outros textos, referências à natureza dos vocábulos, relações lógicas. Também conhecido por Quevedismo, por ter como um dos seus principais representantes o espanhol Quevedo, o conceptismo tem como objetivo convencer o leitor e ensiná-lo, por isso é muito utilizado na literatura sacra e na poesia religiosa. 
Além de Quevedo, os Padres Antônio Vieira e Manuel Bernardes, além do poeta Gregório de Matos, também escreviam nesse estilo. Perceba que o texto conceptista tem: retórica, raciocínio lógico, frases bem organizadas seguindo uma ordem criteriosa.
Conceptismo (exagero no plano das ideias) - são manifestações de excesso da literatura barroca. 
 Tentativa de dizer o máximo com o mínimo de palavras.
 Emprego de elipses, duplos sentidos, paradoxos e alegorias.
 Requinte expressivo e sutileza das ideias.
Neste exemplo, dá para perceber o uso do raciocínio. 
Premissa maior: amor infinito de Crismo salva o pecador.
 Premissa menor: sou pecador. 
Conclusão: espero me salvar.
BARROOOOCO VERSUS CLASSICISMOOOO! IT'S TIME!
CARACTERÍSTICAS PRESENTES NOS TEXTOS BARROCOS
21
AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ESTÉTICA BARROCA
Conflito entre corpo e alma. Dividido entre os prazeres renascentistas e o fervor religioso, o homem barroco oscila entre:
· a celebração do corpo, da vida terrena, do gozo mundano e do pecado;
· os cuidados com a alma visando a graça divina e a salvação para a vida eterna.
2) Temática do desengano (o desconcerto do mundo): a vidaé breve, a vida é sonho, viver é ir morrendo aos poucos. Aguda consciência da efemeridade da existência e da passagem do tempo. 
3) Linguagem ornamental, complexa, entendida como jogo verbal, cheia de antíteses, inversões, metáforas, alegorias, paradoxos, ausência de clareza. É um estilo complicado que traduz os conflitos interiores do homem barroco. 
 
4) Emprego de símbolos que traduzem a efemeridade, a instabilidade das coisas
Meu peito também, que chora
De Anarda ausências perjuras,
O pranto em rio transforma,
O suspiro em vento muda.
(Manuel Botelho de Oliveira)
23
5) Emprego de muitas frases
Interrogativas
Vês esse sol de luzes coroado?
Em pérolas a aurora convertida?
Vês a lua de estrelas guarnecida?
Vês o céu de planetas adorado?
(Gregório de Matos)
24
 6) Emprego frequente de ordem inversa
 Salta o coração, bate o peito,
 mudam-se as cores,
 Chamejam os olhos, desfazem-se os dentes
 Escuma a boca, morde-se a língua,
 Arde a cólera, ferve o sangue, fumegam os
 Espíritos; os pés, as mãos, os braços,
 Tudo é ira, tudo, fogo, tudo veneno.
(Pe. Antônio Vieira)
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Outras Características do Barroco
Uso de contrastes: as idéias opostas seduzem o barroco; os textos mostram choques entre amor e dor, vida e morte, religiosidade e erotismo, juventude e velhice etc.
Pessimismo: conflito entre o eu e o mundo. A vida terrena é vista como triste, cheia de sofrimento, enquanto que a vida celestial é luminosa e tranquila.
Presença de impressões sensoriais: usando seus sentidos, o homem busca captar todo o sentido da miséria humana, ressaltando seus aspectos dolorosos e cruéis.
Preocupação com a transitoriedade da vida: por ser curta, a vida não permite que o homem a viva intensamente, como seria seu desejo.
Intensidade: desejo de expressar as emoções fortes do amor, do desejo e da dor em profundidade, na tentativa de encontrar o sentido da existência humana.
Outras Características do Barroco
Linguagem complicada, excessivamente trabalhada, através de: 
 - expressões eruditas;
 - sintaxe rebuscada, com uso freqüente da ordem inversa;
 - repetições;
 - paralelismo;
 - uso abusivo de figuras de linguagem, principalmente antíteses, hipérboles, paradoxos e metáforas;
 - uso freqüente de frases interrogativas;
Tentativa de conciliação entre a religiosidade e o racionalismo: há uma constante oscilação entre os dois opostos.
As figuras de estilo mais comuns nos textos barrocos reforçam a tentativa de apreender a realidade por meio dos sentidos. Observe:
1.Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como exemplo o trecho a seguir, escrito por Gregório de Matos:
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
2.Antítese: reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o escritor vê em quase tudo. Observe a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes:
Vista por fora é pouco apetecida
Porque aos olhos por feia é parecida;
Porém, dentro habitada
É muito bela, muito desejada,
É como a concha tosca e deslustrosa,
Que dentro cria a pérola formosa.
AS FIGURAS DE LINGUAGEM MAIS USADAS NO BARROCO
28
3.Paradoxo: corresponde à união de duas ideias contrárias num só pensamento. Opõe-se ao racionalismo da arte renascentista. Veja a estrofe a seguir, de Gregório de Matos:
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido.
4.Hipérbato: traduz ideia de grandiosidade, pompa. Veja mais um exemplo de Gregório de Matos:
É a vaidade, Fábio, nesta vida, 
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada, 
Airosa rompe, arrasta presumida.
5.Prosopopeia: personificação de seres inanimados para dinamizar a realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antônio Vieira:
No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptível, na águia o sublime, no Leão o generoso, no Sol o excesso de Luz.
29
01 A cada canto um grande conselheiro,
02 Que nos quer governar cabana, e vinha,
03 Não sabem governar sua cozinha,
04 E podem governar o mundo inteiro.
05 Em cada porta um frequentado olheiro,
06 Que a vida do vizinho, e da vizinha
07 Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha
08 Para a levar à Praça, e ao Terreiro.
09 Muitos Mulatos desavergonhados,
10 Trazidos pelos pés os homens nobres,
11 Posta nas palmas toda a picardia.
12 Estupendas usuras nos mercados,
13 Todos, os que não furtam, muito pobres,
14 E eis aqui a cidade da Bahia.
IRONIA
GRADAÇÃO
ALITERAÇÃO
ELIPSE
Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu
 
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
CULTISMO
ANTÍTESES
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
ANTÍTESES
PARADOXO
CARACTERÍSTICAS: 
-EFEMERIDADE DO TEMPO;
-USO DA INTERROGAÇÃO;
PARADOXO
PARADOXO
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Se Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
PARADOXO
ANTÍTESE
CONCEPTISMO E 
INTERROGAÇÃO
INTERROGAÇÕES
ANTÍTESE
Um soneto começo em vosso gabo;
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
IRONIA
CARACTERÍSTICAS:
POEMA METALINGUÍSTICO;
IRÔNICO;
CRÍTICO
PLEONASMO
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque, quanto mais tenho delinquido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
Se basta a vos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido: 
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirmais na sacra história, 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, 
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
ANTÍTESES
CONCEPTISMO
CONCEPTISMO
ALITERAÇÃO
ALUSÃO
METÁFORA
[...]
É este, o que chupa, e tira
vida, saúde, e fazenda,
e se hemos falar verdade
é hoje o Amor desta era.
Tudo uma bebedice,
ou tudo uma borracheira,
que se acaba co dormir,
e co dormir se começa.
O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa, é besta.
 
VISÃO ERÓTICA, CARNAL DO AMOR
PESSIMISMO
ANTÍTESELINGUAGEM CHULA
Alma ditosa, que na empírea corte
Pisando estrelas vais de sol vestida,
Alegres com te ver fomos na vida,
Tristes com te perder somos na morte.
 
Rosa encarnada, que por dura sorte
Sem tempo do rosal foste colhida,
Inda que melhoraste na partida,
Não sofre, quem te amou, pena tão forte.
 
Não sei, como tão cedo te partiste
Da triste Mãe, que tanto contentaste,
Pois partindo-te, a alma me partiste.
 
Oh que cruel comigo te mostraste!
Pois quando a maior glória te subiste,
Então na maior pena me deixaste.
ANÁSTROFE
ANTÍTESE
BREVIDADE DA VIDA
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
ANADIPLOSE
TEMAS FREQUENTES NA LITERATURA BARROCA
- fugacidade da vida e instabilidade das coisas;
- morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
- o tempo como agente da morte e da dissolução das coisas;
- castigo, como decorrência do pecado;
- arrependimento;
- narração de cenas trágicas;
- erotismo;
- misticismo;
- apelo à religião. 
- Morte
- Sobrenatural
- Fugacidade da vida e ilusão
- Castigo
- Heroísmo
- Erotismo
- Cenas trágicas
- Apelo à religião, ao céu
- Arrependimento
- Sedução do mundo
39
Surgimento: Europa, meados do século XVI 
 Brasil, início do século XVII. 
 
		No Brasil, a literatura barroca acaba no século XVII, junto com o declínio da sociedade açucareira baiana. Contudo, na arquitetura e nas artes plásticas, o estilo barroco atingirá o seu apogeu apenas nos séculos XVIII e início do XIX, em Minas Gerais.) O marco inicial do surgimento do barroco no Brasil : “Prosopopeia” – 1601 de Bento Manuel Teixeira, inspirada em “Os Lusíadas” (versão mediana = celebra os feitos do capitão e governador da Capitania de Pernambuco = Jorge de Albuquerque Coelho).
O BARROCO NO BRASIL
Os escritores do Barroco brasileiro que mais se destacaram foram: 
Na poesia:
 
- Bento Teixeira 
- Botelho de Oliveira 
- Frei Itaparica
- Gregório de Matos 
Na prosa: 
- Sebastião da Rocha Pita 
- Nuno Marques Pereira. 
- Pe. Antônio Vieira
42
BENTO TEIXEIRA
	Bento Teixeira nasceu em Porto, mas existem relatos que ele pode ter nascido em Recife. O que há de certeza é que ainda criança, mudou-se para o Brasil. Seus pais eram cristãos novos. Estudou no colégio da Bahia dirigido por jesuítas, no qual trabalhou como professor depois de formado.
Em 1589, casou-se com Filipa Rosa, em Ilhéus. Dedicou-se a trabalhar no ramo do comércio, da advocacia e magistério. Bento Teixeira foi acusado de mau cristão e passou a ser perseguido pela santa inquisição, denúncia feita pela sua própria esposa, que o traiu com outro homem. Porém, foi absolvido pelo ouvidor da vara eclesiástica. Em 1594, matou a esposa e refugiou-se no mosteiro de São Bento, em Olinda. Em 1595, foi preso em levado para Lisboa, onde admitiu práticas judaicas.
	Foi na cadeia, em Portugal que Bento Teixeira escreveu sua obra “Prosopopeia”, em que celebrou o segundo donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. “Prosopopeia” seguiu o estilo de Camões, porém, foi importante pelo seu caráter épico e por representar os primeiros tempos da colonização brasileira. Morreu na prisão, em Lisboa.
Curiosidades sobre “Prosopopeia”
Poema épico, com 94 versos em oitava-rima e decassílabos heroicos, conforme ensinava Luís de Camões em “Os lusíadas”;
Enredo: gira em torno de Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco;
Narrador do poema: Proteu;
Intuito do poeta: enaltecer os feitos dos guerreiros na Batalha de Alcácer-Quibir, caracterizando o poema como um gênero literário épico.
Procurou imitar “Os lusíadas”, de Luís de Camões.
44
Os Lusíadas
(...) 
E também as memórias gloriosas 
Daqueles Reis que foram dilatando 
A Fé, o Império, e as terras viciosas 
De África e de Ásia andaram devastando, 
E aqueles que por obras valerosas 
Se vão da lei da Morte libertando, 
Cantando espalharei por toda parte, 
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. 
Cessem do sábio Grego e do Troiano 
As navegações grandes que fizeram; 
Cale-se de Alexandro e de Trajano 
A fama das vitórias que tiveram; 
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, 
A quem Neptuno e Marte obedeceram. 
Cesse tudo o que a Musa antiga canta, 
Que outro valor mais alto se alevanta. 
 
 E vós, Tágides minhas, pois criado 
Tendes em mi um novo engenho ardente, 
Se sempre em verso humilde celebrado 
Foi de mi vosso rio alegremente, 
Dai-me agora um som alto e sublimado, 
Um estilo grandíloquo e corrente, 
Por que de vossas águas Febo ordene 
Que não tenham enveja às de Hipocrene. 
45
Prosopopeia
1. Cantem Poetas o Poder Romano,
submetendo Nações ao jugo duro;
o Mantuano pinte o Rei Troiano,
descendo à confusão do Reino escuro;
que eu canto um Albuquerque soberano,
da Fé, da cara Pátria firme muro,
cujo valor e ser, que o Céu lhe inspira,
pode estancar a Lácia e Grega lira.
2. As Délficas irmãs chamar não quero,
que tal invocação é vão estudo;
aquele chamo só, de quem espero
a vida que se espera em fim de tudo.
Ele fará meu Verso tão sincero,
quanto fora sem ele tosco e rudo,
que por razão negar não deve o menos
quem deu o mais a míseros terrenos.
3. E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta
a Estirpe d'Albuquerques excelente,
e cujo eco da fama corre e salta
do Carro Glacial à Zona ardente,
suspendei por agora a mente alta
dos casos vários da Olindesa gente,
e vereis vosso irmão e vós supremo
no valor abater Querino e Remo.
46
ANÁLISE DO POEMA 
Manuel Botelho de Oliveira  - (Salvador,  1636 — Salvador, 5 de janeiro de 1711)
	Foi um advogado, político e um poeta barroco brasileiro. O primeiro autor nascido no Brasil a ter um livro publicado.
	Cursou Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia e foi eleito vereador da Câmara de Salvador. Em 1694 tornou-se capitão-mor dos distritos de Papagaio, Rio do Peixe e Gameleira, cargo obtido em função de empréstimo de 22 mil cruzados para a criação da Casa da Moeda, na Bahia.
	Manuel Botelho de Oliveira conviveu com Gregório de Matos e versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo.
Sua principal obra é a coletânea de poemas Música do Parnaso, escrita em 1705 e publicado em Lisboa, tornando-o o primeiro autor nascido no Brasil a ter um livro impresso. Na obra, destaca-se o poema À Ilha de Maré, com vocabulário típico dos barrocos, e um dos primeiros a louvar a terra e descrever com esmero a variedade de frutos e legumes brasileiros, lembrando sempre a inveja que fariam às metrópoles europeias.
“O primeiro autor brasileiro a ter um livro publicado”
Frei Itaparica, ou Frei Manuel de Santa Maria 
(Ilha de Itaparica, 1704 — Itaparica, 1768)
	 Foi um frade franciscano e um poeta barroco brasileiro. É autor de "Eustáquios", poema sacro e tragicómico, que contém a vida de Santo Eustáquio Mártir, chamado antes Plácido (latim: PLACIDVS) e de sua mulher e filhos, que foi publicado sem data, sem indicação de local nem autoria. Este poema, descoberto por Francisco Adolfo de Varnhagen, foi inicialmente atribuído ao padre Francisco de Sousa, autor de "O Oriente Conquistado a Jesus Cristo", mas, na introdução do Florilégio da Poesia Brasileira, Varnhagen reformulou a sua opinião, indicando Frei Itaparica como o verdadeiro autor.
	Na obra destaca-se a descrição do inferno e a narrativa dos sonhos onde o Brasil é descrito numa época anterior ao seu descobrimento. Na página 105 da primeira edição (publicada em 1769) está a Descrição da ilha de Itaparica, termo da cidade da Bahia, da qual se faz menção no canto quinto, reimpressa em 1841, onde opoeta fala com entusiasmo das belezas de sua ilha natal. O poema seria uma réplica à "Ilha da Maré", de Manuel Botelho de Oliveira. São descritos os frutos, as fontes, os legumes, as árvores, as igrejas e as capelas, praticamente na mesma ordem em que estão referidas nas silvas de Botelho de Oliveira.
Nuno Marques Pereira 
(Cairu, 1652 — Lisboa, 9 de dezembro de 1728)
	 Foi um padre e escritor de cunho moralista luso-brasileiro do barroco.
	Muito pouco se sabe sobre a vida do padre, autor de uma obra que o livrou do olvido, e que obteve uma grande aceitação, ao seu tempo, tendo merecido sucessivas reedições, e conhecida abreviadamente como “O Peregrino da América”. A obra foi publicada, efetivamente, em 1728, obtendo todas as aprovações necessárias, que então se exigiam para os livros impressos.
	De cunho eminentemente religioso e, por conseguinte, moralista, o livro mescla uma viagem – que pode ter sido imaginária – com personagens a dialogar com o peregrino, possivelmente o próprio autor.
GREGÓRIO DE MATOS
“O BOCA DO INFERNO”
Nasceu na Bahia – 1636 e morreu em Pernambuco – 1695;
Filho de família abastada;
Formação jesuítica;
Formou-se em direito pela Universidade de Coimbra, em Portugal;
Poesia Religiosa;
Poesia Profana (amorosa e satírica);
https://www.youtube.com/watch?v=o4f06EBKjpI
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	Gregório de Matos e Guerra (Salvador BA 1636 - Recife PE 1695). Poeta e magistrado. Filho de nobre português, senhor de engenho, inicia seus estudos no Colégio dos Jesuítas, em Salvador. Em 1650, parte para Coimbra, Portugal, onde se forma em estudos jurídicos, no ano de 1661. Segue a carreira de magistrado e, a partir de 1672, representa a Bahia na corte portuguesa. Em 1674, propõe a criação de uma universidade em sua cidade de origem. Nesse mesmo ano perde o cargo, ao recusar o papel de inquisidor dos crimes do governador do Rio de Janeiro. Fica viúvo em 1678. Três anos depois, faz votos religiosos. Retorna ao Brasil, em 1682, como vigário-geral e tesoureiro-mor do recém-criado arcebispado. Indispõe-se rapidamente com as autoridades religiosas, entre outras razões, por recusar-se a usar batina. Passa a levar vida boêmia e desregrada, compondo versos satíricos contra as autoridades e os costumes, além de uma poesia erótica e amorosa, que lhe vale o apelido de Boca do Inferno. Denunciado ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa - Inquisição -, em 1685, sob a acusação de dirigir ofensas a Jesus Cristo, e de não tirar o barrete na passagem da procissão, tem seu processo anulado, provavelmente devido a influências familiares. Em 1694, para livrar-se da prisão, uma vez mais, é deportado para Angola, pelo governador da Bahia, de quem é amigo. Continua a levar uma vida tumultuada, à qual não faltam episódios mal explicados, como o envolvimento em uma rebelião de militares. Repatriado para Pernambuco, morre em 26 de novembro de 1695, no Recife, em consequência de febres contraídas na África. A vida de de Matos permanece envolta em lendas e mistérios dificilmente decifráveis. Algumas datas - até mesmo as do seu nascimento e morte - são contestadas, assim como determinados acontecimentos que constam de sua biografia, e lhe conferem uma aura de herói nacionalista, comprometido com causas libertárias. Mesmo em sua obra, é difícil discernir os versos de sua autoria dos que lhe são atribuídos.
GREGÓRIO DE MATOS
“O BOCA DO INFERNO”
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GREGÓRIO DE MATOS GUERRA(1636-1695) 
Gregório de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou 
a poesia lírica, satírica, erótica e religiosa. O que se conhece de sua obra 
é fruto de inúmeras pesquisas, pois Gregório não publicou seus poemas em vida.
Por essa razão, há dúvidas quanto à autenticidade de muitos textos que lhe são
atribuídos
	 Poesia religiosa - Apresenta uma imagem quase que exclusiva: o homem ajoelhado diante de Deus, implorando perdão para os pecados cometidos.
 Poesia lírico-amorosa - Tem uma dimensão elevada, muitas vezes associada à noção de brevidade da existência, e uma dimensão obscena, onde a explosão dos sentidos (em versos crus e repletos de palavrões) representa um protesto contra os valores morais da época. 
	 Poesia satírica - Ironia corrosiva e caricatural contra todos os setores da vida colonial baiana: senhores de engenho, clero, juízes, advogados, militares, fidalgos, escravos, pobres livres, índios, mulatos, mamelucos, etc. Com seu olhar ressentido de senhor decadente, Gregório de Matos vê na realidade apenas corrupção, negociata, oportunismo, mentira, desonra, imoralidade, completa inversão de valores. A poesia satírica, portanto, para ele é vingança contra o mundo. 
https://www.youtube.com/watch?v=o41DJqDFqJA
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POESIA LÍRICO-FILOSOFICA
-Pessimismo
-Angústia diante da vida
-Temas abordando o 
desconcerto do mundo 
e a instabilidade dos bens 
materiais
Moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol a Inconstância dos Bens do Mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
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O POETA SATÍRICO
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia, especialmente de Salvador, graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos
Triste Bahia
Triste Bahia! 
ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.
A ti tricou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e, tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
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AS COUSAS DO MUNDO 
 
Neste mundo é mais rico o que mais rapa: 
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; 
Com sua língua, ao nobre o vil decepa: 
O velhaco maior sempre tem capa. 
Mostra o patife da nobreza o mapa: 
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; 
Quem menos falar pode, mais increpa: 
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. 
A flor baixa se inculca por tulipa; 
Bengala hoje na mão, ontem garlopa, 
Mais isento se mostra o que mais chupa. 
Para a tropa do trapo vazo a tripa 
E mais não digo, porque a Musa topa 
Em apa, epa, ipa, opa, upa. 
(Gregório de Matos)
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À CIDADE DA BAHIA (41)
 
A cada canto um grande conselheiro 
Que nos quer governar cabana e vinha; 
Não sabem governar sua cozinha 
E podem governar o mundo inteiro. 
Em cada porta um bem frequente olheiro 
Que a vida do vizinho e da vizinha 
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha 
Para o levar à praça e ao terreiro. 
Muitos mulatos desavergonhados, 
Trazidos sob os pés os homens nobres, 
Posta nas palmas toda a picardia, 
Estupendas usuras nos mercados, 
Todos os que não furtam muito pobres: 
E eis aqui a cidade da Bahia. ´
 
(Gregório de Matos)
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Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
 (Gregório de Matos)
O POETA RELIGIOSO
A preocupação religiosa do escritor revela-se no grande número de textos que tratam do tema da salvação espiritualdo homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Observe:
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	PEQUEI, SENHOR....
	
	Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, 
de vossa alta clemência me despido; 
porque quanto mais tenho delinquido, 
vos tenho a perdoar mais empenhado.
	
	Se basta a vos irar tanto um pecado, 
a abrandar-vos sobeja um só gemido: 
que a mesma culpa, que vos há ofendido, 
vos tem para o perdão lisonjeado.
	
	Se uma orelha perdida e já cobrada, 
glória tal e prazer tão repentino 
vos deu, como afirmais na sacra história,
	
	eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, 
cobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
perder na vossa ovelha a vossa glória.
A temática religiosa	: a culpa, o pecado, o arrependimento.
A referência às parábolas bíblicas.
O discurso argumentativo, a defesa de uma ideia através do raciocínio lógico, da enumeração de exemplos, do discurso persuasivo. (heranças do Renascimento)
CONCEPTISMO
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
 
O POETA LÍRICO
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em face à vida, à religião e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é constantemente comparada aos elementos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado.
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
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O POETA ERÓTICO
Também alcunhado de profano, o poeta exalta a sensualidade e a volúpia das amantes que conquistou na Bahia, além dos escândalos sexuais envolvendo os conventos da cidade.
Necessidades Forçosas da Natureza Humana
Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.
Busco uma freira, que me desemtupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.
Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?
Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da mão sua cachopa.
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 A uma freira que, satirizando a
 delgada fisionomia do poeta, 
 chamou-lhe pica-flor. 
Se pica-flor me chamais, 
Pica-flor aceito ser, 
Mas resta agora saber, 
se no nome, que me dais, 
meteis a flor, que guardais 
no passarinho melhor! 
se me dais este favor, 
sendo só de mim o pica, 
e o mais vosso, claro fica, 
que fico então pica-flor.
 (Gregório de Matos)
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	A obra atribuída a Gregório de Matos contém mais de 700 textos. Reúne poemas líricos, satíricos, eróticos, religiosos, encomiásticos (laudatórios), entre outros, utilizando grande variedade de ritmos e de rimas. Com exceção da épica, não há gênero ou estilo poético que não tenha praticado.
	Mas é na sátira que a poesia de Matos é mais conhecida e celebrada. Utilizando-se de pitorescos jogos de palavras e de grande malabarismo verbal, realiza uma crítica irreverente aos costumes da Bahia colonial, que recebe, em seus poemas, o carinhoso tratamento de Senhora Dona Bahia. Não poupa governadores corruptos, freiras, e padres pervertidos, pois, como ele mesmo afirma em um de seus versos: "De que pode servir calar, quem cala / nunca se há de falar, o que se sente? / Sempre se há de sentir, o que se fala!". No poema em que se despede da cidade, ao partir para o degredo em Angola, assim se refere aos brasileiros: "No Brasil a fidalguia / no bom sangue nunca está / nem no bom procedimento, / pois logo em que pode estar? / Consiste em muito dinheiro / e consiste em o guardar".	
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	Seu estilo alia a tradição dos grandes poetas barrocos espanhóis, como Luís de Gôngora (1561 - 1627) e Francisco de Quevedo (1580 - 1645), a uma linguagem em que se misturam termos de línguas tupi e africanas, de curioso efeito cômico, como nestes versos: "Um certo Paiá de Monai bonzo bramá / Primaz da Cafraria do Pegu / Que sem ser do Pequim, por ser do Acu / Quer ser filho do sol, nascendo cá".
	A produção lírica de Gregório de Matos é marcada por imagens de grande sensualidade, nas quais exalta as mulheres brancas, negras e mulatas da Bahia: "Crioula da minha vida / Supupema da minha alma / bonita como umas flores / e alegre como umas páscoas [...]". Em outros momentos, a temática sensual e amorosa transforma-se em delicada busca de emoções contrastadas: "Não sei, quando caís precipitada / As flores que regais tão parecida, / Se sois neve por rosa derretida, / Ou se a rosa por neve desfolhada".
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https://www.youtube.com/watch?v=o4f06EBKjpI
PADRE ANTÔNIO VIEIRA 
	
	Padre Antônio Vieira  nasceu em Lisboa, 6 de fevereiro  de 1608 e faleceu na Bahia, em 18 de julho de 1697. Foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. 
	Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre Antônio Vieira é conhecido por seus sermões polêmicos em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influencia negativa que o Protestantismo exerceria na colônia, os pregadores que não cumpriam com seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários católicos) e a própria Inquisição. Além disso, defendia os índios e sua evangelização, condenando os horrores vivenciados por eles nas mãos de colonos. Era chamado pelos nativos de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). Também defendia os cristãos-novos (judeus convertidos ao Catolicismo) que aqui se instalaram. 
	Além dos famosos sermões, padre Antônio Vieira também se dedicou a escrever cartas e profecias.
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Padre Antônio Vieira:
OS SERMÕES 
Utilização contínuas de passagens da Bíblia e de todos os recursos da oratória jesuítica para convencer os fiéis de sua mensagem, mesmo quando trata de temas cotidianos.
Ataca os vícios (corrupção, violência, arrogância, etc.) e defende as virtudes cristãs (religiosidade, caridade, modéstia, etc.)
Combate os hereges, os indiferentes à religião e os católicos desleixados em relação à Igreja.
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Sermões de Vieira:
Defende abertamente os índios. Mantém-se ambíguo frente aos escravos negros: ora tenta justificar a escravidão, ora condena veementemente seus malefícios éticos e sociais. 
 
Exalta os valores que nortearam a construção do grande império português. E julga (de forma messiânica) que este império deveria ser reconstruído no Brasil.
 
76
Sermões de Vieira:
Propõe o retorno dos cristãos novos (judeus) a territórios lusos como forma de Portugal escapar da decadência onde naufragara desde meados do século XVI. 
Apresenta uma linguagem de tendência conceptista, de notável elaboração, grande riqueza de idéias e imagens espetaculares. Fernando Pessoa o chamaria de "Imperador da Língua Portuguesa". 
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Padre Antônio Vieira
Sermão do bom ladrão
	“Não são só ladrões - diz o Santo - os que cortam bolsas ou espreitam os que vão se banhar, para lhe colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendamos exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os pobres. (...)” 
Padre Antônio Vieira
Trecho de Sermão da Sexagésima
	“Fazer pouco fruto da Deus no Mundo pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há se haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelhos e há mister olhos.”
 O sermão é um todo de 10 pequenos capítulos e é considerado seu mais importante sermão: uma crítica monumental ao estilo barroco, sobretudo ao Cultismo. Como foi pregado na Capela Real, em Portugal, podemos concluir que o auditório era particular, composto por católicos da nobreza portuguesa da época. 
O tema do Sermão da Sexagésima é a “Parábola do semeador”. 
Neste sermão, o Padre Vieira usa de uma metáfora: pregar é como semear. 
Vieira resume e comenta a parábola: um semeador semeou as sementes que caíram pelo caminho, pelas pedras ou entre os espinhos.
Em O Sermão da Sexagésima, Vieira expôs o método que adotava nos seus sermões:
1. Definir a matéria.
2. Reparti-la. 
3. Confirmá-la com a Escritura. 
4. Confirmá-la com a razão. 
5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às objeções, aos "argumentos contrários". 
6. Tirar uma conclusão e persuadir, exortar.
	A uns mártires penduravam pelos cabelos, ou por um pé, ou por ambos, ou pelos dedos, polegares, e assim no ar, despidos, batiam e martelavam com tal força e continuação, os cruéis e robustos algozes, que ao princípio açoitavam os corpos, depois desfiavam as mesmas chagas, ou uma só chaga até que não tinha já que açoitar nem ferir. A outros estirados e desconjuntados no ecúleo, ou estendidos na catasta aravam ou cardavam os membros com pentes e garfos de ferro, a que propriamente chamavam escorpiões, ou metidos debaixo de grandes pedras de moinho, lhes espremiam como em lagar o sangue, e lhes moíam e imprensavam os ossos, até ficarem uma pasta confusa, sem figura, nem semelhança do que dantes eram. A outros cobriam todos de pez, resina e enxofre, e ateando-lhes o fogo, os faziam arder em pé como tochas ou luminárias; nas festas dos ídolos, esforçando-os para este suplício como lhes dar a beber chumbo derretido.
Sermão de todos os santos – Padre Antônio Vieira
A religião e os dramas humanos e políticos
SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES
 Padre Antônio Viera, por Maria Bathânia

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