Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E CLÍNICA VETERINÁRIA DISCIPLINA DE CLÍNICA MÉDICA DE CÃES E GATOS Profa. Maria Cristina Nobre e Castro Monitora: Maria Elizabeth Corrêa Jankovitz EPILEPSIA EM CÃES E GATOS “Epilepsy is the most common serious brain disorder worldwide. It has no age, racial, social class, national or geographic boundaries”. (WHO - World Health Organization). INTRODUÇÃO Epilepsia é uma complexa doença cerebral na qual uma atividade súbita e anormal de redes neurais causa sinais clínicos convulsivos caracterizados por aspectos motores, autonômicos e/ou comportamentais. É a doença neurológica crônica cerebral mais comum em humanos e cães. Em cães, estima-se que a prevalência da doença seja de 0,6-0,75% na população geral. Estudos epidemiológicos de raças específicas com epilepsia idiopática têm demonstrado hereditariedade da doença em raças como Labrador Retriever, Pastor Belga, Boxer, Springer Spaniel Inglês, Braco Húngaro de pelo curto, Pastor Bernese, Poodle Standard, Border Collie, Pastor Australiano e Border Terrier. TERMINOLOGIA CRISE EPILÉPTICA: é a manifestação hiperssincrônica dos neurônios cerebrais, normalmente autolimitante. CONVULSÃO: o termo “convulsão”, amplamente difundido, não deve ser utilizado como sinônimo de crise epiléptica, uma vez que nem todas as crises epilépticas são “convulsivas”. Trata-se de uma terminologia que deve ser utilizada somente para descrever uma crise epiléptica generalizada com envolvimento de componente motor (tônico-clônica). Esse termo pode ser bem útil na comunicação com o tutor. CRISE REATIVA: é uma crise epiléptica que ocorre como resposta natural do cérebro a um distúrbio transitório em sua função (natureza tóxica ou metabólica), que é reversível quando a causa é corrigida. Ex: hipoglicemia, intoxicação por carbamatos e organofosforados. EPILEPSIA: Distúrbio cerebral causado por predisposição persistente do cérebro a gerar crises epilépticas de forma espontânea e recorrente. De forma prática, considera-se epilepsia quando ocorrem duas ou mais crises não-reativas com intervalo mínimo de 24 horas entre elas. CLUSTER ou crises epilépticas agrupadas: consiste em duas ou mais crises dentro de um período de 24 horas. STATUS EPILEPTICUS ou estado epiléptico: Crises epilépticas que duram mais do que 5 minutos OU duas ou mais crises generalizadas sem recuperação de consciência entre elas. Em um cérebro normal, os neurônios disparam seus impulsos elétricos de forma aleatória, não sincrônica. Durante um evento epiléptico, os neurônios do foco epileptogênico disparam todos ao mesmo tempo, isto é, de forma hiperssincrônica. O organismo possui mecanismos autorregulatórios, como a liberação de neurotransmissores inibitórios (ex: GABA), para controlar as crises. Quando esse mecanismo autorregulatório falha e o organismo não consegue conter a crise, o animal entra em um estado conhecido como “status epilepticus”. CLASSIFICAÇÃO ETIOLOGIA EPILEPSIA IDIOPÁTICA (OU PRIMÁRIA) O diagnóstico é de exclusão e deve ser baseado na idade de início das crises, exame neurológico normal no período entre crises (inter-ictal), bem como exclusão de distúrbios metabólicos, tóxicos ou estruturais no cérebro. Pode ser classificada em três tipos: Fundo genético conhecido (epilepsia genética): um gene causador de epilepsia é identificado. Fundo genético suspeito: uma influência genética é apoiada por uma alta prevalência na raça (>2%), análise genealógica e/ou histórico familiar de indivíduos epilépticos. Causa desconhecida e sem indicação de epilepsia estrutural. EPILEPSIA ESTRUTURAL (OU SECUNDÁRIA) Causada por uma patologia intracraniana/cerebral identificada. Possíveis causas: acrônimo VITAMIN-D V vascular I inflamatória/infecciosa T traumática(considerar)/tóxica(não considerar nesse caso) A anomalia congênita/desenvolvimento M metabólica (não considerar nesse caso) I idiopática (não considerar nesse caso) N neoplásica D degenerativa Fonte: Dewey & Da Costa, 2016. O exame neurológico frequentemente é anormal e pode revelar déficits assimétricos em cães com patologia cerebral lateralizada. OBS: Um exame neurológico normal, entretanto, não descarta completamente uma epilepsia estrutural. Isso pode acontecer em casos de lesões focais em áreas do cérebro, como o bulbo olfatório e lobo piriforme (regiões clinicamente “silenciosas”), que podem gerar crises epilépticas sem quaisquer outros sinais neurológicos. CRISES REATIVAS Podem resultar de distúrbios metabólicos sistêmicos (hipoglicemia, distúrbios eletrolíticos, shunt portossistêmico causando encefalopatia hepática) ou de intoxicações (carbamatos, organofosforados, intoxicação por chumbo, etilenoglicol, metaldeído, estricnina). As intoxicações têm um início agudo (<24h) e sinais neurológicos que podem ser precedidos ou acompanhados de sinais gastrintestinais, cardiovasculares ou respiratórios. Distúrbios metabólicos podem ter início agudo, subagudo ou crônico, e podem ser progressivos ou reincidentes. TIPOS DE CRISE FOCAL Caracterizada pela lateralização e/ou sinais regionais (motores, autonômicos ou comportamentais; isolados ou combinados) Motora: fenômeno focal episódico. Ex: espasmos faciais, movimentos repetidos de cabeça, piscar rítmico, contração da musculatura facial, espasmos rítmicos repetidos de uma extremidade. Autonômica: envolve componentes parassimpáticos e epigástricos. Ex: pupilas dilatadas, sialorreia ou vômito. Comportamental: em humanos há fenômenos psíquicos e/ou sensoriais; em animais, há uma curta mudança episódica no comportamento. Ex: ansiedade, inquietação, reações de medo inexplicáveis, busca de atenção pelo dono de forma anormal. GENERALIZADA Caracterizada por envolvimento bilateral (ambos os lados do corpo e, portanto, ambos hemisférios cerebrais). Pode ocorrer sozinha ou evoluir de uma crise focal. Como regra, o animal perderá consciência durante as crises, podendo ocorrer salivação, micção e/ou defecação (exceto nas crises mioclônicas). Tônico-clônica (movimento de pedalagem) Tônica (aumento de tônus/rigidez muscular) Clônica (contrações musculares) Mioclônica (movimentos abruptos de empurrão geralmente afetando ambos os lados do corpo) Atônica: também chamados de “ataques de queda” – perda geral e repentina do tônus muscular que geralmente faz o animal colapsar/desmoronar. FOCAL COM GENERALIZAÇÃO: A crise inicia em uma área localizada no cérebro e se propaga até envolver ambos hemisférios cerebrais. A crise irá se iniciar com sinais regionais motores, autonômicos e/ou comportamentais, sendo seguida por um estágio convulsivo com atividade tônica, clônica ou tônico clônica e perda de consciência. É o tipo mais comum de crise observado no cão. O início da crise focal é geralmente muito curto, podendo ser difícil de diferenciar da ∙ crise generalizada. FASES DA CRISE EPILÉPTICA PRÓDROMO Em alguns animais (mas não é tão comum), o ictus pode ser precedido por um longo período (horas a dias) de mudança na disposição do animal. Humanos podem experimentar dias de, por exemplo, irritabilidade e alterações emocionais. Nos cães, os sinais prodrômicos mais comuns descritos são horas ou dias de inquietação e ansiedade, ou comportamento de busca por atenção do tutor. ICTUS Atividade epiléptica em si. Pode ser uma crise focal, generalizada ou focal com generalização. Na maioria dos casos, dura menos de 2-3min. PÓS ICTUS Fase em que a função cerebral normal é restaurada. Essa fase pode ser muito curta ou durar várias horas a dias. Normalmente, o animal fica desorientado, pode ter alterações comportamentais, como vocalização repetitiva, andar compulsivo falhando em evitar obstáculos, cansaço, ataxia (incoordenação), fome ou sede, expressar a vontade de urinar ou defecar, dormir por um longo período de tempo. Cegueira pós-ictal e agressividade também podem ocorrer. DIAGNÓSTICO A abordagem diagnóstica de pacientes que apresentam histórico de suspeita de crises epilépticas envolve dois passosfundamentais: 1- Realmente são crises epilépticas? Estabelecer se os eventos realmente representam crises epilépticas ou se são consistentes com um transtorno paroxístico diferente. 2- O que está causando essas crises? Identificar a causa de base da crise epiléptica. CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DE EPILEPSIA IDIOPÁTICA ∙ Histórico de uma ou mais crises epilépticas não-reativas ocorrendo com pelo menos 24h de intervalo entre si; ∙ Idade do início das crises entre 6 meses e 6 anos de idade; Exame físico e neurológico normais (exceto pelas alterações em decorrência do uso de fármacos antiepilépticos e déficits neurológicos pós-ictais); OBS: nesses casos, os animais devem ser reexaminados quando as concentrações séricas do fármaco estabilizarem e após a resolução de alterações pós-ictais (em menos de 1 semana essas alterações pós crise costumam se resolver). Histórico familiar de epilepsia idiopática; Sem anormalidades significativas em exames de sangue e urinálise. EXAMES DE SANGUE: hemograma, perfil bioquímico (dosagem de sódio, potássio, cloreto, cálcio, fósforo, ALT, FA, bilirrubina total, ureia, creatinina, proteínas totais, albumina, glicose, colesterol, triglicerídeos, ácidos biliares pré e pós prandiais e/ou amônia. URINÁLISE: densidade, proteínas, glicose, pH e sedimentoscopia OBS: Além dos exames citados acima, pode se ainda realizar Ressonância Magnética (RM) e coleta de líquor (LCR), seguindo-se os critérios a seguir. OBS: O diagnóstico definitivo só é possível com o exame de eletroencefalograma (EEG), detectando anormalidades características de crises. No entanto, esse recurso ainda precisa ser melhor protocolado e estudado na Medicina Veterinária. QUANDO SOLICITAR RM E COLETA DE LCR Exclusão da possibilidade de crise reativa; Idade do início das crises: < 6 meses ou >6 anos; Anormalidades neurológicas inter-ictais (intervalo entre crises) consistentes com neurolocalização intracraniana; OBS: isso é visto no exame neurológico Em casos de status epilepticus ou cluster; Diagnóstico presuntivo prévio de epilepsia idiopática e resistência ao tratamento com monoterapia na dose máxima tolerável. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA DAS CRISES EPILÉPTICAS Identificar se realmente é uma crise epiléptica e diferenciar de outros eventos paroxísticos (síncope, narcolepsia, distúrbios de comportamento, discinesia paroxística, tremor de cabeça idiopático, crise vestibular) Excluir causas de crises reativas (metabólica ou tóxica) Hemograma Bioquímica Urinálise Excluir causas estruturais (de acordo com a suspeita) Testes para doenças infecciosas (sorologia, PCR, teste rápido cinomose) Pesquisa de metástase (RX de tórax, US abdominal) RM e TC de encéfalo (seguindo os critérios anteriormente citados) Coleta e análise de LCR (vide critérios) Após exclusão de todas as possíveis causas reativas e estruturais, o diagnóstico presuntivo é de epilepsia idiopática. TRATAMENTO OBJETIVOS O objetivo ideal da terapia com drogas anti-epilépticas (DAE) é equilibrar a capacidade de eliminar as crises epilépticas com a qualidade de vida do paciente. A erradicação das crises muitas vezes não é possível. Metas mais realistas incluem diminuir a frequência, duração e gravidade das crises, com nenhum ou poucos efeitos adversos para manter a qualidade de vida do paciente. QUANDO TRATAR? Lesões estruturais presentes ou histórico de doença cerebral ou trauma; Se ocorrer cluster ou status epilepticus; 2 ou mais crises em um período de 6 meses; Sinais pós-ictais graves (ex: agressividade, cegueira) ou que duram mais de 24h; Se a frequência e/ou duração das crises estão aumentando e/ou se a gravidade da crise está piorando ao longo de 3 períodos inter-ictais (entre uma crise e outra). OBS: Em geral, quanto mais crises, maior o foco epileptogênico e mais difícil o tratamento. Ou seja, quanto mais crises o animal tiver, até que se inicie o tratamento, piores são as consequências. Dessa forma, preconiza-se iniciar o tratamento o mais cedo possível ao mesmo tempo em que se inicia a investigação da etiologia. ORIENTAÇÕES AO TUTOR É importante haver uma conversa entre o MV e o tutor para definir os objetivos: Diminuir frequência de crises X abolir as crises: O sucesso do tratamento se baseia em diminuir a frequência de ocorrência das crises, e não necessariamente abolir completamente as crises. Diminuir a frequência, a duração e a gravidade já é um sucesso. Monoterapia: ideal (e geralmente é possível com o uso de fenobarbital). Caso não seja possível, associar outro fármaco (brometo de potássio) ou outros (medicamentos secundários). Medicação contínua e regular: a maioria é de 12 em 12, ou de 8 em 8 horas. Em muitas vezes, as queixas do tutor são de que o medicamento não está funcionando, e pode ser que a administração não esteja sendo feita corretamente. Não suspender abruptamente (se possível, diminuir a dose 25% por semana até parar). É comum que os tutores acreditem que a partir do momento em que o animal se estabiliza e não tem mais crises, basta parar de administrar a medicação. Os medicamentos demoram algum tempo (por exemplo, o fenobarbital leva 14 dias) para ter seu nível sérico estabilizado e, por isso, deve-se esperar esse tempo para modificar o protocolo, caso seja necessário. Além disso, é importante informar ao tutor que essas medicações são de uso contínuo e, na maior parte dos casos, o animal terá de fazer uso para o resto da vida. Castração: Em algumas fêmeas, o limiar de crises epilépticas diminui durante o estro. Com a castração, a fêmea não entra mais no cio e pode evitar a ocorrência das crises. No macho, é importante castrar para prevenir uma possível epilepsia idiopática nos descendentes, caso o animal tenha algum gene que leve a isso. Interações farmacológicas: O fenobarbital pode diminuir o efeito terapêutico de outras DEAs (levetiracetam, zonizamida e benzodiazepínicos), bem como de corticosteroides, ciclosporinas, metronidazol, voriconazol, digoxinas, digitoxinas, fenilbutazona e alguns anestésicos (ex: tiopental). Além disso, fármacos que inibem o citocromo P450 acabam inibindo o metabolismo do fenobarbital, aumentando sua concentração sérica e podendo causar toxicidade. Ex: cimetidina, omeprazol, cloranfenicol, trimetoprim, fluoroquinolonas, tetraciclinas, cetoconazol, fluconazol, itraconazol, fluoxetina. Cuidados durante a crise epiléptica: Afastar objetos que possam machucar o animal durante a crise; Deixar o animal em local confortável; Proteger a cabeça do animal, seja com uma almofada ou apoiando com as próprias mãos; Nunca tentar colocar a mão na boca do animal, sob risco de mordedura; Filmar e cronometrar o episódio para mostrar ao veterinário; Anotar no diário de crises (data, hora e duração); Em casos de status ou cluster, levar o animal a um hospital veterinário o mais rápido possível (emergência). QUAL FÁRMACO ESCOLHER? Não há diretrizes baseadas em evidência científica sobre a escolha de drogas antiepilépticas (DAEs) em cães e gatos. Ao escolher uma DAE deve-se levar em consideração diversos fatores, como: Fatores específicos das DAEs: segurança, tolerabilidade, efeitos adversos, interações medicamentosas, frequência de administração. Fatores relacionados ao animal: tipo de crise epiléptica, frequência e etiologia, doenças concomitantes (ex: problemas renais/hepáticos/gastrointestinais). Fatores relacionados ao tutor: estilo de vida, aspectos financeiros. Ou seja, a escolha da DAE é determinada caso a caso. Os fármacos mais utilizados para controle de crises são o fenobarbital (FB) e brometo de potássio (KBr) devido seu longo histórico, ampla disponibilidade e baixo custo. FENOBARBITAL (FB) Eficácia Diminui a frequência de crises em 60-93% dos cães com epilepsia idiopática quando a concentração sérica está ideal. Efeitos adversos A maioria dos efeitos adversos é dose dependente. Efeitos comuns: Sedação, ataxia, polifagia, polidipsia e poliúria. Em cães, o FB é um potente indutor do complexo enzimático citocromo P450 no fígado, aumentandosignificativamente a produção hepática de espécies reativas de oxigênio, o que aumenta o risco de injúria hepática. Portanto, o FB é contraindicado para pacientes com disfunção hepática. O FB atravessa a placenta e pode ser teratogênico Alterações laboratoriais: Elevação de enzimas hepáticas, colesterol e triglicerídeos. Alterações em alguns testes de função endócrina podem ocorrer (tireoide, adrenal, e eixo hipófise-adrenal). Dose inicial recomendada 2,5-3mg/kg VO BID Essa dose será ajustada de acordo com o controle das crises, efeitos adversos e monitoramento do nível sérico. Monitoramento Nível sérico terapêutico: 15-40mg/L Ideal: 25-30mg/L >35: risco de hepatotoxicidade <15:controle ineficiente das crises Hemogramas e bioquímicas de rotina a cada 3-6 meses são indicados. Em casos de controle inadequado de crises, as concentrações séricas de FB devem ser usadas para guiar um aumento na dose. AJUSTE DE DOSES Fórmula: ou regra de três: Concentração sérica atual ------- dose atual Concentração sérica desejada ------- nova dose (X) Ex: animal sem controle das crises epilépticas, tomando a dose inicial de 3mg/kg. Na mensuração sérica, a concentração de FB foi de 15mg/L. Como ajustar a dose para que a concentração sérica fique próxima ao ideal (25mg/L)? 15mg/L ------------- 3mg/kg 25mg/L -------------- X X= 5 mg/kg OBS: pacientes com controle adequado de crises, mas com concentrações séricas abaixo da faixa terapêutica, não requerem ajustes de dose, pois essa concentração sérica pode ser suficiente para esse indivíduo. OBS: a concentração sérica desejada deve ser a menor possível associada com uma redução da frequência de crises em >50% ou ausência de crises e efeitos adversos. BROMETO DE POTÁSSIO (KBR) Eficácia O brometo é administrado como um sal de potássio (KBr). Tem um efeito sinérgico com o FB, podendo ser utilizados em conjunto caso não haja um controle efetivo de crises somente com o uso do FB. Também pode ser utilizado como monoterapia em casos de resistência farmacológica ao FB. Efeitos adversos KBr deve ser evitado em cães com disfunção renal para prevenir toxicidade secundária à redução da eliminação renal. Efeitos comuns: sedação, ataxia e fraqueza de membros pélvicos, polidipsia/poliúria, polifagia e ganho de peso. OBS: em gatos, o KBr é contraindicado, pois pode provocar uma condição inflamatória pulmonar semelhante à asma felina. Doses recomendadas Como adjuvante: 15mg/kg VO BID Em monoterapia: 20mg/kg VO BID Administrar junto à comida para prevenir irritação de mucosa gastrointestinal. Monitoramento Demora cerca de 3 meses para atingir a concentração sérica estável. Nível sérico ideal – como adjuvante ao FB: 1000-2000 mg/L Quando em monoterapia: 2000-3000mg/L ATENÇÃO NA DIETA! O brometo de potássio é excretado de forma inalterada na urina e sobre reabsorção tubular em competição com o cloreto. Portanto, fatores da dieta que afetam os níveis de cloreto (NaCl – sal), podem alterar as concentrações séricas de brometo. Altas concentrações dietéticas de cloreto aumentam a excreção de KBr, podendo encurtar sua meia-vida e resultar em falha terapêutica. Por outro lado, baixas concentrações de cloreto diminuem a excreção de KBr, podendo prolongar sua meia-vida e resultar em toxicidade. Sendo assim, cães que fazem uso de KBr devem ser mantidos em uma dieta constante para evitar flutuações séricas de KBr. OBS: Diuréticos de alça, como a furosemida, bem como fluidoterapia agressiva ou prolongada podem aumentar a eliminação de KBr, podendo resultar em falha terapêutica no controle das crises epilépticas. IMIPETOÍNA Aprovado em 2013 na Europa. Ainda não está disponível no Brasil. Metabolização hepática. Excreção fecal e renal. Dose: 10 a 30 mg/kg BID Efeitos adversos: PF, PD, sonolência, letargia, vômito, diarreia e sialorreia. Mas os efeitos são bem menores que os do FB. Falta de estudos em animais pequenos (<5 kg) Sem referências de concentrações séricas para monitorização e não há recomendações de monitoramento terapêutico pelo fabricante devido ao seu amplo índice terapêutico, que varia entre indivíduos. ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO DROGAS ANTI-EPILÉPTICAS ALTERNATIVAS (DAEA) Felbamato Gabapentina: 10 a 20 mg/kg TID Levetiracetam (Keppra®): mais efetivo como a terceira droga de escolha. 20 mg/kg VO TID-QID Estabilização em poucos dias Nível sérico: em cães não há informação disponível; em humanos, o intervalo é de 12-46ug/l e pode ser usado como orientação. Pregabalina Topiramato Zonisamida INDICAÇÕES – DAEA Epilepsia resistente aos fármacos tradicionais: Para casos em que a terapia tradicional não controla adequadamente, mesmo com o controle sérico de fenobarbital e/ou brometo; Como monoterapia quando: ocorre efeitos adversos com fenobarbital e/ou brometo Epilepsia secundária à má-formação (hidrocefalia), meningoencefalite, tumores cerebrais. CONTRAINDICAÇÕES – DAEA Felbamato: pacientes com mielosupressão Gabapentina líquida: contem xilitol (Xilitol é tóxico para cães e pode causar insuficiência hepática e hipoglicemia) OBS: todos os fármacos anti-epilépticos devem ser utilizados com cautela em animais com doenças hepáticas e/ou renais. OUTRAS TERAPIAS DIETA Dieta cetogênica com ácidos graxos de cadeia média: oferecem uma fonte alternativa de energia para melhorar a função cerebral dos cães. Proplan Purina – Neurologic Care Apenas como terapia adjuvante. CANABIDIOL Ainda em estudo. RELAÇÃO DE CONFIANÇA COM O TUTOR Com o objetivo de promover um manejo satisfatório do paciente epiléptico, os tutores precisam ser informados e educados pelo Médico Veterinário sobre: A doença do animal e a influência em sua vida diária (considerações, por exemplo, sobre deixar o animal sozinho, o que fazer quando viajar e deixar o cachorro e um canil, medos de comorbidades comportamentais etc); A necessidade de terapia com as DAEs e a compreensão de que muitas vezes é um compromisso para a vida toda do animal; O objetivo da terapia (explicado melhor anteriormente); A importância da administração regular das DAEs; O fato de que os ajustes de dose devem ser feitos apenas após consulta com o veterinário e não por conta própria; Os possíveis efeitos adversos das DAEs; A importância de um registro/diário detalhado de crises; A importância de check-ups regulares para monitorar as concentrações sanguíneas da DAE, bem como hemograma e bioquímica quando necessários; A necessidade de modulação no tratamento para atingir um controle ideal das crises; A possibilidade de ocorrência de status epilepticus e cluster, bem como a administração de DAEs adicionais em casa; Custos envolvidos; O fato de que interações medicamentosas podem ocorrer; O entendimento de que uma retirada abrupta da droga pode ser prejudicial ao animal; O fato de que a dieta (por exemplo, o teor de sal), diarreia e vômitos podem afetar a absorção das DAEs. Deve-se aconselhar o tutor a manter uma direta constante ou fazer mudanças gradualmente (procurando aconselhamento veterinário caso o animal tenha sinais gastrointestinais). STATUS EPILEPTICUS OU CLUSTER ABORDAGEM PRIMÁRIA ABC da emergência (aspiração de vias aéreas, oxigenoterapia, intubação se necessário) Diazepam intra-retal (IR) ou intra-nasal (IN): 0,5-2mg/kg OU Midazolam intra-muscular (IM) ou IN (com aplicador específico) 0,06-0,3mg/kg Cateterização venosa Bolus de Fenobarbital 3-5mg/kg IV ou IM Se controle insuficiente segundo/terceiro bolus de benzodiazepínico (Diazepam ou Midazolam) se insuficiente infusão contínua (IC) de benzodiazepínico se insuficiente bolus de propofol 1-3,5mg/kg IV seguido de IC 0,1-0,6mg/kg/min ABORDAGEM SECUNDÁRIA Monitorar parâmetros fisiológicos (PAS, hidratação, FC, FR, TºC, DU, glicemia, oxigenação, eletrólitos) Realizar exame neurológico Avaliar se há aumento de pressão intra-craniana (PIC) Se houver: Manitol 0,5-2g/kg durante 15-20min ou Salina hipertônica 7,5% (se hipotenso) Investigar causa (hemograma, bioquímica, hemogasometria) Cuidados de enfermagem Iniciarterapia com Fenobarbital (para animais que já faziam uso, dosar o nível sérico na admissão do animal e fazer ajuste de dose ou adicionar segundo fármaco) OBS: como o Diazepam é utilizado como primeira escolha na emergência, recomenda se dobrar a dose IV ou IR de Diazepam em cães tratados cronicamente com Fenobarbital. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS De Risio et al. International veterinary epilepsy task force consensus report on epilepsy definition, classification and terminology in companion animals. 2015. De Risio et al. International veterinary epilepsy task force consensus proposal: diagnostic approach to epilepsy in dogs. 2015. Bhatti et al. International Veterinary Epilepsy Task Force consensus proposal: medical treatment of canine epilepsy in Europe. 2015. Potschka et al. International veterinary epilepsy task force consensus proposal: outcome of therapeutic interventions in canine and feline epilepsy. 2015. Dewey & Da Costa. Practical Guide to Canine and Feline Neurology, 3rd Edition, 2016. Platt & Garosi - Small Animal Neurological Emergencies, 2012. Emergência (SE e cluster): informações retiradas do fluxograma cedido pela MV Yasmin Mendes.
Compartilhar