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TBL 3 – SÍNDROMES EPILÉPTICAS DANIELA FRANCO DEFINIÇÃO - Identificar pela anamnese se o paciente apresentou crise epiléptica ou um diferencial. É definida como um distúrbio cerebral caracterizado por predisposição permanente de gerar crises epilépticas e por suas consequências neurobiológicas cognitivas, psicológicas e sociais. Do ponto de vista operacional define-se epilepsia como uma doença encefálica caracterizada por uma das condições seguintes: 1. Pelo menos duas crises não provocadas (ou reflexas) ocorrendo em intervalo superior a 24 horas. 2. Uma crise não provocada (ou reflexa) e uma probabilidade de crises subsequentes semelhante ao risco geral de recorrência (pelo menos de 60%) após duas crises não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos. 3. Diagnóstico de uma síndrome epiléptica. Epilepsia é considerada resolvida para indivíduos que tiveram uma síndrome epiléptica idade- dependente mas agora passaram a idade vulnerável ou aqueles que permaneceram livres de crises por pelo menos 10 anos, sem medicações antiepilépticas pelos últimos 5 anos. Crise epiléptica é a ocorrência de sinais e/ou sintomas transitórios devidos a uma atividade neuronal anormal, excessiva e síncrona no cérebro. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: síncope, AIT, ataques de pânico, crises psicogênicas, arritmias cardíacas, migrânea e distúrbios metabólicos (hipo ou hiperglicemia, hipo ou hipernatremia). CLASSIFICAÇÃO - Caracterizar os tipos de crises: focais (simples e complexa) e generalizada, e a fisiopatologia e quadro clínico de cada uma delas. O ponto de partida nesta classificação é o Tipo de Crise; é assumido que o clínico já estabeleceu em definitivo de que se trata de uma crise epilética. As crises são classificadas como tendo início focal, generalizado ou desconhecido. Regras para classificar • Ao classificar crises, ao decidir se as crises têm início focal ou generalizado, o médico deve usar o intervalo de confiança de 80%. • Se a percepção é comprometida em qualquer ponto durante uma crise focal, ela será classificada como crise focal disperceptiva. • O primeiro sinal ou sintoma proeminente de uma crise focal deve ser usado para a classificação, com exceção da parada comportamental transitória. Uma crise focal somente será considerada uma crise de parada comportamental se este sintoma for a característica mais proeminente de toda a crise. • Clínicos são encorajados a acrescentar a descrição de outros sinais e sintomas. • É possível usar exames complementares para a classificação. • Crises podem ser não classificadas por informação inadequada ou incapacidade de inseri-la em outras categorias. CRISES FOCAIS Crises focais são divididas em perceptivas, quando a percepção de si próprio e do meio ambiente é preservada e disperceptivas ou com comprometimento da percepção quando a percepção é comprometida. Crises focais, podem ser motoras (sete subtipos) ou não motoras (cinco subtipos), e ambos os tipos podem evoluir para crises tonicoclônicas bilaterais. A crise focal surge da atividade anormal de um único hemisfério cerebral. Pode começar focal e se tornar generalizada. Simples – não há perda do nível de consciência. Complexa – há comprometimento do nível de consciência. CRISES GENERALIZADAS Crises epilépticas generalizadas são aquelas que se originam em algum ponto de uma rede neuronal e rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais. Atividade neuronal anormal nos dois hemisférios cerebrais concomitantemente. Crises generalizadas são também subdivididas em crises motoras e não motoras (ausências). Há oito subtipos de crises generalizadas motoras e quatro subtipos de ausências como não motoras. A diferenciação destes subtipos de ausências é fundamental para o estabelecimento do diagnóstico sindrômico e do prognóstico. CRISES DE INÍCIO DESCONHECIDO Crises de início desconhecido por não terem sido integralmente testemunhadas, por exemplo, que seriam referidas pela simples palavra “não classificadas” podem receber características adicionais, incluindo motoras e não motoras. Um tipo de crise de início desconhecido pode posteriormente ser classificado tanto como de início focal quanto de início generalizado quando estiverem disponíveis exames complementares como EEG, neuroimagem ou testes genéticos. CRISES NÃO CLASSIFICADAS Pode ser impossível classificar uma crise epiléptica, tanto por informações incompletas como pela natureza incomum da crise; nesse caso deverá ser chamada de crise epiléptica não classificada. Categorização como não classificada deve ser feita somente em situações excepcionais quando o clínico está seguro de que o evento é uma crise epiléptica, mas não consegue prosseguir na classificação do evento OBS Crise febril – crise convulsiva em decorrência de febre. comum em crianças (6 meses a 5 anos de idade). não é resultante de nenhuma doença do snc, mas sim da febre. Paralisia de todd: hemiplegia ou hemiparésia que surge depois de uma crise epilética e que dura desde alguns minutos a dias. ENEP: evento não epiléptico psicogênico ou crse epiléptica psicogênica. manifestações comportamentais semelhantes às da epilepsia, mas que dela diferem por não serem consequentes de descargas elétricas cerebrais anormais, podendo ter origem psicogênica. Crise de ausência é um tipo de epilepsia generalizada que geralmente se manifesta na infância. breves episódios de perda de consciência. geralmente ocorre com hiperventilação. pode haver pequenos sinais de automatismos. ESQUEMA O primeiro passo (nível 1) consiste em estabelecer se um determinado evento paroxístico é uma crise epiléptica. Uma vez que este diagnóstico tenha sido estabelecido clinicamente (ou através de exames auxiliares, como EEG, vídeo-EEG ou ambos), o próximo passo será classificar o(s) tipo(s) de crise(s). No nível 2 as epilepsias deverão ser classificadas como focais, generalizadas, focais e generalizadas (quando ambos os tipos de crises estiverem presentes) ou desconhecidas (quando for impossível classificar as crises como focais ou generalizadas). No próximo passo (nível 3) vamos tentar estabelecer o diagnóstico de uma síndrome epiléptica. Uma síndrome epiléptica é um conjunto de características clínicas, eletroencefalográficas, imagenológicas e etiológicas. Embora o esquema diagnóstico enfatize em todos os seus três níveis que é fundamental estabelecer a etiologia da epilepsia, é o quarto nível (nível 4). Em algumas circunstâncias, mesmo sem o estabelecimento da síndrome epiléptica, é possível estabelecer o diagnóstico etiológico. CAUSAS - Conhecer as principais causas de crises convulsivas de acordo com a idade, com ênfase na epilepsia do lobo temporal. GENÉTICAS: Defeito genético conhecido ou presumido. ESTRUTURAL OU METABÓLICA Infecciosa – meningite; Tóxico-metabólicas; Abuso de álcool e drogas; Abstinência de álcool e drogas; Distúrbios hidroeletrolíticos. Vasculares – AVC; Medicações que reduzem o limiar convulsivo (tramadol, fentanil, carbapenêmicos, cefalosporinas, penicilina, amitriptilina, bupropriona, haloperidol, clorpromazina, olanzapina, clozapina, etc); Trauma; Tumor. PRIVAÇÃO DE SONO. CAUSA DESCONHECIDA Não é possível determinar a etiologia da crise. OBS: causas mais comuns em crianças: infecções. causas mais comuns em > 50 anos: avc, tumor de snc. Epilepsia do lobo temporal trata-se de uma epilepsia focal. pacientes têm crises focais simples ou complexas, geralmente precedidas por auras (aura epigástrica, medo, deja-vu, alucinações gustativas, olfativas, auditivas, somestésicas, visuais). Crise provocada: É aquela gerada por uma disfunção aguda e habitualmente transitória do cérebro, afetando a excitabilidade neuronal, provocada por um fator não intrinsicamente neurológico. Tem fator causal identificável,que pode ser uma condição clínica ou sistêmica (Tabela). Uma vez removida ou tratada essa causa, o paciente não apresentará risco significativo de novas crises. Valores de corte para crises provocadas nas alterações hidro- eletrolíticas e metabólicas Crise sintomática aguda: É a crise gerada por uma lesão neurológica aguda, que ocorre nos primeiros 7 dias de instalação da afecção. Pode ser atribuída a uma patologia de instalação essencialmente aguda (como hematoma subdural ou acidente vascular cerebral) ou durante um período de atividade de doença em curso (p. ex., vasculite de sistema nervoso central, neuroinfecções). Dentre elas: • Hemorragia cerebral (hematoma intraparenquimatoso ou hemorragia subaracnóidea) • Traumatismo cranioencefálico (TCE) • Isquemia cerebral • Meningoencefalite • Abscessos cerebrais • Infecções parasitárias (p. ex., cisticercose, toxoplasmose) • Trombose venosa cerebral (TVC) – pode causar infartos venosos e hemorragias subaracnóideas • Síndrome da encefalopatia posterior reversível • Encefalites inflamatórias ou imunomediadas • Anóxia cerebral Crise sintomática remota: Crise gerada a partir de uma lesão cerebral antiga, sequelar, que leva à ocorrência de uma crise epiléptica tardiamente (classicamente, considera-se após 7 dias da lesão). Nesse caso, considerando que não houve outros fatores predispondo à crise e que o paciente apresenta lesão encefálica estabelecida, o risco de recorrência é alto e, portanto, ele se enquadrará no diagnóstico de epilepsia. • Sequela de isquemia cerebral • Sequela de hemorragia cerebral • Traumatismo cranioencefálico (TCE) prévio, com lesão sequelar no parênquima cerebral • Neurocirurgia prévia com área de encefalomalácia • Sequela de infecções do sistema nervoso central (SNC) Epilepsia é uma doença cerebral caracterizada por uma predisposição sustentada a gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais das crises. Essa definição admite que o diagnóstico possa ser firmado mesmo com a ocorrência de uma única crise não provocada, desde que seja evidenciado que o paciente tenha chance significativa de novos eventos. Assim, o risco de recorrência de uma crise epiléptica é fundamental para que seja definido o diagnóstico da doença. Do ponto de vista prático, epilepsia pode ser definida como doença neurológica que preencha uma das três situações: • Ao menos duas crises epilépticas não provocadas (ou reflexas), ocorrendo em intervalo superior a 24 horas • Uma crise não provocada (ou reflexa) e uma probabilidade de crises subsequentes que seja semelhante ao risco geral de recorrência após duas crises não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos (pelo menos 60%) • Diagnóstico de uma síndrome epiléptica conhecida INVESTIGAÇÃO - Saber como proceder a investigação etiológica do paciente que apresenta uma crise convulsiva (principalmente na urgência). ELETROENCEFALOGRAMA (EEG) no diagnóstico das epilepsias é fundamental, porque oferece sinais de distúrbio epileptiforme causado por disfunção neuronal durante o período em que o paciente se encontra assintomático, isto é, entre crises, ou durante o período ictal (registro de crises). Alguns critérios morfológicos podem ajudar na diferenciação entre atividade epileptiforme ou não epileptiforme. O registro de atividade epileptiforme interictal é resultante da soma de vários potenciais pós- sinápticos, inibitórios e excitatórios, ou seja, de um grupo grande de neurônios. A redução da negatividade intracelular devido ao influxo de Na + chama-se despolarização. Durante uma descarga epileptiforme, a membrana celular próxima do corpo neuronal atinge voltagens altas, que produz despolarização relativamente prolongada e provoca um potencial de ação. Neste momento, o EEG de escalpo registra atividade espicular. Após a despolarização, segue-se a hiperpolarização que limita a duração do paroxismo interictal, e observa- se, no registro eletroencefalográfico, uma onda lenta. O EEG interictal pode ser útil no diagnóstico das epilepsias, entretanto, mesmo quando há o registro de atividade epileptiforme inequívoca, o achado não é suficiente para estabelecer, sem correlação com o quadro clínico, o diagnóstico de epilepsia. Do mesmo modo, um traçado eletroencefalográfico normal não afasta o diagnóstico de epilepsia. O distúrbio epileptiforme pode ser localizado (ou focal) ou generalizado. Atividade epileptiforme interictal focal Epilepsia benigna com paroxismos centrotemporais: o EEG mostra espículas ou ondas agudas de alta amplitude, seguidas por ondas lentas, máximas nas regiões centrotemporais (T3, T4, C3, C4). Podem ser unilaterais ou bilaterais, síncronas ou independentes. É um exemplo de dipolo horizontal, ou tangencial, pois a origem do foco localiza-se na profundidade de um sulco, e a disposição neuronal torna possível a captação das duas extremidades do dipolo, positiva e negativa. Na montagem referencial com a média, observam- se potenciais positivos nos eletrodos anteriores, e negativos nos eletrodos posteriores. A atividade de fundo é normal, entretanto, pode ser observada uma pseudolentificação focal, caracterizada por ondas lentas focais acompanhando os paroxismos epileptiformes nas regiões centrotemporais. O sono ativa de modo marcante a atividade interictal. Fotoestimulação e hiperventilação não alteram o traçado. Epilepsia benigna com paroxismos occipitais: o traçado mostra espículas ou ondas agudas de alta amplitude, seguidas por ondas lentas, máximas nas regiões posteriores, sobretudo nos eletrodos occipitais (O1 e O2). Podem ser unilaterais ou bilaterais, síncronas ou independentes; apresentam ativação pelo sono, e são bloqueadas pela abertura ocular. Após o fechamento ocular, devem reaparecer dentro de 20 segundos. Fotoestimulação intermitente pode atenuar a atividade epileptiforme interictal, mesmo com os olhos fechados, provavelmente por produzir aferências luminosas nas regiões occipitais. A atividade de base é normal. Epilepsia do lobo temporal: o traçado mostra ondas agudas de baixa a média amplitude, ou ondas lentas, isoladas ou em trens, nos eletrodos temporais (F7, F8, T3, T4, T5, T6), zigomáticos ou esfenoidais. Podem ser unilaterais ou bilaterais, associadas à atividade de fundo normal ou com lentificação em região(ões) temporal(is). Epilepsia do lobo frontal: geralmente o traçado mostra atividade epileptiforme na região frontal, entretanto muitas vezes o traçado interictal é normal, ou o registro de atividade epileptiforme frontal é escasso. Uma das maiores dificuldades é que, assim como na epilepsia do lobo frontal, as epilepsias primariamente generalizadas também apresentam predomínio da atividade epileptiforme generalizada nas regiões anteriores do cérebro. Por outro lado, pacientes com epilepsia primariamente generalizada podem apresentar “pseudofocalidades”, sobretudo quando em uso de medicação antiepiléptica. Atividade epileptiforme interictal generalizada Encefalopatia mioclônica severa do lactente (síndrome de Dravet): no início, o traçado pode ser normal, porém, em seguida, mostra lentificação e desorganização da atividade de fundo, e complexos espículas ou poliespícula-ondas lentas irregulares, generalizadas, podendo haver atividade epileptiforme focal ou multifocal associada. Síndrome de West: o traçado mostra desorganização da atividade de fundo caracterizada por ondas lentas na faixa delta de alta amplitude, associadas a espículas e ondas agudas, seguidas ou não de ondas lentas, multifocais ou generalizadas, também de alta amplitude. Este conjunto de anormalidades caracteriza um padrão denominado hipsarritmia. Síndrome de Lennox-Gastaut: o traçado mostra lentificação e desorganização da atividade de fundo, associadasa complexos espícula onda lenta, lentos (< 2,5 Hz), generalizados, de alta amplitude, muito frequentes, e atividade epileptiforme multifocal associada. Epilepsia mioclônico-astática: o traçado pode ser normal no início do quadro, entretanto, a atividade de fundo é substituída por ondas na frequência de 4 a 7 Hz, de média amplitude, com predomínio parietal (ritmo de Doose). A atividade epileptiforme é caracterizada por complexos de espículas-onda lenta, na frequência de 2 a 3 Hz. Epilepsia/ausência infantil: o traçado mostra complexos espícula-onda lenta, de alta amplitude, regulares, generalizados (máximos nas regiões anteriores), na frequência de 3 Hz, com duração de poucos segundos. Pode ser difícil diferenciar atividade ictal de interictal quando as crises são breves. É importante testar o nível de consciência do paciente durante descargas mais prolongadas. Os últimos complexos de paroxismos maiores que 2 ou 3 segundos podem ser um pouco mais lentos, até 2,5 Hz. Hiperventilação exacerba essa anormalidade, podendo desencadear crises. Epilepsia/ausência juvenil: o traçado é semelhante ao da epilepsia/ausência infantil, entretanto, os complexos podem ser um pouco mais rápidos, em torno de 4 Hz. Epilepsia mioclônica juvenil: o traçado mostra paroxismos de complexas poliespículas seguidas de ondas lentas, irregulares e generalizadas, com predomínio nas regiões anteriores. Os complexos são de alta amplitude e na frequência de 4 a 6 Hz. Ondas agudas “focais” podem ser observadas, indicando pseudofocalidades. Atividade epileptiforme ictal atividade epileptiforme rítmica e prolongada. Não obstante algumas crises apresentarem duração muito breve, como, por exemplo, crises mioclônicas ou atônicas, grande parte das crises tem duração de vários segundos a alguns minutos. A maioria dos autores considera que um paroxismo de atividade rítmica com duração superior a 10 segundos representa atividade ictal, e, quando não há manifestação clínica evidente, esse evento é classificado como crise eletrográfica. NEUROIMAGEM Todos os pacientes com epilepsia devem ser submetidos a exame de RM ou tomografia computadorizada, exceto aqueles com formas típicas de epilepsia generalizada primária (p. ex., epilepsia mioclônica juvenil, ausência da infância) ou epilepsias focais autolimitadas da infância com clínica e EEG característicos e resposta adequada às drogas antiepilépticas (DAEs). Existem duas situações básicas para a realização de exames de neuroimagem em pacientes com diagnóstico de epilepsia. A primeira se aplica a pacientes recém-diagnosticados e aqueles com epilepsia de longa data que ainda não foram devidamente investigados. A segunda se aplica a pacientes com epilepsia de difícil controle e, portanto, candidatos a tratamento cirúrgico Mesmo pacientes com epilepsia focal de longa duração sem etiologia definida devem ser submetidos a exame de neuroimagem. A prioridade deve ser dada a pacientes com alterações focais no exame neurológico. Exames de urgência (tomografia ou RM) devem ser realizados em pacientes que apresentam as primeiras crises com o aparecimento de déficits neurológicos focais, febre, cefaleia persistente, alterações cognitivas e história recente de trauma craniano. Crises focais com início após os 40 anos de idade devem ser consideradas como possível indicação para exame de emergência. TC: tumores, malformações arteriovenosas e malformações cerebrais extensas, acidentes vasculares, lesões infecciosas e é sensível para detecção de lesões calcificadas (neurocisticercose) e lesões ósseas. Ela é pouco sensível para detectar, de modo geral, pequenas lesões corticais e particularmente lesões na base do crânio, como nas regiões orbitofrontal e temporal medial. RM: caracterizar a lesão quanto a sua natureza e comportamento evolutivo, isto é, pelo caráter progressivo (p. ex., neoplasias, encefalite de Rasmussen) ou estático (p. ex., lesões isquêmicas, malformações congênitas). ESPECTROSCOPIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (ERM) informação química de compostos que estão presentes em concentrações muito menores que a água nos tecidos. A redução da intensidade de sinal do marcador neuronal N- acetil aspartato (NAA) pode lateralizar e localizar o foco epileptogênico em pacientes com epilepsias focais, sobretudo ELT. TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE PÓSITRONS (PET) uso de glicose marcada (FDG-PET) podem demonstrar hipometabolismo focal ou regional coincidente com a área epileptogênica, sobretudo em epilepsias do lobo temporal. Este hipometabolismo pode estender além da zona epileptogênica definida pelo EEG, ou além da área de lesão estrutural, como, por exemplo, a região de esclerose medial temporal. Este hipometabolismo pode representar deaferentação ou morte neuronal, e pode “recuperar” parcialmente após cirurgia bem-sucedida. ANAMNESE Os principais objetivos durante a anamnese são: • Corroborar suspeita de evento de natureza epiléptica. • Levantar suspeita acerca de possíveis diagnósticos diferenciais • Identificar possíveis doenças clínicas e/ou neurológicas agudas que possam ser implicadas na etiologia do evento. • Reconhecer dados de história que sugiram uma possível síndrome epiléptica. Perguntas relevantes: • Qual o primeiro sinal ou sintoma (referido pelo paciente e/ou presenciado por testemunha)? Obs.: o sinal ou sintoma clínico mais precoce é o que tem maior relevância para localizar a provável área cerebral de origem da crise. • Qual a sequência de eventos durante a crise? (P. ex., primeiro houve interrupção do comportamento, seguida de movimentos mastigatórios e versão cefálica; OU mioclonias seguidas de perda de consciência e abalos generalizados.) • Quanto tempo durou a crise? • Ficou confuso ou sonolento após o término da crise? Em quanto tempo voltou ao normal? Houve afasia durante ou após a crise? Obs.: a presença de afasia pode ajudar na lateralização do evento – em geral, a presença de afasia denota crises envolvendo o hemisfério dominante. • Quais as condições em que ocorreu/eventos precipitantes? – Em vigília ou durante o sono? – Durante atividades físicas ou esforço? – Teve privação de sono na noite anterior? – Uso de álcool e/ou outras substâncias? Abstinência? – Ambiente com estimulação luminosa intermitente? – Durante refeição ou alguma outra atividade específica? – Houve cefaleia súbita associada? – Trauma craniano imediatamente antes do evento? – Usou nova medicação por algum motivo médico ou houve alteração de dose de remédios em uso? EXAME FÍSICO • Nível e conteúdo de consciência. • Linguagem (capacidade de nomear objetos, manter discurso, compreensão de comandos e perguntas). • Presença de sinais focais – déficits motores, sensitivos e atencionais (heminegligência). Tais déficits podem corresponder à paralisia de Todd (déficit pós-ictal, reversível e transitório), a sinais de patologias neurológicas agudas ou a sequelas prévias. • Fundo de olho. • Rigidez de nuca. EXAMES COMPLEMENTARES Exames laboratoriais: identificação de distúrbios hidroeletrolíticos e/ou metabólicos e de alterações sugestivas de processos infecciosos/inflamatórios, devendo fazer parte da rotina de avaliação de uma primeira crise. A dosagem de CPK pode estar aumentada no caso de crises com manifestações motoras significativas. Entretanto, ela pode estar aumentada por outros fatores (trauma, medicações de uso intramuscular, p. ex.) e um valor normal não descarta que o paciente tenha tido crises, mesmo se ela foi do tipo TCG. Exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) A punção lombar para coleta do LCR deve sempre ser considerada na investigação de um paciente com primeira crise, sendo obrigatória se houver suspeita de infecção de SNC, neoplasia e em pacientes com imunossupressão (HIV, transplantados, doença autoimune). Exames laboratoriais na investigação de primeiracrise • Glicemia • Eletrólitos: sódio, magnésio, cálcio e fósforo H • Emograma • VHS e PCR • Ureia e creatinina • TGO, TGP, amônia Gasometria CPK HIV e outras sorologias • Pesquisas de doenças autoimunes (FAN, anticardiolipina, anticoagulante lúpico etc.) • Toxicologia • Nível sérico de fármacos antiepilépticos ABORDAGEM - Saber como abordar um paciente durante uma convulsão (incluindo quando encaminhar para o neurologista). Abordagem inicial Frequentemente, o paciente chega após o término da crise, podendo estar ainda confuso ou totalmente recuperado. Se o paciente chega ainda em crise, medidas de suporte de vida, com monitorização de sinais vitais, aferição da glicemia capilar, avaliação de vias aéreas e estabelecimento de acesso periférico estão indicados. Além disso, durante o atendimento inicial, a coleta de sangue para iniciar investigação laboratorial já será realizada. Quando o paciente chega ainda em crise, deve ser instituído tratamento de urgência. A medicação indicada para abortar uma crise em curso será um benzodiazepínico. As recomendações para uso no Brasil são: Diazepam intravenoso (IV): dose inicial de 10 mg para adultos, 0,15 a 0,2 mg/kg/dose para crianças ou pacientes com menor peso; podendo ser repetida dose adicional se necessário (até duas vezes); Midazolam intramuscular (IM): dose inicial de 10 mg se > 40 kg; reduzir para 5 mg se peso entre 13 e 40 kg; não há recomendação para repetição. 1. MOV; 2. ABCDE; 3. Glicemia capilar; 4. Acesso periférico; 5. Coleta de sangue para realização de exames laboratoriais; 6. Benzodiazepínicos na Urgência – Diazepam IV com dose inicial de 10mg para adultos, podendo ser repetido se necessário ou Midazolam IM com dose inicial de 10mg se peso superior a 40kg. OBS: Em etilistas – sempre colher glicemia e repor tiamina. TRATAMENTO - Conhecer os medicamentos utilizados durante a crise e na profilaxia das convulsões (ênfase em fenitoína, fenobarbital e carbamazepina, além de ácido valpróico, topiramato e lamotrigina). A decisão de iniciar um tratamento deve levar em consideração que os FAEs também oferecem um risco potencial e podem ter impacto negativo na qualidade de vida do paciente. Esta decisão é ainda mais relevante considerando que a duração do tratamento em geral é longa. Crises epilépticas podem ocorrer em vigência de uma condição transitória e reversível, sendo denominadas crises sintomáticas agudas. Estas crises não necessariamente requerem tratamento com FAEs, mas sim controle do fator desencadeante. Crises sintomáticas agudas correspondem a até 25%-30% das crises epilépticas. A sua pronta identificação é importante, uma vez que o risco de mortalidade em 30 dias é nove vezes maior e o risco de recorrência das crises em 10 anos é 80% menor comparado com as crises epilépticas não provocadas. No caso de uma primeira crise epiléptica não provocada, as chances de recorrência variam de 31% a 56% com um tempo de acompanhamento de 2 a 5 anos. Este risco aumenta, após a segunda crise, para 73% e, depois da terceira, para 76%. Por isso, em geral o tratamento medicamentoso é instituído após uma segunda crise não provocada. A maioria das recorrências ocorre no primeiro ano e os fatores associados a maior risco incluem a presença de uma etiologia estrutural, alterações no exame neurológico e predomínio das crises durante o sono. O eletroencefalograma (EEG) é frequentemente utilizado para avaliar o risco de recorrência de crises, e a atividade epileptiforme está associada ao maior risco de recorrência. O uso de FAEs após uma primeira crise reduz o risco de crises subsequentes, entretanto o tratamento não afeta o prognóstico de controle das crises e não modifica a história natural da epilepsia. Assim, o tratamento precoce é justificável nos pacientes com vários fatores de risco para recorrência das crises ou naqueles em que a recorrência oferece potenciais consequências relacionadas com a direção de veículos, o trabalho e a segurança em geral. Existe uma ampla disponibilidade de FAEs e formas de apresentação para o tratamento das epilepsias. O princípio mais importante na escolha do FAE é selecionar a medicação mais eficaz para o tipo de crise ou síndrome epiléptica em questão. O segundo passo é considerar o perfil de efeitos adversos da medicação escolhida. Portanto, identificar se o paciente se enquadra em classes especiais, como idosos, crianças, mulheres em idade fértil ou a presença de comorbidades como depressão, migrânea, dor crônica e obesidade, auxilia na escolha do FAE mais apropriado. ESCOLHA DA MEDICAÇÃO Epilepsias focais: A carbamazepina. O uso da carbamazepina diminuiu com o aparecimento de novas medicações com perfil farmacocinético melhor. A lamotrigina é mais tolerada que a carbamazepina de liberação imediata. Entretanto, estudos avaliando a carbamazepina de liberação prolongada mostram perfil semelhante à lamotrigina e ao levetiracetam também consideradas medicações de primeira linha para o tratamento das epilepsias focais. Epilepsias generalizadas: o valproato é a medicação considerada mais eficaz para pacientes com crises generalizadas incluindo ausências e mioclonias. Levetiracetam e lamotrigina também são considerados FAEs de primeira linha neste grupo de epilepsias. O valproato deve ser evitado em mulheres devido ao risco de teratogenicidade. Crises de ausência: A etossuximida, entretanto ela não tem ação contra outros tipos de crise. OBS: Bloqueadores de canal de sódio como a carbamazepina e a fenitoína não devem ser utilizados nas epilepsias generalizadas idiopáticas, porque podem piorar as crises e induzir estado de mal epiléptico. MEDICAÇÕES Benzodiazepínicos Atuam principalmente no receptor tipo A do ácido gama-aminobutírico (GABA-A) aumentando a frequência de abertura dos canais de cloro. Os mais utilizados para o tratamento das epilepsias são o clobazam e o clonazepam. Clobazam, são geralmente utilizados na terapia adjuvante de epilepsias refratárias. O clonazepam pode ser utilizado para o tratamento de mioclonias. Carbamazepina Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com canais de sódio em estado ativo prolongando o estado de inativação rápida. Etossuximida O mecanismo de ação é por meio do bloqueio das correntes de cálcio tipo T explicando sua ação nas crises de ausência. Fenitoína O mecanismo de ação é semelhante ao da carbamazepina. Ela bloqueia os canais de sódio reduzindo o disparo neuronal de alta frequência. Muito utilizada no tratamento do estado de mal epiléptico. Não deve ser iniciada de rotina para qualquer paciente com uma primeira crise. Sua indicação é para pacientes com crises recorrentes ou que não apresentaram recuperação do nível de consciência após uma crise (suspeita de estado de mal epiléptico não convulsivo). Fenobarbital Seu mecanismo de ação é por meio da ligação com o receptor GABA-A prolongando a abertura do canal de cloro associado. Lamotrigina É um bloqueador de canal de sódio como a fenitoína e a carbamazepina. Entretanto, deve ter outros mecanismos de ação para explicar sua eficácia contra ausências. Porém para ausências é menos eficaz do que o valproato e a etossuximida. Pode ser eficaz para mioclonias em alguns pacientes e exacerbar estas crises em outros. É também utilizada para o tratamento do transtorno bipolar. lamotrigina é uma medicação de primeira linha para pacientes com epilepsias focais e generalizadas. A lamotrigina apresenta uma das mais baixas taxas de teratogenicidade podendo ser utilizada em mulheres. Entretanto, o manejo em gestantes é difícil devido a queda do nível sérico relacionada com o aumento de sua metabolização. Topiramato Apresenta múltiplos mecanismos de ação incluindo antagonismo dos receptores alfa- amino-3-hidroxi-metil-5-4-isoxazolpropiónico (AMPA)/cainato, aumento da atividade do GABA e bloqueiodos canais de sódio voltagem dependentes. É um indutor enzimático leve. É frequentemente utilizado para tratamento do transtorno bipolar, na profilaxia de migrânea e para perda de peso. O topiramato está associado a malformações incluindo fendas orais e baixo peso. Prática clínica: não é considerado medicação de primeira linha devido aos efeitos adversos. Pode ser utilizado em pacientes com migrânea e obesidade como comorbidades. Valproato (ácido valproico e divalproato) mecanismos de ação incluindo potencialização do GABA, bloqueio dos canais de cálcio tipo T (explicando a eficácia contra crises de ausência) e bloqueio de canais de sódio. Sua fração livre aumenta com o aumento da dose e com a coadministração da fenitoína que compete pela ligação proteica. O valproato é um potente inibidor enzimático reduzindo o clearance do fenobarbital, lamotrigina e do epóxido da carbamazepina. Apresenta amplo espectro de ação e pode ser utilizado para o tratamento profilático da migrânea e bipolaridade. Prática clínica: o valproato é uma medicação de primeira linha no tratamento das epilepsias generalizadas idiopáticas. Permanece como primeira escolha em homens com estas síndromes. Entretanto, o valproato não deve ser utilizado em mulheres, pois é o FAE mais teratogênico. A exposição ao valproato intraútero está também associada com redução do QI verbal e autismo. A tolerabilidade e a eficácia do valproato nas crises focais com perda de consciência parece ser inferior à da carbamazepina Crises provocadas → tratar causa base. Crises não provocadas → tratar indivíduos com predisposição à novas crises, pacientes que fizeram mais de 2 crises em mais de 24 horas ou pacientes com síndrome epiléptica estabelecida. Tratar por 12 semanas após a resolução do quadro agudo. Realizar desmame gradual se o paciente não apresentar novas crises. Iniciar um tratamento profilático para novas crises com anticonvulsionantes reduz o risco de novas crises em 35% nos próximos dois anos. Cirurgia para epilepsia do lobo temporal – refratários ao tratamento medicamentoso sendo a amigdalo-hipocampectomia transtemporal uma opção. melhora até 80% das crises. PRIMEIRA GERAÇÃO ▪ Fenobarbital; ▪ Fenitoína; ▪ Etosuximida; ▪ Carbamazepina; ▪ Valproato. SEGUNDA GERAÇÃO ▪ Lamotrigina; ▪ Topiramato; ▪ Vigabatrina; ▪ Clobazam; ▪ Oxacarbamazepina; ▪ Gabapentina; ▪ Pregabalina. TERCEIRA GERAÇÃO ▪ Lacosamida. PROFILAXIA Nos casos de crise provocada, tendo sido resolvido o fator causal, como uma hipo/hiperglicemia, por exemplo, é possível que o paciente não precise fazer uso de qualquer anticonvulsivante. Entretanto, se houver uma causa de resolução menos imediata, como um quadro de sepse em que o paciente permaneceu com disfunção neurológica durante um período da internação ou se houver uma lesão cerebral aguda (TCE, AVC), recomenda-se o uso por tempo limitado de um antiepiléptico. A princípio sugere-se um tempo médio de 12 semanas após resolução do quadro agudo, para crises sintomáticas agudas. Após esse período, dever ser considerada a retirada gradual do fármaco, se o paciente não apresentou novos episódios e conforme resultados de EEG e de TC/RM de crânio, realizados fora da fase aguda. DESCOMPENSAÇÃO - Reconhecer causas de descompensação de crises em pacientes epilépticos. Dormir mal, estresse e não tomar as medicações são os principais fatores que levam a crises em quem já tem epilepsia, além de luzes fortes e intermitentes. ESTADO DO MAL EPILÉTICO Definir estado de mal epiléptico e esquematizar o tratamento. EME é uma condição em que há atividade epileptiforme ictal anormalmente prolongada ou reentrante. Isso acontece como resultado de: 1. Iniciação de mecanismos que geram crises anormalmente prolongadas; e/ou 2. Falha dos mecanismos envolvidos na cessação da atividade epiléptica nos circuitos neurais, o que leva à perpetuação de crises. Assim, há um desequilíbrio entre os mecanismos excitatórios e inibitórios. O término de uma crise é definido pela depleção de neurotransmissores e de ATP na fenda sináptica e reservatórios intracelulares, além de alterações iônicas, mudança no equilíbrio acidobásico e aumento na modulação GABAérgica e liberação de neuropeptídeos. Antes do final da atividade elétrica epiléptica observada durante uma crise, é percebido um aumento na sincronização temporoespacial no EEG, sugerindo que há uma transição entre os dois momentos: ictal vs. interictal. Essa transição está alterada ou ausente nos pacientes com EME, que, antes de atingirem o estado pós-ictal, retomam a atividade ictal, de um modo cíclico e contínuo ou reentrante. A ativação sináptica inicialmente compensa o aumento da demanda metabólica gerada pela atividade excessiva, mas, com o passar do tempo, ocorrerá esgotamento desses mecanismos. A atividade epileptiforme sustentada desencadeia processos inflamatórios neuronais, quebra da barreira hematoencefálica e alterações sinápticas, podendo inclusive repercutir em mudança na expressão gênica. A persistência do EME acarreta alterações também na expressão de receptores de membrana, havendo internalização de receptores GABAérgicos (inibitórios) e externalização dos glutamatérgicos (excitatórios). Com isso, a condição passa a ser menos responsiva às medicações com ação gabaérgica (como benzodiazepínicos) e potencialmente mais refratária. Podem ocorrer consequências a longo prazo, com alteração na circuitaria e até morte neuronal, gerando sequelas clínicas, principalmente cognitivas. TRATAMENTO: O tratamento do EME tem como objetivo interromper as crises epilépticas, evitar lesão neuronal permanente e consequências a longo prazo e, principalmente, solucionar a causa. Sempre que se está diante de um quadro de EME, além da terapia anticonvulsivante, o médico deve preocupar-se com a etiologia do quadro, pois se não for resolvida, é muito provável que as crises sejam mais difíceis de serem controladas. Em casos de EME graves ou refratários, deve-se suspeitar que a causa não está sendo adequadamente tratada. Primeiro passo – estabilização clínica. Nessa etapa, o paciente deve ser estabilizado clinicamente. Monitorizar e atentar aos sinais vitais; avaliar necessidade de aspiração de vias aéreas e fornecer O2 suplementar durante a crise; posicionar em decúbito lateral se possível; aferir glicemia capilar. Ainda no atendimento inicial, deve-se estabelecer acesso venoso periférico e coletar amostra de sangue para exames laboratoriais. Conforme o contexto clínico, considerar administração de tiamina parenteral (se suspeita de etilismo, abstinência alcoólica ou desnutrição). Segundo passo Se crise ainda em curso, iniciar tratamento de primeira linha. Se o paciente ainda persiste em crise, chegando aos 5 minutos de duração, deve ser iniciado tratamento anticonvulsivante, já que esse é o tempo definido como T1 do ponto de vista operacional para EMEC. Nessa etapa, as drogas usadas são os benzodiazepínicos. Quando possível, a administração de benzodiazepínicos já deve ser feita em ambiente pré-hospitalar. Terceiro passo Se crise ainda persiste, proceder ao tratamento de segunda linha. Nessa etapa, o paciente entra na fase de risco de lesão persistente, ou seja, T2. Não há evidência sobre qual a melhor opção terapêutica. Quarto passo Crise ainda em curso? EME refratário – proceder ao tratamento de terceira linha. Nessa fase existe risco potencial de lesão e plasticidade neuronal patológica, justificando tratamento agressivo. A droga habitualmente recomendada como escolha inicial é o midazolam, por eficácia e segurança. O propofol é uma opção interessante, que pode ser escolhida como primeira linha em algumas situações. O tiopental é uma medicação reservada para casos graves pela maior morbidade associada ao seu uso, especialmente quando prolongado (infecções, tempo de ventilação mecânica,cardiotoxicidade). A quetamina é um fármaco promissor, antagonista glutamatérgico, que tem obtido resultados interessantes, utilizado em associação (com midazolam ou propofol), com vantagem de menor risco de depressão cardiovascular. Após instituído tratamento com drogas de infusão contínua, o manejo deve ser todo guiado pelo EEG. Somente com a monitorização eletroencefalográfica é possível ter certeza de que o paciente saiu do EME e não está tendo novas crises Estado de Mal Epiléptico é uma crise convulsiva que dura mais do que 30 minutos, ou crises recorrentes sem recuperação do nível de consciência por mais de 30 minutos. É uma emergência neurológica. Crises com tempo igual ou maior que 5 minutos ou 2 crises que não recuperam o nível de consciência entre elas → definir como Estado de Mal. Geralmente causada por má-aderência ao tratamento, lesão estrutural, causa metabólica ou tóxica. Diagnóstico a partir da clínica do paciente. Se necessário, pode-se fazer um eletroencefalograma (quando o paciente não faz convulsão e só está sonolento ou até mesmo em coma). Identificar a causa base – lesões estruturais, infecções, tumores, má aderência ao tratamento, síndrome de abstinência, uso excessivo de álcool, hipo ou hiperglicemia, hipo ou hipernatremia, sepse, uso ou overdose de drogas. Iniciar Benzodiazepínico (Diazepam EV 10 mg → não passou a crise? → + 10 mg). Se não resolver, usar Fenitoína EV 15-20mg por quilograma (até 30mg por quilograma). Pode-se usar Fenobarbital ou Ácido Valproico EV. Mesmo assim não resolveu? Sedá-lo com Midazolam, Propofol ou Pentobarbital. Se insucesso em pegar acesso venoso, realizar midazolam im. se for gestante → eclâmpsia → sulfato de magnésio. existe estado de mal epiléptico que não é convulsivo. o diagnóstico é feito pelo eletroencefalograma. é comum em pacientes que estão na uti REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: → Tratado de neurologia da Academia Brasileira de Neurologia / [organizadores] Rubens Gagliardi, Osvaldo M. Takayanagui; [ilustração Margareth Baldissara]. – 2. ed. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2019 → Medicina de Emergência: abordagem prática / Irineu Tadeu Velascos et al.]. -- 15. ed. -- Barueri, SP: Manole, 2021. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: → Definição de Epilepsia e Classificações segundo a ILAE (International League Against Epilepsy) 2017, ver slides disponíveis em: http://epilepsia.org.br/aulas/nova-classificacao- ilae-2017-slides/
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