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1 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Crises convulsiva e epilepsia PROBLEMA 1- Exame normal e paciente anormal? Estyve, um jovem da periferia de São Paulo, filho de Policiais Militares tinha o sonho de tornar-se oficial da PM e como concluinte do 2º grau com otimo desempenho escolar inscreveu-se no concurdo para a Academia de Policia Militar do Barro Branco. Após meses de cursinho, que incluia o preparo fisico para o teste de aptidão física, Estyve sentia-se preparado para o exame. Sem uso de medicações continuas ou de drogas de abuso, Estyve apresentava apenas histórico de 2 crises convulsivas na infancia que foram acompanhadas de febre durante uma pneumonia e um novo incindente há 6 meses quando após uma queda de motocicleta sofreu um traumatismo craniano encefálico sem sequelas motoras ou sensitivas. Submetido à prova teorica, foi um dos 1ºs colocados. No dia que antecedeu o teste de aptidão fisica, a ansiedade era absoluta, não conseguiu dormir e sua alimentação foi prejudicada. No dia do teste passou muito mal durante a corrida de 12 minutos, concluiu com dificuldade barra supinada, a prova de natação e os abdominais remadores apresentando fortes dores de estomago e tuvação visual. Após a corrida de 150 metros (tiro), perdeu a consciencia e apresentou uma crise convulsiva tônico-clônica. Extremamente assustado com o ocorrido procurou um neurologista para avaliação, foi submetido a um EECG. Msmo portando o exame com dignostico de normalidade foi eliminado do concurso pela Junta de saúde da Corporação sob diagnóstico de epilepsia. Sumário Sistema Límbico ............................................................................................................................................................. 2 Classificação das Crises Convulsivas .............................................................................................................................. 5 Epilepsia ........................................................................................................................................................................ 8 Síndromes de epilepsia ................................................................................................................................................ 16 Status Epilepticus ou Estado de Mal Epiléptico ........................................................................................................... 22 Objetivos da Tutoria: 1- Caracterizar são os tipos mais comuns de convulsão e suas causas 2- Caracterizar a epilepsia (combo) 3- Caracterizar as políticas públicas acerca das crises convulsivas 2 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Sistema Límbico Lobo temporal Divisões do Hipocampo ou corno de Ammon Nas epilepsias: esclerose nos campos 1 e 3, neoformação com fibras musgosas O SISTEMA LÍMBICO HISTÓRICO E CONCEITO: Na face medial de cada hemisfério cerebral, observa-se um anel cortical contínuo, constituído pelo giro do cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo (Figura 7.7). Este anel cortical contorna as formações inter- hemisféricas e foi considerado por Broca (1850) como um lobo independente, o grande lobo límbico (de limbo, contorno). Este lobo é filogeneticarnente muito antigo, existindo em todos os vertebrados. Apresenta certa uniformidade citoarquitetural, pois seu córtex é mais simples que o do isocórtex que o circunda. Em 1937, o neuroanatomista James Papez publicou um trabalho famoso no qual propunha um novo mecanismo para explicar as emoções. Este mecanismo envolveria as estruturas do lobo límbico, núcleos do hipotálamo e tálamo, todas unidas por um circuito que ficou conhecido como circuito de Papez (Figura 27.2) composto pelo hipocampo, fómix, corpo mamilar, trato mamilotalâmico, núcleos anteriores do tálamo, cápsula interna, giro do cíngulo, giro para- hipocampal e novamente o hipocampo, fechando o circuito. O conceito de Papez sobre a importância deste circuito foi reforçado dois anos depois por Klüver e Bucy que, após lesão do ápice dos lobos temporais de macacos, observaram a maior modificação do comportamento de um animal obtida até aquela época, após um procedimento experimental. Estas alterações são conhecidas como Síndrome de Klüver e Bucy e consistem no seguinte: a) domesticação completa dos animais que usualmente são selvagens e agressivos; b) perversões do apetite, em virtude da qual os animais passam a alimentar-se de coisas que antes não comiam; c) agnosia visual manifestada pela incapacidade de reconhecer objetos e animais pela visão; d) perda do medo de animais que antes causavam medo, tais como cobras e escorpiões; e) tendência oral manifestada pelo ato de levar à boca todos os objetos que encontra (inclusive os escorpiões); FIGURA 27.1 Esquema de um corte frontal do giro para- -hipocampal e hipocampo 3 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência FIGURA 27.2 Principais componentes do sistema límbico, mostrando-se também o circuito de Papez Sistema límbico Conexões intrínsecas Circuito de Papez Hipocampo fórnix corpo mamilar fascículo mamilo-talâmico núcleos anteriores do tálamo cápsula interna giro do cíngulo giro para- hipocampal hipocampo Corpo amigdaloide e área septal - Conexões entre si - conexões com o circuito de Papez Conexões extrínsecas Conexões aferentes - áreas corticais de associação (informações visuais, auditivas, somestésicas) e de projeção (olfatórias) - N. do tracto solitário e hipotálamo (sensibilidade visceral) - Formação reticular (ação moduladora) Conexões eferentes - Atuação no componente periférico (expressivo) dos processos emocionais e controle do SNA, através de conexões com o hipotálamo e a formação reticular - Hipotélamo Fórnix (hipocampo n. mamilares) Fascículo mamilo-talâmico Estria terminal (corpo amigdaloide hipotálamo) Feixe prosencefálico medial (área septal hipotálamo) - Formação reticular do mesencéfalo Feixe prosencefálico medial (área septal mesencéfalo) Fascículo mamilo-tegmentar Estria medular (área septal n habenulares mesencéfalo) 4 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Conceitos Convulsões: São manifestações clínicas neurológicas temporárias que resultam da hipersincronização elétrica das redes neurais no córtex cerebral, de modo não funcional. Crise Epilética: alteração paroxística da função neurológica decorrente se sincronização anormal e excessiva da excitação de grupos de neurônio do cérebro Crise convulsiva é uma alteração aguda e transitória da função cortical cerebral caracterizada por descargas neuronais anômalas, excessivas e sincronizadas (atividade elétrica anormal). Dependendo da localização e extensão do processo, um amplo espectro de manifestações clínicas pode ocorrer, desde os típicos abalos musculares até experiências sensoriais ou psíquicas subjetivas. Tipo especial de crise epiléptica que se caracteriza por episódio de contração muscular excessiva ou anormal, usualmente bilateral, que pode ser sustentada ou interrompida. (Crise epiléptica + Atividade Motora) Apresenta movimentos ritmados, tônico-clônicos, sendo a apresentação mais comum a crise convulsiva tônico- clônica generalizada. TODA crise convulsiva é uma crise epiléptica! Dois tipos: Provocada (insulto agudo AVC, etc.) Não provocada: (espontâneas) Crise epiléptica + atividade motora Epilepsia é um termo genérico (e não uma doença específica) que se refere ao fenótipo de crises convulsivas recorrentes e espontâneas, isto é, não necessariamente provocadas por algum fator reversível ou evitável. Por definição, épreciso que tenha havido duas ou mais crises convulsivas espontâneas (num intervalo > 24h) para se estabelecer o diagnóstico de epilepsia. 2 crises não provocadas, intervalo > 24 horas Pct com alta chance de recorrência (60%) (tumo cerebral, MAV) Síndrome epiléptica Não provocadas por injuria sistêmicas ou nerológicas “Cura”: sem crises a mais de 10 anos e sem medicação a mais de 5 anos Síndrome Epiléptica: Conjunto de características, incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem a ocorrer juntos. Alterações clínicas + achados EEG semelhantes. Uma síndrome epiléptica compreende vários sinais e sintomas que definem uma condição epiléptica única que pode apresentar etiologia diferentes. Estado de Mal Epilético: Crise prolongada (mais de 5 minutos de duração) ou múltiplas crises sem retorno completo do nível de consciência, sendo caracterizado como uma emergência. Síndrome convulsiva ≠ síndrome epiléptica 5 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Classificação das Crises Convulsivas Instalação: Focal ou generalizada Semiologia da crise: Apresentação clínica Etiologia: causa Instalação As crises podem ser FOCAIS/parcial (apenas um hemisfério cerebral é afetado) ou GENERALIZADAS (ambos os hemisférios são afetados desde o início do quadro). Crises focais podem sofrer um processo de generalização secundária. Crises focais/parciais São descritas conforme o tipo de manifestação predominante (motoras, sensoriais, autonômicas, cognitivas, comportamentais) “iniciadas em redes neurais limitadas a um hemisfério” - Parciais simples - Parciais complexas - Secundáriamente generalizada Crises Generalizadas “Iniciadas em algum local de uma rede neuronal com rápido envolvimento de redes distribuídas bilateralmente” - Ausência (típica x atípica); ausência “típica” também é chamada de pequeno mal - Tônico-clônica, também chamada de grande mal - Clônica - Tônica - Atônica - Mioclônica Crises não classificáveis - Espasmos epilépticos - Crise de início desconhecido, pode ainda apresentar evidencias que a define com características motoras (ex. tônico-clônica) ou não motora (ex. parada comportamental) Crises focais/ parcial Surgem a partir de redes neuronais restritas ou amplas, mas sempre dentro de um único hemisfério cerebral. Podem ou não ser acompanhadas de alteração da consciência. O EEG pode ser normal no período entre as crises ou apresentar ondas epileptiformes basais. Nível de consciência: Perceptiva/ Simples: consciência preservada Não perceptiva/ disperceptiva/ Complexa: Com comprometimento do nível de consciência Manifestações motoras: Automatismo Manifestações estereotipadas Ex. mastigação Atônica Perda do tônus muscular Tônica Hipertonia muscular Clônica Abalos Mioclônica Abalos breves e rápidos Hipercinética Movimentos rápidos Espasmos epiléticos “Susto” Manifestações não motoras: Autonômico Palidez, sudorese Cognitivo Alteração de linguagem, sensação de deja’vu Perada comportamental Emocional Ansiedade, medo Sensitivo Parestesia, hipoestesia Crises focais SEM sintomas discognitivos: As manifestações dependerão da região cortical afetada, estando a consciência preservada. Exemplo clássico é o do foco convulsivo localizado na área que controla os movimentos da mão no córtex motor primário. Neste caso, o paciente apresenta clônus (movimentos repetitivos de flexão/extensão) da mão contralateral. Como a área representativa da mão é adjacente à área da face no homúnculo de Penfield, a ampliação do foco convulsivo pode afetar também a face contralateral. Um EEG realizado neste momento detecta ondas epileptiformes restritas àquela região da convexidade cerebral. A expansão gradual (ao longo de segundos ou minutos) da atividade convulsiva, evidenciada por alterações motoras correspondentes, é conhecida como marcha Jacksoniana. Em geral, a atividade convulsiva é contida pela hiperativação reflexa de neurônios inibitórios no entorno do foco. A crise focal motora uma vez cessado o clônus sobrevém paralisia daquela região, a clássica paralisia de Todd (“pós-ictal”), que pode durar minutos ou horas, até que o reflexo inibitório se esgote. Quando o foco não consegue ser contido, tem-se o quadro conhecido como epilepsia parcial contínua. Crises convulsivas focais de caráter “não motor” (ex.: parestesias, alterações visuais, auditivas, psíquicas, autonômicas) são genericamente chamadas de auras. Crises focais COM sintomas discognitivos As manifestações também dependem da região cortical afetada, mas o paciente perde a consciência. Tais manifestações aparecem antes, durante ou depois da perda de consciência. No modelo clássico, as crises focais com sintomas discognitivos se iniciam com uma aura (ex.: sensação de cheiro forte, como borracha queimada ou querosene), que geralmente é estereotípica para cada paciente. Em seguida vem uma súbita “parada comportamental”, sendo frequente que ocorram automatismos nesse momento (automatismos são movimentos que fazemos sem precisar pensar, representando programas motores básicos armazenados em nosso cérebro, como piscar os olhos, mastigar, engolir etc.). Cessada a crise o paciente costuma “voltar” confuso, levando de minutos a horas para se recuperar. Amnésia anterógrada (a partir do início do evento) ou mesmo afasia (se o hemisfério afetado for o dominante) são comuns no período pós-ictal. Crises focais que generalizam O paciente inicia com alguma manifestação focal (motora ou aura) que em seguida se transforma numa crise generalizada, 6 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência habitualmente do tipo tônico-clônica. É importantíssimo diferenciar esse tipo de crise da crise generalizada primária (aquela que já começa com acometimento simultâneo de ambos os hemisférios cerebrais) uma vez que as condutas diagnósticas e terapêuticas serão completamente diferentes para cada caso. Crises generalizadas Acredita-se que as crises generalizadas tenham a sua origem em algum ponto do cérebro, porém passam a ocupar imediata e rapidamente redes neuronais em ambos os hemisférios. O que acontece nestes casos é a IMEDIATA disseminação da crise, sem dar tempo para a ocorrência de manifestações focais. Podem ser motoras e não motoras (ausência) Manifestações motoras em ambos hemisferios Automatismo Manifestações estereotipadas Ex. mastigação Atônica Perda do tônus muscular Tônica Hipertonia muscular - contração muscular mantida com duração de poucos segundos a minutos Clônica Abalos clônicos repetitivos Mioclônica Abalos breves e rápidos Hipercinética Movimentos rápidos Espasmos epiléticos “Susto” Crises de ausência típicas As crises de ausência típicas caracterizam-se por lapsos breves e súbitos da consciência, sem perda do controle postural. Em geral, a crise dura apenas alguns segundos, a consciência retorna tão subitamente quanto foi perdida e não há confusão pós-ictal. Embora a breve perda da consciência possa não ser evidente clinicamente ou ser a única manifestação da descarga epiléptica, as crises de ausência em geral acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos. As crises de ausência típicas estão associadas a um grupo de epilepsias geneticamente determinadas que começam em geral na infância (entre 4 e 8 anos) ou no início da adolescência e são o principal tipo de crise em 15 a 20% das crianças com epilepsia. As crises podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência. A marca eletrofisiológica das crises de ausência típicas é uma descarga em ponta-onda generalizada simétrica de 3Hz, que começa e cessa bruscamente,sobre um EEG de base normal. (Padrão espicula onda lenta bilateral e síncrona) Crises de ausência atípicas As crises de ausência atípicas exibem características que as distinguem das manifestações clínicas e eletrofisiológicas das crises de ausência típicas. Por exemplo, a perda de consciência tem duração maior e início e fim menos abruptos, e a crise acompanha-se de sinais motores mais evidentes que podem incluir características focais ou de lateralização. O EEG mostra um padrão lento e generalizado de ponta-onda, com frequência ≤ 2,5 por segundo, além de outros tipos de atividade anormal. As crises de ausência atípicas costumam associar-se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. Além disso, em comparação com as crises de ausência típicas, apresentam pior resposta ao tratamento com anticonvulsivantes. Crises tônico-clônicas generalizadas As crises tônico- clônicas de início generalizado são o principal tipo de crise em cerca de 10% de todas as pessoas com epilepsia. A crise costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso prévio. A fase inicial da crise costuma ser de contração tônica dos músculos de todo o corpo, fato responsável por diversas características clássicas do evento. A contração tônica dos músculos da expiração e da laringe no início da crise produz um lamento alto, ou “grito ictal”. A respiração é prejudicada, as secreções acumulam-se na orofaringe e surge cianose. A contração dos músculos da mandíbula pode levar o paciente a morder a língua. Um aumento acentuado do tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e do tamanho das pupilas. Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da crise epiléptica evolui para a fase clônica, produzida pela superposição de períodos de relaxamento muscular sobre a contração muscular tônica. Os períodos de relaxamento progressivamente aumentam até o final da fase ictal, a qual costuma durar não mais que 1 minuto. A fase pós- ictal se caracteriza por ausência de responsividade, flacidez muscular e salivação excessiva que pode causar respiração ruidosa e obstrução parcial das vias respiratórias. Nesse momento, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal. Os pacientes gradualmente recuperam a consciência em alguns minutos ou horas e, durante essa transição, há um período de confusão pós-ictal. Mais tarde, os pacientes queixam-se de cefaleia, fadiga e mialgia, que podem durar muitas horas. Crises atônicas As crises epilépticas atônicas se caracterizam por perda súbita de tônus muscular postural com duração de 1 a 2 segundos. A consciência é brevemente prejudicada, mas não costuma haver confusão pós-ictal. Uma crise muito breve pode gerar apenas queda rápida da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, enquanto uma crise mais longa leva o paciente a cair. O EEG evidencia descargas em ponta- onda breves e generalizadas, seguidas imediatamente por ondas lentas difusas que se correlacionam com a perda do tônus muscular. Crises mioclônicas A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve que pode comprometer uma parte ou todo o corpo. A mioclonia patológica é vista com mais frequência associada a distúrbios metabólicos, doenças degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica. Embora a distinção de outras formas de mioclonia seja imprecisa, as crises mioclônicas são consideradas eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por disfunção 7 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência cortical (versus subcortical ou espinal). O EEG pode mostrar descargas bilateralmente sincrônicas em ponta- onda simultâneas à mioclonia, embora aquelas possam ser mascaradas por artefato de movimento. Classificação dos Tipos de crises da ILAE 2017 Esquema simplificado 1-Início focal Perceptivas AWARE - Início motor - Início não motor - focal evoluindo para tônico clônica bilateral Disperceptivas IMPA/RED AWARENESS 2-Início generalizada Motoras: tônico-clônicas, outras motoras Não motoras (ausência) 3-Início desconhecido Motoras: tônico-clônicas, outras motoras Não motoras (parada comportamental) 4-Não classificada Classificação dos Tipos de crises da ILAE 2017 Esquema expandido 1-Início focal Perceptivas Disperceptivas - Início motor: automatismo, atônicas, clônicas, espasmos epilépticos, hipercinética, mioclônicas, tônicas - Início não motor: autonômicas, parada comportamental, cognitivas, emocionais, sensoriais - focal evoluindo para tônico clônica bilateral 2-Início generalizada Motoras: tônico-clônicas, clônicas, tônicas, mioclôncicas, mioclono-tônico- clônicas, mioclono-atônicas, atônicas, espasmos epilépticos. Não motoras (ausência): típicas, atípicas, mioclônicas, mioclonias palpebrais. 3-Início desconhecido Motoras: tônico-clônicas, espasmos epilépticos Não motoras: parada comportamental 4-Não classificada AURA: fases consciente de sensações motoras, sensoriais ou autonômicas, ou, sintomas físicos que precedem a convulsão focal discognitiva ou generalizada 8 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Epilepsia Definição de Epilepsia Crises convulsivas recorrentes não provocadas por injurias sistêmicas ou neurológicas. 2 ou mais crises NÃO provocadas em um intervalo > 24h 1 crise: Paciente com alta chance de recorrência, por exemplo, alterações estruturais (tumor cerebral, MAV) Síndrome Epiléptica (alterações clínicas + achados EEG semelhantes) Epidemiologia Estima-se que há mais de 50 milhões de pessoas com epilepsia no mundo. A prevalência na população mundial encontra-se entre 1,5 e 30 casos para cada mil habitantes. É a 3ª principal contribuinte para o ranking mundial de doenças por distúrbios neurológicos. A incidência tende a ser mais alta em faixas etárias mais jovens (primeira infância) e em idades entre 50 e 60 anos. Classificação segundo Instalação Focal ou parcial Surge de uma atividade elétrica neuronal anormal unifocal ou multifocal, mas de apenas um hemisfério cerebral. Simples: não há alteração no nível de consciência Complexas: há comprometimento do nível de consciência Manifestações motoras: automatismos, atônica, tônica, clônica (abalos), mioclônica (abalos rápidos e curtos), hiperciética, espasmos epilépticos. Manifestações não-motoras: Autonômico Pálido, sudoreico Cognitivo Alteração de linguagem, dejavú Emocional Ansioso, medo Sensitivo parestesias, hipoestesias, etc. Parada Comportamental Pode começar focal e se generalizar O EEG interictal mostra descargas epileptiformes focais, mas o diagnóstico deve ser feito com base nos dados clínicos. Existem várias autolimitadas (descargas contratemporais). Generalizada Atividade neuronal anormal nos dois hemisférios cerebrais. Principalmente manifestações motoras nos dois lados do corpo: automatismos, atônica, tônica, clônica (abalos), mioclônica (abalos rápidos e curtos), hiperciética, espasmos epilépticos. Caracterizada pela apresentação de atividade de complexos de espícula-onda generalizados no EEG. O diagnóstico é feito com base nos dados clínicos, corroborados pelo achado de descargas interictais típicas no EEG. Epilepsias generalizadas idiopáticas/genéticas: Epilepsia ausência da infância Epilepsia ausência juvenil Epilepsia mioclônica juvenil Epilepsia com crises tônico-clônicas Combinada Um mesmo paciente apresenta tanto crises focais como generalizadas. O EEG interictal pode mostrar tanto espícula-onda generalizada como descargas epileptiformes focais (síndromes de Dravet e de Lennox gastaut. Desconhecido: incapaz de determinar o tipo. Etiologia: Genéticas: Defeito genético conhecido ou presumido Crises são os sintomas fundamentais do distúrbio Estrutural/ metabólica: Infecciosas (meningite, tuberculose, HIV) Vasculares AVCi ACVh Tóxico-metabólicas Traumáticas Abstinência ou abuso de substâncias Tumorais Imune Causa desconhecida Fisiopatologia Ocorrem descargas neuronais excessivas e sincrônicas provocadas por estímulo exctatório, mediado principalmente pelo glutamato (principal neurotransmissor excitatório) ou pela falta da inibição mediada pelo GABA (neurotransmissor inibitório). O sódio, o cálcio e o potássio são íons carregados positivamente, enquanto o cloreto é o principal íon negativo. Desse fluxo iônico através da membrana neural, produzem- se potenciais elétricos (potenciais de membrana). Vias excitatórias: influxo de Na e Ca para dentro da cél Vias inibitórias: influxo de Na e saída de K Esses potenciais dependem da quantidade de cada tipo de íon que passa pela membrana e são mantidos por sistemas que envolvem a bomba de sódio/potássio e o controle da abertura dos canais iônicos. Ou seja, qualquer fator que interfira com o potencial de excitabilidade dos neurônios pode causar convulsões. As convulsões podem ser geradas por aumento da excitação na transmissão sináptica e por picos de cálcio nos principais neurônios corticais excitatórios, que utilizam o glutamato como neurotransmissor. Além disso, alterações celulares incluem mudanças fenotípicas e funcionais nos neurônios, células da glia e vasos sanguíneos as quais podem levar à desregulação da barreira hematoencefálica. Com o dano à barreira hematoencefálica, macrófagos circulantes extravasam para o parênquima 9 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência cerebral, contribuindo para a inflamação e perda de células neurais. Além disso, alterações epigenéticas contribuem para modificações no canal iônico e nos receptores neuronais que controlam o limiar de excitabilidade. Essas alterações diminuem o limiar convulsivo, contribuindo assim para o início e progressão da epilepsia. Apesar da causa de a epilepsia ser muitas vezes desconhecida, convulsões podem ser o resultado de quase qualquer insulto que perturbe a função cerebral (trauma, doenças infecciosas, auto-imunes, genéticas). Principais fatores envolvidos na epileptgênese: Eventos intrínsecos da membrana de determinadas células. O grau de desinibição da população neuronal. Presença de circuitos recorrentes excitatórios. Modulação da concentração de íons transmissores no espaço intercelular Presença de interações elétricas entre os neurônios. Diagnóstico Avaliação Inicial: História clínica + anamnese + exame físico ANAMNESE: Inicialmente, deve-se caracterizar o evento, diferenciando crise epilética de eventos paroxísticos não epiléticos. Os principais diagnósticos diferenciais de uma crise convulsiva são sincopes e crise convulsiva psicogênica. Devem-se detalhar os eventos, caracterizando os sintomas iniciais e a sequência em que ocorrem. Em seguida, deve-se diferenciar a manifestação como crise aguda sintomática, crise única ou epilepsia. Na anamnese, perguntar sobre: Aura comum (sintoma que pode ser relatado pelo paciente); Sensação de epigastralgia; Déjà vu (sensações que dizem que ele vai ter a crise, por exemplo, boca amarga); Automatismo; Postura anormal unilateral; Parada comportamental/ olhar fixo; Hiperpnéia; Estímulos luminosos. Antecedentes Pessoais= história de crise febril, idade de início das crises, história de TCE (meningite), uso de medicações, uso de álcool e drogas, imunossupressão. EXAME FÍSICO: Pacientes com epilepsia apresentam frequentemente queixas na esfera cognitiva (especialmente memória, linguagem, atenção, concentração). Comorbidades psiquiátricas (depressão, distúrbios ansiosos, transtornos psicóticos) são mais frequentes em epilépticos do que na população em geral. Exames: Glicemia, rastreio infeccioso, alterações hidroeletrolíticas (sódio), perfil toxicológico Líquor quando suspeita de infecção do SNC Neuroimagem: alterações estruturais que causam epilepsias Eletroencefalograma: Caracterização do foco epiléptico Síndrome específica Eletrocardiograma: exclusão de diagnósticos diferenciais. RM: escolha em crianças, jovens e adultos, a RM é particularmente importante naqueles: Que desenvolvem epilepsia antes dos 2 anos de idade ou adulto Sugestão de início focal na história, exame ou EEG (a menos que haja evidencia clara de epilepsia focal benigna) Apreensões continuam apesar da medicação de 1ª linha Diagnósticos diferenciais Síncope Arritmias cardíacas AIT Migrânea Ataques de pânico Crises psicogênicas Distúrbios metabólicos Comorbidades: Várias epilepsias são associadas com comorbidades como: problemas de aprendizado, psicossociais e comportamentais. Estas variam em tipos e gravidade. Nas mais graves podemos encontrar: déficits motores como paralisia cerebral ou deterioração na marcha, transtorno de movimento, alterações de sono. Encefalopatia epiléptica: Aquela em que a atividade epiléptica por si contribui para comprometimentos cognitivos e comportamental grave, além daqueles que seriam esperados pela patologia isolada. Pode causar estagnação ou regressão no desenvolvimento. Tratamento: A escolha da DAE (droga anticonvulsivante) se baseia no tipo de crise epiléptica ou preferencialmente no tipo de epilepsia ou síndrome epiléptica que o paciente apresenta. Em geral as concentrações séricas de DAE podem ser usadas como um guia para avaliar a eficácia, otimizar a terapia, avaliar adesão ou eliminar interação medicamentosa. Lembrar: monitorados os níveis séricos, além de exames hepáticos e renais. Crises provocadas TRATAR A CAUSA BASE Não provocadas: INÍCIO DE FÁRMACO ANTIEPILÉPTICO: Predisposição a novas crises > 2 crises com uma distância > de 24h entre elas Síndrome epiléptica estabelecida 10 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Fármacos antiepilépticos: - Medicamentos que diminui a frequência e/ou a gravidade das convulsões em pct com epilepsia - Tratar os sintomas de convulsões, não a condição epiléptica subjascente Objetivo: maximizar a qualidade de vida minimizando as convulsões e os efeitos adversos dos medicamentos - Tentar utilizar o fármaco com menos efeitos adversos - Priorizar a monoterapia em mínima dose efetiva até dose máxima tolerada Controlar nível sérico das drogas e monitorização hepática Efeitos desejados e indesejados no órgão alvo: Eficácia – controle das crises Toxicidade – efeitos adversos (tontura, ataxia, náusea, etc) Características farmacocinéticas das principais drogas anticonvulsivantes (DAE) Biodisponibilidade Fração da droga administrada que chega a corrente sanguínea. Drogas que são feitas por via venosa alcançam plenamente a acorrente sanguínea. Distribuição das drogas pelo tecido. Meia – vida O nível sérico estável da droga é alcançado após cinco meias – vidas. É necessário saber porque alguns fármacos só vão conseguir alcançar o nível sérico terapêutico, estado da droga depois de 4 a 6 meia – vidas. Para controle de crise na fase aguda é necessário fármacos com meia vida curta, depois de controlado o trabalho com fármaco de meia vida mais longo. Fármacos com meia vida mais longa demoraram mais tempo para atingir o nível sérico instalado da droga. Via de administração grau de absorção na emergência IV mais rápida a absorção. Ligação proteica É necessário saber o grau de nutrição do paciente, os que tiverem com desnutrição proteica terão uma quantidade muita alta da droga disponível na circulação sanguínea porque não tem proteína para se ligar então poderão alcançar o efeito toxico rapidamente.Metabolismo (hepático: fase I e fase II) Excreção (hidrossolubilidade – renal) Conjugação com ácido glucorônico Quanto mais conjugado com ácido glucorônico menor a biodisponibilidade Alterações no metabolismo ao longo do tempo Indução: capacidade de uma droga de aumentar a depuração de outra ou de si mesmo. (auto – indução: carbamazepina) ou com politerapia (indução ou inibição enzimática). Por isso pct ao iniciar com a carbamazepina pode convulsionar nas 1ªs doses Terapia combinada (Eficácia x tolerabilidade – efeito aditivo, infra aditivo e supra aditivo) Farmacocinética: 1ª momento: absorção (via e composição do veiculo) – pico máximo 2º pico sérico cai – fase rápida (distribuição) e fase lenta (metabolização e excreção) 3º meia vida: pico sérico máximo/2 (após completada a absorção e distribuição) 4º nível sérico estável da droga (após 5 meias-vidas) = nível terapêutico na circulação sanguinea 1ª geração: Fenobarbital, fenitoina, etosuximida, carbamazepina, valproato 2ª geração: Lamotrigina, topiramato, vigabatrina, clobazam, oxcarbamazepina, levetiracetam, gabapertina e pregabalina 3ª geração: Lacosamida Crises focais: Carbamazepina, fenioina, lamotrigina, topiramato Crises generalizas Valproato de sódio, lamotrigina, etossuximida. Canais de Ca e GABA Contra indicação: Carbamazepina, pois ela aumenta a indução do ác. valproico Carbamazepina Bloqueador de canal de Na e discreta ação anticolinérgica, droga de baixo custo, usada em crises focais ou generalizadas em pacientes com mais de 1 anos Valproato Ação gabaérgica, bloqueio do canal de cálcio tipo T e bloqueio do canal de sódio, causa aumento do tempo de sangramento, também utilizado como estabilizador de humor, usado em 11 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência pacientes com mais de 10 anos e com qualquer forma de epilepsia. Topiramato Bloqueador do canal de Na, Ca, K., gabaérgico, não é bem tolerado, não tem efeito no citocromo P450, amplo espectro de ação. Lamotrigina - bloqueador do canal de sódio, - ↓ ação do glutamato Inibe a via excitatória Não tem efeito no citocromo P450 Fenobarbital - Atua nos canais de Na e Ca (bloqueando as vias excitatórias) - ↑ ação do GABA (↑ação da via inibitória) *Pode ocorrer associação medicamentosa Carbamazepina + lamotrigina = efeitos adversos neurotóxicos Alterações em uso de anticoncepcionais Lembrar que as drogas tem o poder de ↑ ou ↓ a concentração plasmática de outras - AED inibidores Valproato UDP glucuronil tranferase ↑ a concentração de Lamotrigina e Lorazepan no plasma. CYP2C19 ↑ a concentração de feniltoina e fenobarbital no plasma. Topiromato e Oxcarbazepina CYP2C19: ↑ a contração de fenitoina Felbamate CYP2C19: ↑ concentração de fenitoina e fenobarbital no plasma. Farmacinética em gravidas Aumento da distribuição. Albumina sérica inferior Metabolismo rápido Dose mais alta, mas provavelmente menor do que o previsto pelo nível total (medir o nível total) Considerar uma dosagem mais frequente Ajustar dose Efeitos adversos agudos e relacionados com a dose de AEDS Gastrointestinais Náuseas, pirose Alteração laboratorial – leve a moderada Hiponatremia (Pode ser assintómatico) Aumento ALT e AST Leucopenia Trombocitopenia Ganho de peso/ mudança de apetite Neurológico / psicológico Tremor Parestesia Diplopia, visão embaçada Mudança da libido Mudança de humor ou comportamento Instabilidade, descoordenação, tontura Sedação, fadiga Efeitos adversos idiossincrásica (não é esperados, mas acontece) Reações anafláticas, ash cutâneo Sinais de Síndrome de Stevens – Johnson Hepatite medicamentosa Primeiros sintomas: dor abdominal, vomito e icterícia Febre e envolvimento da membrana mucosa Efeitos adversos de longo prazo Neurológico Neuropatia Síndrome Cerebelar Efeitos endócrinos/ metabólicos Vitamida D osteomalacia, osteoporose Folato anemia, teratogênese Alteração metabolismo crescimento: Engrossamento facial, Hirsutismo, Hiperplasia gengival O paciente é considerado livre de crises quando elas não ocorrem por pelo menos 2 anos, em vigência de tratamento com dose inalterada. Pacientes com crises após este período são refratários. Crise resolvida = 5 anos sem medicação. Epilepsia refratária a 3 tratamentos medicamentosos indicação cirúrgica. 12 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Medicamentos FENOBARBITAL (PB) Farmacocinética A absorção é lenta e a ½ vida especialmente em RN podendo ser usado 1x/dia. É metabolizado no fígado e no sistema P450, e é um indutor enzimático. Induz o metabolismo da teofilina, cumarínicos, anticoagulantes, esteroides (incluindo contraceptivos orais), antipirina, aminopririna, digoxina, ciclosporina e ATC, ↓ assim os níveis plasmáticos e terapêuticos. Eficácia A principal indicação é em crises generalizadas ditas convulsivas, especialmente as tônico-clônicas. É usado também em crises focais com eficácia comparada a da Carbamazepina (CBZ) e da Fenitoína (PTH). É a droga de escolha para o TTO de crises neo-natais e tem importante ação no estado de mal epiléptico. Tolerabilidade e efeitos colaterais Por ser um barbitúrico, causa sedação, que pode diminuir ou mesmo desaparecer com o uso. Os principais efeitos colaterais são os distúrbios cognitivos e comportamentais, sendo que em adultos são referidos fadiga, desatenção e cansaço. Na infância o isso fica limitado. A hiperatividade é comum, especialmente em crianças pequenas e já hiperativas. Distúrbio cognitivo ocorre e é tido por muitos como severo, não pela sua intensidade, mas pela possibilidade de estar associado a diminuições do QI, tanto durante o uso, como após a sua suspensão especialmente quando usado cronicamente em crianças pequenas FENITOÍNA (PHT) Farmacocinética É indutora enzimática, diminuindo os níveis séricos de outras DAE bem como de anticoagulantes e de anticoncepcionais orais. Cinética de ordem zero. Na infância, em especial nos RN e lactentes, sua farmacocinética dificulta muito o seu uso. A biodisponibilidade e baixa e o metabolismo mais rápido, aliados ao fenômeno da cinética de ordem zero, fazem com que pequenas alterações da dose determinam importantes alterações do nível sérico, podendo determinar subitamente intoxicação oor subdosagem Eficácia É usada em crises focais e generalizadas ditas convulsivas, importante ação no TTO do estado do mal epiléptico convulsivo e crises neonatais. È importante salientar que pode piorar crises mioclônicas e de ausência Tolerabilidade e efeitos colaterais Está associada a amplo espectro de efeitos adversos que podem depender ou não da dose. Efeitos que independem da dose: observam-se rash, intolerância a carboidratos, deficiência de ác. fólico, neuropatia periférica, deficiência de Vit.D, osteomalácia, LES. Efeitos que dependem da dose: nistagmo, borramento visual, diplopia, tontura, sonolência, letargis, coma, febre, náisea, vômitos, espessamento gengival, confusão mental, alterações de humor, depleção de ác. fólico, osteomalácia, hiperglicemia. O uso EV pode determinar: hipotensão, bradicardia e arritmias cardíacas relacionadas á velocidade de infusão, além de fenômenos locais, como irritação venosa e troboflebite relacionado ao calibre da veia. Sinais de toxicidade: ↑ da frequência das crises e nas doses mais altas, sinais piramidades como distonia, movimentos atetóide e coreiformes e raramente mioclonias. O TTO crônico com altas doses de PHT pode levar a encefalopatia irreversível CARBAMAZEPINA (CBZ) Farmacocinética É um importante indutor da atividade enzimática. Acelera o metabolismo doshormônios, tanto endógenos como exógenos, de corticoides, teofilina, haloperidol entre outros. As interações com outras DAE são bastante complexas, fazendo com que ela deva de preferência ser usada em monoterapia. É ainda auto-indutora do sistema enximático responsável pelo seu metabolismo, de modo que após as 1ªs semanas de TTO, ocorre uma queda na sua concentração sanguínea, o que pode acarretar recorrência das crises e necessidade de ajuste da dose Eficácia A CBZ é considerada droga de 1ª linha no TTO de crises focais e tônico-clonicas generalizadas, principalmente as secundariamente generalizadas. Juntamente com a PHT constitui a droga de 1ª escolha para crises focais sendo geralmente melhor tolerada. Como a PHT, a CBZ pode piorar as crises de ausência ou mioclônicas Tolerabilidade e efeitos colaterais É considerada uma droga segura e sua grande vantagem é que menos frequentemente determinas distúrbios cognitivos. Os principais efeitos colaterais são dose dependente: diplopia, visão borrada, sonolência, cefaleia, náuseas, e dor de estomago costumam desaparecer com o uso continuado. A introdução lenta, pode em alguns pacientes evitar o desenvolvimento da neurotoxicidade e consequentemente os efeitos colaterais. Um dos maiores problemas da CBZ é o rash cutâneo, que ocorrem em 5- 10% dos pct, mas que desaparece com a suspensão da droga. Efeitos severos, como a Sd. de Stevens-Johnson, são mais raros Efeitos endócrinos como a hiponatremia e retenção de água ocorrem devido a liberação ou potencialização do hormônio antidiurético. 13 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Como os sintomas da hiponatremia, tontura, cefaleia, sonolencia e náusea podem mimetizar os efeitos tóxicos da CBZ é recomendável a monitorização do Na plasmático em pct que recebem a CBZ. Esta monitorização é ainda mais importante em pct idosos devido a possibilidade de ocorrência de astenia. OXACARBAMAZEPINA (OCBZ) Farmacocinética É metabolizada no citosol celular, sofrendo redução e, seu principal metabólito, o derivado monoidróxido (MHD), é o responsável maior pelo seu efeito farmacológico, assim OCBZ é considerada uma pró-droga. Tem pouca capacidade de atuar no sistema P450 com exceção do CYP2C19, o que faz com que tenha poucas interações com outras DAR a não ser em altas doses e com aquelas metabolizadas neste mesmo CYP (Pb, PTH). Ela também não induz outras substancias exógenas (anticoagulantes, antidepressivo etc.) ou endógenas (hormônios tireoidianos). No entanto induz a metabolização de estrógenos e progestágenos, o que determina a necessidade, como ocorre a CBZ, do uso de anticoncepcionais orais com teor hormonal mais elevado. Eficácia Do mesmo modo que a CBZ, é eficaz em crises focais e tônico-clônicas generalizadas e pode piorar crises de ausência e mioclônica. Como determina pouca interaçã medicamentosa é indicada em politerapia Tolerabilidade e efeitos colaterais É uma droga que não costuma determinar distúrbios cognitivos. Os efeitos colaterais observados são semelhantes aos da CBZ, porém menos frequentes. Assim, por exemplo a reação alérgica é menos comum e cerca de 75% dos pct que apresentam reações de hipersensibilidade com a CBZ, não irão apresenta-la com a OCBZ. Hiponatremia é referida mais comumente do que com a CBZ, sendo mais frequente em idosos. Com frequência é assintomática e não costuma determinar interrupção do TTO. Do mesmo modo que a CBZ, porém menos frequentemente, apresenta efeito paradoxal, podendo agravar quadro clínico e eletroencefalográfico de pct com epilepsia focal. VALPROATO (VPA) Farmacocinética O VPA é metabolizado por vários mecanismos no P450, por glucoronidação e ainda por β-oxidação. É um inibidor enzimático, ↑ as concentrações plasmáticas das outras DAE. Assim inibe o metabolismo da LTG, do PB e da CBZ, aumentado os níveis séricos e o risco de efeitos colaterais como a frequência e severidade das reações cutâneas com a LTG. Por outro lado, drogas indutoras podem desviar o metabolismo do valproato das mitcondrias, levando ao aparecimento de metabólitos tóxicos. Além disto, CBZ, PHT, PB induzem o metabolismo do VPA, diminuindo os seus níveis séricos. Eficácia É a droga de maior espectro de ação, pois age em todos os tipos de crise e não piora qualquer uma delas. Assim, atua tanto em crises focais, como em todos os tipos de crises generalizadas, incluindo as crises de ausência típica e atípica, tônica, atônica e mioclonica. É usado principalmente em crises generalizadas, mas trabalhos tem demonstrado que sua eficácia em crises parciais especialmente, complexas é semelhante a da CBZ. É usado ainda em crises como os espasmos infantis e nas epilepsias fotossensíveis. Devido ao seu amplo especto de ação e pelo fato de não piorar outros tipos de crises, está indicado nas peilepsias indeterminadas. Tolerabilidade e efeitos colaterais Os feitos colaterais podem ser dose relacionados, como os gastrointestinais, ganho de peso, os relacionados a pele, anexos e ao SN; ou idiossincrásicos, como os hematogênicos, hepatotóxicos e de pancreatite, ser evitados com a titulação lenta, ingestão após refeições e fracionamento da dose ao longo do dia. DIVALPROATO DE SÓDIO (DVPA) Farmacocinética Desde que p DVPA libera o íon valproato, a sua farmacocinética é a mesma da referida para o VPA. As vantagens do DVPA dizem respeito a sua maior solubilidade em água, pico de ação e ½ vida plasmática mais estável. Na apresentação de liberação prolongada a farmacocinética se mantem desde que respeitada a equivalência de doses. Na formulação em sprinke a velocidade de absorção do DVPA é menor, devido a absorção das diferentes partículas, mas determina um pico sérico menos elevado e uma menor flutuação dos níveis séricos, sem alteração na quantidade absorvida permitindo administração em intervalos maiores. Eficácia DVPA possui o mesmo espectro do VPA. Tolerabilidade e efeitos colaterais A grande vantagem do DVPA em relação ao VPA é quanto a tolerabilidade. A maioria dos efeitos adversos do VPA decorre dos picos de concentração após a sua administração como o DVPA tem uma absorção mais continua e homofênica a sua tolerabilidade é melhor. Observa-se com o DVPA importantate diminuição na frequência e intensidade sos sintomas gastrintestinais como náuseas, vômitos, dispepsia e anorexia. Também a teratogenicidade está relacionada a picos sanguíneos mais elevados, portanto, acredita-se que o DVPA diminua o risco de malformações fetais. LAMOTRIGINA (LTG) Farmacocinética É metabolizada no fígado por glucuronização, sendo que apenas uma pequena fração é metabolizada por oxidação e por metilação. 14 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Não determina indução ou inibição enximática, apresenta apenas pequena auto-indução, sem significado clínico no inicio do TTO. Por outro lado, outras DAE influenciam no metabolismo da Lamotrigina (LTG): drogas indutoras enzimáticas reduzem a sua ½ vida de cerca de 29 a 15hr, sendo que em crianças chega a menos de 10%; enquanto drogas inibidoras enzimáticas, aumentam sua ½ vida. O VPA prolonga a ½ vida da LTG, porvavelmnete por inibir a glucoronização hepática, que é a sua maior via de eliminação. Na prática, observa-se devido a estará interações , a ocorrência de efeitos colaterais em politerapia, como o aparecimento acentuado de termor em pct em uso de VPA, que passam a receber LTG. LTG praticamente não interfere em outros fármacos. Assim, não diminui os níveis de hormônios com os contraceptivos orais ou outras drogas lipossolúveis com o Warfarin. Por outro lado, os contraceptivos orais, diminuem cerca de 50% o nível plasmático de LTG, recomenta-se a sua monitorização quando da introdução ou retirada de anticoncepcionais. O acetaminofen parece, por um mecanismo desconhecido, acelerar o metabolismoda LTG. Eficácia Possui amplo espectro de ação, atuando em crises: parcial, tônico-clônicas 1ªrias ou 2ªriamente generalizadas, de ausência típica ou atípica, tônica ou atônica. Em crises focais a eficácia é equivalente a CBZ e PTH. Alguns autores referem melhor eficácia nas crise generalizadas, em especial a LTG em mioclonias associadas à epilepsia mioclõnico- asiática, a epilepsia mioclônica juvenil e a ausência mioclônica, observa-se que ocasionalmente, a LTG pode não controlar ou mesmo piorar algumas crises mioclônicas. LTG piora as crises mioclônicas em oct com Epilepsia Mioclônica Grave da infância, assim o uso da LTG parece inadequado para esta síndrome. Também tem sido relatado embora mais esporadicamente piora em pct com epilepsia Mioclônica Juvenil. Na infância tem se mostrado eficaz nas Sd. De West, de Lennox-Gastaut e Landau-Kleffner. Tolerabilidade e efeitos colaterais A LTG é geralmente bem tolerada. As reações adversas mais comuns dizem respeito ao SNC: cefaleia, náuseas e vômito, diplopia, tontura e ataxia, mas geralmente são leves não havendo necessidade de suspensão do TTO. VIGABATRINA (VGB) Farmacocinética A VGB ou gama-vinil GABA é uma estrutura relacionada ao GABA com um apêndice vinil e destrói de modo irreversível a enzima gabatransaminase, aumentando a quantidade de GABA. A VGB apresenta excelente farmacocinética, pois não se liga as proteínas plasmáticas e não é metabolizada no fígado de modo que nãoo determina interação medicamentosa. Ela é totalmente excretada na forma ativa pela urina. Observa-se apenas que a adm de VGB causa diminuição de 20% da concentração plasmática de PHT, fato este sem significado clínico. Eficácia Devido à possibilidade de ocorrência de distúrbios visuais a VGB está indicada em adultos em epilepsias focais refratárias e na infância nas crises de espasmos e em crises focais refratárias naquelas crianças que colaboram para a realização da campimetria visual. A maior indicação de VGB é na Sd. de West, especialmente nas devidas a esclerose tuberosa na qual o controle das crises está próximo a 100%. Outra vantagem da VGB nestas crianças é que a resposta terapêutica pode ser observada rapidamente ao redor de 4 dias de uso. Tolerabilidade e efeitos colaterais A VGB é bem tolerada. Os efeitos colaterais estão relacionados principalmente ao SNC, sendo sonolência e fadiga os mais comuns. O efeito mais importante com o uso da VGB é o relacionado aos distúrbios visuais. Trata-se de uma retinopatia GABAérgica que afeta mais especificamente as células em cone. Os sintomas visuais parecem ser específicos e consistem de constrição periférica do campo visual com relativa preservação temporal ou embaçamento da visão, que começam 2 a 40 meses após o uso da medicação. Além da constrição do campo visual tem sido descritas diminuição da acuidade visual e perda da visão para cores. TOPIRAMATO (TPM) Farmacocinética O TPM é metabolizado em cerca de 20% na ausência de substancias indutoras e em 50% quando na presença delas. A metabolização envolve hidroxilação e glicuronidação. TPM influencia pouco a concentração das drogas DAE: determina pequeno aumento da PHT e pequena diminuição do VPA, sem significado clínico. Por outro lado, drogas indutoras enzimáticas diminuem em até 50% a sua concentração, enquanto droga inibidoreas como o VPA, determinam discreto aumento. Em doses acima de 200mg/dia diminui o nível de estrógenos. Eficácia O TPM age tanto em crises focais, como em generalizadas de todos os tipos, ele ainda tem-se mostrado eficaz em síndromes idiopáticas como a epilepsia mioclonica juvenil, bem como em formas severas da infância como nas Sd. de West, Dravet e Lennox-Gastaut. Em crianças < 2 anos de idade, a eficácia nas crises focais (48%) é um pouco melhor que nas generalizadas (32%). Na Sd. de Lennox-Gastaut tem especial ação nas crises de queda. O TPM tem sisdo utilizado em estado do mal epiléptico refratário tanto no convulsivo como no não convulsivo. Nestes casos a medicação é administrada por sonda nasogástrica. Tolerabilidade e efeitos colaterais TPM é uma droga segura, os eventos mais comuns estão relacionados ao SNC: tonturas, sonolencia, distúrbios cognitivos, alentecimento psicomotor. Tem sido descrito ainda acidose, hipertermia e hipohidrose. Estes efeitos são mais comuns em crianças, geralmente tem pouco significado clínico e desaparecem com a interrupção da medicação. Disturbio visual caracterizado por miopia aguda 2ªria a glaucoma de ângulo fechado tem sido referido muito raramente. Este distúrbio, ocorre geralmente no 1º mês de TTO, tem inicio agudo caracterizado por dor ocular e/ou borramento de visão. O TTO consiste na rápida descontinuação do TPM e o uso de medicações específicas 15 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência capazes de diminuírem a pressão intraocular para que se evitem sequelas graves como perda da visão. GABAPENTINA (GBP) Farmacocinética A GBP é um aa semelhante estruturalmente ao GABA. Na molécula de GBP foi incorporado um anel cyclo-hexano, tornando-a mais fácil de ser transportada através da BHE. Apesar de sua semelhança com o GABA a GBP não tem ação semelhante a ele e seu mecanismo de ação ainda é desconhecido. A GBP, assim como a VGB tem excelente farmacocinética, pois não se liga a proteínas plasmáticas e não é metabolizada no organismo sendo excretada pelos rins na forma ativa. Portanto ela não tem interação medicamentosa. Eficácia A GBP está indicada em adultos com epilepsia parcial como ou sem generalização secundária. A eficácia em crianças ainda não foi bem avaliada. Acredita-se que a droga não tenha ação em crises de ausência e mioclonicas, podendo inclusive piora-las. A sua ação em crises TCG é considerada fraca. A grande desvantagem da GBP é a falta de eficácia em epilepsias graves. Outra grande desvantagem da GBP é a possibilidade de exacerbar crises sejam parciais ou generalizadas além das mioclonicas, em cerca de 20% dos pct com a dose de 1200md/dia. Tolerabilidade e efeitos colaterais A grande vantagem da GBP é a baixa frequência de efeitos colaterais, especialmente em doses baixas. Os efeitos mais comumente referidos são: sonolência, tontura e quando em altas doses: ataxia e fadiga. Existem relatos de casos de agitação psicomotora em crianças de modo semelhante ao que acontece com o PB. A incidência de erupção cutânea é muito baixa e até o momento não foi relatado nenhum caso de reação alérgica grave. 16 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Síndromes de epilepsia As síndromes epilépticas são distúrbios nos quais a epilepsia é uma característica predominante, e existem evidências suficientes (p. Ex., por observações clínicas, eletroencefalográficas, radiológicas ou genéticas) em favor de um mecanismo subjacente comum. Definição: alterações clinicas + achados EEG semelhantes 1. Epilepsias e síndromes parciais ou focais Epilepsias idiopáticas, ou seja, aquelas sem substrato lesional, provavelmente relacionadas à predisposição genética As formas idiopáticas se contrapõem às epilepsias sintomáticas, nas quais as crises representam um sintoma de lesão estrutural do sistema nervoso. Epilepsias sintomáticas, ou seja, as relacionadas a lesões estruturais estão agora subdividas em epilepsias límbicas e neocorticais. Epilepsias criptogênicas, termo que significa que a etiologia da epilepsia é desconhecida ou indeterminada mediante os métodos de diagnóstico atualmente disponíveis, porém há dados que sugerem que elas são provavelmente relacionadas a um substrato lesional. 2. Epilepsias e síndromes generalizadas - idiopáticas - criptogênicas ou sintomáticas - sintomáticas - etiologias não específicas - etiologias específicas 3. Epilepsias e síndromes indeterminadas se focais ou generalizadas - com sinaise sintomas de crises generalizadas e focais - sem sinais inequívocos de crises generalizadas ou focais 4. Síndromes especiais - crises relacionadas a situações Existem várias Sd. Epilépticas: Encefalopatia mioclonica precoce Sindrome de Ohtahara Epilepsia com crises focais migratórias da infância Sindrome de West Sindrome de Dravet Sindrome de Doose ( epilepsia com crises mioclônicas atônicas (anteriormente astáticas)) Síndrome de Lennox – Gastaut syndrome Epilepasia com estado de mal elétrico do sono (POCS,CSWS,ESES) Sindrome de Landau – Kleffener Sd. epiléptica do Idoso atrofia cortical Classificação Síndrome de West: Início de 4 a 10 meses Espasmos repetidos em grupos, em salvas, início do sono ou despertar EEG: Hipsarritmias (ondas caótidas EEG) Causas: malformações cerebrais difusas, lesões focais, etc. TTO: vigabatrina, ACTH, predinisona em altas doses Síndrome de Lennox-gastaut Ocorre em crianças (entre 1 a 10 anos) sendo definida pela seguinte tríade: Múltiplos tipos de crises epilépticas (que costumam incluir crises tônico-clônicas generalizadas, atônicas e ausência atípica) (Crises tônicas, principalmente durante o sono); EEG com descargas em ponta-onda lentas (< 3 Hz) e várias outras anormalidades; e Disfunção cognitiva na maioria dos casos, mas não em todos. (Deterioração neuropsicológica) A síndrome de Lennox-Gastaut associa-se a doença ou disfunção do SNC de várias etiologias, incluindo mutações de novo, anormalidades do desenvolvimento, hipoxia/isquemia perinatal, traumatismo, infecção e outras lesões adquiridas. A natureza multifatorial dessa síndrome sugere que se trate de uma resposta inespecífica do cérebro à lesão neural difusa. EEG: atividade de base lenta, complexos de ponta-onda ritmados e menos do que 3Hzex Tratamento: valproato, BZD Epilepsia de ausência da infância: - Epilepsia generalizada Epidemiologia: 4-10 anos Clínica: Criança que tem episódio de parada comportamental súbito (olhar vago, destraído) com duração de segundos e sem sintomas pós-ictal (não fica sonolento nem confuso, volta como se nada ivesse acontecido). É desencadeada por hiperventilação. EEG: Complexo espícula-onda a 3Hzex Tratamento: Etosuximida, Valproato de sódio Epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) É um distúrbio epiléptico generalizado de causa desconhecida que surge no início da adolescência (13 – 18 anos) e costuma caracterizar-se por abalos mioclônicos bilaterais que podem ser únicos ou repetitivos. As crises mioclônicas são mais frequentes pela manhã, após o paciente acordar, e podem ser provocadas por privação do sono. A consciência é preservada, a menos que a mioclonia seja especialmente intensa. Muitos pacientes também apresentam crises tônico-clônicas generalizadas, e até 33% têm crises de ausência. Embora a remissão completa seja relativamente incomum, as crises costumam responder bem à medicação anticonvulsivante apropriada. Muitas vezes há história familiar de epilepsia, e estudos das ligações genéticas sugerem uma causa poligênica. Crises mioclônicas (parecem sustos, movimentos rápidos e abruptos) Crises tônico-clônicas generalizadas (principalmente durante o sono) As crises são desencadeadas por fotoestimulação (pokémon, luz piscando) EEG: Epilepsia generalizada Complexo poliespícula-onda lenta 3-4Hz Tratamento: Valproato de sódio, Lamotrigina 17 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Síndrome de epilepsia do lobo temporal mesial (ELTM) é a síndrome mais associada a crises focais com manifestações discognitivas e fornece um exemplo de uma síndrome de epilepsia com características clínicas, eletroencefalográficas e anatomopatológicas distintivas. A ressonância magnética (RM) de alta resolução pode detectar a esclerose hipocampal típica que parece ser essencial à fisiopatologia da ELTM. O reconhecimento dessa síndrome é especialmente importante, pois ela tende a ser refratária ao tratamento com anticonvulsivantes, mas responde bem à intervenção cirúrgica. Comum em adultos • Início em geral na adolescência. • Crises com automatismos típicos do lobo temporal. • Auras viscerais ou experienciais. • Disfasia pós-ictal e estado confusional prolongado em crises do lobo temporal dominante. • Crises tônico-clônicas são raras em pacientes tratados. • Déficit progressivo de memória. • Esclerose do hipocampo (perda celular em todos os campos, poupando CA2). • História freqüente de crise febril nos primeiros anos de vida. • Sinais de esclerose do hipocampo particularmente evidente em T2 e vários padrões de EEG ictal com campo máximo em eletrodos mediais. Encefalopatia mioclônica precoce • Início no 1ºmês de vida (até 3 meses) •EEG: surto-supressão • Prognostico ruim, crises refratárias, atraso no DNPM • Muita mioclonia, crises focais e tônicas •Associada a erros inatos do metabolismo (hiperglicemia não cetótica) Síndrome de Doose (epilepsia com crise mioclonicas atônicas) • Inicio: 7 meses a 8 anos (pico 2 a 6 anos) Crises generalizam multiformes, predomínio de crises mioclonicas, mioclônico-atônicas CTCG febril ou afebril como o 1ª sintoma (60% casos) EEG: interictal mostra ritmo teta monomórfico Deterioração neuropsicomotora Refrateriedade medicamentosa Evolução razoável, boa também pode ocorre Síndrome de Ohtahara • Encefalopatia epiléptica precoce •Crises tônicas neonatais • EEG: surto-supressão • Etiologia: malformação do SNC • Muitos evoluem para Sd. de West Epilepsia com crises focais migratórias da infância: • Acomete tanto meninas quanto meninos • Inicio nos 1ºs 6 meses de vida • EEG: interictal é multifocal. EEG mostra crises com inicio em várias regiões cerebrais • Evolui com crises refratárias, microcefalia, atraso global do DNPM Síndrome de Dravet • Epilepsia mioclonica severa do lactente Péssimo prognóstico Início com convulsão febril geralmente no 1º ano de vida Evolui com crises afebris, com grande sensibilidade à febre baixa. Crises podem ser CTCG, miocônicas, ausência, clonicas, focais Fotossensibilidade Crises refratárias, evolui com atraso do DNPM Epilepsia com estado de mal elétrico do sono (POCS, CSWS, ESES): Início entre 2 e 12 anos de idade EEG: atividade epiléptica no sono > 85% do traçado Deterioração cognitiva Distúrbio do comportamento Crises muitas vezes são de fácil controle Sindrome de Landau Kleffner “Afasia adquirida” Início entre 2 e 8 anos Criança previamente normal, inica crises epilépticas e dificuldade de linguagem (agnosia auditiva) EEG: piora no sono, com atividade epiléptica continua Epilepsias neocorticais - Síndrome de Rasmussen • Início das crises epilépticas principalmente na infância, entre 3 e 6 anos. • Deterioração neurológica progressiva: hemiparesia, déficit de linguagem, disfunção cognitiva. • Atrofia cerebral hemisférica lentamente progressiva • Quadro anatomopatológico de infecção viral: nódulos microgliais, infiltrado linfomonocitário perivascular, áreas de colapso tissular. • Curso em três estágios: 1ª fase de crises epilépticas sob a forma de epilepsia parcial continua em 50% dos casos; 2ª fase de deterioração neurológica e 3ª fase de estagnação. • Etiologia provável: imunoalérgica. • Tratamento: corticosteróides, imunoglobulina, plasmaferese, desconexão hemisférica. 18 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Mecanismos de início e propagação da crise epiléptica A atividade epiléptica focal pode começar em uma região bem definida do córtex e, depois, lentamente invadir as regiões vizinhas. A característica fundamental de uma crise epiléptica bem definida é uma “ponta” eletrográfica devido a disparos intensos quase simultâneos de um grande número de neurônios excitatórios locais, resultando emuma hipersincronização aparente dos disparos excitatórios em uma região cortical relativamente grande. A atividade paroxística em neurônios individuais (a “mudança de despolarização paroxística”) é causada por despolarização de duração relativamente longa da membrana neuronal decorrente do influxo de cálcio extracelular (Ca2+), o qual leva à abertura dos canais de sódio (Na+) dependentes da voltagem, influxo de Na+ e geração de potenciais de ação repetitivos. Isso é seguido de um pós-potencial hiperpolarizante mediado pelos receptores do ácido γ- aminobutírico (GABA) ou canais de potássio (K+), de acordo com o tipo celular. As salvas sincronizadas de um número suficiente de neurônios resultam na chamada descarga em ponta no EEG. A onda de disseminação da crise é alentecida e, por fim, interrompida pela hiperpolarização intacta e uma inibição “circundante” criada pela ativação progressiva de neurônios inibitórios. Com ativação suficiente, há recrutamento dos neurônios circundantes por diversos mecanismos sinápticos e não sinápticos, incluindo: ↑ do K+ extracelular, que amortece a hiperpolarização e despolariza neurônios vizinhos; Acúmulo de Ca2+ nas terminações pré-sinápticas, levando a maior liberação de neurotransmissores; e Ativação induzida pela despolarização do subtipo N-metil-D- aspartato (NMDA) do receptor de aminoácidos excitatórios, que causa influxo adicional de Ca2+ e ativação neuronal; e Interações efáticas relacionadas a alterações da osmolaridade tecidual e edema celular. O recrutamento de uma quantidade suficiente de neurônios leva à propagação de correntes excitatórias para áreas contíguas por meio de conexões corticais locais, e para áreas mais distantes por meio de vias comissurais longas como o corpo caloso. Mecanismos da epileptogênese Epileptogênese refere-se à transformação da rede neuronal normal em uma rede que é cronicamente hiperexcitável. Muitas vezes há um atraso de meses a anos entre a lesão inicial do SNC, como traumatismo, acidente vascular encefálico ou infecção e a primeira crise epiléptica. A lesão parece desencadear um processo que gradualmente diminui o limiar para crise epiléptica na região afetada, até que ocorre uma crise espontânea. Em muitas formas genéticas e idiopáticas de epilepsia, presume-se que a epileptogênese seja determinada por eventos regulados ao longo do desenvolvimento. Mecanismos de ação dos fármacos antiepilépticos Os agentes antiepilépticos parecem atuar basicamente por bloqueio do início ou da propagação das crises epilépticas. Isso ocorre por meio de diversos mecanismos que modificam a atividade dos canais iônicos ou dos neurotransmissores, e na maioria dos casos os fármacos possuem efeitos pleiotrópicos. Os mecanismos incluem inibição dos potenciais de ação dependentes do Na+ de maneira dependente da frequência (p. ex., fenitoína, carbamazepina, lamotrigina, topiramato, zonisamida, lacosamida, rufinamida), inibição dos canais de Ca2+ dependentes da voltagem (fenitoína, gabapentina, pregabalina), facilitação da abertura dos canais de potássio (ezogabina), atenuação da atividade do glutamato (lamotrigina, topiramato, felbamato), potencialização da função dos receptores de GABA (benzodiazepínicos e barbitúricos), aumento da disponibilidade de GABA (ácido valproico, gabapentina, tiagabina) e modulação da liberação de vesículas sinápticas (levetiracetam). Os dois fármacos mais eficazes nas crises de ausência, etossuximida e ácido valproico, provavelmente atuam inibindo os canais de Ca2+ do tipo T em neurônios talâmicos. Ao contrário da quantidade relativamente grande de antiepilépticos capazes de atenuar a atividade epiléptica, hoje não existem fármacos conhecidos que impeçam a formação de um foco epiléptico após lesão do SNC. Diagnóstico Diferencial As duas principais entidades que costumam ser confundidas com crise convulsiva são: síncope; crise psicogênica (“pseudocrise”). Síncope As características de uma crise epiléptica incluem a presença de aura, cianose, inconsciência, manifestações motoras durante mais de 15 segundos, desorientação pós- ictal, dores musculares e sonolência. Ao contrário, a probabilidade de um episódio de síncope é maior se o Principais causas de convulsão/Epilepsia por faixa etária Neonatos (<1 mês) -Lesão hipóxico-isquêmica perinatal - Hemorragia intracraniana - traumatismo/infecção cerebral - Distúrbios metabólicos (ex. hipoglicemia, hipocalcemia, deficiência de piridoxina, etc.) - Abstinência a drogas consumidas pela mãe (cocaína, álcool). - Distúrbios de desenvolvimento - Síndromes genéticas Crianças (> 1 mês e < 12 anos) - Convulsão febril - Síndromes genéticas - Traumatismo/infecção cerebral - Distúrbios do desenvolvimento Adolescent es (12 – 18 anos) - Síndromes genéticas - Traumatismo/infecção cerebral - Uso de drogas ilícitas - tumor cerebral Adultos jovens (18 – 35 anos) - Traumatismo - Uso de drogas ilícitas/abstinência alcoólica - Tumor cerebral - Autoimunidade Adultos > 35 anos - AVC (principal causa em > 65 anos) - Tumor cerebral - Abstinência alcoólica - Distúrbios metabólicos (uremia, falência hepática, hipo/hiperglicemia, etc. - Doenças degenerativas do SNC (ex. Alzheimer avançado) - Autoimunidade 19 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência acontecimento tiver sido provocado por dor aguda ou ansiedade ou ocorrido logo após levantar-se da posição deitada ou sentada. Pacientes com síncope costumam descrever uma transição estereotipada da consciência para inconsciência que inclui cansaço, sudorese, náusea e visão em túnel, e apresentam uma perda relativamente breve da consciência. Crises psicogênicas As crises psicogênicas são comportamentos não epilépticos que se assemelham a crises epilépticas. Com frequência, fazem parte de uma reação de conversão precipitada por sofrimento psicológico subjacente. Certos comportamentos, como virar a cabeça de um lado para o outro, movimentos de abalos assimétricos e de grande amplitude dos membros, abalos dos quatro membros sem perda de consciência e impulsos pélvicos, estão mais associados a crises psicogênicas do que a crises epilépticas. As crises psicogênicas muitas vezes duram mais do que as crises epilépticas e podem ir e vir durante minutos a horas. Entretanto, a distinção às vezes é difícil com base apenas no exame clínico, e existem muitos exemplos de erros diagnósticos cometidos por epileptólogos experientes. Isso é especialmente válido no caso das crises psicogênicas que se assemelham a crises focais com manifestações discognitivas, pois as manifestações comportamentais de crises focais (sobretudo as originárias do lobo frontal) podem ser extremamente incomuns e, em ambos os casos, o EEG de superfície rotineiro pode ser normal. A monitoração por vídeo-EEG costuma ser útil quando as observações clínicas não permitem o diagnóstico. Manifestações que distinguem entre crise tônico-clônica e síncope Características Crise epiléptica Síncope Fatores desencadeantes imediatos Geralmente nenhum Estresse emocional, manobra de Valsalva, hipotensão ortostática, etiologias cardíacas Sintomas premonitórios Nenhum ou aura (ex.: odor estranho) Cansaço, náuseas, sudorese, visão em túnel Postura no inicio Variável Em geral ereta Transição para a inconsciência Geralmente imediata Gradual ao longo de segundos Duração da inconsciência Minutos Segundos Duração dos movimentos tônicos ou clônicos 30 a 60 segundos Jamais passa de 15 segundos Aspecto da face durante o evento Cianose, espuma na boca Palidez Desorientação e sonolência após o evento Muitos minutos a horas < 5 min Mialgias após o evento Geralmente Às vezes Mordedura da língua Às vezes Raramente Incontinência Às vezes Às vezes Cefaléia Às vezes Raramente *Pode ser subta com certas arritmias cardíacasAbordagem ao paciente Quando o paciente não está agudamente enfermo, a avaliação inicial concentra-se na pesquisa da história de crises epilépticas prévias. Se essa for a primeira crise, deve se enfatizar o seguinte: Definir se o episódio descrito era crise epiléptica ou outro evento paroxístico, Determinar a causa da crise epiléptica pela identificação de fatores de risco e eventos desencadeantes, e Decidir se é necessário instituir terapia anticonvulsivante além do tratamento da doença subjacente. A fim de esclarecer a natureza do evento é preciso coletar uma anamnese minuciosa, não apenas com o paciente, mas também com eventuais testemunhas. No período intercrítico tanto o exame físico quanto os exames complementares podem ser normais, e neste caso o diagnóstico se baseia essencialmente na história clínica. Deve-se inquirir a existência de fatores de risco e/ou fatores precipitantes. Por exemplo: crise febril na infância, epilepsia na família, história de trauma craniano, AVC, infecções do SNC e/ou neoplasia prévia. Nas crianças, avaliar se os marcos do desenvolvimento são adequados. Uso de drogas (prescritas ou ilícitas), privação de sono e doenças sistêmicas também devem ser pesquisados. O exame físico precisa ser abrangente, em busca de sinais de doenças infecciosas, cardiovasculares e/ou insuficiências orgânicas (renal, hepática). Todos os pacientes devem ser submetidos a exame neurológico completo. Uma bateria de testes laboratoriais para rastreio de alterações homeostáticas sistêmicas sempre deve ser solicitada após um primeiro episódio de crise convulsiva. Um exame de neuroimagem também é rotineiramente solicitado após um primeiro episódio de crise convulsiva, a procura de lesões que justifiquem o quadro. O método de escolha é a Ressonância Nuclear Magnética (RM), de preferência com aparelhos de alta resolução (ex.: scanner de 3 tesla) que têm maior sensibilidade para a detecção de alterações na arquitetura cortical. A TC de crânio, por ser menos sensível, é reservada para os casos em que se suspeita de uma condição urgente (ex.: tumor, infecção) e a RM não se encontra prontamente disponível. O Eletroencefalograma (EEG) não é feito de rotina, mas torna-se obrigatório quando se suspeita de epilepsia, isto é, quando o paciente tem duas ou mais crises convulsivas espontâneas. O objetivo é tentar caracterizar o padrão epiléptico, o que pode sugerir um diagnóstico específico. Se o exame for realizado durante o evento (EEG “ictal”), a demonstração de atividade elétrica anômala, excessiva e repetitiva/ritmada, com início e fim bem demarcados, confirma o diagnóstico de crise convulsiva. No entanto, é importante lembrar que um EEG normal, mesmo durante o evento, não necessariamente afasta o diagnóstico de crise convulsiva, pois o foco pode estar em regiões profundas do parênquima cerebral não “visualizáveis” por eletrodos colocados sobre o escalpo. É importante perceber que crises generalizadas sempre alteram o EEG convencional. 20 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Exames Laboratoriais Feitos na Rotina - Hemograma - Eletrólitos (incluindo Ca2+ e Mg 2+) - Glicose - Função renal e hepática - EAS Feitos conforme suspeita clínica - Screening toxicológico (sague e urina) - Punção lombar (obrigatório se pct HIV+, mesmo na ausência se sintomas sugestivos de infecção do SNC) - Culturas (sangue, urina liquor) - Dosagens hormonais - Pesquisa de autoainticorpos relacionados à epilepsia autoimune (sangue e liquor) Tratamento Crônico As Drogas Antiepilépticas (DAE) agem primariamente bloqueando o início ou a disseminação da hiperexcitação elétrica dos neurônios. Existem diversos mecanismos para tal, e a maioria das DAE possui efeitos pleiotrópicos, isto é, inibe mais de um mecanismo ao mesmo tempo. Até o momento não existem meios de se evitar o fenômeno da epileptogênese, ou seja, não há como impedir a formação de focos epilépticos após insultos cerebrais como trauma ou equivalentes. Dentre os principais mecanismos de ação das DAE podemos citar: Inibição de canais de Na+ (responsáveis pelo início do potencial de ação) de maneira “frequência dependente”, como fenitoína, carbamazepina, topiramato e lamotrigina; Inibição de canais de Ca2+ voltagemsensíveis (responsáveis pela evolução do potencial de ação), como topiramato e lamotrigina; Abertura de canais de K+ (hiperpolarizam a célula e reduzem/dificultam a formação/transmissão dos potenciais de ação), como ezogabina; Bloqueio dos receptores de glutamato (excitatórios), como topiramato e lamotrigina; Aumento da atividade dos receptores do GABA (inibitórios), como benzodiazepínicos e barbitúricos; Aumento na síntese e oferta de GABA, como ácido valproico, gabapentina e tiagabina; Diminuição da transmissão sináptica, como levetiracetam. A etossuximida (assim como o ácido valproico) atua nas crises de ausência típica ao inibir canais de Ca2+ do tipo T em neurônios talâmicos, bloqueando os circuitos tálamo- corticais envolvidos na gênese deste tipo de crise. O objetivo é manter o paciente 100% livre de crises e sem efeitos colaterais. Sempre que possível deve-se tentar a monoterapia na menor dose possível. A correta classificação do tipo de crise é imprescindível (e o EEG pode ajudar nesse sentido), pois algumas drogas são preferíveis para determinadas formas de crise convulsiva, enquanto outras podem paradoxalmente AGRAVAR o distúrbio. Tratamento Agudo e Estado de mal epiléptico O estado de mal epiléptico refere-se a crises epilépticas contínuas ou crises distintas repetitivas com perda da consciência no período interictal. O estado de mal epiléptico tem numerosos subtipos, incluindo o estado de mal epiléptico convulsivo generalizado (EMECG) (p. ex., crises eletrográficas generalizadas persistentes, coma e movimentos tônico-clônicos) e estado de mal epiléptico não convulsivo (p. ex., crises de ausência ou crises focais persistentes, com confusão ou comprometimento parcial da consciência e anormalidades motoras mínimas). A duração da atividade epiléptica suficiente para preencher critérios da definição de estado de mal epiléptico foi tradicionalmente especificada como de 15 a 30 minutos. Porém, uma definição mais prática é considerar como estado de mal epiléptico uma situação em que a duração das crises leva ao uso agudo de terapia anticonvulsivante. Para o EMECG, essa duração geralmente é quando as crises se prolongam por mais de 5 minutos. O EMECG é uma emergência e deve ser tratado imediatamente, pois podem surgir disfunção cardiorrespiratória, hipertermia e desequilíbrios metabólicos como consequência de crises prolongadas, e esses distúrbios podem levar a lesão neuronal irreversível. Além disso, pode ocorrer lesão do SNC até mesmo quando o paciente é paralisado com bloqueio neuromuscular mas continua a apresentar crises eletrográficas. As causas mais comuns de estado de mal epiléptico são suspensão dos anticonvulsivantes ou baixa adesão à terapia, distúrbios metabólicos, toxicidade medicamentosa, infecção do SNC, tumores do SNC, epilepsia refratária e traumatismo craniano. O EMECG é óbvio quando o paciente apresenta crises francas. Entretanto, após 30 a 45 minutos de crises ininterruptas, os sinais podem tornar-se cada vez mais sutis. Os pacientes podem apresentar movimentos clônicos discretos apenas dos dedos ou movimentos finos e rápidos dos olhos. Pode haver episódios paroxísticos de taquicardia, hipertensão e midríase. Nesses casos, o EEG pode ser a única maneira de estabelecer o diagnóstico. Assim, se o paciente parar de apresentar crises evidentes porém permanecer comatoso, deve-se realizar um EEG para descartar a persistência do estado de mal epiléptico. Obviamente, isso também é essencial quando um paciente com EMECG é paralisado com bloqueio neuromuscular, com a finalidade de proteger as vias respiratórias.
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