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PRINCÍPIOS E MANEJOS DE INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS ORIGENS: ▪ Periapical: → Em consequência de necrose pulpar e invasão bacteriana subsequente do tecido periapical; → Tipo mais comum. ▪ Periodontal: → Resultante de uma bolsa periodontal profunda, que possibilita a inoculação das bactérias nos tecidos subjacentes. A infecção odontogênica mais comum é o abscesso vestibular, onde pode gerar uma fístula crônica que drena para a cavidade oral. VIAS DE PROPAGAÇÃO DO PROCESSO INFECCIOSO ODONTOGÊNICO: 1. Continuidade: ▪ Cárie que acomete a polpa, atinge periápice e invade os espaços faciais. 2. Sanguínea: ▪ Venosa – trombose do seio cavernoso (via veia oftálmica inferior); ▪ Arterial – bacteremia transitória causar endocartite. CLASSIFICAÇÃO: 1. Fase do edema/inoculação: ▪ Duração de até 3 dias; ▪ Dor moderada; ▪ Bordas difusa (localização não específica); ▪ Tamanho variável; ▪ Cor normal; ▪ Consistência gelatinosa; ▪ Progressão crescente; ▪ Sem presença de pus; ▪ Gravidade baixa em asa I (normossistêmico); ▪ Bactérias aeróbicas. 2. Fase da Celulite: ▪ Duração de até 5 dias; ▪ Dor mais elevada; ▪ Bordas difusas; ▪ Tamanho grande; ▪ Cor eritematosa; ▪ Consistência pastosa a endurecida; ▪ Progressão crescente; ▪ Geralmente sem presença de pus; ▪ Gravidade alta; ▪ Bactérias mistas (prevalência de aeróbicas). 3. Abscesso: ▪ Surgimento entorno de 4 a 10 dias; ▪ Dor localizada; ▪ Tamanho pequeno; ▪ Centro mais brilhante – ponto de drenagem; ▪ Consistência flutuante e centro amolecido; ▪ Progressão decrescente (paciente asa I); ▪ Presença de pus; ▪ Gravidade baixa; ▪ Bactérias anaeróbias. IMPORTANTE: ▪ Celulite: → Após a inoculação inicial dos tecidos mais profundos, os microrganismos mais invasivos e de maior virulência (aeróbios) dão início a esse processo infeccioso; → Fármaco de escolha: Amoxicilina 500 mg. ▪ Abscesso: → Posteriormente, as bactérias anaeróbias crescem e tornam-se mais proeminentes → À medida que a infecção atinge uma fase mais crônica elas se tornam os únicos microrganismos causadores do processo infeccioso; → Fármaco de escolha: Clavulin (amoxicilina 875 mg + ácido clavulânico 125 mg) ou metronidazol 400 mg. O QUE DEFINE O DIRECIONAMENTO DA PROPAGAÇÃO DA INFECÇÃO: 1. Espessura do osso superposta ao ápice do dente: ▪ A propagação de uma infecção segue o local de menor resistência. 2. Relação do local da perfuração do osso com as inserções musculares na maxila e na mandíbula: ▪ Vestíbulo bucal (intraoral): Abaixo da inserção da musculatura; ▪ Espaços faciais (extraoral): Acima da inserção da musculatura. ESPAÇOS FACIAIS: ▪ Características: → Revestidos por fáscias musculares; → São virtuais (modificam o seu tamanho); → Preenchidos por gordura e tecido conjuntivo frouxo; → Pouco vascularizado; → Fácil propagação; → Dependendo do tempo de evolução e do espaço facial acometido o tratamento é mais complexo. ▪ Espaços Faciais Primários: 1. Maxila: → Bucal; → Canino; → Infratemporal. 2. Mandíbula: → Bucal; → Submentual; → Submandibular; → Sublingual. ▪ Espaços Faciais Secundários: 1. Mastigador: → Temporal superficial; → Temporal profundo; → Submassetérico; → Pterigomandibular. Prognóstico pior. INFECÇÕES DOS ESPAÇOS FACIAIS PROFUNDOS: ▪ Associado a qualquer dente: → Qualquer dente pode apresentar variações a nível vestibular, bucal ou subcutâneo - 6 variações. ▪ Associado aos dentes superiores: 1. Espaço bucal: → Relacionado aos dentes posteriores; → Terá aumento de volume abaixo do arco zigomático e acima do bordo inferior da mandíbula. 2. Espaço canino / Infraorbitário: → Relacionado ao canino superior; → Terá o apagamento do sulco nasolabial; → A drenagem pode ser espontânea para o canto medial ou lateral do olho. 3. Espaço infratemporal: → Relacionado aos terceiros molares superiores e inferiores; → Raramente infectado; → Infecção entre o músculo pterigoideo lateral e o temporal; → É limitado medialmente pela lâmina lateral do processo pterigoideo e superiormente pela base do crânio. 4. Seios maxilares e outros seios paranasais: → Relacionado aos terceiros molares superiores; → A infecção pode perfurar o assoalho do seio gerando sinusites ou dor de cabeça; → Pode causar infecções orbitárias e periorbitárias secundárias, apresentando tipicamente eritema, edema das pálpebras, envolvimento de componentes vasculares e neurais da órbita. 5. Trombose do seio cavernoso: → Relacionado com a perfuração da veia infraorbitária (espaço infraorbitário) ou veia oftálmica inferior (através dos seios); → Pior prognóstico, pois, possuem propagação via hematogênica. ▪ Associados aos dentes inferiores: 1. Espaço do corpo da mandíbula: → A infecção perfura a cortical vestibular, mas não perfura o periósteo; → Clinicamente resulta em um aumento de volume que assume a mesma forma da mandíbula. ESPAÇOS MANDIBULARES: 2. Espaço bucal: → Extensão de uma infecção dos dentes inferiores; → Aumentará o volume da bochecha. 3. Submandibular: → Envolvimento com a perfuração lingual da infecção a partir de molares inferiores; → Mais comum em 3° MI; → A infecção penetra abaixo da linha milohioidea; → Aumento de volume similar a um triangulo invertido; → Paciente pode apresentar dispneia. 4. Sublingual: → Comumente causado por infecções de molares inferiores, quando a raiz fica acima da linha milohioidea; → A infecção penetra acima da linha milohioidea; → Clinicamente há pouco ou nenhum aumento extraoral, porém há grande aumento intraoral do assoalho bucal (dificuldade de ocluir, pois a língua se anteriorizar). 5. Submentoniano: → Relacionado com infecção de incisivos inferiores; → Mais comum ocorrer da disseminação de uma infecção do espaço submandibular, pois fica ao lado; → O espaço fica entre a borda inferior da mandíbula e o osso hióide). ANGINA DE LUDWING: → Celulite de evolução rápida e agressiva; → Envolve bilateralmente os espaços submandibular, sublingual e submentual; → Pode gerar o óbito do paciente em horas. ESPAÇO MASTIGADOR: 6. Submassetérico: → Envolvido pela disseminação do espaço bucal ou dos tecidos moles adjacentes ao 3° molar (pericoronarite), e fratura de ângulo da mandíbula; → Clinicamente ocorre aumento de volume extraoral, com músculo masseter edemaciado, além de trismo. 7. Pterigomandibular: → Relacionado com infecção no 3° molar; → Clinicamente ocorre pouco ou nenhum aumento de volume facial, contudo quase sempre apresenta trismo; → Há edema e eritema no pilar tonsilar, podendo comprometer a via aérea. 8. Temporal superficial e temporal profundo: → Geralmente acomete ambos; → Clinicamente ocorre aumento de volume na região temporal, superior ao arco zigomático e posterior a margem orbitária lateral. ESPAÇOS FACIAIS PROFUNDOS DO PESCOÇO: 1. Faríngeo lateral: → A infecção geralmente advém dos espaços pterigomandibular, submandibular ou sublingual; → Achados clínicos incluem trismo, aumento de volume lateral do pescoço, dificuldade de deglutir e febre alta; → Complicações: Trombose da veia jugular interna, erosão da artéria carótida interna ou de seus ramos, interferência nos nervos cranianos IX, X e XII. 2. Retrofaríngeo: → Este espaço inicia-se na base do crânio indo até a região entre C6 e T4; → A infecção nessa região pode prejudicar as vias aéreas; → Tem relação direta com a região submandibular. 3. Espaço potencial: → Este espaço inicia-se na base do crânio indo até o diafragma; → Infecção neste espaço pode alterar frequência respiratória. 4. Pré-vertebral: → Raramente envolvido com infecçãoodontogênica; → As infecções deste espaço são em geral causadas por osteomielites nas vértebras. INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS COMPLEXAS: ▪ São as infecções dos espaços faciais mais profundos; ▪ Envolvimento do seio maxilar, que pode gerar uma trombose do seio cavernoso ou uma celulite periorbitária. SEVERIDADE DAS INFECÇÕES DOS ESPAÇOS FACIAIS: ▪ Severidade 1: → Baixo risco para as vias aéreas ou estruturas vitais. ▪ Severidade 2: → Risco moderado para as vias aéreas ou estruturas vitais. ▪ Severidade 3: → Alto risco para as vias aéreas ou estruturas vitais. ▪ Severidade 4: → Extremo risco para as vias aéreas ou estruturas vitais. Esse escore é baseado nos espaços envolvidos pela celulite ou abscesso, avaliados no exame clínico e radiográfico. TRATAMENTO: Atenção aos pacientes alcoólatras e diabéticos, pois terá o comprometimento da evolução clínica destes, com atraso no processo cicatricial, desenvolvimento de mediastinite e aumento da mortalidade; 1. Primeiramente deve-se determinar a severidade da infecção: ▪ Realizar uma anamnese cuidadosa; ▪ Exame físico abrangente (avaliar presença de edema, dor e trismo); ▪ Solicitar exames complementares; ▪ Determinar a localização anatômica; ▪ Determinar a taxa (tempo) de progressão da infecção; ▪ Determinar o potencial de comprometimento das vias aéreas. IMPORTANTE: ▪ A causa mais comum dos óbitos relatados por infecções odontogênicas é a obstrução das vias aéreas; ▪ As tentativas de intubação endotraqueal devem ser realizadas, com abordagem cirúrgica direta. Cricotiroidotomia: ▪ Manobra de emergência que consiste em uma abertura na cartilagem cricóide; ▪ Deve ser convertida em traqueostomia entre 24 a 72hrs. Traqueostomia: ▪ Procedimento cirúrgico frequentemente utilizado em pacientes necessitando de ventilação mecânica prolongada; ▪ A incisão é feita entre o 2° e 3° anel traqueal; ▪ O objetivo é não prejudicar as cordas vocais do paciente ao passar o tubo de ar; ▪ É contraindicada em casos de artéria próxima a região, bócio (aumento de volume da tireoide) e massa tireoidiana. 2. Avaliação das defesas do hospedeiro: ▪ Pacientes diabéticos: → Defeito na migração de glóbulos brancos (neutrófilos) e redução do fluxo sanguíneo. ▪ Pacientes em terapia com esteroides: → Redução fisiológica da resposta imune. ▪ Pacientes transplantados: → Redução da resposta imune, devido ao uso de imunossupressores. ▪ Malignidade e quimioterapia: → Supressão de células do sistema imune. ▪ Doença renal crônica, subnutrição e alcoolismo: → Deficiência no sistema imune. ▪ AIDS em estágio terminal: → O vírus debela ainda mais as células do sistema imune. 3. Definir o ambiente de tratamento: ▪ Encaminhar para hospital quando apresentar: → Temperatura >38,3°C; → Desidratação; → Ameaça às vias aéreas; → Infecção de espaços anatômicos com severidade moderada a alta; → Necessidade de anestesia geral; → Necessidade de controle hospitalar de doenças sistêmicas. 4. Tratar cirurgicamente: ▪ Para ir à sala de operação deve ser analisado: → A manutenção da via aérea; → Severidade anatômica de moderada a alta; → Envolvimento dos espaços faciais; → Infecção de progressão rápida; → Necessidade de anestesia geral. ▪ Quando avaliado os tópicos anteriores iremos realizar a drenagem cirúrgica: → Anestesia efetiva longe do local da infecção (bloqueios regionais) e incisão efetiva; → Dissecar em uma trajetória para o dreno, que inclua localizações onde existe maior probabilidade de pus; → Não iremos suturar, pois o local deve permanecer aberto, e com isso utilizaremos um dreno penrose (dispositivo de látex que possibilita o escoamento da secreção – não gera pressão); → O dreno Jackson Pratt (hemovac) é um dreno ativo, um dispositivo de compressão. Tem o poder de sucção e é mais caro; Os drenos devem ser removidos ou trocados com até 72 horas depois da sua inserção. Normalmente o exsudato purulento para de fluir entre 24 a 72h. Drenagem cessando deve ser removido para evitar reação de corpo estranho ou granuloma inespecífico. Após a remoção do dreno deixa cicatrizar sem suturar (cicatrização secundária). → É importante coletar um pouco da secreção purulenta e enviar para o teste de cultura e sensibilidade, para saber o perfil bacteriano daquele região e direcionar a escolha mais adequada do antibiótico. 5. Dar suporte médico: ▪ O acompanhamento clínico é fundamental; ▪ Mantê-lo hidratado, sem febre e nutrido; ▪ Terapia antibiótica: → Penicilinas para infecções leves (pacientes que procuraram atendimento em fase de celulite) – baixo custo e poucos efeitos colaterais; → Clindamicina para infecções sérias (muitos espaços faciais acometidos) – maior custo. No caso de alergia a penicilina prescrever clindamicina, moxifloxacina ou metronidazol. ▪ A consulta inicial de acompanhamento deve ser feita 48h após a drenagem, pois o dreno deve ser retirado e existe uma melhora visível ou deterioração dos sinais e sintomas, permitindo que as próximas decisões de tratamento sejam feitas. COMPLICAÇÕES DE INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS: 1. Sinusite odontogênica: ▪ Infecções de pré-molares e molares superiores, ou dentes no seio maxilar. 2. Celulite periorbital: ▪ Origem do espaço canino, dacriocistite e seio maxilar; ▪ Riscos de trombose do seio cavernoso e danos ao conteúdo da órbita; ▪ Dacriocistite: → Infecção do saco nasolacrimal; → Causa dor, vermelhidão e inchaço sobre a pálpebra inferior. 3. Fasceíte necrosante: ▪ Quadro de infecção que gera necrose; ▪ Infecção de evolução rápida que segue o músculo plastima em direção ao pescoço e sobre a parede anterior do tórax; ▪ Pode resultar em necrose de grande massas musculares, tecido subcutâneo e pele; ▪ Sinais precoces: Pequenas vesículas e uma descoloração púrpura sem brilho da pele envolvida; ▪ O tratamento requer drenagem cirúrgica repetidas, antibióticos de largo espectro, terapia hiperbárica e possível transfusão de sangue. 4. Osteomielite: ▪ Infecção do osso medular, gerando perda óssea. 5. Actinomicose: ▪ Infecção incomum nos tecidos moles e duros dos maxilares; ▪ Constituem em bactérias anaeróbicas. 6. Candidíase: ▪ Doença oportunista; ▪ As duas causas mais comuns de comprometimento do estado físico do paciente são o uso prolongado de antibióticos por períodos prolongados (penicilinas), e o comprometimento do sistema imune (AIDS) ou quimioterapia para leucemias ou outras formas de câncer. 7. Mediastinite: ▪ Processo inflamatório e/ou infeccioso do tecido conjuntivo do mediastino; ▪ Causada principalmente por perfuração do esôfago, infecções pós-operatórias, infecção da glândula parótida e pode possuir origem odontogênica nos casos de complicações da Angina de Ludwig.
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