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5 Função Social

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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL - UniBrasil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: BREVES CONSIDERAÇÕES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: BREVES CONSIDERAÇÕES 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Universidade 
Faculdades Integradas do Brasil - 
UniBrasil, como requisito parcial para 
obtenção do título de Bacharel em Direito, 
sob a orientação da Profª 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A presente pesquisa monográfica faz uma exposição do estudo acerca da função 
social da propriedade, descrevendo o seu conceito, a sua evolução através das 
Constituições, do Código Civil e da Legislação infraconstitucional. Expressa a 
importância e questionamento de tal assunto, a fim de entender o conceito dado à 
propriedade nos dias atuais. Exibe um estudo dos diferentes institutos derivados e 
amparados pela própria função social da propriedade, dando assim o respaldo 
jurídico necessário para cumprir com a justiça social, o direito à moradia, entre 
outros princípios fundamentais da democracia brasileira. 
 
Palavras-chave: Propriedade. Função Social. Princípio de Ordem Econômica. 
Responsabilidade Civil. 
 
 
 
 
 
 
SÚMARIO 
 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 05 
1 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE ................................................................ 06 
1.1 Função Social da Propriedade nas Constituições e no Direito Civil ............ 08 
1.1.1 A função social como direito e garantia fundamental ....................................... 10 
1.2 Desapropriação – Artigo 185 da Constituição Federal de 1988 .................... 11 
1.3 A função social da propriedade e a ordem econômica.................................. 13 
2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE - TRATAMENTO NO CÓDIGO CIVIL DE 
2002 .......................................................................................................................... 14 
2.1 Direito real de laje ............................................................................................. 26 
2.3 Direito de superfície .......................................................................................... 26 
2.4 Direito real de uso ............................................................................................. 27 
2.5 Concessão de uso especial para moradia ...................................................... 27 
3 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NO ESTATUTO DA CIDADE ................. 28 
4 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL – REFORMA AGRÁRIA ........... 33 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 34 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36 
 
5 
INTRODUÇÃO 
 
 
O objetivo deste artigo monográfico é analisar o tema “Função Social da 
Propriedade”, fazendo-se um estudo, inicialmente das breves considerações 
inseridas na Constituição Federal como um dos princípios dos direitos fundamentais. 
De acordo com a Constituição Federal, a propriedade deverá respeitar a sua 
função social. Já a ordem jurídica vigente expressa às regras justamente para que a 
propriedade cumpra essa determinação constitucional. A função social da 
propriedade indica uma infraestrutura jurídica que permite que terceiros construam 
em solo alheio e, ao mesmo tempo, favorece a utilização plena das propriedades 
pelos donos de terrenos. 
Dentro dessa proposta, no capítulo 1 se dá a apresentação e o manejo da 
função social da propriedade, assim como o seu conceito nas Constituições e no 
Direito Civil. Como qualquer direito a algo, seja, à vida, aos bens, à liberdade, 
procura-se pesquisar que a função social da propriedade dá sentido à manifestação 
desse direito. 
No capítulo 2, estuda-se a questão da função social da propriedade e a 
responsabilidade civil, apresentando-se os diferentes institutos oriundos da função 
social da propriedade, que encontram respaldo na própria função, como usucapião, 
cessão de uso e direito da superfície, entre outros. 
Chega-se ao capítulo 3, onde se estuda a função social da propriedade no 
Estatuto da Cidade. 
Finalmente, o capítulo 4 confirma-se que o direito em si regula e exerce a 
verdadeira justiça com relação à propriedade e sua função e, se aproxima da 
idealização para realizar tanto nas cidades como no campo, um lugar melhor que 
atenda os outros direitos fundamentais como moradia, relação de trabalho, sustento, 
conservação do meio ambiente. 
Para o desenvolvimento da pesquisa, o método a ser utilizado será o lógico-
dedutivo onde se traçará, inicialmente, o sistema de referência bibliográfico adotado, 
delimitando-se o objeto da pesquisa, para desenvolvimento das premissas 
fundamentais. 
6 
1 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE 
 
 
A função social de propriedade é um princípio que tem por finalidade alcançar 
uma sociedade mais justa e igualitária e quando a propriedade urbana consegue 
satisfazer tais requisitos, atendendo às necessidades básicas de seus habitantes, 
ela atinge seu objetivo. 
Hoje a propriedade é caracterizada menos pelo seu conteúdo estrutural e 
mais pela finalidade econômica e social do bem sobre a qual incide. A função social, 
portanto, incide sobre o conteúdo e conceito do direito de propriedade. 
Sendo a função social um princípio, entende-se que a propriedade a ela está 
associada, inclusive porque no ordenamento jurídico brasileiro foi alçada à condição 
de cláusula pétrea conforme o artigo 5º, inciso XXIII da nossa Constituição Federal 
de 1988, a saber: “a propriedade atenderá sua função social”. 
O artigo supra não conceituou o que seria a função social da propriedade, 
porém, pode-se extrair seu conceito com base no artigo 186 da Carga Magna que 
diz respeito à propriedade rural e seus critérios para efetivação: 
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, 
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em 
lei, aos seguintes requisitos: 
I - aproveitamento racional e adequado; 
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do 
meio ambiente; 
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos 
trabalhadores. 
 
Nesse sentido, o texto constitucional anuncia as condições de execução da 
função social da propriedade rural. 
O princípio da função social carrega idéia de atividade, vale dizer, apenas faz 
sentido falar de uma função social ativa. Segundo Eros Grau: 
O que mais releva enfatizar, entretanto, é o fato de que o princípio da 
função social da propriedade impõe ao proprietário - ou a quem detém o 
poder de controle, na empresa - o dever de exercê-la em benefício de 
outrem. Isso significa que a função social da propriedade atua como fonte 
da imposição de comportamentos positivos - prestação de fazer, portanto, e 
não, meramente, de não fazer - ao detentor do poder que deflui da 
propriedade. 
 
Cristiane Derani abrange seu entendimento a respeito ao art. 186 da CF da 
seguinte maneira: 
7 
[...] da mesma forma que é conferido um direito subjetivo para o proprietário 
reclamar a garantia da relação de propriedade, é atribuído ao Estado e à 
coletividade o direito subjetivo público para exigir do sujeito proprietário a 
realização de determinadas ações, a fim de que a relação de propriedade 
mantenha sua validade no mundo jurídico.1 
 
A função social da propriedade é parte integrante da propriedade: em não 
havendo, a propriedade deixa de ser protegida juridicamente, desaparecendo o 
direito. 
Antes da Constituição Federal de 1988, na função social da propriedade 
urbana e rural eram considerados apenas os aspectos econômicos, porém depois 
do advento da Carta Magna ampliou-se o entendimento, além do lado econômico,outros atributos foram acrescidos, como a sociabilidade de sua função e a 
preservação do meio ambiente, portanto a propriedade passou a ter função social e 
ambiental. 
A propriedade urbana também goza da proteção estatal desde que cumpra o 
seu papel social supracitado. Importante mencionar que além de habitação 
adequada, outros elementos também são necessários, como a saúde, educação, 
transporte público, meio ambiente, trabalho, lazer, cultura e meio ambiente, para que 
o cidadão possa gozar de uma vida mais digna, convivendo numa cidade 
sustentável. 
A função social exerce o papel de inibir e reprimir os defeitos jurídicos 
originários da ilegítima utilização da propriedade. E, enquanto vigorar a Constituição 
Federal de 1988, a função social da propriedade e seu conteúdo não poderão ser 
abolidos, o que é bem diferente de lei "infraconstitucional", como por exemplo, o 
Estatuto da Terra, que podem ser modificados ou extinguidos por novas leis. 
A Constituição Federal de 1988, também conhecida como “Constituição 
Cidadã”, tem por princípio a prevalência do interesse social. Tal fato é muito bem 
evidenciado no Título II: “Dos Direitos e Garantias Fundamentais. 
A Constituição, no Título dos Direitos e Garantias Fundamentais, assevera 
que a propriedade atenderá à sua função social de forma abrangente, sem 
restrições, de forma que a norma incide sobre todas as espécies de propriedades e 
não somente naquelas vinculadas à ordem econômica e aos bens de produção. 
 
DERANI, Cristiane apud BARROS, Ricardo Maravalhas de Carvalho; OLIVEIRA, Lourival José de. A 
discussão prática da função social da propriedade rural. Diritto & Diritti, v.10, p.1, 2007. Disponível 
em: <http://www.diritto.it/archivio/1/24016.pdf>. Acesso em: 10 out. 2019. 
8 
1.1 Processo Histórico e Constitucional da Propriedade no Brasil 
 
Ao lado das transformações sofridas pela propriedade, também o Direito 
sofreu alterações, principalmente no Direito Civil, cujo Código deixou de ser o núcleo 
principal da discussão, e ganhou ares de tema constitucional. 
A constitucionalização da função social da propriedade se originou com as 
Constituições do México de 1917 e da Alemanha de 1919 (Constituição de Weimar). 
O artigo 27 estatui que “A Nação terá, a todo tempo, o direito de impor à 
propriedade privada as determinações ditadas pelo interesse público (...)”, enquanto 
esta última chega a afirmar, no seu artigo 153 que “A propriedade obriga e o seu uso 
e exercício devem ao mesmo tempo representar uma função no interesse social”.2 
Vê-se, assim, que a doutrina da função social da propriedade está 
intimamente ligada às Constituições do welfare state, que consagram o bem-estar 
social. 
Ao mesmo tempo, corresponde a uma manifestação do direito de 
solidariedade: “É também com fundamento na solidariedade que, em vários 
sistemas jurídicos contemporâneos, consagra-se o dever fundamental de se dar à 
propriedade privada uma função social”.3 
A função social cumpre o papel de elemento inibidor e repressor das 
distorções jurídicas originárias da degenerada e ilegítima utilização da propriedade. 
Em que pese à divergência doutrinária, pois há autores que entendem que a 
função social é restrita à propriedade dos bens de produção; outros afirmam que há 
função social em qualquer tipo de propriedade uma vez que o que varia na 
existência (sempre há), mas sim o tipo de função social já que, para cada espécie de 
propriedade corresponde um tipo diverso de função social. 
Resumindo, a propriedade deverá direcionar-se para o bem comum, qualquer 
que seja a propriedade. Sempre haverá função social da mesma, mais ou menos 
relevante, porém a variável instala-se no tipo de destinação que deverá ser dado ao 
uso da coisa. 
 
2 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 
1999, p. 52. 
3 RODOTÀ apud MORAES, José Diniz de. A função social da propriedade e a Constituição Federal 
de 1988. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 125 e 128-138. 
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
9 
A função social da propriedade é parte integrante da propriedade: em não 
havendo, a propriedade deixa de ser protegida juridicamente, por fim, 
desaparecendo o direito. 
Stefano Rodotà diz que: 
O princípio da função social da propriedade se manifesta sobre o direito de 
propriedade de três maneiras essenciais: (a) privando determinadas 
faculdades do domínio, como no caso a ser estudado, da instituição de 
espaços de preservação ambiental, que não poderão ser utilizados pelo 
proprietário ou terão sua utilização limitada; (b) criando condições para que 
o proprietário possa exercer o seu direito, como, p. ex., quando a 
Constituição vincula o cumprimento da função social da propriedade rural ao 
aproveitamento racional e adequado (art. 186); e (c) obrigando o 
proprietário a agir positivamente, como faz o art. 182, § 4º, da Constituição, 
que obriga o proprietário de imóvel urbano a utilizá-lo e aproveitá-lo, sob 
pena das sanções enumeradas nos incisos I a III do referido parágrafo.4 
 
É importante notar que a função social é um princípio que age dentro do 
próprio conteúdo do direito de propriedade, razão pela qual não pode ser confundida 
com as limitações externas ao direito de propriedade, que são restrições posteriores 
à constituição do direito. 
No capítulo da propriedade no Código Civil, verificam-se muitas 
transformações. O direito de superfície tem disciplina no código como direito 
autônomo, trata-se de um importante instrumento que possibilita adequar a 
propriedade urbana ao meio ambiente artificial. 
A sintonia da propriedade, voltada para a preservação do meio ambiente, de 
forma a cumprir o seu papel constitucional – função social –, consagrou 
juridicamente a ideia do solo criado, permitindo a transferência, gratuita ou onerosa, 
do direito de construir sem atingir o domínio. 
O direito de superfície substitui com vantagem o regime da enfiteuse, atende 
a necessidade prática de permitir a construção em solo alheio, mesmo quando é ele 
classificado como público, o que ocorre com bares e restaurantes instalados em via 
pública. 
Tem-se no direito de superfície o incentivo à construção, sobretudo nos 
grandes centros populacionais, beneficiando o fundeiro que, sem recursos, não pode 
dar ao seu bem a função social exigida. Ao mesmo tempo, favorece o 
desenvolvimento das construções e edificações. 
 
4 RODOTÀ apud MORAES, José Diniz de. A função social da propriedade e a Constituição Federal 
de 1988. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 125 e 128-138 
10 
No Código, o limite da propriedade que não se estende às jazidas, aos 
recursos minerais, aos potenciais de energia hidráulica e aos monumentos 
arqueológicos. Além da perda da característica da inalienabilidade dos bens públicos 
dominiais, reafirmando o comando maior de que a propriedade, pública ou privada, 
deve ter função social. 
Outro destaque é o parcelamento do solo. É bem verdade que a legislação 
sobre parcelamento do solo urbano antecede a Constituição, pois foi a Lei 6.766, de 
1979, que primeiro tratou da questão. À época, teve a lei como escopo regular o 
registro de loteamentos, desmembramentos, compromissos de compra e venda e de 
cessões ou de promessas de cessões. 
 
1.1.1 A função social como direito e garantia fundamental 
 
Os direitos fundamentais estão inseridos nos princípios constitucionais 
fundamentais, e segundo Norberto Bobbio: 
Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos 
históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por 
lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de 
modo gradual, não todos de uma vez. As Constituições apenas os 
certificam, declaram e garantem. E acrescenta: O reconhecimento e a 
proteção dos direitos do homem estão na base das Constituições 
democráticas modernas.5 
 
Acerca da função social como Direito Fundamental não se podeesquecer-se 
de mencionar acerca de sua aplicabilidade. O art. 5º em seu §1º diz que As normas 
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 
Os incisos XXII e XXIII não pedem definição em leis próprias, não restam 
dúvidas de que a função social e seu conteúdo (o art. 182, no que tange ao regime 
urbano e o art. 186, ao agrário) têm aplicação imediata e eficiência plena. 
Existe, ainda, um efeito importantíssimo da função social da propriedade 
definida como Direito Fundamental, que é estar no rol das "cláusulas pétreas" do 
artigo 60, §4º, VI. Esta norma dá estabilidade à função social. 
 
 
 
5 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 7ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 5 
11 
1.2 A desapropriação – Artigo 185 da Constituição Federal de 1988 
 
A Constituição Federal divide a propriedade imobiliária agrária em pequena, 
média e grande. 
Quando trata da pequena propriedade imobiliária agrária concede-lhe 
isenção de ITR progressivo e expropriação, no artigo 5º XXVI, dispõe que a mesma 
quando trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de 
débitos decorrentes de sua atividade produtiva. 
Art.5º, XXVI. A pequena propriedade rural, assim definida em 
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de 
penhora para pagamento de débito decorrentes de sua 
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar 
o seu desenvolvimento. 
 
De acordo com o disposto em seu artigo 184, a Constituição Federal exige a 
desapropriação das terras que não cumpram sua função social. 
Entretanto, o que se percebe pela leitura do artigo 185 da Constituição é que 
a propriedade produtiva não pode ser desapropriada. Mas e se essa propriedade 
produtiva não estiver cumprindo sua função social? 
A polêmica está no fato de que o artigo 185, II, da Constituição Federal, 
constituir mecanismo jurídico para evitar a desapropriação de qualquer propriedade 
produtiva, seja ela cumpridora ou não da função social. 
Entender que a propriedade rural não pode ser desapropriada, porque a 
terra é produtiva, estaria contra a Constituição Federal, contra o meio ambiente, 
contra o bem-estar social da sociedade e contra o direito de igualdade ao acesso do 
progresso humano. 
A doutrina entende ser a expressão “propriedade produtiva” do inciso II do 
artigo 185 como propriedade produtiva que atende ao meio ambiente, que possui 
boas relações de trabalho e promove o bem-estar social. 
A propriedade rural, não atendendo aos requisitos do artigo 186, deve ser 
desapropriada na forma do artigo 184. Segundo Silveira: 
Apenas a propriedade que se tornar produtiva respeitando os três 
elementos componentes da função social, expressamente previstos no 
artigo 186 da Constituição Federal, encontra-se excluída da reforma agrária 
(...) essa interpretação é a que melhor se harmoniza com a concepção que 
12 
defendemos de ser a função social elemento constitutivo do direito de 
propriedade.6 
 
O intérprete da Constituição age como se nenhuma das duas normas 
existisse, devendo a partir do sistema constitucional, estabelecer novas vias. Como 
diz o autor Varella. 
Como a Constituição Federal privilegia em outros diversos momentos os 
mesmos requisitos do artigo 186, o meio ambiente (artigo 225), as relações 
de trabalho (artigo 7º) e a harmonia social (vários momentos), e 
produtividade da terra (combinação do artigo 5º, com o 225 e com o artigo 
188), a interpretação nova deverá primar pela existência simultânea dos 
quatro quesitos e, portanto, concluir pelos mesmos requisitos então 
"eliminados".7 
 
Mas há possibilidade de se conservar as duas normas, caso em que será 
eliminada somente a incompatibilidade. 
Neste caso, a expressão "propriedade produtiva" significaria uma 
pressuposição que esta propriedade atende a outros critérios já que, a propriedade 
que não cumpre a função social não é garantida pelo Direito Constitucional, e, deste 
modo, sequer é propriedade. Assim conclui Varella: 
A única interpretação inadmissível, segundo todas as teorias expostas, seria 
no sentido de que o inciso II do artigo 185 anula todo o artigo 186, que 
basta a produtividade da terra para que não seja possível a desapropriação, 
um absurdo jurídico. No entanto, é justamente esta a interpretação da 
maioria dos magistrados e do próprio INCRA nos casos concretos, contra a 
Constituição Federal, contra o meio ambiente, contra o bem-estar social da 
sociedade brasileira e contra o direito de igualdade ao acesso do progresso 
humano. Infelizmente.8 
 
 Esse artigo cristaliza na Constituição Federal o entendimento segundo o 
qual a única forma de aproveitamento do imóvel rural é a sua exploração econômica 
integral, deturpando o conceito de rural como bem de produção vinculado a uma 
função social e trazendo com isso reflexos do mesmo teor para a legislação 
infraconstitucional. 
O Ministro Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal, ao julgar mandado 
de segurança sobre desapropriação – sanção, reforma agrária, diz: 
 
 
6 SILVEIRA, Domingos Sávio Dresch da. A propriedade agrária e suas funções 
sociais In Domingos SILVEIRA, Domingos Sávio Dresch da. e XAVIER, Flávio Sant’Ánna (coord.). O 
Direito Agrário em Debate. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p. 21 
7 VARELLA, Marcelo Dias. Introdução ao direito à reforma agrária: o direito face aos novos conflitos 
sociais. Leme: Direito, 1998, p. 255 
8 Ibidem 
13 
A pequena e a média propriedades rurais, cujas dimensões físicas ajustem-se 
aos parâmetros fixados em sede legal (Lei 8.629/1993, art. 4º, II e III), não 
estão sujeitas, em tema de reforma agrária, (CF, art. 184) ao poder 
expropriatório da União Federal, em face da cláusula de inexpropriabilidade 
fundada no art. 185, I, da Constituição da República, desde que o proprietário 
de tais prédios rústicos – sejam eles produtivos ou não – não possua outra 
propriedade rural. A prova negativa do domínio, para os fins do art. 185, I, da 
Constituição, não incumbe ao proprietário que sofre a ação expropriatória da 
União Federal, pois o onus probandi, em tal situação, compete ao poder 
expropriante, que dispõe, para esse efeito, de amplo acervo informativo 
resultante dos dados constantes do Sistema Nacional de Cadastro Rural." 
(MS 23.006, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 11-6-2003, 
Plenário, DJ de 29-8-2003.) Vide: MS 24.595, rel. min. Celso de Mello, 
julgamento em 20-9-2006, Plenário, DJ de 9-2-2007. 
 
O entendimento equivocado, de imóvel rural desvinculado dos demais 
aspectos da função social, também está em outro trecho da Constituição: art. 153, § 
4º, quando também conceitua o imóvel rural beneficiado pelo ordenamento como 
aquele meramente produtivo, na medida em que vincula esse aspecto 
(produtividade) à progressividade extrafiscal do imposto territorial rural. 
 
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85873
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=404106
14 
2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE - TRATAMENTO NO CÓDIGO CIVIL DE 
2002 
 
 
A propriedade tradicionalmente era concebida em nosso direito como uma 
defesa avançada do direito de posse. De conformidade com Curasson9, a posse é o 
signo e o atributo da propriedade. O direito de propriedade não está continuamente 
em perfeita evidência: frequentemente ele é contestado por muitas pessoas cujas 
pretensões parecem igualmente plausíveis. Para saber qual é a pretensão que deve 
restar vitoriosa na questão da propriedade, é preciso consultar títulos por vezes 
contraditórios, inquirir sobre fatos obscuros, abordar situações difíceis, e, por vezes, 
mesmo após uma longa instrução processual, a questão continua ainda duvidosa.10 
O interesse público exige que as terras sejam utilizadas, que os campos não 
fiquem improdutivos e os imóveis urbanos tenham a sua função natural de 
edificação com objetivos de moradia e para fins de exploração econômica.Para 
evitar, portanto, as desordens que poderiam resultar da incerteza da posse, é de 
todo necessário adjudicar provisoriamente a posse a um dos litigantes, de decidir 
aquele que será garantido no exercício dos poderes do domínio até nova ordem.11 
No Brasil, o Código Civil de 1916 (antecessor do Código Cível de 2002) 
adotou uma regulamentação clara e organizada dos direitos reais, escolhendo não 
exclusivamente, mas em pontos basilares pela teorização objetiva de Ihering no que 
diz da posse, através do seu art. 485, que considerava: "(...) possuidor todo aquele 
que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao 
domínio ou propriedade". Posse, segundo o legislador civil de 1916, era a 
exteriorização da propriedade.12 
Para Rudolf Von Ihering13: “(...) a posse é a exteriorização da propriedade, e 
sua proteção se justifica na garantia da paz social”, o inverso parece ser válido, 
aplicando-se diretamente à propriedade. Para este autor, era o suficiente a 
 
9 CURASSON, M. Traitê des actions possessoires, du bornage et autres droits de voisinage. Dijon: 
Victor Lagier Éditeur, 1842. 
10 MOTA, Mauricio. A Socialização da posse na Teoria Possessória de Raymond Saleilles. 
15/02/2017. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-
possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota Acesso em: 01 nov. 2019. 
11 Ibidem. 
12 Ibidem. 
13 IHERING, Rudolf Von. Teoria simplificada da posse. Belo Horizonte: Líder, 2004. 
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
15 
consideração de que o elemento objetivo corpus possuir maior peso que o elemento 
volitivo animus para a estruturação da posse. São proposições distintas. De acordo 
com Ihering14: 
(...) a posse deve ser envolta de dois pontos de vista: como condição do 
nascimento de um direito e como fundamento de um direito. No primeiro 
ponto, entende-se que é por meio da posse, em uma situação transitória e 
momentânea, que se adquire a propriedade. 
 
Pode-se recomendar como exemplo da aquisição da propriedade o título de 
legado. Com a morte do de cujus, por meio do droit de saisine os bens são 
transferidos para os legatários. Há a transferência da posse sobre o bem porque 
aquele que deixou o legado já não desempenhava a posse sobre o bem, não será 
possível ir a juízo para buscar imissão na posse. No entanto, se com a morte 
transmitiu-se posse e domínio do objeto (bem) do legado, poderá o legatário ajuizar 
feitos possessórios para proteção de seu direito. Na primeira hipótese teria ele jus 
possidendi e na segunda conjectura deteria ele jus possessionis. 
No segundo ponto, referente à posse como embasamento de um direito, esta 
é entendida como o direito à proteção interdita, o uso do ius possessionis. Para 
Ihering15: "(...) a proteção possessória aparece como um complemento indispensável 
da propriedade". De forma pontual, Ihering16 salienta que: 
(1) a posse constitui a condição de fato da utilização econômica da 
propriedade; (2) assim, o direito de possuir é um direito indispensável da 
propriedade; (3) atuando a posse como a guarda avançada desta; (4) 
contudo, a proteção possessória é mostrada como uma posição defensiva 
do proprietário, com a qual pode ele apartar com mais facilidade os ataques 
dirigidos contra a sua esfera jurídica; (5) nega-se, por conseguinte, onde 
quer que seja, que a propriedade seja juridicamente excluída. 
 
Essa noção tradicional já não pode ser aceita, porque não mais se coaduna 
com a ideia contemporânea de posse. 
Os bens da vida são bens que seguem o uso e não segundo a substância 
mesma dos bens. Uma atribuição de uso (posse) é legítima se está adequada com 
os limites cominados pelo bem comum, pela destinação universal, sempre anterior a 
qualquer uso particular. Assim, a função social existe primeiramente nos bens objeto 
 
14 IHERING, Rudolf Von. Teoria simplificada da posse. Belo Horizonte: Líder, 2004. 
15 Ibidem. 
16 Ibidem. 
16 
da posse, para ulteriormente ver-se destacada e atingida plenamente com o 
exercício da posse social sobre eles.17 
A terra é, reconhecidamente, bem de produção; sendo que o que a terra 
produz ou pode produzir está intimamente ligado à sobrevivência dos seres. A 
obrigação de fazê-lo e o modo de atingir esta finalidade estão na base da seara 
cognitiva do Direito Agrário e, consequentemente, no fenômeno agrário.18 
Começa-se com a nominada função social da terra, por alguns 
equivocadamente nominada função social da propriedade, em se tratando de Direito 
Agrário, trocando o continente pelo conteúdo, pois a função social da terra é o 
gênero, com a função social da propriedade como espécie, como o são igualmente a 
função social da posse, a função social dos contratos, etc.19 
A solução jurídica de um caso concreto deve, normalmente, ser obtida pela 
via do recurso conjunto a essas duas fontes, que não são consideradas opostas, 
mas integrantes: por um lado o estudo da natureza e, num segundo momento, a 
mesma determinação do legislador ou do juiz, a função de cada bem expressa à 
ordem tendências ou inclinações naturais aos fins próprios do ser humano, aquele 
mandamento que é próprio do homem como pessoa. A terra visa garantir ao homem 
um espaço digno e suficiente para a sua vida individual e social.20 
A noção de função de um bem constitui saber assim um poder, mais 
especificamente, o poder de dar ao artefato da posse o destino determinado, de 
conectá-lo a certo objetivo. Como explica Teori Zavascki21 ao tratar dos atos 
concretos de posse (que são o conteúdo da função social da propriedade): 
Por função social da propriedade há de se entender o princípio que diz 
respeito à utilização dos bens, e não à sua titularidade jurídica, a significar 
que sua força normativa ocorre independentemente da específica 
consideração de quem detenha o título jurídico de proprietário. Os bens, no 
seu sentido mais amplo, as propriedades, genericamente consideradas, é 
que estão submetidas a uma destinação social, e não o direito de 
propriedade em si mesmo. Bens, propriedades, são fenômenos da 
realidade. 
 
 
17 MOTA, Mauricio. A Socialização da posse na Teoria Possessória de Raymond Saleilles. 
15/02/2017. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-
possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota Acesso em: 01 nov. 2019. 
18 Ibidem. 
19 Ibidem. 
20 Ibidem 
21 ZAVASCKI, Teori Albino. A tutela da posse na Constituição e no projeto do novo Código Civil. In: A 
rec do Direilo Privado. Martins- Costa, Judith (Org.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
17 
Nesse diapasão, a posse não anuncia uma relação jurídica simplesmente 
espiritual, composta pelos animus e corpus abstratos, mas sim uma relação 
econômica de cunho concreto. Essa relação econômica é funcionalizada aos bens. 
Assim, todo homem tem direito ao uso dos bens e à apropriação particularizada 
desses bens através da posse, com o fito de atender a necessidade individual como 
igualmente para ajustar vantagens para o bem. Essa acuidade vem ditada não só 
pelo contato do ser homem com a terra, mas pelo aproveitamento do solo pelo labor 
de acordo com as exigências sociais, transformando a natureza em proveito de 
todos. 
Da disposição do artigo 1.196 do Código Civil: "(...) considera-se possuidor 
todo aquele que tem de fato o exercício, à propriedade", não resulta que a posse 
vincule-se sempre ao direito de propriedade. Não existe, nesse particular, em nosso 
ordenamento,uma anuência integral à teoria de Ihering22. 
Como Saleilles23 bem demonstrou, Ihering imaginava que o corpus 
possessório era “o exercício visível do direito de propriedade”, o fato de agir como se 
proprietário fosse. A posse não seria garantida pelo direito senão em vista de 
garantir a propriedade da mesma. Assim, quando fala do corpus, Ihering24 não tem 
em vista a não ser o direito de propriedade. 
Para ele, o corpus consiste no fato de agir como proprietário, e o animus é o 
desejo aplicado ao próprio corpus; sendo a posse, portanto, a vontade de agir como 
proprietário. 
Ihering25 delibera o animus como a vontade de tornar-se visível como 
proprietário. Não há o desejo próprio de dono, mas tão somente vontade de 
proceder como procede rotineiramente o dono, que seria a affectio tenendi. Portanto, 
não é necessária a prova da intenção do possuidor, o ideiário do animus já estaria 
inserida na própria ideia de corpus, e seria observável quando o retentor desse à 
coisa sua adequada destinação econômica. Entretanto, a vontade de agir como 
proprietário é inconciliável com um título anterior exclusivo da pretensão ao direito 
de propriedade. 
 
22 IHERING, Rudolf Von. Teoria simplificada da posse. Belo Horizonte: Líder, 2004, p. 99 
23 SALEILLES, Raymond Écude sue lês (lemetits consíituti/s de tapossession. Dijon. Imprimerie 
Darantie, 1894. 
24 IHERING, Rudolf Von. op. cit. p. 96. 
25 Ibidem, p. 96. 
18 
Pode-se objetar que a vontade de agir como proprietário não equivale 
inteiramente ao fato de querer ser proprietário. No entanto, se alguém 
preliminarmente declara que não quer ser proprietário, o direito não pode ter em 
conta uma vontade que consistirá em fazer aquilo que ele se engajou a não fazer. A 
teorização detentória romana bem pode admitir o benefício dos interditos aos 
ladrões, mas com a condição que eles não sejam preliminarmente reconhecidos por 
essa qualidade, porque, de resto, a se ater ao fato, ignora-se se há um roubo. Se 
agora a lei protegesse aqueles que, preliminarmente, manifestassem a sua intenção 
de roubar, haveria uma contradição insanável. Portanto, o animus detinundi, quer 
dizer, a vontade aplicada ao exercício do direito de propriedade, é inconciliável com 
uma vontade anterior exclusiva de propriedade. 
No caso do ladrão que, roubando ou furtando, apodera-se das coisas alheias, 
ou do usurpador que expulsa do imóvel o proprietário, há corpus denotando um 
vínculo de apropriação de ordem econômica (a posse é contraída, mas depois de 
cessados os atos de violência), porém este está em contradição com a exterioridade 
ou visibilidade do domínio em que a posse consiste. Quem já observou, diz 
Saleilles26, o proprietário empregar os processos do ladrão ou do usurpador para se 
apossar da coisa? Tais processos não se conformam com as atitudes normais do 
proprietário, pelo contrário, contradizem-nas.27 
A contradição de Ihering28, segundo Saleilles29, portanto, é a de ter colocado 
em primeiro plano a questão do direito naquilo que concerne ao corpus e de querer 
a rejeitar naquilo que pertine ao animus. Para o referido autor, o animus não visa o 
direito de propriedade. Mas sim, ele faz referência ao componente material da 
posse, o corpus. Como é possível que assim seja se o próprio corpus é modelado 
sobre o direito de propriedade? O possuidor deverá conduzir-se voluntariamente, 
portanto conscientemente, como um proprietário; entretanto, ele poderá ter afirmada 
sua vontade de não pretender a propriedade. Querer se conduzir como proprietário e 
renunciar a dizer-se proprietário, eis a contradição no pensamento de Ihering. 
 
26 SALEILLES, Raymond Écude sue lês (lemetits consíituti/s de tapossession. Dijon. Imprimerie 
Darantie, 1894. 
27 MOTA, Mauricio. A Socialização da posse na Teoria Possessória de Raymond Saleilles. 
15/02/2017. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-
possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota Acesso em: 01 nov. 2019. 
28 IHERING, Rudolf Von. Teoria simplificada da posse. Belo Horizonte: Líder, 2004, p. 99 
29 SALEILLES, op. cit., p. 120. 
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19 
Portanto, também no nosso direito, onde se garante a posse do ladrão ou 
daquele que usurpa, desde que ele não se apresente prima fade por meio dessa 
qualidade, a posse, em realidade, versa de uma manifestação exterior da 
apropriação econômica da coisa, isto é, uma circunstância fática tal que denota o 
senhorio de fato da coisa, aquele que a tem sob sua dependência e que a faz servir 
para a satisfação de suas necessidades sociais e econômicas. A intenção aplicada 
ao corpus será, por conseguinte, a vontade de realizar a apropriação econômica da 
coisa, a vontade de agir como senhor de fato da coisa. A posse refere-se a uma 
vontade da pessoa que deve ser respeitada pela mesma necessidade de todos de 
exploração e apropriação econômica das coisas, desde que essa vontade guarde 
correspondência a um ideal de interesse público consoante os costumes e a opinião 
pública.30 
Sendo a posse uma analogia de poder que se apresenta à consciência 
popular como relação de fato, é esse concordar social, perante determinadas 
situações, que considera caracterizada essa dominação necessária à aquisição e à 
continuação da posse. 
Dessa maneira é a consciência social que atribui ao comprador a posse dos 
artefatos por ele adquiridos, desde o momento em que foram depositados em sua 
casa, durante sua ausência. Não é preciso apreensão por parte do comprador ou de 
alguém da sua casa. 
No caso do animal bravio, apanhado na armadilha do caçador, a consciência 
social considera contraída a posse, antes de o possuidor saber de sua apreensão. 
O mesmo ocorre com relação à marca aposta pelo comprador em certas 
mercadorias que ele deixa em poder do vendedor, e, no direito Justiniano, quanto à 
entrega das chaves do armazém em que se encontram os gêneros vendidos. 
A consciência social considera esses fatos suficientes para indicar a senhoria 
sobre a coisa, necessária à aquisição da posse. Assim sendo, o corpus é a 
probabilidade de dispor da coisa, conforme a consciência social, entendida esta 
como o aspecto negativo da relação possessória (o ponto positivo é a atuação do 
possuidor), ou seja, consistente na abstenção socialmente aceita por parte de 
 
30 MOTA, Mauricio. A Socialização da posse na Teoria Possessória de Raymond Saleilles. 
15/02/2017. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-
possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota Acesso em: 01 nov. 2019. 
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
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20 
terceiros relativamente à coisa possuída. Como diz Perozzi31, os homens depois 
que obtiveram certo grau de civilidade, abstêm-se socialmente de intervir em uma 
coisa que aparentemente seja livre, isto é, com possibilidade de que alguém em 
situação facilmente perceptível pretenda a exclusiva disponibilidade. 
Portanto, consoante os postulados da teoria social e o entender de Saleilles32, 
sendo a posse uma relação de apropriação econômica, para estabelecer essa 
relação não é bastante, como imaginava Ihering, ater-se às aparências de fato, tais 
como a exploração da coisa. É preciso remontar, quando em controvérsia, à tomada 
da posse e ver quais circunstâncias e em que condições jurídicas ela teve lugar: é 
preciso que em um momento dado aquele que se pretende possuidor tenha 
afirmado sua senhoria sobre a coisa. Segundo Saleilles33: “(...) é a maneirade agir 
do possuidor demitido de sua posse que decide a questão de se saber se o 
usurpador clandestino de um imóvel adquiriu a sua posse.” E, para isso, é preciso 
reportar-se à tomada de posse, saber se nesse momento o possuidor ausente teve 
conhecimento ou não do usurpador, e, se teve conhecimento, se lhe opôs 
resistência. O fato atual da detenção com exploração da coisa é, portanto, 
insuficiente para fazer do usurpador, um possuidor. Aliás, este é o sentido do art. 
1.224 conjuminado com o artigo 1.208 do Código Cível de 2002. Assim, é a causa 
possessionis que decide a questão de saber se há posse ou detenção. 
A causa possessionis determina que se deva averiguar primeiro os fatos que 
constituem uma relação durável e interessada com a coisa, qual seja, a 
circunstância do possuidor valer-se da coisa e explorá-la em seu interesse, para si, 
de colocar-se em senhorio dela. Para Saleilles34 há posse onde há uma relação de 
fato suficiente para estabelecer a independência econômica de o possuidor no fruir 
da coisa. Essa relação, factualmente circunscreve-se geralmente em um instrumento 
jurídico que serve para a caracterização; mas ela pode circunscrever também em um 
puro ato de senhoria constituído por um fato de violência ou de resistência, pouco 
importa: ele é suficiente para fundar a autonomia econômica do possuidor. Dessarte, 
 
31 PEROZII, Silvio. Istituziom di diiitto romano. v. 1. Roma: Casa Editnce Dott. F. Vallardi, 1925. 
32 SALEILLES, Raymond Écude sue lês (lemetits consíituti/s de tapossession. Dijon. Imprimerie 
Darantie, 1894. 
33 SALEILLES, Raymond Écude sue lês (lemetits consíituti/s de tapossession. Dijon. Imprimerie 
Darantie, 1894. 
34 Ibidem, p. 256. 
21 
para Saleilles35, não é a legislação que deverá fixar os casos de detenção, 
excluindo-os da posse, como arquitetou Ihering (e que foi admitida pelo nosso 
ordenamento no artigo 1.198 do Código Civil), mas sim, consoante uma teoria mais 
plástica e flexível. É a doutrina que deve fixar o critério da posse jurídica, na 
constatação e interpretação dos fatos sociais.36 
Há posse em toda relação de fato admitida pelos usos como fundante da 
independência econômica do possuidor. Bem esclarece Perozzi37: “(...) não há no 
fundamento da proteção da posse uma razão única, absoluta de proteção”. Era 
realidade, para o autor: “(...) a razão da proteção da posse varia e continua a variar 
no espaço e no tempo”. Sempre no próprio caso essas razões são estranhas à 
posse. A norma, tutelando a posse, visa assegurar qualquer outra coisa que não é a 
posse; por vez visa defender a paz social, ora a defender mais facilmente o domínio, 
ora a favorecer a utilização da coisa, ora a mais segura circulação dos bens, etc. 
São assim, os usos sociais que determinarão, em cada momento histórico porque 
uma relação de fato deve ser protegida na medida em que caracteriza a 
independência do possuidor no desfrute da coisa. 
Assim, na usucapião, o animus de apropriação econômica é frisado para, 
desde logo, afastar a possibilidade de usucapião dos subservientes da posse. 
Seguidamente, devem ser excluídos os que exercem transitoriamente a posse 
direta, por força de obrigação ou direito, como, o usufrutuário, o credor pignoratício e 
o arrendatário. Nenhum deles pode contrair, pelo viés da usucapião, a propriedade 
do caso que possui em razão do usufruto, locação ou penhor. É que, devido à causa 
da posse, dificílimo torna-se possuírem independência econômica. Forçoso, por 
conseguinte, que o possuidor desempenhe sua posse com animus de apropriação 
econômica. Animus de apropriação econômica deve ser compreendido aqui em um 
sentido social, não individual. É a sociedade que, em épocas diversas e consoante 
vários fatores, reconhece esse animus de apropriação social. É o que sucede, por 
exemplo, no ofício das coisas fora de comércio em razão da sua própria natureza e 
em algumas hipóteses que estão fora de comércio por conta de lei. Se porventura 
 
35 SALEILLES, Raymond Écude sue lês (lemetits consíituti/s de tapossession. Dijon. Imprimerie 
Darantie, 1894, p. 256 
36 MOTA, Mauricio. A Socialização da posse na Teoria Possessória de Raymond Saleilles. 
15/02/2017. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-
possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota Acesso em: 01 nov. 2019. 
37 PEROZII, Silvio. Istituziom di diiitto romano. v. 1. Roma: Casa Editnce Dott. F. Vallardi, 1925. 
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
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22 
alguém logre explorar economicamente, sem autorização para tal, não adquirirá 
posse nestas situações porque os usos sociais sagraram tais coisas como 
insuscetíveis de apropriação. Portanto, na nossa hipótese, se se apresenta óbice 
social objetivo a que se haja com esse animus, não se pode adquirir a propriedade 
por usucapião. 
Havendo obstáculo de caráter subjetivo previne apenas a obtenção que 
requer boa-fé. Na hipótese estamos nos referindo àqueles bens aos quais não se 
admite a posse com o caráter de exploração econômica ou com qualquer outro viés, 
mas que se admite apenas o gozo de determinadas delas em razão do interesse 
cultural, de preservação ou paisagístico. Inexistindo obstáculo social objetivo, 
presume-se o animus de apropriação. 
A posse como apropriação econômica da coisa evidenciada objetivamente 
pela causa possessionis é particularmente visível na promessa de compra e venda 
no qual o comprador é imitido na posse no ato do negócio pelo constituto 
possessório ou, ato contínuo, pela tradição simbólica ou real, em que não há 
desdobramento da posse e, deste modo, aparta-se a conformação de barreira 
objetivo para a posse qualificada, uma vez que, quando, por força de obrigação ou 
direito, em casos como daqueles que desfrutam do credor pignoratício do locatário, 
se cumpre temporariamente a posse direta, não anula esta às pessoas, de quem 
eles auferiram a posse indireta. Consoante o Código Civilista, em seu artigo 1.197, o 
desdobramento da posse tem por embasamento um título jurídico, onde a posse 
direta tem, naturalmente, tempo limitado. Por outras palavras, existindo, de parte do 
possuidor pleno, exoneração temporária da sua posse, há o desdobrar desta em 
direta (imediata) e indireta (mediata). 
A despeito da afirmação de que na promessa de compra e venda a prazo 
gerar dúvida a respeito da existência ou não de desdobramento da posse, é 
relevante que se diga que a intenção do promitente vendedor é transferir a 
propriedade e, de regra, com essa a posse (pode ocorrer que ele não tenha mais 
posse porque, ad exemplum, seu imóvel foi violentado). A transmissão da posse 
plena pode dar-se, normalmente é que acontece como acima referido, no ato da 
lavratura do contrato de promessa. Não parece razoável admitir que o promitente 
vendedor faça essa transmissão da posse com a condição da temporariedade que 
se exige no desdobramento da posse como se assiste na letra clara do artigo 1.197 
do Código Civilista. Ele na verdade despe-se por completo da posse e o faz por 
23 
contrato, que é um dos modos de aquisição tanto da propriedade quanto da posse, a 
despeito de não ter o Código Civil atual repetido, por sua desnecessidade, a 
disposição contida no inciso III do art. 493 do Código revogado ("por qualquer dos 
modos de aquisição em geral"). 
Por sua vez, o comprador na posse da coisa promove o uso que dela bem 
entende, modifica-a na sua substância, empresta-a, aluga-a e o faz em seu próprio 
nome, sem qualquer necessidade de prévia autorização ou de satisfação ao 
vendedor. A posse aqui é plena e legitima com base no contrato firmado que 
representa um meio de transmissão derivada de bens. Quanto ao promitente 
comprador o ato de tomada da posseatine à aquisição da posse nos moldes do art. 
1.204 do Código Civil e para o promitente vendedor significa perda da posse, nos 
moldes do art. 1.223 do CC, porque cessa de acordo com sua vontade, o poder a 
respeito do bem. De outro lado, parece que só é possível falar-se em 
desdobramento da posse quando desde o momento de sua transmissão tenha o 
possuidor que a recebe a consciência da existência de uma obrigação de restituir, 
como acontece com o locatário ou comodatário, dentre outros. Na hipótese ventilada 
não se pode admitir que tenha o adquirente a intenção de devolver a coisa em 
alguma ocasião futura ao promitente vendedor. 
Esse raciocínio confirma-se porque não há nenhum ato posterior a este 
resultante do contrato de promessa que transmita a posse ao promitente. A única 
transmissão que está pendente é a do domínio, o que se dará com o registro do 
titulo (escritura pública ou sentença de adjudicação) no Registro Geral de Imóveis. 
Também se reforça esta cognição com a consciência da autonomia da detenção em 
relação à propriedade e que sua transmissão seja feita por ato de vontade (o 
contrato) e não, por exemplo, por apreensão. 
Outra é, no entanto, a situação do promitente comprador inadimplente nas 
hipóteses em que não se apresente o adimplemento substancial. Sua posse, até 
então uma posse do tipo legítima em função da transmissão operada em razão do 
contrato de promessa de compra e venda, sofre um revés não porque havia posse 
derivada, mas sim porque perde a sustentação jurídica que foi causa da 
transmissão. O promitente comprador tinha, até então, uma posse contratual 
legítima. Pelo inadimplemento, ele passa a ter uma posse ilegítima, na realidade 
injusta pela precariedade que surge. 
24 
Ora, nesta situação especial, pela circunstância geral do direito das 
obrigações, que estabelece que a quebra de uma obrigação quando se dá a mora 
faz surgir um dever secundário de assumir a responsabilidade pelos efeitos dela 
(artigos 394 e 389 do Código Civil), nasce neste momento uma mácula na sua 
posse, que torna a ser precária, desse modo, injusta (artigo 1.200 do Código Civil). 
Esta situação é a mesma que ocorre com o locatário, o comodatário e outros que 
têm obrigação de restituí-la, depois de um determinado tempo, ajustada desde o 
nascimento do vínculo e não a cumprem incorrendo em mora. 
É a partir da mora que surge o jus de recuperar o promitente comprador a 
posse que se despiu quando do contrato e isto não porque havia desdobramento, 
mas porque o motivo da posse do promitente comprador perdeu-se com o 
inadimplemento. Havendo perda do vínculo, as partes retornam ao estado anterior e 
a resistência na devolução da coisa faz exsurgir o direito de em juízo buscá-la. 
É verdade que na prática do foro, de regra, ajuíza-se ação de rescisão 
contratual (quando a cláusula é resolutória-tácita) cumulada com ação de 
reintegração de posse, no entanto, não há nenhuma impropriedade e parece mesmo 
que esta é que seria a opção correta, em ajuizar ação reivindicatória de posse ao 
invés de ação de reintegração, considerando o disposto na parte final do art. 1.228 
do Código Civil: "(...) o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a 
possua ou detenha", haja vista que, como já afirmado, a posse do promitente 
comprador nas circunstâncias em exame passa a ser injusta por força da 
interpretação a contrario sensu do art. 1.200 do Código Civil. 
Neste caso, do promitente-comprador inadimplente, pode ocorrer e, 
frequentemente ocorre, uma mutação da posse, de contratual e com dependência 
da posse indireta do proprietário até o término do pagamento de todas as prestações 
para posse ad usucapionem. Tratando-se a posse, no caso ad usucapionem, 
notadamente um exercício social de apropriação da coisa, há sempre a possibilidade 
de inicialmente existir a posse não própria, como a do promitente comprador 
inadimplente e, em ocasião posterior, modificar-se essa situação, passando a existir 
a posse com animus de apropriação, pela nominada interversio possessionis. E para 
que isto se verifique, deve o possuidor perpetrar atos não imateriais não ocultos ao 
verdadeiro (e legítimo) titulado do direito expondo que aquele direito de quem dono é 
foi contraditado e que a este não era possível desconhecer tais atos formais e 
positivos. São estes o agir na condução que é própria da atitude de proprietário, 
25 
afrontando o vínculo anterior, ostensivamente sem reconhecer o domínio de quem 
quer seja, como benfeitorias de realização, a interrupção no pagamento das 
prestações pela busca do reconhecimento social da qualidade de ocupante, por atos 
de oposição aberta ao direito anterior do proprietário, etc.. 
A interversão da posse caracteriza-se pela força da oposição daquele que 
exerce o poder de fato sobre a ocorrência contra o primitivo possuidor a 
individualizar uma nova situação jurídica de posse com independência econômica e 
social. Como decidiu, em um caso de primitivo de arrendamento, o 2º. Grupo de 
Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no julgamento dos 
Embargos Infringentes nºs 99/90 na Apelação Cível nº. 2.775/89, asseverando: 
A sentença considerou a Ré mera ocupante de favor, por caracterizarem as 
plantações e construção 'meros atos de tolerância do proprietário, tolhida 
era sua boa-fé' (fls. 281), quando é evidente que o pai da suplicada só 
pagou os alugueres à primitiva proprietária de uma só vez, em 
adiantamento e em correspondência aos primeiros dois anos de 
arrendamento (fls. 68), momento a partir do qual cessaram por completo 
tais alugueres, numa atitude de afronta à locação e ao domínio alheio, que 
se repetiu nos anos de 1937, 1938, 1939, da década de 40, de 50, de 60, de 
70, até que sobreveio essa reivindicatória e ocorreu a respectiva citação 
inicial. 
 
Foram quarenta anos de uso do imóvel por variadas formas, plantando, 
colhendo, arrendando-o, inclusive ao lavrador que figura como segundo réu. Tudo 
ostensivamente, sem reconhecer domínio de quem quer que seja, nem o da 
primitiva locadora, nem o de seus sucessores e que vieram a ter as terras 
registradas nos próprios nomes, nem logicamente os ora autores. A própria natureza 
das acessões, das árvores e plantas encontradas denota sua longa duração, 
conforme se verifica do laudo pericial. 
Não é normal que o dono de um imóvel deixe passar anos e anos sem cobrar 
ou exigir a respectiva venda, tanto mais que alugueres prescrevem de cinco em 
cinco anos. A conduta dos titulares do domínio não se coaduna com a de dono, mas 
com a de quem se conformou com a ocupação parcial de sua propriedade pela ré. O 
conformismo dos ora autores consagra a mudança do título de posse da ré. 
A posse contratual, agregada à omissão dos interessados, pode se 
transformar, com o passar do tempo, em autêntica posse ad usucapionem. São as 
mudanças de concepções, decorrentes da socialização do direito e da 
independência da posse enquanto valor ou utilidade social, capaz de transformá-la 
em domínio independente da sua origem. Portanto, a interversão da posse é 
26 
fenômeno jurídico permissivo (artigo 1.203 do Código Civilista) de quem começa a 
exercer poder de fato sobre a coisa, a título de promitente comprador e, ao final, 
muda o título de sua posse.38 
Além disso, a possibilidade de o promitente comprador adquirir o domínio de 
imóvel, quando amoldado aos requisitos do art. 183 da CF, ou seja, o 
reconhecimento da usucapião do tipo especial, nesses casos, dá-se, principalmente 
pelo valor atribuído pelo ordenamento jurídico à função social da propriedade.39 
Nossa legislação vem, paulatinamente, melhor definindo o campo de 
interferência e de participação do Estado nos rumos e no sentido do direito de 
propriedade individual, e, outrossim, no direcionamento do equilíbrio entre o direito 
individual e o coletivo. O sentido jurídico do asseverar “função social” na 
Constituição Federalde 1988, no significativo, ou seja, quando apresentada no 
Capítulo da “Política Urbana” tem pertinência à melhor ordenação das cidades, 
dirigido para o interesse coletivo de propiciar e assegurar o bem-estar de seus 
habitantes.40 
 
2.1 Direito real de laje 
 
Foi criado pela Lei 13.465/17, que introduziu o artigo 1.510-A a 1.510-C no 
Código Civil. Por essa disposição legal, o proprietário poderá ceder a superfície 
superior ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha 
unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. 
Essa lei procurou ordenar e disciplinar as construções que vão sendo 
sobrepostas umas às outras, sem critério e segurança, mas que existem na 
realidade brasileira. 
Cria-se uma nova modalidade de condomínio, permitindo que outra pessoa 
utilize e seja proprietária do pavimento superior ou em subsolo a uma construção. 
Foi uma maneira que o legislador brasileiro encontrou para tentar atender a 
situação social habitacional das populações que vivem em comunidades 
 
38 MOTA, Mauricio. A Socialização da posse na Teoria Possessória de Raymond Saleilles. 
15/02/2017. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-
possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota Acesso em: 01 nov. 2019. 
39 Ibidem. 
40 Ibidem. 
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
https://emporiododireito.com.br/leitura/a-socializacao-da-posse-na-teoria-possessoria-de-raymond-saleilles-por-mauricio-mota
27 
estruturadas dessa forma, para atender o preceito da dignidade da pessoa humana 
e o direito à moradia. 
 
2.2 Direito de superfície 
 
O Código Civil trata nos artigos 1.369 a 1.377, sobre o direito de superfície. 
Tal instituto nasce também como consequência do princípio da função social da 
propriedade, pois dá vida à superfície que, através da concessão do uso, se torna 
produtiva. 
Segundo Silvio Luis Ferreira da Rocha41, trata-se do instituto que se 
apresenta como importante instrumento para o cumprimento da função social da 
propriedade imobiliária, pois, permite a construção ou plantação sem necessidade 
de aquisição do terreno, portanto, com menos ônus para o interessado. 
Este direito cabe somente para o imóvel urbano. Concede o diploma legal o 
direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, respeitados 
o contrato e a legislação urbanística. Está previsto nos artigos 21 a 24 do Estatuto 
da Cidade (Lei n. 10.257/2001). 
 
2.3 Direito real de uso 
 
A concessão de direito real de uso é negócio pelo qual a Administração, 
mediante constituição de real de uso, transfere, gratuita ou de forma onerosa, ao 
particular o uso do terreno público, para que o utilize em fins específicos de 
urbanização, industrialização, edificação, cultivo ou qualquer outra exploração de 
interesse social. 
Se o bem for desvirtuado da sua finalidade, a Administração poderá reavê-lo 
conforme determina o artigo 7º, parágrafo 3º do Decreto Federal n. 271 de 28 de 
fevereiro de 1967. 
 
 
 
 
41 ROCHA, Silvio Luiz Ferreira. Coleção Temas de Direito Administrativo, n. 14 Função Social da 
Propriedade Pública, 1ª ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 73. 
28 
2.4 Concessão de uso especial de moradia 
 
Segundo Silvio Luis Ferreira da Rocha42, a Medida Provisória n. 2.220 de 04 
de setembro de 2001 que se encontra ainda em vigor em decorrência do que dispõe 
o artigo 2º da Emenda Constitucional n. 32, ao cuidar da concessão do uso especial 
de moradia, disciplinou de modo análogo ao disposto nos artigos 15 a 20 do Estatuto 
da Cidade, que foram vetados por razões de gerar demandas injustificadas do direito 
de concessão do uso especial, prevalecendo tal medida a fim de atender a função 
social da propriedade. 
O fundamento repousa no artigo 183, parágrafo 1º da Constituição Federal, e 
nesse ponto, há divergências entre os doutrinadores pois, para alguns, se o imóvel é 
privado, seria o instituto da usucapião e se são imóveis públicos, seria a concessão 
de uso especial previsto também no parágrafo 1º, pois o parágrafo 3º proíbe a 
usucapião de imóveis públicos. 
De qualquer maneira, o nome que é dado ao instituto não tem a importância 
comparada à utilidade e cumprimento da função social à qual se destina, porque se 
é usucapião ou concessão de uso especial para fins de moradia, o que realmente 
importa é que atende a função social da propriedade e concretiza o propósito que o 
país como República Democrática se propõe a estabelecer. 
 
42 ROCHA, Silvio Luiz Ferreira. Coleção Temas de Direito Administrativo, n. 14 Função Social da 
Propriedade Pública, 1ª ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 106. 
29 
3 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NO ESTATUTO DA CIDADE 
 
Para cumprir a função social da propriedade foi elaborado o Estatuto da 
Cidade, Lei n.10.257/2001. 
A base do Estatuto da Cidade explicita o conceito de função social, 
observando as diretrizes de acesso à propriedade urbana e à moradia, distribuição 
equitativa dos benefícios e ônus decorrentes da urbanização, correção das 
distorções de valorização da propriedade urbana, regularização fundiária de áreas 
ocupadas por população de baixa renda e a devida adequação às normas 
urbanísticas do direito de construir. 
Em 10 de julho de 2001 foi aprovado e transformado em Lei Federal, n. 
10.257, o Estatuto da Cidade, traçando as diretrizes gerais para a parametrização da 
função social da propriedade que, se utilizado adequadamente, poderá corrigir e 
colaborar para a diminuição da exclusão social. 
Com base nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal, que definem 
diretrizes gerais da política urbana, o Estatuto da Cidade se torna uma resposta 
jurídica abrangente a tal ordenamento. O artigo 182 da Constituição Federal diz: 
A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público 
Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo 
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o 
bem estar de seus habitantes. 
 
Portanto, a diretriz e objetivo primordial do estatuto da cidade é atender a 
função social da propriedade para que, desta maneira, sejam supridas as 
desigualdades sociais, o que também é um dever do Estado, pois está escrito na 
Constituição Federal, em seu artigo 3º, inciso III: 
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil 
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais. 
 
No artigo 2º e incisos I a XVI do Estatuto da Cidade estão descritos os 
objetivos dessa lei que abraçam a verdadeira função social da propriedade. 
30 
Explica Odete Medauar43 que o artigo 2º, inciso I, garante o direito a cidades 
sustentáveis, pois, aquelas que, mediante o direito à terra urbana, à moradia, ao 
saneamento básico, à infraestrutura urbana, transporte e serviços públicos, trabalho 
e lazer, necessários para presentes e futuras gerações, hão de ser ordenados, sem 
caos e destruição, sem degradação, possibilitando uma vida urbana digna para 
todos, cumprindo, assim, a função social da propriedade. 
O inciso II assegura a gestão democrática das cidades, mediante a 
participação da população e das associações representativas dos seguimentos da 
comunidade na formulação, execução e fiscalização de planos, programas e 
projetos de desenvolvimento urbano. 
A gestão democrática da cidade é tratada nos artigos 43 a 45, que garantem 
ao cidadão o pleno exercício da cidadania através de órgãos colegiados de política 
urbana, debates, audiências e consultas públicas, iniciativa popular de projeto de lei, 
de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. 
Para haver cidades sustentáveis, no inciso I desse artigo 2º há a definição de 
que o desenvolvimento urbano ocorre com ordenação, sem caos e destruição, sem 
degradação, possibilitando uma vidaurbana digna para todos, mediante o direito à 
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao 
transporte e aos serviços públicos de lazer, para as presentes e futuras gerações. 
O Estatuto da Cidade é de fundamental importância como ferramenta e 
justificativa, além de regulamentar e por em prática a função social da propriedade. 
O inciso III do artigo 2º trata de que para atender a função social se prevê a 
cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da 
sociedade, no processo de urbanização. 
O inciso IV do artigo 2º trata de que para evitar e corrigir as distorções do 
crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente, se estabelece 
o planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição especial da 
população e das atividades econômicas do município. 
 
43 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7ª ed., São Paulo: RT, 2003, p. 17. 
31 
A decorrente desse inciso, segundo Silvio Luis Ferreira da Rocha44 que se 
planeja o desenvolvimento das cidades desde que o município tenha mais de vinte 
mil habitantes, utilizando-se o plano diretor. 
O Plano Diretor é o principal instrumento norteador de políticas de 
desenvolvimento e expansão urbana. A Constituição Federal o fez obrigatório para 
todos os Municípios que tenham mais de vinte mil habitantes, nos termos do 
parágrafo primeiro do artigo 182. 
Essa obrigatoriedade já foi reafirmada em Acórdão do Supremo Tribunal 
Federal que, analisando questão paralela, reafirma o preceito constitucional: 
EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. MEDIDA CAUTELAR. LIMINAR QUE 
CONFERIU EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 
REFERENDO DA TURMA. INCISOS IV E V DO ART. 21 DO RI/STF. 
PLANO DIRETOR: INSTRUMENTO DE CONCRETIZAÇÃO DA POLÍTICA 
DE DESENVOLVIMENTO E DE EXPANSÃO URBANA DAS CIDADES 
COM MAIS DE VINTE MIL HABITANTES. LEI QUE PERMITE A CRIAÇÃO 
DE PROJETOS URBANÍSTICOS DE FORMA DESVINCULADA DO PLANO 
DIREITOR. POSSÍVEL OFENSA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A Carta 
Magna impôs a concretização da política de desenvolvimento e de 
expansão urbana das cidades com mais de vinte mil habitantes por 
meio de um instrumento específico: o plano diretor (§ 1º do art. 182). 
Plausibilidade da alegação de que a Lei Complementar distrital 710/05, ao 
permitir a criação de projetos urbanísticos “de forma isolada e desvinculada” 
do plano diretor, violou diretamente a Constituição Republicana. Perigo da 
demora na prestação jurisdicional que reside na irreversibilidade dos danos 
que decorrerão do registro de áreas, para fins de parcelamento, com base 
na mencionada lei. Questão de ordem que se resolve pelo referendo da 
decisão concessiva do efeito suspensivo ao apelo extremo. 
(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – AÇÃO CAUTELAR No. 2383 
MC-QO / DF - DISTRITO FEDERAL QUESTÃO DE ORDEM NA 
MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO CAUTELAR - Processo 2383 MC-
QO/DF - Órgão Julgador: Segunda Turma - Publicação ACÓRDÃO 
ELETRÔNICO DJe-126 DIVULG 27-06-2012 PUBLIC 28-06-2012 - 
Julgamento: 27/03/2012 - Relator: Min. AYRES BRITTO) 
 
O Estatuto da Cidade procurou elencar os elementos necessários a uma 
planificação de modo a estabelecer um conteúdo mínimo para o Plano Diretor. 
A própria Prefeitura Municipal de São Paulo, em publicação sobre a função 
social da propriedade, destinada a esclarecer questões de seu Plano Diretor, afirma: 
Cumprir a função social é um dos pontos centrais para a viabilidade de 
políticas públicas. Ou seja, a propriedade deve estar de acordo com os 
interesses da sociedade, e não apenas em benefício do proprietário. A 
função social está presente em diversos dispositivos da Constituição 
Federal, que também prevê instrumentos para que o poder público exija seu 
 
44 ROCHA, Silvio Luiz Ferreira. Coleção Temas de Direito Administrativo, n. 14 Função Social da 
Propriedade Pública, 1ª ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 80. 
32 
cumprimento. Os objetivos da política urbana só podem ser alcançados com 
uma distribuição equilibrada e racional dos usos dos imóveis no território. 
Nesse sentido, a ociosidade de terrenos ou edificações, causa efeitos 
prejudiciais ao seu entorno – como a degradação e o abandono – e a toda 
cidade, inviabilizando a efetiva utilização de imóveis localizados em regiões 
estratégicas.45 
 
Cita Silvio de Salvo Venosa46 que: 
O Estatuto da Cidade cuida do chamado Plano Diretor apontado na 
Constituição e se coloca como elemento central da função social da 
propriedade urbana. A lei traça normas sobre a usucapião especial do 
imóvel urbano, regulamentando o artigo 183 da Constituição Federal, 
também o direito de superfície, entre outros institutos do direito civil. É o 
direito tentando regulamentar um novo direito de propriedade que está 
longe dos conceitos clássicos. 
Não é apenas a lei, como se pretendeu no passado, que cria a propriedade, 
a sua utilidade social deve ser protegida, assim como em outras áreas 
sociais, como a família, o casamento, a filiação. O conceito altera-se no 
tempo e espaço, então cabe ao jurista ter a sensibilidade de perceber as 
mudanças sociais tendo a história como auxílio. 
 
Em assuntos tão importantes como a função social da propriedade, que é 
utilizada tanto para moradia como para sustento, há de existir a garantia de tal 
direito. 
O inciso V do artigo 2º do Estatuto da Cidade obriga o Poder Público a ofertar 
equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados 
aos interesses e necessidades da população e às características locais. 
O inciso VI do artigo 2º trata sobre a ordenação e controle do uso do solo e 
este inciso, a meu ver, abrange totalmente a função social da propriedade, pois 
compreende: a utilização inadequada dos imóveis urbanos, a proximidade de usos 
incompatíveis ou inconvenientes, o parcelamento do solo, a edificação ou o uso 
excessivo ou inadequados em relação à infraestrutura urbana, a instalação de 
empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de 
tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente, a retenção especulativa de 
imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização, deteriorização das 
áreas urbanas, a poluição e a degradação ambiental. 
 
45 Publicação da PMSP sobre FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. Parcelamento, Edificação e 
Utilização Compulsórios em São Paulo. Disponível em: 
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/arquivos/cartilha
PEUC.pdf. Acesso em: 26 out. 2019. 
46 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direitos Reais. 5v., 13ª ed., São Paulo: Atlas, 2013, p.166. 
33 
Dentre todos os incisos desse artigo 2º do Estatuto da Cidade, no total de 
XIX, os mais diretamente ligados à função social da propriedade se encontram até o 
inciso XV. 
Os artigos 39 a 42 definem as características ou elementos que o plano 
diretor deve ter ou seguir. 
O não atendimento a essas características ou violações pelos planos 
diretores das disposições do Estatuto da Cidade, levam à nulidade das disposições, 
como tem reiterado o Poder Judiciário, como a decisão a seguir. 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE IMPROBIDADE 
ADMINISTRATIVA. VIOLAÇÃO DO ESTATUTO DA CIDADE E DOS 
PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 
PRELIMINARES. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO UNITÁRIO. 
DESNECESSIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. 
ALTERAÇÃO DO PLANO DIRETOR DA CAPITAL. DESAFETAÇÃO DE 70 
(SETENTA) ÁREAS URBANAS SEM A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ. 
INOBSERVÂNCIA DO ESTATUTO DA CIDADE. ART. 40, § 4º, INCISOS I, 
II E III C/C ART. 52, INCISO VI, TODOS DA LEI FEDERAL Nº 10.257/2001. 
DOLO GENÉRICO VERIFICADO. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS 
NORTEADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ART. 11, INCISO IV, DA 
LIA. MULTA CIVIL. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. 
REDUÇÃO DO VALOR DA SANÇÃO. 
(TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS -AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Processo AC 
293780220128090051 - Órgão Julgador 4A CAMARA CIVEL - Publicação 
DJ 2198 de 27/01/2017 - Julgamento1 de Dezembro de 2016 - Relator 
DR(A). MAURICIO PORFIRIO ROSA) 
 
Concluindo este tópico, a finalidade do Estatuto da Cidade e o Plano Diretor 
existem para determinar o modo que a propriedade terá sua função social cumprida. 
 
34 
4 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL – REFORMA AGRÁRIA 
 
 
Ao se tratar de propriedade rural, a Constituição considera que uma 
propriedade imobiliária agrária atende sua função social quando cumpre 
simultaneamente os requisitos da produção, ou seja, uso racional e adequado, da 
ecologia que engloba preservação e conservação de recursos naturais e social no 
que diz respeito aos direitos trabalhistas. 
O artigo 186 da Constituição Federal trata sobre manter exploração que 
favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
Este dispositivo é praticamente repetido no Estatuto da Terra, praticamente 
nos mesmos termos no artigo 2º, parágrafo 1º, letra b. 
Os artigos 184 a 186 da Constituição Federal explicam claramente o dever 
para com a propriedade agrícola, definindo a responsabilidade do proprietário, ou 
seja, cabe a ele atender as exigências da Constituição a fim de não sofrer 
desapropriação. 
O artigo 184 citado esclarece que se o imóvel rural não estiver cumprindo a 
função social será desapropriado mediante prévia e justa indenização em títulos da 
dívida agrária, com cláusula de preservação real, resgatáveis no prazo de vinte 
anos, a partir do segundo ano de sua emissão. 
A propriedade rural deve ser produtiva pela natureza lógica de sua 
destinação. Se o titular do bem age com descaso, não a utilizando nos conformes de 
sua potencialidade, deve sofrer as consequências legais, para que a propriedade 
tenha sua função social cumprida. 
Tal função será cumprida quando a propriedade tiver um aproveitamento 
racional e adequado, ou seja, utiliza-se dos recursos naturais disponíveis e preserva 
o meio ambiente. 
O não cumprimento da função social da propriedade rural determina uma 
competência exclusiva da União Federal, que é a desapropriação definida no artigo 
184 da Constituição, mas ela não poderá incidir sobre a pequena e média 
propriedade, desde que seu proprietário não possua outra propriedade, nem sobre a 
propriedade produtiva. 
 
35 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Com o intuito de encerrar a presente monografia e a concepção como um 
todo apresentada até o momento, serão em síntese expostos os temas abordados. 
Falou-se, nas principais teorias ligadas ao direito de propriedade e à função 
Social que lhe qualifica. 
O conceito de propriedade adveio do direito romano e a definição de que ele 
deve cumprir sua função social é derivada de um longo desenvolvimento do 
entendimento sobre o instituto da propriedade e qual seu papel para a sociedade. 
O princípio da função social da propriedade é conceituado desde a 
antiguidade afirmando-se que a propriedade é uma instituição que deve ser 
ordenada e receber proteção jurídica. 
O estudo da evolução da função social da propriedade nas Constituições 
Brasileiras recebe o mesmo tratamento de importância que o direito à vida, à 
liberdade e à igualdade. 
A garantia de gerações atuais e futuras de terem um meio ambiente 
preservado e o ordenamento urbanístico regulado depende da função social da 
propriedade, a qual vem regulada no Código Civil. 
Através dos institutos da usucapião, direito real de uso, cessão de uso para 
moradia, direito de superfície, desapropriação sanção é cumprida a regra de que a 
propriedade deve atender sua função social. 
A função social da propriedade está inserida no Estatuto da Cidade como 
base para regular cidades e criar o Plano Diretor para os municípios. 
No campo, a função social da propriedade também se faz presente através da 
sanção às propriedades improdutivas, com a desapropriação para fins de reforma 
agrária. 
Portanto, a conclusão que se chega ao final dessa pesquisa monográfica é 
que quando se fala em propriedade o direito vem criando instrumentos para que o 
exercício desse poder traga junto um dever de utilizá-lo observando o interesse 
coletivo em conjunto com o interesse particular. 
36 
Conhecer o direito de propriedade pressupõe, portanto, estudar os temas que 
o envolvem e que vêm espalhados em diversos normativos, constitucionais, 
infraconstitucionais, no Código Civil e em legislação extravagante. 
O Direito à Propriedade e sua Função social estão intimamente 
correlacionados e refletem a ideia que a sociedade brasileira atual tem sobre justiça 
social. Por isso os inúmeros e atuais institutos que têm influência da função social 
em sua existência, como, por exemplo, o direito à laje. 
Isso porque vive em uma sociedade e precisa-se, cada vez mais, visar o bem 
comum da coletividade e ao mesmo tempo respeitar o bem particular. 
Com este estudo, conseguiu-se verificar que uma das chaves para a justiça 
social está na função social da propriedade, para diminuir as desigualdades e fazer 
com que o Estado cumpra uma de suas funções que é a de dar uma vida digna aos 
indivíduos, conforme a proposta da República constante na Constituição Brasileira. 
 
 
 
 
37 
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